quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16948: Brunhoso há 50 anos (11): Crasto, Fraga do Poio e Rio Sabor (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

Rio Sabor


1. Em mensagem do dia 7 de Janeiro de 2017, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), volta à sua série Brunhoso há 50 anos, desta vez para nos falar do Crasto, da Fraga do Poio e do Rio Sabor.


Brunhoso há 50 anos

11 - Crasto, Fraga do Poio e Rio Sabor

No lugar do Crasto, que ocupa uma colina fronteira à aldeia, identificada na fotografia, segundo a memória transmitida por muitas gerações ao longo dos séculos, que se confunde com a lenda, terá existido uma povoação romana. Quando eu era mais novo vi lá algumas vezes pedaços de telhas que os lavradores desenterravam ao lavrar as terras.

O Crasto, que dominava toda a paisagem em redor numa lonjura de vistas variável, a menor nunca inferior a dois quilómetros e a maior superior a 50, era um sitio estratégico para os seus habitantes se precaverem e poderem defender de ataques surpresa de possíveis invasores, nos tempos em que as guerras de conquista e reconquista eram constantes. Existe em muitas povoações e nalgumas denomina-se “Castro” pois são palavras com a mesma raiz etimológica e significado. Era um lugar fortificado num sitio estratégico, entre os povos romanos ou pré-romanos. Hoje está morto e enterrado debaixo do pó da terra que os ventos transportam e que se foi acumulando ao longo de centenas de anos, tendo os lavradores lavrado essa terra que o cobre para semear trigo e onde algumas árvores foram crescendo, semeadas pelas aves e pelo vento. A sua forma cónica e a proximidade da aldeia, associada à lenda doutras eras, dá-lhe uma beleza um pouco familiar, misturada com uma certa nostalgia de um passado desconhecido.


 Duas perspectivas do Lugar do Crasto

Com a progressiva pacificação da Península depois da ocupação dos romanos, invasões dos bárbaros, os Suevos, os Vândalos e os Visigodos, e das invasões dos muçulmanos, provavelmente ainda muito antes do inicio da nacionalidade, a povoação terá sido construída no lugar onde hoje se encontra, um sitio mais baixo, entre colinas, mais protegida dos ventos frios e agrestes do Inverno e do inferno dos calores estivais. Uma planície mais verdejante, entre pequenos montes e colinas, onde nascem os ribeiros, mais abrigada dos ventos e das intempéries.

Já longe da aldeia, passando pelos montes de sobreiros e entrando na zona das oliveiras, quando os terrenos começam a descer em declive na direção do Rio Sabor, encontramos a Fraga do Poio, um monumento natural que marca a paisagem pela sua dimensão. A Fraga do Poio é um enorme penhasco de xisto com cerca de 300 metros de altura e com uma largura, na base, superior, formando um penedo, que impõe a sua presença em toda a paisagem em redor, como se fosse uma enorme catedral de pedra erguida em tempos antigos a um Deus da Terra menos omnipotente e mais próximo dos mortais do que o Deus dos Céus que, na sua ânsia de poder, quis ser Deus dos Céus e da Terra. Sinto dificuldade em definir o sentimento que os brunhosenses sentiam e sentem em relação a essa fraga gigante: respeito, temor, veneração, exaltação, vaidade, orgulho? Talvez um pouco de tudo isto mesclado com a simplicidade e a naturalidade que foram sempre características dos meus conterrâneos.


 Vistas da Fraga do Poio

Sem saírem da povoação, tinham à vista o Crasto que lhe povoava a imaginação dum passado de gentes que confundiam com romanos e mouros, mais mouros que foram os últimos a passar por lá e dos quais alguns resquícios da memória coletiva conservavam lembranças difusas envoltas em lendas.

Descendo por caminhos ou carreiros de terra batida, em direcção ao rio Sabor, a três quilómetros, podiam debruçar-se de cima da Fraga do Poio e apreciar as vistas do rio serpenteando no vale, a cerca de dois quilómetros, brilhando como prata em dias mais claros de sol ou como chumbo em dias mais escuros de inverno .

 Panorama a partir da Fraga do Poio

Hoje para quem o vê e admira, o Sabor parece um rio grande, que a barragem a jusante, perto da foz, converteu num enorme lago de águas paradas que irá aumentar ou baixar o seu volume conforme as necessidades das barragens hidroeléctricas do Rio Douro, no seu caminho para a Foz do Porto, em direcção ao Atlântico. O Sabor não será mais aquele rio furioso e selvagem dos Invernos chuvosos do Nordeste ou calmo e com tão pouca água no Verão, que se deixava atravessar a vau nalgumas partes do seu percurso. Com a construção da barragem, o Sabor deixou de estar ao serviço dos habitantes das aldeias das suas margens, cada vez mais desertas, para se transformar num rio moderno para produção de electricidade para os grandes burgos. Entrou na era da globalização tal como a maioria dos habitantes de Brunhoso e das outras terras pequenas atraídos pelas grandes cidades do país e do estrangeiro, que ainda antes da construção da barragem já o tinham abandonado .

As pessoas crescem e fazem-se na contemplação do meio ambiente em que são criadas e é ele que que lhes vai ajudar a moldar o carácter e a personalidade. O Crasto, a Fraga e o Sabor irão marcar para sempre as gentes de Brunhoso. A colina arredondada e elevada do Crasto, tão perto da povoação, com vestígios doutro povoado mais antigo, deu-lhes uma dimensão difusa da longevidade que transportam os séculos e da história que os homens escreveram quando se espalharam pela terra. A Fraga do Poio, erecta, firme e imutável na sua consistência e rigidez de pedra, com milhões de anos, dá-lhes a ideia confusa e mal assimilada, das medidas e dum tempo astral, quando tempo e distâncias se confundem e se transformam em crenças que a pouca ciência ou a ignorância dos homens não conseguem decifrar.

O rio Sabor, antes da construção da barragem, suave e transparente no Verão, cheio, escuro e apressado no Inverno, vai dar-lhes a beleza fluída e envolvente ora calma e transparente no Verão, ora furiosa e temerosa no Inverno, da água, essa mãe primordial que tanto cria, alimenta e afaga os outros elementos, como os destrói na sua passagem impetuosa.

 Rio Sabor

Há cinquenta anos, quando Brunhoso ainda estava povoado de gente a viver num mundo mais difícil, primitivo e antigo, os seus habitantes formaram pois o carácter sob a influência da colina do Crasto que lhes deu o sentido do passado e da história, da Fraga do Poio que lhes transmitiu dureza e algum sentido de grandeza, do rio Sabor que lhes deu outra dimensão da beleza e da vida.

É tão difícil utilizar as palavras mais apropriadas para definir a luta e a comunhão entre a natureza e esses antigos habitantes da história de Brunhoso, que antecedeu a minha partida para a Guiné.

Peço desculpa, se a emoção, de quem ainda viveu parte dessa história, lhe dificulta a razão e lhe prejudica a objectividade e imparcialidade.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16651: Brunhoso há 50 anos (10): As casas (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

Guiné 61/74 - P16947: Memória dos lugares (356): A Ponte dos Três Arcos, de Leiria, por onde passava a estrada real Lisboa-Coimbra (José Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5)

1. Em mensagem do dia 5 de Janeiro de 2017, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), recorda a Ponte dos Três Arcos, localizada em Leiria, entretanto desaparecida, testemunha dos conturbados tempos da invasões francesas.

Boa tarde
Votos de Bom Novo Ano, para todos.
Existe, em frente à Fonte Grande ou Fonte das Carrancas, em Leiria, um Memorial que recorda uma ponte existente naquele local. Como se encontra junto de uma obra arquitetónica de grande volume, passa despercebida. Foi, porém, neste local que aconteceu um dos muitos episódios da batalhas que houve na região de Leiria, durante as 1.ª e 3.ª Invasões Francesas, tornando a região uma das mais afetadas pela passagem dos franceses, quer em vidas humanas, quer em perda de bens.
Junto a história dos factos iniciados junto à ponte.

Abraço
Zé Martins


A Ponte dos Três Arcos

© Foto: José Martins

Várias pinturas sobre a “Leiria Antiga”, executadas no início do século XVIII, mostram a existência de uma ponte, com três arcos, que se situava no espaço entre a actual ponte Afonso Zúquete (Afonso Veríssimo de Azevedo Zúquete, Leiria, 26 de Abril de 1883 - † 26 de Fevereiro de 1936) e a passagem pedonal Ponte El-Rei D, Dinis.
Essa ponte consta de um mapa, com data presumível de 1809, levantado pelo Major de Engenharia Manuel Joaquim Brandão de Sousa, pertencente à Direcção-Geral das Infra-estruturas do Exército.

