segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20407: Agenda cultural (717): Homenagem a Samuel Schwarz: Belmonte, Museu Judaico, 19 e 20 de dezembro de 2019





Cartaz do programa de homenagem que Belmonte vai prestar, nos dias próximos dias 19 e 20, ao engenheiro de minas, arqueólogo, bibliófilo, poliglota, escritor,  investigador e historiador da comunidade judaica portuguesa,   Samuel Schwarz (Zgierz, Polónia, 1880 - Lisboa, 1953), "cidadão do mundo, português por opção", e que foi, além disso:

(i)  avó dos nossos amigos Pepito  (1949-2014)  [, tem 230 referências no nosso blogue] e João Schwarz da Silva [, autor do sítio "Des Gents Intéressants"];

(ii) pai da nossa "Mulher Grande", Clara Schwarz  (1915-2016) [, tem meia centenas de referências no nosso blogue];

(iii)  e bisavô (paterno) da nossa jovem amiga e grã-tabanqueira Catarina Schwarz que vive em Bissau.

O cartaz chegou-nos por email de João Schwarz da Silva, membro da nossa Tabanca Grande, nº 768, desde 30 de março de 2018. (Recorde-se que o João nasceu em Alcobaça em 1944, e foi para a Guiné pela primeira vez com 4 anos. Depois da morte do seu avô Samuel Schwarz em Lisboa , em 1953, voltou para Bissau onde frequentou o Colégio Liceu Honório Barreto, onde a mãe era professora,  até à sua vinda para a universidade, em Lisboa, em 1960.)

Informações adicionais:

Museu Judaico de Belmonte:

Aberto de Terça a Domingo
Horário de Inverno  (15 de Setembro a 14 de Abril)
das 9h00 às 12h30m e das 14h00m às 17h30m

Sinagoga de Belmonte:

Rua da Fonte da Rosa 41, 6250 Belmonte


Na sua página na Net, "Des Gens Intéressants", João Schwarz, membro da nossa Tabanca Grande, tem uma detalhada, extensa  e bem documentada nota biográfica, em francês, com alguns excertos em português,  sobre o seu querido avô, Samuel Schwarz.  (Na foto acima, que reproduzimos com a devida vénia, podemos ver avô e neto, em Lisboa, em 1952, um ano antes de o Samuel morrer ; na época, ele vivia no 1º andar do nº 118, da Av António Augusto de Aguiar.)

O João vive, de há muito,  em Paris. Mandou-me o programa de homenagem ao seu avô, dizendo-me que gostaria muito de me ver por lá..., em Belmonte.  Eu, também, gostaria, mas vai-me ser impossível deslocar-me a Belmonte, nessa data,. por compromissos de agenda: tenho de acolher os outros avós da minha neta, que acaba de nascer, e que vêm do Funchal passar o Natal connosco. Desejo ao João um feliz regresso a Belmonte, terra com a qual o seu avô tinha uma relação muito especial, única. Afinal, foi ele quem descobriu a comunidade cripto-judaica de Belmonte, nos anos 20 do século passado.

E,  a propósito, relembro algumas das conversas que tive o privilégio de manter, na Tabanca de São Martinho do Porto,  com a saudosa mãezinha do Pepito, do João e do Henrique, a Clara Schwarz, que foi, durante anos, a decana da nossa Tabanca Grande. Como os nossos leitores sabem, a nossa querida Clara morreu em 2016, com 101 anos: aliás, "não morreu, simplesmente desistiu de fazer anos"... Era uma grande senhora e tinha pelo pai um amor incondicional, uma admiração imensa... Não posso deixar de reproduzir o comentário que ela escreveu, em janeiro de 2011, na véspera de fazer 96 anos (!), a respeito do seu pai, Samuel:

 "Como não sentir uma forte emoção, ao dar-me conta de que o meu pai é ainda hoje lembrado e os seus trabalhos continuam a ser editados, passadas que são quase seis décadas depois da sua morte?

"Recordo-o como uma personalidade forte e empreendedora, um homem de uma cultura vastíssima, um hebraísta reconhecido, um militante sionista, que falava correntemente nove línguas e possuía uma valiosa biblioteca. Engenheiro de minas de formação, era também um estudioso e um escritor, tendo feito a primeira tradução, directamente do hebraico para o português, do 'Cântico dos Cânticos' de rei Salomão.

"Para além de 'Os Cristãos-Novos em Portugal no Século XX', uma investigação sobre a comunidade marrana da vila de Belmonte e os seus rituais secretos, o seu livro mais conhecido, publicado em 1925 e de que aqui se apresenta a tradução em língua francesa, cito de memória dois outros escritos seus: a monografia 'As inscrições Hebraicas em Portugal' e o livro editado postumamente sobre 'A Moderna Comunidade Israelita de Lisboa'.

