terça-feira, 5 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20945: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (5): Composição da CCAÇ 2366/BCAÇ 2845

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 28 de Abril de 2020:

Boa tarde Carlos Vinhal.
Já vi que publicaste todo o trabalho que te tinha enviado e por isso mesmo aqui vai mais um. Desta vez é a Companhia de Caçadores 2366, do Manuel Carvalho aqui na Tabanca, Periquito Atrevido - Jolmete.

Sem mais de momento, um grande abraço para todos os Chefes de Tabanca e, ainda para todos os Tertulianos.
Albino Silva

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Nota do editor

Último poste da série de 28 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20915: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (4): Composição da CCS/BCAÇ 2845 e vídeo do Convívo de 2011 dos Vampiros

Guiné 61/74 - P20944: Manuscrito(s) (Luís Graça) (181): Cesário Verde (Lisboa, 1855 - Lisboa, 1886) : poesia para dizer em voz alta à janela ou à varanda, uma boa terapia contra os "irãs maus" que infestam agora os poilões das nossas tabancas, em tempos de COVID-19... E no Dia Mundial da Língua Portuguesa.



Cesário Verde, por Columbano (1887)

NÓS

I

Foi quando em dois verões, seguidamente, a Febre
E o Cólera também andaram na cidade,
Que esta população, com um terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.

Ora, meu pai, depois das nossas vidas salvas
(Até então nós só tivéramos sarampo)
Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas
Que ele ganhou por isso um grande amor ao campo!

Se acaso o conta, ainda a fronte se lhe enruga:
O que se ouvia sempre era o dobrar dos sinos;
Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos
Morreram todos. Nós salvamo-nos na fuga.

Na parte mercantil, foco da epidemia,
Um pânico! Nem um navio entrava a barra,
A alfândega parou, nenhuma loja abria,
E os turbulentos cais cessaram a algazarra.

Pela manhã, em vez dos trens dos baptizados,
Rodavam sem cessar as seges dos enterros.
Que triste a sucessão dos armazéns fechados!
Como um domingo inglês na "city", que desterros!

Sem canalização, em muitos burgos ermos
Secavam dejeções cobertas de mosqueiros.
E os médicos, ao pé dos padres e coveiros,
Os últimos fiéis, tremiam dos enfermos!

Uma iluminação a azeite de purgueira,
De noite amarelava os prédios macilentos.
Barricas de alcatrão ardiam; de maneira
Que tinham tons d'inferno outros arruamentos.

Porém, lá fora, à solta, exageradamente,
Enquanto acontecia essa calamidade,
Toda a vegetação, pletórica, potente,
Ganhava imenso com a enorme mortandade!

Num ímpeto de selva os arvoredos fartos,
Numa opulenta fúria as novidades todas,
Como uma universal celebração de bodas,
Amaram-se! E depois houve soberbos partos.

Por isso, o chefe antigo e bom da nossa casa,
Triste d' ouvir falar em órfãos e em viúvas,
E em permanência olhando o horizonte em brasa,
Não quis voltar senão depois das grandes chuvas.

Ele, dum lado, via os filhos achacados,
Um lívido flagelo e uma moléstia horrenda!
E via, do outro lado, eiras, lezírias, prados,
E um salutar refúgio e um lucro na vivenda!

E o campo, desde então, segundo o que me lembro,
É todo o meu amor de todos estes anos!
Nós vamos para lá; somos provincianos,
Desde o calor de maio aos frios de novembro! (...)

Excertos, NÓS - I, in "O Livro de Cesário Verde: 1873-1886, posfácio e fixação de texto, António Barahona. Edição definitiva. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004, pp. 98.100. (Com a devida vénia...)



1 Hoje celebra-se  o Dia Mundial da Língua Portuguesa. Pela primeira vez!.. A data foi consagrada, em novembro passado,  pela UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

Por azar, a primeira vez que se celebra a data,  esta coincide com a pandemia de COVID-19. Não haverá grandes ajuntamentos na rua ou nos salões... Mas temos as redes sociais, a Internet, o nosso próprio blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné, para podermos celebrar em conjunto esta efeméride com todos os nossos amigos e camaradas que vivem quer em Portugal, quer mais a norte ou mais a sul, a leste ou oeste da pátria de Camões e de Fernando Pessoa. 

