quarta-feira, 15 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17141: Os nossos seres, saberes e lazeres (203): Central London, em viagem low-cost (5) (Mário Beja Santos)

Cambridge


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 4 de Novembro de 2016:

Queridos amigos,
Bem gostaria de saber transmitir a emoção desta viagem a Lavenham e entrada em Cambridge, visitei salvo erro há nove anos atrás. A rivalidade entre Oxford e Cambridge vê-se nos filmes e na literatura: os de Oxford ufanam-se pela plêiade de políticos e intelectuais que saíram daqui às fornadas, os de Cambridge põem em cima da mesa os cientistas ao longo dos séculos e até agora, naquele preciso em que aqui cheguei anunciava-se o Prémio Nobel da Física para três cientistas de Cambridge. E à entrada do Christ College lá estava a imagem de Darwin. E no meio da discussão os de Cambridge jogam pleno quando falam na mais esplendorosa capela que existe no Reino Unido, a King's College Chapel, o suprassumo do gótico final.

Um abraço do
Mário


Central London, em viagem low-cost (5)

Beja Santos

O viandante trazia o firme propósito de conhecer uma aldeia medieval bem preservada, com todos os condicionamentos que a atração turística impõe. Lavenham, no Suffolk, ganhou a sua prosperidade graças à lã, viveu a Guerra das Rosas, e desde a era Tudor até à Restauração de Carlos II pôde manter os seus sinais de glória. Caiu depois na obscuridade, de que não mais se recompôs. Mas ficou-lhe a fama e o proveito do passado, percorre-se a povoação e sente-se que há gosto em preservar os fumos dessa glória. Um dia, caso possa, regresso aqui com a mesma satisfação com que aqui cheguei.



Chega-se a Cambridge por comboio ou autocarro. Lavenham perdeu comboio em 1965, o viandante não tinha alternativa, foi uma bela viagem de autocarro. Cambridge é a cidade universitária rival de Oxford. Esta fala grosso com os primeiros-ministros que deu ao Reino Unido. Cambridge arroga-se à ciência, à teologia, à arqueologia e tem de facto a mais capela de toda a ilha, King’s College Chapel, não há termo de comparação possível. Há colégios que vêm da Idade Média, dos inícios da era Tudor, outros são mais modernos, como este que aqui se mostra, maciço e com frontão a copiar a arte grega, chama-se Downing, é do século XIX. Valeu a pena começar por aqui.



Entardeceu, andou-se a referenciar o perímetro que amanhã será palmilhado. Reteve-se este céu com lembranças de um aguarelista que o viandante superlativa, Turner. E agora vai-se descansar para a grande aventura de andar a espreitar colégios.


A artéria principal começa por ter o nome de Regent Street, foi aqui que se deparou este monumento, tão belo e tão singelo. Não há localidade que não guarde memória dos seus mortos nas diferentes guerras do século XX. Fixe-se a imagem deste jovem que parece lançado pela esperança de ir trazer paz rapidamente para a sua pátria, e por ironia ele parece avançar para a cidade universitária, ele que traja como quem vai para as trincheiras da Flandres, parte incauto e confiante, não sabe o inferno que o espera.


É impossível ficar insensível a estes memoriais, nestas lápides estão afixados todos aqueles que frequentaram Pembroke College e que morreram nas guerras.


Chama-se pois Pembroke College, os alunos chegaram há uma semana, andam ufanos a exibir o seu traje académico (gown), obrigatório ao fim da tarde ou quando vão visitar o tutor ou participam em sessões solenes. Um colégio identifica-se na frontaria, onde há uma receção, abre para um primeiro jardim cercado de edifícios onde, separadamente, vivem professores e alunos. Tudo vai da riqueza e da extensão do colégio, se tem bibliotecas valiosas, piscinas e espaços lúdicos. As atividades desportivas decorrem à parte, desde a esgrima ao remo. O colégio é o colégio, à mesa senta-se o aluno de filologia clássica ao lado do futuro engenheiro informático, o que os irmana é puderem dizer para toda a vida: o meu colégio foi o Pembroke.


Os colégios também se distinguem pelas suas capelas e pelos seus refeitórios. A capela do Pembroke começou a ser construída no século XVI, é sóbria e elegante dentro das linhas do mais puro classicismo. À entrada, o viandante pode recolher uma pagela com oração, é muito antiga e o seu autor por aqui andou entre 1589 e 1605: “We commend unto thee, O Lord,/Our souls e our bodies,/Our minds and our thoughts,/Our prayers and our hopes,/Our health and our work,/Our life and our death,/Our brothers and sisters,/Benefactors and friends,/Household, neighbours,/ Country and all God’s folk,/This day and always. Amen”.


Esta é a fachada do mais importante museu de Cambridge, The Fitzwilliam, tem um património incalculável em arte antiga e arte oriental, armaria, o seu primeiro andar é esplendidamente ornamentado e decorado com salas e galerias onde tudo se pode encontrar desde arte flamenga e espanhola e italiana até à arte contemporânea. O viandante entrou de raspão, amanhã andará por aqui mais a preceito até porque está sedento de visitar uma exposição de iluminuras, promete ser um deslumbramento.


Esta é a fachada de Christ’s College, terá sido criado pela mãe de Henrique VII. Um colégio também é importante pelas personalidades que o frequentaram. O Christ mostra logo à entrada um nome transcendente: Darwin. E lá dentro fala-se num grande poeta inglês, Milton.