© Foto: José Martins

Existem representações gráficas de mapas de Leiria, em "Toponímia de Leiria", de Alda Sales Machado Gonçalves, edição da Freguesia de Leiria, 2013, páginas 450 e 451; "Leiria no tempo das Invasões Francesas", de Jorge Estrela, edição Gradiva, 2009, página 48.
Era por essa ponte que passava a estrada real de Lisboa a Coimbra, e era guardada por tropas francesas, de forma a assegurar que a mesma não fosse utilizada para passarem por lá reforços, nacionais ou ingleses, que pudessem colocar em risco a supremacia das tropas de Napoleão.

Por uma pastoral datada de 21 de Dezembro de 1807, o Bispo D. Manuel de Aguiar (Évora, 8 de Dezembro de 1751 † Leiria, 19 de Março de 1815 - episcopado de 1790 até à data da sua morte), recomendava aos habitantes que não hostilizassem o invasor, pois que, além de ser contra a Lei de Deus, atrairia sobre eles grandes males. A Câmara da cidade também manifesta, à Junta Suprema do Reino, a sua admiração por Napoleão, ressaltando que, face à posição geográfica de Leiria, e como lhe é peculiar, será com distinção e cordialidade que acolherá o exército francês. Tal não é o entendimento das tropas que, respondem com agressividade e brutalidade, não só em Leiria, mas em todos os locais onde estacionam ou passam.
É, porém, bem longe de Leiria, que tem início a revolta que há-de provocar, como sempre, mais danos principalmente na população, quer em vidas, quer em bens. A 2 de Maio de 1808, em Madrid, o povo revolta-se contra os franceses que, após 22 dias de repressão sangrenta sobre a população civil, o invasor acaba por ser expulso da cidade. Outras se vão seguir: Saragoça a 24 de Maio, Santander e Sevilha, a 27, seguida de toda a Andaluzia; e Badajoz a 30.


A revolta cruza as fronteiras nacionais e a população insurge-se-se contra as autoridades instaladas, que prestavam vassalagem a Junot e, através deste, a Napoleão: O primeiro sinal é dado pela população de Chaves a 5 de Junho, e do Porto, no dia seguinte. Espalha-se por Braga, Bragança, todo o norte e Beiras, chegando a 23 de Junho, a vez de Coimbra. É de daqui que em 28 desse mês de Junho, parte um destacamento do Batalhão Académico sob o comando de um Furriel, constituindo um grupo de 16 homens armados, que se lança para Leiria, dando combate a todas as forças francesas que encontrassem. Como o grupo era diminuto foi atraindo, para a causa nacional, as populações civis que, deitando mão das armas de que dispunham ou armando-se com as ferramentas dos seus místeres, se lançaram nos combates que pudessem vir a ter lugar.

A “boa vontade” inicial e solicitada pelas autoridades, civis e eclesiásticas, aos cidadãos, caíram por terra. É que não era só o verem ser levados os frutos do trabalho de longos meses e anos: eram o trigo guardado para fazer pão; eram os animais que haviam de ser vendidos no mercado, ou que iriam encher a arca do sal; era o ouro que os pais haviam deixado, que desaparecia; era o próprio corpo do chefe da família, da mulher e dos filhos, tivessem a idade que tivessem, que eram vergastados para obrigarem a dar aquilo que lhes fazia falta e que a todo o custo queriam defender.
O pequeno corpo de cavalaria que saíra de Coimbra, dirige-se a Pombal e Leiria, onde se encontravam destacamentos franceses. Por onde passassem deveriam aclamar o Príncipe Regente, arvorando a Bandeira nos edifícios públicos.
Em Condeixa foram aclamados pelos populares, proclamaram o Príncipe Real, deixaram ao Capitão das Milícias, Manuel Moniz de Gouveia Rangel, a defesa da terra e rumaram ao Sul.

Em Pombal, que já fora abandonada pelos franceses, cumprindo ordens do Governador de Coimbra, nomearam o Dr. Luís António, como vereador mais velho, Governador do Distrito e o comando militar ao Capitão de Milícias de Leiria, Francisco Peregrino de Menezes, e partem no encalço dos estrangeiros.
Ao chegarem a Leiria no dia 30 de Junho, encontraram os franceses a bloquear a ponte sobre o Lis. O grupo de camponeses de Soure, Condeixa e Pombal, cerca de trezentos, faziam um barulho ensurdecedor, com gritos e invectivas, ressoando sobre as vozes um tambor ou um bombo que o tocador fazia vibrar a cada pancada, atordoando os ares.


Os franceses que estavam em linha de batalha, na defesa da ponte, eram dezoito e sobre os mesmos se lançaram dois cavaleiros do Batalhão Académico que, brandindo as espadas e disparando as pistolas, rapidamente os puseram em fuga. Mesmo assim, com a desproporção, deram-lhes batalha, regressando na Leiria com armas e outras peças de fardamento, que os fugitivos deixaram para trás. No dia imediato, 1 de Julho, o destacamento académico solicita ao Bispo, D. Manuel de Aguiar, que aceite o governo civil da cidade, o que ele recusa mas, propõe-se colaborar em tudo o que lhe for possível; o Juiz de Fora limita-se a ler a proclamação do Governador de Coimbra. Quem festejou a chegada de mais defensores foi o povo da cidade e arrabaldes, que se predispôs a procurar armas, onde pudessem, mas de pouco serviu porque as armas eram poucas e não havia pólvora.

Perante a recusa do Bispo, é eleito pela população, Miguel Luís de Silva e Ataíde para o cargo do governo civil, partindo de imediato para Coimbra, em busca de reforços; a defesa militar foi entregue ao Alcaide-Mor Rodrigo de Barba Alado, coronel de cavalaria, mas já avançado na idade.
Quando se procedia à eleição dos responsáveis civis e militares da cidade, chegou o Juiz dos Povos da Pederneira e Nazaré, pedindo reforços. Assim partiu com destino á Nazaré o destacamento académico, com as Ordenanças de Leiria Pombal e Pataias, que pudessem marchar.
Quando em 4 de Julho, o povo de Leiria festejava a expulsão dos franceses, com gritos e procissões, agitando bandeiras, chega a notícia de que o General Margaron se encontrava acampado junto a Porto de Mós, com uma força de 3000 soldados de infantaria, além da cavalaria e artilharia. Era o prenúncio do avanço das tropas francesas sobre Leiria, do qual resultaria o Massacre da Portela, que a placa colocada no muro dos Franciscanos, recorda.

Placa colocada no muro do Convento da Portela, junto à Câmara. © Foto José Martins

"AOS BRAVOS LEIRIENSES CAÍDOS 
NESTE LUGAR EM DEFEZA DA PÁTRIA 
EM 5 DE JULHO DE 1808 E AOS MAR- 
TIRES AQUI TRUCIDADOS NESTE DIA 
PELOS FRANCESES DO GENERAL MARGARON 
COMO HOMENAGEM AO SEU VALOR 
5-VII-1929           A L.N. 28 DE MAIO"

Odivelas, 3 de Janeiro de 2017
José Marcelino Martins
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16898: Memória dos lugares (355): Matosinhos, e a cantiilena de caserna "Oh! Xenhôr dos Matosinhos, / Oh! Xenhôra da Boa-Hora, / Ensinai-nos os caminhos / P'ra desandarmos daqui p'ra fora!",,, (Fotos de Luís Graça)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16946: Tabanca Grande (423): Braima Galissá, mestre Galissá, djidiu e tocador de cora, nosso grã-tabanqueiro nº 732









Lisboa > Anfiteatro do Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 >  Cerimónia de lançamento do livro Diário da Guiné: 1969-1970: O Tigre Vadio, da autoria do nosso camarada Mário Beja Santos (Lisboa: Círculo de Leitores, e Temas & Debates, 2008, 440 pp.).

Sequência de fotos relativa à actuação do mestre guineense, mandinga do Gabu, a viver em Portugal desde 1998, Braima Galissá, tocador de corá, e cantor (djidiu).