O Português é a língua que nos une, a todos nós, os mais 260 milhões de lusófonos,  sendo  língua oficial de 9 países em 4 continentes: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. É também língua oficial da Região Administrativa Especial da Macau, República Popular da China. É língu mais falada no hemisfério sul. Além disso, estimam-se em 7 milhões o nímero de  pessoas que falam português e vivem fora de seus países de origem, na diáspora... Por fim, e não menos importante,  haverá, em todo  mundo, cerca de 4 dezenas de crioulos, de origem portuguesa... Sem paternalismos nem colonialismos, podemos dizer que nós, portugueses, os nossos antepassados,  abriram a primeira estrada da globalização, com a "aventura marítima", e ajudaram a dar "mais mundos ao mundo"... 

É verdade que nem todos os macaenses ou todos os guineenses ou timorenses ou moçambicanos dominam a língua portuguesa, escrita e falada. Os mais privilegiados, como nós, temos a obrigação de proteger e promover a língua de todos nós, a língua com que dizemos liberdade, com que cantamos a saudade ou com que expremimos os sentimentos de amor, amizade, camaradagem, compaixão, empatia, solidariedade... 

O meu pequeno contributo, para este dia,  é o de reproduzir aqui um excerto do belíssimo e extenso poema Nós, de um grande poeta português, um dos meus favoritos, que teve uma vida curta: morreu de tuberculose. Trata-se do lisboeta Césario Verde (1855-1886). A sua genialidade só foi mais tarde reconhecida, e logo por outros grandes poetas como Fernando Pessoa.

2. Na primeira parte do poema Nós, Cesário Verde evoca o surto de febre amarela que atingiu Lisboa em 1857 que terá contagiado entre 16 a 17 mil pessoas (perto de 10% do total da população lisboeta) e provocado mais de 5 mil mortes.E dois anos anos, o surto de cólera.

Se bem que séc. XIX venha marcar o fim das grandes epidemias que, ao longo de séculos vitimaram as populações europeias, surgem novos problemas de saúde, com a industrialização e a urbanização da Europa.  No nosso país, por exemplo, em menos de um quarto de século, e em duas ocasiões, a cólera irá fazer dezenas de milhares de mortos: cerca de 40 mil em 1833, um terço dos quais na capital; e aproximadamente 9 mil em 1855-56. Embora as estatísticas de mortalidade possam variar de autor para autor, a cólera passa a ser a doença epidémica, por excelência nas cidades em grande expansão.  

A cólera passou a ser conhecida dos portugueses com a chegada à Índia onde era endémica.  No caso do surto de febre amarela de 1857, as áreas mais afectadas em Lisboa  foram inevitavelmente as dos bairros populares (como Alfama e Bairro Alto), onde se concentravam as chamadas classes laboriosas, misturadas com o lumpen-proletariado, e onde continuavam a ser péssimas as condições de higiene e salubridade. 

Originária da América Central, terá chegado a Portugal continental no ínício da década de 1720. A primeira epidemia de febre amarela ter-se-á manifestado em Lisboa, no Outono de 1723. Aao fim de três meses terá feito mais de seis mil vírimas mortais, nas zonas de maior densidade populacional.

Registam-se igualmente importantes surtos de febre tifóide e de tifo, embora estas doenças tendam a regredir a partir de 1865. Mas,  mesmo ainda em 1923, Ricardo Jorge considerava Lisboa, no seu estilo tão castiço e peculiar quanto hiperbólico, como "uma das cidades mais infectamente tíficas" (sic) da Europa...

Cesário Verde era bebé aquando da epidemia de febre amarela de 1857. Mas este acontecimento ficou na memória da família Verde. O  seu pai, abastado agricultor e comerciante de ferragens na baixa lisboeta, fez aquilo que os ricos faziam na época: retirar a família para o campo. Neste caso, para a sua quinta em Linda-A-Pastora, hoje concelho de Oeiras. Aí Cesário Verde enamora-se pelas delícias do campo e dá-nos conta da modernização da agricultura da época.  