Este é o refeitório do Christ’s, é a imagem que vemos em muitos filmes: os professores do pódio, há por ali decantadores de vinho do Porto, os alunos aguardam um sinal para se atirar à comida, então os criados circulam, com pompa e circunstância. Este é o ritual do jantar, ao almoço haverá maior descontração, cada serve-se à hora que chega. Convém recordar que o ensino distingue-se bastante do nosso, há inúmeras palestras e uma regra implacável: chumbar numa disciplina é chumbar automaticamente o ano. Daí o papel do tutor, é o vigilante que acompanha regularmente a evolução dos conhecimentos.


Faz-se uma pausa à circulação pelo meio universitário, a cidade também deslumbra pelo caráter da sua arquitetura, aqui fica imagem comprovante. Foi um dia e peras. O viandante quer descansar os pés, amanhã há o Fitzwilliam, mais colégios e a King’s College Chapel. Bendita a hora em que me passou pela cabeça este itinerário entre Londres e Cambridge.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17118: Os nossos seres, saberes e lazeres (202): Central London, em viagem low-cost (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17140: Em busca de... (274): uma foto do tenente-coronel de cavalaria António Valadares Correia de Campos, comandante do COP 3 e um dos bravos de Guidaje... Precisa-se, com urgência, para documentário sobre o 25 de Abrilm, a realizar pelo cineasta António Pedro Vasconcelos

1. Mensagem da Teresa Sousa, "assistant executive producer" da Just Up:

Data: 14 de março de 2017 às 15:56

Assunto: Documentário sobre o 25 de Abril

Boa Tarde

A Just Up, produtora de audiovisuais, encontra-se na fase final de produção do documentário sobre o 25 de Abril, "A Vox e os Ouvidos do MFA". O documentário será exibido na RTP1 e é realizado por António Pedro Vasconcelos.

Retrata as duas noites anteriores ao 25 de Abril, quando um grupo de 20 soldados fizeram a instalação de um cabo telefónico desde Benfica até à Pontinha, que veio permitir ao Posto de Comando do MFA ter acesso às escutas dos telefones do governo.

Para além de entrevistas aos militares envolvidos nesta operação, necessitamos também de algumas
imagens de arquivo. Durante a pesquisa para o documentário, chegamos até ao vosso blogue sobre as campanhas na Guiné onde fazem referência ao tenente coronel Correia de Campos. Neste contexto venho saber se têm na vossa posse algumas fotos com  o sr. tenente coronel Correia de Campos que possamos usar no nosso documentário.

Desde já os meus agradecimentos.

Melhores Cumprimentos,
Teresa Sousa



2. Resposta do editor LG:

Olá, obrigado pelo contacto.. Temos poucas referências, uma meia dúzia, ao então tenente coronel António [Valadares]  Correia de Campos,  comandante do COP 3 e um do bravos de Guidaje.

Os oficiais superiores não se deixavam facilmente fotografar... pela "tropa macaca"... Talvez o nosso camarada José Manuel Pechorro a possa ajudar...Ele foi também um dos bravos de Guidaje e foi entrevistado pelo Joaquim Furtado para série "A Guerra"... Junto segue 9 contacto de email do Pechorro, membro da nossa Tabanca Grande. Outrso camaradas nossos também o conheceream e sercviram sob as suas ordens. Creio que era de Viseu e já faleceu.

Boa sorte,
Luís Graça


3. Resposta da Teresa Sousa:

Boa tarde

Muito obrigada pela sua resposta.

Tem sido uma aventura encontrar uma foto do tenente coronel Correia de Campos! Nem Centro de Documentação 25 de Abril nem Associação 25 de Abril... só uma,  do Arquivo do Exército,  mas péssima. Estou a tentar encontrar alguém que tenha convivido com o senhor e que talvez possa ter 1 foto da época.

Muito obrigada pelas informações
Se precisar de alguma coisa, disponha. (**)

Teresa Sousa
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de:


29 de novembro de  2006 > Guiné 63/74 - P1325: Memórias de Mansabá (7): O Comandante do COP 6, Correia de Campos, e as Minas na Bolanha de Manhau (Carlos Vinhal)

16 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5479: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - Agradecimento e algumas informações (José Manuel Pechorro)

2 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6090: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (6): Os dias da batalha de Guidaje, 20 e 21 de Maio de 1973


12 de agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8663: (Ex)citações (147): Guidaje – 1973. Esclarecimentos (José Manuel Pechorro)

(**) Último poste da série > 25 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16988: Em busca de.. (273): Armindo da Luz (ou Cruz?) Ferreira, ex-1.° cabo n.° 300, 1.° Batalhão Expedicionário do RI 11 (Cabo Verde, Ilha do Sal e Ilha de Santo Antão, junho de 1941 - dezembro de 1943), avô de Albertina Gomes (médica, Noruega)... Diligências do nosso blogue e colaboradores, Augusto Silva Santos e José Martins

terça-feira, 14 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17139: Agenda cultural (546): Apresentação do livro de fotografia, "Buruntuma", do nosso camarada Jorge Ferreira, em Oeiras, no passado sábado, dia 4 (Parte II) - Fotos de tocadores de korá e atuação do mestre Braima Galissá


Tocador de korá (pág. 89)


O "grande batuque" no dia da despedida da guarnição do destacemento de Buruntuma, depois de 11 meses de missão: tocadores de korá (pág. 45)


O "grande batuque" no dia da despedida da guarnição do destacemento de Buruntuma, depois de 11 meses de missão (pág. 45)


Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > 1962 > Tocadores de korá e dançarinos na festa de despedida da força militar que guarnecia o destacamemto, comandado pelo alf mil Jorge Ferreira... O Braima Galissá descobriu, emocionado, entre os tocadores de korá o seu avó e mais familiares.

