domingo, 4 de abril de 2010

Guiné 63/74 – P6106: O PIFAS - Programa de Informação das Forças Armadas (Miguel Pessoa)

1. O nosso Camarada Miguel Pessoa (*), ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Reformado, enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 11 de Julho de 2009:
Camaradas,
A ideia surgiu-me quando li algumas referências à acção psicológica na Guiné e ao programa Pifas.
É claro que este escrito sofre de alguns males pois foi feito a olhar para o rádio em questão, sem apontamentos que me permitissem consolidar o que ia escrevendo. E não é fácil encontrar grandes referências a este tema.
Terão pois que me perdoar qualquer imprecisão que tenha cometido no referente aos postos e funções dos dois oficiais mencionados no texto. Mas lá que eram eles, eram...

UM RÁDIO CLÁSSICO...
Pouco se tem falado neste blogue do Programa de Informação das Forças Armadas - PIFAS - e não será agora que vou esclarecer algo de significativo sobre esta matéria. Mas a leitura de algumas referências ao Pifas fez-me olhar com mais atenção para a parte superior do armário da minha cozinha, onde - há já uns tantos anos - repousa, mudo e quedo, um rádio muito especial.
Lamento se possa dizer algumas imprecisões, mas o tema passa-me bastante ao lado, apenas me lembrando vagamente da existência do programa pois não era hábito meu ouvi-lo.
Por isso prefiro deter-me um pouco mais no rádio que já referi, o qual está na posse da Giselda - pelo menos desde 1973, o que nos faz retroceder ao tempo da nossa estada naquele território.
A história foi-me contada pela Giselda, então enfermeira pára-quedista na Guiné, que se cruzava frequentemente na zona do Grupo Operacional da BA12 com dois militares ligados às missões de acção psicológica desenvolvidas no território da Guiné, o Cap. Otelo Saraiva de Carvalho e o Maj. Carlos Fabião.
À data uma das acções desenvolvidas era a sensibilização da população através da distribuição de rádios. E, sucedendo na altura que aqueles oficiais aguardavam um transporte aéreo que lhes possibilitasse a distribuição desses rádios, a Giselda dirigiu-se-lhes na brincadeira, dizendo que não se importava de ficar com um rádio daqueles.
A verdade é que essa aproximação não teve resultados práticos imediatos mas, passados uns dias, estando a Giselda presente no Grupo Operacional, teve a surpresa de ver o Cap. Otelo dirigir-se-lhe com uma caixinha contendo o rádio que podem ver nas fotografias, segundo ele no cumprimento de instruções do Maj. Fabião, que lhe oferecia aquele aparelho.

Debruçando-nos sobre o rádio, verificamos que é da marca Silver, "made in Japan", funciona com três pilhas das grandes, de 1,5 v cada, apenas recebe onda média e, requinte adequado para aquela zona, refere ser "insect proof", o que, melhor analisado, se justifica pela existência de uma rede de malha pequena que protege os orifícios de arrefecimento da "aparelhagem", impedido a entrada de insectos para o seu interior.
O mais curioso do rádio é que o sintonizador rotativo estava naquele caso particular (não posso garantir que fosse em todos) colado na frequência do Pifas, o que impedia a sintonia do aparelho noutras emissões menos favoráveis às nossas cores...
Claro que isso não é contrariedade para "português desenrasca" pelo que rapidamente esse bloqueamento foi desfeito e, no regresso a Lisboa, lá fomos ouvindo as emissões que por aí atravessavam o éter... em onda média, claro...
O tempo se encarregou de fazer esquecer a presença do rádio, calmamente no seu poleiro. As memórias que me retornaram nestes últimos tempos levaram-me a retirá-lo do seu descanso, tirar-lhe umas fotografias e mandá-lo limpar - na verdade o seu estado de saúde é muito razoável, o que pressagia que ele possa rapidamente regressar às lides.
E, enquanto houver pilhas grandes e emissoras de onda média, lá iremos de vez em quando matar saudades do tempo em que o rádio era um elemento importante para mantermos a saúde mental por aqueles lados.

Um abraço,

Miguel & Giselda Pessoa (claro, afinal a história até é dela...)
Ten Pilav da BA 12 & Srgt Enf Pára-quedista

Fotos: © Miguel Pessoa (2010). Direitos reservados.
Imagem do Pifas: © Manuel Marinho (2010). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

20 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3488: O PIFAS - Programa de Informação das Forças Armadas (António Matos)

Guiné 63/74 - P6105: (Ex)citações (63): O Ten Cor Correia de Campos foi um dos heróis de Guidaje (José Manuel Pechorro)

1. Recebemos esta mensagem de José Manuel Pechorro* (ex- 1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73) para publicação:


P6090 - … Os dias da batalha de Guigaje, 20 e 21 de Maio de 1973, do ex-Fur Mil Daniel de Matos

Acabo de visitar o blogue (03/4/2010) e abrir a postagem n.º 6090, Os Marados de Gadamael e Os dias da batalha de Guidaje, 20 e 21 de Maio de 1973, em que o ex-Fur Mil Daniel de Matos fala do Sr. Ten Cor António Valadares Correia de Campos de modo depreciativo e infeliz.

O seu relato longo sobre a sua estadia na Guiné lhe deu bastante trabalho e levou tempo, merecendo o nosso reconhecimento e louvor. É difícil descrever acontecimentos que não presenciamos e que não dominamos correctamente.

O Sr. Ten Cor Cav deu entrada em Guidage, integrado na coluna Binta/Guidage, no dia 10 de Maio de 1973, cerca da 19 – 19,30 horas. Fez o percurso quase todo a pé, apareceu de pistola à cowboy, com botas de fuzileiro, os galões nos ombros e bengala na mão, acompanhado pelo Fur Mil de Informações e Operações de Infantaria, Carlos Jorge Lopes Marques Pereira, também do COP 3. A chegada da coluna foi saudada pela população e militares com regozijo!

Logo que chegou dirigiu-se ao Comando e na presença dos oficiais, afirmou que era ele o Comandante, o que ficou bem claro.

