quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23701: Lembrete (42): Amanhã, dia 13 de Outubro, pelas 17h00, apresentação do livro "Rua do Eclipse", de Mário Beja Santos, a levar a efeito no Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo de São Luís, em Lisboa




A todos aqueles que puderem dar-me companhia nesse dia e àquela hora:

Estava previsto este lançamento para 15 de setembro, por razões muito ponderosas a que não me devo furtar, houve que alterar a data, tive a compreensão da Comissão Portuguesa de História Militar, a data foi alterada para 13 de outubro, pelas 17 horas. Terei uma satisfação enorme em falar-vos desta paixão luso-belga onde se irá imiscuir, por indiscutíveis razões do coração e dos rotores da memória, acontecimentos de uma guerra que ocorreu nalguns lugarejos da então província da Guiné, e só uma imaginação descabelada é que pode encontrar pilares de consistência entre uma guerrilha e contra-guerrilha que as novas gerações praticamente ignoram e o encontro de dois cinquentões que se entregam à mais arrebatada epistolografia. Se esta temática de algum modo vos acicata a curiosidade e a minha companhia não seja de desmerecer, prometo não defraudar-vos sobre esta história que começou num breve encontro, corria o ano 1999.

Com a muita cordialidade,
Mário para muitos (ou Mário Beja Santos para todos)

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Em Bruxelas, um breve encontro entre cinquentões, temos paixão e guerra na Guiné

Apresentamo-nos, há aperto de mão, ela chama-se, percebi bem, Annette Cantinaux. E desabridamente pergunto-lhe se podemos almoçar juntos, ocorreu-me, imagine-se, a ideia de um romance, trata-se e alguém que combateu na guerra da Guiné, que ama uma belga, os dois não podem por enquanto, por razões profissionais, viver juntos, telefonam e escrevem muito, ele procura todas as oportunidades para regressar a Bruxelas, para estar junto da mulher amada, ela é intérprete profissional, vive em Bruxelas, na Rua do Eclipse.
Annette Cantinaux, vejo-lhe bem na face, está arrelampada com o pedido que lhe faço, mas acede, iremos almoçar juntos e falar-lhe-ei do que me está a passar pela cabeça, este estranhíssimo rompante de alguém que tem tanto que fazer e que recua 30 anos, até ao tropel de uma guerra. Pasmo-me com a resposta dela: “Parece que me reservou um papel que me assenta bem, na vida real, sou uma mulher divorciada, com filhos a singrar na vida, até me posso de dar ao luxo de me embeiçar por um português, vamos vivendo juntos à experiência e no entretanto damos um ao outro elementos para o seu romance”.
Assim começa uma espiral de palavras cruzadas, de encontros em Bruxelas e em Lisboa, ela às vezes sente-se uma anti-Penélope, vai coligindo e montando uma trama à volta de uma estranhíssima história que tem a ver com uma guerra de guerrilhas que ela totalmente desconhecia, junta as peças, telefonam-se, ele envia-lhe montanhas de correio, até o correio eletrónico é fervente, e ela dirá, sempre radiante que aquele título de romance, Rua do Eclipse, que começou num inesperado encontro, é o galvanizador das suas vidas, como aconteceu.


Mário Beja Santos
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Nota do editor

Vd. poste da série de 4 de Outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23668: Agenda Cultural (813): Convite para a apresentação do livro "Rua do Eclipse", de Mário Beja Santos, a levar a efeito no próximo dia 4 de Outubro de 2022, pelas 17h00, no Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo São Luís, 11, em Lisboa


Último poste da série de 20 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23372: Lembrete (41): 37º Encontro Nacional do Pessoal do BENG 447, Brá, Bissau, sábado, 25 de junho, Restaurante O Paraíso do Coto, Caldas da Rainha: há autocarros a partir do Porto e de Lisboa

Guiné 61/74 - P23700: Historiografia da presença portuguesa em África (338): Viagens por alguns títulos do Boletim Geral das Colónias (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Janeiro de 2022:

Queridos amigos,
Se dúvidas subsistissem de que há um manancial informativo nas publicações coloniais, sobretudo nas primeiras décadas do Estado Novo, aqui se comprova como se faziam relatos de missões científicas ou brochuras divulgativas sobre figuras dadas como notáveis na ocupação colonial. Recordo que o texto do antigo governador Leite de Magalhães retoma aquele acervo de relatórios que os administradores de circunscrição enviavam aos governadores, exaltando as potencialidades económicas, apelando à existência de melhores infraestruturas e sobretudo tecendo considerações sobre aquela agricultura que vivia da subsistência ou a grande avidez exportadora da CUF, reclamando não só a diversidade como a urgência da industrialização e a extrema prudência na política madeireira, já naquele tempo sujeita a depredações escandalosas.

Um abraço do
Mário



Viagens para alguns títulos do Boletim Geral das Colónias

Mário Beja Santos

Depois de uma brevíssima digressão pela Coleção Pelo Império, da Agência Geral das Colónias, chegou a vez de folhear artigos referentes à Guiné publicados no Boletim Geral das Colónias, logo o nº 85, de julho de 1932, é seu autor o antigo Governador António Leite de Magalhães e o título é A Guiné e os preceitos da associação científica. Após fazer referências de caráter geral à história e a geografia da colónia, Leite de Magalhães questiona as riquezas e cita-as: amendoim, amêndoa e óleo de palma, cera, borracha e couros, sobretudo. Estima que a terra é mal trabalhada e mal aproveitada, a industrialização ainda não lá chegou, como produtos cultivados só aparece o amendoim e sentencia: “As estatísticas enganam-se sobre a diversidade e valor das produções que a Guiné é suscetível de exportar em grande quantidade”. E novamente faz o elenco dos produtos exportáveis: arroz, mandioca, algodão, sumaúma, fibras de piteira, gergelim, rício e madeiras, não deixando de aludir que o café irá pesar no futuro na balança da colónia. E observa que mais importante de tudo seria extrair da palmeira todo o óleo que ela nos pode dar, que, há razão de 9 quilos por cada 5 quilos de coconote subiria a cerca de 5 mil toneladas anuais. Então, o que falta para gerar essa abundância? Apenas organização e tenacidade. Há que criar fábricas onde o arroz e o café se descasquem, se prepare a mandioca e se descaroce a sumaúma, os óleos se espremam e as madeiras se talhem.

