segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19448: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXI: As colunas para o sudoeste do setor: Bafatá, Fá Mandinga e Bambadinca, eram mais de 200 km, ida e volta


Foto nº 6A  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > c. set/out 1967 > Tabuleta com as indicações das distâncias, para Sul, Norte e Leste, localizada numa das saídas-entradas de Nova Lamego. Bafatá para sudoeste  a mais longa, com 53 kms, e temos de juntar mais cerca de 60 dali até ao porto fluvial e depósito da Intendência em Bambadinca [vd. mapa, em baixo].


Foto nº 1 >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Coluna  e de Nova Lamego e Bafatá, "no dia 29 de Janeiro de 1968, o meu aniversário de 25 anos".



Foto nº 9  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Novembro de 1967 >  Na estrada entre Gabu e Bafatá, protegendo-me do pó levantado pelos camiões da coluna da frente, com um lenço, tipo cowboy do Faroeste. 


Foto nº  12  > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69)  > Janeiro de 1968 > Eu, no jipe  com o condutor Pita, impedido do Major Henriques, Oficial de operações, no regresso da viagem a Bafatá e a caminho de Nova Lamego.  


Foto nº 2 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 >  Couna de Nova Lamego a Bambadinca >  Junto a um memorial, pela cruz, pode ser um local em que estivesse enterrado algum militar; foi uma paragem ocasional, ou para a fotografia, em que estou eu e os restantes são todos soldados condutores. 


Foto nº 3 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Novembro de 1967 > Na ponte de madeira que liga Bafatá a Fá Mandinga. 


Foto nº 4 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de 1967 >  Eu com um grupo de soldados CCAÇ 5, "Os Gatos Pretos", em Nova Lamego.


Foto nº 5 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 >Coluna deNova Lamego a Bambadinca > Paragem na estrada de Gabu para Bambadinca, numa coluna de reabastecimentos. Reconheço os nomes, em pé à esquerda o sempre presente e grande amigo, o soldado condutor o ‘Ermesinde’, Arlindo de seu nome. Do lado oposto, o Furriel Paiva Matos, o nosso vagomestre da CCS do Batalhão. Todos os restantes são reconhecidos, são condutores, quer da CCS do Batalhão ou da Companhia de Intervenção, CART 1742. 


Foto nº 6  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > c. set/out 1967 > Tabuleta com a indicação das distâncias entre Nova Lamego e outras povoações da região leste.


Foto nº 7  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Janeiro de 1968  >  Foto icónica, perto de Nova Lamego, à saída para Bafatá, junto a um Padrão dos Descobrimentos, do qual não anotei o seu nome ou significado. Uma saída a algum lado, em  Unimog Unimog.


 Foto nº 8  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Novembro de 1967  > O meu grupo no meio da ponte para Fá Mandinga. São todos soldados condutores, posso identificar os nomes de dois: o da ponta direita, o Bourbon, impedido do Major Américo Correia, e o Pita, impedido de Major Graciano Henriques. 



 Foto nº 10  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Outubro de 1967  > 'Simulação’ de uma emboscada, na estrada entre Gabu a caminho de Bambadinca, antes de chegar a Bafatá, no meio da mata. Os meus companheiros são todos ‘operacionais’ do volante. 



 Foto nº 11  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Dezembro de 1967  > Coluna a Bambadinca. Vista geral da estrada no troço entre Gabu e Bafatá, tirada a partir da primeira viatura da coluna. 



 Foto nº 13  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Dezembro de 1967  > Uma ‘brincadeira’ de guerra entre índios de arco e flecha. São os soldados condutores do meu Batalhão. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá.


 Foto nº 14  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Dezembro de 1967  > Preparação de uma  coluna para Bafatá-Bambadinca, dentro do aquartelamento do Batalhão em Nova Lamego. Pode ver-se o Furriel Rocha,  o 'Algarvio’ e outros furriéis e milícias. 

 Foto nº 15  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >   31 de Janeiro de 1968  > Vista aérea do aquartelamento de Nova Lamego, e a sua pista à distância. Foto aérea captada de um avião Dakota, pronto a aterrar na pista de Nova Lamego.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Nova Lamego.

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)

 :
T061 – AS COLUNAS DE NOVA LAMEGO PARA SUDOESTE  DO SECTOR: BAFATÁ, FÀ MANDINGA; BAMBADINCA  



Tentei passar todas estas fotos para um ou dois Postes, mas eram tantas as fotos, que nunca foi editado, e ainda bem que não. Assim, reorganizei esta fase da minha estadia, isto é, as mais de 200 fotos, em vários Temas mais pequenos, que estão a ser numerados e legendados a partir do T060.

Este tema pretende mostrar alguma da minha actividade, extra minhas funções, que nunca me furtei de participar, quem em deslocações a vários aquartelamentos do sector, bem como às várias colunas que se faziam regularmente a Bambadinca, de reabastecimentos, que chegavam àquele porto fluvial, vindos pelo Rio Geba acima desde Bissau

O percurso era aproximadamente de 100 quilómetros, para baixo e outros tantos para cima, em estradas de terra batida e outras de alcatrão mal tratado. Tinha como ponto da passagem obrigatório a cidade de Bafatá, onde se concentrava o ‘Comando do Agrupamento’, e sendo assim era bem protegida, os perigos não eram previsíveis.

Por isso fui ‘nomeado’ várias vezes para ‘comandar’ estas colunas, com vários camiões e um Jeep, onde me deslocava. A maioria do pessoal que compunha estas colunas eram os condutores dos próprios camiões e Jeep, e alguns poucos militares ditos operacionais. A segurança seria uma dúvida, vendo agora à distância, mas naquela altura, na idade de vintes, não se pensava nisso, eu pelo menos não pensava, só queria era sair do mesmo sítio, que me sufocava, ver outras terras nem que fossem sempre as mesmas, mas mudar os horizontes.

Quando não era nomeado, eu próprio, podendo, metia-me no meio e lá ia sem ninguém saber, visto que tinha grande margem de manobra para gerir a minha função.

Conheci muitas aldeias e as cidades de Bafatá e Bambadinca, bem como Fa Mandinga. Nunca tivemos nenhum problema com a guerrilha, só com os macacos e outros animais que se atravessavam na estrada, e com os inúmeros montes da formiga ‘baga baga’ que eram verdadeiras fortificações e abrigos contra bombardeamentos.

Fazíamos a viagem, como se diz agora na gíria, sempre a abrir, os condutores eram doidos, davam o máximo nos camiões, felizmente nunca houve despistes, a sorte esteve sempre comigo e com os outros.

As paragens eram frequentes em qualquer lugar, o mato existia de um lado e de outro da estrada, mas era preciso fazer estas pausas para as necessidades de cada um, pois estas operações levavam um dia inteiro. Comia-se a ração de combate para todos

Acho que passei uma boa estadia, eu gostava daquilo que fazia, não ia contrariado em nada, fazia tudo por gosto, por aventura, pura adrenalina dos anos vintes. Por isso ainda aqui estou para poder recordar, mostrar e contar a minha história.

Não é para me enaltecer, mas a maioria dos oficiais milicianos do meu batalhão, não faziam estes serviços, nunca soube porquê, nem hoje me interessa, correu tudo bem, estou vivo.

As fotos foram selecionadas, muitas são de cenas ridículas, como ‘simular’ uma emboscada, e palhaçadas do género, fruto da idade, que apesar de tudo era maior do que todos os restantes.

Espero que sejam apreciadas pelos leitores, e que lembrem a alguns as suas memórias de 50 anos atrás.