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os .direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Já em tempos transmiti ao Mário Beja Santos o meu desejo de ver o José Braima Galissá, o mestre Galissá,  integrado na nossa Tabanca Grande, de pleno direito, por ele e por tudo o que ele tem feito: 

(i) o que ele tem feito  por esse maravilhoso instrumento que é o corá (do mandinga Kora, em português, corá, em crioulo, korá);

(ii) pela sua própria história de vida, filho, neto, bisneto, de músicos do Gabu;

(iii) pelo desenvolvimento e divulgação da música guineense, de origem afro-mandinga,

(iv) pela sua terra, Guiné-Bissau,  que ele muito ama;

(v) pelo estreitamento das relações luso-guineenses,

(vi) pela nossa lusofonia:

(vii) pela multiculturalidade e pelo seu ensino (nas escolas portuguesas);

e  enfim, (vi) por todos nós, amigos e camaradas da Guiné...

O J. Braima Galissá já vive em Portugal quase há duas décadas, nasceu em 1964 no Gabu e foi obrigado a fugir da sua terra com  guerra civil em 1998... Vive modestamente em Lisboa, nas Olaias, dá também aulas em várias escolas, a filhos de emigrantes, incluindo guineenses. Tem feito vários espectáculos, tem uma gente artístico mas não me parece que possa viver só da música.Sei, pela conversa telefónica que tive com ele, que  aguarda a atribuição da nacionalidade portuguesa que já requereu, e que se  habilitou também a uma casa de habitação social em Lisboa.

Tem uma página pessoal no Facebook. Tem a sua banda. Tem um filho que também é tocador de corá, o mais velho, o Nico Galissá (além de informático)...É casado, tem uma esposa e 4 filhos (2 meninas), é muçulmano. A esposa e os filhos mais novos vivem em Bissau.

Gostaria um  dia de o poder levar a um dos encontros da nossa Tabanca Grande... Em conversa com ele ao telefone, falei-lhe desta proposta de o integrar na nossa Tabanca Grande, proposta,que ele aceitou, sentindo-se honrado com a  ideia que agora, finalmente, se concretiza.

O Braima Galissá será o membro nº 732 da Tabanca Grande (*). Tem já 15 referências no nosso blogue.


2. Comentário meu, adaptado do poste P11251 (**), seguido de um comentário do Braima Galissá a que eu nunca cheguei a responder na altura...

Mário:

Obrigado pela tua colaboração neste folheto de divulgação de um instrumento (o corá), de uma arte (a música afro-mandinga) e de um artista (o Braima Galissá) de que eu sou fã tal como tu...

Quero que transmitas ao Braima o meu/nosso desejo de o ver integrado de pleno direito no nosso blogue e na nossa Tabanca Grande. Queria que ele fosse mosso grã-tabanqueiro  e se sentasse aqui, connosco, camaradas e amigos da Guiné, sob o nosso poilão frondoso, mágico, fraterno...

Ele é um artista e um pedagogo da música que já não precisa da nossa "muleta", para conseguir visibilidade e reconhecimento...  Mesmo assim o nosso blogue é uma ponte entre margens de vários rios...

 Ele é um "combatente" da cultura e eu concordo contigo, que temos que fazer mais e melhor no apoio aos artistas (músicos, cantores. escultores. artesãos, poetas, escritores...) da nossa querida Guiné, alguns dos quais  a viver em Portugal na diáspora (falando de músicos, além do Braima, o Kimi Djabaté,o Mamadu Baio, o Manecas Costa... (daqueles que eu conheço, e que são gente talentosa e generosa). Há, felizmenyte, muitos outros artistas guineenses, que vivem em Portugal, ou vêm cá com regularidade. O nosso blogue está aberto para, generosa e ativamente, apoio o seu a trabalho.

Já aqui  apresentei, em tempos, em 28/1/2014 (***), o novo grã-tabanqueiro, o guineense Mamadu Baio, da tabanca de Tabató, líder dos Super Camarimba  (e que o meu filho, João Graça, conheceu em dezembro de 2009). Casado com uma portuguesa, foi pai de um linda menina. Trabalha também como segurança, já que a música ainda não pode ser o seu ganha-pão exclusivo.

O Braima Galissá convive já connosco há vários anos, desde pelo menos o lançamento do teu livro, o "Tigre Vadio", em 11/112008, no Museu da Farmácia (foi nessa altura que o conheci, pessoalmente). Depois disso já nos temos encontrado por aí em diversos eventos culturais.

Lembro-me, por exemplo,de o ter encontrado em Lisboa, no Festival Todos - Caminhada de Culturas, 11 de Setembro de 2011... Mais exatamente no Arquivo Municipal de Lisboa - Núcleo Fotográfico,  Exposição Todos...  Tirei-lhe uma foto com a Alice... Modestíssimo, lá estava ele,  o mestre Galissá, natural do Gabu, o grande tocador de corá  da Guiné-Bissau... Fomos encontrá-lo, nesta exposição, a tocar corá... Divinalmente, como só ele sabe fazer... Falou-me da sua banda, e da sua colaboração também com a banda do Kimi Djabaté... Dei-lhe um abraço dos seus amigos, da Tabanca Grande.

Ele é, afinal,  um grande embaixador da cultura da Guiné. E tu, Mário, como amigo dele, vais ser o seu padrinho na Tabanca Grande, peço-te que escrevas sobre ele duas linhas de apresentação, para completar o que aqui fica dito e escrito...

Um abração. LG


3. Comentário do Braima Galissá com data de 15 de março de 2013, 10h44

Olá, sr. Luís Graça:

Como vão as atividades ? Tudo bem consigo ? Espero que sim, que esteja tudo bem consigo.

Por outro lado, quero perguntar ao sr. Luís se já esteve na Guiné, e em que zona da Guiné-Bissau. Era só isto. Porque costuma chamar ou dizer camarada, e por isso me parece que esteve em África. Obrigado, camarada.

Braima Galissá


4. Resenha biográfica

(...) José Braima Galissá, professor e mestre griot [cantor ambulante, djidiu] de corá, instrumento africano de 22 cordas, nasceu na Guiné-Bissau em 1964 no seio de uma família de griots da cultura Mandinga, que tocam corá  há mais de 600 anos.

Começou a aprender o Kora, em meados de 1970, pela mão do seu pai. Hoje é considerado um dos melhores músicos representantes da cultura Mandinga, pelas suas excelentes qualidades de exímio tocador de corá.

Foi responsável e compositor do Ballet Nacional da Guiné-Bissau e professor de corá na Escola Nacional de Música José Carlos Schwarz durante 11 anos.

Reside em Lisboa desde de 1998, onde desenvolve o projecto Bela Nafa.(...)

Fonte: Adapt de Braima Galissá > Biografia


Sobre o corá, vd. aqui os postes  de


14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11705: Notas de leitura (491): Atlas dos Instrumentos Tradicionais da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)
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Guiné 61/74 - P16945: In memoriam (275): Adeus Mário e nobre Soares (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703)



1. Em mensagem datada de 10 de Janeiro de 2017, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, BissauCufar e Buruntuma, 1964/66) enviou-nos este artigo de opinião para publicação:


Adeus Mário e nobre Soares

Foi-se embora, fica a História e o seu julgamento. Se foi o coveiro do Portugal Africano, desempenhou-se com a dignidade, porque nem fora autor da morte nem quem lhe abriu a cova. E superou-se como político e estadista – o grande dos maiores obreiros da transformação do Portugal imobilista no Portugal democrático e progressista.

Naquele tempo eu pensava que a solução dos problemas que assoberbavam o país recaía sobre os portugueses do interior, na oportunidade da “Primavera marcelista”, esperançadamente nutrida pelo ideário da então Ala Liberal da Assembleia Nacional. Os partidos Comunista e Socialista (este formado recentemente na Alemanha) pareciam-me organizações externas ao país, formatadas por emigrantes políticos, geralmente fugidos ou a isto ou àquilo. Como mal informado, enganara-me.

Desembarcado na Estação de Santa Apolónia, Mário Soares pareceu-me um demagogo, revolucionário oportunista, retórico mobilizador e radical, que ultrapassava pela esquerda o Partido Comunista e os movimentos da extrema-esquerda. Só comecei a interessar-me pela sua personalidade por altura do Congresso do PS, em meados de Dezembro de1974, alertado pelo apoio declarado dos países comunistas à facção do católico e progressista Manuel Serra contra a facção do socialista e laico Mário Soares. Isso levava água no bico e, então, comecei a perceber a sua luta pela liberdade e que o seu populismo era manobra táctico em se posicionar ante “o povo como o peixe para a água” – a grande arma táctica dos partidos comunistas.

E os acontecimentos confirmaram essa razão. Adiante.