Fotos do livro de Jorge Ferreira, "Buruntuma: alguum dia serás grande!... Guiné, Gabu, 1961-63 (Oeiras, edição de autor, 2016), pp. 45 e 89.




Vídeo (0'  39'') > You Tube > Luís Graça



Vídeo (0' 48'') > You Tube > Luís Graça


Oeiras >  Galeria livraria Verney >  4 de março de 2017 > Sessãode lançamento do livro de fotografia, "Burutunma", de Jorge Ferreira (edição de autor, 2016) > Excertos da atuação do mestre Braima Galissá, tocador de korá e "djidiu" (*)


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso editor Luís Graça, que fez a apresentação do livro de Jorge Ferreira, teve também a ocasião de dizer duas palavrinhas sobre o Braima Galissá e o seu mágico instrimento, o korá... 

Membro da nossa Taabanca Grande (nº 732), José Braima Galissá nasceu no Gabu (antiga Nova Lamego), em 1964, sendo filho, neto, bisneto, trisneto, tetraneto, e por aí fora, de músicos e cantores ("djidius"), mandingas.. A origem da família remonta há seis séculos, às origens do próprio império do Mail (séc. XIII-XVI) que se irá depois fragmentar, dando origem a  vários reinos, dos quais o do Gabu (1537.1867).

Começou a aprender  o korá. com o seu pai, por volta de 1970, com seis anos. Com a independência tornou-se compositor do Ballet Nacional da Guiné-Bissau e professor de korá na Escola Nacional de Música José Carlos Schwarz.  O golpe de Estado de 1998 apanhou-o em Lishoa, onde desde então passou a residir e a trabalhar. Em Portugal, além de atuar a solo ou com o seu grupo musical Bela Nafa, tem feito sobretudo um trabalho como pedagogo do korá e da música afromandinga.

Considera-se portiguês, "nascido sob a bandeira portuguesa", mas ainda não obteve até agora a tão desejada naturalização que lhe irá permitir circular, com toda a liberdade,  pelo espaço da União Europeia.

Quanto ao korá, é um instrumemto  cordofone, misto de harpa e de alaúde (árabe). Para os mandingas é um instrumemto sagrado, que se toca nos eventos mais importantes, È, digamos, um instrumento de música de câmara.

Braima Galissá  não é apenas um instrumentista, é também herdeiro da  tradição dos "djiudius" ("griots", erm francês), os  cantores ambulamtes ou trovadotres.

No final desta sessão, o Braima tocou e cantou o hino nacional... Todos nos levantámos e acompanhámo-lo. Foi um momento bonito, O Braima emocinou-se. E nós também.

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P17138: Boatos e mentiras que correm o risco de entrar para a história (1): De 1 a 10 - Parte I: 1. O território guineense do tamanho do Alentejo; 2. O Strela, a arma que revolucionou a guerra; 3. A FAP perdeu a supremacia aérea (António Matins de Matos, ten gen pilav ref)


Guiné > Mapa da província  1961 > Escala 1/ 500 mil >  A distância entre a BA 12 (Bissalanca) e a fronteira, em Buruntuma, no nordeste, podia ser medida pelos pilotos da FAP nestes termos: 90 minutos  para a avioneta DO-27; 25 minutos para o Fiat G-91...

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)

1. Mensagem do António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 3 do corrente

Assunto - Historiadores precisam-se|

Caros amigos:

Devagar, devagarinho, estamos a perder o fulgor de outros tempos.

Nada mais sobre a Guiné para relembrar ou discutir? Ficámos cansados? A partir de agora só almoçaradas e correlativos? Só conversas sobre Futebol? O Trump e o Brexit? O Marcelo, o Costa e o Centeno?

O Spínola, Nino, Amílcar, Bettencourt, Sekou Touré, Costa Gomes, tudo gente fina, já passaram à história?

E nós, os da ralé, do chão e do ar, que andámos a suar por aquelas terrinhas, já esgotámos o saco?

Acho que sim…

A verdade é que já falámos de tudo ou quase tudo, ainda que, por vezes, de coração na boca e palavreado arrebatado, o que deu um péssimo material para os vindouros, os que vão ter de acabar por escrever a “estória”.

Acho que precisamos de algo novo.

O Público começou a publicar às quartas-feiras,  e durante 14 semanas,  os 42 episódios da série do Joaquim Furtado, "A Guerra", cada DVD com 3 episódios, acompanhados de um texto do Aniceto Simões e Matos Gomes e prefaciados por diversos historiadores.

Pela minha parte os postes,  aqui no blogue,  de inquéritos, da 1.ª Guerra, comemorações de aniversários, efemérides e correlativos…, não me interessam.