"Graças a ele, foi possível recuperar a Sinagoga de Tomar, a única que se conserva posterior ao decreto da expulsão dos judeus de Portugal, de Dezembro de 1496, mandada construir por Henrique, o Navegador, no século XV. Adquiriu-a, com o intuito de nela se vir a estabelecer um Museu Luso-Hebraico e, nesta condição, doou-a em 1939 ao Estado português.

"Lembro-me dele como uma pessoa tolerante, que com todos se relacionava, sem distinção de raça, cor da pele ou religião, um homem de uma grande bondade, mas sem disso fazer qualquer alarido. Soube, por exemplo, ainda há pouco tempo, com total surpresa, lendo o livro 'Mémoires', recentemente publicado em França, da autoria do irmão dele, o pintor e escultor Marek Szwarc, que foi o meu pai que lhe sugeriu a ida para Paris e o ajudou materialmente nos primeiros tempos da vivência nesta cidade.

"Nascido numa família de judeus polacos, sionista convicto, o seu sonho era o de poder um dia ir viver para Israel. Algo que se transformou numa intenção firme, sobretudo após o falecimento da mulher. A doença que o atingiu nos últimos anos da vida, impediu-o infelizmente de concretizar este desejo.

"Em 1953, estando junto dele com os meus dois filhos mais velhos [, Henrique e João]
, perdi-o para sempre. Ele foi para mim também um irmão, um amigo e um querido mestre, alguém por quem tinha uma adoração profunda e que permanecerá para sempre na minha memória.

"Clara Schwarz da Silva."


[Fonte: Página de João Schwarz >  Des Gens Intéressants >  Samuel Schwarz ] (com a devida vénia...)]
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P20406: Parabéns a você (1717): Herlânder Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor:

Último poste da série de 1 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20401: Parabéns a você (1716): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)

domingo, 1 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20405: Escritos do António Lúcio Vieira (5): Alvorar

António 
Lúcio 
Vieira

[ex-fur mil, CCAV 788 / BCAV 790,
Bula e Ingoré, 1965/67; 
natural de Alcanena;
vive em Torres Novas; 
jornalista, poeta, 
dramaturgo, encenador; 
autor, entre outros, do livro "25 poemas de dores e amores", vencedor da primeira edição do Prémio Literário Médio Tejo Edições, 2017;
membro da Tabanca Grande, nº 794] 


ALVORAR

era quase alvor a liberdade
era quase a vida quase a voz
era um rio em cheia quase foz
brandos ventos feitos tempestade

e foi alevantado este meu povo
gente viva, erguida, agigantada
era um tempo velho feito novo
tempo aceso luz na alvorada


assim nasceu esta ânsia de nascer
de novo neste chão por amanhar
chão regado a pranto e a sofrer
chão de medos, chão de tanto esperar


e das noites algemadas de morrer
e das horas avisadas de acordar
que eu sou do povo que então quis saber
quanto de si o povo sabe dar

e sou também desta terra feita
de cravos de soldados e canções
da pátria onde me deito e onde se deita
a gesta que moldou mil gerações


e sou o filho e sou também irmão
dessa gente que já vive na memória
sou da noite de escrever libertação
com a pena do poeta coração
e as musas de inventar a nova história

e era assim o dia a madrugar
no sangue e no fio de uma espada
esperança tanto sonho embainhada
olhos tanta noite a vigiar

e as lágrimas que correram tanto mar
e as vozes que rasgaram tanta estrada
e as armas onde a flor se viu plantada
não eram já as armas de matar
que o povo tem no peito e na raiz
a seiva da floresta libertada

aqui e era Abril e era amar
estava a renascer o meu país
quando se alvorou a madrugada


                                                                     António Lúcio Vieira           
                                                              25-4-1999 - 25 anos
                                                                                                                                   
                          
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Nota do editor:


Guiné 61/74 - P20404: Agenda cultural (716): lançamento do novo livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial": Beja, Biblioteca Municipal, dia 10 de dezembro, 3ª feira, às 21h30



José Saúde, ex.fur op esp / ranger, CCS / BART 6523 (Nova Lamego / Gabu, 1973/74) tem mais de 170 referências no nosso blogue.

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Nota do editor:

Último poste da série >  27 de novembro de 2019  > Guiné 61/74 - P20387: Agenda cultural (715): Mesa redonda sobre “Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais”, organização do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL) e do Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-ULisboa), hoje dia 27 de Novembro, pelas 17h00, com a participação de Mário Beja Santos

Guiné 61/74 - P20403: Blogpoesia (648): "O dia a nascer", "O comboio em andamento..." e "Estuário de poesia", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


O dia a nascer

Grande espectáculo gratuito ao nascer de cada dia.
Suavemente, vai clareando o céu.
Deixando atrás o negrume e o silêncio da madrugada.
Quando os espíritos se banquetearam, a bel-prazer, no reino enigmático da escuridão.
Vem a aurora radiante de luz apaziguadora.
Anunciando a chegada triunfal do astro-rei.
Semeador de vida, com a prodigalidade real e soberana, que não esquece nem discrimina.