Neste dia tinham-se verificado confrontos violentíssimos que o PAIGC travou com as NT, na zona do CUFEU. Primeiro com a CCAÇ 3, que ao contra atacar desbaratou e depois com a CCaç 19, mandinga, onde esta sofreu 5 mortos que abandonou no terreno; os únicos que teve na estrada durante o cerco a Guidage, retirando apressadamente para o aquartelamento. O PAIGC deixou a zona fortemente combalido, principalmente no embate com a CCaç 19, sofreu pelo menos 6 mortos e vários feridos graves e ligeiros. Morreu o seu comandante. Estou convencido que as suas baixas foram mais elevadas… as informações recebidas falavam entre 10 a 12 mortos e o relato dos combatentes no terreno o dão a entender. Compreende-se que esta coluna não tivesse sido atacada.
O PAIGC já tinha tido 13 mortos confirmados e vários feridos, no dia 8/9 de Maio 73, conforme relato (P4957) do ex-1.º Cabo Manuel Marinho que bem descreve, durante os ataques à coluna de 4 viaturas que não chegou a Guidage. No local das viaturas as NT deixaram 4 mortos.

Durante o período da sua estadia o Sr. Ten Cor Correia de Campos dormiu sempre debaixo de chapa de zinco, no Posto de Comando. Durante as flagelações via-o sair sempre com o AVP 1 na mão, em locais de risco, de pé, tentando ajudar o nosso Pel Art 24 e o morteiro 81 a responder com mais eficácia, contra as 4 principais bases de fogo do IN. As zonas mais atingidas eram os locais da nossa artilharia, enfermaria e posto de comando; resto do aquartelamento e povoação.

Admirado e curioso, por três vezes fui atrás dele. Falava com uma calma e serenidade que me impressionou. Observava as saídas do fogo do IN e os rebentamentos das nossas granadas… Dava indicações.

A messe dos oficiais tinha uma só porta e era coberta também com chapa de zinco. As mesas e cadeiras dificultavam a circulação e o Sr. Ten Cor Correia de Campos, dando exemplo sentava-se no fundo, para fugir seria sempre o último.

Quanto a disciplina, o Comandante entrou a doer. Eu próprio levei uma reprimenda! Custou-me, no momento, mas logo compreendi que noutras circunstâncias não a teria recebido. Percebi o que ele queria ou desejava.

O caso relatado e passado na messe, leva-me a supor que o ex-Fur Mil Daniel de Matos terá cometido ou infringido algo que provocou a reacção do Sr Ten Cor Correia de Campos.
Assisti a outras reprimendas disciplinares e conclui que o Comandante tinha razão.

Quis defender Guidage, conseguiu com valor e venceu. Cumpriu o seu dever de militar.

Quem viu o filme Dr. Jivago, e as cenas sobre a debandada do exército russo, nas trincheiras ou valas na frente ocidental com o exército alemão, fará uma ideia do que se passou também em Guidage. Em muito menor escala mas aconteceu. Lá não abandonamos graças ao Sr. Ten Cor Correia de Campos.

Quanto ao Whisky é verdade. Bebia com frequência, diluído em água, diariamente. Nunca o vi bêbado, mas sempre lúcido.
Adormecia cansado e acordado pelos rebentamentos, notei algumas vezes sair ensonado, passando rapidamente.

Perante certas afirmações ou piadas dos soldados, algumas forçadas, no ambiente tenso ou pesado, por vezes o vi sorrir e até rir.

O Sr. Ten Cor Correia de Campos deixou o quartel no dia 12 de Junho, em coluna auto em direcção a Binta. Foi substituído pelo ex-Major Carlos Alberto Wahon da Costa Campos, também já falecido.

Relembrando o dia 25 de Maio de 1973 e o abrigo subterrâneo ou embutido no terreno, junto à vala paralela à pista de aviação que tem a bolanha e o Senegal pela frente, onde se encontrava o Fur Daniel de Matos. A granada de morteiro 120 que rebentou no canto, em cima da parede, na ponta do ângulo recto, perfurou a placa na ponta do abrigo. Esta deixou um buraco no tecto, por me parecer que o telhado estava enfraquecido pelo tempo. A granada não entrou, caso penetrasse teriam morrido todos os que lá se encontravam!

Houve heróis no assédio do IN a Guidage, mas sobressai o principal, o Sr. Ten Cor Correia de Campos. Que descanse em paz e que Nosso Senhor tenha perdoado as suas faltas, as que eu desconheço.

Faço votos de Uma Santa e Feliz Páscoa para todos.

Chegada ou partida de helicóptero, na zona de evacuação. De costas o Fur Mil de Inf Op Inf Carlos Jorge L. M. Pereira, com o AVP 1 na mão.

José Pechorro dando de comer a uma gazela, pertença do Fur Mil Enf Crisóstomo.
Foto cedida pelo 1.º Cabo Transmissões Janeiro.
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

19 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)

21 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro)

16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5479: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - Agradecimento e algumas informações (José Manuel Pechorro)

Vd. último poste da série de 30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6077: (Ex)citações (54): José Brás lamenta ver publicado um texto antigo de sua autoria na Tabanca da Lapónia

Guiné 63/74 - P6104: Parabéns a você (98): José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), ex-Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66) (Os Editores)


»»»» F*E*L*I*Z...A*N*I*V*E*R*S*Á*R*I*O ««««
1. Completa hoje o seu 70º aniversário o nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), que foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66).

2. O Jero foi convivado pelo Luís Graça a juntar-se a nós - Tabanca Grande -, em 14 de Julho, conforme se pode ver no seguinte extracto do poste P4686:

E-mail do Luís Graça, em 14 de Julho, para o José Eduardo:

Meu caro José Eduardo:

Deixa-me que te trate por tu, que é o tratamento (romano) entre pares e camaradas... És um homem de letras, como eu, e sobretudo um ex-combatente da Guiné, como eu... Obrigado pela gentileza do teu gesto. Terei muito em fazer uma recensão crítica do teu livro no nosso blogue e divulgá-lo... Os meus parabéns pela concretização da ideia de transformares o teu diário em livro. Estou muito curioso por lê-lo... até por que não há referências, no nosso blogue, à tua CCAÇ 675...

Gostaria, antes de mais, de convidar-te para ingressares na nossa Tabanca Grande, o lugar da blogosfera onde cabem todos os camaradas da Guiné. Se aceitares, é também uma honra para todos, dos mais velhinhos aos piras... Se és leitor do nosso blogue, sabes qual o nosso espírito o nosso objectivo: partilhar e contar histórias... Somos também um blogue de afectos, como podes ver pelos relatos do nosso último encontro, aí perto de ti, em Monte Real (...)

O José Eduardo respondeu, no mesmo dia, assim ao Luís Graça:

Meu caro Luís Graça

Sou hoje um homem feliz pelas tuas palavras. Pelo tratamento 'romano' e por sentir que estou a entrar para um grande clube... que leio e releio vezes sem conta.