Relembrando o que nos uniu, talvez pudéssemos passar a uma nova fase, organizar umas “mesas redondas”, “quadradas”, “tertúlias” ou algo parecido, com algum pessoal a participar, moderador, um secretário e um “historiador de serviço”, discussão construtiva sobre um determinado tema, com conclusões fundamentadas e aceites pela maioria. Depois era só enviar o papel a quem de direito.

Há um grande número de assuntos com interesse a que correspondem um número infindável de postes e que poderiam dar lugar a um texto devidamente “certificado”…

Que acham?

Entretanto e para (re)animar a malta juntei alguns assuntos que já foram discutidos e discutidos mas que nunca obtiveram um consenso alargado.

Deixo-vos com 10 temas, ideias que tenho defendido e que, se o entenderem, poderemos abordar durante o nosso almoço anual, talvez ao lanche [, dia 29 de abril de 2017, em Monte Real], entre um croquete e uma imperial.

Abraços
AMM

2. Comentário dos editores:

António:

Razão tinha/tem o "marafado" do António Aleixo:

P'ra a mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.


A tua reflexão merece um debate profundo... E estamos-te gratos por vires tentar agitar as águas paradas da lagoa da Tabanca Grande... Os "blogueiros" andam meio anestesiados, adormecidos, desmemoriados... Será a síndrome do Alzheimer coletivo ou geracional?... Outros há que são agora mais "facebook...eiros"... Se calhar, a culpa também é nossa, mas nestas coisas,,, "o povo é quem mais orden(h)a"!... Mas, temos de reconhecer, 13 anos a blogar é "manga de tempo", é o tempo que durou a guerra da Guiné, a contar de 1961 a 1974...

Mas, para já, vamos publicar o teu texto em dois ou três  postes, numa nova série que tu vais abrir, e que tem algo de provocatório, no sentido etimológico do termo (provocatório, provocante, de
provocar: do latim provoco, -are, chamar para fora, mandar sair, mandar vir, estimular, exortar, desafiar, apelar, incitar):

Eis o título da série, que tu vais inaugurar:

Boatos e mentiras que correm o risco de entrar para a história (1): De 1 a 10 - Parte I: 1. O território guineense do tamanho do Alentejo; 2.  O Strela, a arma que revolucionou a guerra: 3. A FAP perdeu a supremacia aérea (António Martins de Matos, ten gen pilav ref)

Cada poste pode ser precedido pela genial quadra do António Aleixo... Já aqui "desmontámos" alguns mitos: por exemplo, o local da proclamação da independência da Guiné-Bissau, que nunca foi em MADINA DO BOÉ, contrariamente à propaganda do PAIGC!... E corrigimos erros toponímicos da nossa historiografia militar (v.g., Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, que puseram o I congresso do PAIGC, em  Cassamá, em 1964, a realizar-se em plena ilha do Como e em plena Op Tridente!)...


por António Martins de Matos



Guiné 61/74 - P17137: Convívios (783): XXXIV Encontro Nacional dos ex-Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447, Caldas da Rainha, 6 de Maio de 2017 (Lima Ferreira)



XXXIV ENCONTRO NACIONAL DOS EX-OFICIAIS, SARGENTOS E PRAÇAS DO BENG 447 - GUINÉ

CALDAS DA RAINHA, DIA 6 DE MAIO DE 2017 

O almoço vai ser no Restaurante "O Cortiço"

Programa:
Saída do Porto às 08h30
Saída de Lisboa às 11h00

12h30 - Concentração no Restaurante "O Cortiço", na Tornada, seguida de Almoço de Confraternização

EMENTA:
Entradas - Diversas, servidas em pé
Sopa - De legumes ou de peixe
Peixe - Bacalhau à Cortiço / Polvo à Lagareiro
Carne - Churrasco à Javali / Cabrito assado no forno
Bebidas - Vinho Verde, Vinho Maduro Branco e Tinto da Região, Águas, Cerveja e Refrigerantes
Sobremesa - Semifrio, Salada de fruta, fruta da época e gelado
Digestivos - Café, Whisky novo ou Brandy

Lanche:
Caldo verde, 2 pratos quentes, carnes frias, presunto, queijo e saladas várias
Bar aberto (Não inclui bebidas brancas - digestivos)

Animação musical com organista

Às 19h00 - Despedida e viagem de regresso

Preços por pessoa:
Só almoço - 25,00€
Viagem e almoço - Porto - 52,00€
Viagem e almoço - Lisboa - 47,00€
Crianças dos 6 aos 10 anos - 50%

As inscrições devem ser feitas por telefone ou e-mail para:
Lima Ferreira - Telem. 919 977 304 - e-mail lf.limaferreira@gmail.com
Francisco Araújo - Telem. 963 154 718 - e-mail f.g.araujo@live.com.pt

António Fernando Lima Ferreira
Francisco Gonçalves Araújo
(Ex-Furriéis Milicianos)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17136: Convívios (782): XXII Encontro do Pessoal do BCAÇ 3872, dia 29 de Abril de 2017, em Fátima (Juvenal Amado)

Guiné 61/74 - P17136: Convívios (782): XXII Encontro do Pessoal do BCAÇ 3872, dia 29 de Abril de 2017, em Fátima (Juvenal Amado)


GUINÉ - 1971-1974

22.º CONVÍVIO DO BCAÇ 3872

FÁTIMA, 29 DE ABRIL DE 2017

Estimados camaradas, dando seguimento aos laços que nos ligam desde as “férias” naquelas terras quentes e longínquas, venho por este meio convidar todos os veteranos do 3872 e respectivas famílias, para o próximo almoço a realizar em Fátima dia 29 de Abril de 2017.