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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P20943: Tabanca da Diáspora Lusófona (10): Notícias da pandemia de COVID 19, em Queens, Nova Iorque, e dos meus camaradas da CCAÇ 1439 (João Crisóstomo)


Foto nº 1


Foto nº 2

Foto nº 1 > Nova Iorque > Queens >  O casal Crisóstomo: João e Vilma "Em 2016 encontramos na ponta de Sagres  no Algarve uma turista japonesa, especialista em museologia.  Ao ver-nos procurou-nos para uma informação e entabulamos conversa.  
De evidente vasta cultura e  de maneiras cativantes,  acabamos por passar o dia visitando lugares de interesse comum  e ao fim do dia era como se nos conhecêssemos de sempre. Desde então pelo Natal e em outras ocasiões  trocamos mensagens.
 E agora, ao ter conhecimento da situação aflitiva em Nova Iorque, quis ajudar:   acabamos de receber meia dúzia de máscaras, feitas à mão em sua casa … para que nos protejamos bem do virus convid-19. Amizade e Solidariedade! "

Foto nº 2 >  Nova Iorque > Queena > O   João Crisóstomo, confinado, com barba de quinze dias


Foto nº 3 | A dos Cunhados, Torres Vedras > Festa da famílias Crisóstomo  ë  Crispim, 15 de outubro de 2013 > O JúlioPereira e o João Crisóstomo


Foto nº 4 > Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras - Festa da famílias Crisóstomo >  Crispim  > 15 de outubro de 2013 > João Crisóstomo, camaradas e amigos. O Júllio Pereira e a esposa, Elisa são o casal da ponta direita...  Na fila de detrás, reconhecem.se os nossos camarada Eduardo Jorge Ferreira (recentemente falecido),  Jaime Silva e Luís Graça na primeira fila, à esquerda, o João Crisóstomo, um primo, a Alice Carneiro e a Dina (esposa do Jaime).

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2020) Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem comlementar: Blogue Lu+is Graça & Camaradas da Guiné]


I. Mensagem do nosso camarada e amigo João Crisóstom [, luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses (Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes); Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona; ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67); vive desde 1975 em Nova Iorque, em Queens; é casado, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracuna.

Date: quinta, 23/04/2020 à(s) 03:24
Subject: De Nova Iorque
  
Meus caros,
  
1. Não sei se se lembram  do Júlio Pereira; pelo menos o Luís Graça deve-se lembrar bem dele: vd. poste P12456: Júlio Martins Pereira, sold trms, CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá e Porto gole, 1965/67), grã -tabanqueiro no. 635.  (*).

Ele foi a várias reuniões da CCAÇ  1439 e outras,  inclusive a uma nas  Paradas, Torres Vedras, que eu  organizei para os meus familiares, mas para a qual convidei os camaradas da Guiné; e alguns, para grande satisfação minha,  apareceram mesmo.  Mantenho-me em contacto frequente com ele, pois que as circunstâncias da vida nos aproximaram:  viemos ao mundo no mesmo dia (22 de Junho 1944); depois na Guiné,  além de pertencermos à mesma companhia, sofremos cada um a sua emboscada no mesmo dia, embora em lugares diferentes; e outras "coincidências",  como tantas  sucede sem sabermos a razão. 

Estranhei que, de há tempos para cá,  eram menos frequentes as suas mensagens pelo Facebook, que a minha esposa segue mais do que eu e de que me dava sempre  conhecimento. Finalmente obtive notícias frescas por vídeo WhatsApp   com a Elisa,  sua esposa: estiveram ambos internados no hospital, vítimas desta famigerada Covid-19 e estão ambos em franca recuperação. O caso dela foi mais leve e  depois de uns dias no hospital voltou a casa onde leva a sua vida quase normal. O  caso do Júlio  foi mais complicado e  perdeu bastante peso; mas  acaba de ter alta  do hospital e já se encontra  também  na sua casa. Embora ainda confinado ao seu quarto e   ainda sem o contacto normal  com os filhos, netos e amigos que da sua casa fazem local de reunião e convívio semanal  a que está acostumado,  está em bons espíritos  e  determinado a vencer também esta luta.   O seu  rosto e o sorriso na foto que a Elisa  me mandou  são de quem sabe  ter agora a carta/trunfo na sua mão. 

Força, Júlio! Estamos contigo!