As suas considerações histórico-políticas são dignas de atenção. Logo dizendo que a Carta de Alforria da Guiné é o Decreto de 18 de março de 1879 que desafetou a colónia de Cabo Verde, só a partir desta data é que começou a ser cuidada a sua prosperidade. Deplora o que aconteceu no passado em que o indígena era o senhor absoluto do mato, a ocupação limitava-se a ilha de Bolama e à fortaleza de Bissau, às Praças e Presídios de Cacheu, Farim, Geba e Buba; a ocupação missionária, que chegara a estender-se por cinco freguesias estava reduzida a um padre. Em Portugal, nem sequer fazia ideia do valor que o território representava. “E por duas vezes se pensou em dá-lo quase inteiro, como quem quer alivar-se de um fardo, a entidades que se despusessem a recebê-los: foram seus primeiros concessionários os irmãos Condes de Buttler, franceses de origem, em 1891; e, depois, os senhores Mateus Sampaio e o Conde Vale Flor, em 1894”. Recorda que a ocupação continental da colónia só terminou na terceira campanha de Teixeira Pinto. E aludindo à vida recente, não deixando bem claro o que era obra dos seus antecessores ou sua menciona o desenvolvimento de estradas, rede telegráfica e telefónica, estações radiotelegráficas, edificações do Estado, faróis e farolins, parcos, portos marítimos e fluviais. Deixa recados para o futuro: para um melhor aproveitamento do sol impõe-se que o Estado fizesse o estudo das culturas adaptáveis e lembra obra feita: criou-se o Jardim da Aclimação e o Campo Experimental de Culturas, com os seus viveiros de café, cacau, coqueiros, sisal e coleiras. Diz com orgulho que os guineenses passaram a dispor de hortaliças, granjas com os seus viveiros de plantas e pomares de frutas; criaram-se e instalaram-se os serviços meteorológicos; e serviços veterinários foram dotados de uma estação zootécnica. Deixara a colónia com sete padres, mas tinha consciência de que havia muitíssimo para fazer em obra de civilização.

Mexericando em toda esta papelada, vejo uma referência a uma exposição da colónia da Guiné no Museu da Sociedade de Geografia de Lisboa, produziu-se um catálogo muito sóbrio com breves notícias sobre a situação geográfica, superfície, hidrografia e geologia, vias de circulação (veja-se: uma rede de estradas com 2800 quilómetros e uma circulação de 225 automóveis que cortavam o território em todos os sentidos, ligando os centros agrícolas e comerciais, uma rede de 685 quilómetros de linhas telegráficas e telefónicas) e após se fazer referência aos recursos económicos publicava-se o que fora amostra dos produtos: arroz, ervilha do Congo (é o nosso feijão verde), malagueta, café, cola, amendoim, caju, coco, coconote, óleo de palma, farinha de mandioca, algodão, sumaúma, borracha, bissilão (mogno da Guiné), pau de conta, pau ferro, pau rosa, e até panaria, artigos em couro e manipansos (termo depreciativo utilizado para falar da arte escultórica Bijagó e Nalu). Via eu estas diferentes referências a produtos exportáveis quando surgiu a palavra compó, curioso era a explicação dada no catálogo:
“O compó é um individuo que só aparece mascarado, tem também o nome de diabo do mato e vive sempre em palhotas escondidas nos matagais é simultaneamente padre, feiticeiro e bailarino e nenhuma festa pode ter lugar sem a sua comparência. Usa na cabeça, tapando-lhe o rosto, um capacete e máscara feitos de despojos de todos os animais conhecidos, cinto de palha desfiada e enfeites da mesma palha nos punhos e tornozelos. Desempenha sempre um papel preponderante durante a época do fanado. Como os antigos bobos tem o direito de dizer tudo o que entender. É expressamente proibido procurar ver-lhe a cara. Na época do fanado, quando sai da sua palhota ou da sua mata, é acompanhado por todos os rapazes que serão circuncisados. Nesta época anda sempre em altas andas e munido de um chavelho de carneiro metido num grande pau. É ele que no meio de cerimónias diversas e danças procede à circuncisão. É uma entidade que atinge a máxima consideração na região Nalu, mas que se encontra também entre os Mandigas e entre os Grumetes”.

Folhei no Boletim Geral das Colónias, número de agosto/setembro de 1946, o artigo do Professor Major Dinas Lopes de Aguiar intitulado Guiné Portuguesa – Terra de lenda, de martírio, de estranhas gentes, de bravos feitos, de futuro, tratava-se de uma conferência que ele proferia em ambiente escolar-militar, não trazia nada mais do que aquilo que já sabemos. E por fim uma referência a outro Boletim Geral das Colónias, número de outubro de 1946, tem a ver com a missão de uma equipa de Medicina Tropical que foi estudar a doença do sono na Guiné Portuguesa, constituída por Fraga de Azevedo, F. Cambournac e Manuel Pinto. O objetivo era averiguar o estado atual da doença do sono e avaliar o grau de endemicidade da febre amarela. Percorreram mais de 3000 quilómetros e colheram elementos em 43 localidades. É referido que em 1932 a Escola de Medicina Tropical de Lisboa fez realizar uma missão em que participou o Dr. Fontoura de Sequeira, este concluiu que “a hipnose graça na colónia sob a forma de endemia ligeira, ao que parece sem tendência a agravar-se”. Estes especialistas de Medicina Tropical fazem menção aos trabalhos desenvolvidos, dissecaram animais domésticos e selvagens suspeitos de desempenharem o papel de reservatório do agente da doença, como também os insetos transmissores, as glossinas ou moscas tsé-tsé. Dão abundantes explicações sobre as manifestações da doença do sono, caso da hipertrofia ganglionar. Um aspeto curioso do artigo é o seu aspeto didático, por exemplo explicam ao leitor que as moscas tsé-tsé apenas se encontram nas zonas de densa vegetação, não desarborizada, pois carecem de sombra e certo grau de humidade para sobreviverem.

Suspendo aqui a leitura destas publicações, mas reconheço, que com todas as limitações houve um enorme esforço destes serviços coloniais para divulgar as atividades no nosso Império Africano.

Governador António Leite de Magalhães na Inauguração do Monumento a Teixeira Pinto, Bissau, 1930
Carta da Comissão Francesa da delimitação das fronteiras entre a Guiné portuguesa e as possessões francesas, gravura de J. Geisendörfer, sem data, é pena não se poder ver o traçado das fronteiras, a superfície atribuída à Guiné portuguesa veio a ser amputada
Carta da Guiné Portuguesa, Lisboa, 1843, é possível verificar como a presença portuguesa estava circunscrita à orla marítima e a algumas ilhas dos Bijagós
Mapa feito em 1606 por Hondius, é visível no canto superior esquerdo o território de que é hoje a Guiné-Bissau, há meramente referência aos reinos, nem a palavra Senegâmbia é mencionada.
Dança de Compó
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23674: Historiografia da presença portuguesa em África (337): Viagem por alguns títulos da Coleção Pelo Império, da Agência Geral das Colónias (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23699: As subunidades do Exército que estiveram no Cacheu no meu tempo (José Macedo, ex-2º ten RN, DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74; natural de Cabo Verde, vive hoje nos EUA)

1. Mensagem de José Macedo (ex-2º tenente fuzileiro especial, RN, DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74; nasceu na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951; vive nos Estados Unidos, onde é advogado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 13/2/2008; aqui, em 2017, em Monte Real, no XII Encontro Nacional. da Tabanca Grande)

Data - domingo, 2/10/2022, 22:08
Assunto - Companhia que substituiu a 3460 em Vila Cacheu

Saudações, camarada Luís. Corpo? Há muito que não falava 
contigo.

