quarta-feira, 17 de março de 2021

Guiné 61/74: P22014: Memórias cruzadas: 18 de novembro de 1969: uma dia (a)normal no HM 241, Bissau, um dia na vida do cap cubano Pedro Rodriguez Peralta, ferido em combate e helievacuado [Jorge Narciso, ex-1º cabo esp, MMA, BA, 12 (Bissalanca, 1969/71) / Jorge Teixeira 'Portojo' (1945-2017), ex-fur mil, Pel Can s/r 2054 (Catió, 1968/70 ) / Manuela Gonçalves (Nela), esposa do ex-alf mil Nelson Gonçalves, cmdt Pel Caç Nat 60 (São Domingos, 1969)]



Guiné > Bissau > Bissalanca > BA 12 (1969/71) > Jorge Narciso, ex-1º cabo especialista MMA, junto a um helicóptero Alouette III.

Foto: © Jorge Narciso (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Guiné > Região do Cacheu > Pel Caç Nat 60 > Estrada São Domingos - Susana > 13 de novembro de 1969 > A primeira mina A/C detetada e levantada: na imagem o alf mil Nelson Gonçalves e o 1º cabo Manuel Seleiro.



Guiné > Região do Cacheu > Pel Caç Nat 60 > Estrada São Domingos - Susana > 13 de novembro de 1969 > O estado em que ficou a viatura, Unimog, em que ia o alf mil Nelson Gonçalves.


Fotos (e legendas): © Manuel Seleiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Onze anos depois, reproduz-se aqui um poste do Jorge Narciso (*) com um comentário ao poste P5741 (**) do nosso saudoso Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2107) (**)

O pretexto é a efeméride da captura, ferimento e helievacuação do cap cubana Pedro Rodriguez Peralta, no corredor de Guileje, em 18 de novembro de 1969 (***).

Foi numa terça-feira (, depois de ter lançada na sexta-feira anterior), andava a Apolo XII já em órbita lunar, com 3 astronautos a bordo (, como se pode ler no título de caixa alta da edição do  vespertino "Diário de Lisboa", desse dia...)


Lisboa > Semanário "Expresso" >Edição
de 15 de dezembro de 1973 >O capitão
cubano Peralta no Tribunal Militar
de 1º instância. Uma foto  que a censura
não deixou publicar.
Um dia de azar, esse dia 18 (e, ao mesmo tempo,  de sorte) para um cubano, apanhado em emboscada, montada para o 'Nino' Vieira, no corredor de Guileje (ou "corredor da morte"), pelos nosos camaradas do BCP 12... Ficou para a história como a Op Jove (16-18 de novembro de 1969). 

Apesar de ferido, com gravidade, o cubano 
foi salvo pelos seus captores e enviado, de helicóptero, para o HM 241, em Bissau, onde a equipa cirúrgica  (onde se incluia o camarada José Pardete Ferreira) fez o seu melhor para lhe salvar o seu braço direito. 

Há dois testemunhos sobre esse dia,
 que vale a  pena  "repescar", o do Jorge Narciso,  1º cabo especialista MMA, BA 12, 
Bissalanca  (1969/71) e o  do  Jorge (Teixeira, (Portojo,  ex-fur mil arm pes inf, 
Pelotão de Canhões S/R 2054  (Catió, 1968/70)  (foto abaixo). 


Jorge Teixeira (Portojo)
(1945-2017)
Mas uns dias antes, a 13, na quinta-feira anterior [na véspera da Apolo XII ser lançada], o alf mil Nelson Gonçalves, cmdt do Pel Caç Nat 60, é também ferido gravemente, em combate: o Unimog em que seguia, accionou uma mina A/C.  

Dias mais tarde, acorda,  sem um perna, num quartdo do HM 241, Bissau... Justamente  na cama ao lado,  está um estrangeiro, o cap cubano Peralta. 

O drama foi-nos contados pela sua esposa, a Manuela Gonçalves (Nela) , membro da nossa Tabanca Grande da primeira hora, em dois postes de  2006 (****).

Nessa altura, em novembro de 1969, a Nela era uma jovem estudante universitára, vivendo a guerra à distância, mas com a morte na alma, com o seu namorada, Nelson Gonçalves, a combater na Guinjé... Já casada, anos depois, desloca-se à Guiné-Bissau, com a família, para exorcizar os seus fantasmas... Da paixão à cooperação foi um passo... Por volta de 2005/2006, descobriu o nosso blogue, que passou a visitar regularmente-

Na altura em que tanto o Pedro Rodriguez Peralta como o Nelson Gonçalves foram parar ao HM 241, um dos cirurgiões que lá estava colocado, era o nosso camarada José Pardete Ferreira (1941-2021)... (E já lá estava, internado,  com problemas do foro respiratóriio, o Jorge Portojo: da varanda sua enfermeria, no 1º andar, tinha vista desafogada  para o heliporto.)

Recorde-se que, no seu livro "O Paparratos", o José Pardete Ferreira  conta-nos que, por razões de segurança, o enfermo (e prisioneiro) Peralta mudou de cama e de enfermaria, mas quem não gostou nada da troca foi "um pobre de um alferes miliciano", com uma perna amputada por um mina (não A/P mas A/C), que ficou no lugar do cubano... Lamentava-se ele [, sabemos agora quem era, o Nelson Gonçalves], e com razão: "Se os gajos [o PAIGC] cá vierem, quem lerpa sou eu"... (p. 145) (***).

Registe-se, para a história, o nome, já esquecido, da Maria Zulmira Pereira André (1931-2010), a nossa Maria Zulmira [, foto à direita],  tenente graduada enfermeira paraquedista: foi ela quem,  competente e denodamente, acompanhou a evacução Ypsilon do cap Peralta. Resta saber quem era o peilo do AL III.


2. Um dia nas nossas vidas...

por Jorge Narciso [, foto atual, à esquerda] (#)


De Jorge (Narciso)  para Jorge [, Teixeira, 'Portojo', infelizmente já falecido em 2017]

Caro: Ao passar hoje pelo blogue, de imediato me chamou a atenção a foto do heli aterrado no HM 2141, Bissau, contida no teu poste

E como a ti, também ela me suscitou um tal corropio de lembranças, que, acredita-me, quase me atordoam. Tentando alinhar ideias:

Como mecânico dos helis, foi exactamente 

Bissau > 1969 > O Heliporto do HM 241.
Foto de Jorge Teixeira (Portojo)
(2010)
no Hospital Militar que (excepção feita, naturalmente, à BA 12, em Bisslanac) mais vezes aterrei na Guiné. E também a mim as recordações que suscita, serão tudo menos agradáveis. Seja a da lembrança das condições (fisicas e ou psicológicas) infra-humanas de homens que para ali transportei, seja a indescritível visão da sala de horrores, chamada triagem, onde eles eram colocados; de cada vez que ali tinha que ir recuperar macas. São imagens que jamais se esquecem.

Mas outra lembrança conseguiste, com o teu poste, desenterrar do fundo do meu subconsciente, a da evacuação do Capitão Peralta, a qual passo a transmitir, a quente, tal como a memória me debita.

Antes porém e à falta de outros registos, resolvi ir ao Google e digitar: Capitão Peralta.

Resultados:

(i)  Ferido e capturado em 18 de novembro de  1969 durante a operação Jove, realizada pelos Páras [BCP 12] entre os dias 16 e 19, no corredor de Guileje;

(ii) A  base dessa operação, a partir de onde os Paras foram heli-transportados, foi Aldeia Formosa.

Vamos agora à minha memória, que espero não me esteja a atraiçoar, sequer a iludir, e na qual (apesar da evidente redução de neurónios) quero ainda confiar.

Coloco os resultados dessa pesquisa em dois planos:  das quase certeza (ou com menor grau de falibilidade) e o das incertezas associadas, que evidencio entre parêntesis.

Assim:

(1) Eu só não estava no voo em que viste o Capitão Peralta aterrar no HM 241, pelas condições extraordimárias em que decorreu essa evacuação, cujos contornos passo a descrever.

(2) Em operações como esta, em que, independemente da Tropa participante, a base se situava num aquatalamentos longe de Bissau, para aí se deslocavam normalmente: 5 helis + 1 helicanhão, transportando uma equipa de manutenção e uma enfermeira paraquedista.

Dali partiam, então, fazendo as viagens necessárias para, transportando 5 ou 6 militares por heli, os colocar, protegidos pelo canhão, na ZOPS..

Se a operação se resumia a um dia, permaneciam os helis nessa base em alerta, para: evacuações, eventuais transportes das Tropas para outras posições na mesma ZOPS e finalmente para a sua recuperação no final da Operação.

Nos casos em que a Operação fosse por mais de um dia, ficaria em todos os dias em que esse decorresse e na base da mesma, no minimo um heli de alerta (com Piloto, Mecânico e Enfermeira) para eventuais evacuações e o helicanhão para protecção destas e para intervenções de tiro, se solicitadas.

(3) Nesta operação em particular, a Op Jove, é seguro que estive presente, desde logo porque recordo perfeitamente o objectivo apontado para a mesma (nos helis e durante os voos, mesmo que não quiséssemos, ouvíamos muita informação dita classificada): captura do 'Nino'Vieira. .