Ressurge em nosso espírito, de novo, a vontade de viver, apesar das tormentas que assolam e varrem a Terra.
Sua lei é a esperança que tudo reverdece.
Com a sensação interna e geral de que não nascemos por mero acaso.
Há uma meta que nos puxa e galvaniza...

Ouvindo Schubert
Berlim, 30 de Novembro de 2019
8h57m
Jlmg

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Comboio em andamento…

Parece que viemos distraídos.
Sem dar conta, quase passou a vida e a sensação é que nada se fez.
Foi tudo trivial.
Cada dia igual ao de ontem.
Mediania…
Excepto no errar.
Se esqueceu a exaltação da infância e juventude, possibilitada pela solicitude de nossos pais.
Quando o sonho era o estado dominante da consciência.
Depois, a rotina do ganha-pão de cada dia.
O infindável rosário da prestação da casa e carro.
O insaciável IRS, um Adamastor, devorador dos subsídios de cada ano.
A sensação de perigo a ameaçar em cada canto.
O medo do infortúnio e da falta de saúde nossa e dos nossos queridos.
Não fosse a fé em Deus, sempre presente e o restante lenitivo da aposentação, já com netos a nosso redor, a vida seria um mar tormentoso indesejável…

Berlim, 26 de Novembro de 2019
9h56m
Jlmg

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Estuário de poesia

Desagua em mim um estuário de poesia.
Sulcos que a magnanimidade da Natureza traçou delicadamente no cair da tarde da minha existência.
Prenda surpreendente. Brinde imerecido mas muito bem-vindo.
Um pôr-do-sol luminoso depois da batalha atribulada que tive de travar.
Um clarão que desfez todos os negrumes da luta.
Me compraz em cada dia a visita, sempre inesperada, dum poema.
Lampejos fulgurantes que cintilam quando menos se espera.
Sensações que só a graça do divino pode explicar…

Ouvindo Schubert
Berlim, 25 de Novembro de 2019
8h52m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20377: Blogpoesia (647): "O corvo negro", "O encanto da vitória" e "Abram clareiras!...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P20402: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXXI: Luís Filipe Rei Vilar (Cascais, 1941 - Susana, região de Cacheu, Guiné, 1970)








1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia).


Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à direita], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

Morais da Silva foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar. É membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 784, desde 7 do corrente.

Sobre o infortunado Cap Cav Luís Rei Villar e as circunstâncias (nunca totalmente esclarecidas) da sua morte, temos 9 referências no nosso blogue. Há uma rua com o seu nome na sua terra natal.



Guiné > Região do Cacheu > Susana > CCAV 2358 (1969/71) > Natal de 1969 > Último Natal e provavelmente a última ou uma das últimas fotos do Cap Cav Luís Filipe Rei Vilar (1941-1970) (, o segundo a contar da esquerda), comandante da CCAV 2538 / BCAV 2876, unidade de quadrícula de Susana (1969/71), que morreu, em combate, em circunstâncias que nunca foram cabalmente esclarecidas pelo Exército, na sequência de uma operação contra o PAIGC, a Op Cassum [ou Op Selva Viva ?), na fronteira com o Senegal, no dia 18 de Fevereiro de 1970. [O Perintrep nº 08/70 refere a Op Cassum, e diz que a morte ocorreu às 14h30.]

Nesse dia ainda foi evacuado, de Susana para Bissau, para o HM 241, de heli (pilotado pelo nosso camarada Jorge Félix). O malogrado oficial foi substituído pelo Cap Cav Rogério da Silva Guilherme. [Outras subunidades do BCAV 2876: CCAV 2539 (S. Domingos) e CCAV 2540 (Ingoré).]

Foto cedido por Rogério Pedro Martins, que estava em Susana nesta altura. O Miguel Vilar, um dos irmãos Vilar (, um dos quais, o Duarte foi meu colega de curso de sociologia no ISCTE, concluído em 1979/80), falou também com o ex-fur mil Enf Jesus, que vive em Mértola, e que estava a dois metros do seu capitão, quando este foi atingido. 