Guiné > Mapa Geral da Província > 1961 > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Bambadinca , Bafatá e Nova Lamego... A distância por estrada era de cerca de 110 km. Só o troço de Bambadinca-Bafatá é que era alcatroado no final de 1967. Na época o porto fluvial era muito movimentado, quer por embarcações civis quer da mrinha de guerra (, incluindo as LDG - Lanchas de Desembarque Grande)... Em 1969, as LDG já só ficavam no porto fluvial do Xime. A partir de 1972, há um nova estrada, alcatroada, que vai ser a espinha dorl da a região leste, do Xime até Piche e depois atá Buruntuma.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)


II – Legendagem das fotos:

F01 – Estrada entre Nova Lamego – Gabu – e Bafatá, a cerca de 60 quilómetros, a bordo do Jeep, com protecção contra o vento e poeiras. Foto captada na estrada entre Nova Lamego e Bafatá, no dia 29 de Janeiro de 1968, o meu aniversário de 25 anos.

F02 – Junto a um monumento, ou pela cruz, pode ser um local em que estivesse enterrado algum militar, falhou-me aqui tirar os apontamentos, mas não pode ser outra coisa senão um local de memorial. Foi uma paragem ocasional ou para a fotografia, em que estou eu e os restantes são todos soldados condutores. Foto captada na estrada entre Nova Lamego e Bambadinca, num dia de Dezembro de 1967.

F03 – Na ponte de madeira que liga Bafatá a Fá Mandinga. Foto captada na ponte para Fá Mandinga, num dia de Novembro de 1967.

F05 – Paragem na estrada de Gabu para Bambadinca, numa coluna de reabastecimentos. Reconheço os nomes, em pé à esquerda o sempre presente e grande amigo, o soldado condutor o ‘Ermesinde’, Arlindo de seu nome. Do lado oposto, o Furriel Paiva Matos, o nosso Vagomestre da CCS do Batalhão. Todos os restantes são reconhecidos, são condutores, quer da CCS do Batalhão ou da Companhia de Intervenção, CART1742. Foto captada na estrada entre Nova Lamego e Bambadinca, num dia de Dezembro de 1967.

F06 – Placard-Tabuletas com as indicações das distâncias, para Sul, Norte e Leste, localizada numa das saídas-entradas de Nova Lamego-Gabu. Bafatá para Sul é a mais longa, com 53 kms, e temos de juntar mais cerca de 60 dali até ao Porto e Depósito da Intendência em Bambadinca. Foto captada na saída de Gabu para Bafatá, em finais de Setembro de 1967. Provavelmente uma das primeiras fotos captadas em Nova Lamego, e por isso na Guiné, a quando da minha chegada solitária àquela terra.

F07 – Foto icónica, perto de Nova Lamego, à saída para Bafatá, junto a um Padrão dos Descobrimentos, do qual não anotei o seu nome ou significado. Uma saída a algures, num camião Unimog, e uma paragem para a fotografia. Foto captada na estrada entre Nova Lamego e Bafatá, num dia de Janeiro de 1968.

F08 – O meu grupo no meio da ponte para Fá Mandinga. São todos soldados condutores, posso identificar os nomes de dois: O da ponta direita, o Bourbon, impedido do Major Américo Correia, e o Pita, impedido de Major Graciano Henriques. Foto captada na ponte para Fá Mandinga, num dia de Novembro de 1967.

F09 – Na estrada entre Gabu e Bafatá, protegendo-me do pó levantado pelos camiões da coluna da frente, com um lenço, tipo cowboy do Faroeste. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Novembro de 1967.

F10 – ‘Simulação’ de uma emboscada, na estrada entre Gabu a caminho de Bambadinca, antes de chegar a Bafatá, no meio da mata. Os meus companheiros são todos ‘operacionais’ do volante. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Outubro de 1967. F11 – Vista geral da estrada entre Gabu – Bafatá- Bambadinca, tirada a partir da primeira viatura da coluna. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Dezembro de 1967.

F12 – No Jeep com o condutor Pita, impedido do Major Henriques, Oficial de operações, no regresso da viagem a Bafatá e a caminho de Nova Lamego. Foto captada na estrada entre Bafatá e Gabu, num dia de Janeiro de 1968.

F13 – Uma ‘brincadeira’ de guerra entre Índios de arco e flecha. São os soldados condutores do meu Batalhão. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Dezembro de 1967.

F14 – Preparação de uma ‘Coluna’ para Bafatá-Bambadinca, dentro do aquartelamento do Batalhão em Nova Lamego. Pode ver-se o Furriel Rocha ‘O Algarvio’ e outros furriéis e milícias. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Dezembro de 1967. 


F15 – Vista aérea do aquartelamento de Nova Lamego, e a sua pista à distância. Foto aérea captada de um avião Dakota, pronto a aterrar na pista de Nova Lamego, em 31 Janeiro de 68.

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21Set67 a 04Ago69».

# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. Nada mais. #

Fotos legendadas em 2018-11-22. Texto acabado de ser alterado, novamente, hoje,

Em, 2019-01-06

Virgílio Teixeira

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Nota so edior:

Último poste da série > 16 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19407: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LX: A Casa Caeiro e os comerciantes libaneses de Nova Lamego

Guiné 61/74 - P19447: Recortes de inprensa (100): para a história da luta dos deficientes das Forças Armadas: a manifestação em Lisboa, de 20 de setembro de 1975 (Diário de Lisboa, 22/9/1975)




Fonte: Diário de Lisboa, 22 de setembro de 1975, p. 8.


Citação:
(1975), "Diário de Lisboa", nº 18873, Ano 55, Segunda, 22 de Setembro de 1975, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_4410 (2019-1-27) (com a devida vénia...).


Casa Comum
Título: Diário de Lisboa
Número: 18873
Ano: 55
Data: Segunda, 22 de Setembro de 1975
Directores: Director: António Ruella Ramos; Director Adjunto: José Cardoso Pires
Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos
Tipo Documental: IMPRENSA
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19254: Recortes de imprensa (99) O capitão José Manuel Carreto Curto, dado como morto pela propaganda do PAIGC, em entrevista à ANI, Bissau, 20 de março de 1963 (Diário de Lisboa, edição de 20/3/1963, pp. 1 e 9)

domingo, 27 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19446: In Memoriam (336): José Arruda (Movene, Moçambique, 1949 - Lisboa, 2019), líder histórico da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas



O Presidente da direção nacional da ADFA, José Eduardo Gaspar Arruda, na alocução natalícia de 19/12/2014, desejando "votos de um Natal com generosidade, tolerância, paz, saúde e muita força e empenho para continuarmos a nossa luta pela dignidade de TODOS e em especial pela plena inclusão das pessoas portadoras de deficiência".

José Arruda nasceu em Moçambique em 10 de março de 1949, desenvolveu uma carreira de atleta até integrar o serviço militar obrigatório e foi ferido, em 1971, durante a guerra colonial, num acidente do qual resultou a cegueira e a amputação o membro superior esquerdo. Em 1973, durante a permanência no Hospital Militar Principal, participou no movimento de apoio à criação do estatuto do deficiente das Forças Armadas, tendo posteriormente, em 1974, participado na primeira assembleia Geral da recém-criada Associação dos Deficientes das Forças Armadas, que surgiu na sequência da Revolução do 25 de Abril.