A “Descolonização exemplar”, o maior desastre nacional após Alcácer Quibir, tema tão caro às centenas de milhar de portugueses, pela sua dádiva da juventude, saúde, integridade física e da própria vida, na condição de militares, a lutar para que Portugal não fosse corrido da África a tiro e como sendeiro, após 500 anos de estar nela como leão, teve a responsabilidade de Mário Soares? Alguma, certamente – mas de grau muito inferior à do anterior regime e, sobretudo, à da “Comissão Coordenadora do Programa do MFA”, que se lhe antecipou a conspurcar a substância de liberdade e de democracia desse movimento militar, na sua trajectória de se transformar em partido armado!

Mário Soares apresentou-se na Cova da Moura ao MFA e assumiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros comungando as ideias e princípios da autodeterminação por eleições livres, inclusivas, e das suas independências por tratados. Mas quando partiu para essa missão, já o MFA se lhe antecipara, em oferecimento da retirada, do abandono, ao PAIGC, à FRELIMO e ao MPLA – porque nos queriam correr a tiro! Imaginemo-nos na sua situação negocial, a ouvir o contínuo zumbido do MFA de “despache-se, senão a tropa rende-se” e, no caso da Guiné – a caixa de Pandora que esse movimento militar abriu para esse desastroso desfecho – a cassete em contínuo de José Araújo e Pedro Pires: - Negativo! Vão-se embora! Vão-se-embora!

Na senda dos republicanos – o pai fora ministro das Colónias da I República - em 1966 Mário Soares ainda preconizava uma discussão do Minho a Timor, sobre o Ultramar – como todo o português, de espírito óbvio. Passou a advogar as negociações que conduzissem às independências africanas com a entrada de Marcelo Caetano – pela sua intuição de o salazarismo não poder subsistir sem Salazar.

Em 1974, partiu para as negociações com esse pressuposto. Cedeu aos factos consumados e seguramente que terá feito o melhor que pôde; depois, voltou-se a enfrentar o futuro, generosamente, sem recriminações aos seus actores, preocupado em aliviar-lhes a negrura desses factos acontecimentais. E como primeiro-ministro e durante os seus 10 anos como PR não foi a Cuba, em romagem a Fidel Castro…

Ganhou direito a um lugar no olimpo dos Grandes Portugueses.

Manuel Luís Lomba
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16910: In memoriam (274): José Augusto Machado (1949-2017), ex-fur mil at, CART 2715 (Xime, 1970/72); vivia em Caneças, Odivelas. O velório é hoje na igreja de Casal de Cambra, Sintra, e o funeral é amanhã às 15h00 (Benjamim Durães)

Guiné 61/74 - P16944: Os nossos seres, saberes e lazeres (194): Pedrógão Pequeno e o Cabril do Zêzere (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 3 de Agosto de 2016:

Queridos amigos,
Prossegue o périplo à volta do Cabril do Zêzere, uma região que assombra pela natureza das penedias e fragas e pelo diálogo que o rio Zêzere estabelece entre duas regiões gémeas na natureza e diversas na organização administrativa. Tudo mudou no século XX quando Salazar deu luz verde para o plano hidroelétrico e nasceram três barragens em torno do Zêzere: Bouçã, Cabril e Castelo de Bode, surgiram opulentas albufeiras, houve o chamariz de novas oportunidades de trabalho, cresceu a curiosidade turística com a facilidade dada pela ponte sobre a barragem, ligando Pedrógão Grande à Sertã. Mas foi a ponte do Granada, no vale do Zêzere, a mais alta ponte da Península Ibérica, no itinerário do IC8 Figueira da Foz-Castelo Branco que trouxe mais promessas. Só que o tão almejado desenvolvimento do interior continuou limitado à indústria da madeira.

Um abraço do
Mário


Pedrógão Pequeno e o Cabril do Zêzere (2)

Beja Santos

Lê-se a páginas 539 do VI Volume de Portugal Antigo e Moderno, Dicionário Geográfico, Estatístico, Corográfico, Heráldico, Arqueológico, Histórico, Biográfico e Etimológico de todas as cidades, vilas e freguesias de Portugal e de um grande número de aldeias, de 1875: “Pedrógão Pequeno (antigamente Pedrógão do Crato ou Pedrógão do Priorado) é uma vila situada num platô, próximo da esquerda do Zêzere, e da famosa ponte do Cabril, e é uma das mais bonitas da província e uma das doze vilas do grão-priorado do Crato. Apesar de pequena tem a vila seis igrejas. A famosa e antiga ponte de Cabril é toda de cantaria e com três arcos. Tem 62,4 metros de altura, e está muito bem conservada. Foi esta vila cabeça do antiquíssimo concelho, suprimido depois de 1834. Tinha Câmara, Juiz Ordinário, Paços do Concelho e respetivos Escrivães. Ufana-se esta vila de ser a pátria de António Gregório Leitão, jovem e esperanço poeta, a quem a morte arrebatou quando o seu peregrino talento principiava a ser conhecido”.


Foi a barragem do Cabril quem aqui me fez chegar, dela desfruta-se duas panorâmicas distintas: a albufeira e o vale do Zêzere. Subi à encosta, aí me desgracei com uma casa derrancada mas cheia de caráter. Não se entra num lugar sem estabelecer uma relação amigável com envolvente, neste caso Pedrógão Pequeno, aldeia de xisto, beneficiou de um programa de reabilitação, vezes sem conta me demoro na praça principal, com pelourinho.



Agora um desabafo: manter um jardim nesta penedia onde os construtores derramaram uns centímetros de terra para ver brotar hortas e jardins, é um verdadeiro quebra-cabeças, para quem não vive em permanência. Aos poucos, e com a prestação de serviço de alguém que aqui vem regar à mangueira o plantio, temos as dálias, as azálias, lírios, margaridas, cresce a vinha, rosmaninho, alfazema, há uma tangerineira e três laranjeiras. É um regalo para os olhos, e um agradável relaxamento andar acocorado a arrancar as ervas daninhas, a enterrar novos catos, a fazer novas experiências.



Vamos agora fazer um pequeno passeio pela vila. Mais acima mostrou-se a Praça Velha, de belas cantarias, o visitante tem para desfrute “casas de brasileiro”, a igreja matriz erigida no século XVI e com as transformações do costume, daí poder-se dizer que nela coexistem elementos renascentistas e barrocos, é a Igreja de S. João Batista. O Paço da Junta de Freguesia remonta ao século XVII, pertenceu ao priorado do Crato, nesta casa nasceu em 1813 Eduardo Maria Leitão de Melo Queiroz, o último capitão das milícias locais, há capelas e junto à Praça Velha, restaurada temos a Capela da Misericórdia, obra do século XVII e século XVIII. O visitante mais afoito pode visitar o Cabril do Granada, a ponte filipina, a bela ponte da Levada do Cabril e percorrer o Moinho das Freiras, atravessando o seu túnel. Em próxima incursão, dou-vos imagem de um cenário para um dia muito feliz passado na região, aqui se come uma deliciosa sopa de peixe e os pratos regionais são o bucho e os maranhos.




(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16916: Os nossos seres, saberes e lazeres (193): Pedrógão Pequeno e o Cabril do Zêzere (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P16943: Recortes de imprensa (84): Na morte de Fidel Castro, o apoio de Cuba ao PAIGC é relembrado por Fernando Delfim Silva e Oscar Oramas ("Nô Pintcha", Bissau, 1 de dezembro de 2016) - Parte II




Jornal "Nô Pintcha" > Bissau > Sítio na Net > Folha de rosto, da edição de 1 dezembro de 2016




1.  Um dos nossos amigos da Guiné-Bissau chamou-nos a atenção para um artigo de homenagem à memória de Fidel Castro (1926-2016), por ocasião da sua morte, no passado 25 de novembro, publicado no jornal "Nô Pintcha", e que seria da autoria de Fernando Delfim Silva, conhecido ex-governante, professor universitário e influente analista político.

[Julgo que terá sido diretor do liceu de Bafatá, a seguir á independência, segundo informação do nosso amigo Cherno Baldé, na altura aluno do ensino secundário em Bafatá; licenciado em filosofia na antiga URSS, é autor de "Guiné-Bissau: páginas de história política, rumos da democracia, Bissau, 2003 vd. aqui "nota de leitura" do Mário Beja Santos, capa do livro à esquerda].

Recorde-se que esta publicação, "Nô Pintcha"  (, primeiro sob a forma de semanário e agora bissemanário) tem hoje mais de 40 anos, tendo sido criado em 1975. Tem um sítio na Net desde 2010. É considerado um jornal oficial ou oficioso (, não percebo muito bem qual é o seu estatuto editorial atual...). A leitura das suas páginas é,todavia,  imprescindível para se conhecer a moderna história da Guiné-Bissau.