Foto (e legenda) : © Rosário Pedro Martins / Miguel Vilar / Duarte Vilar (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Guiné 61/74 - P20401: Parabéns a você (1716): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20383: Parabéns a você (1715): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Guiné, 1968/70) e Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3476 (Guiné, 1971/73)

sábado, 30 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20400: Os nossos seres, saberes e lazeres (366): A minha ilha é um cofre de Atlântidas (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Maio de 2019:

Queridos amigos,
É a despedida de mais uma ronda micaelense, centrada no Vale das Furnas e na Caldeira das Sete Cidades, a despedida, obrigatória, do Vale das Furnas começou com um banho ao amanhecer na piscina de água férrea, após limpo e amesendado o viandante peregrinou pelos jardins Terra Nostra, tomou o autocarro da carreira e lançou-se em alguns jardins de visita incontornável, desta vez a preferência foi pelo jardim António Borges.
São visitas que o deixam insaciado, quer voltar em breve, em qualquer estação do ano, esta é a sua ilha-morada, ainda lhe falta bater à porta da Graciosa, um dia acontecerá, rende-se incondicionalmente a toda esta bruma arquipelágica, a gentes tão hospitaleiras.

Um abraço do
Mário


A minha ilha é um cofre de Atlântidas (8)

Beja Santos

É fatal como o destino, não há despedida do Vale das Furnas sem a última peregrinação aos jardins do Parque Terra Nostra, o dia está perfeito, desceu a humidade, a luz incidente aveluda todo este mundo verde, passa-se o tanque de água termal onde o viandante esbracejou horas a fio, fizesse calor ou frio, durante alguns dias, esta água fervente é um consolo, o propósito da despedida é passar pela Alameda Ginkgo Biloba, contemplar o Jardim da Flora Endémica, ir à Coleção das Camélias e das Plantas Aquáticas, tornear a Coleção de Fetos e sentar-se num banco em frente do Jardim de Vireyas. É o que vai acontecer, e com bons resultados para a saúde emocional do viandante.



Já se cantaram todas as laudes sobre este Parque Terra Nostra, que tem mais de dois séculos de vida, parece estar tudo dito sobre estas árvores que vieram das Américas, das Austrálias, da China e da África do Sul. Ao longo de gerações, houve enlevo, apetência cultural e bom gosto para trabalhos de conservação dos caminhos e dos lagos, o embelezamento deles não para, constroem-se e renovam-se os jardins, as camélias têm fama nacional, quem gosta de botânica tem aqui um recanto sagrado para contemplar espécies comuns da região da Macaronésia (isto é, para além dos Açores, a Madeira, as Canárias e Cabo Verde). É impossível não ficar deslumbrado com a coleção de fetos, à beira do canal em que corre água férrea, são duas centenas de exemplares, desenvolvem-se em ambientes húmidos. E há depois os rododendros da Malásia, plantas de coloração intensa, de diferentes tons de branco, laranja, rosa, salmão ou vermelho. E obrigatoriamente, até porque estamos na estação propícia, os canteiros de azáleas, em toda a sua diversidade de tons, as cores mais tradicionais são o vermelho e o lilás – são as plantas emblemáticas de São Miguel.






Pouco há mais a dizer quando estas imagens superam as mil palavras, estas alamedas românticas, os caramanchões multicolores, a adaptação do antigo laranjal do Parque para receber as Cycadales, plantas em vias de extinção e que existem há milhões de anos. O viandante tudo vai registando no seu caderninho, está melancólico mas lampeiro, sai do hotel com armas e bagagens e vai para o terminal rodoviário.


Então, não é que no terminal rodoviário temos esta simulação de casa virada do avesso, não é que a imagem nos dá uma sugestão de ficção científica, há para ali uma pitada de sensação aterrorizante, como se encapelassem os céus e um vento desabrido revolvesse a Natureza em roldão. Pura imaginação, vertigem da despedida, este é o mundo cósmico açoriano, um polo magnético que atrai o viandante, por isso com tanta regularidade o visita. E parte-se para Ponta Delgada.


O viandante pousou armas e bagagens na sede da associação dos consumidores açorianos, busca jardins, Ponta Delgada tem três de nomeada: os jardins do antigo Palácio dos Marqueses de Jácome Correia, hoje residência oficial do Presidente do Governo Regional, primorosamente tratados, bem perto, os jardins de José do Canto, aquela figura notável que deixou obra na Lagoa das Furnas, está sepultado na Ermida de Nossa Senhora das Vitórias, ao lado da sua mulher a quem escreveu cartas de um erotismo desinsofrido, coisa rara ou impraticável em tempos vitorianos, jamais em tempo algum um cavalheiro diria a sua dama o que iriam fazer logo que ele chegasse da sua longa viagem… O viandante passa por ambos como gato pelas brasas, mete-se ao caminho para ir ao jardim de um rival de José do Canto, António Borges. Pelo caminho, deu-lhe para entrar num centro comercial de nome Parque Atlântico. Impossível não captar a imagem deste cetáceo que nos convida, entre muita água a escorripichar.