Embora a listagem de nomes esteja hoje muito melhor alinhada, fruto do trabalho de quem me antecedeu nesta saborosa empreitada, nunca será demais difundir junto de todos os camaradas do batalhão, quer tenham pertencido à CCS 3872, 3489, 3490 e 3491 que “firmaram” na zona Leste mais precisamente Galomaro, Cancolim, Saltinho e Dulombi, esta grandiosa manifestação de amizade cimentada tanto em bons, como em maus momentos.

Como consultei o Borda D’Água, que garante ser este dia de plena Primavera, e na total impossibilidade de o nosso almoço ser efectuado no café do Regala em Galomaro, passo assim ao programa das festividades:

- Concentração junto à estátua do Papa João Paulo II pelas 10 horas da manhã.
- Missa na Igreja da Santíssima Trindade - 11 horas da manhã.
- Concentração e partida pelas 12,30 horas para o Complexo Turístico D. Nuno, Estrada de Minde, nº 326, BOLEIROS 2495-300 - Fátima - Telefone 249 539 040 - Fax: 249 539 048. E-mail: geral@dnuno.com /www.dnuno.com, onde será servido vasto leque de aperitivos que passo a enumerar.

“A ementa é quase um poema meus amigos”

Serviço de Aperitivos Servidos na Recepção

Martini, Sumos, vinho do Porto, Whisky Novo, Moscatel, Canapés, Delícias do Alasca, Pasteis de bacalhau, Presunto laminado, Entremeada grelhada, Pernas de frango, Morcela de arroz, Alheira de Mirandela, Folhadinhos de carne e Torradinhas de presunto.

Almoço: 13 horas

Sopa: Aveludado de legumes da horta
Peixe: Bacalhau em crosta de broa
“Bacalhau alourado no forno, envolvido num refogado de cebola e azeite, coberto com mistura de broa e ervas aromáticas, com batatinha e murro e couve lombarda”

Carne: Vitela com molho D. Nuno
“Vitela assada no forno com molho de cogumelos e tiras de fiambre salteadas, guarnecidos com batatinha e legumes salteados”

Sobremesa: “Gelado e Cheesecake de frutos vermelhos com ananás ao natural”

Vinhos tintos e brancos maduros, vinho verde, refrigerantes, café e digestivo.

Bolo comemorativo e espumante

Tudo isto pela módica quantia de 27 Euros (adultos)
Crianças dos 3 aos 10 anos -13,50 Euros ou seja 50%
E finalmente grátis para crianças até aos 3 anos.

Quem pretender dieta ou seja vegetariano, deve informar aquando da sua inscrição.
Também é de ter em conta quando se desloquem famílias, deverão no acto da inscrição declarar quantos são, para assim terem os seus lugares reservados.

Conto contigo para fazer desta ocasião um momento memorável e as marcações podem ser feitas até 14 de Abril de 2017 para:
Telemóvel - 913 020 485
Fixo - 211 395 734
E-mail - sacaduramado@gmail.com

Atentamente
Juvenal Amado
Ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas
CCS/BCAÇ 3872
Galomaro, 1971/74
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17116: Convívios (781): 30º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha: 16 de março de 2017, 5ª feira, restaurante "O Nosso Cantinho", rua das Tojas, nº 192 A, Carrascal de Alvide, Cascais. Inscrições até dia 13... (Manuel Resende)

Guiné 61/74 - P17135: Parabéns a você (1222): Leopoldo Correia, ex-Fur Mil Art da CART 564 (Guiné, 1963/65)

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Nota do editor

Último poste da série de > Guiné 61/74 - P17127: Parabéns a você (1221): Manuel Luís Rodrigues de Sousa, Sargento Ajudante Ref da GNR, ex-Soldado At Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)

segunda-feira, 13 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17134: In Memoriam (279): Inácio José Carola Figueira (1950-2017), ex-Fur Mil Art da CART 3494/BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/74) (Jorge Araújo)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494/BART 3873, Bambadinca, 1971/74), com data de hoje, 13 de Março de 2017, trazendo a notícia do desaparecimento de mais um camarada, engrossando assim a já longa lista de combatentes que terminaram a sua missão na Terra.

Caro Luís,
Já passa da meia-noite...
Mas, como a minha agenda de amanhã vai ser difícil de gerir, tive de fazer horas extras para concluir esta notícia, que anexo, referente à morte de mais um camarada do contigente da CART 3494 - o ex-fur mil art Inácio José Carola Figueira.

Grato pela atenção.
Ab.
Jorge Araújo.




Nota dos editores:

Jorge: é uma bela e emocionada homenagem, a tua, a um alentejano do Redondo, a um camarada da Guiné, o  Inácio J. Carola Figueira, que acaba de pagar a sua "dívida à terra":

Eu sou devedor à terra,
E a terra me está devendo,
A terra paga-me em vida,
Eu pago à terra em morrendo.


https://www.youtube.com/watch?v=tnrsNh0wnX4

Tendo em conta a sua "presença" no nosso blogue, em vários postes e fotos, achamos que é justo que ele entre diretamente para a nossa Tabanca Grande, a título póstumo, como aconteceu com outros casos, e nomeadamente da CCAÇ 12 e outras subunidades, que nunca foram em vida "ativos grã-tabanqueiros": estamos a lembrar-nos, por exemplo, dos também alentejanos António Manuel Martins Branquinho (1947-2013) e do José Manuel P. Quadrado (1947-2016)... Foram todos eles camaradas que interagiram connosco, conviveram connosco, apareceram nas nossas histórias...

