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terça-feira, 27 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6797: V Convívio da Tabanca Grande (17): Caras novas (Parte IV): A Manuela Campos, nortenha, mulher do Eduardo
















(...) Depõe-se as armas,
despem-se os camuflados,
tiram-se as pinturas de guerra,
e apresenta-se um ar “normal”!
É que durante umas horas,
quase sem ninguém se dar conta,
esteve a Guiné toda inteira,
um dia em Monte Real!



Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional da Tabanca Grande Grande > 26 de Junho de 2010 >  O Eduardo e a Manuela Campos... Outras personagens: O José Manuel Lopes (o fabricante de néctares dos deuses) (3ª foto a contar de cima), o Sousa de Castro, o Manuel Amado e o Hélder de Sousa, de costas (na última foto).

Fotos: © Luís Graça(2010). Direitos reservados


O único facto insólito poderia ser a presença delas... ao lado deles, dos seus homens e dos amigos e camaradas dos seus homens. Mas não, não faltam, não falham, algumas desde o já longínquo 1º Encontro Nacional, na Ameira, Montemor-O-Novo, em 2006... Umas vêm pela primeira vez, este ano... E, à despedida., dizem:  Foi bom, gostei, pensava que só falassem de tropa e de guerra, p'ró ano, se Deus nos der vida e saúde, cá estaremos de novo... 

Pois é, elas são as nossas mulheres... A das fotos de cima, aqui apanhada em flagrante delito de ternura é a mulher do Eduardo Ferreira Campos... O Eduardo foi 1º Cabo Telegrafista da CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74) e esteve, em Abril na Guiné, numa viagem de turismo de saudade. ("Gostei de tudo, fui a quase todo o sítio, a única decepção foi... a tua Bambadinca"...).

A Manuela, que vive na Maia (com o Eduardo, e vice-versa...) é periquita nestas andanças,  pelo menos ao nível dos nossos encontros bloguísticos. Mas esteve à altura dos acontecimentos. E daí merecer esta sequência fotográfica (que até nem saiu mal ao fotógrafo de serviço, que não se pode queixar, já que a matéria-prima era/é boa: eles são fotogénicos, espontâneos, bem dispostos, divertidos, palradores, nortenhos)... O Eduardo, por sua vez, já não é estreia absoluta, contrariamente ao que ficou dito, por lapso, no poste P6669 (*).

Eles formam um casal que está bem na vida e sobretudo está bem com a vida...O Eduardo reformou-se da sua actividade empresarial como construtor: O casal tem duas filhas, formadas...  A Ana Carvalho, esposa do  J. Casimiro Carvalho, é mana do Eduardo Campos: que fique registado isso em acta, para evitar embaraços futuros ao escriba de serviço.

Para mim, foi uma honra privar um poucochinho mais com o camarada Eduardo e a sua Manela...Entretanto, soube há dias, na passada 4ª feira, no almoço da Tabanca de Matosinhos, pela boca do próprio Eduardo, que a Manela tinha tido  entretanto um problema de saúde, e que a família tinha apanhado um susto... Mas, felizmente, já recuperou e está bem. Daqui, vai um chicoração para ambos, com votos de novos e felizes encontros.

Luís Graça
__________

Notas de L.G.:

(*) 9 de Julho de 2010  > Guiné 63/74 - P6703: V Convívio da Tabanca Grande (13): A Guiné em Monte Guardado Real ou um Encontro de camarigos (Joaquim Mexia Alves)

Vd. ainda:

 3 de Julho de 2010  > Guiné 63/74 - P6670: V Convívio da Tabanca Grande (12): Caras novas (Parte III): O João Barge, da CCAÇ 2317, que foi meu actor em A Cantora Careca, com o Rui Barbot/Mário Claúdio... (Carlos Nery)

2 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6669: V Convívio da Tabanca Grande (11): Caras novas (Parte II): Jorge Araújo, Acácio Correia, Manuel Carmelita, Eduardo Campos, João Malhão Gonçalves, Júlia Neto, Arménio Santos.. (Luís Graça)

30 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6662: V Convívio da Tabanca Grande (10): Caras novas (Parte I) (Luís Graça)

terça-feira, 4 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6313: O 6º aniversário do nosso blogue (31): Tiraram-me a G3, mas fiquei com uma caneta (Joaquim Mexia Alves)

1. Sem outro comentário, aqui este deixado pelo nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, no Poste 6312

A minha homenagem à Tabanca Grande na pessoa do Luís Graça

 Tiraram-me a G3
mas fiquei com uma caneta…

Mas não foi só a mim que a tiraram,
foi também àqueles lá estiveram.