Este jardim era o jardim privado de António Borges da Câmara Medeiros, foi construído entre 1858 e 1861, este abastado senhor abriu os cordões à bolsa para nos deixar esta obra prodigiosa. Hoje faz parte do património autárquico, já no século XXI foi alvo de uma grande intervenção, rivaliza com o Palácio de Santana (a sede da Presidência do Governo dos Açores), mas convém que se saiba que há mais jardins em Ponta Delgada, se o leitor vier a esta cidade peça mais informações. O que aqui se vê não foge ao esplendor açoriano, de que o viandante não se cansa de fazer referência. Há uma explicação para esta imagem particular. O que o leitor vê no caminho chama-se bagacina, a palavra não vem nos dicionários. Estava o viandante a preparar um livro em que se dedicava um capítulo à sua estadia em São Miguel, entre 1967 e 1968, e intitulou-o “Na Terra da Bagacina”, termo inexistente nos dicionários mas existente e corrente na cultura açoriana, é este farelo de pedra vulcânica, parece um rosa velho ou vermelho tijolo, não se sabe qual é a palavra melhor adequada, há muitos caminhos assim, feitos com esta prestimosa bagacina, marca de água de um território genuinamente vulcânico.


E despedimo-nos, a viagem interrompe-se por uns momentos, enquanto o viandante tiver vida e saúde aqui voltará esfusiante, esta natureza colou-se-lhe à pele, e despede-se com duas imagens de árvores antigas, uma lembrança para os vindouros, aqui chegaram povoadores do século XV, encontraram esta ilha totalmente arborizada, foram séculos de trabalho titânico para criar condições para os bons pastos, mas há um dado cultural insular e intransmissível, o gosto pelos jardins, o diálogo sem tréguas com escarpas, pélagos, córregos, canadas, ventos que sopram furiosos, uivando sob os telhados, o marulhar oceânico, tantas vezes furioso e devorador da obra do homem, este mesmo homem que planta e ajardina a envolvência da sua vida.

Adeus, até ao regresso do viandante.


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20373: Os nossos seres, saberes e lazeres (365): A minha ilha é um cofre de Atlântidas (7) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20399: Historiografia da Presença Portuguesa em África (189): I Exposição Colonial, Porto, junho/setembro de 1934: fotogaleria do encerramento...









"Vários aspetos dessa memorável jornada de fé e vibração patrióticas: em cima, Irmãs Missionárias e Combatentes das campanhas das colónias; a seguir, D. João de Castro, conduzido sob o pálio e o carro da cidade do Porto; a frente do cortejo com figuração histórica; no disco, tocadores de marimbas; campinos do Ribatejo junto do sr. capitão Henrique Galvão, que concebeu, organizou e dirigiu o cortejo; o carro dedicado à província de Angola. Fotos ALVÃO.

Fonte: Ultramar - Órgão Oficial da I Exposição Colonial, (Porto),  nº 17, 1 de outubro de 1934, p. 8 (Diretor: Henrique Galvão). 

[Cortesia de Hemeroteca Digital, Câmara Municipal de Lisboa]



1. Temos já meia dúzia de referências no nosso blogue à Exposição Colonial do Porto (junho-setembro de 1934). Recorde-se aqui um excerto de um poste de um camarada nosso, portuense, o [ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 / BCAC 3880  (Zemba e Ponte de Rádi, 1972/74),  membro nº 780 da Tabanca Grande: 


(...) A grandiosa Exposição Colonial do Porto, ocorrida no Palácio de Cristal em 1934, deverá ter sido um ensaio geral para a (ainda mais grandiosa) Exposição do Mundo Português de 1940, em Lisboa. Ainda Salazar não tinha vergonha de chamar colónias às colónias.


Feita à imagem e semelhança de outras exposições coloniais realizadas em França, Inglaterra, Alemanha, etc., a Exposição Colonial do Porto de 1934 foi organizada por Henrique Galvão, esse mesmo, o do assalto ao paquete Santa Maria, que antes de ser um feroz opositor de Salazar tinha sido um seu fervoroso admirador.

A Exposição Colonial do Porto teve como finalidade, como facilmente se compreende, exaltar o orgulho imperial dos portugueses, supostamente portadores de um mandato divino de civilizar os povos primitivos sob seu domínio, e ao mesmo tempo consolidar o regime do Estado Novo, comandado pelo pulso de ferro de António de Oliveira Salazar. A exposição teve características idênticas às das exposições coloniais estrangeiras, a começar pela redução dos povos colonizados à condição de indígenas atrasados, cujo exotismo se procurava sublinhar. Para tanto, mostraram-se seres humanos trazidos das colónias ao público visitante, como se de animais do jardim zoológico se tratasse.