(4) No dia 18 de novembro de 1969 (Precisei a data na citada consulta na Net), portanto no 3º dia da Operaçãp, voei (seguramemte de Aldeia Formosa) para essa ZOPS onde aterrei [, no corredor de Guileje], no helicóptero que fez a evacuação do Capitão Peralta, não continuando no voo para o HM de Bissau,

Porquê?

(5) Os Alouette III têm capacidade para transportar 6 passageiros, para além do piloto (este e mais dois à frente) e até 4 no banco traseiro.

Em evacuações com feridos em maca, essa capacidade ficava reduzida, pois para além dos 3 lugares à frente, normalmente ocupados pela tripulação (Piloto, Mecânico e Enfermeira, na maioria dos casos), apenas é possivel alojar 1 ou 2 macas na rectaguarda, que, por transportadas transversalemente, impedem (ou dificultam, algumas vezes me tocou vir meio sentado meio em pé, nas abas da maca) utilizar os lugares traseiros.

No caso desta evacuação (Cap Peralta), tendo sido determinado, no terreno, que o capturado devia ser acompanhado no voo por escolta armada, foi necessário ocupar, por quem a fez, um dos lugares destinados à tripulação.

Para resolver o problema e - repito - se a memória não me atraiçoa, registou-se um caso que me lembre único:

(6) O helicanhão, que fazia a protecção à evacuação, aterrou na ZOPS, nele tendo embarcado o mecânico (eu próprio) e voado (junto ao apontador) para Aldeia Formosa, donde posteriormente regressei a Bissau (outra nebulosa, é que não me recordo como - noutro heli ? de DO 27 ? ), pois no helicanhão não foi concerteza.

Como remate a estes factos, este voo no helicanhão foi para mim perturbante, pois que uns meses antes (Julho de 1969. o eu 3º mès de Guiné) estive também para voar (nesse caso por experiência passiva que, para sorte minha, não concretizei) no retorno duma outra Operação em Galomaro, voo esse com um fim trágico, traduzido no despenhmento do heli (a que assisti) ocorrido em Bafatá, com a morte do meu comandante, o maj pilav Rodrigues  e dum camarada de todos os dias, o Machadinho - como lhe chamávamos - , Mecânico de Armamento/Apontador.

Um dia destes tentarei fazer o relato que me for possivel desta outra dramática ocorrência.

Voltando ao poste e à tua solicitação ao Jorge Félix (tantos Jorges), quase seguramente ele ainda estava nessa data na Guiné.

Como atrás referi, não me lembro se terá sido inclusive participante nos factos, em qualquer caso terá certamente presente memórias relacionadas e, quem sabe, como tem a sorte (que a FAP me coartou) de ter os seus registos de voo, pode buscar nos mesmos confirmações.

[# Título, revisão e fixação de texto para efeitos de publicação neste poste P22014]

_______________

Notas do editor:



(**) Vd. poste de 1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5741: Blogoterapia (142): Aquela janela virada para o heliporto (Jorge Teixeira/Portojo)
 

HM 241 > Novembro de  1969 > O
Jorge Teixeira (Portojo)
à janela...


(...) Estava lá eu na tal janela virada... no primeiro quarto, do primeiro andar, frente, direito, do HM 241, em Bissau,  e ouvi chegar um Heli. Logo os habitantes vinham ver do que se tratava, pois além de ser um passatempo a contabilização dos que chegavam por este meio transportados, queríamos sempre saber de quem se tratava. Porque até poderia ser um dos nossos mais íntimos. 

Neste dia quem chegou foi um barbudo (fiz uma foto, que veio para os amigos da metrópole, mas como tantas outras, desapareceu).. Pensámos, pelo seu aspecto: "Olha um Fuza. Fodeu-se"... Mas não era, soube à noite quando fiz a ronda do costume para passar o tempo, estranhando ver Comandos de sentinela à porta, que era um cubano, de nome Peralta. Não me dizia nada. Depois disse. Por isso a tal foto para a rapaziada da metrópole... Mais tarde, anos depois, soube da sua libertação [em 15 de setembro de 1974]..

Mas a conclusão é: Será que o Jorge Félix  [, ex-alf mil pil, BA 12, Bissalanca, 1968/70] se recorda ou até terá dado a sua colaboração a esta operação?

Por casualidade, o José Manuel  Cancela também estava hospedado, na mesma altura, no mesmo Hotel Militar de Bissau. Mas no terceiro apartamento. Só o soubemos há dias quando entreguei esta foto - entre outras - para o Carmelita digitalizar e ele viu. Estórias de vida." (...) 

Vd. também poste de 1 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10747: Blogues da nossa blogosfera (60): Memórias de Outros Tempos - A Estadia no HM 241, no Blogue Coisas da Vida (Jorge Teixeira - Portojo)

(***) Vd. postes de:


15 ede março de  2021 > Guiné 61/74 - P22008: Notas de leitura (1346): Paparratos e João Pekoff: as criaturas e o criador, J. Pardete Ferreira - Parte III: Rui Angel, aliás, Pedro Rodriguez Peralta, capitão do exército cubano, o mais famoso prisioneiro da guerra colonial... Aqui tratado com humor desconcertante (e humanidade) (Luís Graça)

(****) Vd. postes de: 

8 de março de 2006 > Guiné 63/74 - P596: Dia Internacional da Mulher (1): Sara Martins, presente! (José Martins) e A Guerra no Feminino (Manuela Gonçalves)

(...) Que se passava? Um aerograma de um amigo, Alferes Baptista, no Q.G. em Bissau, deu – me a notícia: uma mina tinha rebentado com o Unimog, quando ele [, o Nelson Gonçalves,]e o seu pelotão, o Pel Caç Nat 60 (*****),  seguiam numa patrulha. Ele estava no HMP em Bissau, em coma. Era dia 13 de Novembro de 1969, 10:30 da manhã.

Restava-me esperar que o trouxessem para Lisboa e falar diariamente com um médico, amigo de uma tia, que prestava serviço no Hospital em Bissau. E de longe fui acompanhando o seu estado! Mais tarde um lacónico aerograma dele, muito parco em palavras, cheio de silêncios, confirmava-a.

Apesar de toda a dor e angústia sentidas, uma grande alegria: ele estava vivo. Os sonhos continuavam adiados, mas não jogados fora. Uma nova etapa nas nossas vidas havia começado! (...)

26 de março de 2006 > Guiné 63/74 - P634: Uma mina na estrada de São Domingos para Susana (Manuela Gonçalves)

 (...) O flagelo das minas continua e não sei mesmo se muitas delas não serão ainda daquelas que foram colocadas na guerra colonial. A coincidência transportou-me até  [13 de] Novembro de 69.

Foi naquela mesmo estrada - de São Domingos para Susana - numa operação de reconhecimento da via, que o Unimog em que o maridão seguia, pisou uma mina anti-carro. No Unimog, uma outra mina anti-carro, levantada cerca de 300 metros antes, era transportada atrás e, por mero acaso, não rebentou, o que teria sido catastrófico para todo o pelotão!

A mina tinha sido accionada pelo pneu do lado direito, pelo que o maridão foi atirado para fora, em estado crítico, não tendo o condutor sofrido senão pequenos ferimentos, apesar da força do embate!

Um helicópetro transportou-o para Bissau, tendo acordado uns dias mais tarde numa cama no Hospital Militar, sem uma perna e tendo por companheiro de quarto o capitão Peralta, cubano, cuja captura tão noticiada era nos media de então. (...)



(*****)  Sobre o Pel Caç Nat 60 e a mina que vitimou o alf mil Nelson Gonçalves: Vd. postse:

 Guiné: Pel Caç Nat 60 > 

Terça-feira, 7 de maio de 2019 > P185: Aniversário do Pel Caç Nat (60)

Quarta-feira, 4 de novembro de  2009  > P13: O Nhambalã

(i) Foi formado a 7 de Maio de 1968, em S. Domingos;

(ii) estve com a CCS/BCaç.1933, CCaç. 1790, CCaç. 1791, em São Domingos, de maio a fins de novembro de 1968;

(iii) seguiram para Ingoré, ficando adidos à CCaç 1801 de novembro de 1968 até agosto de 1969;

(iv) reegressaram a a S. Domingos, em agosto de 1969, fiacando adidos à CCav 2539.

(vi) ficaria aquartelado em S. Domingos /Susana, até ao ano de 1974;

(vii) o primeiro comandante  foi  o ex-alf mil  Luís Almeida, rendido pelo ex-alf mil Nélson Gonçalves 
(, ao tempo do BCAV 2876, São Domibgos, 1969/71);

(viii) a 13 de novembro, de 1969 a viatura em que seguia  o Nelsom Gonçalves, acionou uma mina anti-carro sendo este sido ferido com gravidade, e helievacuado para o HM 241 e depois para o HMP;

(ix )de vovembro de 1969 a janeiro de 1970, o pelotão foi comandado pelo ex-fur mil  Rocha.

(x) em janeiro de 1970 o ex-alf mil Hugo Guerra comandava o pelotão,  sendo ferido no dia 10 de Março,  quando o 1º cabo Manuel Seleiro desativava uma mina anti-pessoal.(...)