Àqueles que comigo estavam
e àqueles que haviam de estar…

Mas não tem mal,
porque continuamos a disparar,
as balas da recordação,
as granadas da memória,
os fornilhos da indignação…

Mas não tem mal,
porque continuamos a cruzar
as picadas da camaradagem,
os rios da amizade,
os encontros da camarigagem….

Mas não tem mal,
porque nos continuamos a encontrar,
à sombra do imbondeiro,
que nos traz sombra do passado
e nos reconstrói no encontro
o nosso corpo inteiro…

Mas não tem mal,
porque continuamos
sós como sempre fomos,
abandonados daqueles
que nos deviam honrar…

Mas não tem mal
porque aprendemos,
a contar apenas connosco,
no ter, no haver e no ser,
porque aqueles que nos governam,
apenas nos querem esquecer…

Mas não tem mal,
porque somos,
muito mais que uma centena,
muito mais do que um milhar,
ou mesmo de um milhão,
somos tão só e simplesmente
uma grande multidão,
que não esquece,
nem se envergonha,
e grita aos sete ventos,
que afinal somos gente
que tem vida e coração…

Que não se arrependa ninguém,
de contar o que viveu,
de escrever tudo o que viu,
de revelar a realidade…
Para que não haja outros agora,
que, sem nada conhecer,
venham contar uma história,
que nunca aconteceu,
que em tempo algum existiu,
dando-lhe foros de verdade….

Tiraram-me a G3
mas fiquei com uma caneta…


Monte Real, 4 de Maio de 2010
Um abraço camarigo para todos
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6291: Memória dos lugares (71): No Xitole: Francisco Silva, Lima Rodrigues, António Barroso e... (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6279: O 6º aniversário do nosso blogue (30): Parabéns Rapazote (José da Câmara)

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6279: O 6º aniversário do nosso blogue (30): Parabéns Rapazote (José da Câmara)

1. Mensagem de José da Câmara* (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 24 de Abril de 2010:

Caro Carlos,
Afazeres profissionais e familiares têm-me mantido bastante ocupado nos últimos dias. Daí chegar tarde com o meu contribuito para o aniversário do Blogue. Mesmo tarde faço-o com gosto e do fundo do coração.[...]

Sem mais, desejo-te muita saúde e aos teus entes queridos, aqui vai um abraço tão amigo como o tempo que se faz szentir por estes lados.
José Câmara


Parabéns Rapazote
Quando em Janeiro de 1973 deixei a Guiné pensei que fechara uma porta que nunca mais abriria.
Sabia, é certo, que as recordações estariam sempre presentes quando encontrasse um protagonista da mesma luta, camarada das boas e más horas da luta indómita nas matas selvagens daquela terra mártir.

Um dia, ainda não muito distante, encontrei este blogue.

Reparei que ele não era mais que a porta aberta que eu julgara ter fechado há tantos anos. Atravessei-a e apresentei-me. Ninguém me ofereceu uma cadeira e tão pouco me pediram para tirar o chapéu. Lembro-me que disseram para eu ficar à vontade. Foi-me dito, e eu acreditei, que estava entre amigos e camaradas que compreenderiam a minha linguagem.

Tamanha credibilidade só podia tirar-me um sorriso. Por muitos anos de ausência em terras de estranja, estava para ver como iriam compreender o “mai poruguige” que, como diz a minha esposa, foi-se e o meu “inglishe” que nunca chegou. Apesar das minhas deficiências, tenho feito os possíveis para não dar “tomates trábulas” com as minhas histórias.

A forma como me receberam foi importante, mas não conta a história toda.

Aqui, no meio de todos vós, aprendi a chorar e a rir com as vossas histórias. Também aprendi que a Guiné que eu vivi e aprendi a amar não era só minha. Era um bocadinho de todos. E isso, sim, foi e é importante. É bom saber que não estou só.

Nos úlimos dias muitos têm sido os artigos dedicados a este aniversário do blogue. Perguntas pertinentes do Alberto Branquinho, passando pelas antologias reflectivas do Hélder Valério de Sousa e do António Garcia Matos, não faltando um ranchinho melhorado balanta-Torcato, cozinhado à Chef Mexia Alves e que o Luís Faria, em substituição do oficial de dia, se encarregou de meter o garfo lá para os lados do Chão Manjaco, com a ajuda sempre grandiosa do sargento-mor Juvenal e outros mais, tudo bem regadinho com versos e prosas de senhoras que também por aqui andavam e eu desconhecia, mas que passei a conhecer, trouxeram ao vivo um reanimar das forças à volta deste projecto.