No caso da Exposição Colonial do Porto de 1934, a Guiné teve um papel de particular relevo, não necessariamente pelas melhores razões. Foi instalada uma "tabanca" de bijagós numa ilha de um pequeno lago existente nas imediações do Palácio de Cristal, onde pessoas seminuas eram exibidas ao público como se estivessem no seu ambiente natural. Ora o clima do Porto é consideravelmente mais frio do que o da Guiné. Nem quero pensar no frio que essas pessoas terão passado. (...) (*)


Portugal (continental, insular e ultramarino) tinha uma superfície superior a 2,168 milhões de km2, ultrapando o conjunto europeu formado pela Espanha (continental), a França, A Alemanha, a Inglaterra e a Itália (que não chegava aos 2,097 milhões de km2). Mapa organizado por Henrique Galvão (1895-1970) que, passadas duas décadas, começa a desiludir-se com o Estado Novo e entra em rota de colisão com Salazar. Ficaria mundialmente famoso pelo inédito assalto, em 21 de janeiro de 1961, ao paquete "Santa Maria". Terá sido o primeiro ou um dos primeiros atos de pirataria naval com motivação política, no séc. XX. Henrique Galvão e o seu comando renderam-se às autoridades brasileiras, no porto de Recife, em 2/2/1961, na véspera do início da guerra colonial em Angola.


Sobre a I Exposição Colonial Portuguesa, ver mais informação disponível na Hemeroteca Municipal de Lisboa (, dossiê digital organizado em 2014 para comemorar os 80 anos deste evento; destaque na introdução para o seguinte excerto:  

(...) "Discursando no Palácio da Bolsa (então Palácio das Colónias), [Henrique] Galvão terá afirmado: 'os homens da minha geração vieram ao Mundo dentro de um país pequeno. Felizmente vê-se que pretendem morrer dentro dum império'. 

"Esta ideia, de resto, serviu de mote ao famoso mapa 'Portugal não é um país pequeno', (ver aqui) concebido por Galvão no âmbito da Exposição e amplamente divulgado pelo Secretariado de Propaganda Nacional nos anos seguintes." (...)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 27 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20389: Historiografia da presença portuguesa em África (188): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (4): "Portugueses e Espanhóis na Oceânia", por René Pélissier (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20398: Álbum fotográfico de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 (Bissau e Fulacunda, 1969/71) - Parte III


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  > Espaldão do obus 10.5 (1)


Guiné > Região de Quínara  > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  > Espaldão do obus 10.5 (2)


Guiné > Região de Quínara  > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  > DO 27: a chegada do correio


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Eu e o furrel Jacinto


Guiné > Região de Quínara  > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Criançada


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Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Uma passagem por Tite, sede do BCAV 2867 (Tite, 1969/70).


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Fotos (e legendas): © Domingos Robalo  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico (*) de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71; comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda (1969/70); vive em Almada;  tem cerca de 20 referências no nosso blogue.


(...) "Ah…já sabia pelo Jacinto onde era Fulacunda, e quem estava por lá. Os Boininhas [CCAV  2482]. Mas o lugar não era dos mais pacíficos...

Cerca de cinco dias depois, não dois como estava previsto, preparamo-nos para embarcar em três LDM (Lancha de Desembarque Média), 3 obuses 10,5cm, 27 soldados, três cabos, dois furriéis e eu próprio como Comandante de Pelotão. Para além destes militares, íamos acompanhados das mulheres dos soldados e dos respetivos filhos. Cada soldado tinha em média duas ou três mulheres, filhos já não sei.


No dia da partida aportámos a Bolama, onde o pessoal pernoitou o melhor que pôde e eu fui também dormir a uma pensão, cheia de cabo verdianos que não se calaram durante toda a noite. " (...) (**)

A CCAV 2482, "Boinas Negras" era a subunidade que esteva em Fulacunda (entre 30 de junho de 1969 e 14 de dezembro de 1970, regressando nesta data a Bissau).  Foi mobilizada pelo RC 3, pertencia ao BCAV 2867 (Tite,1969/70); partida: 23/2/69; regresso: 23/12/70; antes de Fulacunda, esteve em Tite; comandante: cap cav Henrique de Carvalho Mais.ont




Guiné 61/74 - P20397: In Memoriam (357): Eduardo Jorge Pinto Ferreira (1952-2019): missa do 7º dia, na igreja do Vimeiro, Lourinhã, domingo, 1 de dezembro, às 11h00... Testemunhos do filho Rui Ferreira (Inglaterra) e dos amigos Rui Chamusco (Malcata, Sabugal; e Lourinhã) e João Crisóstomo (A-dos-Cunhados, Torres Vedras; e Nova Iorque)


Eduardo Jorge Pinto Ferreira (Vimeiro, 1952 - 
Torres Vedras, 2019):
foi nosso camarada na Guiné, ex-alf mil, Polícia Aérea, 
Bissalanca, BA 12, 1973/74.