Guiné 61/74 - P22013: Historiografia da presença portuguesa em África (256): Libelo de António de Saldanha da Gama contra a abolição da escravatura em "Memória sobre as colónias de Portugal situadas na Costa Ocidental de África"; 1814 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Julho de 2020:

Queridos amigos,
Anda por aí esse novo fenómeno social em torno de Portugal e dos escravos, falando de culpa do Ocidente cristão e do abominável negócio de escravos africanos para a Europa e América, Portugal estaria inteiramente nesse banco dos réus. O que acontece é que todo este processo embusteiro está fartamente documentado, só pode granjear adeptos entre fanáticos. Já não falo dos servos medievais, se a Igreja de Roma e os credos protestantes muitas vezes defenderam a pessoa humana, se houve o Padre António Vieira e a República Jesuíta do Paraguai, também houve cumplicidades, até padres cabo-verdianos andaram metidos no tráfico. E os árabes? Porque é que se faz tábua rasa do esclavagismo muçulmano, enquanto os árabes andaram afoitamente no Mediterrâneo, na Idade Média, não se dedicaram ao tráfico de escravos? Saquearam e piratearam e raptaram, estamos a falar de turcos. O império otomano tinha escravatura; a indústria da castração era uma especificidade do esclavagismo árabe-muçulmano. São realidades bem documentadas, e já não falo das castas indianas nem na escravatura que existiu no Império do Meio. Mas em nada desabona esta leitura do Conde de Porto Santo, terrífica e paradoxal, estamos a falar de alguém que sonha com a industrialização e com o desenvolvimento mas que trata o africano como um menor mental que está à espreita de todos os eflúvios da civilização cristã. Viram-se os resultados com as independências africanas.

Um abraço do
Mário


Libelo de António de Saldanha da Gama contra a abolição da escravatura (2)

Mário Beja Santos

António Saldanha da Gama, como dissemos anteriormente, era alguém na linhagem e na política portuguesa: Conde de Porto Santo, Par do Reino, Grã-cruz de várias Ordens, Chefe da Esquadra da Armada Real, Ministro Plenipotenciário e Embaixador em diversas Cortes. Foi ainda Governador e Capitão-General do Reino de Angola. Em 1839, consolidada a monarquia constitucional, Saldanha da Gama publica textos seus datados de 1814, Memória sobre as colónias de Portugal situadas na Costa Ocidental de África, precedida de um discurso preliminar. É um documento que provocará um certo estado de choque junto daqueles que andam nos últimos tempos a adoçar a natureza do esclavagismo à portuguesa.

No termo da exaltação que faz à valorização das colónias da África Ocidental, emite um juízo quanto ao modo como se deveria no futuro processar essa administração, como escreve:
“As possessões coloniais são geralmente consideradas entre nós como espécies de herdades que de nada valem quando directamente não rendem somas líquidas para o Tesouro. A utilidade e importância das colónias não consiste, todavia somente no rendimento que delas entra directamente nos cofres públicos, mas também nos lucros do comércio exclusivo que com elas faz a mãe-pátria, nos empregos que elas fornecem à população do país de que dependem, no alimento que dão à navegação nacional, etc. Estas vantagens são tão grandes que compensam exuberantemente a falta de rendimentos directos, e mesmo as despesas que com as colónias faça a metrópole (…) Cumpre não perder nunca de vista que as colónias concorrem eficazmente para a riqueza nacional, ainda quando não rendam coisa alguma para o Tesouro. O sistema espremê-las é não só iliberal, mas impolítico e funesto”.

Agora a nota mais curiosa deste documento é que o Sr. Conde de Porto Santo era a favor da escravatura, e escreve sem qualquer dissimulação o que pensa sobre a matéria, qualquer coisa de extraordinário e que até agora nada de parecido tive a oportunidade de ler:
“Deslumbradas pelas descrições patéticas e ardilosas dos horrores do tráfico, descrições pelo menos exageradas, e calculadas para encobrir o verdadeiro motivo delas, correram a alistar-se sob as bandeiras da filantropia inglesa grande número de pessoas de boa fé, que cuidavam fazer grande serviço à humanidade combatendo a favor dos projectos interesseiros, mas arteiramente apregoados como puramente filantrópicos da Grã-Bretanha. Por que razão não merecem à Inglaterra igual zelo os escravos cristãos das regências barbarescas, os escravos do Egipto, da Pérsia, da Turquia, os servos da Rússia, etc.? Será porventura porque a cor preta melhor excita as simpatias britânicas?
Quem viu de perto os povos negros de África, quem conhece a feroz crueza das suas leis e dos seus usos, a imensa quantidade de crimes e de contingências fortuitas que envolvem a perda da liberdade, não pôde deixar de reconhecer que o tráfico, ou como mais propriamente se dizia em outro tempo, o resgate dos negros, era um bem para a humanidade.

A escravidão em terra de cristãos, por dura que seja, é sempre muito preferível à escravidão em terra de bárbaros, e tanto é assim que havendo no Brasil grande número de negros Forros, e partindo dali frequentes navios para a costa de África, ainda não houve um daqueles negros que quisesse voltar para a sua pátria. A filantropia sensata e bem entendida deveria, portanto, começar por civilizar a África antes de se ocupar da abolição do tráfico; mas seria isso possível? Motivos bastantes há para o duvidar. Em Angola estiveram os jesuítas, a quem se não pode negar o talento de civilizadores; ali estamos nós há alguns séculos, e, todavia, os povos em trato e contacto connosco acham-se hoje com pouca diferença no mesmo estado em que se achavam quando pela primeira vez aportámos àquelas regiões. O preto não carece, a bem dizer, nem de casa nem de vestuário para se defender das inclemências da atmosfera, o seu sustento é simples e frugal, e pouco trabalho lhe basta para satisfazer a estas simples precisões. O clima que o preto habita favorece naturalmente a preguiça. Nestes termos, como trabalhará o preto além do estrito indispensável para prover à sua parca subsistência, se não tiver necessidades factícias a que queira satisfazer?

Mas a que se reduzem as necessidades factícias que até agora se tem podido introduzir entre eles? Algumas louçainhas, missangas, armas e o líquido fascinante da gerebita (cachaça brasileira), que tanto prezam os povos selvagens. Mas não se creia que para obter os objectos mesmo que lisonjeiam a sua vaidade ou o seu paladar, o preto seja capaz de se dar a grandes trabalhos, pois a estes prefere ele sempre a privação daqueles, e as doçuras da preguiça e da calaçaria. As necessidades factícias nunca para o preto se transformam em verdadeiras, e enquanto isto assim for, como poderá a civilização penetrar nos sertões africanos? Ora, enquanto a África permanecer no seu estado actual de barbárie, o resgate dos negros escravos, ou a mudança do senhor bárbaro para senhor civilizado, que vem a ser o mesmo, parecerá um acto de humanidade a todo o homem despido dos prejuízos de uma falsa filantropia, e que vir as coisas como elas são, e não como o interesse ou a paixão as pintam. Os males e inconvenientes do tráfico dos pretos, e sobretudo do tráfico enquanto foi lícito e sujeito à vigilância das autoridades, não redundavam em prejuízos dos pretos, mas sim dos povos que as admitiam em seu grémio. Considerado por este lado, o tráfico deveria certamente cessar o quanto antes, mas olhado filantropicamente, a sua cessação, em vez de ser um bem, é um mal para a humanidade. Tem-se dito e crido de leve, que o tráfico da escravatura era um incentivo, e uma causa de frequentes guerras dos pretos; como se quem move a guerra pudesse estar certo da vitória, quando aliás nada há tão incerto e dependente de contingências fortuitas, de acasos não sonhados, e dos favores da fortuna. O potentado que fizesse guerra por especulação, para colher cativos, não podia deixar de prever que, se a sorte lhe fosse avessa, cairia ele e o seu povo no cativeiro que ao inimigo preparava. Com igual lógica se poderia dizer que o tráfico da escravatura era estorvo e impedimento de guerra, pelo horror salutar do cativeiro a que ficavam indubitavelmente sujeitos os vencidos. Na verdade, com melhores intenções, nunca se propagaram tantos erros, nem se disseram tantos disparates, como nesta questão da escravatura!”
.

Assim pensava o Conde de Porto Santo e escusado é dizer que deixou uma certa escola.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21990: Historiografia da presença portuguesa em África (255): Libelo de António de Saldanha da Gama contra a abolição da escravatura em "Memória sobre as colónias de Portugal situadas na Costa Ocidental de África"; 1814 (1) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 16 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22012: Os nossos seres, saberes e lazeres (441): Vicente, o corvo do Parque da Cidade do Porto, que não empatiza por dádivas, mas somente por quem estiver na mesma onda (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)


Parque da Cidade do Porto > O Vicente


1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 12 de Março de 2021 onde nos fala do seu novo amigo Vicente:

O CORVO DO PARQUE DA CIDADE DO PORTO

A necessidade de andar, de espaços livres e naturais, leva-me muitas vezes ao Parque da Cidade, que fica a setecentos metros da minha casa e do qual avisto, através da vidraça, enquanto escrevo, algumas das suas árvores mais altas. E logo atrás o Oceano Atlântico azul ou cinzento, conforme a cor do céu que reflete.