Tenho muitas histórias da minha '675' e sinto uma obrigação especial a partir deste momento: tenho que preencher o vazio de mais de 40 anos.

Há no meu livro de memórias algumas páginas sobre o desastre do Pelotão de Morteiros 980, em 5 de Janeiro de 1965, que vos irá surpreender. E não só. Também sobre o Padre Gama, o Coronel Fernando Cavaleiro e do grande Capitão de Binta, Alípio Tomé Pinto.

Amanhã vai seguir o livro e logo que possível vou aparecer ao vivo para um apertado abraço.

Até sempre e...até breve.
José Eduardo Reis de Oliveira.

3. No dia 15 de Julho, já o Jero punha mãos à obra, e solicitando a sua adesão às tropas aqui perfiladas, enviou a sua primeira mensagem que deu origem ao poste P4690, dando início à narração das suas peripécias e as da sua CCAÇ 675, tendo cumprido 4 anos de serviço militar (1962/66).

Resta acrescentar que o Jero nasceu em 1940, em Alcobaça, onde segundo sabemos é mais conhecido que o bacalhau e muito estimado e respeitado pelos seus conterrâneos. É jornalista, sub-director do quinzenário regionalista O Alcoa, e autor de um livro, cujo título diz tudo: Golpes de Mão's - Memórias da Guiné, 2009 (*).

4. Como vem sendo habitual, sempre que me toca a mim – MR -, publicar estes postes aniversariantes, para melhor tentarmos avaliar o perfil do Jero, recorri mais uma vez à consulta do seu signo de zodíaco – Carneiro -, para nativos entre 21/03 e 20/04”, num site que se tem vindo a tornar muito popular nesta matéria e ao qual se tem acesso atarvés do endereço: KAZULO (http://horoscopo.kazulo.pt/4866/signos-do-zodiaco.htm), que diz textualmente o seguinte:

Carneiro
21/03 a 20/04

Com os nativos de Carneiro e os que o têm com ascendente, a primeira impressão é a de uma pessoa egocêntrica e de um signo independente, assertivo e impulsivo. Os Carneiros não perdem tempo e quando tomam uma decisão, agem sobre ela de forma habitualmente rápida.

São energéticos e excelentes lideres mas nem sempre o melhor «seguidor». São óptimos a iniciar as coisas mas deixam-nas frequentemente para um dos signos fixos acabar. Altamente competitivos, gostam de se colocar à prova constantemente.

Apesar de governados por Marte e bastante temperamentais, a fúria é passageira e são em regra acolhedores e inspiradores. Apresentam qualidades como a coragem e lealdade mas também a impaciência e têm um forte sentido de individualidade.

Atraem e realçam estas qualidades também nos outros e o dia de um nativo de Carneiro começa normalmente com um entusiástico estrondo. Aparentam uma certa ingenuidade, por confiarem e acreditarem que os outros são tão directos e honestos como eles. Marte na primeira casa astrológica influência a personalidade de forma similar.

A frase chave para nativos de Carneiro é «eu sou». Com ascendente de Carneiro, as atracções viram-se para Balanças, governado na sétima casa, a dos parceiros.

Carneiro é um dos quatro signos Cardeais, por estar ligado à mudança de estação e do solstício, tendo como elemento o Fogo.

Anjo: O Arcanjo Cassiel é o protector dos nativos do Signo Carneiro. Cassiel é chamado Anjo Guerreiro e aqueles que nascem sob a sua influência são pessoas criativas, destemidas e determinadas. Líderes natos, gostam de ocupar cargos de chefia e de desempenhar funções de elevada responsabilidade.

Possuidores de um carisma e encanto naturais, são amados por todos e até mesmo as suas atitudes irreflectidas são perdoadas e encaradas como uma encantadora particularidade da sua personalidade.

O Arcanjo Cassiel desenvolve a coragem e a imaginação. Ajuda a moderar a ambição, o espírito de competição e o egocentrismo.

5. Independentemente das mensagens e comentários que os nossos Camaradas enviarem e colocarem, futuramente, no local reservado aos mesmos, neste poste, queremos em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Magalhães Ribeiro e demais Camaradas da Grande Tabanca que por vários motivos não puderem enviar as suas mensagens, cantar-te a seguinte cantiguinha muito tradicional:

PARABÉNS A VOCÊ,
NESTA DATA QUERIDA,
MUITAS FELICIDADES,
MUITOS ANOS DE VIDA,

HOJE É DIA DE FESTA,
CANTAM AS NOSSAS ALMAS
PARA O AMIGO JERINHO,
UMA SALVA DE PALMAS
!

E mais acrescentamos:

O nosso maior desejo, neste teu aniversário, é que junto da tua querida família sejas muito feliz e que esta data se repita por muitos, bons e férteis anos, plenos de saúde, felicidade e alegria.
E mais te desejamos, que por muitos mais e boas décadas, este "aquartelamento" de Camaradas & Amigos da Guiné te possa dedicar mensagens idênticas, às que hoje lerás neste teu poste e no cantinho reservado aos comentários.

Estes são os mais sinceros e melhores desejos destes teus Amigos e Camaradas, que como tu, um dia, carregaram uma G3 por matas e bolanhas da Guiné.

Com montanhas de abraços fraternos
O Jero, acompanhado da sua querida esposa, no almoço da Tabanca do Centro, que decorreu em Monte Real, no passado dia 27 de Janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P6103: Parabéns a você (97): Hernâni Acácio Figueiredo, ex-Alf Mil da CCS/BCAÇ 2851 e António Dias ex-Alf Mil da CCAÇ 2406 (Os editores)

1. Estão de parabéns hoje, dia 4 de Abril de 2010, os nossos camaradas Hernâni Acácio Figueiredo (ex-Alf Mil TRMS da CCS/BCAÇ 2851, que esteve em Mansabá e Galomaro nos anos 1968/70) e António Dias (ex-Alf Mil da CCAÇ 2406/BCAÇ 2852, que esteve no Olossato e no Saltinho nos 1968/70), a quem vimos desejar um bem passado dia de aniversário junto das respectivas famílias, este ano com hipótese de mais participantes nas festividades pela feliz coincidêndia de ser também dia de Páscoa.

Desejamos aos nossos camaradas Hernâni Acácio e António Dias uma longa vida junto de quem mais eles amam.



2. Não encontrei registos de postes do camarada Hernâni Figueiredo, mas presumo que seja veterano no Blogue já que a sua foto consta da fotogaleria. Só não temos uma do seu tempo de Alferes da Arma de Transmissões.