1. Mensagem do Rui Ferreira (filho do Eduardo Jorge):

O teu momento chegou sem esperarmos. Não deu tempo para despedidas, últimos recados ou orientações, simplesmente partiste...


E partiste cedo demais! Tinhas tantos planos, projectos e batalhas para travar, tantos amigos para desfrutar e a família para amar e ser amado!~

No entanto, nesta hora tão penosa e difícil conseguimos encontrar conforto nos momentos intensos e sempre emotivos de quem de ti se veio despedir e só podemos sentirmo-nos felizes e agradecidos.
Felizes por termos tido o privilégio de ser a tua família e de termos recebido tanto. Agradecidos pelos inúmeros gestos, palavras ou, em alguns casos, sentidos silêncios, de todos aqueles que te prestaram homenagem.

Foi um momento especial, tão difícil quanto emotivo, que reflecte a dimensão da tua obra humana. Esta demonstração de profunda e genuína amizade, fraterna em muitos dos casos, tem-nos ajudado a suportar a nossa dor e, acima de tudo, tem nos dado muita força para seguirmos em frente e perpetuar o legado que nos deixaste!

A todos um grande Muito Obrigado!


P.S. Este domingo dia 1 Dezembro pelas 11.00 celebrar-se-á a Missa do 7º dia na Igreja do Vimeiro (Lourinhã).


Rui Camusco, Lourinhã (2016)

2. Mensagem de Rui Chamusco (colega e amigo do Eduardo Jorge, natural de Malcata /  Sabugal, a viver na Lourinhã, onde foi professor; o Eduardo Jorge apresentou-o ao João Crisóstomo e ao Luís Graça, há uns anos atrás)



A vida e a morte: À memória do amigo Eduardo Jorge


Há acontecimentos nas nossas vidas que nos interpelam e fazem pensar, fazendo perguntas sem resposta imediata (não estamos em condições de aceitar), tal é a dor que carregamos. A revolta, as lágrimas, os gritos que nos dilaceram o coração são a via mais comum para descarregarmos tanta pressão no corpo e na alma.

Quando a morte nos rouba alguém que muito amamos ficamos dilacerados, desfeitos, porque quando morre um nosso amigo alo de nós morre também.

A partida inesperada do grande amigo e irmão Eduardo Jorge deixou-nos a todos estupefactos e a não querer acreditar que era verdade. E eu, cúmplice em tantos momentos das nossas vidas, com tanta proximidade sobretudo em que ele cuidou de mim neste dias de internamento hospitalar, não me conformo com a sua ausência física. Quando quis saber de como tinha decorrido a intervenção cirúrgica a que momentos antes tinha sido submetido, a voz do seu filho João soou que nem uma bomba que me esfrangalhou: “Rui, o meu pai já não está entre nós. Morreu...” Não consegui fazer mais nada senão gritar, chorar, dar murros em tudo o que encontrava, fazer perguntas sem resposta.

Eduardo, quero que saibas que a tua partida para o outro mundo nos está a fazer sofrer imenso: eu, a tua amada Sãozinha (é assim que tu a chamas, náo é?), os teus filhos João e Rui, os teus netos, os teus familiares, os teus amigos (tantos!...), tanta e tanta gente que usufruiu da tua generosidade na organização de eventos, de caminhadas, o Vimeiro, o Sobreiro Curvo, a Lourinhã, Fornos de Algodres, Almeida, Sabugal e, de um modo especial Malcata com todos os amigos que tanto te admiram e onde tu tanto gostavas de ir. 

Não. Não te livras de nós, porque todos te lembrarão para sempre. E se estás onde todos pensamos que estejas, com direito próprio por todo o bem que fizeste nesta terra, junto de Deus e de todos os seus santos gozando a vida em toda a plenitude, terás que interceder por todos nós e ser nosso protetor. Quando olhar para o céu em noites estreladas, vou procurar uma estrela que brilhe muito, porque sei que serás tu. Depois da tua partida, já me aconteceram coisas muito importantes que, tenho a certeza, são já fruto da tua intercessão nesse teu novo estado de vida.

Obrigado, Eduardo. Obrigado por tanta amizade e dedicação que me dispensaste ao longo dos 24 anos que passamos juntos, na escola de Ribamar, nas associações culturais e desportivas/recreativas do Vimeiro e de Malcata, no cuidado que tiveste com as minhas coisas enquanto estive ausente, nos almoços que frequentemente partilhamos ( o último foi sexta feira antes do sábado em que foste operado e te foste embora, foste tu que pagaste: estou a dever-te o próximo almoço, que não sei quando será nem em que forma).