Há lá muitas árvores de diferentes alturas, formas e feitios, entre elas, muitos eucaliptos. É muito agradável sentir o ar que as plantas respiram, a brisa do mar e a beleza de todo o conjunto formado por prados, flores, árvores, arbustos e lagos.

Gosto muito de sentir o cheiro que exalam cerca de trinta eucaliptos, da espécie Corymbia Citriodora, conhecidos pelos nomes comuns de eucalipto-limão ou eucalipto-cheiroso situadas, não longe de um lago, quase a meio do parque.

Em terra, no ar ou nos lagos há muitas aves de espécies diferentes, sendo os mais visíveis:
- Os pombos comuns, sempre atentos a quem traz pão ou outros alimentos;
- Os pombos torcazes, maiores e em menor número, em voo alto ou pousados nas árvores maiores, que fazem incursões por hortas próximas, queixam-se vizinhos meus, para comer couves e outras plantas hortícolas. Pombos trocais, assim chamados na minha aldeia, viviam sobretudo nos sobreiros altos, onde faziam os ninhos que eu procurava na adolescência;
- Os garnizés, os galos com plumagens garridas e vistosas e as fêmeas com vestimentas mais humildes e modestas;
- Os patos reais, tão belos os machos, numa simbiose de cores perfeita. E outros patos que não sei nomear;
- Os gansos, sempre em bandos, quando em terra fazem uma chinfrineira dos diabos por motivos que eu nem sempre entendo.
- Há gaivotas em grande número, nos lagos ou em terra, já que o Parque confina com o mar.

É no meio do Parque, no lago, atravessado por uma pequena ponte e nas margens que o ladeiam, perto dos eucaliptos cheirosos que se concentra a maior parte desta fauna emplumada, onde se juntam muitos pais e meninos, avós e netinhos, alguns casais de avós, solitários ou não, a levar comida para as aves, e outros visitantes que gostam de conviver nessa sociedade de aves e gente. Um pouco à frente, à direita, vive o Vicente, um corvo solitário, empoleirado em ramos de árvores altas, que rodeiam, em parte um grande relvado, onde crianças, jovens e adultos costumam brincar com bolas. Por índole ou por necessidade, ou por ambos os motivos, vai estabelecendo relações próximas com os passeantes. 

A primeira vez que me cruzei com ele há alguns meses, estava pousado num ramo de uma árvore, ouvi-o grasnar, e sabendo da fama da inteligência de todos os da sua espécie, quis conhecê-lo melhor, chamei-o e para surpresa minha desceu para perto de mim. Eu nunca tive pássaro, cão, peixe ou gato, como animal de estimação, embora tenha convivido com todos os animais, chamados da quinta (bois, vacas, mulas, burros, ovelhas, cães, galinhas, perus, patos, cabras e outros) na infância e adolescência.

Não tem sido fácil, a minha amizade com o Vicente. Nem sempre aparece ao meu chamamento. Um dia encontrei-o muito próximo de uma jovem mãe, um pouco receosa, com ele a procurar conviver de uma forma alegre, com o filho dela, um menino com cerca de dois anos, numa relação divertida.

Para conquistar mais a sua simpatia levei-lhe algumas sobras de comida de almoços, um arroz malandro e alguma carne. Prova o arroz, come alguma carne e outra transporta-a no bico e vai escondê-la para perto ou para longe, em voos rasantes, que repete algumas vezes.

Terei que dar mais provas de amizade ao Vicente para ele ficar mais amigo e se aproximar de mim como se aproximou do menino que só tinha o amor dele e da mãe para lhe dar.

Há o amor inteligente, que se chama empatia, amor sem palavras que só os ingénuos, os simples, os poetas, os puros e alguns animais sabem transmitir. O Vicente, já percebi, não empatiza por dádivas, mas somente por quem estiver na mesma onda.

Ponte no lago
Eu e o Vicente
Um jogador no relvado
Árvores do Vicente
Relvado próximo
Lago
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22001: Os nossos seres, saberes e lazeres (440): Voltei a Abrantes e nem tudo está como dantes (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22011: Recortes de imprensa (114): O Capitão cubano Pedro Rodriguez Peralta, "preso político antes do 25 de Abril", "prisioneiro de guerra" depois... libertado em 15 de setembro de 1974 (Diário de Lisboa, 16 de setembro de 1974)


Citação:
(1974), "Diário de Lisboa", n.º 18563, Ano 54, Segunda, 16 de Setembro de 1974, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_4810 (2021-3-15) (*)



____________________________________________________
_____________________________________________________





Recorte do Diário de Lisboa, edição de 16 de setembro de 1974, pp. 1 e 10 (com a devida vénia...) (*)


Guiné > Bissau > HM 241 > 14 de setembro de 1974 > Os últimos prisioneiros portugueses. Entre eles, o nosso camarada, membro da Tabanca Grande, António da Silva Batista (1950-2016), o último do lado direito. O Fortunato Dias é o terceiro, também a contar da direita.


Os sete camaradas nossos que foram trocados por 35 militantes ou simpatizantes do PAIGC, presos pelas NT, não eram, segundo as autoridades militares portugueses da época, "prisioneiros de guerra"...

Essa figura jurídica não existia... Não podia haver "prisioneiros de guerra" pela simples razão de que, para o regime de Salazar (e de Caetano), Portugal não estava em guerra contra nenhum país estrangeiro. Tinha uma "guerra de subversão", nas suas províncias ultramarinas, apoiada por algumas potências estrangeiras, mas limitava-se a responder, para manter a paz e a ordem, contra os que, internamente, alimentavam essa guerra...

Nessa medida, a Convenção de Genebra não se aplicava (ou não tinha que se aplicar, do ponto de vista legal) no TO da Guiné (e noutros teatros de operações, Angola e Moçambique)... Militar português capturado pelos "nossos inimigos" era classificado como "retido pelo IN"... Elemento subversivo ("terrorista") capturado pelas NT devia ser tratado como um vulgar "preso de delito comum" (e entregue depois à PIDE/DGS, para obtenção de informações relevantes pata a "segurança interna")... Era, grosso modo, essa a "doutrina vigente"...

Mas honra seja feita ao gen Spínola que era um dos que, dentro da Junta de Salvação Nacional, se opunham à libertação do Peralta enquanto não fosse garantida a entrega dos 7 prisioneiros portugueses pelo PAIGC. O que veio a acontecer no dia 14 de setembro de 1974, em Aldeia Formosa (Quebo).

Foto de Duarte Dias Fortunato (2016). Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (**)


2. Comentário do editor LG:

As declarações do Peralta ao "Diário de Lisboa", em 15 de setembro de 1974, momentos antes de embarcar no avião para Madrid que o levaria de regresso a Havana, quase cinco anos depois da sua captura no corredor de Guileje, na Guiné, em 18 de novembro de 1969 por forças do BCP 12, comandadas pelo cap pára João de Bessa, têm de ser entendidas no contexto da época: era um tipo educado, e, mais do que isso, amável e até sedutor; estava naturalmente agradecido aos seus captores (e aos serviços de saúde militares) que lhe salvaram a vida, e às autoridades que o libertaram, depois de cinco anos de "estadia forçada, não prevista" em Portugal, e a maior parte do tempo sob a "custódia" da polícia política do antigo regime... (que ele alega que o terá torturado, física e moralmente, e é de todo provável.) Acabou por ser condenado em 2 anos e 2 meses, pelo tribunal militar, por posse ilegal... de arma de fogo!

Tinha havido em 25 de Abril de 1974 uma mudança de regime em Portugal. Peralta foi "politicamente correto", como lhe convinha.  E não se esqueceu de agradecer aos profssionais de saúde portugueses que fizeram tudo para o salvar e tratar, quer em Bissau quer depois em Lisboa (Hospital-prisão de Caxias, Hospital Militar Principal, Hospital da Cruz Vermelha).

"Tratamento VIP" em Bissau e em Lisboa, apesar de ter passado pela Trafaria e por Caxias... Por exemplo, o Hospital da Cruz Vermelha (onde foi internado em maio de 1973) não era para todos (e muito menos para os combatentes portugueses feridos na guerra de África)... Por lá passou Salazar (cujo internamento em 1968 custou ao Estado Português o equivalemte a 1,5 milhões de euros)... E por lá passava o escol médico-cirúrgico  da época. Simples curiosidade: quem pagou a conta do Peralta? O advogado, sabemo-lo, que foi contratado pela embaixada de  Cuba... (Os dois países mantêm relações diplomáticas  há mais de 100 anos, ou seja, desde 1919, independentemente dos regimes políticos que se sucederam, num e no outro lado.)

Teve igualmente tratamento VIP por parte de alguns movimentos e partidos da chamada extrema esquerda revolucionária de então. Nas declarações que faz ao "Diário de Lisboa", acima reproduzidas, há referências às manifestações em prol da sua libertação, que se sucederam frente ao Hospital da Estrela, e que ele consideram excessivas... “O povo português libertará o capitão Peralta”, escrevia o MRPP num comunicado em que pedia “Todos à Estrela”, a 26 de maio de 1974.