Quanto ao nosso camarada António Dias, está connosco desde Agosto de 2009, quando se apresentou na Tabanca assim no Poste 4783 :

Apresenta-se o ex-Alf Mil António Dias, CCAÇ 2406/BCAÇ 2852, Olossato-Saltinho, 1968/70.

Sou pira nestas andanças da net e desde já agradeço o esforço do camarada Henrique Matos, além da sua paciência para me iniciar nesta guerra.

Pois tive de ficar para a liquidatária e o Chefe da 7.ª Rep não me queria deixar vir de avião, pagando eu e o sargento a viagem.

Aguentei 8 dias e só depois de ameaças me deu o almejado OK. A minha Companhia já tinha embarcado há um mês!

Haverá mais estórias e fotos.

Cumprimento toda a Tabanca Grande
António Dias


Pois é, caro Dias, de ti só encontrei o Poste 5248 na série "O cruzeiro das nossas vidas", pelo que não tens cumprido a tua promessa de mais histórias e fotos.

3. Assim lembramos os nossos camaradas aniversariantes hoje, marcando desde já encontro para o próximo ano.

Os editores
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6079: Parabéns a você (96): Os nossos Maiores e Melhores Agradecimentos a TODOS os Amigos e Camaradas (C. Vinhal / E. Magalhães)

sábado, 3 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6102: PAIGC - Quem foi quem (10): Abdú Indjai, pai da Cadi, guerrilheiro desde 1963, perdeu uma perna lá para os lados de Quebo, Saltinho e Contabane (Pepito / Luís Graça)



Guiné-Bissau > Guerrilheiros do PAIGC em movimento em mata (Foto do PAIGC, s/d, reproduzido em Mikael Levin - Cristina's History. Cherbourg-Octeville: Le Point du Jour; Lisboa: Museu: Colecção Berardo, 2009, p. 91) (Com a devida vénia).

1. Texto do nosso amigo Pepito, com data de16 de Março último:


Assunto:  Pai da Cadi (*)

Luís

Seguem alguns dados referentes a Abdú Indjai [, foto de João Graça, à direita], pai da Cadi, tal como me havias pedido:

(i) Nasceu em Farim de Cubucaré,  em 1947;

(ii) O pai foi militar português que prestou serviço em Macau;

(iii) Entrou na Luta Armada logo no seu início, no dia 23 de Janeiro de 1963, na Base Central de Cubucaré, na Barraca Miséria, centro de recrutamento;

(iv) Especializou-se como fuzileiro em 64;

(v) Entrou no Exército Regular em 66, sob o comando de Kubói Nam'Bá, sendo Comissário Político Braima Camará;

(vi) Comandava então um grupo designado por "sete homens";

(vii) Fez missões militares em Como, Catchil [ou Cachil], Tombali, Cufar, Medjo [ou Mejo]  e Guiledje [ou Guileje];

(viii) Mais tarde, fez a guerrilha na zona 7 (Quínara), com o Comandante Gaio (cubano), sob a direcção do Comandante Nino Vieira;

(ix) Em 1968 intervém na Guerra da Ponte de Balana (tanto na pontezinha, como na ponte grande);

(x) Depois desloca-se para Quebo [, mapa de Xitole,] Saltinho e Contabane [, mapa de Contabana,] sob a chefia do Comandante Augusto Patchanga;

(xi) Nessa altura cai numa mina e fica sem uma perna [, possivelmente em 1969];

(xii) Evacuado para o Hospital de Boké,  na Guiné-Conacri, acaba por ir para a RDA em tratamento;

(xiii) Regressa a Conacri  na véspera da operação Mar Verde, assalto organizado por Spínola e Alpoím Calvão [, em 22 de Novembro de 1970];

(xiv) É nesta cidade que está quando a Independência da Guiné-Bissau é proclamada [, a 24 de Setembro de 1973];

(xv) Hoje é agricultor e Presidente da Associação dos Antigos Combatentes de Cantanhez.

abraço
pepito

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Pepito, pelos elementos curriculares que nos mandaste do antigo Combatente da Liberdade da Pátria, Adbu Indjai, pai da Cadi, homem afável que o João Graça conheceu e fotografou em Iemberém, quando por lá passou em Dezembro passado. Infelizmente não tenho essa foto comigo, no meu novo portátil. Estou em Montalegre, em pleno coração do Barroso, viajando pelo Portugal profundo e periférico, nas miniférias da Páscoa... Estou no hotel, chove lá fora, e eu estou preocupado com as notícias que vêm de Bissau, com mais uma intolerável tentativa dos militares guineenses de fazerem sobrepor a força das suas armas à voz do povo e à legalidade do poder político...
Há quem culpe todos males da Guiné-Bissau ao parto (violento) que foi o nascimento da Nação e aos pais-fundadores que foram os guerrilheiros do PAIGC. Diz-nos a história que é sempre um desastre quando os guerrilheiros tomam conta do aparelho de Estado ou se convertem em exército regular. Amílcar Cabral não viveu o tempo suficiente para equacionar este problema, muito menos para resolvê-lo...Ainda bem para ele, e para a sua memória histórica...

Mas eu não quero falar hoje dos que, sem qualquer legimitidade histórica e muito menos política, se arvorarm em donos do  destino da Guiné-Bissau,  tentando interromper, bloquear ou aniquilar a seu bem-prazer o lento, difícil, doloroso mas inevitável  e irreversível processo de democratização da Guiné-Bissau. Há hoje gente, corajosa  e patriota que quer (e luta por) uma Guiné-Bissau, justa e democrática, por um Estado digno e respeitado no seio da comunidade internacional.

Louvo a iniciativa do AD - Acção para o Desenvolvimento no sentido de dar voz aos anónimos guerrilheiros do PAIGC, nomeadamente aos que operaram na região sul,  e que souberam despir a farda e entregar a arma depois da independência. De facto, no âmbito do Projecto Guiledje, equipas de investigadores da AD - Acção para o Desenvolvimento têm entrevistado, gravado e filmado alguns desses homens.  Os seus depoimentos são importantes para se fazer a história da moderna Guiné-Bissau.