 O nosso interesse focou-se na "ajuda internacionalista" cubana ao PAIGC, sobre a qual temos publicado aqui vários postes nos últimos tempos, e nomeadamente os da autoria do Jorge Araújo.. É um  "tema mal amado" e sobretudo  ainda muito pouco conhecido dos antigos combatentes portugueses que estiveram no TO da Guiné. Alguns de nós estivemos em situações  de combate com os cubanos (médicos, artilheiros, instrutores, etc.), que passaram pelo TO da Guiné (um total que não deve ter ultrapassado a centena.)

A principal fonte citada ainda é a cubana, neste caso o livro do antigo embaixador de Cuba na Guiné-Conacri, Oscar Oramas (e que é mais uma hagiografia do que uma biografia de Amílcar Cabral, não sendo o autor propriamente um historiador e um académico).

Pode ser que, entretanto, surjam outras fontes independentes. O que é difícil... Tanto em Cuba como na Guiné-Bissau só agora, muito lenta e tardiamente, e nalguns casos tarde de mais, é que se começa a recolher, tratar e divulgar informação até há pouco classificada sobre a "luta de libertação".

Acrescente-se, em todo o caso, que a .lista (referida pelo "Nô PIntcha")  dos  mortos cubanos (em combate, por acidente ou por doença) está incompleta: por esemplo, em 6 de janeiro de 1969. não morreu apenas um cubano, mas sim três (conforme quadto abaixo, que de resto precisa de ser revisto e completado, adicionando-se as baixas naté 1974)),

Os subtítulos e os negritos são da responsabilidade do autor [, Fernando Delfim Silva], bem, como os parênteses curvos. Os parênteses retos da nossa responsabilidade (LG).



Quadro elaborado pelo Jorge Araújo  (2016)


2. Recortes de imprensa > O apoio de Cuba à luta de guerrilha do PAIGC > Parte II
Excertos de: "Nô Pintcha", Bissau, de 1 de dezembro de 2016 > "Morrel El Comandante". [com a devida vénia...]




Guiné- Conacry > Conacri > PAIGC > Fevereiro de 1967 > O comandante 'Moya' ou 'Moja' (para os guineenses)  (Victor Dreke, n. 1937) assume o comando da missão militar cubana. Ei-lo aqui com Amílcar Canarl.. Foto do "Nô Pintcha" (edição em papel) (com a devids vénia).


Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral >
Pasta: 07057.012.006 | Título: Relatórios da missão dos internacionalistas cubanos na Guiné-Bissau | Assunto: Relatórios da missão dos internacionalistas cubanos na Guiné-Bissau, assinados pelo Comandante R. Moya [Victor Dreke]. Relação dos militares preparados pelos técnicos cubanos na frente do Boé (até 30 de Abril de 1967), relação do pessoal cubano distribuído pelas diversas frentes e hospitais do PAIGC. Apontamentos manuscritos de Amílcar Cabral. | Data: Domingo, 30 de Abril de 1967 - Quarta, 6 de Dezembro de 1967 |  Fundo: DAC - Documentos Amílcar.
[Reproduzida a 1ª págima, com a devida vénia]
Citação:(1967-1967), "Relatórios da missão dos internacionalistas cubanos na Guiné-Bissau", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40209 (2017-1-10)


[...] Um esforço de guerra notável, sem falhas, histórico.


1964

O PAIGC solicita ajuda ao Encarregado de Negócios de Cuba, em Conacri, para que cinco dos seus membros recebam treinamento militar em Cuba.

1965


Maio – Chega o barco “Uvero” à Guiné-Conacri com ajuda cubana para o PAIGC, com alimentos, armas e medicamentos.

1966

Abril – Chega a Conacri o grupo avançado de três artilheiros e dois médicos, comandado pelo Tenente António Lahera Fonseca;

Junho (1966) – Chega por via marítima, ao Porto de Conacri, o grupo de 25 combatentes cubanos chefiado pelo Tenente Aurélio Riscard Hernandez

1967

Fevereiro – O comandante “Moja” (Victor Dreke) assume o comando da missão militar cubana;

Abril – Chega a Conacri o barco “Andrés Gonzalez Lines”, levando pessoal militar e meios materiais;

24 bolseiros do PAIGC chegam a Cuba para realizar estudos superiores, devendo 4 deles fazer treinamento militar.

Dezembro – Chega a Conacri o barco cubano “Pinar del Rio” com pessoal militar e meios materiais;


Abrem-se, na Guiné-Bissau, três escolas para superação militar dos combatentes sob a direção de instrutorescubanos.

Em Boké, território da Guiné Conacri, cria-se a escola de enfermagem.

1968

Agosto – Abre-se na Guiné-Bissau, a primeira escola para o fabrico de explosivos, sob a direção de instrutores cubanos.

1969

Chegada a Conacri da motonave cubana “Matanzas” com pessoal e meios materiais;

1970


Novembro, chega a Conacri o barco “Conrado Benítez” com meios materiais e pessoal militar.

1972


Maio (3-8 de maio) – Realiza-se a primeira visita do Comandante em Chefe Fidel Castro à Republica da Guiné. Fidel tem uma importante entrevista com Amílcar Cabral em que tratam temas relacionados com a ajuda cubana.

Junho – Uma delegação militar chefiada pelo Comandante Raúl Diaz Arguelles visita os territórios libertados da Guiné-Bissau.

Chega a Conacri o barco cubano “Las Villas” com pessoal militar cubano e ajuda material ao PAIGC;

Uma delegação militar conduzida pelo Comandante Raul Diaz Arguelles, chega a Conacri para planificar e executar uma operação contra o quartel de Guiledje. Chegada de um grupo de oficiais cubanos para participar na planificação da operação contra Guiledje.


Sangue cubano derramado pela independência da Guiné-Bissau

Assinalo aqui não o conjunto das (dezenas de) operações militares em que participaram combatentes cubanos, mas apenas aquelas em que se registaram perdas humanas do lado cubano ou algum revés que tivesse ocorrido nesse âmbito.

1967


Julho – Realiza-se um ataque de artilharia e infantaria ao quartel de Binar, na Frente Norte e outro ao quartel de Mejo, na Frente Sul. No último ataque morre o combatente cubano Feliz Barrientos Laporté [, em 3 de julho]

Julho – [A 19] morre o soldado cubano Radamés Sanchez Bejarano no ataque de artilharia à Bedanda.

Agosto – [ A 8] morre o soldado cubano Eduardo Solís Renté no ataque de artilharia ao quartel de Binta.

1968

Novembro – [A 14]: A Morre o combatente cubano Radamés Despaigne Lubert no ataque ao quartel de Gadamael


1969


Janeiro – Ataque de artilharia ao quartel de Ganturé. Durante as ações morre o combatente internacionalista 1° Tenente Pedro Casimiro Llopins durante o bombardeamento da aviação portuguesa.

Novembro (dia 16) – É capturado o Capitão Pedro Rodriguez Peralta numa emboscada das tropas portuguesas.

1970

Novembro – Chega a Conacri o barco “Conrado Benítez” com meios materiais e pessoal de relevo militar. O barco é atacado por um avião não identificado (…) e um médico e um marinheiro são feridos.


Em jeito de conclusão


[...] O objetivo deste texto foi apenas o de render uma homenagem à memória do Comandante Fidel Castro, grande amigo do povo guineense.

Como já o disse, este texto vai dedicado à juventude guineense que precisa de conhecer os momentos mais altos da nossa luta de libertação nacional, da nossa história, os seus protagonistas – e talvez o mais admirável – , saber que houve gente que veio de longe, correndo todos riscos, bater-se por nós, pela nossa dignidade nacional.

Quanto a mim, decidir publicar estas linhas, foi um dever indeclinável de reconhecimento, de gratidão, de memória. Na verdade não há palavras que cheguem para expressar toda a nossa gratidão ao povo cubano. Obrigado El Comandante. Hasta siempre…[...]