Terá havido também pressões norte-americanas, e igualmente do Vaticano e da Bélgica, para o Peralta ser trocado  por um alegado agente da CIA, preso e condenado em Havana, Lawrence Kirby Lunt (e não Hunt), casado com uma belga... Ao que parece acabou por ser também usado como moeda de troca com o PAIGC que tinha, nas suas prisões, 7 militares portugueses ainda por entregar. (**).

Quanto ao seu "estatuto" nas fileiras do PAIGC, não sabemos o que é que as autoridades portuguesas, antes e depois do 25 de Abril, apuraram... Ele não foi, como pretende dar a entender um simples observador com "livre trânsito" nas "áreas libertadas"... Não, ele devia ter tido outra missão, quer como "consultor militar", quer como "instrutor militar"...  

Muito provavelmente o seu advogado, com larga experiência na defesa de presos potlíticos nos tribunais plenários do Portugal de então, deve tê-lo aconselhado a nunca admitir que era um combatente integrado nas fileiras do PAIGC, estatuto, de resto,  que o próprio Amílcar Cabral não gostava de atribuir aos cubanos, até porque isso significava "menorizar" os seus combatentes, os seus militantes, nacionalistas guineenses... 

Mas a verdade é que o Peralta estava, ao que parece, armado quando foi ferido e, depois, capturado. Se terá percorrrido ou não os 1800 metros na mata, a sangrar (com 4 balázios, de 7,92 mm, da temível metralhadora MG 42 do então 1.º cabo pára Regageles), não  o sabemos... Nem sabemos  se os seus captores confirmaram esta versão no Tribunal Militar de Santa Clara onde o Peralta foi condenado a 2 anos e 2 meses de prisão... 

E a propósito, o Bessa e o Ragageles encontraram-se com o Peralta, 40 anos depois, em Lisboa, em Belém, num gesto de grande nobreza, pouco vulgar, e  que merece ser aplaudido [, foto à esquerda]. 

Aliás, o Peralta já tinha estado em Portugal e na Guiné-Bissau, vinte anos depois da sua captura, tendo reonstituído a sua odisseia, a convite do Expresso ("Cubano prisioneiro de guerra" | Texto de José Manuel Saraiva | "Expresso", 16 de março de 1996).

[Foto acima: da direita para a esquerda, Ragageles, Peralta e Bessa,  junto ao monumento dos combatentes do Ultramar. Foto: cortesia da página do Facebook Paraquedistas não são arremachos, 16 de novembro de 2018.]

Poutro lado, foi recebido por Fidel Castro, em Havana, com um herói, passando de resto a figurar, no discurso de propagando do regime castrista, com o mais célebre célebre dos 437 combatentes (sic) (***)  que terão combatido, no TO da Guiné, nas fileiras do PAIGC, entre 1966 e 1974, e dos quais oficialmemte morreram  nove. (Achamos que o número, 437,  pode estar inflacionado; mas admitindo que está correto, a taxa de letalidade terá sido de 2%; desconhecemos o número de feridos.)

Por fim, subscrevemos o que se escreveu na supracita página do Facebook a propósito do sucesso da Op Jove: 

(...) "Uma das mais brilhantes missões executadas durante a Guerra Colonial coube aos militares do BCP 12 (Companhias 121 e 122). Brilhante não pela quantidade de baixas produzidas ao inimigo, ou ao volume de material capturado, mas pela primeira vez, no território da Guiné, era capturado um militar estrangeiro, que sob o rótulo de "conselheiro militar" participava na luta armada ao lado dos guerrilheiros do PAIGC.

"Este êxito sem paralelo, caso obtido por outras tropas, seria mencionado até à exaustão. Mas os Paraquedistas, perfeitos na humildade e na modéstia, sóbrios e decentes quanto decorosos e convenientes, cumpriram a missão, sem grande exibicionismo ou ostentação." (...). 

 _____________

(**) Vd. poste de 29 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15911: (Ex)citações (306): A propósito da última troca de prisioneiros, em Aldeia Formosa, no dia 14 de setembro de 1974....Prisioneiros, não, "retidos pelo IN"...

(***) Dora Pérez Sáez - Recuerdan misión militar cubana en Guinea Bissau: Internacionalistas cubanos de La Habana y Pinar del Río que combatieron en Guinea Bissau y Cabo Verde se reunieron en la Casa Central de las FAR". Juventud Rebelde. ,martes 29 mayo 2007 | 12:43:23 am.

Guiné 61774 - P22010: In Memoriam (385): Joaquim da Silva Correia (1946-2021), ex-1.º Cabo, Pel Mort 1242 (Buba, 1967/69) (António Correia, filho)

 
Pel Mort  1242 (1967/69) > Alf Mil Clemente, 2.º [?] Srgt Mil Gomes, Fur Mil Albuquerque, Alf Mil Simão, 1.º Cabo [Joaquim da Silva] Correia (sublinhado a vermelho) (1946-2021), 1.º Cabo Fernandes, 1.º Cabo Gonçalves, 1.º Cabo Brito, 1.º Cabo Sousa, Soldados Cerqueira, Pepa [ou Pipa?]...

 Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > 2013 > Memorial do Pel Mort 1242 (1967/69) > ... Soldados Neto, Gomes, Sarmento, Aurélio, Pereira, Branquinho, Matias, ilegível [Silva?], Escaveira [?], E. Costa. ilegível [...Soto ?], [C]osta, ilegível [...eira]...

Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > 2013 > Memorial do Pel Mort  1242 (1967/69) >... Soldados Rodrigues, Félix, Macedo, Farropas, Teixeira,  ilegível [M. Oliveira?], M. Vieira, Domingos, Laginha, Couto, Venâncio, P. Vieira...

Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > 2013 > Memorial do Pel Mort 1242 (1967/69) >  ... Soldados P. Barbosa, Lopes, G. Barbosa, Ribeiro, Alves, Carvalho, Reis, Marques, B. Peneira, Oliveira, Anacleto... e os restantes ilegíveis



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > 2013 > Memorial do Pel Mort 1242 (1967/69) > "Por aqui passou o Pel Mort 1242 (1967/69)"... Restos do seu memorial, com o respetivo brasão e a lista do pessoal (posto e apelido)... Tudo indica que o memorial foi alvo de um tosco (mas bem intencionado) "restauro"... 
 
Foto (e legenda) : © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guião do Pel Mort 1242 (Buba, 1967/69). 
Cortesia de Joaquim da Silva Correia / António Correia (2015)

1. Comentários deixado aqui, no poste P11653 (*), por António Correia, em  duas datas diferentes (13 de março de 2016  e 20 de fevereiro de 2020)...

Olá, boa tarde, o meu pai esteve no Pelotão de Morteiros 1242. Era o 1º cabo Correia. Ainda está vivo neste momento. Chama se Joaquim da Silva Correia. A  única pessoa que me respondeu foi o Sr Simão [ exs-alf mil, cmdt do Pelotão]. O meu pai vive em Oliveira de Azeméis. Este é  o meu contacto de telemóvel:  919966724


2. Mas também já nos tinha escrito em 2 de agosto de 2015, mandando-nos uma imagem (de fraca qualidade), como guião do Pelotão [, que reproduzimos em baixo]:

Olá, boa noite, Sr Luís. Sou António Correia, filho de Joaquim da silva Correia, que andou no Pel Mort 1242, Guiné, 1967/69. Neste momento vive em Macieira de Sarnes, concelho de Oliveira de Azeméis, Aveiro. Estou a escrever-lhe por talvez possa conhecer alguém de perto que gostaria de voltar a vê-lo. Muito obrigado, António Correia.


3. Recebi ontem, às 15h56 outra mensagem do António Correia infelizmente a comunicar o falecimento do pai:  


Olá,  boa tarde,  Sr. Luís, o meu pai faleceu dia 11 de março.

Cumprimentos, António Correia.

[, Foto à esquerda: Joaquim da Silva Correia, 74 anos (16 de junho de 1946 - 11 de março de 2021). Cortesia da agência funerária Alcino & Filho, através do portal infofunerais.pt]


4. Comentário do editor:

É muito triste a notícia que o  António nos dá. Já falei com ele  ao telefone. É o filho mais velho, tem mais duas irmãs. Aproveitei o ensejo  para lhe transmitir a ele, às irmãs, à mãe (, dois anos mais velha que o marido) e demais  família os votos de pesar da Tabanca Grande.  (**)

O nosso camarada Joaquim da Silva Correia morreu de doença prolongada (cancro no estômago, no IPO do Porto). Infelizmente, o diagnóstico da doença já foi tardio. Era natural de Penalva do Castelo, mas residia em Macieira de Sarnes, Oliveira de Azeméis., concelho onde também mora o filho.

Tem um bom álbum fotográfico do tempo da Guiné. O filho comprometeu-se a digitalizar e a mandar-nos algumas fotos. Gostaríamos que o nosso camarada entrasse para a Tabanca Grande,  a título póstumo,  não tendo nós nenhum representante do Pel Mort 1242. É, de resto, de louvar o gesto do seu filho António, procurando, em vida do pai, contactos com camaradas do seu tempo de Guiné. 

Para além dos seus camaradas de pelotão, haverá por certo outros camaradas do tempo do Joaquim da Silva Correia que o terão conhecido em Buba, entre 1967 e 1969. O Pelotão estava adido ao BART 1896 e depois ao BCAÇ 2834.