Foto; Cortesia do sítio da ADFA



Lisboa > ADFA > 21 de janeiro de 2019 > Conferência Evocativa do 43º Aniversário da Publicação do DL n.º 43/76, de 20 de janeiro de 1976, no âmbito do 45º aniversário da Associação dos Deficientes das Forças Armadas. A sessão solene de encerramento presidida  pelo Ministro da Defesa Nacional, Professor Doutor João Gomes Cravinho. Este terá sido o último ou um dos últimos atos públicos a que assistiu o José Arruda, presidente da ADFA, aqui na foto do lado direito.

O diploma de 20 de janeiro de 1976 veio garantir aos deficientes das Forças Armadas a reparação moral e material a que tinha direito, depois de terem prestado Serviço Militar Obrigatório na Guerra Colonial e dela terem regressado feridos e marcados para toda a vida. O DL 43/76,  de 20 de janeiro, surgiu na sequência  da luta histórica dos deficientes militares pelos seus direitos (que ganhou, por exemplo, grande visiibilidade mediátrica com a manifestação de 20 de setembro de 1975).

Foto: cortesia da ADFA


1. O presidente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), José Arruda, morreu, sábado à tarde, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa,  na sequência de uma intervenção cirúrgica. Tinha 68 anos.

Em comunicado, a ADFA manifesta "enorme mágoa e profunda consternação" pelo "falecimento inesperado" do comendador José Eduardo Gaspar Arruda.

A ADFA salienta que José Arruda se entregou "abnegadamente à causa da dignidade" dos deficientes das Forças Armadas e dos deficientes portugueses em geral, servindo a República "com a elevação e a responsabilidade de um cidadão íntegro, dedicado e exemplar".

"Sublinhamos e homenageamos o homem de Abril, que viveu na plenitude os valores da democracia, em liberdade e solidariedade", lê-se no comunicado.

A notícia é da LUSA, publicada nos jornais de ontem e de hoje.

No nosso blogue há 40 referências à ADFA. Conheciamo-nos pessoalmente e tínhamos um estima especial mútua: o José Arruda foi, durante muitos anos, "meu vizinho" na Av Padre Cruz, um dos seus filhos foi inclusive meu aluno, na Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa... E aquela casa, a sede da ADFA,  esteve sempre aberta a iniciativas da Tabanca Grande ou dos nossos grã-tabanqueiros. Recordo-me de lá ter ido em diversas sessões de lançamentos de livros de camaradas nossos.

Para a  esposa, os filhos e demais família, os amigos e camaradas da ADFA, vai aqui todo o nosso apreço e solidariedade na dor por esta perda.  prematura,  de um grande ser humano, cidadão  e português, em nosso nome e em nome de toda a Tabanca Grande. Luís Graça, fundador, administrador e editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


2. Reproduzimos aqui, com a devida vénia, a notícia dada hoje, 27 do corrente, no sítio oficial da ADFA:

É com enorme mágoa e profunda consternação que comunicamos o falecimento inesperado, esta tarde [, sábado], no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, em Lisboa, do Senhor Comendador José Eduardo Gaspar Arruda, Presidente da Direção Nacional da Associação dos Deficientes das Forças Armadas [ADFA].

Nesta hora difícil para todos os deficientes militares, a ADFA salienta e recorda o Comendador José Arruda, que se entregou abnegadamente à causa da dignidade dos deficientes das Forças Armadas e dos deficientes portugueses em geral, servindo a República com a elevação e a responsabilidade de um cidadão íntegro, dedicado e exemplar.

Ao longo da sua vida, José Arruda impôs-se, pelas suas qualidades, numa Cidadania ativa, como lutador intrépido na defesa intransigente do direito à Reabilitação e Reintegração de todas as pessoas portadoras de deficiência.

Sublinhamos e homenageamos o Homem de Abril, que viveu na plenitude os valores da Democracia, em Liberdade e Solidariedade.

A Forma como colocou o seu saber e capacidades ao serviço da causa das pessoas com deficiência é um legado que fica indelevelmente marcado na ADFA, na República e na Sociedade Portuguesa.
A ADFA está a acompanhar a Família do Comendador José Arruda e logo que disponha de pormenores das últimas homenagens dos mesmos dará conhecimento à Comunicação Social.



3. Nota biográfica constante do sítio oficial da ADFA:

José Eduardo Gaspar Arruda nasceu em Movene (Moçambique), em 10 de Março de 1949.

Realizou o Curso Comercial na Escola Comercial de Lourenço Marques, actual Maputo,  capital da República de Moçambique (ex-colónia portuguesa), cidade onde viria a integrar a Equipa de Basquetebol, no Grupo Desportivo, onde desenvolveu uma promissora carreira de atleta, até 1971, altura em que foi obrigado a integrar o serviço militar obrigatório, até 1974.

Foi ferido em 1971, no decorrer da Guerra Colonial que se desenrolou entre 1961-1975, acidente do qual resultou a cegueira e a amputação do membro superior esquerdo.

Em 1973, durante a sua permanência no Anexo do Hospital Militar Principal [, em Lisboa], participou no movimento de apoio à criação do estatuto do deficiente das Forças Armadas, tendo posteriormente, em 1974, participado na 1ª Assembleia Geral da recente criada Associação dos Deficientes das Forças Armadas – ADFA, que surgiu na sequência da Revolução do 25 de Abril e que restituiu a Portugal a democracia, promoveu a descolonização e criou as bases do desenvolvimento do país à sua integração na União Europeia.

Fez a sua reabilitação na Fundação [Raquel e] Martin Sain [, em Lisboa,]   onde aprendeu competências de autonomia, apoio psicológico e social, referências fundamentais que moldaram a sua consciência e formação social, política e cívica, e marcaram de forma indelével todo o seu percurso e atitude como homem, como cidadão, como deficiente e como dirigente associativo.

Retornou a Moçambique, tendo regressado definitivamente a Portugal no início dos anos 80, período a partir do qual se envolveu terminantemente no movimento das pessoas com deficiência, nomeadamente na luta pelos direitos humanos, em organizações como a ADFA, a Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal – ACAPO, a Federação de Desporto para Deficientes, a Associação de Apoio aos ex-Combatentes Vítimas de Stress de Guerra – APOIAR e na Associação de Jovens Deficientes – AJOV. O seu percurso por estas instituições pautou-se pelo exercício da cidadania, na promoção da inclusão e justiça social das pessoas com deficiência.

No âmbito do seu percurso por estas instituições destacam-se as seguintes acções:

Entre Junho de 1981 e 1986 integrou Direcção Nacional da ADFA;

Em 1981 representou a ADFA na Comissão Nacional para o Ano Internacional das Pessoas com Deficiência declarado pela ONU.