Para os nossos editores isso é um alento e um incentivo ao seu trabalho. E, disso, são merecedores... Não os invejo.

Não é fácil gerir um blogue desta natureza. Nós somos, quase sempre, os culpados das dificuldades criadas. Esquecemo-nos muitas vezes que o objectivo principal do blogue é um contar as nossas experiências no TO da Guiné. Todos os outros contornos, sejam comentários ou opiniões, têm que ser abordados com honestidade moral e cultural, e a correcção própria de uma sã vivência democrática. Nunca deveríamos esquecer que o que mais nos une é a amizade derivativa de sermos ex-combatentes naquela província, com toda a responsabilidade que isso acarreta.

Neste blogue estão honrosamente representados todos os ramos das Forças Armadas. Uns mais que outros! Todavia, seria bom reconhecer que são poucos os representantes do QP e das patentes superiores. E esses também têm uma história para contar. Sem o seu testemunho, muito da nossa história colectiva ficará perdida para sempre. A nós compete-nos fazer com que esses indivíduos se possam sentir à vontade e bem-vindos. A quantificação e a qualificação serão tão mais importantes, quanto maior for o nosso sucesso em trazê-los ao nosso seio.

Nesse aspecto, a grandeza do blogue passa, necessariamente, pelo contributo que cada um possa dar. “Tudo é possível, se a alma não for pequena” como disse o grande poeta Pessoa.

Sim, tudo é possível neste blogue, um rapazote de seis anos, que mantém a porta aberta às recordações, às histórias, às estórias e às amizades.

Por tudo isso obrigado camaradas.

Parabéns rapazote!

José Câmara


2. Comentário de CV:

Prepositadamente espacei, no tempo, a publicação deste texto do camarada José da Câmara, relativo ao nosso aniversário, cujos festejos não terminaram obrigatoriamente no dia 23.

Assim, os camaradas que tenham algum texto alusivo ao acontecimento e o queiram enviar, estão sempre a tempo de o fazer.

CV
__________

Notas de CV:

(*) vd. poste de 24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6237: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (18): Estados de alma, aerograma de 20 de Abril de 1971

Vd. último poste da série de 24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6243: O 6º aniversário do nosso blogue (29): Aqui vamos adquirindo conhecimentos sobre outras culturas e tradições (Filomena Sampaio)

sábado, 24 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6243: O 6º aniversário do nosso blogue (29): Aqui vamos adquirindo conhecimentos sobre outras culturas e tradições (Filomena Sampaio)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Filomena Sampaio com data de 22 de Abril de 2010 com a sua contribuição para a comemoração do 6.º aniversário do nosso Blogue:

Amigo Carlos,
Motivos não me faltam para deixar uma mensagem de parabéns pelo 6º aniversário do Blogue.

Como leitora do Blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, que leio quase diariamente, quero dar os parabéns ao comandante Luís Graça e aos seus co-editores, pelo sucesso deste distinto espaço de leitura e informação. Para além de ficarmos com uma ideia do que foi a vida dos Nossos Militares em Guerra no Ultramar, também vamos adquirindo conhecimento sobre outras culturas e tradições, algumas que nos levam a reflectir e a querer saber mais.

Frequento o Clube de “Cidadania é Cultura” e decidi levar para discussão do grupo o tema “Mutilação Genital Feminina”. Foi através deste Blogue que tomei conhecimento desta tradição, e com base no que li e pesquisei escrevi um texto e fiz uma apresentação em Power Point.
Foi interessante, levantou muitas questões.
Obrigada a todos.

O livro que li – “Pami Na Dondo, A Guerrilheira” que me foi oferecido pelo autor Mário Fitas, (ex-Furriel Miliciano Operações Especiais, Guiné 1965/1966), um homem de palavra sentida, com uma vivência fortemente marcada pela guerra geradora de brutalidade e simultaneamente de forte amizade entre camaradas.

Esta obra varia entre a ficção e a realidade, somos transportados desde a vivência dos militantes do P.A.I.G.C. (Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde) até à acção e forma de viver dos soldados que compõem a companhia, uma Unidade do Exército Português, onde o autor esteve integrado, numa comissão de serviço militar na Guiné.
Nesta obra, o autor retrata a vida duma jovem guerreira que luta pela Independência do seu país, a Guiné.