 Nas fotos acima  listados estão os apelidos e os post0s do pessoal que compunha o Pel Mort 1242. O 1.º Cabo Correia aparece em 5.º lugar na "pedra de Buba". Os nomes, em  maio de 2013, ainda continuavam  gravados nesse memorial que, esperamos,  hoje ainda se conserve em Buba, região de Quínara, Guiné-Bissau. 

5. Desta subunidade. o Pel Mort 1242 (Buba, 1967/69), de que temos poucas referências no blogue (, apenas cinco), sabemos o seguinte:

(i)  foi mobilizado pelo BC 10, Chaves;

(ii) parte do pessoal devia ser nortenho;

(iii)  esteve no TO da Guiné, em Buba, desde outubro de 1967 até agosto de 1969;

(iv) esteve adido ao BART 1896 (Buba, 1966/68); e depois ao BCAÇ 2834 (Buba, 1968/70);

(v)  regressou no T/T  Uige, em 23/8/1969, juntamente com outras tropas;

(vi) o pelotão deve ter tido esquadrões de morteiro 81 destacados noutros aquartelamentos, do sector de Buba, S2.

Recorde-se que o BART 1896 (Buba,  1966/68) em 5Abr67 foi render o BCaç 1861, assumindo então  a responsabilidade do Sector S2, com sede em Buba, e que  englobava  os subsectores de Sangonhá, Gadamael, Cameconde, Guileje, Aldeia Formosa e Buba e ainda uma companhia em Mejo. Isto até 28Mai68, sendo uma das suas missões a actuação continuada no corredor do Guileje.

Em 9Abr68, foi criado o subsector de Gandembel, e, em 12Jun68, a zona de acção  do Sector S2 foi foi reduzida da área de Aldeia Formosa.

_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11653: Em busca de... (223): Pessoal do Pel Mort 1242 (Buba, outubro de 1967/ agosto de 1969) cujos nomes ficaram gravados na "pedra de Buba"... O que é feito de ti, camarada Clemente, ex-alf mil e comandante? E de ti, Simão? E de ti, Laginha?... E de vocês todos, 44 anos anos depois de terem regressado no T/T Uíge, em 23/8/1969?

(**) Último poste da série > 14 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22007: In Memoriam (384): Ex-Fur Mil Cav Vítor Manuel de Carvalho Serrão da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66 (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)

segunda-feira, 15 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22009: Notas de leitura (1347): "A Batalha do Quitafine", por José Francisco Nico; edição de autor, 2020 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Março de 2021:

Queridos amigos,
 
O livro do General José Francisco Nico relata o conjunto de missões que conduziram ao aniquilamento da artilharia antiaérea do PAIGC na península de Quitafine. O autor aparece munido de credenciada documentação e testemunhos apropriados. A descrição de tudo quanto vai acontecer em 1968, ficará para o próximo texto. 

O General Nico não se circunscreve à problemática da Força Aérea, tece juízos negativos ao modo como se pôs termo à guerra colonial e aos consequentes atropelos à dignidade humana ocorridos na descolonização. Talvez mal informado quanto ao modo como se conduzia a guerra no solo, tece considerações quanto à presença do PAIGC em bases, e fala no título da própria obra na fantasia das áreas libertadas. 

Bem documentado sobre o que se passa na Força Aérea, talvez não tenha tido tempo para ler a Resenha das Campanhas de África, edição do Estado-Maior do Exército, no que tange à Guiné, quando a ler ficará seguramente surpreendido, pois além dos abastecimentos provindos da Guiné Conacri e do Senegal havia bases que podiam ser destruídas num dia e eram reconstruídas noutro, faz parte da essência das guerras de guerrilha, a generalidade da população aceitava esta dolorosíssima guerra do jogo, como ficou comprovado.
 
É a permanente tendência de confundir a nuvem com Juno, a árvore com a floresta.

Um abraço do
Mário



Memórias da destruição da artilharia antiaérea do PAIGC, na península do Quitafine (1)

Mário Beja Santos

Trata-se de uma edição de autor, a segunda, com data de novembro de 2020. Esta obra do Tenente-General Piloto-Aviador José Francisco Fernandes Nico encerra volumosas considerações sobre estratégia político-militar de guerrilha e contraguerrilha, tece considerações altamente críticas sobre os acontecimentos do 25 de Abril e o processo da descolonização e dá-nos um quadro das diferentes operações que decorreram entre outubro de 1967 e janeiro de 1970 que levaram à eliminação sistemática da artilharia antiaérea do PAIGC pela Esquadra 121 do Grupo Operacional 1201. 

O autor observa na introdução que ainda se verificaram episódios isolados do emprego deste tipo de artilharia, passados em Gandembel (28 de julho de 1968) no ataque a Ganturé (6 de janeiro de 1969) e em Sare Morso (1 de julho de 1970), referindo que depois deste último episódio não se verificaram novas ocorrências até ao aparecimento, em março de 1973, dos mísseis Strela-2.



Inicia o seu livro com o que ele chama confronto de assimetrias, no caso o isolamento político português que não aceitava negociações com os movimentos de libertação e as vantagens que o PAIGC detinha dada a natureza dos apoios que recebia. Em muitas das suas declarações o autor está próximo das tomadas de posição sustentadas pelo regime de Salazar e Caetano, diz abertamente que Portugal tinha uma visão para o futuro dos seus territórios que passava por uma comunidade multirracial alicerçada numa interação histórica. 

Não esquece de mencionar que havia portugueses aliados dos movimentos de libertação, o MFA era liderado por oficiais com ligações aos movimentos oposicionistas e, em particular, com ligações ao PCP. Nunca se compromete com o que teria sido um desfecho promissor para as independências das colónias, apresenta explicações miríficas, que talvez tivessem cabimento no caso de não ter havido, como houve, uma escalada sem retorno nos conflitos bélicos, de tal modo, como hoje é sabido por documentação publicada nos últimos anos, que o próprio Marcelo Caetano passou os últimos meses a procurar soluções de autodeterminação para Angola e Moçambique e mandou secretamente também, encetar conversações com o PAIGC para se encontrar um cessar-fogo. 

Toda esta situação de descalabro não merece nenhum comentário ao autor, mas formula um juízo sentenciador:

“Quando se conclui que a estratégia seguida numa guerra deixou de ter condições de sucesso, e a derrota se apresenta inevitável, é mandatório a adoção de uma outra com novos objetivos, mas que continue a defender, tanto quanto possível, o interesse nacional. A cedências total aos adversários, sem ouvir ou considerar as populações dos territórios, não foi outra estratégia, mas uma derrota perante as exigências dos oponentes. Uma nova estratégia teria que assumir a descolonização perante a ONU, para neutralizar a justificação da guerra, e uma continuação da contenção militar do inimigo direto que viesse a permitir um acordo realmente negociado”.

Mirífica proposta, basta recordar que a direção do PAIGC estava pressionada pelos movimentos congéneres de Angola e Moçambique para obter rapidamente o reconhecimento da independência, para não haver recuos, e se o novo governo português obstaculizasse se intensificasse a guerra na Guiné, o que já não era plausível, a partir de junho de 1974 encetaram-se conversações que marcaram o recuo das posições portuguesas, as nossas tropas declaradamente depuseram as armas, enquanto a população recebia os guerrilheiros com sinais de entusiasmo. 

Tudo isso está demonstrado, era impensável instituir qualquer outra estratégia, como a do referendo, Spínola bem ensaiou essa movimentação, pronto o PAIGC ameaçou com a continuação da guerra, seria o descalabro.

O autor faz referências aos primeiros anos da defesa antiaérea do PAIGC, elenca as baixas em voo havidas, o que se chama artilharia antiaérea é uma expressão que só ganha verdadeiramente conteúdo de 1966 para 1967, o apoio técnico-militar cubano revelou-se fulcral, em meados de 1966 o avião G-91 passou a fazer parte das operações, dando-lhes uma maior proteção. 

Obviamente que o autor nos faz compreender as razões da escolha da península de Quitafine, para a implantação da artilharia antiaérea e para o uso do slogan de área libertada. Um tanto à revelia do assunto, e porventura para demonstrar à saciedade que as áreas libertadas eram uma pura mistificação propagandística, refere que os ataques provinham de grupos que vinham do exterior e que para o exterior retiravam. 

Há aqui manifesta falta de cuidado na leitura dos relatórios militares. Creio que as edições do Estado-Maior do Exército sobre as campanhas de África, caso vertente da Guiné, são eloquentes quanto à permanência de bases flexíveis nas proximidades de muitíssimos destacamentos. Não falo só do que vivi, tinha a cerca de 20 quilómetros do meu principal destacamento Madina e Belel, no Cuor, estava rigorosamente proibido de me afoitar até ali com um pelotão, todos os anos havia uma operação à região, habitualmente mal sucedida, havia população que cultivava os terrenos e contatos estavam estabelecidos com a população civil, aparentemente sobre a nossa direta custódia, ainda hoje não se fez um estudo que nos desse uma ideia do que era verdadeiramente o duplo controlo. 