Entre 1982 e 1983 presidiu a Comissão Instaladora da Federação de Desporto para Deficientes;

De 1987 a 1995 preside a Direcção Nacional da ADFA;

Entre 1989 e 1994 foi Presidente da Comissão Permanente para os Assuntos Europeus – CPAE, da Federação Mundial de Antigos Combatentes e Vítimas de Guerra – FMAC;

Em 1990 participou na organização da 1ª Conferência de Antigos Combatentes de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Portugal, que se realizou em Lisboa, incrementando uma política de cooperação;

Em 1991, enquanto Presidente da ADFA, a Associação dos Deficientes das Forças Armadas foi condecorada pela Cruz Vermelha Portuguesa com as suas, Cruz Vermelha de Benemerência e Cruz Vermelha de Mérito, pelo importante papel desempenhado na defesa, na reabilitação e na reintegração das vítimas de guerra;

Em 1994 integrou o Comité Preparatório da 6ª Conferência sobre Legislação, da FMAC, realizada em Lisboa;

De 1986 a 1994 participou em dois ciclos olímpicos, como Presidente da Mesa da Assembleia da Federação de Desporto para Deficientes;

Entre 1999 e 2004 presidiu aos destinos da ACAPO, tendo impulsionado novas medidas que foram determinantes para o terminus do sorteio, de cariz caritativo, que durante muitos anos predominou nesta organização, permitindo a assunção da integração de políticas sociais, aspecto essencial na defesa dos Direitos Humanos das pessoas com deficiência em Portugal;

Em 2004 foi distinguido pelo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, com a Ordem de Mérito, Grau de Comendador, pelo trabalho desenvolvido no âmbito da defesa dos direitos das pessoas com deficiência, na sequência do Ano Europeu das Pessoas com Deficiência;

Entre 2005 e 2007 foi Presidente da Mesa da Assembleia Geral da APOIAR;

Entre 2007 e 2015 presidiu novamente aos destinos da Direcção Nacional da ADFA, com a sua equipa dos Órgãos Sociais Nacionais, desenvolvendo um trabalho árduo da defesa dos direitos dos deficientes militares, tendo recuperado direitos anteriormente perdidos na área da assistência médica e medicamentosa e na isenção de impostos, tendo conseguido que as pensões dos deficientes militares fossem consideradas como indemnização;

Em 2008, enquanto Presidente da ADFA, a Associação dos Deficientes das Forças Armadas foi condecorada pelo Presidente da República, Professor Aníbal Cavaco Silva, como membro da Ordem da Liberdade, pelos relevantes serviços prestados “na permanente defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação do ser humano, da justiça social e da promoção da liberdade”, tendo também afirmado que “a dívida de gratidão e o preito de homenagem para aqueles que ficaram deficientes ao serviço da nação impõe prioridade no tratamento que lhe deve ser dispensado”;

Foi agraciado, na 26ª Assembleia Geral de 19-23 outubro de 2009, com a medalha de prata da FMAC pelos 20 anos de serviço da paz e cooperação internacional;

Coordena desde 2011 o Grupo de Trabalho da Europa do Sul, que integra os seguintes países: Albânia, Bósnia-Herzegovina; Bulgária, Croácia, Chipre, Eslovénia, Espanha, Grécia, Israel, Itália, Kosovo, Macedónia, Montenegro, Palestina, Portugal, Sérvia, e Turquia (22ª CPAE, realizada em Kiev, na Ucrânia, de 26 a 28 de maio 2011);

Em 14 de maio de 2014 foi condecorado a medalha da Defesa Nacional pelo Ministro da Defesa Nacional, Dr. Aguiar Branco.

No período de 1981 a 2015 manteve-se sempre ligado às actividades internas da ADFA e acompanhou e participou em diversas ações desenvolvidas pela FMAC.

Em 24 de fevereiro de 2016 foi agraciado por Sua Excelência o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

[Revisão e fixação de texto: LG]

3. Informação de última hora da página do Facebook da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas 

(...) Informamos que o corpo do presidente da ADFA, José Arruda, espera ser autopsiado amanhã 2ª feira. 28/01. 

Se a autópsia se concretizar amanhã, como está previsto, o corpo será colocado em Câmara Ardente no salão nobre da Sede Nacional da ADFA, na Av Padre Cruz ao Lumiar, Lisboa. 

Quando nos for comunicado a hora e dia do funeral, publicaremos nesta página e enviaremos nota informativa à Imprensa. Farinho Lopes. (...)
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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19415: In Memoriam (333): Auá Seidi (c.1935-2018), viúva do comerciante de Bambinca (c. 1925-2011), Rodrigo Rendeiro, natural da Murtosa, já falecido em 2011 (Leopoldo Correia, amigo da família, ex-fur mil, CART 564, Nhacra,Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65).

Guiné 61/74 - P19445: Em busca de... (293): O sobrinho do Marinheiro Radarista Ademar da Silva, natural de Matosinhos, pede que o ajudem a esclarecer as circunstâncias do desaparecimento de seu tio, em 24 de Junho de 1968, assim como do 2.º Sargento Ricardo Manuel Serpa Bettencourt, natural de Angra do Heroísmo (Artur Santos)

1. Mensagem de Artur Santos, enviada à Página do Facebook dos Combatentes do Ultramar do Concelho de Matosinhos:

O meu tio desapareceu em 1968 em Moçambique(*), o seu nome era Ademar da Silva (7329) e era Radarista, junto desapareceu também Ricardo Bettencourt de Angra do Heroísmo.
Eu gostava de saber se pode publicar esta foto de forma a ajudar-me a perceber o que aconteceu.

Desde já obrigado
Artur Santos


 Ademar da Silva está na fila de cima, é o segundo a partir da direita, de farda escura.

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2. Comentário do editor:

Consultadas as listas dos mortos em campanha, verifiquei que o camarada Ademar da Silva desapareceu em Angola e não em Moçambique(*) como refere o peticionário.
Solicitei ao Artur Santos outros elementos que tivesse em mão, tendo recebido a mensagem que se segue:

Bom dia. 
Desde já agradeço o seu interesse.
Os dados que tenho são os seguintes: 
Ademar da Silva era natural de Matosinhos;
À data do desaparecimento tinha 24 anos e estava a servir em Moçambique com a função de Radarista;
Penso ter estado embarcado no "Diogo Cao", "Príncipe" e "Nuno Tristão". 
Na foto está em cima, é o 2.º da direita para esquerda com farda diferente;
Penso que o numero dele era 7329. 
No dia 24/06/1968 foi dado como desaparecido juntamente com Ricardo Manuel Serpa Bettencourt 2.º Sargento de Angra do Heroísmo.

São os dados que me foram dados a conhecer. 
Obrigado e cumprimentos
Artur Santos

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3. Comentário do editor:

O nosso blogue não está vocacionado para tratar acontecimentos em Angola, e da tertúlia fazem parte poucos militares da Marinha, no entanto entre os nossos leitores há antigos combatentes deste TO que nos poderão dar alguma pista. Assim esperamos.

Lamentável, para mim pessoalmente, é constatar que este bravo camarada não faz parte do Memorial ao caídos em Campanha na Guerra do Ultramar do Concelho de Matosinhos porque não teve como os demais direito a uma sepultura no cemitério da sua freguesia.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19380: Em busca de... (292): Rui Manuel Soares de Campos Pessoa de Amorim, nascido em 1939, na Beira, Sofala, Moçambique, e jogagdor dos Juniores da AA Coimbra nas épocas de 1956 / 1958... Vamos realizar um próximo convivio, em data e local a marcar, de ex-jogadores da AA Coimbra (Fernando Natividade, Coimbra)

Guiné 61/74 - P19444: Blogpoesia (605): "Andorinhas de Lisboa", "Fugacidade da vida" e "As calçadas de Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Lisboa - Calçada de São Francisco
Com a devida vénia a Wikimedia Commons


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Andorinhas de Lisboa

Caravelas de saudade vão e vêm a Lisboa.
Poisam nos beirais. Soluçando de alegria de voltarem.
Ali moram os seus ninhos.
Abrigados da intempérie.
Ali nascem seus filhinhos
E aprendem a voar.

Em bandos pelas ruas, sobre os ares,
pintam o céu, com volutas harmoniosas,
infalíveis ao milímetro.
São o regalo dos alfacinhas enquanto giram pelos passeios.

Poisam alinhadas sobre os fios, cantarolando lenga-lengas.
Planam aprumadas pelas encostas,
desde o Castelo à Baixa.

E, pelas horas mortas da tardinha,
rasam o chão em cabriolas.
Parecem folhas secas desgarradas que o vento atroz despegou em lufadas, de rancor.