2. Este caso do Júlio Pereira levou-me a  fazer uma dúzia  telefonemas  para saber de  outros "Camaradas da Guiné' (, refiro-me  aos meus colegas da CCAÇ 1439),  a maioria dos quais, "não sei porque cargas d' água", não fazem parte da nossa Tabanca…  E é pena… eu de vez em quando bem lhes falo no nosso blogue, mas para frustração minha (e para me  confirmar as minhas poucas habilidades persuasivas) não consegui convencer ninguém a pegar na caneta e a  pôr em papel  as vivências  de que a gente fala e lembra dos nossos tempos na Guiné quando nos encontramos. 

Ainda bem que o  Henrique Matos e o Beja Santos,  com as suas apreciadas e abundantes  recordações  relacionadas com  esta "minha" companhia CCAÇ 1439,  relatadas para a posteridade neste nosso blogue, a que modéstia aparte   junto a minha parte também,  de alguma maneira  compensam, embora parcialmente, evidentemente,   esta  lacuna.

Para os camaradas que por acaso  tenham encontrado alguns destes  em algum  convívio ou os conheçam, posso  informar que, salvo por algumas "mazelas  da idade" que de uma maneira ou outra  e em algum degrau  todos sofremos, os encontrei a todos bem.  "Bem" não é bem assim! … "mais ou menos" será  mais exacto dizer  ... porque verifiquei sem surpresa que  todos e cada um deles eles estavam tão preocupados  como eu  e, devido crédito lhes seja dado,  nenhum teve sequer ideia de o negar ou disfarçar… 

 Falei com o Freitas na ilha da  Madeira; e depois com  o Sousa , o Teixeira, o Geraldes, o Verdasca, o Neiva, o Agostinho  de Marrazes, o Pimentel…e a todos pude dar um "abraço à distância", abraço esse  que a maioria me pediu para partilhar com quem eu pudesse. Aqui está esse abraço de e para todos,  portanto.

Notei porém que o  sentido de "aquartelamento  forçado" não era   tomado  por todos com a mesma resignação…Eu infelizmente conto-me entre aqueles , a quem só falta pôr "fita -cola  gigante" à volta das portas e janelas para que o malvado  do coronavirus nem pelas  frinchas  possa entrar…: o Henrique Matos confessava passar horas agarrado à sua música "para ajudar a "despairecer"; e   só pude falar com a esposa do  Leitão (Mafra), pois que este valentão se encontrava no pomar a tratar do milho. 

O mesmo sucedia com o Figueiredo a quem a esposa foi chamar para ele vir falar comigo….  Com este Figueiredo  nunca esqueço de lembrar e reviver o dia em que, estando ele a conduzir,  fomos  projetados   por uma mina  anticarro; esta por acaso não era muito potente( ou destinava-se talvez a um unimog e a nossa viatura, se recordo bem,   era uma   GMC bem pesada;     porque iamos  na parte da frente, tirando o grade salto inesperado ,   nada nos sucedeu; menos sorte porém tiveram os que vinham atras,   que  tiveram que ser  evacuados de helicóptero para Bissau.  

Entre estes estava o médico do Batalhão,  o Dr. Francisco Pinho Costa,  que seguia nesta coluna, e e  a quem também chamei e falei  logo a seguir. É que nunca esqueço a coragem e sangue frio deste nosso camarada médico: projectado também, ao "voltar  das alturas" partiu ambas as pernas ao bater no chão ; mas ao ver que outros precisavam da sua assistência (e  recordo que um deles -- não lembro se era perna ou braço tinha o  osso partido em exposição), apenas disse da sua condição e da necessidade de ser evacuado , depois de ter prestado os serviços que as circunst^^ancias lhe permitiam. 

Até hoje,-- e já lá vão 54 anos—ainda nunca o encontrei pessoalmente; foi este Figueiredo que a meu pedido o "encontrou". Espero com muita antecipação o poder dar -lhe o abraço que ocasiões e situações assim pedem e  exigem.  Já tínhamos programado encontro para  Outubro deste ano; mas agora com esta praga de  vírus… vamos a ver.

3. No que nos  diz respeito… pouco a contar. Sigo as notícas daí pelo  Público, Expresso, Badaladas e  de vez em quando pela RTP Internacional.   As notícias do resto  do mundo…tento segui-las  onde posso (BBC, e outros), piois que estes americanos têm a mania de só falarem deles e neste momento pouco de bom podem dizer.  "Valha-nos Deus que bem pode", como dizia a minha mão em momentos de aflição. 

 Contrariando tudo o que me apetecia fazer, passamos  também o dia 20 de Abril fechados em casa, celebrando  o 7º aniversário  do nosso casamento … sem fazer nada. Levantei-me cedo para ir comprar   um ramo de flores  para a Vilma, mas quem apanhou surpresa fui eu, pois o carro,  de há  semanas parado,   tinha perdido a bateria!…  Para ajudar a " levantar  o moral"   disse à Vilma que ia fazer a barba, coisa que eu não fazia já há duas semanas, ao que ela acedeu com a condição de me tirar uma foto para  recordação e prova da  preguicite aguda que nos tem afligido… E agora , como vêem já estou  "normal' outra vez … Aqui está  a  prova… Como a Vilma não é de cervejas,— ninguém é perfeito! - e não podemos ser iguais em tudo!--- eu  até me permiti um copo de tinto  para a acompanhar…    

Abraço a vocês os  dois e aos vossos queridos, de nós dois (**).
João e Vilma
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12456: Tabanca Grande (415): Júlio Martins Pereira, sold trms, CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá e Porto Gole, 1965/67), grã-tabanqueiro nº 635

(**) Último poste da série >  9 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20835: Tabanca da Diáspora Lusófona (9): Um duplamente sentido abraço de Páscoa, em plena pandemia de COVID-19, mas já a pensar no nosso próximo encontro em outubro, em Ribamar, Lourinhã, e no Convento do Varatojo, Torres Vedras (João Crisóstomo, Nova Iorque, Queens)

Guiné 61/74 - P20942: Os nossos seres, saberes e lazeres (390): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (5) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

1. Em mensagem do dia 21 de Abril de 2020, o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), enviou-nos mais umas páginas de "O Saltitão", projecto em que esteve envolvido no Saltinho, a criação de um jornal para a CCAÇ 2701.

Quando, no final de Agosto/71, após as minhas primeiras férias na metrópole, regressei ao Saltinho, fui convidado pelo Capitão Carlos Trindade Clemente, Comandante da Companhia ali instalada (CCAÇ 2701), para levar avante a criação do Jornal da Unidade, que era uma coisa que ele tinha em mente há muito tempo. Só ele saberá das razões que o levaram a escolher-me para missão de tamanha responsabilidade, tanto mais que eu não fazia parte dos quadros da Unidade – estava lá em diligência desde Março/71, após estágio de informações, com a duração de cerca de três meses, em Bambadinca. Claro que logo aceitei a incumbência com o maior entusiasmo, ou não tivesse eu, sem que ele conhecesse o facto, grande experiência do antecedente naquelas coisas do jornalismo – fora, de parceria com um conterrâneo do mesmo pelotão, o grande feitor do Jornal de Parede da 5.ª Companhia no RI 5, nas Caldas da Rainha (recruta do 4.º turno de 1969 – Curso de Sargentos Milicianos), após termos afastado a indesejável concorrência à bofetada.
[...]


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Nota do editor

Poste anterior de 4 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20940: Os nossos seres, saberes e lazeres (389): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (4) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

Guiné 61/74 - P20941: Parabéns a você (1798): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 2317 (Guiné, 1968/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20938: Parabéns a você (1797): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20940: Os nossos seres, saberes e lazeres (389): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (4) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

1. Em mensagem do dia 21 de Abril de 2020, o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), enviou-nos mais umas páginas de "O Saltitão", projecto em que esteve envolvido no Saltinho, a criação de um jornal para a CCAÇ 2701.

Quando, no final de Agosto/71, após as minhas primeiras férias na metrópole, regressei ao Saltinho, fui convidado pelo Capitão Carlos Trindade Clemente, Comandante da Companhia ali instalada (CCAÇ 2701), para levar avante a criação do Jornal da Unidade, que era uma coisa que ele tinha em mente há muito tempo. Só ele saberá das razões que o levaram a escolher-me para missão de tamanha responsabilidade, tanto mais que eu não fazia parte dos quadros da Unidade – estava lá em diligência desde Março/71, após estágio de informações, com a duração de cerca de três meses, em Bambadinca. Claro que logo aceitei a incumbência com o maior entusiasmo, ou não tivesse eu, sem que ele conhecesse o facto, grande experiência do antecedente naquelas coisas do jornalismo – fora, de parceria com um conterrâneo do mesmo pelotão, o grande feitor do Jornal de Parede da 5.ª Companhia no RI 5, nas Caldas da Rainha (recruta do 4.º turno de 1969 – Curso de Sargentos Milicianos), após termos afastado a indesejável concorrência à bofetada.
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Notas do editor

Poste anterior de de 20 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19998: Os nossos seres, saberes e lazeres (344): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (3) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

Último poste da série de 2 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20931: Os nossos seres, saberes e lazeres (388): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20939: Notas de leitura (1282): “Corações Irritáveis”, por João Paulo Guerra, Clube de Autor, 2016 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Março de 2017:

Queridos amigos,
João Paulo Guerra centra a ação do seu romance num fenómeno que ainda hoje nos inquieta e sobre o qual procuramos passar ao lado: a perturbação pós-stresse traumático de guerra. Embora se duvide dos resultados do romance, em termos de qualidade literária, reconhece-se o mérito de voltar a pôr em cima da mesa as vidas escalavradas de muitos stressados de guerra, denunciar que a rede nacional de apoio aos militares e ex-militares vítimas desta doença funciona deficientemente.
Li este livro sempre a pensar no que o Mário Vitorino Gaspar aqui escreveu, o seu trabalho na APOIAR e no sofrimento anónimo destas vítimas que aguardam tratamento para lhes suavizar o sofrimento.

Um abraço do
Mário


Vidas escalavradas de gente que continua em guerra

Beja Santos

João Paulo Guerra
“Corações Irritáveis”, por João Paulo Guerra, Clube de Autor, 2016, é o segundo romance deste jornalista profissional que se tem distinguido como autor de livros centrados na pesquisa histórica, caso de "Memórias das Guerras Coloniais", "O Regresso das Caravelas", "Savimbi Vida e Morte". Coração irritável era o nome dado a uma doença no século XIX que hoje é conhecida por perturbação pós-stresse traumático de guerra. Esta doença foi reconhecida em Portugal 20 após o fim da guerra. Em 1995, lançou-se a base para a criação de uma rede de apoio a esses doentes, estimados na ordem de algumas dezenas de milhares. Existe hoje uma rede nacional de apoio aos traumatizados da guerra, o seu funcionamento é muito controverso.

A perturbação pós-stresse traumático é o eixo central deste romance de cariz policial, investigativo e confessional. Linguagem onde paira um certo sentido poético, um percurso fluido onde se irão acumular vários mortos, com desfechos perturbadores. Tudo começa quando se encontrou o corpo de Henrique Moreira no rio Jamor, houve dúvidas se se tratava de suicídio ou homicídio. A inspetora Diamantina Jesus procura mais informações junto da viúva de Henrique, Adélia. Tudo isto se passa algures na década de 1990. Henrique mostrava sinais de asfixia por submersão, calçava botas militares, o corpo não apresentava sinais de violência. A inspetora cedo se apercebe que Henrique Moreira, que fora alferes miliciano na guerra de Moçambique, transportara um drama, uma inquietação que não o largava, aquele casamento tivera anos felizes, ultimamente Henrique consumia-se e consumia a sua mulher.

A polícia investiga indivíduos que compareceram ao funeral, tem todos em comum terem frequentado as consultas de psicoterapia comportamental do Hospital Júlio de Matos, gente cheia de problemas, desempregados, com vidas familiares infernais ou expulsos do convívio familiar. Todos aqueles homens trazem o inferno dentro deles, mataram, viram matar, perderam-se no mato, assistiram à crueldade e à violência. Diamantina conversa com a psiquiatra e apura que a tal perturbação pós-stresse traumático é o elo entre todos aqueles doentes e estima o número deles em cerca de 50 mil doentes crónicos. Os amigos de Adélia procuram ajudar e até investigam. Entretanto, há mais mortes, constata-se que aqueles doentes são coniventes uns com os outros, têm formas muito singulares de entreajuda. E descobre-se que o Henrique fora punido porque não aceitara um relatório acerca de uma povoação destruída e população barbaramente assassinada. As histórias seguem-se umas às outras, enquanto Adélia encontra num quarto a estranha documentação de Henrique envolvendo os acontecimentos de Moçambique. Vão se contando histórias truculentas, caso do cabo Felisberto fizera operações com os Flechas, cortadores de cabeças da PIDE no Sudoeste de Angola, gente que decapitava velhos, mulheres e crianças. Diamantina junta documentação enquanto prosseguem mais mortes suspeitas: homicídios ou suicídios assistidos?

A todo o momento, durante as inquirições, vai surgindo gente estranhíssima, têm todos em comum estarem marcados pela guerra colonial. De pista em pista, encontra-se um elo de ligação entre todas estas mortes e o papel desempenhado pela morte de Henrique. Por vezes, João Paulo Guerra cria atmosferas inverosímeis para essas mortes, caso do antigo Cabo Valentim Brotas que se suicida no dia 10 de Junho em pleno Terreiro do Paço, cortara os pulsos e deixara extinguir-se a vida, irá ouvir-se no velório o Adágio para Cordas, de Samuel Barber, o lancinante tema da banda sonora do filme Platoon. E há os dramas familiares, mulheres ansiosas e deprimidas de homens incertos e inesperados nas explosões emocionais: “Os filhos nasceram, ou pelo menos cresceram e foram criados neste ambiente familiar doentio. E se a separação entre os pais e as mães tinha afastado para longe o foco mais primitivo do contágio, do mal-estar e de perigo, agora eram as mães quem transmitia aos filhos a ansiedade e o pânico que os pais tinham vivido, agravados pela situação dolorosa do pai ausente e da mãe que também ia saindo da sua vida ao mergulhar nos abismos da memória de guerras que não tinha vivido”.

Investigação chega ao fim, percebe-se finalmente o que há de comum em todos estes doentes crónicos com quem Henrique convivera. Adélia parte, à procura de si própria e quando volta encontra cartas de um dos seus amigos que é pintor e fora trabalhar a Paris. Depois da guerra, a ternura inundou a vida destes dois seres humanos que tiveram de conviver com um turbilhão de corações irritáveis.

É um romance bem-intencionado mas fruste, é um trabalho de secretária de quem vê a guerra através do estudo de uma doença. Melhor seria que João Paulo Guerra tivesse enveredado pela reportagem, os resultados teriam sido seguramente mais convincentes e socialmente mais impactantes. Não obstante, é uma trama narrativa meticulosamente organizada com fina simplicidade e trabalho sério na pesquisa de atalhos profundos onde se desfizeram vidas nessa guerra colonial em que ainda há muito para contar.
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20911: Notas de leitura (1281): Conversa entre homólogos na Guiné-Bissau: uma história hilariante (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20938: Parabéns a você (1797): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20934: Parabéns a você (1796): António Estácio, Amigo Grã-Tabanqueiro, Escritor, natural da Guiné-Bissau e Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)

domingo, 3 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20937: Blogues da nossa blogosfera (130): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (45): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

AntiDeuteronómio I

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


A cidade está deserta por dentro e por fora de nós.
Começa a não haver vivalma neste lusco-fusco brumoso
neste irracional azul de um céu de chumbo
nesta descrença de manhãs de sonho
tem bicéfalas e bárbaras bandeiras de um
mundo informe e medonho.
Seguir em frente no deserto do fim do dia
dilatar a esperança até que raie a claridade
no ventre da manhã de fogo e sangue
entrar na vereda enlameada e fria
dos homens de aço sem perfil e sem destino
virar na esquina sem luz da esperança perdida
no contra-senso divino…
ou voltar para lugar algum.
Como seria bom continuar eternamente
o caminho que nascendo dentro de nós
em fio de regato cristalino
se perde ingloriamente à flor da pele.
Assim que for dia
se dia chegar a ser nesta aparência de paisagem
não podemos deixar que a nuvem negra sombria
e a negra miragem
venham toldar a aurora da razão
e semear ruínas no coração apodrecido das nações
e no cérebro corrompido por obscenas falas
armas e cifrões
de imperiais e acéfalos patrões.
Se libertarmos da nuvem negra
a aurora da nossa interrogação
se impedirmos a negra nuvem
de apagar a luz da inquietação
na incontornável unidade do pensamento e da razão
o poema incendiará as asas do vento
e queimará as garras dos abutres
devolvendo à humanidade algum alento.
A terra engolirá os exércitos genocidas
que à sombra da nuvem negra
de deuteronómicos evangelhos
a ferro e fogo se empanturram de vidas
e se embebedam de sangue
para glória do Senhor dos Exércitos…
e jamais haverá Deuteronómio que resista
por mais petróleo que na terra exista.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20906: Blogues da nossa blogosfera (128): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (44): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P20936: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXXVII: Fernando Assunção Silva, cap inf (Oliveira de Azeméis, 1945 - Tambambofa, Gadamael, 1971)




1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). 