É uma história interessante, pois relata a vida de Pami em várias fases, fazendo referência entre muitos outros aspectos, ao facto de Pami não ter sido sujeita à mutilação genital feminina, o que na comunidade guineense muçulmana à qual pertencia, era prática tradicional.
Conta a maneira como Pami se transformou numa guerrilheira do P.A.I.G.C. que para ela seguia a prossecução dos objectivos que ela também visava.

Alistada nas hostes da guerrilha, sofre um acidente que lhe incapacita um dos braços e acaba professora do P.A.I.G.C., devido à sua formação escolar, (quarta classe de alfabetização) e pelo facto de falar correctamente o português.
Muito do que sabe, aprendeu sozinha lendo e interpretando um dicionário que um padre lhe ofereceu.

É na escola que ela mentaliza e doutrina os futuros guerrilheiros.
Numa emboscada das N.T. (Nossas Tropas), à tabanca (povoação) Pami e outros guerrilheiros são feitos prisioneiros, são interrogados pelas N.T., uns são mortos outros são libertados, mas Pami, continua prisioneira das N.T. pois não conta a verdade sobre a sua condição, afirma que só responde em balanta, (dialecto da tribo com o mesmo nome, uma etnia muçulmana existentes na Guiné), fazendo-se ignorante a qualquer outra língua.

Pami fica retida no Interior do Aquartelamento, é vigiada e interrogada várias vezes, mas não confessa a sua condição de guerrilheira.
Quando é descoberta, pensa que o comandante das N.T., a vai matar da mesma forma que matou os seus companheiros de luta, mas contrariamente ao que aconteceu com os seus companheiros, foi libertada e deixada livre para seguir o seu caminho.

Não sendo a mutilação genital feminina o tema de maior relevo na história contada neste livro, despertou-me uma certa curiosidade e talvez pelo facto de ser mulher me tenha levado a pesquisar sobre o assunto.

O que li não é de forma alguma agradável, muito pelo contrário.

A mutilação genital feminina praticada em certas partes da África, na Península Arábica e em zonas da Ásia, tem uma origem de ordem cultural.

É rejeitada pela civilização ocidental, considerada um dos grandes horrores do continente africano que pensa que a forma de mudar esta mentalidade é educar as mulheres mais velhas que perpetuam este costume, bem como os homens mostrando os danos físicos e psicológicos causados nas meninas que têm de se sujeitar a esta prática.

Não fundamentada religiosamente, acredita-se que esta prática seja muçulmana e que a mutilação genital feminina está certa. Os pais, mais propriamente a mãe e a avó têm voto na matéria, eles acreditam que se a jovem não for "cortada" nunca irá arranjar um marido, isso é a pior coisa que pode acontecer a uma jovem. Se a jovem se sujeitar à MGF (Mutilação Genital Feminina) é uma condição prévia do casamento. Se uma mulher não for mutilada pensa-se que ela não é pura sendo vista como prostituta e excluída da sua própria sociedade.

Algumas razões apontadas para a realização da MGF são assegurar a castidade da mulher, a preservação da virgindade até ao casamento e a fertilidade da mulher. Por razões de higiene, estéticas ou de saúde, também se pensa que uma mulher não circuncidada não será capaz de dar à luz, ou que o contacto com o clítoris é fatal ao bebe.

A mutilação genital feminina elimina o prazer sexual. A sua prática está cercada de silêncios e é vivida em segredo, acarreta sérios riscos de saúde para a mulher, é muito dolorosa, por vezes de forma permanente, causa danos físicos e psicológicos irreversíveis sendo responsável pela morte de muitas meninas.

A remoção do órgão genital pode ser feito com instrumentos de corte impróprios (faca, caco de vidro ou navalha) não esterilizados e raramente com anestesia.

Um dos motivos para a continuidade deste ritual é a fonte de rendimento para os que a realizam. Mesmo para os médicos que a realizam em algumas clínicas, na tentativa de evitar que as meninas sofram os riscos e traumas resultantes de ablações anti-higiénicas e sem anestesia.

Normalmente é o pai que paga a “cirurgia”, para poder casar as filhas com homens que não aceitam mulheres não circuncidadas.

Têm-se promulgado leis para ilegalizar e criminalizar este costume. Embora muitos códigos penais não mencionem directamente os termos Circuncisão Feminina ou Mutilação Genital Feminina, é perfeitamente enquadrado como uma forma de "abuso grave de criança e de lesão corporal qualificada".

Vários organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), tem envidado esforços para desencorajar a prática da mutilação genital feminina. A ''Convenção sobre os Direitos da Criança'', assinada em Setembro de 1990, considera-a um acto de tortura e abuso sexual.