Alegres mensageiras da Primavera que só o Outono faz regressar às suas terras.

Ouvindo "Concerto Aranjuez" - II. Adagio - Pablo Sáinz Villegas - LIVE
Berlim, 25 de Janeiro de 2019
Jlmg

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Fugacidade da vida

No princípio é o infinito. Dá para tudo, até para a ociosidade.
Joga-se ao faz de conta. E, no fim, dá sempre certo.
É alto e pleno o monte das ilusões.

Fazemos tudo para ganhar e ser melhor que todos.
Sofremos com a derrota.
A vingança é uma companheira oculta e disfarçada.

Havemos de ganhar. Dê para o que der.

Sobram forças na algibeira. As pernas correm como gamos.
Os braços são hercúleos.

Adoramos uma refeição farta.
Bebemos até cair ao chão.
Insaciável nosso apetite.
Rebuscamos sabores.
Caimos na gulodice dos rebuçados.
Um para cada momento.

A pouco e pouco, tudo desvanece.
A memória vai esquecendo cada vez mais.
A vista enfraquece.
Vêm os óculos e as diopterias.
Ficam opacos os ouvidos.

Vestir as calças de pé já não é fácil, sem um encosto.
Pede-se que nos apertem os cordões dos sapatos.
Os pés ficam longínquos.

Os cabelos os levou o vento.
Impiedosamente.
Já não temos o desvelo de nossa mãe.

Cá por dentro se sente o fim à espreita.
E, rico ou pobre, é esta a nossa condição.
Ninguém lhe escapa.

Bar do Edecka em Berlim, 23 de Janeiro de 2019
14h58m
Jlmg

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As Calçadas de Lisboa

Vetustas e cansadas sobem e descem as calçadas de Lisboa.
O que elas sabem das horas mortas de ida e vinda do trabalho das gentes sãs e laboriosas.
Ruas estreitas e apertadas entre prédios com janelas e varandas.
Onde o sol pálido só entra enviezado e a sombra chove o dia todo.

Com lojas e oficinas que fazem de tudo.
Mercearias e cafés.
Quiosques e escaparates.
Tantos maços de cigarro que dizem matar quem os comprar e se vendem tanto.
As vitrinas que se vestem e despem ali à vista, sem vergonha.

Leitos mortos onde se deita a madrugada.
E cirandam os vadios que, há muito,
por desgraça ou por destino,
ficaram sem eira nem beira.

Tantas histórias elas guardam.
Lindas heranças que vão passando,
de pais a filhos e dão orgulho à vizinhança.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 22 de Janeiro de 2019
8h40m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19421: Blogpoesia (604): "Escuridão da mente", "As voltas da vida" e "Regressar a Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19443: Convívios (885): viva a Magnífica Tabanca da Linha: 9º aniversário, 41º encontro, 4 novos magníficos: António Andrade, António Ramalho, Constantino Ferreira e Raul Folques (Manuel Resende, o régulo adjunto)








 Pira nº 1 > António Andrade


Pira  nº 2 > António Fernando Ramalho


Pira  nº 3 > Constantino Ferreira D' Alva


Pira nº 4 > Raul Folques


Bolo do 9º aniversário

Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro >  24 de janeiro de 2019


Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Texto do régulo adjunto  da Magnífica Tabanca Linha, Manuel Resende, enviado em 25 do corrente:


Amigos e Camaradas

Ainda que ausente, o nosso Exmo. Comandante [. Jorge Rosales,]  não deixou de estar presente no apagar das velas do 9º Aniversário da Magnifica Tabanca da Linha.

Porque é da mais elementar justiça, devemos aqui chamar ao palco os nossos ilustres fundadores:

Jorge Rosales
José Manuel Matos Dinis
José Carioca
Mário Fitas
António Fernando Marques
António Graça de Abreu
José Caetano
Rogério Cardoso
Manuel Domingos (já falecido)

e agradecer-lhes terem permitido que ao grupo inicial todos nós nos juntássemos em comunhão, no cimentar da amizade que nos abraça desde os verdes anos em que nos conhecemos.

Este nosso 41º Encontro, que hoje se realizou, e que fotograficamente aqui fica gravado, não foi apenas o sucesso que repetidamente tem acontecido. Foi a garantia de que à sombra de Magnifica outros grandes momentos continuaremos a desfrutar.

VIVA A MAGNÍFICA!

Como já vem sendo hábito, em quase todos os convívios têm aparecido caras novas e este não foi excepção. Assim sendo vou só salientar aqui as fotos dos “Piras”, e para verem todas as fotos cliquem no link que se segue. Responderam à chamada e estiveram presentes 54 convivas. Ver mais fotos aqui.
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P19442: Parabéns a você (1568): Mário Serra de Oliveira, ex-1.º Cabo Escriturário da BA 12 (Guiné, 1967/68)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19439: Parabéns a você (1567): Fernando Macedo, ex-1.º Cabo Apont Art do 5.º Pel Art (Guiné, 1971/72)

sábado, 26 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19441: In Memoriam: os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte X: cap inf Óscar Fernando Monteiro Lopes (Porto, 1927 - Buela, Pangala, Angola, 1962)






1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia
(breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia)


Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972. Foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar.


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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19420: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte IX: alf inf Hélder Luciano Jesus Roldão (Marinha Grande, 1938 - Calengue, Angola, 1962)

Guiné 61/74 - P19440: Os nossos seres, saberes e lazeres (305): Viagem à Holanda acima das águas (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
Em tempo de viagem, com tanta excitação de moinhos e diques, pontes e bicicletas, este espectáculo assombroso que é a ligação entre as diferentes épocas e os seus arrobos arquitectónicos, vale a pena uma ruminação, dar umas voltas à corda do relógio e voltar atrás para rever o que fica indeclinavelmente visto, aqui se está por afeto, uma tentativa de conhecer a Holanda profunda e rever esta arte peculiar, o Século de Ouro mas também o génio moderno de Piet Mondriaan e outros mais.
Aqui fica a ruminação, ainda a viagem não ia a meio.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (9)

Beja Santos

O viandante faz uma pausa, não se pode ver um museu monumental como o Rijks por atacado, aprendeu a lição quando, umas décadas atrás, no tempo em que os museus italianos abriam das 8h30 às 14h, pespegou-se na fila da Galeria dos Ofícios, em Florença, vinha, imagine-se, determinado a ver todos aqueles séculos de pintura, entrou entre os primeiros, começou a querer devorar aquela belíssima pintura a partir dos primitivos, aí pelas 11 horas da manhã veio-lhe uma dor de cabeça monumental, saiu ofegante, daí por diante faz pausas de duas em duas horas, para isso mesmo também há as cafetarias e as lojas de venda, para distrair e os espaços monumentais para espairecer e os bancos para pegar num livro ou num jornal até ter ganas para recomeçar. Medita no que viu, na arquitetura de Leiden, no velho se faz novo, o que foi edifício de corporações, casa de prestígio, e algo parecido, reelabora-se em loja de comércio, dá gosto ver o movimento das embarcações, o holandês não perde pitada pela viagem fluvial, tem muitas vezes a casa com embarcadouro, é um indicador da sua civilização e cultura, como o dique, o moinho, as pontes, a bicicleta, o entrosamento arquitetónico do antigo com os arrojos da modernidade.