Não tenho estado de visita ao Blogue,  mas soube da morte do teu  cunhado. Os meus pêsames.

Li que a Companhia 3460 (do Capitão Morgado) saiu do Cacheu em 1973. Nós saímos de Cacheu em 74 para ir para Bolama, contudo, não me lembro de nenhuma outra companhia em Cacheu. Serás capaz de me dar uma achega e qual era o nome da companhia lá?

Um abraço amigo.
Zeca


Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > CCAÇ 3460 (Cacheu, 1071/73) e DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) > Da esquerda para a direita:
  • alferes mil Silva (CCAÇ 3460) [1];
  • 2º Tenente, oficial imediato, Castro Centeno (DFE 21) [2];
  • furriel mil Lopes (CCAÇ 3460) [3];
  • 2º tenente  RN Macedo (DFE21)[4];
  •  e, em primeiro plano, alferes Médico Moura (CCAÇ 3460 / BCAÇ 3863) [5]-

Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > Destacamento de Fuzileiros Especiais, DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) > O ten fuzileiro especial, Zeca Macedo, no cais da vila de Cacheu. com a sua bela motorizada, de 125 cm3 (ou 200?) , matrícula G8831 ou G681 (*)...

Fotos (e legendas): © Zeca Macedo (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


2. Resposta do editor LG:

Meu caro Zeca: É sempre bom ter notícias tuas. Obrigado, em meu nome e da minha família, pelos votos de pesar pela morte do meu cunhado Mário Rui Anastácio (1954 - 2022), natural da Lourinhã.

Eis, abaixo, os  elementos que apurei sobre as subunidades do Exército que passaram pelo Cacheu, entre 1970 e 1974. Mais concretamente, e respondendo à tua pergunta: a subunidade que, no teu tempo, foi render a CCAÇ 3460, foi a 1ª Companhia do BCAÇ 4615/73. 


Um alfabravo, Luís Graça
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Lista das subuniades  do Exército que passaram pelo  Cacheu, de 1970 a 1974:

(i) A CCaç 2659 / BCAÇ 2905 (Teixeira Pinto, 1970/71) seguiu em 14fev70 para Cacheu, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 2367 / BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70).

Em 21fev70, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Cacheu, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão e depois directamente subordinada ao CAOP 1 (Teixeira Pinto).

(ii) Em 24nov71, foi rendida pela CCaç 3460  (Ccaheu, 1971/73) e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

A CCaç 3460, que pertencia ao BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73)  seguiu em 24out71 para a região de Cacheu, a fim de efectuar o treino operacional e sobreposição com a CCaç 2659. 

Em 24Nov71, assumiu a responsabilidade do referido subsector de Cacheu, com um destacamento em Bianga, inicialmente na dependência do CAOP 1 e depois integrada no seu batalhão.

(iii) Em 23Nov73, foi rendida pela 1ª Comp/BCaç 4615/73 e recolheu a Bissau para o embarque de regresso.

A 1ª Comp seguiu em 02nov73 para Cacheu, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3460, tendo assumido, em 23nov73, a responsabilidade do subsector de Cacheu, com um pelotão destacado em Bianga.

Após desactivação de Bianga em 26ag074, efectuou, em 02Set74, a desactivação e entrega do aquartelamento de Cacheu e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

A BCAÇ 4615/73 foi mobilizado pelo RI 16. Partida: 22/9/1973; regresso: 8/9/1974; sede: Teixeira Pinto, comandante: ten cor inf Nuno Cordeiro Simões. A 1ª C/BCAÇ 4615/73., por sua vez, esteve  sempre no Cacheu; comandantes: cap mil cav Germano de Amaral Andrade; cap mil inf António Miguel Seabra Nunes da Silva; e cap mil inf  Carlos José da Conceição Nascimento.


Fichas de unidade > Batalhão de Caçadores n." 3863

Identificação: BCaç 3863
Unidade Mob: RI 1 - Amadora

Cmdt: TCor Inf António Joaquim Correia | 2.° Cmdt: Maj Inf Joaquim Abrantes Pereira de Albuquerque | Maj Inf João José Pires
OInfOp/Adj: Maj Inf João José Pires (acumulava)

Cmdts Comp:

CCS: Cap SGE Manuel Ferreira de Amorim

CCaç 3459: Cap Mil Inf António Mendes Robalo da Silva | Cap Mil Inf Joaquim Mendes Teixeira Ribeiro

CCaç 3460: Cap Mil Inf Fernando Manuel de Araújo Lacerda Morgado

CCaç 3461: Cap Inf Abílio Dias Afonso | Cap Mil Inf Aires da Silva Gouveia

Divisa: "Honra e Glória"

Partida: Embarque em 16Set71; desembarque em 22Set71 | Regresso: Embarque em l6Dez73

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 27set71 a 230ut71, no CIM, em Bolama, seguiu para o sector de Teixeira Pinto, em 240ut71, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com o BCaç 2905.

Em 24nov71, assumiu a responsabilidade do referido Sector 05, com sede em Teixeira Pinto e abrangendo, então, apenas o subsector de Teixeira Pinto, com subunidades instaladas com as sedes em duas áreas diferentes, em Bassarel e Teixeira Pinto. 

Em 01fev73, por transferência do CAOP 1 para outra área (Mansoa), o sector voltou a integrar os subsectores de Bachile e Cacheu. 

A partir de meados de set73, as áreas de Teixeira Pinto e Bassarel foram individualizadas e consideradas subsectores distintos. As suas subunidades mantiveram-se integradas no dispositivo e manobra do batalhão, com excepção, inicialmente, da CCaç 3460.

Desenvolveu prioritariamente uma actividade de controlo, coordenação e segurança dos trabalhos dos reordenamentos das populações e sua promoção socioeconómica, a par de constante vigilância e acções de patrulhamento e segurança de itinerários tendentes a impedir eventuais acções inimigas sobre as populações e respectivos aldeamentos.

Dentre o material capturado mais significativo, refere-se 1 morteiro e 1 espingarda.

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002,. pág. 157

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23698: Os nossos seres, saberes e lazeres (531): Trabalhos de pintura da autoria de Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2046 (4)



1. Publicamos hoje mais cinco trabalhos de pintura de autoria do nosso camarada Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70), enviados ao nosso blogue em 6 de Outubro de 2022,  que estamos a mostrar na série "Os nossos seres, saberes e lazeres".
Cabeça: acrílico sobre papel 30x42
Máscara: acrílico sobre papel 30x42
Rosa: aguarela sobre papel 30x42
Flor: aguarela sobre papel 30x42
Camelo: acrílico sobre papel 30x42
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Notas do editor

Poste anterior de 3 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23666: Os nossos seres, saberes e lazeres (529): Trabalhos de pintura da autoria de Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2046 (3)

Último poste da série de 8 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23685: Os nossos seres, saberes e lazeres (530): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (71): Voltar à minha querida Bruxelas, depois da pandemia - 9 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23697: Convívios (944): Rescaldo do XXVII almoço/convívio dos Antigos Combatentes da Vila de Guifões, Matosinhos, levado a efeito no passado dia 5 de Outubro em Santa Marinha do Zêzere, Baião (Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf)

Escadaria da Senhora do Sameiro - Penafiel. Foto de família dos Combatentes de Guifões participantes no XXVII Convívio

1. Mensagem do nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150 (Bigene e Guidaje, 1973/74), com data de 10 de Outubro de 2022:

No passado dia 5 de Outubro de 2022, depois de dois anos de interregno, voltamos aos nossos convívios.