Olhando para os rostos de alguns desses homens que eu conheci pessoalmente, em 2008,  ou  que conheço apenas por fotografia (**),  não é difícil concluir como eles ficaram  precocemente envelhecidos por uma vida duríssima (anos e anos de guerrilha pura e dura, a que se somaram as não menos penalizantes condições de vida e de trabalho num novo país independente, em construção, que pouco ou nada lhes tinha para oferecer em paga pela sua participação na luta armada), eu só conseguia descortinar,  há dois anos atrás,  por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje, serenidade, sabedoria, coragem, experiência de vida... Aaqui e ali podia adivinhar-se orgulho pela missão (cumprida), orgulho por terem sido protagonistas da sua própria história e da história do seu paí... Talvez, aqui e ali (e é preciso adivinhar), também alguma desilusão, algum desencanto, algum desapontamento pelo rumo que os acontecimentos tomaram  nos úlltimos 35 anos a seguir à independência.  Mas em Bissau, em Março de 2008, eu não vi ódio, nem agressividade, nem ressentimento...

Como já escrevi, "foram homens, idealistas e generosos, que eram tão jovens como nós, e que amavam a sua terra como nós amamos a nossa, oriundos de diferentes comunidades e grupos, partilhando diferentes credos (animistas, muçulmanos, cristãos...), reunidos sob a mesma bandeira, e que, como combatentes, foram bons, determinados, abnegados, corajosos...

"Também tiveram sorte no campo de batalha, que a sorte protege os audazes (como dizem os nossos comandos): hoje estão vivos; mas muitos milhares dos seus camaradas pagaram, com o sacrifício da sua própria vida, a sua opção pela luta de libertação... Estão vivos, mas não tiraram benefícios pessoais por ter sido guerrilheiros do PAIGC, combatentes da liberdade ou heróis vivos, aos olhos dos seus filhos, parentes, amigos, vizinhos"...
A maior parte deles, como o Abdu Indjai, voltaram  a ser camponeses, como sempre foram, filhos,  netos e bisnetos de camponeses ou de pastores...

"Homens que ontem eram o IN, eram nossos inimigos (não individualmente, mas como exército, como máquina, como entidade mítica; porque estávamos, objectivamente, de um lado e de outro do campo de batalha, empunhando uns a Kalash e outros a G3...); homens que hoje queremos que sejam nossos amigos e até irmãos; homens que, no mínimo, merecem o nosso respeito, senão mesmo a nossa admiração... Há sempre em todas as guerras uma estranha cumplicidade entre combatentes de um lado e de outro...

"Oxalá possam, todos estes antigos guerrilheiros do PAIGC, viver o que resta das suas vidas em paz, em segurança, em dignidade" (...).

____________

Notas de L.G.:


Último poste desta série: 


30 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2143: PAIGC - Quem foi quem (2): Abílio Duarte (1931-1996)

6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2159: PAIGC - Quem foi quem (3): Nino Vieira (n. 1939)

18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2190: PAIGC - Quem foi quem (4): Arafan Mané, Ndajamba (1945-2004), o homem que deu o 1º tiro da guerra (Virgínio Briote)

12 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2343: PAIGC - Quem foi quem (5): Domingos Ramos (Mário Dias / Luís Graça)





(**) Vd. postes de:

12 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3728: PAIGC: O acampamento (barraca) Osvaldo Vieira (Pepito)

Guiné 63/74 - P6101: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (24): Diário da ida à Guiné - 04/03/2010 - Dia Um

1. Mensagem de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 30 de Março de 2010, que nos vai contar tudo sobre a sua recente viagem à Guiné-Bissau:

Caro Carlos:
Tardo em mandar o relato do Dia Um do Diário da Ida à Guiné, pois ando deveras atrapalhado, com a passagem das gravações da câmara de filmar para o PC, a qual comprei dois dias antes de ir e ainda não estou senhor de todo o seu software.
Para já, vou ilustrando as estórias com fotos só da máquina fotográfica.

O primeiro episódio de “NA KONTRA KA KONTRA” está quase a rebentar. (A primeira cena é mesmo uma explosão).

Um abraço.
Fernando Gouveia


A GUERRA VISTA DE BÁFATA - 24

Diário da ida à Guiné - Dia um (04-03-2010)


Cerca das duas menos um quarto da manhã: - “Senhores passageiros mantenham os cintos apertados até o avião se encontrar imobilizado e os motores estarem parados”.

Começa a saída do avião. Estava ansioso por passar a porta da cabine e sentir o cheiro que quarenta e dois anos antes me impressionara, quando do atracar do “Ana Mafalda” na Ponte Cais da Amura.

Para ser sincero, não senti esse odor inebriante a África. Mentalmente procurei explicações e a mais provável poderia ser a de agora se estar em avançada época seca e em Julho de 68 se estar em plena época das chuvas.

Desci as escadas do avião e às duas da manhã o calor parecia o mesmo de há quarenta anos, incomodativo. Já na plataforma reparei que o asfalto, pelas dimensões das fissuras, qual lamaçal seco, poderia ser o mesmo. O autocarro que nos levou à gare, distante 50 metros, também poderia ser o mesmo. Depois notei que os carrinhos de transporte das bagagens pareciam os mesmos, mas não eram, ou seriam, apesar de agora se estar na gare do Aeroporto Osvaldo Vieira e não na antiga gare de há quarenta anos.

Já dentro do edifício tive que ir para a fila dos estrangeiros mostrar o passaporte. De novo o choque, agora já menor. Coisa estranha, os africanos foram todos também para a mesma fila, dos estrangeiros… Deviam ter todos passaporte português.

Quando já estava a pisar o risco amarelo que precedia a mostra do passaporte, já estava completamente distraído a rever todo aquele ambiente, já sentido por mais de dez vezes há quarenta anos. O funcionário deve ter chamado por mim. Estava completamente absorto. Foi preciso todas as outras pessoas chamarem-me à atenção, com sorrisos à mistura. A minha euforia ia ter uma pausa.

Na sala a seguir “pesquei” o saco que veio no porão. Estava um pouco preocupado pois trazia lá algo passível de confisco. Um funcionário remexeu tudo mas não deu com nada. Como havia um saco plástico fechado pediram para eu o abrir. Era um bolo-rei que levava para os amigos. Perguntaram o que era aquilo. Quando lhes estava a explicar, o melhor que podia o que era um bolo-rei, o funcionário avançou com o dedo indicador para o espetar no bolo, mas fosse pelo meu olhar cáustico, fosse por ele próprio ter medo de meter o dedo em algo que podia ser perigoso, ordenou-me que fosse eu a meter o dedo. Enterrei o dedo no bolo e como não explodiu e o dedo não veio cheio de pó branco, aproveitei e parti o bolo ao meio mostrando que era apenas bolo. Perante esta atitude libertaram-me de mais formalidades.