Quem acolhe o viandante faz questão de o levar a comer com a família, o núcleo que vive ali perto de Alphen, e assim aconteceu, um senhor que veio de Aragão, de nome Elias, aqui se instalou, casou e neste dia recebe filhas, nora e genro, está prometido um jantar que os portugueses apreciam, uma boa paella, até o vinho vem de Espanha, vamos beber Rioja. Conversa animada, até porque os holandeses são afoitos para o convívio, e naquela noite dois interessados na ciência política, depois de falarem no espectro holandês que tem cerca de quarenta partidos políticos estavam mortinhos de curiosidade por conhecer uma coisa que na imprensa do país dava por nome de geringonça, que termo tão arrebicado, como é que se estava a ter o tal relativo sucesso entremeando a austeridade com o desenvolvimento, explica lá tu que vens dessas berças, o viandante deu as suas opiniões, depois de ter comido e repetido paella, e sempre com o seu copinho de Rioja bem à mão.


O Museu Kröller-Müller está atravessado ao viandante, sabe que não tem condições mínimas para lá voltar, veio por uma escassa semana e os restantes dias estão programados. Aquela coleção ficou-lhe no goto, o diálogo entre a Natureza, aquele edifício derramado, aquela entrada com escultura deslumbrante de obras contemporâneas como este Archipenko, um ucraniano que fez furor em Paris e Nova Iorque, impôs à sua maneira o risco cubista nos seus trabalhos, foi um influenciador por gerações. A colecionadora dera muito apreço aos impressionistas e valorizava a obra de Paul Cézanne, um génio que traçava caminho para os novos rumos da pintura, como se pode ver nesta paisagem, uma estrada a caminho de uma lagoa debaixo da ponte. Enfim, medita o viandante para os seus botões, ainda a procissão vai no adro, há o propósito de repetir.



Os jardins do museu não têm paralelo com tudo o que o viandante já viu, tudo bate certo, entre a escultura do século XIX até à do século XXI. Veja-se este encantador local de arte bruta de Dubuffet, dá pelo nome de “Jardim de esmalte”, que grande beleza, há esculturas que remetem para animais e quando o viandante viu aquela mulher reclinada de Maillol lembrou-se de uma citação um tanto hilariante, um ministro da cultura francês procurou-o como encomenda de uma escultura destinada a invocar a liberdade e a justiça, o mestre estava distraído e depois respondeu ao ministro: “Já sei o que é que vocês querem, uma das minhas esculturas de uma mulher bem anafada, com nádegas gordas e mamas grandes”.




Há lá uma vizinha no prédio de Alphen que faz questão que o viandante a visite, há mesmo chá e biscoitos, pede-se licença para por ali cirandar, e muito mais que as cópias de móveis antigos, festeja-se nesta imagem o gosto pelo florido, há o chavão de que a Holanda é o país das tulipas, mas veja-se o carinho, o viandante deu consigo a pensar nas azáleas açorianas, sentiu-se enternecido pelos arranjos de várias matizes, pumba, tira-se fotografia!


As igrejas holandesas, já ficou dito, capricham pela sobriedade, a Reforma, o calvinismo e o presbiteranismo geraram severidade e grande contenção nos elementos religiosos. Daí a surpresa deste vitral, é obra recente em monumento do passado, torna o templo mais quente, mais acolhedor, o viandante não resistiu a captar o vistoso colorido. Está na hora de regressar ao Rijks de Amesterdão, vamos ao trabalho.


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19418: Os nossos seres, saberes e lazeres (304): Viagem à Holanda acima das águas (8) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19439: Parabéns a você (1567): Fernando Macedo, ex-1.º Cabo Apont Art do 5.º Pel Art (Guiné, 1971/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19434: Parabéns a você (1566): João Alberto Coelho, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19438: Agenda cultural (669): As Rotas da Escravatura, série de 4 episódios na RTP 1: 2ª feira, dia 28/1/2019, 3º episódio > 1620-1789: Do Açúcar à Revolta




Na primeira década do séc. XVI, um em cada dez habitantes de Lisboa era negro, ou seja,  de origem africana, sem contar com os seus descendentes... Igual proporção foi encntrada em outras cidades da península ibérica, como Sevilha, Barcelona, Málaga... Fotogramas do 2º episódio (com a devida vénia)




1. A história da escravatura do séc. VII até aos dias de hoje: documentário em 4 episódios, na RTP1... Absolutamente a não perder. Trata-se dum série documental francesa, de que a RTP é umas das produtoras... Levou mais de cinco anos a fazer, e teve a colaboração de quatro dezenas de especialistas.

Pode ler-se no "Público", de 21 de janeiro de 2019, o seguinte sobre os realizadores da série:

(...) Os três autores, Daniel Cattier, Juan Gélas e Fanny Glissant, têm ligações ao tema em causa. Daniel Cattier, filho de pai belga e mãe zimbabueana, tem colocado África e a exploração das questões de identidade no centro da sua filmografia, em que se inclui o documentário animado Kongo: Grand Illusions​.​ Juan Gélas tem no currículo Noirs de France, série documental sobre a História da população negra de França. Já Fanny Glissant, descendente da relação entre uma escrava e o seu proprietário, tem aqui a sua estreia na realização. Há também segmentos animados, uma bem-vinda companhia para os depoimentos recolhidos e para as imagens de arquivo, a cargo de Olivier Patté.(...) 

(...) No segundo episódio, 1375-1620: Por Todo o Ouro do Mundo, o foco são os portugueses. São entrevistados, entre outros, investigadores e historiadores como António de Almeida Mendes, da Universidade de Nantes, Isabel Castro Henriques, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Filipa Ribeiro da Silva, do Instituto Internacional da História Social, em Amesterdão, bem como Izequiel Batista de Sousa, da Universidade de Reunião, que vem de São Tomé, uma ilha muito importante nesta parte da história. Ao longo das próximas duas semanas, analisar-se-ão as plantações de açúcar e algodão, os Estados Unidos e os tempos em mudança que trouxeram com eles a abolição. (...) 


As Rotas da Escravatura

2º episódio disponível "on ine" (durante 7 dias, desde 21 de janeiro de 2019)  >

1375-1620: Por Todo o Ouro do Mundo, 52m

Documentários - História

RTP 1 > 2ª feira, 21 janeiro de 2019

Sinopse:

No século XIV, a Europa abre-se ao mundo e apercebe-se de que se encontra à margem da mais importante zona de trocas comerciais do planeta.

Este mapa, o "Atlas catalão", aguça o apetite de conquistas dos europeus. Mapa dos ventos, o Atlas guia os marinheiros como viajantes por terra firme. Mapa político faculta informações sobre as forças em presença. Por fim, como mapa económico, indica as rotas comerciais com destino a África e aos seus recursos.

Um pequeno reino é o primeiro a lançar-se ao assalto das costas africanas: Portugal. Na sua esteira, desenha-se uma nova rota da escravatura.


Próximos episódios:





1620-1789: Do Açúcar à Revolta

A escravatura moldou a nossa história. Na Ilha de São Tomé, os portugueses inventaram um modelo económico de rentabilidade inigualável: a plantação de cana-de-açúcar.


No século XVI, toda a Europa procura imitá-los. Uma demanda pelo lucro que vai mergulhar todo um continente no caos e na violência. Perto de 13 milhões de africanos são apanhados nas redes da escravatura e levados para o Novo Mundo onde ingleses, franceses, espanhóis e holandeses esperam tornar-se ricos... imensamente ricos. Mais viciante do que a pimenta ou a canela, o açúcar alastra pela Europa como um rastilho de pólvora. A partir do séc. XVII, o alimento raro e dispendioso faz virar as cabeças.


Episódio 3 > 28 Jan 2019




1789-1888: As Novas Fronteiras da Escravatura


Em 1790, o tráfico negreiro atinge o seu zénite. Mais de 100 000 cativos são deportados todos os anos.