É sempre o dia em que os Combatentes da Vila de Guifões - Matosinhos, se reúnem para celebrar o seu convívio anual. Este ano, para o XXVII, o local escolhido foi a Quinta das Hortas, em Travassos, Santa Marinha do Zêzere, Baião.

Logo de manhã foi colocada 
uma coroa de flores no monumento aos Combatentes em Guifões.
Seguidamente fomos em dois autocarros com destino à Quinta das Hortas. Pelo caminho fizemos duas paragens para irmos confraternizando, a primeira em Penafiel e de seguida no Jardim do Sameiro, em Penafiel. Finalmente chegamos ao local do convívio, onde fomos recebidos pelas concertinas que nos deram logo ali as boas vindas.
Depois foi servido o almoço (serviço muito bom, aproveito para dar os parabéns ao Sr. César da Quinta das Hortas pela magnifica recepção que nos fizeram todo o tempo que lá permanecemos, não faltando com nada e com e qualidade), o tempo foi pouco para tanto convívio, mas tínhamos uma lembranças para oferecer a todos os combatentes na Guiné, e mais uma rosa para cada senhora.
A comissão do evento agradece ao senhor Presidente da União de Freguesias de Custóias, Leça do Balio e Guifões, Sr. Eng. Pedro Gonçalves, por todo o apoio prestado à comissão deste evento.

Por fim foi o regresso novamente a Guifões, onde chegámos pelas 21 horas, uma viagem feita sem sobressaltos e com vontade de para o ano celebrar o nosso XXVIII convívio.


Albano Costa
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23692: Convívios (943): Rescaldo do Almoço / Convívio dos antigos Militares da CCAÇ 2797; Pel Canh S/R 2199; Pel Caç Nat 51 e Pel Caç Nat 67, levado a efeito no passado dia 8 de Outubro em Leça da Palmeira (José Alberto Mota, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2797)

Guiné 61/74 - P23696: In Memoriam (455): Mensagens do Coronel Paraquedista Nuno Mira Vaz, enviadas a Mário Beja Santos, a propósito do falecimento ocorrido no passado dia 2 de Outubro do Alf Mil Paraquedista Jorge da Cunha Fernandes (JOTA) (Nuno Mira Vaz / Mário Beja Santos)

1. Mensagem do Coronel Paraquedista Nuno Mira Vaz, enviada a Mário Beja Santos em 7 de Outubro de 2022, a propósito do falecimento do Alf Mil Paraquedista Jorge da Cunha Fernandes (JOTA), ocorrida no passado dia dia 2 de Outubro:

Caro Mário Beja Santos

Muito lhe agradeço ter-me notificado da morte do Jota, um jovem que ficará para sempre na minha memória como um grande combatente e um excelente camarada. Depois da nossa convivência na Guiné só voltei a vê-lo uma única vez, com as tais barbas de missionário, numa romagem de saudade em Tancos. Desconheço as razões por que não voltou a essas confraternizações, pois só tinha amigos na comunidade pára-quedista.
Dos cinco oficiais dessa CCP 121, é o segundo a rumar às nuvens.

No que respeita aos comentários sobre a actuação do general Schulz como Comandante-Chefe, estou inteiramente de acordo consigo: o homem é persistentemente e injustamente desvalorizado e não vejo razão para tal.

Um abraço com muita consideração deste velho camarada de armas.
Nuno Mira Vaz

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Jorge da Cunha Fernandes (JOTA) (23/04/1942 - 02/10/2022)
Ex-Alf Mil Paraquedista da CCP 121/BCP 12, Guiné, Dezembro de 1966 – Maio de 1968


2. Nova mensagem do Coronel Paraquedista Nuno Mira Vaz, enviada a Mário Beja Santos, no mesmo dia, pouco depois:

Caro Mário Beja Santos

Depois de lhe enviar a MSG anterior, decidi pesquisar num livro de memórias que escrevi exclusivamente para os meus filhos, eventuais referências ao Jota.
Aqui as tem, com sincera estima e consideração

1. - A repartição dos subalternos pelas duas Companhias tinha sido acordada com o Manuel Morais durante a viagem a bordo do Manuel Alfredo: eu ficava com o Ramos, que ia na segunda comissão e que tinha sido na primeira, tal como eu, alferes da 2.ª companhia do BCP 21 em Luanda, e com o Preto, que fora meu condiscípulo no Colégio Militar. 

O Manuel escolheu em seguida os seus quatro alferes e eu completei o elenco com o Cunha Fernandes e o Américo. Este estava a acabar a comissão e foi substituído passados poucos meses pelo Taliscas. Cada um com o seu feitio, eram quatro máquinas em combate. Quatro verdadeiros “Leões”, se me é permitido estabelecer uma analogia com o indicativo de combate da CCP 121.

 Mas, por ora, o combate era travado com sacos de cimento, vigas de ferro e placas de lusalite, numa febre de construir que nos permitiu pôr de pé, num tempo recorde, as novas instalações do Batalhão. Espaço era coisa que não faltava. E cada pelotão ficou desde logo com um jardim privativo, cujo arranjo passou a ser tema de renhido concurso anual.

2. - Recordo o Quartel de Santa Luzia com a piscina de águas tão espessamente esverdeadas que nada se via a dez centímetros de profundidade, o UDIB onde passavam filmes de cowboys, a Associação Comercial com os torneios de bridge e o naipe de restaurantes e cervejarias: o Café Portugal, o Zé da Amura, o Solar do Dez e o Grande Hotel. 

Neste pontificava o gerente, o senhor Marques, ziguezagueando por entre as mesas a cativar a clientela. O Jantar da Casa custava na altura 65 escudos e dava direito a repetir os pratos. Isto até o dia em que o Cunha Fernandes e o Taliscas, entretanto tornados clientes habituais, se sentiram acometidos por um apetite especialmente devorador. 

Cansado de ver passar travessas com repetição para a mesa dos dois alferes, o Marques decidiu interpelá-los. Delicadamente mas com inquebrantável veemência, fez-lhes ver que, embora fosse timbre do Grande Hotel a repetição dos pratos do Menu, fazê-lo tantas vezes era absolutamente incomportável. Os nossos alferes não se desmancharam. Deram-lhe razão e, daí para o futuro, de cada vez que iam comer ao Grande Hotel, mandavam servir quatro jantares da casa: tendo em conta o que comiam, ainda compensava largamente.