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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 10 de janeiro de 2017 > Guiné 63/74 - P16940: Recortes de imprensa (83): Na morte de Fidel Castro, o apoio de Cuba ao PAIGC é relembrado pro Fernando Delfim Silva e oscar Oramas ("Nô Pin«tcha", Bissau, 1 de dezembro de 2016) - Parte I

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16942: Inquérito 'on line' (98): total de respostas: 112. Resultados: mais de metade (53,6%) não vê impossibilidade de o inimigo de ontem ser amigo hoje... Menos de um terço (30,4%) é mais cauteloso, responde "talvez, depende das circunstâncias"



Foto nº 1

Foto nº 1 A
Guiné > Região de Quínara > Fulacunca > 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Julho de 1974 > Vinda de um bigrupo (c. 50 elementos) do PAIGC, por sua iniciativa. Aqui, um grupo mais restrito (15 elementos,. "armados até aos dentes"mas já pouco disciplinados a avaliar pela falta de aprumo ,...)  com o alf mil Jorge Pinto, nosso grá-tabanqueiro. em visita, a seu pedido expresso,  ao porto fluvial de Fulacunda, por onde era feito o   reabastecimento das NT  [ vd. porto fluvial, no rio Fulacunda, poste P12368];
Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Percebe-se,  pelas fotos nº 1 e 1A, que   a "confiança", por parte dos militares do PAIGC, ainda era incipiente... Estávamos em julho de 1974... Vinham bem armados...

Em tempo oportuno agradeci ao Jorge Pinto a sua genersoidade  e a sua franqueza ao enviar-nos estas e outras fotos de encontros "amigáveis" com o PAIGC no pós 25 de Abril. Há camaradas deste tempo que ainda têm relutância em partilhá-las, no nosso blogue. Podia comprender-se tal atitude até há uns atrás, dado o "receio de crítica" por parte dos pares, sobretudo pelos "velhinhos" que apanharam os duros anos do iníco da guerra ou que combateram o PAIGC no tempo de Spínola.

Sabemos que expor estas fotos, é também expor-nos... Mas, como temos dito, seria uma pena não as publicar e, mais tarde, vê-las no contentor do lixo ou na feira da Ladra, vendidas pelos herdeiros ao desbarato...

Não é desonra nenhuma "posar" para a fotografia com o "inimigo de ontem"... Acontece, aconteceu em (quase) todas as guerras que, como tudo na vida humana, chegam a um fim... (Se calhar,  mais difícil do que   continuar a guerra, é saber fazer e manter a paz.).

Ao mesmo tempo também há, de parte a parte, a humana curiosidade em "conhecer o outro" que nos combatia, que se calhar nos teve, no mato, debaixo da mira da Simonov, ou da Kalash ou do RPG... ou que despejou carregadores de G3 contra o "filho da p... do turra" emboscado por detrás daquele bagabaga, junto à aquele bissilão na orla da mata, na picada que ia ter à bolanha e ao rio, naquele dia e naquela hora... Lembras-te, camarada ?

O Jorge Pinto [, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74] é  natural de Turquel, Alcobaça; foi  professor do ensino secundário, ensinou história, e está reformado.

Sublinhe-se a grande lição que ele nos dá,  a coragem,  a naturalidade, o fair-play e  a dignidade com que o Jorge Pinto aparece nas fotos. A propósito comentou ele na devida altura:

 "A 'exigência' da ida ao porto de Fulacunda, no mesmo dia da visita, considerei-a inútil, pois não fomos fazer nem ver nada de novo. Nesta viagem de 4/5 km iam cerca de 15 (guerrilheiros), bem armados, conforme fotos demonstram. Da parte das NT ia eu, um furriel e o cabo condutor, totalmente desarmados. Nenhum elemento da população nos acompanhou. Esta ficou dentro do recinto que era cercado por arame farpado conversando com os restantes elementos do PAIGC"...

II. INQUÉRITO DE OPINIÃO:

"O MEU INIMIGO DE ONTEM 

NUNCA PODERÁ VIR A SER MEU AMIGO" (*)


1. Não, nunca poderá vir a ser meu amigo > 13 (11,6%)

2. Sim, poderá vir a ser meu amigo > 60 (53,6%)

3. Talvez, depende das circunstâncias > 34 (30,4%)

4. Não sei responder > 5 (4,4%)

Total > 112 (100,0%)



Total de votos apurados: 112  | Inquérito encerrado em 9/1/2017, àS 18h36.


III. Comentários:
(i) Luís Graça (*)

Como em todas as guerras, os "dois" lados nunca estão preparados para fazer a paz... Na Guiné, se a guerra tivesse acabado, mais cedo, em 1969/71, quando eu lá estive, confesso que também não saberia como agir... Nem eu nem os restantes graduados da minha CCAÇ 12... Isso era tanto verdade para nós como para o PAIGC... Fomos preeparados (mal) para fazer a guerra, não estávamos "programados" para fazer a paz...

O António J. Pereira da Costa que era oficial do quadro nunca deve ter tido "aulas" sobre como proceder em caso de cessar fogo e conversações de paz... Nenhum dos lados previa, em teoria, essa hipótese. A guerra acaba com a vitória sobre o inimigo...

No fundo, o nosso "nacional-porreirismo!" mais não foi do que uma manifestação do nosso proverbial sentido de desenrascanço e vontade para pôr um ponto final num conflito que já lavrava há 13 anos, sem um fim (razoável) à vista...

A paz está no ADN dos seres humanos, faz parte do património genético dos portugueses... E na realidade é bem maia difícil fazer a paz do que a guerra... Exige muito mais sabedoria, inteligência emocional, capacidade de negociação, empatia, comunicação, "pôr-se na pele do outro", saber ouvir, etc.

Admiro os nossos camaradas que estavam na Guiné no 25 de Abril e que apanharam com a "batata quente" nas mãos... O PAIGC estva com pressa de chegar a Bissau e ocupar o palácio do governador... os nossos camaradas estavam com pressa de chegar a casa, e na metrópole jovens maoístas e tostkistas tentavam impedir a partida de barcos com "carne para camhão", gritava no cais da Rocha de Conde de Óbidos, "nem mais um soldado para as colónias", Em 4 de maio de 1974, militantes do MRPP impedem, pela primeira vez, um embarque de tropas para as colónias...


(ii) Carlos Vinhal (**)

Acho que estamos a balancear entre extremos o que acaba por confundir um pouco. O título do P16905 diz: Inimigos de ontem, amigos de hoje - uma frase afirmativa. Eu no meu poste escrevi: Inimigos de ontem, amigos de hoje? - uma frase interrogativa
O título da sondagem é: O meu inimigo de ontem nunca poderá ser meu amigo - outra frase afirmativa, mas de sentido contrário da primeira.

Houve apenas uma pequena minoria (o reforço é propositado) que teve oportunidade de contactar e abraçar o inimigo depois de terminada a guerra. O que cada um fez, se abraçou, ignorou ou evitou o ex-IN é com cada qual. Nós, os mais velhos, que entramos e saímos em estado de guerra, só podemos falar de nós próprios e da nossa eventual reacção.
Como refere o Torcato Mendonça noutro local, provavelmente eu cumprimentava cordialmente o meu antagonista, se possível, ambos desarmados, e até com continência se essa pessoa tivesse no seu exército um posto superior ao meu. A isto chama-se respeito e não amizade.  Abraçar o ex-IN, acho que: "nunca, jamais, em tempo algum".

Já agora uma pequena achega ao comentador acima. O meu camarada Alferes Couto ficou em bocadinhos O meu camarada Soldado Vieira ficou esventrado por um rocket O meu camarada Barbosa ficou todo "furado" com estilhaços

Não participei em nenhum jogo electrónico de guerra, era mesmo guerra com tiros, armas pesadas e minas, tudo a sério. E muito importante, cada um de nós só tinha uma vida, não havia segunda hipótese.


(iii) Cândido Cunha (**)

Carlos Vinhal,tal como tu afirmas,também "Não participei em nenhum jogo electrónico de guerra, era mesmo guerra com tiros, armas pesadas e minas, tudo a sério. E muito importante, cada um de nós só tinha uma vida, não havia segunda hipótese." E,usámos as mesmas maquinetas de guerra que tu. Formámos a CART 11, depois CCaç 11 que ficou sediada até 74 em Paúnca. Pois, Vinhal, eu também não esqueço as minas entre Piche e Canquelifá em julho ou aggosto de 69 ,(seis mortos),um dos quais um cabo enfermeiro todo negro da explosão,que um srg como louco, tentava acordar .Tivemos sorte, sim, senhor, foi termos saído de lá em 70.Como não esqueço aquela noite e madrugada já perto de me vir embora,em que estive a contar histórias ao Aladje Silá que ficou a esvair-se em sangue à espera do Allouette que pousou cerca das 7:30. Ele morreu quinze minutos antes. Como sabes,  o Salazar ,não nos tinha fornecido meios capazes de nos evacuar de noite. Lembro-me do 1º,durante umas fogachadas em Nova Lamego, quando eles andavam a preparar os Katiuschas que passavam e rebentavam a quilómetros, ironizando comigo e a dizer-me que os meus "amigos" nos queriam matar. Portanto, nós hoje, e também graças ao 25 de Abril, escolhemos os amigos que quisermos. Nem hoje  nem nesse tempo os culpei pela Guerra .Já agora prefiro a amizade do que o "respeitinho" militar e a continência !