No advento do séc. XIX, a violência dos negreiros dita a condenação do tráfico transatlântico. Doravante, a Europa terá de encontrar um meio de enriquecer sem recorrer a este tráfico, agora, imoral.

Nos anos que se seguem à proibição do tráfico, os europeus vão fazer recuar as fronteiras da escravatura.

O Brasil guarda nele a herança dos últimos anos da escravatura [, que só será abolida em 1888, no grande país sul-americano...].

No momento em que o comércio de escravos é proibido, uma segunda vaga de deportações de cativos chega à Baía do Rio de Janeiro.

Com mais de dois milhões de escravos desembarcados no séc. XIX, o Rio tornou-se o maior porto de tráfico do mundo.


[... Mas a escravatura não se extinguiu: haverá ainda 40 milhões de escravos, em todo o mundo,  segundo as estimativas das Nações Unidas.]

Episódio 4 > 5 Fev 2019

Guiné 61/74 - P19437: PAIGC - Quem foi quem (12): Rui [Demba] Djassi, nome de guerra, Faincam (1938-1964), antigo comandante da região de Quínara, hoje "Herói da Pátria"







Citação:
(s.d.), "Relatório", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40094 (2019-1-24)  (Com a devid avénia...)

Casa Comum > Instituição:Fundação Mário Soares
Pasta: 04609.056.036
Título: Relatório
Assunto: Relatório remetido a Amílcar Cabral, Secretário Geral do PAIGC, por Rui Djassi (Faincam), acerca da repressão da população daquela zona pelas tropas coloniais.
Data: s.d.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1962 (interna).
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos



Transcrição / revisão  / fixação de texto: LG


Camarada Cabral:

A situação está difícil. O povo não pode fazer revolta em grande parte; porque serão massacrados como acontece no Cubisseque [península de Cubisseco, a sudoeste de Empada, vd. carta de Catió].

E de maneira [que], passando mais dias, nem dentro  [, no mato,]  podemos estar .

A lavoura está quase parada,  porque se te virem entrar no mato é logo tiro. Para trazer-nos comida é difícil.

A dificuldade surge dia a dia.

O número dos mortos pode  alcançar 12.

Do camarada Djassi (FAINCAM)



1. O que terá acontecido ao Rui Djassi (Faincam)? - pergunta o nosso editor Jorge Araújo (*)


O seu nome deixou de constar na estrutura da «guerrilha», então aprovada no Congresso de Cassacá, em 17 de fevereiro de 1964,  sendo substituído por Guerra Mendes [que irá morrer em combate, em 9 de maio de 1965, em N'Tuane (Antuane)], conforme se pode ler no preâmbulo das  decisões tomadas então tomadas (*)

 (...) "Todos os responsáveis e militantes do Partido sabem que a zona 8 [região de Quínara]  sofre ainda as graves consequências duma direcção que não esteve à altura das suas responsabilidades e ainda da acção nefasta e dos erros cometidos por alguns responsáveis dessa zona. 

Depois do nosso Congresso, os camaradas Arafam Mané e Guerra Mendes, encarregados de melhorar urgentemente a situação da zona 8, fizeram, juntamente com outros camaradas, o melhor que puderam para cumprir a palavra de ordem do Partido. Mas esses camaradas mesmos são os primeiros a reconhecer que as coisas não vão muito bem na "zona 8", onde a situação é agravada pelo desaparecimento do responsável Rui Djassi, cujo paradeiro ninguém conhece, embora seja certo que está vivo".(...) 


E mais se acrescenta (*):

(...) "Nestas condições, todo o trabalho feito na zona 11 e nas outras regiões do país, está a ser prejudicado pela situação má em que se encontra a zona 8.

Por outro lado, a experiência feita no norte do país em que todas as zonas se encontram sob a chefia e responsabilidade dos camaradas Osvaldo Vieira e Chico Mendes (Té) mostra que é possível fazer o mesmo no sul, enquanto se prepara a nova fase da nossa luta. Quer dizer, todas as Zonas do Sul (11, 8 e 7) devem ficar sob a direcção centralizada dum pequeno número de responsáveis, directamente ligados ao Secretário-Geral do Partido. É portanto necessário fazer uma reorganização da direcção do Partido, da luta no sul do país, com a maior urgência possível.

No Ponto I.8, lê-se (*):

(...) " Os ex-responsáveis de zonas, camaradas Rui Djassi (Faincam) e Domingos Ramos (João Cá) devem vir imediatamente ter com o Secretário-Geral do Partido, passando as suas funções respectivamente a Guerra Mendes e Abdoulaye Barry"  (...).

Terá sido o Rui Djassi mais um "erro de casting" do Abel Djassi (aliás, Amílcar Cabral) ? É possível, mas o líder histórico do PAIGC também não tinha muito por onde escolher... De qualquer modo, um, Rui Dkassi (Faincam) e outro, Domingos Ramos (João Cá), desapareceram cedo, muito antes do "pai da Nação"... Um em 1964, outro em 1966.


2. O Bobo Keita, sobre o seu camarada Rui Djassim  diz o aegyuinte  no seu "livro de memórias" (in Norberto Tavers de Carvlaho - De campo em campo: Conversas com o caomandante Bobo Keita,edição de autor, Porto, 2011, pp. 237/238):

"Parte V - Guerrilheiros caídos no campo da honra (....)

Rui Djassi

O Rui  Djassi comandava toda a zona de Quínara. Tinha a sua base em Gampará. Cheguei a passar por aí quando íamos para o Congresso de Cassacá em 1964 [, de 13 a 17 de fevereiro de 1964; na região de Quitafine e não na ilha do Como, que na altura estava sob ataques terrestres, navais e aéreos das NT, no decurso da Op Tridente].

Na altura, pela maneira como se comportavam na base, notava-se logo que em situação de emergência, havia um perigo certo. Só quem não tivesse nenhuma noção de estratégia e de defesa poderia aceitar aquela situação. Os camaradas procediam a rituais animistas, cantando, dansando, bebendo o vinho do cibe [ou vinho de palma].

A base vivia num constante ambiente de frenesim. Foi assim que foram surpreendidos pela tropa portuguesa. Os tugas lançaram então a ofensiva. Escolheram um momento onde o rio estava na sua fase de plena enchente. O rio separava a base duma grande mata que se situava do outro lado da base. De forma que, quando houve o ataque, apanhados de surpresa, muitos camaradas tentaram ganhar o rio para atravessar e porem-se a salvo na outra margem.

O Rui Djassi tentou os mesmos gestos mas acabou pro morrer afogado no rio. O seu corpo desapareceu nas águas desse rio e nunca mais foi encontrado. Isto aconteceu pouco depois da realização do Congresso de Cassacá, que teve lugar em fevereiro de 1964".



Em suma, tudo indica que o Rui [Demba]  Djassi morreu "sem honra nem glória", contrariamente ao Domingos Ramos.  Ambos são, todavia,  "heróis da Pátria", e existe a sua "campa" (, embora não tenha sido encontrados os seus restos mortais) no Memorial aos Heróis da Pátria, junto ao Mausoléu Amílcar Cabral no interior da Fortaleza de São José de Amura, em Bissau. Lá consta qye nasceu em 1938 e morreu em 1964.


3. E a  propósito do Rui Djassi, recupera-se aqui  o comentário do nosso camarada Manuel Luís Lomba, também ele estudioso da história do PAIGC, feito no poste P13787 (**), onde refere:

"O Rui Djassi era cobrador da Farmácia Lisboa, foi incorporado no Exército Português e desertou como furriel miliciano  para ir com o Amílcar Cabral e mais 29 para a China, tirocinar 'guerra revolucionária' e foi o 1.º a concluir tal formação. 