3. - Nada, mas nada, nos faz suspeitar de que um vulto negro está prestes a saltar para a picada para disparar uma granada de bazooka e sumir-se de imediato no arvoredo. Lançados ao chão pela violência da explosão, os homens da 1.ª secção mal têm tempo de ver o corpo do Galego revolutear no ar como um boneco de palha antes de cair inerme. Gatinhamos a procurar abrigo, enquanto o inimigo atira com meia dúzia de armas automáticas e as bazookadas explodem de cinco em cinco segundos. O sargento Serigado, a comandar o 1.º pelotão, faz manobrar os seus homens com uma calma olímpica.

Entretanto, a metralhadora da secção do André encravou. Da frente, reclamam aos gritos outra arma. Não decorreram sequer dez segundos quando o alferes Cunha Fernandes passa por mim acompanhado por um apontador de metralhadora do seu pelotão. 

Naquele exacto momento, nova bazookada estoira na árvore por cima de nós, partindo uma pernada que cai sobre o alferes e o soldado. Felizmente, os estragos resumem-se a uns míseros arranhões que não os impedem de se levantar rapidamente e de continuar a correr. Daí a pouco, já se ouve o rugir furioso da MG-42 na frente da Companhia.

4. - (Operação Ciclone II, 25Fev1968 no Cantanhez, a tal que destroçou por completo um bigrupo do PAIGC):

Entretanto, desembarcou o 4.º pelotão, do alferes Cunha Fernandes, um “maçarico” que em nada desmerecia dos “veteranos” e a quem mandei explorar a orla da mata para Leste, na direcção de Cafal, a fim de estabelecer ligação com a CCP 122.

Nuno Mira Vaz

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Notas do editor:

Vd. poste de 6 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23678: In Memoriam (454): Jorge da Cunha Fernandes (23/4/1942 - 02/10/2022), ex-Alf Mil Paraquedista da CCP 121/BCP 12 (Guiné, 1966/68) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23695: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (99): Alguém tem exemplares do jornal "Nô Pintcha", do PAIGC, criado em 1975? Ou de panfletos, do tempo da luta armada, com a expressão "Nô Pintcha"? (Paulo Marchã, militar da FAP, ref, estudante de licenciatura em Estudos Africanos pela FL/UL)



Guiné-Bissau > Bissau > 1975 > Cabeçalho do jornal trissemanário "Nô Pintcha", ano I, nº 18, 6 de maio de 1975. Era apresentado como "órgão do subcomissariado de Estado de Informação e Turismo" e, em princípio, com este formato, foi criado em 1975. Em 27 de março de 2015 celebrou 40 anos, e passou a bissemanário.

(Imagem: Cortesia de Fundação Mário Soares > Casa Comum >Arquivos > Arquivo de Mário Pinto de Andrade).


1. Mensagem de Paulo Marchã, militar da FAP na reforma, a concluir a licenciatura em Estudos Africanos, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FL/UL)

Data - sábado, 8/10/2022, 17:12

Assunto - Imprensa antes da independencia e brochura No Pintcha

Caro camarada Luís Graça,
Espero encontrá-lo bem, assim como todos os seus familiares.
Chamo-me Paulo Marchã, tenho 64 anos e sou militar da FAP na Reforma.
Voltei aos bancos da Universidade, Faculdade de Letras de Lisboa e estou a concluir a Licenciatura em Estudos Africanos.
O Centro de História da Universidade de Lisboa lançou há dias o website do Jornal No Pintcha, onde eu estou envolvido academicamente.

Vinha solicitar os seus préstimos se haverá números que poderia disponibilizar, apesar de ser um jornal público, com tiragem inicial em 1975. No entanto, parece-me que o mesmo jornal, poderia ter uma linha de existência, mesmo precária e singela antes da independência, com o mesmo título.
Se porventura existir algum exemplar em Arquivo, ou na posse de algum camarada, mesmo outra edição de clandestinidade do PAIGC, muito lhe ficava grato que me facultassem acesso para digitalização e para fins académicos, de investigação e de estudo.

Com estima, queira acetar os meus cumprimentos,

Paulo Marchã


2. Resposta do editor LG:

Olá, Paulo, obrigado pelo contacto. Vou pôr à consideração dos nossos leitores o seu pedido (*). Temos escassas referências ao jornal "Nô Pintcha", no nosso blogue, tratando-se de uma publicação periodica oficialmente criada em 1975, já depois da independência da Guiné-Bissau. As balizas temporais do nsso blogue são basicamente as da guerra do ultramar / guerra colonal (1961/74).

Pode ser, entretanto, que alguém, entre as centenas de amigos e camaradas da Guiné que integram a nossa Tabanca Grande, possa responder positivamente ao seu pedido. Mas não temos conhecimento de nenhuma coleção do "Nô Pintcha". Pode haver, isso sim, um ou outro exemplar avulso na posse de algum dos nossos camaradas.

Quanto à existência de um eventual "Nô Pintcha", reproduzido a "stencil", durante a luta de libertação, e distribuído pelo PAIGC "no mato", a única referência que temos é a que vem no poste P16962, de 17 de janeiro de 2017 (**).

Para já ficas-nos a dúvida, se se tratava de uma publicação periódica, de um jornal, ou antes de "folhas soltas", "panfletos" com o cabeçalho "Nô Pintcha", "slogan" que o PAIGC usava na sua propaganda?... Por outro lado, pode perguntar-se: mas quem é que sabia ler, numa tabanca da margem direita do Rio Corubal, em Mina, uma das matas do Xime, em agosto de 1963, no início da guerra de guerrilha?

Infelizmente o autor do achado dessas "folhas feitas em stencil de um pequeno jornal chamado e intitulado de No Pintcha" , o Alcídio Marinho, já faleceu eem 2021 (***).  

Antigo furriel miliciano atirador de infantaria, com a especialidade de minas e armadilhas, da CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65), o Alcídio Marinho vivia no Porto. Conheci-o em 2011, a ele e à sua companheira Rosa. Compartilhou comigo algumas informações "off record" do seu tempo como opercional no TO da Guiné. Não me lembro de me ter falado desses exemplares de jornais ou panfletos de propaganda do PAIGC, capturados no mato, e muito menos que ele os tenha trazido com ele, no regresso a casa. O material apreendido, como seria normal, foi entregue ao BCAÇ 506 (Bafatá, 1963/65).

Pessoalmente inclino-me mais para a hipótese de se tratar de panfletos avulsos, encimado com o título "Nô Pintcah" (em português, Avante), como este que a seguir se repoduz, com a foto do Amílcar Cabral ao centro. (****)

Bom trabalho. Boa sorte para o projeto.