Nem todos, infelizmente, têm o dom da escrita... ou perícias informáticas, como tu e outros grã-tabanqueiros ativos... Cabe-nos a nós não deixar que estes bravos camaradas vão parar à "vala comum do esquecimento".

Doravante, a memória do Inácio J. Carola Figueira passará a conviver connosco no simbólico e sagrado poilão da Tabanca Grande, sob o nº 738.

PS - As únicas referências que há na Net, no Google, ao seu nome ("Inácio José Carola Figueira"), são as do nosso blogue, do blogue da CART 3494 e do portal UTW - Ultramar TerraWeb
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Nota do editor

Poste anterior da série de 13 de Março de 2017 > Guiné 61/74 - P17132: In Memoriam (278): Carlos Filipe Coelho (Porto, 1950 - Lisboa, 2017), ex-Sold Radiomontador, CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74), sepultado no dia 9 de Março, praticamente um mês depois do seu falecimento (Juvenal Amado)

Guiné 61/74 - P17133: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte VI: 16 mortos, devido a doença e desnutrição, ficaram no cemitério da vila de Santa Maria


Cabo Verde > Ilha de Santo Antão > 1943 > "A fome, a miséria"... A grande seca de 1943 foi evoacad no romance de Manuel Ferreiar, ele próprio expedicionario, "Hora di Bai"... O próprio título diz tudo sobre o dramático dilema que enfrentava o cabo-verdiano de ontem (e de hoje): a vontade de ficar, a necessidade imperiosa de partir... [Foto do álbum  do pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos, o então 1º cabo  Feliciano Delfim Santos (1922-1989), da 1.ª companhia do 1.º batalhão expedicionário do RI 11]

Foto (e legenda): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Cemitério de Mindelo > 1943 > Foto do álbum de Luís Henriques (1920-2012), ex-1º Cabo nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5. Esteve em Cabo Verde, no Lazareto, na Ilha de São Vicente, entre 1941/43.

Legenda no verso da foto: "Justa homenagem àqueles que dormem o sono eterno na terra fria. Companheiros de expedição os quais Deus chamou ao Juízo Final. Pessoal da A[nti] Aérea depois das cerimónias desfila fazendo continência às sepulturas dos companheiros. Oferecido pelo meu amigo Boaventura [Horta, conterrâneo, da Louri nhã,]  no dia 17-8-1943, dia em que fiquei livre da junta (hospitalar). Luís Henriques".

Foto (e legenda): © Luís Graça (2005).  Todos os direitos reservados. [Edição do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



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1. Continuação da publicação da brochura "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do Capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.) [, imagem da capa, à direita].(*)

José Rebelo, Capitão SGE reformado, foi em 1941/43 um dos jovens expedicionários do RI I1, então com o posto de furriel. Não sabemos se ainda hoje é vivo, mas oxalá que sim, tendo então a bonita idade de 96 ou 97 anos. Em qualquer dos casos, este nosso velho camarada é credor de toda a nossa simpatia, apreço e gratidão. E, se já morreu, estamos a honrar a sua memória e a dos seus camaradas, onde se incluiram os pais de alguns de nós.

O nosso camarada Manuel Amaro diz do José Rebelo: (...) "Por volta de 1960, fez a Escola de Sargentos, em Águeda e,  após promoção a alferes, comandou a Guarda Nacional Republicana em Tavira, até 1968. Como homem de cultura, colaborava semanalmente, no jornal "Povo Algarvio", onde o conheci, pessoalmente. Em 1969, já capitão, era o Comandante da Companhia da Formação no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa." (...)

A brochura, de grande interesse documental,  e que estamos a reproduzir,  é uma cópia, digitalizada, em formato pdf, de um exemplar que fazia parte do espólio do Feliciano Delfim Santos (1922-1989), que foi 1.º cabo da 1.ª companhia do 1.º batalhão expedicionário do RI 11, pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73).

[Foto á direita: o então furriel José Rebelo, expedicionário do 1º batalhão
do RI 11]


Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do Governador Civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada com diversas fotos, tem 76 páginas, inumeradas.


O batalhão expedicionário do Onze [RI 11, Setúbal] partiu de Lisboa em 16 de junho de 1941 e desembarcou na Praia, ilha de Santigao, no dia 23. Esteve em missão de soberania na ilha do Sal cerca de 20 meses (até 15 de março de 1943), cumprindo o resto da comissão de serviço (até dezembro de 1943) na ilha de Santo Antão.

Sabemos, por este cronista (*), que os "expedicionários do Onze" tinham um grupo cénico-musical que fez espectáculos nas ilhas por onde passou (São Vicente, Sal e Santo Antão), revertendo as reeitas para apoio às populações carenciadas, sobretudo de Santo Antão, tragicamente afetadas pela seca e pela fome que então assolava as ilhas, em plena II Guerra Mundial. 