As minhas dúvidas quanto ao ir do Aeroporto para qualquer hotel desvaneceram-se. O Chico Allen, o Pimentel, o Mesquita, o Pires e o filho estavam à minha espera. Estes dois últimos, sabendo do estado da minha coluna, carregaram as minhas bagagens (ficando muito grato por isso), sobretudo o saco mais pesado onde levava as prendas para os companheiros e para distribuir pelos africanos.

O Chico depressa fez o percurso de uns 30 quilómetroa para Norte, em direcção ao empreendimento meio abandonado, que ele próprio está a “gerir”: o Anura Club, a 6 quilómetros de Bula na estrada para o Ingoré e perto da tabanca balanta de Bofo. Pelo caminho, a polícia, numa das muitas caricatas barreiras que noutro dia descreverei, quis ver as minhas bagagens. Na expectativa da cena do bolo-rei se repetir, o Chico, já com alguma experiência dessas situações, levou-os na conversa e lá seguimos mas ainda tivemos de parar em mais quatro ou cinco barreiras policiais, ou do exército.

Deitámo-nos às quatro da manhã e acabei por dormir só duas horas. A excitação era muita.

Levantei-me cedo e, como algumas mulheres e bajudas que moravam nuns armazéns do empreendimento, estavam junto do poço a tirar água, aproveitei para tirar as primeiras fotos e fazer as primeiras cenas em filme.

Junto ao poço, um grupo de bajudas e o Nelson, em baixo à direita.

A bajuda Elisa, de 14 anos.

A bajuda manjaca Missinda, de 14 anos.

Tomado o pequeno almoço, confeccionado por nós, aliás como todas as refeições que fazíamos no Anura Club, fomos a Bissau pois era urgente trocar dinheiro e comprar um cartão de telemóvel para uma rede local. Aconselharam-me a MTN. A compra de francos cfa foi feita numa loja de materiais de construção onde o cambista (dono da loja), sentado atrás duma secretária que se confundia com a anarquia dos materiais expostos e lixo à mistura, não era mais do que um irmão do Major Valentão! Noutra loja ali perto comprou-se o cartão para o telemóvel, embora rodeando as pessoas andassem sempre muitos miúdos a tentar vendê-los.

A manhã estava no fim e decidimos almoçar em Bissau. O Chico escolheu o restaurante “A Senegalesa” e encomendou-se um chabéu de peixe. Aí, vi a bajuda mais espectacularmente bela, em termos estéticos, de todas as que vim a ver. Parecia vestida para uma passagem de modelos africana. Tinha um vestido até aos pés de cores muito sóbrias, um lenço branco à “Benasir Butto” e, a envolver-lhe os ombros, um lenço grande amarelo, todo bordado, estabelecendo uma ligação estética perfeita entre o lenço da cabeça e o vestido. A rematar tudo isso ela estava a pilar quiabo de um verde tal que estabelecia um contraste ideal com as suas vestes. Perguntei-lhe se a podia fotografar (como faço sempre) mas disse que não pois era muçulmana. Teria cometido uma heresia se não estivéssemos com pressa. Utilizaria o zoom do outro lado da rua.

Fomos fazer horas e passámos pelo ponto de encontro dos europeus, principalmente cooperantes: O restaurante “O Porto”. Como aí o prato do dia era feijoada à transmontana, rapidamente se mudou de ideias e lá foi o Chico desmarcar o chabéu. Foi das melhores feijoadas que comi (estaria já a ser apanhado pelo clima?). Sopa, prato, cerveja e café, sete mil francos cfa.

O Pimentel e outros elementos do grupo na esplanada do “O Porto”.

O Pavimento da rua em frente ao restaurante “O Porto”.
Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2010). Direitos reservados.


A tarde foi passada na agradável esplanada do “O Porto”, pertinho do antigo Grande Hotel, agora totalmente degradado e a cair aos bocados. Conversou-se com imensa gente que ia aparecendo, elementos do grupo que foi por terra, cooperantes portugueses e doutros países, (até o nosso Presidente da Associação de Municípios lá apareceu) e residentes. De um destes, e por intermédio do Pimentel, tive uma proposta de trabalho, que se se vier a concretizar, levar-me-á à Guiné com frequência. Mas o segredo é a alma do negócio…

Regressámos ao Anura, comemos uma sopa que o Chico já tinha feita, ligámos o gerador, vimos o Noticiário da RTP-1 na TV África e, como fazíamos todas as noites, dissemos aos guardas (que não recebendo nada há cinco ou seis anos se mantêm fiéis no seu posto…) para desligarem o gerador passada meia hora de termos ido para vale de lençol (e não de lençóis, pois lá sempre fez muito calor).

Até amanhã camaradas.
Fernando Gouveia
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6048: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (23): Diário da ida à Guiné - 03/03/2010 - dia zero

Guiné 63/74 - P6100: Tabanca Grande (211): Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74 (Agostinho Gaspar)

1. Mensagem de Agostinho Gaspar* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), com data de 30 de Março de 2010:

Amigos da tabanca grande
A minha apresentação já foi feita pelo comandante da tabanca o mês passado (P5898), tenho seguido o blogue há alguns anos e chegou a vez de dizer quem sou.

Sou o Agostinho Gaspar, moro na Boa Vista, Leiria e fui 1.º Cabo Auto Rodas da 3.ª CCAÇ/BÇAÇ 4612/72, que esteve em Mansoa.

Não venho falar de guerra, mas sim do tempo de tropa do meu serviço militar.
No meu pensar, classifico os que fizeram a tropa em três classes: felizardos, felizes e infelizes, no meu caso, devo estar no grupo dos felizes.

Em 1970 fui à inspecção militar, nos editais da freguesia contavam (19) dezanove nomes, mas no dia (das sortes) compareceram somente onze (11), os outros já tinham passado a fronteira, uns com família, outros sem família, e a viver nos arredores de Paris.

Fiz a recruta em Janeiro de 1972, na CICA 4, em Coimbra, passei para EPSM, Sacavém, onde tirei a Especialidade de Mecânico, estagiei no RI 7 de Leiria.

No tempo de estágio, assentou praça o jogador do F. C. do Porto, os benfiquistas devem ainda lembrar-se dele… os (4-0), o Lemos.

Estando eu em Julho de 73 em Gadamael Porto e CACINE, chegou uma Companhia nova para aquela zona, onde vinha o Lemos, segundo se falava na altura ele ia para S. TOMÉ, mais uma que foi repescada.