Recorde-se o Xime ou o Xitole ou Mansambo, no setor de Bambadinca: patrulhamentos, colunas de abastecimento, emboscadas e de vez em quando uma operação. O PAIGC estava de pedra e cal no regulado do Xime no Burontoni, Ponta do Inglês, Ponta Luís Dias, Tabacutá, Mina, Galo Corubal. 

Depois do 25 de Abril, o Brigadeiro Hélio Felgas, que foi Comandante do Agrupamento de Bafatá, e responsável pela Operação Lança Afiada, que movimentou um bom número de companhias durante doze dias se esfalfaram em toda esta região do Xime, Mansambo e Xitole, encontraram uns velhinhos e uns carregadores, obviamente que ninguém esteve interessado no contato direto, regressaram nas calmas, teceu um comentário sobre a natureza da guerra de guerrilhas, alegando que era manifestamente impossível perante gente ideologicamente firme, e com um elevado sentido de organização da população civil, pondo em causa a estratégia deste tipo de operações de bate e foge. Foi o que aconteceu, do princípio ao fim da guerra.

Voltemos à artilharia antiaérea, o autor fala-nos das munições usadas pelos equipamentos do PAIGC (munições tracejantes), casos de deteção, contextualiza a eficácia do poder aéreo na Guiné, como se foi descobrindo a guerrilha antiaérea, a tática usada pela guerrilha para passar despercebida durante os voos de reconhecimento e chegamos aos primeiros meses das operações. É referenciada uma operação abortada, a operação Apocalipse, que o Coronel Krus Abecassis, então Comandante da Zona Aérea em 1966, delineou e que foi rejeitada pelo os seus oficiais, entendia-se que o risco era demasiado elevado. 

É nesse ano que a tática antiaérea se alterou radicalmente com a chegada das antiaéreas fixas, bem ilustrada na obra e até a sua localização, dá-se conta da capacidade desta contraguerrilha antiaérea e regista-se o seu posicionamento. E em março de 1968 começa a missão que conduzirá ao seu aniquilamento.

(continua)

Imagem de um Fiat G-91, extraída do livro Portugal’s Guerrilla Wars in Africa: Lisbon’s Three Wars in Angola, Mozambique and Portuguese Guinea, 1961-74, por Al J. Venter, Edições Helion & Company Limited, 2013, livro acessível em pdf  aqui.

Metralhadora pesada ZPU-4, extraída do trabalho A Guerra das Antiaéreas na Guiné (1965/1970), por José Matos, acessível em https://www.revistamilitar.pt/artigo/1355.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 15 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22008: Notas de leitura (1346): Paparratos e João Pekoff: as criaturas e o criador, J. Pardete Ferreira - Parte III: Rui Angel, aliás, Pedro Rodriguez Peralta, capitão do exército cubano, o mais famoso prisioneiro da guerra colonial... Aqui tratado com humor desconcertante (e humanidade) (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P22008: Notas de leitura (1346): Paparratos e João Pekoff: as criaturas e o criador, J. Pardete Ferreira - Parte III: Rui Angel, aliás, Pedro Rodriguez Peralta, capitão do exército cubano, o mais famoso prisioneiro da guerra colonial... Aqui tratado com humor desconcertante (e humanidade) (Luís Graça)


Citação:
(1974), "Diário de Lisboa", nº 18563, Ano 54, Segunda, 16 de Setembro de 1974, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_4810 (2021-3-15)


Capa do livro

FERREIRA, José Pardete - O paparratos : novas crónicas da Guiné : 1969-1971. Lisboa : Prefácio, D.L. 2004. 169 p., [12] p. il. : il. ; 24 cm. (História militar. Memórias de guerra). ISBN 972-8816-27-8.

1. No romance (ou melhor, livro de memórias, ficcionado) "O Paparratos", J. Pardete Ferreira (*),  há  um capítulo, o XXI (pp. 141-146) dedicado a "O Cubano", o capitão Pedro Rodriguez Peralta, a quem o autor chama Rui Angel:

(...) Era pequeno de estatura, não ultrapassando o metro e sessenta e cinco, magro e seco, com a pele muiti branca e polvilhada de microscópicas sardas, ruivo de barba completa, rala e ausente nalguns locais" (p. 141)-

Não sabemos se a descrição fisionómica está inteiramente correta, mas é feita por um dos cirurgiões que o operou no HM 241, o autor (*), sendo o cirurgião principal o dr. Carlos Ferreira Ribeiro, já falecido (, no livro, o dr. Celso Rosa, ortopedista,  p. 143)

Recorde-se o que acontecera antes:   capitão do Exército Cubano, Pedro Rodriguez Peralta, de 32 anos (, nascido por volta de 1937), instrutor militar ao serviço do PAIGC, é gravemente ferido a 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, no decurso da Op Jove, conduzida por forças pára-quedistas do BCP 12 e destinada a capturar o próprio 'Nino' Vieira.


2. Demos aqui a palavra ao(s) autor(es) da página do Facebook, Paraquedistas não são arremachos, 18 de novembro de 2018:

(...) A "Operação Jove" tinha sido cuidadosamente planeada. Dias antes da partida para a operação, um avião da FAP levando a bordo o cmdt do BCP , Tenente Coronel Fausto Marques e o cmdt da Companhia [, CCP 122,] João de Bessa, observam a zona e o melhor local para a emboscada à coluna militar do PAIGC.

De forma a cumprir as ordens do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, às primeiras horas de 16 de Novembro de 1969, 40 militares da Companhia 122 , reforçados com 9 voluntários da 121, embarcam em 10 Alouette para o Corredor de Guileje, com a informação que a coluna inimiga traria 'Nino' Vieira, ao tempo, o mítico Comandante da Frente-Sul.

Os 50 paraquedistas levam rações de combate para três dias. Caminham a pé um dia e uma noite, evitando os trilhos para não serem detectados, e progridem debaixo de chuva por entre mata densa. Cerca das 10 horas da manhã de 18 de Novembro, os praquedistas chegam ao ponto da emboscada.

Ainda não completamente posicionados, apercebem-se de vozes ao longe. Um pequeno grupo composto pelo Capitão Bessa, Sargentos Neves Pereira, Mota e Valentim Gomes, 1ºs Cabos Ragageles, Carvalho e Rodrigues e Soldado Doce, aproximam-se da picada.

De repente foram ouvidas vozes de dois individuos, um negro e um branco que seguiam em direção à fronteira. O capitão Bessa dá sinal de fogo ao apontador da MG-42, 1º Cabo Ragageles. A primeira rajada abateu o guerrilheiro negro e feriu o branco. Iniciada a perseguição, com meia dúzia de páraquedistas, e tendo por base o rasto de sangue, é consumada a captura.

Encontram-no caído numa poça de sangue. Tem um braço quase arrancado, perdeu muito sangue, está entre a vida e a morte; o Sargento Vítor Francisco rápidamente trata-lhe dos ferimentos. Veio a saber-se que se chamava Pedro Rodriguez Peralta, Capitão do exército cubano. (...)

Enviado para o HM 241 (Bissau) e depois para Lisboa, foi devidamente tratado pelas autoridades portuguesas. Foi julgado em Tribunal Militar e condenado em 2 anos e 2 meses de prisão. 

Depois do 25 de Abril de 1974, o capitão Peralta foi libertado. Aliás, houve manifestações (do MRPP e outras organizações da chamada extrema revolucionária) a favor da sua libertação incondicional. Os americanos queriam trocá-lo por um alegado espião preso em Cuba...

Peralta, que fez amigos em Portugal, pode ser visto aqui numa reportagem da RTP, no aeroporto de Lisboa, em 15 de setembro de 1974, sempre sorridente e amável na presença entre outros do seu advogado, Manuel João da Palma Carlos (1915-2001), momentos antes de embarcar para Havana onde foi recebido como herói... 

Antes do 25 de Abril, era considerado um "preso político", o governo de então recusava-se a tratá-lo ocmo "prisioneiro de guerra", negando haver uma guerra na Guiné. Depois do 25 de Abril, mudou o seu estatuto: passaria a ser "prisioneiro de guerra", não ficando abrangido pela amnistia aos presos políticos... E só foi libertado, em 15 de setembro de 1974,  após a entrega, pelo PAIGC, dos "prisioneiros de guerra" portugueses, entre os quais o nosso saudoso António Batista, o "morto-vivo".

Sabe-se que, em 2008, com o posto de coronel reformado, pertencia ao Comité Central do Partido Comunista Cubano. Era seguramente o mais célebre dos 437 combatentes que, segundo o regime de Havana, terão combatido, no TO da Guiné, nas fileiras do PAIGC, entre 1966 e 1974 (Dos quais terão morrido 9 ou 17, conforme  as duas fontes cubanas oficiosas, já aqui citadas no nosso blogue).

3. Na recriação desta cena da captura do cap Peralta, o autor de "O Paparratos" diz que o "Rui Angel" [leia-se Pedro Peralta] estava com uma crise de paludismo (p. 142)  quando os homens da Companhia de Caçadores Paraquedistas nº 1221 [CCP 121 e 122], comandada  pelo cap pára "Braga"[leia-se: Bessa].

Não foi uma rajada de G3, mas de M42, "quase à queima-roupa, ia desfazendo o cotovelo direitodo branco, provocando-lhe também uma ferida no dorso, junto à omoplata"...Terá sido o cap Braga [Bessa] que lhe salvou o braço, em risco de ser amputado, gritando: "Se for para cortar, os médicos lá em Bissau que o façam. Liguem mas é para a Base e peçam uma Y", isto é uma helievacuação Ypsilon (p. 142). 

Assim aconteceu, a enfermeira parquedista que o assistiu até Bissau não foi a Margarida (, nome fictício) mas Zulmira André. Quando chegou ao hospital, a sua situação clínica era grave: "sangrara muito, a tensão arterial não conseguia ultrapassar os cinco milímetros de mercúrio, timha uma ferida no tórax e o antebraço direito estava quase amputado", segundo o relato do alf mil médico adjunto de cirurgião Domingos Lebre[, leia-se, Diamantino Lopes] (p. 143).

Entrado de imediato no Bloco operatório, o alferes mil médico João Pekoff "explorou a ferida torácica, constatando que, felizmente era superficial e apenas interessava as partes moles"... Uma vez que não havia necessidade de intervenção na cavidade, a atenção da equipa voltou-se para o membro esfacelado, "tendo o dr. Celso Rosa [Carlos Ribeiro] tomado o comando das operações, na sua condição de ortopedista" (p. 143)

O Carlos Ribeiro era um cirurgião experiente, em feridas com armas de fogo, tendo feito uma anterior comissão de serviço em Angola: "ortopedista conceituado, depressa equacionou o problema [do Peralat]. Entre a amputação, que se afigurava como natural, e a artrodese do cotovelo, originando para sempre  um ângulo de cerca de noventa graus, a decisão parecia não ser evidente. Sempre valia mais um braço aleijado mas efectivo funcionalmente, do que um coto que, muitas vezes, só serviria para atrapalhar. Os nervos, assim como a artéria e as veias principais sido tinham milagrosamente poupados.O capitão cubano ficaria com uma deficiência, era verdade,  mas manteria o uso do membro... com a condição de a ferida não infectar, possibilidade sempre imprevisível" (p. 144).

E tudo correu bem,com um tirada humorística final do ortopedista:

"Vamos lá ver se este gajo , ao menos, vai fciar com o cotovelo...quanto mais não seja  paar poder fazer um manguito para o cirurgião que o operou". (p. 144).

A crer no testemunho do nosso J. Pardete Ferreira (1941-2021), "ao recobrar da anestesia, o Rui Angel virou de imediato o olhar para o seu lado direito e, naquele misto de medo e de reconhecimento que certamente sentiu,  uma pequena lágrima fugiu lentamente pelo canto dum dos olhos, aliviando-lhe a ansiedade e o receio" (p. 144). Para quem, como ele, que tinha optado pela carreira militar, e que estava na força da vida, era reconfortante saber que lhe tinham salvo o braço...

4. Ainda mais dois ou três apontamentos deliciosos do nosso escritor (**), sobre a estadia do cap Peralta no HM 241:

(i) Por razões de segurança, o enfermo (e prisioneiro) mudou de cama e de enfermaria, mas quem não gostou nada da troca foi um pobre de um alferes miliciano,  com uma perna amputada por um mina A/P, que ficou no lugar do cubano... Lamentava-se ele, e com razão: "Se os gajos [PAIGC] cá vierem, quem lerpa sou eu"... (p. 145)

(ii) O hospital, por causa do prisioneiro famoso, passou a ser assediado pelo pessoal da "inteligência" militar, e simples curiosos que queriam espreitar a "avis rara"... Cabia ao dr. João Pekoff correr com os instrusos e mirones, fazendo cumprir ordens superiores... "Um dia, na conversa usual durante o penso, o João Pekoff pergunou ao Rui Angel como era o Che [Guevara. de resto morto na Bolívia em 1967, tendo sido ambos combatentes na Sierra Maestra]. A resposta não se fez esperar:  "Che, non era médico, era un hombre" (p. 145).

(iii) Entretanto, são recebidas ordens de Lisboa para transferir o Peralta para o HMP... Assim, pela manhã, num daqueles dois dias em que havia avião da TAP, "uma ambulância militar.  com um envergonhado Wolkswagen preto abrindo caminho, saiu do Hospital. O Carocha transportava o Director do Hospital Militar [, que era o dr. Moreira de Figueiro,  no livro, o tenente milciano Mário Falcão], com o alferes do Conselho Administrativo a  a desempenhar as funções de condutor!...

Na ambulância, além do condutor e de dois maqueiros, o Peralta levava como "ama seca"  um primeiro sargento enfermeiro [no livro, João Augusto]. Chegados ao aeroporto, "este pequeno comboio militar foi esconder-se no descampado que constituía o extremo poemte do aeroporto de Bissalanca".

Esta cena é hilariante: 

"Após a aterragem do avião, chegados os passageiros VIP ao hall da aerograre, de imediato disseram aos amigos e familiares aí presentes que, na Ilha do Sal,  timham recebido a indicação de que deveriam integrar a classe turística":... Justificação dada : "Em Bissau todos os lugares de primeira classe iriam ser ocupados por um  Capitão Cubanio, ferido e feito prisioneiro na Guiné"...

E, subitamente, ouve-se, através dos altifalanres,  uma voz feminina, a chamar pelo passageiro VIP: "Atenção, atenção, Pede-se ao passgeiro Rui Angel que se dirija aos Serviços de Saúde"... 

O diretor do HM 241, alarmado, apercebe-se do caricato da situação: toda a gente passava a saber que o avião viajava para Lisboa com um famoso e perigoso capitão cubano... 

À chegada à Lisboa, com a sua "ama seca", foi levado discreta e prontamente para o Hospital Militar da Estrela, sem que ninguém se tenha lembrado de "meter um batedor com girofaro e sirene, a abrir caminho, pelas avenidas e ruas de Lisnoa, da Portela até à Estrela" (p. 145.)

Na realidade, foi escoltado por um pelotão da Polícia Mlitar, comandada pelo alf mil cav Armando  Cerqueira, até à Trafaria (e mais tarde, para o hospital-prisão de Caxias).

Voltaria a Portugal,  creio que em 2009, tendo-se encontrado com os seus antigos "captores", em Lisboa,  em Belém, no Monumento aos Combatentes do Ultramar:  o sargento paraquedista Ragageles (ao tempo 1º Cabo), e o tenente coronel SG / PQ João de Bessa (ao tempo capitão). E ainda se juntaram, na Guiné-Bissau, o João Bessa, o 'Nino' Vieira e o Peralta para reconstituir, "in loco", a emboscada em que o cubano foi ferido e capturado pela tropa portuguesa.


(Continua) (***)

 ____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8481: Os nossos médicos (27): Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro,fui um dos que operou o Cap Cubano Peralta; e com o Dr. João Carlos Azevedo Franco, fui um dos últimos a ver o corpo do malogrado Major Passos Ramos (J. Pardete Ferreira)

(...) Fui para Teixeira Pinto [, para o CAOP] , de DO 27, numa manhã dos primeiros dias de Fevereiro de 1969!

Fui requisitado para Bissau no final de Junho do mesmo ano... (...) O meu cartão [, emitido pelo QG Bissau, com data de 24 de Junho de 1969, ] está assinado pelo Director do HM241, Major Médico Felino de Almeida (falecido em Janeiro do corrente ano).

Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro, Ortopedista, fui efectivamente eu que operou a ferida da parede torácica do Cap Peralta. (...)

(**) Vd. notas de leitura anteriores:


domingo, 14 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22007: In Memoriam (384): Ex-Fur Mil Cav Vítor Manuel de Carvalho Serrão da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66 (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)

IN MEMORIAM

Vítor Manuel de Carvalho Serrão, natural de Lisboa, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964-1966
O Vítor Serrão, ao centro, na cabeça o sumbiá idêntico ao de Amílcar Cabral, ante o indício duma mina anticarro, na estrada Buruntuma - Piche, ao seu lado direito o furriel Silva, ao seu lado esquerdo o Capitão Fernando Lacerda, nosso comandante.


1. Em mensagem de hoje, 14 de Março de 2021, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), manda-nos mais uma triste notícia, desta feita a do falecimento do seu camarada de armas Vítor Serrão.

Acabo de saber do falecimento ontem (dia 13) deste amigo e camarada da Guiné.
Além de camarada e de protagonista de todos os eventos de guerra da Companhia, recordo o Vítor Serrão como um amigo sólido e sereno.

Em sua memória, acabo de ouvir o “Il Silenzio” tocado em trombete, de que ele tanto gostava, nos momentos de folga na Guiné.





Descansa em paz, Vítor.

As minhas condolências à Família.
Manuel Luís Lomba


********************

Nota:
- Os editores e a tertúlia deste Blogue não podem deixar de se associar ao pesar do nosso confrade Manuel Luís Lomba pela perda do seu camarada de armas, ao mesmo tempo que envia à família do malogrado Vítor Manuel de Carvalho Serrão, as mais sentidas condolências.
É um facto que sempre que parte um camarada de armas, leva um pouco de todos nós antigos combatentes.
Que descanse em Paz.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21803: In Memoriam (383): General Ricardo Durão (1928-2021), ex-2.º Comandante do BCAV 705 (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705)