Esta manhã fui a tua casa como tu sabes, e a São, os teus filhos Rui e João, o meu primo Carlos e eu fizemos a promessa de continuarmos as nossas vidas e relações como se tu estivesses também presente fisicamente.. Sabes bem o que foi dito e, mesmo sem ouvirmos a tua voz, sentimos que estavas ao nosso lado bem presente.

Caro amigo, sei que nunca te puseste em bicos de pé para seres admirado e louvado, mas não resisti a publicar tudo o que escrevi, porque tu bem o mereces. Talvez não escreva mais sobre a nossa relação e a nossa amizade. Doravante, falarei contigo sempre que me apeteça, na intimidade dos nossos corações. 

Um abraço grande para os amigos que conhecemos neste mundo e que jé estão desse lado contigo. Um abraço especial para o Carlos que partiu nesta ano, e para os nossos amigos e colegas Artur Mário e António Cação. Olhai por nós que recorremos a vós, ok?

Junto anexo o poema/canção que enviei quando o Carlos se foi. Não tive a coragem nem as forças físicas necessárias para o cantar e tocar durante a missa do teu corpo presente, como o amigo Luís Graça me pediu Por isso, está devidamente enquadrado e exposto na tua casa.

Abraço forte e grande deste teu amigo que te não pode esquecer, mesmo que a tua partida e ausência muito me façam sofrer. Um grande abraço também do amigo João Crisóstomo. Foste tu que nos deste a conhecer. Um abraço de todos os amigos que lamentam e choram a tua partida

Adeus. Eduardo!...

Rui Chamusco
Lourinhã, 27/11/2019
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EDUARDO JORGE FERREIRA

O Eduardo nasceu no dia 1 de Outubro, Dia Mundial da Música. Eis o meu preito...

Refrão: Ter um amigo é bom … Vê-lo partir faz sofrer ) bis


1. Encontrei no meu caminho… um rosto que me sorriu
E passei a ter saudades… quando esse bem me fugiu.

2. Fiquei olhando as estrelas… cada noite à luz do luar
Confiei-lhe a minha dor … e aprendi a esperar.

3. O meu amigo voltou … abri-lhe as minhas janelas
Quando procurei sorrir … só encontrei as estrelas.

4. Voltou a mim a saudade … foi-se embora o meu amigo
Mas eu fiquei a ter asas … só por o ter conhecido


AMIGOS PARA SEMPRE!...
Rui chamusco
João Crisóstomo.
Nova Iorque (2018)

3. Mensagem do João Crisóstomo (, que o Luís Graça apresentou ao Eduardo Jorge, há uns atrás)

Caro Luis Graça,

Esta é para ti e para todos os nossos bons camaradas, a quem este momento nos faz sentir ainda mais irmãos.


Graças ao Rui Chamusco que me deu os contactos que pedi, acabei agora de falar com a São e com o filho Rui. Eu sei bem o quanto significa uma palavra amiga nestes momentos e eu quis fazer-lhes sentir que também eu e a Vilma  - como vocês todos têm feito pelo que tenho acompanhado e lido no blogue e facebook etc)  - estamos com eles. E podem continuar a contar connosco. O Eduardo continua em todos nós: também em nós eles podem continuar a sentir a presença do Eduardo, da mesma maneira que neles nós vivemos e sentimos a sua continuada presença.

É uma grande idéia essa de lhe fazer  "uma pequena homenagem, a ele e à São, a mulher da sua vida".

Faço minhas também as palavras do Jorge Pinto que disse: "é uma forma muito bonita de o homenagearmos, valorizando todo o empenho, generosidade e alegria que ele depositava em iniciativas deste género que nós tanto admiramos". 

E por isso embora nós tivéssemos decidido não ir a Portugal este ano  [de 2020] pois que vamos passar dois meses na Eslovénia, regressando depois directamente a Nova Iorque, esta vossa feliz decisão fez-nos mudar de idéias imediatamente: Nós queremos estar e viver convosco (e com o Horácio e a Helena e muitos outros que com certeza vocês não deixarão de avisar também ) essa justa homenagem ao Eduardo, à São e filhos. Nós vamos a Portugal para estar com vocês nesse dia 12 de Outubro no próximo ano.

E a todos os que no Blogue, Facebook,  etc-,  têm dado o seu ombro aos que estando longe dele necessitavam, eu quero dizer o meu pessoal "muito obrigado". Este golpe, duro para todos, foi-me agravado por esta separação física, obrigado a aguentar sozinho a perca deste nosso irmão. … 

Obrigado especialmente ao Rui Chamusco que por telefone me dia dizendo onde se encontrava e assim, diminuindo distâncias, me possibilitava a minha presença: "Olha, João, estou na casa da São"..."Estamos agora na Igreja"..., "no cemitério"… Obrigado,  Rui, Obrigado, Luis Graça e a todos vocês.

Um abraço de coração,

João
Nova Iorque, 27/11/2019