Neste último almoço da tabanca do centro, eu e o Manuel Reis estivemos a comentar este episódio: um jogo de futebol, jogaram oficiais, sargentos e praças, as equipas eram feitas pelo Exército, Pára-quedistas e Marinha, todos equipados a rigor, o resultado não me lembro, tenho uma vaga ideia que a equipa, da qual fazia parte o Lemos, esteve a perder algum tempo.
CACINE era mais calmo do que os arredores, para quem se lembra era local da tropa recuperar forças.

Mudando de assunto, para a próxima falarei da Guiné. Terminado o estágio, novamente na EPSM durante a semana iam chegando os estagiários do meu turno de vários quartéis, no final mês de Agosto, fim-de-semana sai na ordem de serviço as mobilizações… dos cento e poucos do meu curso, metade estava na lista para a Guiné, e eu fui deles! Calhou-me na rifa o BCaç 4612/72 que estava a formar no RI 16 em Évora, outros foram para várias unidades que embarcaram na mesma altura. A 5 de Outubro de 1972 rumei nos aviões da TAM com destino a Bissau.

Para a próxima continuarei novos episódios

Um abraço a todos os amigos e leitores da tabanca
Agostinho Gaspar


2. Comentário de CV

Caro Agostinho Gaspar
Já tens, então, um endereço próprio de e-mail para seres contactado.
Começa agora a elaborar as tuas histórias e se tiveres mais fotos vai mandando também. Não te esqueças das legendas.

Não chegaste a enviar um foto tua actual para guardarmos nos nossos ficheiros. Quando puderes, envia-a.

De novo te damos as boas-vindas, aproveitando também para te desejar boa Páscoa.

Recebe um abraço da tertúlia.

Carlos Vinhal
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5898: Tabanca Grande (206): Agostinho Gaspar, de Alqueidão, Boavista, Leiria, ex-1-º Cabo Mec Auto, 3ª C/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74)

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6098: Tabanca Grande (210): Fernando da Costa Gomes de Araújo, (ex- Fur Mil OpEsp/RANGER da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512, Jumbembem, 1973/74)

Guiné 63/74 - P6099: A Guiné aos olhos das actuais gerações (2): Sinto que estou a aprender e a crescer na Guiné-Bissau (Hélder Sousa / Marta Ceitil)

1. Mensagem de Hélder Sousa* (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 29 de Março de 2010:

Caros amigos Editor e Co-Editores e restantes camaradas
Aqui vos envio o 2.º texto com as crónicas da Marta Ceitil, enviadas aquando da sua aventura como formadora em terras da Guiné e para colocarem na série respectiva.

Neste episódio a Marta já começou a dar a primeira série de formações, em Bissau, sendo que a sua aprendizagem vai ser dura mas profunda e duradoura.

Escrevi aprendizagem porque foi exactamente isso que se passou: a Marta foi ensinar e acabou aprendendo também!

Aprendeu a dar novos valores às coisas da vida, aprendeu a dar e a receber, aprendeu a gostar da Guiné.

Um abraço
Hélder Sousa


A GUINÉ AOS OLHOS DAS ACTUAIS GERAÇÕES (II)

HÉLDER SOUSA / MARTA CEITIL




Depois do seu mail de 29 de Julho, em que dava conta das impressões iniciais e onde tudo era novidade, a Marta enviou novo mail em 9 de Agosto, já então com algum tempo de estadia e também de trabalho.

O mail foi o que se segue:

Saudades di mi terra :)
9 Aug 2009 18:49:02 +0000

Olá Família
E Kuma? Kurpo sta diritu? ;)

Pois é, já lá vão duas semanas e parece que já cá estou há um mês. Aqui é tudo tão diferente, a noção de tempo a passar também é diferente.

Já demos a nossa primeira formação, começou na terça-feira e acabou no sábado. Foi incrível. Não estava nada à espera de ter tanto jeito para isto! Nem estava à espera de gostar tanto de dar formação. Substimei o nível de conhecimento dos meus formandos, e levei um ‘estaladão’ na cara invisível: superaram todas e quaisquer expectativas que eu tinha. Foi uma experiência incrível e sinto que estou a aprender e a crescer a cada dia que passa. Sinto também que estou a mudar algumas coisas, ainda é cedo para dizer isto, mas agora, no presente, sinto que cada vez mais dou importância ao que realmente é importante e relativizo aquilo que não vale a pena, nomeadamente coisas minha e fúteis, que como um bom leão que sou, tenho e faz parte do meu ser, ser vaidosa e gastar (se me pudesse dar a esse luxo…) rios de dinheiro em cremes, em roupa, em botas Timberland. Não estou a dizer que quando voltar, vou ser toda ‘Shanti Shanti’ e ser contra o consumismo, mas aqui e agora isso não vale nada. Esta confrontação das duas realidades é brutal e está a fazer-me muito bem. O desafio é saber gerir bem esta confrontação e saber questionar sem me deixar levar pelo extremismo. Mas acho que estou a conseguir.

A semana que passou também foi um bocado tensa, afinal o sítio onde nós estamos não é assim tão protector dos animais como nós achávamos. No outro dia chegámos a casa, e os donos do aparthotel estavam cá fora no jardim a jantar e perguntaram se éramos servidas. Agradecemos e dissemos de imediato que não, o cheiro estranho a carne era insuportável! De seguida vou à cozinha (que é partilhada) para preparar o nosso jantar, quando... na bancada da cozinha está a cabeça da Nucha, a nossa bambi!!! Não aguentei e desatei a chorar!! Que horror! Percebi logo o que é que os outros estavam a jantar!!

Eu sei, estou na Guiné e é normal estas coisas... mas bolas, criámos uma relação com os animais e aos poucos estão todos a ser comidos! O Galo, já era, também já foi morto, (nem sabia que se comiam Galos, pensava que eram só galinhas), qualquer dia é o Manel e a Maria os nossos chimpanzés!!!

Enfim, estas e outras coisas fazem-me crescer e o ter de lidar com elas também!
O que vale é que amanhã vamos já para Mansoa, já estamos um bocado fartas de Bissau. Também é por isso que estou a escrever, vou ficar até ao dia 26 de Agosto em Mansoa, e aí não há mesmo internet, só o telemóvel. Estamos ansiosas para ir, vamos para a Escola Nacional de Voluntariado, funciona como um Campo de Férias com vários jovens que se inscrevem para ter formação em: Associativismo Juvenil, Saúde Sexual Reprodutiva, Planeamento Estratégico, e Metodologia de Projecto. Eu vou ser coordenadora e responsável pela Formação de Saúde Sexual Reprodutiva, e acho que vai correr novamente bem. Já temos os nossos amigos que são impecáveis, ontem à noite começou a doer o ouvido à Telma, eu com uma lanterna espreitei o ouvido... tinha um bichinho lá dentro. Tínhamos de ir a uma farmácia, ligámos ao nosso amigo Cemjoão (não é o 99 é o cem) que tem uma mota, para nos ajudar a encontrar uma farmácia. Impecável, tratou de tudo e conseguiu as tais gotas para o ouvido que mata o bicho!

Hoje ligámos à nossa médica que nos confirmou que fizemos bem. Só aventuras!!! Cada vez que andamos de Táxi é um filme, mas o lado bom é como os taxistas são todos senegaleses, farto-me de falar francês e afinal não estou assim tão mal quanto achava estar.

Estamos a ser muito bem tratadas e bem recebidas por todos. Andamos na rua e parece que estamos na aldeia, toda a gente nos conhece :)

Bem, este mail está a ficar muito grande, só para vos mandar um grande beijinho e dizer que tenho muitas saudades vossas :)

Espero que esteja tudo bem convosco. Na terça-feira ligo à Joana para dar os parabéns ao Francisco!

Beijinhos grandes
Marta Ceitil



O que se pode dizer quanto a isto?

A aprendizagem desta jovem faz-se a um ritmo acelerado. O contraste entre a sua realidade até então vivida e a dura realidade guineense contribui fortemente para um crescimento mental, um crescimento interior, que a vão levar a novos e mais elevados patamares do relacionamento humano.

É verdade que a atitude ajuda muito. Se se parte com o espírito de grupo, de partilha, o ensino e a aprendizagem entrelaçam-se e atingem-se resultados positivos.
De qualquer modo essa aprendizagem tem, como sempre, aspectos duros.

Veja-se a descoberta de que a Casa/Pensão não era propriamente um zoológico ou um habitat/refúgio de animais indefesos…

Veja-se como se aprende que não se pode ir para estes locais com preconceitos, pois rapidamente se pode levar um ‘estaladão’…

Mas também se veja como a Guiné permite, se assim se quiser e estiver disposto a isso, que rapidamente as pessoas procurem superar os seus limites e se questionem sobre os valores da Vida.

Um abraço para toda a Tabanca!
Hélder Sousa
Fur Mil Transmissões TSF
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6054: Controvérsias (68): Preciso de entender coisas que não alcanço (Hélder Sousa)

Vd. primeiro poste da série de 9 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5961: A Guiné aos olhos das actuais gerações (1): Marta Ceitil, cooperante na área da Formação (Hélder Sousa / Marta Ceitil)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6098: Tabanca Grande (210): Fernando da Costa Gomes de Araújo, (ex- Fur Mil OpEsp/RANGER da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512, Jumbembem, 1973/74)


1. O nosso Camarada Fernando Araújo* (ex-Fur Mil da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512, Jumbembem, 1973/74), enviou-nos a sua primeira mensagem, solicitando a adesão à Tabanca Grande, com data de 2 de Abril de 2010:




Camaradas passo a apresentar-me a esta grande tertúlia cibernáutica,

Nome: Fernando da Costa Gomes de Araújo
Nº. Mec.º:
19740272
Especialidade: Operações Especiais/RANGER (4º Curso de 1972)
Posto: Furriel Miliciano
Local na Guiné:
Jumbembem
Período:
1973/1974
Unidade: 2º pelotão - 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512


Andei envolvido com o meu pelotão numa coluna a Guidage, cuja acção decorreu imediatamente antes da execução no terreno da famosa e mortífera operação Ametista Real e numa terrível emboscada em Lamel (região situada entre Jumbembem e Farim), acções estas de que vos darei a minha visão pessoal dos factos, em futuras mensagens.

A presente mensagem e a próxima serão dedicadas ao aquartelamento de Jumbembem e alguns aspectos de que disponho fotografias.

Foto 1 > Jumbembem > 1974 >2ª CCAÇ do BCAÇ 4512 > Em primeiro plano: o refeitório, caserna do 4º pelotão e espaldão do Obus 10,5 cm. Ao fundo: a escola e a Tabanca da milícia

Foto 2 > Jumbembem > 1974 > 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512

Foto 3 > Jumbembem > 1974 > 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512 > Caserna do meu 2º pelotão

Foto 4 > Jumbembem > 1973 > Parada do quartel

Foto 5 > Jumbembem > 1974 > 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512 > Tarefa diária do Sargento de Dia à Companhia era a cerimónia do arriar da bandeira. Neste dia tocou-me a mim

Foto 6 > Jumbembem > 1973 > A chegada de um helicóptero com o correio

Foto 7 > Jumbembem-1973 > Instantâneo da chegada do helicóptero com a correspondência. Esta foto foi obtida da porta do meu quarto

Foto 8 > Jumbembem > 1973 > Picada de Canjambari

Foto 9 > Jumbembem > 1974 > O pessoal do 2º pelotão

Foto 10 > Jumbembem > 1974 > A caserna do 2º pelotão

Foto 11 > Jumbembem > 1974 > Os dois Comandantes da Companhia: Cap Mil Aires da Silva Gouveia e o Cap Mil OpEsp RANGER Avelar de Sousa (já quase sem cabelo)

Foto 12 > Jumbembem > 1974 > Messe. Sentados, da esquerda para a direita: Eu, Gomes, Alf Mil Moura, Cap Mil Aires Silva Gouveia, Cap Mil OpEsp/RANGER Avelar de Sousa

Foto 13 > Jumbembem > 1973 > Natal na messe

Foto 14 > Jumbembem > 1973 > Eu a tocar viola e, ao meu lado direito, está o nosso Comandante

Foto 15 > Jumbembem > 1974 > 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512 > Aqui estou eu a “votar” discurso na messe

Foto 16 > Jumbembbem > 1974 > Escrevendo à minha futura mulher, Rosa Maria ou Romy (como eu lhe chamo), no meu quarto
Um abraço,
Fernando Araújo
Fur Mil OpEsp/RANGER da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512

2. Comentário de MR:

A partir de agora o nosso Camarada Manuel Marinho (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), já tem no blogue mais um elemento do seu batalhão.


Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
Fotos: © Fernando Araújo (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

2 DE ABRIL DE 2010 >
Guiné 63/74 - P6093: Tabanca Grande (209): Regressei a Portugal depois de 36 de ausência, mas encontrei a mesma burocracia (João Bonifácio)