(iv) José Diniz Carneiro de Sousa e Faro (**)

Não poderá ser meu amigo, acho que será trair os meus camaradas que morreram. Os abraços que vi via TV em 74, entre inimigos de ontem e amigos de hoje, eram de alívio por parte dos meus camaradas (era um chegar ao fim de uma guerra), mais do que de amizade. Os altos Comandos Militares, não tiveram Dignidade na Rendição e da parte do inimigo muito menos,  foi um "Adeus, oh vai-te embora".  Os nossos mortos não mereciam nem tão pouco o Povo da Guiné que ficou entregue a uma mão cheia de recalcados. Passados este anos todos ficaram muito pior. Portanto o "Tal abraço" não passou disso mesmo. Abraços.


(v) António J. Pereira da Costa (*)

Há quem diga que a guerra é o bastão da cólera de Deus. Por isso a guerra cairia em cima dos povos que se "portaram" mal. Era uma teoria. Creio que já está em desuso.

As FA [Forças Armadas] são, portanto, uma espécie de pau que bate no cão e, muitas vezes, a guerra torna-se tão impopular que as FA - de ambos os beligerantes - ficam responsáveis pela guerra, perante o povo a que pertencem. É uma leitura deficiente por partir da ideia de que há guerra porque há FA e não o contrário. É como se dissesses que as pessoas são mortas porque há navalhas e facas... Ou seja o cão tem tendência a morder no pau em vez de se atirar ao homem que lhe bate. É assim com quase todos os povos e exemplos não faltam...

Do mesmo modo que a guerra é determinada por quem manda ou a quem os povos concedem autoridade para os conduzir, a paz é feita pelos mesmos que a determinaram. Não há muitos exemplos de pazes feitas, no terreno, entre forças combatentes, nem sequer tréguas. Por isso é natural que os combatentes não estejam preparados para fazer a paz. De outro modo poderiam fazê-la sem ordens e era uma "desgraça". Além disso, a guerra é feita para impor a nossa vontade ou objectivos ao inimigo e, por isso,  quem faz a guerra aprendeu (normalmente) a fazê-la e mais nada. Por consequência não está preparado para fazer a paz. 

O afastamento do ex-inimigo é o último assomo de valentia que resta ao derrotado. Como, neste caso, foi o PAIGC que atingiu os objectivos e a guerra é um fenómeno total que colide com todas as áreas de actividade de um país, é por isso que eu digo que o PAIGC venceu a guerra.

Claro que a sobranceria do vencedor é um factor a ter em conta e em África, naquele tempo (e talvez hoje ainda) muito mais.  Não sei, mas já tenho admitido que, na sua maioria, os guerrilheiros, em pouco dias, descobriram a pobreza que se adivinhava e reconheceram que o partido não iria conseguir dominar correctamente a situação, por nada ter para dar.

Em resumo, vivia-se melhor junto das NT do que junto da guerrilha e, a partir daí era sempre em perda. Mas, no fundo, eles também queriam deixar de sofrer e de morrer.
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Guiné 61/74 - P16941: Convívios (776): XXIX Encontro do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, dia 19 de Janeiro de 2017, em Cascais (Manuel Resende / Jorge Rosales)



1. Mensagem do nosso camarada Manuel Resende (ex-Alf Mil Art da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71) com data de 8 de Janeiro de 2017:


MAGNÍFICA TABANCA DA LINHA 

29.º CONVÍVIO

19 DE JANEIRO DE 2017

Amigos, vai-se realizar no próximo dia 19 de Janeiro de 2017, o 29.º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, no Restaurante "O NOSSO CANTINHO", já conhecido do Convívio anterior, e cuja morada aparecerá no fim da mensagem.

Como de costume, as inscrições são feitas da mesma forma, ou seja: 
- No Facebook, neste grupo, clicando em "VOU" (não esquecer de indicar o número de pessoas, se se justificar). 
- Por e-mail ou telefone, para: Jorge Rosales - jorge.v.rosales@gmail.com - 914 421 882 
- Manuel Resende - manuel.resende8@gmail.com - 919 458 210 

INSCRIÇÕES ATÉ 16-01-2017

E M E N T A:
- Pão, Azeitonas, Paio, Queijo fresco, Salgados... 
- Sopa: de legumes 
- Prato: Polvo à lagareiro 
- Sobremesas: Frutas e doces à escolha 
- Cafés 
- Bebidas: Vinho branco e tinto do Douro, cerveja, sumos, águas 

Nota: Quem não quiser este prato pode pedir outro em alternativa, dos que houver disponíveis. Deverá fazer o pedido à chegada, para que tudo saia ao mesmo tempo. 

Preço: 20 € 

Como chegar até lá: 
Este restaurante fica situado em Alvide - Cascais, junto à Auto-estrada A5, saída Alvide, onde existiam as instalações da Mercedes. 
Rua ou Estrada das Tojas, n.º 192A. 
GPS: 38, 43, 30.87; - 9, 25, 25.46 

Apareçam. 

Um abraço a todos 
Manuel Resende 
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16778: Convívios (775): Almoço anual dos veteraníssimos ex-combatentes da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), em Ponte de Sôr, no passado dia 5...Este ano fomos só vinte, mas o nosso poeta Francisco Santos continua vivo e inspirado (José Colaço)

Guiné 61/74 - P16940: Recortes de imprensa (83): Na morte de Fidel Castro, o apoio de Cuba ao PAIGC é relembrado pro Fernando Delfim Silva e Oscar Oramas ("Nô Pin«tcha", Bissau, 1 de dezembro de 2016) - Parte I




1. Um dos nossos amigos da Guiné-Bissau chamou-nos a atenção para um artigo de homenagem à memória de Fidel Castro (1926-2016), por ocasião da sua morte, no passado 25 de novembro, publicado no jornal "Nô Pintcha", e que seria da autoria de Fernando Delfim Silva, conhecido ex-governante, professor universitário e analista político. Recorde-se que esta publicação (, primeiro semanário e agora bissemanário)  tem hoje mais de 40 anos, tendo sido criado em 1975. Tem um sítio na Net desde 2010. É considerado um jornal oficial ou oficioso [, não percebo muito bem qual é o seu estatuto editorial atual...].

Foi-nos inclusive remetido um recorte (parcial) desse artigo, digitalizado, mas com fraca resolução. O artigo foi reproduzido no portal do jornal "Nô Pintcha", de 1 de dezembro de 2016, mas sem indicação de autor. Pode ser lido aqui na íntegra: título: "Morrel El Comandante".

Com a devidas vénia, e para conhecimento de uma comunidade de leitores lusófonos mais vasta do que a dos leitores habituais do "Nô Pintcha", vamos reproduzir aqui, em duas partes, alguns excertos desse extenso artigo...

O nosso destaque vai em particular para a "ajuda internaciionalista" cubana ao PAIGC, sobre a qual temos publicado aqui vários postes nos últimos tempos.  É um tema ainda muito pouco conhecido dos antigos combatentes portugueses que estiveram no TO da Guiné. A principal fonte citada ainda é a cubana, neste caso o livro do antigo embaixador de Cuba na Guiné-Conacri,  Oscar Oramas. Pode ser que, entretanto, surjam outras fontes. De r4esto, tanto em Cuba como na Guiné-Bissau é que, só muito lenta e tardiamente, e nalguns casos muita tardiamente de mais, é que se começa a recolher, tratar e divulgar informação até há pouco classificada...

Os subtítulos e os negritos são da responsabilidade do autor [, Fernando Delfim Silva],  bem, como os parênteses curvos. Os parênteses retos da nossa responsabilidade (LG).


2. Recortes de imprensa > O apoio de Cuba à luta de guerrilha do PAIGC > Parte I


Excertos de: "Nô Pintcha", Bissau, de 1 de dezembro de 2016 >  "Morrel El Comandante". [com a devida vénia...]