Residiu na estrada de Stª. Luzia e, quando surgiu na guerra, o pai ofereceu recompensa a quem o liquidasse. Foi o 1.º comandante de Quínara e terá sido o responsável do assassinato do irmão do Manuel Simões [, o Januário Simões], ora evocado por falecimento. Foi o comandante dos ataques a Tite, em Janeiro e Fevereiro de 1963, currículo que o terá safado das penas de morte decretadas por Amílcar no I Congresso de Cassacá, na altura da Operação Tridente". (*)


4. Há vários Djassi no PAIGC,o que pode levar a confundir quem trata a informação do Arquivo Amílcar Cabar (***):

(i) o próprio Amílcar Cabral usava como nome de guerra "Abel Djassi"

(ii) o Osvaldo Vieira tinha, como nome de guerra, "Ambrósio Djassi";

(iii) Leopoldo Alfama era o Duke Djassi (, atuava na região do cacheu);

(iii) aão sabemos qual era o verdadeiro do Rui Djassi, que se assina sempre Djassi (FAINCAM).

(iv) aparace um documento, no Arquivo Amílcar Cabral, datado de 24 de junho  1965, em Madina do Boé, e assinado por Djassi, que  não pode ser atribuído ao Rui Djassi (morto em 1964) mas simn ao Osvaldo Vieira (Ambrósio Djassi); aliás, não é só um documento, são vários, dando o Rui como comandante da base do Boé.

Numa revista académica brasileira, ODEERE (que  "publica trabalhos inéditos e originais desenvolvidos em torno das discussões sobre etnicidade, relações étnicas, gênero e diversidade sexual em diferentes tempos e espaços e abordando diversos grupos sociais, tais como indígenas, negros, africanos, mulheres etc."), encontrámos uma referência a Rui Djassi.

Mais exatamente à sua sobrinha, Nhima Muskuta Turé, nascida em Gampará (Fulacunda, Região de Quínara), em 1954...  Nasceu na "luta de libertação", era filha de combatentes, foi recrutada ("contra a sua vontade"), aos nove anos, pelo seu "tio Rui Djassi". Teve uma instrução rudimentar, foi enfermeira do PAIGC. Foi entrevistada em Bissau em 14/10/2009, era então enfermeira-chefe do centro de saúde de Belém, Bissau (****)-

5. Recorde-se, por fim,  que o Rui Djassi fez parte da segunda leva de militantes do PAIGC que foram enviados para a China, no 2.º semestre de 1960, para formação político-militar como futuros comandantes.

Rui Djassi fazia parte destes 10 futuros destacados dirigentes do PAIGC, hoje todos desaparecidos, uns em combate outros na "voragem da revolução" (com exceção de Manuel Saturnino da Costa)… Aqui vão, mais uma vez os seus nomes, por ordem alfabética:

(i) Constantino dos Santos Teixeira (nome de guerra, “Tchutchu Axon”);

(ii) Francisco Mendes (“Tchico Tê”) (1939-1978);  oficialmente terá morrido de acidente na estrada Bafatá-Bambadinca; mas também há ainda suspeitas de assassinato, em 7/6/1978; foi primeiro ministro e chefe de Estado;

(iii) Domingos Ramos: morto, em combate, em Madina do Boé, em 11 de Novembro de 1966; tem nome de rua em Bissau; foi camarada do nosso Mário Dias no 1º curso de sargentos milicianos  (CSM) realizado na Guiné, em 1959;

(iv) Hilário Rodrigues “Loló”: , comissário político, morreu em 1968, num bombardeamento da FAP, no Enxalé;

(v) João Bernardo “Nino” Vieira (1939-2009): natural de Bissau; ex-Presidente da República; nome de guerrra, "Marga";

(vi) Manuel Saturnino da Costa, o único que ainda é vivo: será 1º ministro entre 1994 e 1997, num dos piores governos do PAIGC, na opinião do nosso saudoso Pepito (1949-2014);

(vii) Pedro Ramos: fuzilado em 1977, às ordens de ‘Nino’ Vieira, ao que parece, no âmbito do chamado "caso 17 de Outubro"); era irmão do Domingos Ramos;

(viii) Rui Djassi: comandante da base de Gampará, n aregião de Quínara, morreu por volta de fevereiro de 1964, por afogamento na sequência de um ataque das tropas portuguesas;  tem nome de rua em Bissau;

(ix) Osvaldo Vieira (1938-1974=; morreu, por doença, em 1974, num hospital da ex-URSS, e com a terrível suspeita de ter estar implicado na conjura contra Amílcar Cabral (ironicamente repousam os dois, lado a lado, na Amura); era também conhecido como "Ambrósio Djassi" (nome de guerra); tem nome de rua em Bissau; o aeroporto internacional também ostenta o seu nome;

(x) Vitorino Costa (morto, numa emboscada n o 2º semestre de 1962, antes do início oficial da guerra, por um grupo da CCAÇ 153 / BCAÇ 237, comandado pelo Cap Inf José Curto; a sua cabeça foi depois levada para Tite, como "ronco"; era irmão de Manuel Saturnino da Costa: e terá sido o primeiro revés de Amílcar Cabral, no plano militar; tem nome de rua em Bissau.
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 24 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19433 (D)outro lado do combate (42): A nova estrutura político-militar do PAIGC decidida no I Congresso, de Cassacá, em 17/2/1964: os líderes do 1º Corpo de Exército Popular (Jorge Araújo)


(***) Último poste da série > 25 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19232: PAIGC - Quem foi quem (11): Lourenço Gomes, era uma espécie de "bombeiro" para situações difíceis ... A seguir à independência era um homem temido, ligado ao aparelho de segurança do Estado (Cherno Baldé, Bissau)

 Vd. postes anteriores da série: 

3 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6102: PAIGC - Quem foi quem (10): Abdú Indjai, pai da Cadi, guerrilheiro desde 1963, perdeu uma perna lá para os lados de Quebo, Saltinho e Contabane (Pepito / Luís Graça)

7 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4473: PAIGC - Quem foi quem (9): Luís Cabral, entrevistado por Nelson Herbert (c. 1999)

4 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4460: PAIGC - Quem foi quem (8): O Luís Cabral que eu conheci (Pepito)

1 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4447: PAIGC - Quem foi quem (7): Luís Cabral (1931/2009) (Virgínio Briote)

12 de janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2435: PAIGC - Quem foi quem (6): Pansau Na Isna, herói do Como (Luís Graça)

12 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2343: PAIGC - Quem foi quem (5): Domingos Ramos (Mário Dias / Luís Graça)

18 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2190: PAIGC - Quem foi quem (4): Arafan Mané, Ndajamba (1945-2004), o homem que deu o 1º tiro da guerra (Virgínio Briote)

6 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2159: PAIGC - Quem foi quem (3): Nino Vieira (n. 1939)

30 de setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2143: PAIGC - Quem foi quem (2): Abílio Duarte (1931-1996)

30 de setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2142: PAIGC - Quem foi quem (1): Amílcar Cabral (1924-1973)

(****) Vd, Patricia Alexandra Godinho Gomes  - "As outras vozes”: Percursos femininos, cultura política e processos emancipatórios na Guiné-Bissau.  ODEERE -  Revista do Programa de Pós-Graduação em Relações Étnicas e Contemporaneidade (PPREC), UESB . Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Brasil