Mantenhas. Luís Graça




Guiné-Bissau > s/d > Amílcar Cabral e a sua mensagem revolucionária, Nô Pintcha (título posterior de semanário guineense, de informação geral, fundado em 1975 e dirigido por Simão Abina)... Em crioulo, a expressão "Nô Pintcha" quer dizer: Avante, Vamos dar um empurrão, Vamos para a frente...
Fonte: Sítio Xico Nhoca, consultado em 17 junho de 2010. Disponível em http://www.xiconhoca.org/nopintcha/ ) (com a devida vénia...)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23658: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (98): Em Mansabá havia 2 geradores Lister que trabalhavam alternadamente, em turnos de 4 horas (Carlos Vinhal, ex-fur mil art, MA, CART 2732, Mansabá, 1970/72)

(**) Vd. poste de 17 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16962: (Ex)citações (323): em 1963 já havia um jornal "Nô Pintcha", a stencil... Apanhámos vários exemplares, na Ponta do Inglês, em 28 de janeiro de 1964, com um título de caixa alta: "Os colonialistas também têm mercenários"... Numa foto, via-se um individuo de cabelo comprido, camisa com ramos de flores, calções escuros e sandálias havaianas, a montar uma armadilha... Esse indivíduo era eu (Alcídio Marinho, ex-fur mil at inf, MA, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

(...) No meu tempo, quando o 3º pelotão da CCAÇ 412 esteve no Xitole de junho a fim de agosto de 1963, um dia na região de Mina, numa tabanca encontrei umas folhas feitas em stencil de um pequeno jornal chamado e intitulado de No Pintcha [, leia-se: Avante, em crioulo].

Nesses panfletos davam notícias sobre a chamada luta de libertação. Mais tarde, depois de estarmos no Enxalé 28 de outubro de 1963 até 25 de janeiro de 1964, fizemos a nível de Companhia uma operação à Ponta do Inglês, em 28 de janeiro (operação Ponta do Inglês), em que levámos 13 longas horas para chegar ao acampamento inimigo, sendo este depois destruído.

Aí apareceram diversos desses jornais, onde me foi chamada a atenção por um camarada que a minha fotografia aparecia na 1ª página. O titulo era o seguinte: " Os colonialistas também têm mercenários". Via-se um individuo de cabelo comprido, camisa com ramos de flores, calções escuros e sandálias havaianas, a montar uma armadilha. O individuo da fotografia era eu. O cabelo andava comprimido, porque eu tinha tido um problema no couro cabeludo e por indicação do nosso médico, dr. Jacinto Botas, e devido ao tratamento, não podia cortar o cabelo.

A minha camisa era azul com folhas e flores amarelas, comprada em Bissau. Os calções eram azuis e tinham sido feitos pelo cabo (alfaiate) Eurico Valpaços Alves. A foto era, na época, a preto e branco, e foi tirada na zona do Enxalé. (...).

Alguns exemplares foram entregues no Batalhão [de Çaçadores] 506 que os fez chegar a Bissau, onde oficialmente se ficou a conhecer a minha actividade. Um militar sem curso de Minas e Armadilhas, fazia mais estragos que muitas unidades.

Portanto já em 1963 havia um jornal chamado Nô Pintcha. (...)

(***) Vd. poste de 1 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22244: In Memoriam (397): Com o Alcídio Marinho (1940-2021), ultrapassamos a centena de amigos e camaradas, membros da Tabanca Grande, que "da lei da morte já se libertaram" (n=103)... Quase um quarto dos falecimentos (n=25) ocorreu em 2020 e 2021 (últimos 5 meses), ou seja, em plena pandemia de COVID-19.

(****) Vd. poste de 17 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6609: Controvérsias (87): Nô Pintcha, Vamos P'rá Frente, Guiné-Bissau! (Carlos Silva, membro da ONGD Ajuda Amiga)

Guiné 61/74 - P23694: Parabéns a você (2107): Patrício Ribeiro, ex-Fuzileiro Naval (Angola, 1969/72) Residente na Guiné-Bissau

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23688: Parabéns a você (2106): Manuel Resende, ex-Alf Mil Art da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884 (Jolmete, 1969/71)

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23693: Voltamos a recuperar as antigas cartas da província portuguesa da Guiné, um dos recursos mais preciosos do nosso blogue - Parte III: Do Gabu a Pirada


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > 1970 > Vista aérea do aquartelamento de Mansambo, construído de raiz pela CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69).  Ao fundo, da esquerda para a direita, a estrada Bambadinca-Xitole. Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

"Quanto à foto de Mansambo, a vista aérea – que é espectacular e que pessoalmente agradeço - gostava de saber de que ano é, se o Humberto tiver esses dados. A zona está totalmente nua, só com uma grande árvore ao fundo que se encontra à entrada do aquartelamento, pois vê-se a bifurcação para a estrada Bambadinca-Xitole (esquerda-direita. Falta ali uma árvore, a tal de referência para o IN, e que os nossos soldados chamavam a árvore dos 17 passarinhos, tal era a quantidade deles, que se situava na parte mais afastada da entrada. A mancha branca de maior dimensão seria o heliporto. Faltam os obuses, um de cada lado à esquerda e à direita. Ao lado dessa árvore ficava o depósito, que era uma palhota, de géneros e munições, que ardeu a 20 de Janeiro de 1969 (nesse dia chegaram os 2 Obuses 105 mm). Era véspera do aniversário da CART 2339. Ao fundo vê-se uma mancha à esquerda do trilho de entrada que era a tabanca dos picadores. À direita no triângulo de trilhos, ficava a nossa horta. A fonte ficava à direita da foto onde se vêem 3 trilhos, na mancha mais negra em baixo. Se confrontares com um mapa da zona vê-se aí uma linha de água" ( Carlos Marques dos Santos)

Foto (e legenda): Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

1. Estamos a recuperar os "links" ou as "URL" das cartas (ou mapas) da Guiné, dos Serviços Cartográficos do Exército, que estavam alojadas desde finais de 2005 na antiga página pessoal do editor Luís Graça, cujo servidor era o da Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa (ENSP / NOVA). Mais concretamente estavam alojadas numa pasta institulada "Luís Graça e Camaradas > Subsídios para a História da Guerra Colonial"...

As cartas (ou mapas) da Guiné e os demais recursos dessa página estavam acessíveis a partir do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Com o fim da página, em 2022, passam doravante a poderem ser consultadas, de novo, "on line", no nosso blogue, mas a partir do Arquivo.pt.(https://arquivo.pt):

O Arquivo.pt (criado e mantida pela FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia)  permite  "a preservação da informação publicada na Web portuguesa para que o conhecimento nela contido esteja acessível às nossas gerações futuras"... e continue a estar disponível para todos (incluindo os investigadores das mais diversas áreas disciplinares, da linguística à história, da sociologia à literatura, da geografia à etnografia, da ecologia à economia...

É o caso da página pessoal do nosso editor, "Saúde e Trabalho - Luís Graça", e o blogue que ele fundou e tem ajudado a manter desde 2004, "Luís Graça & Camaradas da Guiné". Para saber mais, ver aqui: Arquivo.pt.


2. Continuamos, entretanto, a repor as nossas preciosas cartas (ou mapas) da Guiné (Escala 1/50 mil), por ordem alfabética, agora alojados no Arquivo.pt. É só carregar no link.

No final desta série continuarão a estar disponíveis na coluna estática do blogue, do lado esquerdo. Por enquanto esses links continuam quebrados, bem como todos os topónimos que até agora (ou até há alguns meses) usavam os links antigos, quando estavam alojados na página da ENSP/NOVA. Aqui vão os novos links, das cartas (de G a P):


Cartas na escala de 1/50 mil - Parte III  (G / P) 


Gabu (Nova Lamego) (1957)

Gadamael / Cacoca (1954) (Carta de Cacoca que inclui Cacoca, Sangonhã, Gadamael Porto, parte do Quitafine e do Cantanhez, rio Cacine e fronteira sudeste com a Guiné-Conacri)

Galomaro / Duas Fontes (Bangacia) (1959) (Carta de Duas Fiontes que inclui Galomaro...)

Geba / Bambadinca (1955) (Carta de Bambadinca) (inclui rio Geba Estreito, Nhabijões, Finete, Missirá, Fá Mandinga, Geba...)

Guidaje (1953) (Inclui Guidaje, e não "Guidage", e a fronteira com o Senegal)

Guileje (1956)  (inclui Guileje, Mejo, Gandembel, Balana, e fronteira com a Guiné-Conacri)

Jumbembem (1954) (Inclui Jumbembem e fronteira com o Senegal)

Jábia (1959)  (inclui  rio Corubal)

Madina do Boé (1958) (inclui Madina do Boé, rio Corubal e fronteira com a Guiné Conacri)

Mansabá / Farim (1954)
(Carta de Farim)

Mansambo / Xime (1955) (Carta do Xime) 

Mansoa (1954) (inclui Mansoa, rio Mansoa, Bissorã, Encheia, Morés...)

Nova Lamego (Gabu) (1957) (Carta de Nova Lamego, hoje Gabu)


Pelundo (1953) (Inclui Pelundo, Jolemete, rio Mansoa, rio Cacheu...)

Piche (1957) (inclui Piche, ponte Caium, rio Caium...)

Pirada (1957) (incui Pirada, Bajocunda, fronteira com o Senegal...)

Província da Guiné (1961) (Escala 1/ 200 mil)

(Continua)
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Nota do editor:

Vd. postes anteriores da série: 

Guiné 61/74 - P23692: Convívios (943): Rescaldo do Almoço / Convívio dos antigos Militares da CCAÇ 2797; Pel Canh S/R 2199; Pel Caç Nat 51 e Pel Caç Nat 67, levado a efeito no passado dia 8 de Outubro em Leça da Palmeira (José Alberto Mota, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2797)

Foto de família dos Antigos Combatentes da CCAÇ 2797, CCAÇ 4740, Pel Canh SR 2199 e 3079 e Pel Caç Nat 51 e 67, presentes no Convívio


1. Mensagem do nosso camarada José Alberto Mota, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2797 (Cufar, 1970/72), com data de 9 de Outubro de 2022:

Amigo e camarada Carlos Vinhal

O encontro de almoço da CCAÇ 2797, que comemorou os 50 anos de regresso a Portugal, foi realizado no dia 8 em Leça da Palmeira e juntou 91 militares e suas famílias.

Esteve representada a CCAÇ 4740, os Pelotões de Canhões 2199 e 3079 e ainda alguns camaradas dos Pelotões de Nativos 51 e 67.

Num ambiente de muita amizade conviveu-se e recordou-se os tempos vividos em Cufar-Guiné.

Anexo algumas fotografias que agradeço se puder fazer o favor de publicar no blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné"

Com um abraço de amizade e agradecimento
José Alberto Mota
ex-Furriel de Transmissões

Dois aspectos da sala do Tryp Porto Expo Hotel de Leça da Palmeira, onde decorreu o Convívo
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Notas do editor

Vd. poste de9 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23604: Convívios (939): XIX Encontro do pessoal do HM 241 de Bissau, dia 8 de Outubro de 2022, em Espinho. Almoço/Convívio dos antigos Militares da CCAÇ 2797; Pel Canh S/R 2199; Pel Caç Nat 51 e Pel Caç Nat 67, dia 8 de Outubro em Leça da Palmeira

Último poste da série de 26 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23646: Convívios (942): Ontem, dia 24 de Setembro de 2022, realizou-se no Grande Hotel do Porto o almoço de confraternização da CART 1745 (Bigene, 1967/69) (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico)

Guiné 61/74 - P23691: Agenda cultural (819): Conferência sobre Bases Aéreas de Portugal - BA 11 - Beja e BA 12 - Bissalanca, Guiné, no dia 20 de Outubro de 2022, às 18h00, Palácio da Independência, Largo de São Domingos (ao Rossio)

C O N V I T E

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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23681: Agenda cultural (818): doclisboa'22- festival internacional de cinema, 6-16/10/2022: Retrospectiva - A questão colonial: 35 filmes - Parte II: Guiné, Angola, a memória e as novas batalhas. Mesa redonda, dia 8, às 15h00 (Cinema São Jorge) e às 19h00 (Cinemateca)

Guiné 61/74 - P23690: Notas de leitura (1504): "Deixei o meu Coração em África", por Manuel Arouca; Oficina do Livro, 2016 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Fevereiro de 2020:

Queridos amigos,
Manuel Arouca é um bom confecionador de literatura de passatempo, não falta nem drama com ciúme, militares estropeados, heróis da guerra, desgraçados morais, sinais evidentes de que o Estado Novo caminha para a sua perdição. A questão de fundo é a inverosimilhança, não é preciso ser antigo combatente para imaginar um furriel em Guileje, que recebe a visita de figuras gradas do Movimento Nacional Feminino, na comitiva vem a mulher que é o enlevo do seu coração, desencadeia-se uma tempestade de fogo, e aquele furriel, que gosta de tirar fotografias insólitas à Robert Capa, escapa-se para o mato com a mulher apaixonada atrás, capta imagens extraordinárias de gente estorricada pelo bombardeamento aéreo; inverosímeis são também as passeatas de ski aquático em Gadamael. Tudo bem apimentado com bebedeiras de estrondo, ambientes luxuosos, muita roupa de marca, carros que custam fortunas, e um final feliz depois de um longo labirinto de equívocos. Pode-se dizer que é a televisão que vem até à literatura, e não o inverso.

Um abraço do
Mário


Deixei o meu coração em África, por Manuel Arouca (2)

Mário Beja Santos

Na década de 1980, Manuel Arouca [foto à direita] ganhou notoriedade com um bestseller intitulado "Filhos da Costa do Sol". Podemos considerá-lo romancista, argumentista e guionista. O seu romance "Deixei o meu Coração em África", Oficina do Livro, 2005 (trata-se da 2.ª edição, que serve de base para esta apreciação) tem como protagonista o Furriel Rodrigo, menino de boas famílias que se entrosam com outras boas famílias, numa circulação entre Lisboa, Sintra, Estoril e Cascais, famílias com muitos negócios, com enorme apreço pelo Estado Novo, a geração de Rodrigo vê emergir sinais de inconformismo com a ordem estabelecida. Há muito álcool, sexo, estranhas sinas do destino que provoca casamentos equívocos, condenados a caírem na água, mas com bodas da maior popa e circunstância, com caçadas e a alta sociedade possidente a marcar presença.

O Furriel Rodrigo Pereira dos Santos vai para Guileje e mais tarde para Gadamael. Manuel Arouca nasceu em Porto Amélia, a presença de Moçambique no romance é uma quase inevitabilidade. Rodrigo é amigo de um jovem banqueiro, Ricardo, com muitos interesses em alguns pontos da colónia; como é amigo de Chico, um ilustre advogado, que depois de Isabel, a grande paixão de Rodrigo, se ter divorciado de Armando, um canalha da pior espécie, com ela vive e convive.

É bom que o leitor atine que há uma senhora africana que é atropelada por Isabel, no Estoril, em 1989, larga um bom maço de papéis que Isabel recolhe, são as memórias de Rodrigo, como solução de trama não deixa de ser um bom “chapéu velho” para que a narrativa tenha seguimento, mesmo com saltos cronológicos, vê-se perfeitamente que o autor domina a técnica do folhetim e conhece bem os condimentos do melodrama. Ricardo foi para a guerra, em Lourenço Marques é recebido com estadão, jantar no Grémio Civil, onde se traja habitualmente a rigor, mas naquela noite é tudo à desportiva, com camisas Lacoste ou Fred Perry, vestidos em linho, sedas naturais, chiffons e organzas. Não faltou nenhum barão das Finanças, Ricardo sente-se atraído por Guida, uma beleza espetacular, viajam de avioneta, são cenas dignas do filme África Minha, frequentam clubes, é tudo um forrobodó, no Sul de Moçambique ninguém fala em guerra, é um dado remoto lá muito em cima. Seguem para Nacala, a seguir entra no palco da guerra, perto de Vila Cabral, não irão faltar caçadas e encontro com Jorge Jardim. Voltamos a Guileje, os ataques sucedem-se, as colunas de reabastecimento são um inferno, não falta também um ataque de abelhas, Rodrigo escreve ao pai a dizer que não há solução militar para aquela guerra, é preciso que os apoiantes do Estado Novo suportem a tese de Spínola, é imperativo uma reconciliação de todos os guineenses, mesmo sabendo-se que o regime rejeita categoricamente conversações com os “terroristas”. O pai de Rodrigo almoça com um ministro de Salazar no Grémio Literário, uma conversação cheia de asperezas, o ministro tem que sair à pressa, fora avisado que o seu nome estava ligado ao escândalo dos Ballet Rose. O Capitão Ivo Ferreira, um amigo de coração de Rodrigo em Guileje, recebe ordens para abandonar Guileje, é vítima da política de Spínola, todos os cabo-verdianos têm que abandonar lugares de comando. Abreviando, um dos amigos de Rodrigo é traído pela mulher que anda com um escroque, quando Rodrigo for a Lisboa para casar desanca-o de tal modo que o energúmeno será hospitalizado; outro amigo terá a sua paixão africana, há casório religioso e civil, uma mina leva-lhe as pernas. Não esquecer, tal como nas telenovelas, Rodrigo gosta de Isabel que casará com Armando, Rodrigo com Leonor, dinheiro para ali não falta, tudo com estadão e bebedeiras.

Regressado do casamento agridoce, Rodrigo é transferido de Guileje para Gadamael. Se toda esta África é já uma arte escritural sempre à superfície, se todo o absurdo da descrição daquele ataque a Guileje em que o Furriel Rodrigo no meio de uma tempestade de fogo corre para a mata acompanhado de Isabel para fotografar as imagens de um ataque aéreo ao grupo guerrilheiro, agora o absurdo fala mais alto, o Furriel Rodrigo irá ter conversações com uma figura de proa do PAIGC, fará ski aquático, com um zebro dotado de um motor potente, Armando, mais onzeneiro do que nunca, manda missivas ao ministro de Salazar, em tom ciclotímico, umas vezes é a euforia da captura do capitão cubano Pedro Peralta, no decurso da Operação Jove, no ano seguinte revelará a profunda deceção por Spínola, por causa do massacre de vários oficiais, em 20 de abril de 1970. Como é próprio de gente fina, Spínola há de visitar o quartel de Rodrigo, trata-o por tu, irá comer chabéu de peixe feito à base de tainhas acompanhado com água das pedras. Há para ali umas lambuzadelas de etnografia e etnologia, casamentos, choros, fanados. E o fim da comissão de Rodrigo é em Bissau, Armando teve à beira de levar um bom par de tabefes, com muito espanto Rodrigo vê marchar os comandos africanos, o comandante é o Capitão Baga, irmão-gémeo de Sima, o chefe guerrilheiro com quem Rodrigo teve conversas sigilosas, claro está.

A guerra acabou, Rodrigo comparece no casamento de Isabel, pouco antes da cerimónia têm uma conversa acalorada, é um arrebatado dueto de amor, com mais poesia só o que Shakespeare pôs nas bocas de Romeu e Julieta. A descrição dos ambientes é sempre de fausto, de grandeza, naquela declaração de amor Rodrigo preparava-se para lhe levantar o vestido, a mãe de Isabel entrou e não se apercebeu daquele furor. Entramos na reta final, a africana recuperou a consciência, chama-se Páscoa, andou nas Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, tem um magnetismo muito especial, Rodrigo tinha desaparecido com o pretexto que estava canceroso, deu à costa, Páscoa foi a fiel portadora do documento que Rodrigo foi laboriosamente escrevendo no arvoredo guineense. Numa atmosfera de ópera, dá-se o reencontro entre Isabel e Rodrigo. Rodrigo descobre que é pai do filho de Isabel. Necessariamente que toda esta saga termina em bem, à custa de outros corações destroçados: “Isabel e Rodrigo abraçam-se. Ela encosta-lhe a cabeça no peito. As palavras são completamente desnecessárias. Sentem-se um ao outro como nunca na vida se tinham sentido”.

É esta a síntese de um melodrama que começa em 1968 e desabrocha em 1989, pelo caminho andou-se pelo Sul da Guiné, houve um rol de intrigas, casais trocados, e depois do 25 de Abril aquela besta do Armando andou na trafulhice, depois de ter calcorreado vários partidos. Fica por esclarecer se Manuel Arouca não vai voltar a pôr Rodrigo Pereira dos Santos de novo na Guiné, já que ele ali deixou o coração.
Imagem de uma coluna entre Aldeia Formosa e Buba, retirada do blogue Guiné 1968/69, referente à BCAÇ 2834, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23682: Notas de leitura (1503): "Deixei o meu Coração em África", por Manuel Arouca; Oficina do Livro, 2016 (1) (Mário Beja Santos)