[...] Fidel, Amílcar e nós

[...] Fidel “descobriu” Cabral através do Comandante Che, que em 1965 andou pela África “espalhando” generosamente a solidariedade do povo cubano para com os povos africanos, incluindo nessa onda solidária, os combatentes guineenses e cabo-verdianos unidos no PAIGC. Che encontrou-se com Cabral, e, claro, contou a Fidel. Só no ano seguinte (1966), Fidel e Cabral se vão encontrar, em Havana, na Conferência internacional -chamada “Tricontinental – de solidariedade com os povos em luta, da África, Ásia e América Latina.Da empatia, nasceu a amizade, a admiração, o respeito entre os dois homens, dois líderes.

O Comandante Che Guevara primeiro; o Comandante Fidel a seguir, ambos cristalizama mesma imagem valorativa: Amílcar Cabral era, já em 1966, o mais impressionante dos líderes africanos; alguém que transmitia confiança, um homem em quem se podia confiar: sério, inteligente, responsável, competente nas coisas que fazia, carismático. [...]

[...] Cabral e a revolução cubana

Cabral, por sua vez, não só admirava Fidel: a revolução cubana foi para ele uma das suas fontes de inspiração; ficaria definitivamente impressionado com a ética dos seus dirigentes, a começar pela do seu líder, Fidel. Na sua muito discutida tese de “suicídio da pequena burguesia”, o pano de fundo que está lá é o peso, digamos assim, do fator subjetivo, a importância da qualidade politica e moral dos dirigentes e quadros, o papel primordial do líder. Alias, Cabral, disse-o, explicitamente: tomem o exemplo de Cuba, o compromisso ético, a atitude moral da liderança cubana. O exemplo pessoal que os dirigentes devem transmitir à sociedade – de abnegação, do espirito de sacrifício, de entrega total ao bem comum -, sob pena de trair a confiança do povo, trair os objetivos progressistas da revolução, romper o contrato social [...]

Cuba > Havana > Janeiro de 1966 > Amílcar Cabral com Fidel Castro, em Cuba por ocasião da Conferência Tricontinental.

Fonte: Fundação Mário Soares > Portal Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral. (Com a devida vénia...)

Citação: (1966), "Amílcar Cabral com Fidel Castro", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43973 (2016-10-11)



[...] O fator cubano

Agora passo a palavra a Óscar Oramas, discípulo de Fidel, companheiro de Cabral, logo, um amigo do povo guineense. Faço-o à intenção da juventude guineense, que precisa de conhecer o que se fez no passado, de um passado de orgulho nacional, de um passado de dignidade que outrora se construiu com a solidariedade dos cubanos, com sangue cubano, com a valentia dos soldados de Fidel.

As palavras, como já o disse, são de Óscar Oramas; a sua seleção e arrumação bem como os subtítulos – dos excertosdo seu livro Amílcar Cabral, Para além do seu tempo– já são da minha responsabilidade.[...]


[,,,] Che e Amílcar


[,,,] Entre os compromissos estabelecidos por Che em África figura o apoio material e politico ao PAIGC. Como consequência disso, no mês de abril de 1965 parte do porto de Matanzas o barco cubano “Uvero” com um considerável carregamento de alimentos, medicamentos e utensílios médicos, uniformes, alfaias agrícolas e armas com destino a esta organização, assim como a outros movimentos revolucionários africanos. (...)


O Comandante Jorge Serguera, então Embaixador de Cuba em Argélia, cumprindo as orientações de Che, a quem havia acompanhado no périplo africano, espera o cargueiro em Conakri (aonde que chega a 11 de maio), e faz a entrega da primeira ajuda solidária cubana ao PAIGC.


Paralelamente, intensifica-se a preparação de militares cubanos (…) que, voluntariamente se oferecem para apoiar os movimentos de libertação africanos (...)


(...) Em dezembro desse mesmo ano, viaja para Havana uma delegação do PAIGC, conduzida por Amílcar Cabral e integrada (…) por Domingos Ramos, Pedro Pires, Joaquim Pedro Silva (Baró) e Vasco Cabral, para participar na I Conferência de Solidariedade com os Povos da África, Ásia e América Latina (Conferência Tricontinental) que se celebra de 3 a 9 de janeiro de 1966.


Convidado por Fidel, Amílcar Cabral percorre com elea Sierra del Escambray, situada a sul do centro da Ilha, onde conhece “in situ” passagens importantes da guerra revolucionária cubana (…) Óscar Oramas que acompanha Fidel no percurso com Amílcar, é designado Embaixador de Cuba na República da Guiné, com o objetivo central de manter relações bilaterais com o PAIGC.


Amílcar explica a Fidel das necessidades materiais que o PAIGC enfrenta para desenvolver a gesta libertadora e o Chefe da revolução cubana promete-lhe ajuda em assessoria e equipamento militar, assim como pessoal de saúde.,


.Março de 1966 – O Comandante em Chefe informa o Presidente Sékou Touré, por intermédio do Embaixador Oramas, da decisão cubana de ajudar o PAIGC e solicita autorização para encaminhar essa ajuda através do território guineense. O Presidente aceita o pedido de Fidel Castro.


Umas semanas depois de concluída a Conferência Tricontinental, parte para Conacri uma pequena delegação militar encarregada de conhecer no terreno a situação da luta armada, para determinar o apoio militar que Cuba poderá dispensar, contribuindo para o desenvolvimento da luta.


Maio de 1996 – partem para a República da Guiné os primeiros grupos de assessores militares e médicos cubanos que colaborarão como PAIGC. Um grupo de sete companheiros fá-lo por via aérea, e outro de duas dezenas, fá-lo no navio Lídia Doce, levando, ainda, uma nova remessa de material para apoiar a guerra de libertação. (…)


Os primeiros cubanos que haviam chegado, anteriormente, para explorar as condições existentes na guerra pela independência nacional guineense e que haviam sido enviados para a região de Boé, na Guiné-Bissau, são chamados no mês de junho à República da Guiné para uma reunião com Amílcar Cabral, na Escola do PAIGC na zona de Ratoma, onde são apresentados aos dirigentes da organização que ali se encontram. O ambiente é de alegria e com o decorrer do tempo estabelece-se uma grande confiança entre uns e outros, baseado no respeito mútuo.Durante a estada dos primeiros instrutores cubanos na zona de operações de guerrilha de Boé, observam-se algumas deficiências no “modus operandii” da guerrilha (…)


Uma vez distribuídos os assessores cubanos pelas diferentes frentes de guerrilha com base nas decisões de Amílcar a vida diária vai demonstrando a impossibilidade de assessorar e corrigir a tática da luta sem a participação direta nas ações.A primeira operação de envergadura que se realiza com a participação dos assessores cubanos é a efetuada contra o quartel português de Madina de Boé, em 10 de novembro de 1966 [em que morre Domingos Ramos, LG]

[...] O Comandante Victor Dreke (, Moja, o “Moia”, para os guineenses, ) assume o comando da missão militar cubana (Fevereiro de 1967)


Amílcar Cabral decide então que um grupo de assessores militares cubanos, que se encontra no Sul, seja transferido para Frente Norte, juntamente com alguns médicos. (…) Com o objetivo de as Frentes Norte, Leste e Sul ficarem, assim, cobertas com a assessoria militar e médicos cubanos.

A experiência no Sul havia sido muito satisfatória tanto com o Chefe da Frente João Bernardo Vieira (Nino), como com Úmaro Djaló, Arafan Mané e outros chefes e combatentes. Na verdade, no Norte havia algum receio e inclusive alguns chefes militares manifestaram o seu desacordo com a presença cubana nessa região. A atitude do segundo Comandante da frente Norte, Chico Mendes, difere por completo da dos outros chefes, como Inocêncio Kani (…)

A presença miliar cubana é acompanhada de uma importante ajuda em armamentos que a União Soviética fornece ao PAIGC. Em muitos casos os soviéticos forneciam novos armamentos, que nem sequer eram do conhecimento dos assessores cubanos, e que são testados nos campos de combate na Guiné-Bissau. Assim, o PAIGC recebe lança-roquetes GRAD [, e não GRAP, também conhecidos como o "jato do povo", LG], canhões sem recuo de 82 mm, e roquetes portáteis Strela 2 que só tinham sido usados pelos soviéticos em manobras internas, mas cuja eficácia real em combate ainda não conheciam. Os soviéticos solicitam aos assessores cubanos informações sobre a eficiência de tais armamentos em combate real.

Não se pode negar a importante contribuição que significou a ajuda soviética, mas deve ficar claro que jamais um soviético passou para além de Boké, na República da Guiné, e que os únicos estrangeiros que participaram, diretamente, nas ações da luta de libertação, ombro a ombro com os guerrilheiros guineenses, foram os cubanos. [...]

(Continua)

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Nota do editor: