segunda-feira, 14 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23078: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - XIX (e última) Parte: Anexo B: Outros dados estatísticos: baixas, louvores e condecorações







CCAÇ 1439 (1965/67) > Resumos dos factos e feitos mais importantes. Anexo à Históira da Unidade. Assinado: Comandante da companhia, Amândio Manuel Pires, cap mil > Outros dados estatísticos: baixas, louvores e condecorações



João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67)



O  João Crisóstomo é um luso-americano, natural de Paradas, A-dos-Cunhados,  Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito nos dizem, a nós, portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes... 

Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque, depois de ter passado por Inglaterra e Brasil; é casado, em segundas núpcias, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun. Tem cerca de 180 referências no nosso blogue.
 

I. Continuação da publicação das memórias do João Crisóstomo, ex-alf mil at inf, CCAÇ 1439 (1965/67):



CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, luso-americano,
ex-alf mil, Nova Iorque) (*)


 XIX ( e Última) Parte :  Anexo B - Outros dados estatísticos: baixas, louvores e condecorações

Vd. Resumos, acima
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Nota do editor:


Restantes postes da série > 

25 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P23028: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XVII: A última operação no CTIG, em 31 de março de 1967: cerco e limpeza à tabanca de Bissá onde, explorando uma notícia do BCAÇ 1888, deveriam estar elementos IN numa festa

26 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22940: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XVI: brutal ataque ao destacamento e tabanca de Missirá na véspera do Natal de 1966

25 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22845: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XV: Dezembro de 1966: a Op Harpa em que é ferido com gravidade o Quebá Soncó, que depois irá para o hospital de reabilitação de Hamburgo, na Alemanha

2 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22680: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XIV: um mês de novembro de 1966 relativamente tranquilo: no decurso da Op Hino, foi abatido o antigo pescador de Enxalé de nome Jorge, de etnia papel, que servira de guia ao IN aquando do ataque a Porto Gole

20 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22558: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XIII: o fatídico dia 6 de outubro de 1966, duas minas A/C, dois mortos, no Mato Cão

23 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22478: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XII: Mina A/C em 21/8/1966, e violento ataque ao Enxalé em 9 de setembro

26 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22407: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XI: A partir de junho de 1966, e até 20 de agosto, primeiro ataque a Porto Gole, com metralhadora pesada 12.7

28 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22322: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte X: Op Garrote, 23 de maio de 1966, golpe de mão na região de Madina / Belel

6 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22258: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte IXb: Porto Gole: 3 de março de 1966, ataque IN, e visita da "Cilinha"

31 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22241: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte IXa: Porto Gole: 3 de março de 1966, ataque IN

18 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22210: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte VIII: A partir de outubro de 1965, em Enxalé e seus destacamentos, Porto Gole e Missirá







9 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21985: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi ( João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte I: afinal, não consegui esquecer...

Guiné 61/74 - P23077: Notas de leitura (1428): “Amílcar Cabral - Pensar para Melhor Agir”; edição da Fundação Amílcar Cabral, Praia, 2014 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Julho de 2019:

Queridos amigos,
No contexto das intervenções que proferiu no seminário de quadros do PAIGC, em novembro de 1969, o líder histórico insiste permanentemente em várias tónicas, procura ser o mais didático possível quanto ao conceito de democracia revolucionária, alerta para as diferentes formas de oportunismo e carreirismo, é cáustico quanto a esbanjamentos, desvios de valores, e desassombradamente fala nos direitos das mulheres, não esconde a sua preferência pela monogamia e exalta as virtudes femininas. O livro "Pensar para Melhor Agir", é de leitura obrigatória para todo aquele que pretenda aprofundar a visão, as caraterísticas ideológicas de Amílcar Cabral, ele delineou todo o seminário de modo a que os quadros, desde os mais antigos aos mais recentes, pudessem assimilar a génese da luta armada, os princípios partidários, a evolução da guerrilha e as suas perspetivas, a política externa e a ligação entre as forças armadas e as populações afetas ao PAIGC.

Um abraço do
Mário



Um guia prático para conhecer o pensamento do revolucionário Amílcar Cabral (3/5)

Beja Santos

A obra intitula-se “Pensar para Melhor Agir”, comporta o teor integral das intervenções de Amílcar Cabral do Seminário de Quadros do PAIGC, que se realizou em Conacri, de 19 a 24 de novembro de 1969. 

A edição é da Fundação Amílcar Cabral, Praia, 2014 e tem organização de Luís Fonseca, Olívio Pires e Rolando Martins. 

De há muito que só é possível ler Amílcar Cabral entre nós nas bibliotecas ou adquirir as suas obras em alfarrabistas. As intervenções do líder do PAIGC foram revistas a partir das bobinas que então recolheram integralmente a sua comunicação, mais uma razão para encarar este trabalho como uma boa oportunidade de revisitar a essência do seu pensamento.

O líder fundador do PAIGC discreteia sobre a organização, qualidades de liderança, vai falar seguidamente de independência de pensamento e de ação, quem pertence ao PAIGC e quais os seus deveres e direitos, o que é uma democracia revolucionária. 

Começa por observar que “A Direção do PAIGC tem agido sempre na base de independência e de ação. Temos sido capazes e temos de ser cada dia mais capazes de pensar muito os nossos problemas para podermos agir bem e agir muito para podermos pensar cada vez melhor. Muitos camaradas não o têm feito ao nível das suas responsabilidades. Alguns têm-se limitado a agir sem pensar, e outros têm muitas ideias sem fazer nada na realidade. Temos de ser capazes de aliar estes dois elementos fundamentais: pensamento e ação, ação e pensamento”

Refere as alianças africanas, destaca a luta de Angola e Moçambique, e de seguida a solidariedade internacional, releva os países socialistas, sem esquecer os países vizinhos a quem endereça um agradecimento. Muda de agulha, esclarece o que tem que mudar na organização e como funciona uma direção de vanguarda.

“Na nossa conceção, Partido é uma organização muito mais definida, muito mais clara. Partido é todo aquele que toma parte de uma dada ideia, num dado caminho. Movimento é uma palavra muito vaga. O nosso Partido talvez seja hoje ainda, na realidade, um movimento, mas o nosso trabalho tem de ser transformá-lo em Partido cada dia mais. Partido, porque nós entendemos que, para dirigir um povo para a libertação e o progresso é fundamentalmente preciso uma vanguarda, gente que mostra de facto que é a melhor e que é capaz de provar isso na prática. Durante a luta de libertação, muita gente tenta enganar, mas pouco a pouco é preciso definir a sua posição claramente como pertencendo àquela vanguarda, ao conjunto daqueles que são os melhores filhos do nosso povo”

E porque luta o Partido, Cabral esclarece: 

“Não queremos que ninguém mais explore o nosso povo, nem brancos nem pretos, porque a exploração não são só os brancos que a fazem, há pretos que querem explorar ainda mais do que os brancos. Nós queremos que o nosso povo se levante e avance e, se queremos que o nosso povo de levante, não são só os homens, porque as mulheres também são nosso povo. Aqueles que entenderem que a mulher tem direito de avançar, ter instrução, ir à escola como qualquer ser humano, para fazer qualquer trabalho, como ela é capaz de fazer; aqueles que entenderem bem que um homem, enquanto tiver três u quatro mulheres nunca será um homem de verdade e que não há nenhum povo que possa avançar com homens com quatro mulheres; aqueles que entenderem bem que se tiver uma filha não a pode vender, assim como não pode vender a mãe, que não é nenhuma escrava; quem entendeu que as crianças são os únicos seres a quem temos de dar privilégios na nossa terra, que são a flor da nossa vida, que por causa delas nós fazemos todos os sacrifícios para viverem felizes; aqueles que fizerem bem os trabalhos designados pelo Partido, ao serviço do nosso povo, é que são membros do nosso Partido e têm de mandar na nossa terra”.

Explica a natureza dos membros do PAIGC e como este deve negar toda a fauna de oportunismo, e dirige o seu pensamento para outra direção, a democracia revolucionária, ao seu entendimento.

“Temos de acabar com a mentira, temos de ser capazes de não enganar ninguém sobre as dificuldades da luta, sobre os erros que cometemos, as derrotas que eventualmente tenhamos e não podemos acreditar que a vitória é fácil. A democracia revolucionária exige que combatamos todo o oportunismo. Nós somos capazes de arranjar muitas desculpas. Por exemplo, há responsáveis cujo trabalho é desculpar a sua gente que não faz nada, procurar explicar à Direção do Partido por que razão não se faz nada: ‘dificuldades de terreno’; ‘as condições não são boas’; ‘o inimigo avança’; ‘há muitos bombardeamentos’, etc., etc., em vez de fazerem força, de trabalharem para vencer todas as dificuldades, porque uma luta é uma vitória permanente contra as dificuldades. 

Temos de combater a tendência para amizades e camaradagens que não são para servir o Partido mas para se servirem uns aos outros, que não são do interesse do Partido e do nosso povo. Sabemos que há disso no nosso Partido. Temos de ser capazes de evitar as manias de certos camaradas de que, se eles saírem do posto onde estão, estraga-se tudo, acaba tudo. Ninguém é indispensável nesta luta; todos nós somos necessários, mas ninguém é indispensável. Se alguém tiver de ir, que se vá embora e, se a luta parar, então é porque ela não prestava. A democracia revolucionária exige que os responsáveis, os dirigentes, vivam no meio do povo, à frente do povo, atrás do povo. Ninguém no Partido deve ter medo de perder o poder. Muitos países caíram na desgraça porque os que mandavam tiveram medo de perder o lugar de comando. Nós não devemos ter medo de nada, devemos contar claramente a verdade ao nosso povo, aos nossos militantes, aos nossos camaradas e, senão ficarem contentes e poderem, que corram connosco, que nos ponham fora”.

E daqui rumou para a fidelidade aos princípios, o respeito aos princípios. 

“A categoria de uma Direção ou de um dirigente está em saber aquilo em que deve ceder e aquilo em que não deve ceder. Nas relações com os militantes e com os combatentes há que ceder em certas coisas, mas sem ceder nos princípios. Por exemplo, não podemos nas Forças Armadas ceder nada em relação à disciplina, mas podemos ceder um bocado aos camaradas nalgumas coisas que não estragam o nosso trabalho, que não prejudicam os nossos princípios”.

Mudando de contexto, refere-se às modalidades de resistência, fala diretamente em eliminar tudo quanto seja um obstáculo ao progresso do povo, e fala explicitamente: 

“Amanhã, não podemos aceitar na nossa terra os abusos e os privilégios de grupos ou grupinhos, se de facto queremos libertar o nosso povo. Temos de eliminar a ignorância, a falta de saúde e toda a espécie de medo, gradualmente”.

 Aborda com brandura a questão das superstições e feitiçaria, dos medos, de todos os modos de escravatura. 

“Já não aceitamos que se amarrem as crianças para lhes baterem. Não admitimos mais que na nossa terra se tratem seres humanos como cães”

São estes os princípios em que assenta a resistência política, o primado da unidade, o compromisso na luta, o saber mostrar na cena internacional o que se pretende com uma vida independente e uma respetiva política não-alinhada.

(continua)

Amílcar Cabral pintado por Noronha da Costa
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23068: Notas de leitura (1427): “Amílcar Cabral - Pensar para Melhor Agir”; edição da Fundação Amílcar Cabral, Praia, 2014 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23076: (De)Caras (185): Isabel Amora (1946-2020), a cantora "ié-ié" que atuou em Jabadá, para os militares da CCAV 2484 (1969/70) (Manuel Antunes / Fernando Feio)... mas também em Galomaro, em 1971, ao tempo do BCAÇ 2912 (António Tavares)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5

Guiné > Região de Quínara > Jabadá > CCAV 2484 (1969/70) >  A cantora ié-ié Isabel Amora, atuando para os militares do aquartelamento, que ficava na margem esquerda do Rio Geba. Fotos do Manuel Antunes, ex-sold cond auto, CCAV 2484, Os Dragões de Jabadá (*)

Fotos (e legenda): © Manuel Antunes (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas dfa Guiné] 


1. O nosso camarada, Manuel Antunes, que vive há mais de meio século em Toronto, Canadá, acaba de confirmar o nome da artista que atuou para ele e os seus camaradas, os  "Dragões de Jabadá" (Fotos nº 1 e 2), em data que não precisa, mas que só pode ter sido entre 4 de março de 1969 e 9 de dezembro de 1970 (A CCAV 2484 / BCAV 2867 assumiu o subsector de Jabadá em 4 de março de 1969, e foi rendida em 9 de dezembro de 1970, recolhendo a Bissau para regresso à Metrópole.)

Quem primeiro identificou a cantora (Foto nº 2) foi o Francisco Feio, ex-1º cabo mecânico, também da CCAV 2484: "Isabel Amora, nome artístico, tenho fotos dela e dos outros dois artistas que estiveram no mesmo concerto" (11 de março de 2022 às 22:55, comentário ao poste P23069 (*)

O Manuel Antunes mandou mais duas fotos desse espectáculo com a tal Isabel Amora (Fotos nº 1 e  4). Tudo indica que, nesse espectáculo, a artista tenha aparecido com duas indumentárias diferentes: vestido curto, mas de manga comprida e minissaia (Fotos nºs 1 e 2) e blusa de manga curta e calça à boca de sino (Fotos nº 4 r 5).  

Na primeira atuação, está ao nível dos espectadores, uns sentados, outros de pé, e outros ainda empoleirados numa árvore. O local pode ser a parada do quartel ou as proximidades de alguma das casernas. Na  segunda atuação, está num plano mais alto, num murete, junto à parede de um edifício. 

Na foto nº 3 pode ver-se um pormenor dos sapatos, que parece estarem parcialmente enlameados ou sujos com terra. Na foto nº 5, destaca-se um elemento, feminino, que parece estar a tocar teclas (ou piano elétrico). O Fernando Feio  fala em "mais dois artistas que estiveram no concerto".

2. Quem era a Isabel Amora, que entretanto já morreu, em 2020, com 74 anos?

Segundo elementos que recolhidos na Net, foi uma "pioneira vocalista pop entre nós e que hoje em dia poucos porventura recordarão" (**)... Nasceu na Amora, concelho do Seixal, distrito de.Setubal em 1946.

Isabel Baptista, de seu nome, de muito cedo "começou a mostrar os seus dotes artísticos e musicais cantando o “IÉ IÉ” (estilo de música pop surgido na França, Itália, Espanha e Portugal no início da década de 1960). Há quem diga que o seu estilo preferido era o seguido por Rita Pavone, cantora com sucesso na música Italiana. Infelizmente não temos nenhum registo de som da Isabel a Solo." (...)

(...) "Entre 1965 e 1966, no Teatro Monumental, em Lisboa, teve lugar o famoso Concurso Ié-Ié, e Isabel Amora cantou no evento (embora fora de competição) acompanhada pelos Jovens do Ritmo, da Amora - localidade onde nasceu e que guardou como apelido artístico. (...)


Com Paula Amora, sua prima, Isabel faz o duo Elas, com supervisão do músico Carlos Portugal.  "Entre 1971 e 1972 gravam cinco discos, contando com arranjos de Pedro Osório e com originais de Portugal e de Luís Romão (com percurso de destaque então a solo).

Mas em Jabadá  Isabel deve ter atuado a solo... Segundo a  fonte que estamos a citar (**), "antes do lançamento do Duo Elas, Isabel pela mão da Senhora D. Helena Félix, parte para o Ultramar para cantar para os militares. O seu empresário era o Sr. Munhoz, pai da Sra. D. Eunice Munhoz, com escritório na Praça da Alegria em Lisboa. (...).

(...) "Ainda em 1971, este duo pop canta na inauguração do Centro Comercial Apolo 70, em Lisboa, e participa no único Festival da Canção da Guarda, com 'Sim, Meu Amor Foste o Primeiro'. Depois dos dois últimos discos do duo, em 1972, Isabel Amora ainda cantou em Moçambique a solo e fez teatro alguns anos mais tarde, mas os tempos de glória tinham ficado para trás."

(...) "Em 1972 fizeram uma tournée por todas as praias de Portugal - Concurso Miss Praia 72 - com o patrocínio duma Rádio, com um grupo de músicos de Almada. Participam no programa televisivo que passa na RTP1 - Canal13 - todas as segundas feiras à noite. Programa esse que era gravado no Teatro ABC nos sábados anteriores no Parque Mayer, em Lisboa. (...)

(...) "Alguns anos depois vão para o Porto, onde passam a viver durante um tempo e actuam em vários Casinos portugueses. Acabado esse contrato, a Paula decide casar-se e o Duo dissolve-se. A Isabel retorna a Moçambique, onde encontra família e onde faz a sua vida a cantar com um novo contrato, regressando a Portugal no final deste e dando por finalizada a sua carreira artisitica. A sua vida deixa de ser artística e passa a viver uma vida fora dos palcos. Mais tarde casa-se, mas divorcia-se uns anos a seguir" (...)



3. Diz o António Tavares, também em comentário (*):

(...) "No dia 31 de Março de 1971 houve festa no Quartel de Galomaro. O BCaç 2912 recebeu a Isabel, Tino Costa, Eva Maria e Fernando Correia. Os quatro actuaram a solo e em conjunto, num palco construído para tal fim, na parada do quartel.

"Os Militares e a População local durante umas horas esqueceram a guerra. Existem fotos comprovativas dos artistas em Galomaro. Acabada a actuação os artistas seguiram viagem para Bafatá ou Bambadinca." (*)

Ficamos sem saber quem promoveu o espectáculo em Jabadá (e noutros sítios, como Galomaro): O Movimento Nacional Feminino (MNF)?A atriz Helena Félix (Porto, 1920 - Lisboa, 1991)?  O pai da Eunice Muñoz, que se chamava Hernâni Cardinali Muñoz, e que era o empresário da Isabel Amora?... 

Enfim,  será que estes e outros empresários  fizeram digressões, com artistas da Metrópole,  pelos três teatros de operações (Angola, Guiné e Moçambique), independentemente do Movimento Nacional Feminino? Nesse caso, quem pagava? Era o Exército?

domingo, 13 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23075: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXIX: Ìndia, Cochim, novembro de 2016




Índia >  Cochim > 17 de novembro de 2016 >  O autor e a esposa. junto à catedral-basílica de Santa Cruz

Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu (2016) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Cochim, União Indiana, novembro de 2016

por António Graça de Abreu

[Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de três centenas de referências no blogue; texto enviado em 10 do corrente]


Na boca deste rio tem el-rei nosso senhor uma fortaleza mui formosa, 
derredor da qual está uma grande povoação de portugueses 
e de cristãos naturais da terra 
que se fizeram cristãos 
depois de assentada a nossa fortaleza.

Duarte Barbosa, O Livro de Duarte Barbosa, em 1516



Pois, os façanhudos portugueses de antanho, pouco ajuizados, indomáveis, valentes lusitanos da era de quinhentos, Cabral, Gama, Albuquerque. Hoje, na velha Cochim um cemitério holandês e uma imensidão de túmulos vazios. Da fortaleza do tempo de Afonso de Albuquerque resta um pequeno troço da muralha debruçado sobre o mar.

Entro na igreja de S. Francisco, o primeiro templo católico europeu a ser construído pelos portugueses na Índia, em 1503. Lá dentro, lápides e sepulturas de gente da nossa pequena nobreza e a tumba vazia onde esteve Vasco da Gama falecido em Cochim em 1524. O corpo aqui permaneceu até 1539 quando foi transladado para Portugal, pelo seu filho Estevão da Gama. 

Recentemente, uns brasileiros amantes do futebol passaram por esta igreja e tiveram a original ideia de deixar num expositor ao lado do túmulo uma bandeirinha do Club de Regatas Vasco da Gama, homenagem ao nosso navegador. Algum orgulho num não esquecido, ainda faiscante nome português que até deu o nome a um grande clube de futebol do Rio de Janeiro.

Entro numa escola primária, católica, dirigida por freiras. As salas de aula têm as portas abertas para os miúdos verem os turistas estrangeiros, e vice-versa. Rapazes bem dispostos vestem todos umas camisas com quadrados vermelhos, brancos e pretos e saúdam-nos alegremente num inglês macarrónico.

Adiante, fica a catedral-basílica de Santa Cruz. Edificada por portugueses em 1550, foi reconstruída de raiz em 1888. É por isso, um templo mais moderno, imponente, com mil histórias para contar. Um altar com a Senhora de Fátima.

Avanço para o outro lado da antiga de Cochim, com a sinagoga e o quarteirão judaico. Ainda cruzes de David na fachada de seculares habitações e lojas. Existem judeus em Cochim desde o século XI, e a sinagoga, sóbria, com um conjunto notável de candelabros de vidro e o chão revestido com azulejos chineses, foi construída em 1568. A cidade albergou durante centenas de anos franjas de judeus que fugiam das perseguições na Europa, chegados da Holanda, de Espanha, de Portugal, condenados a um distante exílio definitivo. 

Recordo o nosso médico Garcia da Orta (1501-1568) judeu de Castelo de Vide, que por aqui andou e faleceu em Goa. Dizem-me que com a fundação do estado hebraico, em 1948, a maioria dos judeus de Cochim partiu para Israel e hoje apenas meia dúzia de crentes na religião do ramo plural de Abraão e Isaac vivem neste bairro judaico.

Há uma cidade nova de Cochim do outro lado do braço de mar, que não visitei. É nos quarteirões antigos deste burgo que o meu coração melhor pulsa e o sangue melhor circula.

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Guiné 61/74 - P23074: Memória dos lugares (437): Rio Mansoa, destacamento de João Landim (Victor Costa, ex-fur mil at inf, CCAÇ 4541/72, Safim, 1974)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5

 Guiné > Região do Cacheu > Rio Mansoa >  Destacamento de  João Landim

Fotos (e legendas): © Viictor Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região do Cacheu > Rio Mansoa > João Landim > 1965/66 > A famosa jangada que atravessava o Rio Mansoa em João Landim, ligando Bissau com a região do Cacheu

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região do Cacheu > Mapa de Bula (1953) > Escala 1/50 mil > Pormenor: Rio Mansoa e passagem em João Landim.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)


1. Mensagem do Victor Costa, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974)

Data - 12 mar 2022 17:09 
Amigos e camaradas da Guiné,

Ao longo da História,  os Rios e os Portos tiveram sempre muita importância numa guerra e os rios da Guiné, como não podia deixar de ser, tiveram também aqui um papel de relevo.

Este tema que pretendo abordar prende-se com o facto das fotografias que pretendo ver publicadas se referirem ao Rio Mansoa, ao Porto de João Landim e daí até a Foz, às Jangadas que realizavam a travessia, à proteção das pessoas e bens que as utilizavam, à amplitude das marés e à segurança e riscos associados ao funcionamento da engrenagem e também aos acidentes que vitimaram muitos de nós.

Todas estas fotografias não incluem equipamento militar nem armas, apesar da maior parte delas serem tiradas de cima de uma jangada militar. Isto não foi devido a qualquer imposição do Comando ou dos meus superiores mas por opção minha e deve-se a uma tonteria dum puto 22 anos que não queria que quando o rolo fosse revelado em Bissau pudesse fornecer ao IN qualquer informação por mais pequena que fosse das NT. Também não foi com a ideia de prejudicar quem acima de mim mandava, até porque era uma pessoa de trato fácil, muito correta e se calhar não dava muita importância a estas questões por ser do interior. Mas acontece que eu nasci e vivo numa zona onde desde miúdo convivi com o Rio, o Mar, a amplitude das marés e os riscos aí associados.
 
Quando em meados de Maio de 1974 fui colocado no Destacamento de João Landim Norte a minha travessia do Rio Mansoa foi feita na praia-mar, foi muito fácil e decorreu sem incidentes.

Mas durante as operações de segurança que ali fiz constactei que, apesar do Porto de João Landim estar a mais de 40 Km da foz (Mar), a influência das marés fazia-se sentir fortemente, com um caudal também muito forte e ainda com uma amplitude de maré superior a 4 metros e onde naturalmente se passeava o tubarão negro.

As próximas 5 fotografias tiveram como objectivo captar:

1º O aluvião descoberto no leito do Rio na baixa-mar para poder calcular a altura entre o nível da maior e da menor maré.

2º O desnível da rampa de acesso à jangada a marca da maré na margem e as dificuldades associadas.

3º A entrada das pessoas para a Jangada civil e a Lancha da Marinha a executar a proteção.

4º A Jangada a navegar no Rio sem qualquer dificuldade.

5º A minha última travessia e despedida já ao longe do edifício do Porto de João Landim, felizmente mais uma vez sem qualquer problema.

Para concluir,na minha modesta opinião, durante o período da Lua, o risco de embarque e desembarque nas Jangadas fora do pico da maré era muito elevado.

Um abraço,
Victor Costa
Ex-Fur Mil At Inf
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23058: Memória dos lugares (436): Safim, às portas de Bissau, e o terminal dos autocarros da A. Brites Palma (Victor Costa, ex-fur mil inf, CCAÇ 4541/72, Safim, 1974)

sábado, 12 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23073: Os nossos capelães (17): José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71), ainda no ativo como padre das Missões da Consolata


José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71)



José Torres Neves, missionário da Consolata,
 um dos 113 capelães  prestaram serviço no TO da Guine





Fonte: Excerto, adapt de Henrique Pinto Rema - "História das Missões Católicas da Guiné": Editorial Franciscana, Braga, 1982, pp. 709-712 (Vd. a extensa recensão bibliográfica feita pelo nosso camarada e colaborador permanente Mário Beja Santos) (*)



1. Mensagem de nosso camarada e amigo Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, Fev 1970/Dez 1971, hoje médico, a residir em Tomar.

Data - 12 mar 2022 16:39 
Assunto - Capelães

Caros amigos

Sobre o tema os nossos capelães (**), e, aproveitando a sugestão do Luís Graça, venho dar um pequeno contributo com algumas notas. E elas referem-se ao capelão José Neves com quem desenvolvi amizade, que ainda hoje se mantem.

Os nossos contactos têm-se mantido com a regularidade possível, uma vez que faz parte das Missões da Consolata, estando em missão em várias partes do mundo, encontrando-nos sempre que vem de férias (não amiúde). Daí, que só agora espicho estas breves notas, após obtida a sua anuência.

José Torres Neves, ex-alf graduado capelão,  integrou o BCAÇ 2885,  sediado em Mansoa. Prestou serviço de 1969.05.07 a 1971.03.03.

De acordo com a sua informação,  foi o único capelão das Missões da Consolata a prestar serviço na Guiné.

Votos de ótima saúde.
Um abraço,
Ernestino Caniço


Brasão do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71). 
Divisa: "Nós Somos Capazes". 
Subunidades de quadrícula: CCAÇ 2587, 
CCAÇ 2588  e CCAÇ 2589




Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (1969/71) > 1969 >  O alf graduado capelão José Torres Neves com o cap eng trms, STM, Bento Soares, aqui à civil (sendo hoje maj gen ref, nosso grã-tabanqueiro nº 785). Ambos naturais de Meimoa, Penamacor. 

Foto (e legenda): © João Afonso Bento Soares (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné 61/74 - P23072: In Memoriam (432): António Brandão de Melo (1950-2022), ex-Fur Mil Inf da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74)

IN MEMORIAM

António Brandão de Melo (2/1/1950 - 9/3/2022)
Ex-Fur Mil Inf da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74)


O nosso camarada Jorge Canhão, ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, fez-nos chegar a notícia de mais um camarada, combatente da Guiné, que nos deixa.

Desta feita, António Brandão de Melo, ex-Fur Mil Inf, também da 3.ª CCAÇ do BCAÇ 4612/72, sediada em Mansoa mas com intervenção na zona de Bula, Mansabá, Gadamael Porto entre outros.

António Brandão de Melo era advogado e foi comentador da Crónica Criminal no programa Você na TV, da TVI.

"Desde 2020 já faleceram, que saibamos, 6 camaradas - 2 alferes, 1 furriel e 3 soldados". acrescenta o Jorge Canhão.

De acordo com a nota de pesar publicada na página da Ordem dos Advogados, o Dr. António Brandão de Melo nasceu a 2 de Janeiro de 1950, licenciou-se em 17 de Abril de 1985, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, inscreveu-se como Advogado a 10 de Dezembro de 1987 e exerceu advocacia na Comarca de Alenquer.



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Nota do editor:

De acordo informações recolhidas no facebook do malogrado camarada António Brandão de Melo, o velório terá lugar na Basílica da Estrela a partir das 18h00 de hoje.

Amanhã, domingo, haverá missa às 13h30 na Basílica da Estrela, seguindo o funeral para o cemitério Alto de São João às 14h00.

À família enlutada a tertúlia e os editores deste Blogue de antigos combatentes da Guiné, apresentam as suas mais sentidas condolências.

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P23035: In Memoriam (431): Padre Mário de Oliveira (1937-2022): até sempre! (Comentários de Zé Teixeira. José Martins, António Murta e Alice Carneiro)

Guiné 61/74 - P23071: Os nossos seres, saberes e lazeres (495): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (41): Em Cernache do Bonjardim e na Sertã, no dia em que aqui recebi a segunda dose da vacina (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2021:

Queridos amigos,
Passei vezes sem conta por Cernache, lembranças para visitas e satisfação da curiosidade nunca foram satisfeitas. A Empresa de Viação Cernache era uma lembrança da minha infância, a minha mãe levou-me na Rodarte para ver as amendoeiras em flor, em 1952, no Algarve e um ano depois viajamos na Empresa de Viação Cernache para Tomar. Como era professora primária, tudo era explicadinho, o itinerário não só até Tomar, o autocarro não se confinaria a Cernache, seguiria até às Beiras, naquele tempo era a rota obrigatória, o quadro só mudou quando apareceu a ponte sobre o Zêzere, então os expressos utilizavam a A23 e o IC8, a importância rodoviária de Cernache decresceu. Passei férias durante anos na Foz do Arelho onde na sala de jantar havia um quadro enorme de Túllio Victorino, o meu padrinho falou-me deste pintor elogiando a sua obra, daí o acicate em querer visitar o ateliê, desta vez não consegui mas um dia acontecerá. O Real Colégio das Missões é uma referência obrigatória para quem estuda as missões em África, alguns padres guineenses vieram estudar a Cernache e um dia que possa visitar a biblioteca hei de perguntar o que nela consta do primeiro sábio guineense de origem africana, o meu muito estimado Padre Marcelino Marques de Barros. Aqui ficam recordações, as primevas, da chegada a Cernache, haverá algumas mais, e depois vou vacinar-me na Sertã e visitar algo que provavelmente vos irá empolgar.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (41):
Em Cernache do Bonjardim e na Sertã, no dia em que aqui recebi a segunda dose da vacina (1)

Mário Beja Santos

Ao amanhecer de 9 de julho, parto de um lugarejo de Tomar com destino à Sertã, é dia da segunda dose da vacina. Organizei a viagem de modo a estar pelas dez horas na Junta de Freguesia e visitar o ateliê do pintor Túllio Victorino, o Seminário das Missões e o que foi a Empresa de Viação Cernache, de que guardo lembranças da infância. A que propósito o pintor Túllio Victorino? Passei férias numa casa alugada pelos meus padrinhos na Foz do Arelho, era a antiga colónia de férias do Colégio Moderno. Na ampla sala de jantar, o meu padrinho colocara um imponente quadro a óleo, a Praça dos Restauradores debaixo de chuviscos, o cinema Éden iluminado, o padrão aos heróis da Restauração numa semiobscuridade, impressionante obra-de-arte, hesitava entre o neoimpressionismo e o naturalismo. O meu padrinho esclareceu-me: “É do Túllio Victorino, excelente artista, não é Malhoa nem Silva Porto, mas anda perto”. Foram anos a fio a contemplar este quadro. E sempre que passava por Cernache, bem curioso com esta construção de 1910, compósita, com laivos de arabescos, telhados de beiral, azulejos moçárabes, janelas com laivos medievais, prometia a mim mesmo uma visita que jamais se efetuou. Apresentei-me na Junta de Freguesia, recebi uma obra sobre Cernache de Bonjardim e a informação de que o ateliê estava em obras. Comecei a digressão por Cernache olhando este revivalismo do princípio do século XX, os arcos em ferradura, e olhei demoradamente a estrutura de ferro e o janelão do salão. Túllio Victorino residiu aqui até 1969, o edifício entrou em degradação, a Câmara Municipal transformou-o no “Espaço Cultural Túllio Victorino”, em 2008.

Nora à volta do Espaço Cultural Túllio Victorino
Quadro a óleo de Túlio Victorino
Retrato de Túlio Victorino
Irresistível não fotografar este estreito caminho entre duas ruas, em Cernache do Bonjardim

Bati à porta do Seminário das Missões, houvera conversa telefónica com alguém que se revelara prestável, marcou-se dia e hora para visitar o antigo Real Colégio das Missões Ultramarinas, mandado edificar em 1791 e com a finalidade de preparar sacerdotes para o Grão-Priorado do Crato. No início do século XIX, Mariana de Áustria dotou-o com uma renda para formar padres para a China. O colégio foi encerrado em 1834 e reabriu em 1855 com a função de preparar pessoal missionário para os territórios ultramarinos do Padroado – assim surgiu o Colégio das Missões Ultramarinas. Segue-se a reviravolta de 1911, instala-se aqui um Liceu Colonial e depois o Instituto das Missões Coloniais. Em 1926, o edifício foi restituído aos seus antigos possuidores e em 1930 o seminário passou a integrar a Sociedade Missionária da Boa-Nova. Aqui se formaram centenas de sacerdotes, daqui saíram doze futuros bispos. Venho na mira de me ofuscar com a impressionante biblioteca e a sala das ciências. Quem me recebe nada sabe do telefonema anterior, o padre ecónomo está ausente, a informação é de que tanto a biblioteca como a sala das ciências estão em obras. Paciência, recebe-se permissão para fotografar a boa azulejaria, o claustro e lápides que recordam as missões ultramarinas e quem deu a vida por elas. Dia virá em que poderei aqui vir contemplar esta biblioteca com cerca de 7300 obras, há aqui mesmo um exemplar do dicionário em “Ambrosie Calepini”, que traduz uma palavra em dez línguas, e se possível aproveitarei para ir à sala das ciências para ver como se ensinava os missionários em tempos antigos.

Enquanto percorro estas instalações, penso nos documentos que tive a possibilidade de ler que governadores coloniais enviaram para aqui jovens para se formarem, inevitavelmente veio-me à mente o nome do Padre Marcelino Marques de Barros, que foi Vigário-geral da Guiné, e é seguramente o primeiro sábio guineense, já tem sido alvo de estudos, bom seria que a Guiné-Bissau tratasse a sua memória como património incontornável, saiu das suas mãos o primeiro dicionário de português e crioulo guineense, levantou histórias e tradições, sabe-se lá se se passeou neste claustro com que agora me despeço, ainda vamos continuar a falar de missionários, sigo depois para a antiga Empresa de Viação Cernache e depois a vacina e depois muitas coisas mais há para visitar na Sertã.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23051: Os nossos seres, saberes e lazeres (494): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (40): Os esplendorosos jardins do Palácio dos Marqueses de Fronteira (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23070: Parabéns a você (2046): Sargento Ajudante Ref da GNR, Manuel Luís R. Sousa, ex-Soldado At Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512/72 (Jumbembém, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Março de 2022 > Guiné 61/74 - P23067: Parabéns a você (2045): Joaquim Sequeira, ex-1.º Cabo Canalizador do BENG 447 (Bissau, 1965/67)

sexta-feira, 11 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23069: Fotos à procura de... uma legenda (163): Uma imagem relativamente rara, esta, de uma cançonetista, de minissaia, a atuar em Jabadá, por volta de 1969/70


Guiné > Região de Quínara > Sector de Tite > Jabadá  > CCAV 2484 (1969/70) >  Uma cantora actuando para as nossas tropas, numa iniciativa seguramente do Movimento Nacional Feminino. Foto do Manuel Antunes, ex-sold cond auto, CCAV 2484, Os Dragões de Jabadá (*)


1. É uma foto relativamente rara, que nos enviou o Manuel Antunes, dos "Dragões de Jabadá" (*).  Os espectáculos, em quartéis do mato, realizados pelo Movimento Nacional Feminino, com cançonetistas da metrópole, relativamente conhecidos, como a Flobela Queiroz,  não estão bem documentados no nosso blogue. 

A única exceção é o Conjunto Académico João Paulo, que tem vários referências no blogue (**). Mas os seus elementos, originalmente estudantes, estavam a cumprir o serviço militar. 

Facto desconhecido para muitos dos nossos leitores, foi a Cecília Supico Pinto  quem "conseguiu que os músicos do 'Conjunto João Paulo' cumprissem o serviço militar actuando no mato em digressões pelas 'províncias' ", revelação feita na sua biografia, escrita por Sílvia Espírito Santo ("Cecília Espírito Santo,o rosto do Movimento Nacional Feminino, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2008, pp. 144). 

Ela sabia, de resto, da experiência norte-americana na II Guerra Mundial, da importância que podia ter, sobre o moral das tropas em África, as atividades de natureza lúdica, como os espetáculos musicais ao vivo, feitos por artistas em voga, vindos da metrópole. 

Não sabemos quem era a artista (vd. foto supra) que está de costas, a atuar em Jabadá, c. 1969/70. Talvez algum leitor a consiga identificar e sobretudo queira comentar, "acrescentando uma legenda à foto" (***).

Houve muito boa gente, do mundo do espectáculo, incluindo a Amália Rodrigues, que colaborou com o Movimento Nacional Feminino, quer na edição dos famosos discos de Natal (1971 e 1973), quer participando inclusive em digressões pelos quartéis do mato ou em concertos na metrópole para angariação de fundos.

Além dos músicos do Conjunto Académico João Paulo, talvez o caso mais conhecido terá sido o da cançonetista (e actriz)  Florbela Queiroz.

A Florbela Queiroz (nascida em Lisboa, em 1943) não sei se passou pela Guiné, mas diz ela que andou no mato 8 meses, em 1967 e 1968. "Nunca fui tão respeitada por toda a gente. Eu era nova, tinha 21 anos, era uma miúda gira, e andava lá no mato no meio dos soldados, comi da ração deles. Foi a época em que mais me realizei" (cit. por Sílvia Espírito Santo - "Cecília Supico Pinto: o rosto do Movimento Nacional Feminino". Lisboa, A Esfera do Livro, 2008, pág. 144).




O João Paulo Agrela, ao centro, o fundador do grupo. Está fardado, e era furriel, tendo morrido em 23/4/2007, mas o elemento mais conhecido do grande público era o vocalista Sérgio Borges (1943-2011).


Guiné > Zona leste > Geba > CART 1690 > 24 de agosto de 1968 > O conjunto musical João Paulo em digressão pela Guiné... Tal como no caso de  outros artistas populares na época, como a Florbela Queiroz, a digressão à  Guiné do Conjunto Académico João Paulo era uma  iniciativa do Movimento Nacional Feminino (MNF). Este  conjunto fez digressões também por Angola e Moçambique, durante a guerra colonial, além de países estrangeiros como os EUA. (Por exemplo, um ano depois, estavam em Moçambique a atuar para o BART 2838, 1968/70).

Foto (e legenda): © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas dfa Guiné] (*)

2. Relativamente ao Conjunto Académico João Paulo... Foram fundadores do grupo, madeirense, pioneiro da música "rock" em Portugal (a par de Os Sheiks, Os Conchas, Chinchilas, Duo Ouro Negro, Quarteto 1111 e Demónios Negros, entre outros) os seguintes elementos:   

(i) João Paulo Agrela (1942-2007) (teclas);
(ii) Carlos Alberto Lomelino Gomes (guitarra) falecido no Funchal em 2020);
(iii) Rui Brazão (guitarra ritmo);
(iv) Ângelo Moura (baixo);
(v) José Gualberto (bateria, falecido em 2004);
(vi) e Sérgio Borges (1943-2011) (vocalista).  

Não sabemos se todos estes participaram nesta digressão à Guiné, em 1968 ou se estavam na altura a cumprir o serviço militar na Guiné... Três ou quatro elementos do grupo passaram pelo EPI (Mafra), onde fizeram a recruta, no turno de setembro de 1966... Como se vê, dois anos depois  ainda estavam na tropa... Do tempo de Mafra, ficou a canção (pouco conhecida) O Salto (disponível no You Tube).

O grupo extingiu-se em princípios da década de 1970.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23066: Tabanca Grande (531): Manuel Antunes, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 2484 - "Dragões de Jabadá" (Jabadá, 1969/70)... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 858

(**) Vd., por exemplo, 

25 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15406: (Ex)citações (302): O conjunto João Paulo, em 1968, em Susana... No fim do concerto apanhámos com umas valentes morteiradas (Domingos Santos, ex-fur mil, CCAÇ 1684, Susana e Varela, 1967/69)

22 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15395: (Ex)citações (300): (i) Conheci de perto, em Alhandra, o Conjunto Académico João Paulo... Ouvi-os ensaiar vezes sem conta... Fiquei farto... Mesmo assim preferia-os a eles a ter que ouvir, até à exaustão, nos "rangers", em 1966, o "Sambinho Chato" e o "Et Maintenant" (Mário Gaspar); (ii) link com a canção "O Salto" (EPI, Mafra, 1966) (Inácio Silva)

21 de novembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15389: (Ex)citações (299): Atuação do Conjunto Académico João Paulo, no "600", em Bissau, em abril de 1968 (Manuel Coelho, ex-mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)