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à esquerda], membro da nossa Tabanca Grande [, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972 ]


2. A CCAÇ 2976 (Gaviões) tem cerca de duas dezenas e meia de referências no nosso blogue. 

Recorde-se que  o cap inf op esp Fernando Assunção Silva, morto em combate, em Tambambofa, subsetor de Gadamael, em 24 de janeiro de 1971, foi substituído pelo então cap art António Carlos Morais da Silva. Eram amigos e camaradas de curso. Era natural de Oliveira de Azeméis, está sepultado em Atouguia, Guimarães.


Guiné > Região de Tombali > Mapa de Cacoca / Gadamael (1960) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bricama, Tambambofa e Caur.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)
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Guiné 61/74 - P20935: Blogpoesia (675): "Figueira do diabo", "Horrorosa modernidade" e "Os nós e os laços", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Figueira do diabo

Amarelecido por fora
Sedoso na pele, raiada.
Amarelecido ao sol.
Carnudo e sadio.

Crava-se-lhe o dente.
Um arrepio na espinha.
Amargo de enxofre.
O raio do figo.
Que o diabo pariu nas noites de inverno.
Faltou-lhe o mel da seara.
Impregnado de fel,
Afugenta o sedento e arrasa o faminto.
Donde veio a praga que nem falta fazia?
Só alegra e colora o caminho, parecendo bendito.
A garotada da escola, à falta de trapos,
Faz dele uma bola ou uma bala de fisga, conforme a guerra, enquanto dura e resiste.

Mafra, 2 de Maio de 2020
16h13m
Jlmg

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Horrorosa modernidade…

Ficaram ermas as terras.
Se ausentaram as gentes em hordas.
A fome.
A inclemente adversidade.
A metralha a toda a hora.
A esperança morreu.
Recomeçar.
Enquanto há tempo.
A única salvação.
Noutros quadrantes.
Arriscar a vida.
Vender as forças, pelo pão da sobrevivência e da segurança.
E nada seria preciso.
Houvesse justiça e solidariedade.
As leiras de terra seriam bastantes.
E as colheitas certas.
Sol e chuva à farta, na hora exacta.
Como só o sabe a Natureza.
Cada povo em sua terra.
Assim Ela o destinou.
Mas, a humanidade se encapelou.
Os poderosos de um lado.
Do outro, os escravizados.
Se abalançam aos mares e ao deserto.
Uns chegam. Muitos não.
Batem à porta das fronteiras.
Mais uma vez se divide o mundo.
E, ó vergonha!
Se erguem gettos.
Como se não fosse uma só a humanidade...

Mafra, 29 de Abril de 2020
17h45m
Jlmg

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Os nós e os laços

Há percalços na vida. Surpreendem incautos e atentos.
Há buracos no chão.
Há rochas tapadas nos caminhos de terra.
Esfacelam as polpas dos dedos dos pés.
Corre o sangue e empapa as meias.
Precisávamos de asas.
Pesam-nos as botas nas pernas.
Desenham pégadas no chão e na lama.
As chuvas de Outono rasgam os caminhos de sulcos.
Restam troços de areia seca ao sol.
Fazem de praia no rio.
Pendem das árvores os ramos com nós.
Ferradas ao chão brotam raízes dos tocos com nervos, com nós e com laços.

Mafra, 24 de Abril de 2020
1055m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20905: Blogpoesia (674): "Sobre o Vinte e Cinco de Abril", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P20934: Parabéns a você (1796): António Estácio, Amigo Grã-Tabanqueiro, Escritor, natural da Guiné-Bissau e Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 1 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20926: Parabéns a você (1795): José Carlos Neves, ex-Soldado TRMS do STM/CTIG (Guiné, 1974) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703 (Guiné, 1964/66)