Na ilha do Sal não chovia há cinco anos e os militares do Onze sofreram graves problemas de desnutrição. 16 expedicionários ficaram sepultados no cemitério da vila de Santa Maria, no Sal. [Na realidade, e segundo lista publicada pelo  nosso colaborador permanente José Martins, são 28 os militares inumados no cemitério de Santa Catarina, na  Ilha do Sal, durante a II Guerra Mundial, de 1941 a 1944]. Conferindo as listas e as datas, os nomes dos mortos do RI 11  seriam estes 15 mais 1 (Manuel Joaquim Marques, que não consta da lista do José Martins), falecidos entre 8/8/1941 e 16/1/1943


ALBINO FERREIRA - soldado, falecido em 8 de agosto de 1941

ABILIO A[BREU] DA FONSECA - 1º cabo, falecido em 22 de agosto de 1941

JOSÉ SIMÕES VAZ - Soldado, falecido em 12 de outubro de 1941

ÁLVARO PEREIRA BASTOS - Soldado, falecido em 19 de outubro de 1941

BERNARDINO DA SILVA CURADO [ou Covado, nalista do José Martins] - Soldado, falecido em 6 de novembro de 1941 

MANUEL COSTA - 1º cabo, falecido em 12 de novembro de 1941

CUSTÓDIO DE OLIVEIRA COXO - Soldado, falecido em 17 de novembro de 1941

JACINTO PEREIRA TEIXEIRA - Soldado, falecido em 22 de novembro de 1941

FLORINDO MIRANDA NOGUEIRA - Soldado, falecido em 28 de novembro de 1941

CARLOS MARIA DA SILVA - 1º cabo, falecido em 24 de dezembro de 1941

ANTÓNIO DA PIEDADE GOMES - Soldado, falecido em 15 de fevereiro de 1942

JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA - Soldado, falecido em 3 de Março de 1942

ADELINO DE ALMEIDA MATEUS [, Martins, na lista do José Martins] - Soldado, falecido em 22 de Abril de 1942

ÁLVARO GUERRA - 1º cabo, falecido em 9 de Maio de 1942

ARMANDO AUGUSTO DOS SANTOS - Soldado, falecido em 16 de Janeiro de 1943



"Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.)


Parte IV (pp. 26-30)



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[Continua]

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Guiné 61/74 - P17132: In Memoriam (278): Carlos Filipe Coelho (Porto, 1950 - Lisboa, 2017), ex-Sold Radiomontador, CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74), sepultado no dia 9 de Março, praticamente um mês depois do seu falecimento (Juvenal Amado)

CARLOS FILIPE COELHO


1. Mensagem de hoje de madrugada do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), para nos falar, mais uma vez, do Carlos Filipe Coelho, por ventura um inadaptado enquanto vivo e um incómodo depois de morto.

Caros camaradas
Quando somos jovens dizemos "eu vou fazer isto, vou fazer aquilo, farei da vida o que quiser".
Quando enfim chegamos à idade em que temos mais passado do que futuro, dizemos simplesmente "É a Vida".

Como prometi fazer um levantamento de alguma coisa que o Carlos Filipe escreveu, aproveitei aqui uma recordação maravilhosa da vida simples mas feliz que também o Carlos teve. Qual será a dose de felicidade que temos direito? Será que terá sempre um preço, qual será o preço que cada um terá de pagar pelos momentos de felicidade que gozou ao longo da vida? Do blogue Recortes Para o Meu Neto retirei esta recordação que fala do Natal. E Porquê do Natal? Porque foi um Natal feliz ao contrário de muitos outros infelizes, solitários e doridos. Chama-se o conto Natal Imprevisível.

NÃO ADIANTA UM HOMEM MANTER O LIVRO DA SUA VIDA FECHADO. HAVERÁ SEMPRE ALGUÉM QUE O VAI ABRIR MESMO QUE PARA LER UMA SÓ PÁGINA. 

Desconheço se é do Carlos esta citação, mas parece-me apropriada à sua personalidade, por vezes ambígua.

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2 . O nosso camarada teve sempre amigos, e do Blogue "Uivemos Juntos", retirei este texto em sua homenagem.

Com a devida vénia ao Blogue Uivemos Juntos

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3. NATAL IMPREVISÍVEL

Carlos Filipe Coelho

Trabalhava eu por turnos na Rádio, e nessa noite a minha saída era às 02:00h da manhã, apanhava o último comboio às 02:30 e chegaria a casa às 03 horas. Tu tinhas ido trabalhar, embora tivesses saído mais cedo. Foste buscar a menina ao colégio e deves ter começado a tratar dos preparativos para uma noite de Natal a três.
Ora o previsto era que próximo das duas começarias a cozinhar o bacalhau, batatas, couves, o habitual desta noite... A menina estaria a dormir e acordaria, conforme a sua vontade para confraternizar e abrir as suas prendas. Respeitávamos muito os horários da criança, mesmo abdicando de alguns prazeres para nós.

Não havia telemóveis neste tempo. Algum frio da época e uma viagem de comboio com muito poucos passageiros algo "tristes", mas eu ansioso de chegar, porque sabia que ia ter como sempre uma maravilhosa companheira à minha espera para uma noite de carinho, como tantas outras mesmo quando não era natal; ia pensando nas cores dos embrulhos para haver uma distribuição equitativa com a nossa filha pequenina.

Abro a porta, e vens ao meu encontro com o ar mais triste deste mundo, afogada num desânimo que parecia que não teres força para estar em pé. Mais tarde compreendi que este desânimo deveu-se ao facto de saberes que o Natal para mim era a festa do ano mais importante, não por eu ser ou não ser católico, mas porque tinha sido o meu ninho de sonhos em criança esperando pelas prendas que nunca vieram. Céus... com uma quantidade suficiente de guloseimas, as frutas secas, bolo-rei, havia pão, marmelada, nozes, pinhões ou seja de tudo um bocadinho, nem que fosse só para desougar... porque havíamos de ficar assim tristes? O que aconteceu ?!...

Estava combinado que próximo das duas começarias a cozinhar, para quando eu chegasse estar quase pronto, mas fatalidade das fatalidades o gás de garrafa acabou-se... Se calhar tinha mesmo que ser assim, porque ficou a ser um Natal com "sabor" diferente e durante anos foi acontecimento de referência nas nossas conversas natalícias. Creio que consideravas que me ia sentir talvez muito afectado.

Então acordamos que tinham que ser quebrados todos os nossos rituais, senão a coisa não ficava bem. Primeira decisão; vamos comer no chão. Segunda como o bacalhau estava quase cozido (o gás podia durar mais um bocadinho..) vamos fazer esfiado com azeite e cebola. E o resto prossegue normalmente.

Claro que no meio disto a menina já tinha acordado, teve manifestações de espanto por ver comida no chão em cima da toalha que anteriormente tinha visto na mesa; e a situação ia ficando complicada porque a criança não se apercebia de que não podia andar em linha recta, devido à falta de um "generoso" espaço porque estávamos num apartamento J. Pimenta.

Acesas as velas, nós aconchegando o estômago com o singular bacalhau, a criança "petiscando" as doçarias lá fomos criando a nossa noite de Natal, a mulherzinha recuperando do seu desgosto, culminando num rir de felicidade pela forma como as coisas decorriam. Alegria que aumentou com a distribuição das prendas entre os três, que se prolongava sempre, porque havia necessidade de dar oportunidade aos afectos e à apreciação das coisas neste caso principalmente dos brinquedos. Até que que a criança foi viajar nos seu sonhos e nós... nós fumamos mais alguns cigarros, mais um copo de qualquer coisa e mais um copo de sumo, talvez mais uns pinhões, o volume do som da televisão muito baixinho.

Concluímos que tudo tinha sido bom e diferente porque nos amávamos. E neste Natal, cada um de nós foi tudo o que o outro quisesse que fosse.
Até breve amor.

PS. A menina é a tua mãe... Guilherme

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4. Diz- nos ainda o camarada Juvenal Amado

Também sou de opinião utilizar este espaço para denunciar, e agradeço a quem me ajude a fazer chegar o nosso desgosto e denuncia à Associação dos Deficientes das Forças Armadas, à Liga dos Combatentes, ao Governo, etc.

É um veterano mas acima de tudo um ser humano que foi enterrado como de um cão abandonado se tratasse. De vez enquanto somos confrontados com coisas que não julgávamos possíveis dado o carácter melindroso e religioso, no que respeita a normas sociais e humanas. Se o falecido não teve em vida actividade contributiva suficiente, a Segurança Social não paga o funeral.
No caso presente, primeiro disseram que sim, que se poderia proceder ao acto de cremação, para dias depois dizerem exactamente o contrário.

O Carlos vivia de uma pensão que lhe foi atribuída (65%) pela a sua evacuação da Guiné em 1972 mais a referente à sua mulher. Não tinha outros rendimentos há muito tempo, uma vez que a saúde não lhe permitia. Francamente nunca soube de quanto era a sua pensão uma vez que o Carlos, que não escondia as suas ideias nem ideais, escondia as suas necessidades e o que se pode chamar de misérias.

Assim, a família (filha e um neto menor), que não teve posses para arcar com as despesa do funeral, recorreu à Santa Casa da Misericórdia onde ficou a aguardar "vez", possivelmente para ser enterrado como indigente.

Um mês depois de ter morrido, a 9 de Março é finalmente enterrado, sem qualquer cerimónia, sendo a família avisada uma hora antes.

Bem sei que o nosso camarada se dizia à parte deste tipo de sociedade, e pela forma como encarou a morte, escolhendo a cremação, escapava à simbologia que a grande maioria dos portugueses conferem ao ritual com que os corpos descem à terra. Mas a nós compete-nos homenagear a pessoa naquilo que ele representou enquanto vivo e pensante.

Assim, no dia 25 de Março 2017, um grupo de amigos, que na sua esmagadora maioria nunca com ele privou fisicamente, vai estar pelas 16 horas desse dia no portão do Cemitério da Amadora, para assim lhe dizer, onde ele esteja, que não passou por esta vida sem deixar marcas.

Eu ainda vou escrever um lembrete para ser publicado mais próximo, se possível, e quem estiver perto e na disposição de comparecer, será bem vindo.

Esperamos que alguma gente da comunidade guineense esteja presente

Um abraço
Juvenal Amado
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17033: In Memoriam (277): Carlos Filipe Coelho (Porto, 1950 - Lisboa, 2017), ex-Sold Radiomontador, CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74) (Juvenal Amado)