Em 2003 o Comité Inter-Africano de Práticas Tradicionais que Afectam Mulheres e Crianças, uma rede não-governamental, já levou à adopção de legislação contra as excisões em alguns países, iniciativa patrocinada pela ONU.


Reflexão:

Reconheço que em algumas situações devem ser mantidos os usos, costumes e tradições. Não se deve pôr em causa os valores nem as tradições dos povos. São símbolos de identidade, dentro ou fora do país. No entanto, considero que manter a tradição duma prática que causa um enorme sofrimento, é um atentado à saúde das mulheres e jovens, que as leva frequentemente à morte. É um desrespeito inaceitável pelos direitos humano.

Todos os países deviam adoptar uma legislação contra a mutilação genital.

Bibliografia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mutilação
http://www.acidi.gov.pt
Blogue de: Luís Graça & Camaradas da Guiné (marcadores: Mutilação Genital)

Filomena







Clicar nas imagens para as ampliar
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Nota de CV:

Vd. poste de 24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6242: O 6º aniversário do nosso blogue (28): O meu bem haja com o vozeirão maior que se possa conceber (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P6242: O 6º aniversário do nosso blogue (28): O meu bem haja com o vozeirão maior que se possa conceber (Manuel Maia)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), enviada hoje mesmo ao nosso Blogue:

Camaradas
Sendo impossível deixar de cair em lugares comuns quando se pretende expressar o nosso regozijo e especialmente agradecimento, ao comandante e seus "cabos d`ordens", limitar-me-ei a dar o meu bem haja com o vozeirão maior que se possa conceber .

Hoje é também dia de aniversário de um irmão meu e por isso mesmo tenho estado noutras guerras...

Se a capacidade criativa do Luís é por demais conhecida e merecedora dos maiores encómios, a quem saúdo daqui com um abraço forte de parabéns pela ideia e pela máquina tão bem oleada que gerou, os mosqueteiros de que se fez acompanhar, têm, eles também, uma enorme responsabilidade, nesta coisa fantástica de falarmos, tu cá tu lá, evidenciando um espírito de abertura extremamente saudável e sobretudo prenhe de amizade, pese embora o surgimento aqui ou ali de pequenos atritos motivados pela poeira que uma vez por outra se cola à engrenagem...

Esta vivência que já vai no sexto ano de existência, ( "malheureusement" só a descobri o ano passado...) será provavelmente, um "caso sério" a este nível, quer pela quantidade de "atabancados" quer ainda pelos posts e comentários em número verdadeiramente estrondoso...

Estou certo que cimentado que está, já só tem um caminho a seguir... crescer, crescer exponencialmente por forma a transformar as quatro centenas de "escribas" que somos em meio milhar já neste 2010, e ir por aí fora...

Amigo, avisa amigo, amigo traz outro amigo...

Parabéns, uma vez mais, ao Luís, e "sus muchachos", mas também a todos os que com as suas histórias vão enriquecendo e solidificando esta amizade que tem como base de sustentação, a vivência naquela terra que amamos mau grado os sacrificios lá passados...

Abraço a todos os tabanqueiros
Manuel Maia
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5798: Agenda cultural (57): Apresentação da História de Portugal Em Sextilhas, dia 26 de Fevereiro em Moreira da Maia (Manuel Maia)

Vd. último poste da série de 24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6240: O 6º aniversário do nosso blogue (27): Parabéns

Guiné 63/74 - P6240: O 6º aniversário do nosso blogue (27): Parabéns

Neste poste vamos publicar algumas curtas mensagens enviadas por Camaradas nossos, a propósito do 6º Aniversário do blogue:

1. Mensagem do Carlos Coutinho:

Então 6 anos - Bué de mata-bicho!

6 anos é mesmo bué de mata-bicho.
De alguém das sanzalas p’rá malta das tabancas um grande MOIO, MUATAS.
Que o ZAMBI vos continue a dar saúde e inspiração para continuar até ao Zaire.
A votre santé.
CC

2. Mensagem do Mário Fitas:

Guião da CCAÇ 763

Que o 6º aniversário seja apenas uma etapa de uma longa caminhada desejada como o tamanho do Cumbijã!
Guião CCAÇ 763
"OS LASSAS" de CUFAR

3. Mensagem do Pedro Neves:

6º Aniversário da Tabanca Grande

Caros Editores da Tabanca Grande, Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e Magalhães Ribeiro;

Bom dia, Caros Camaradas e Amigos (Camarigos).

Passa um dia do aniversário do Blogue, mas mesmo assim (e vale mais tarde que nunca), gostaria de vos agradecer, as horas que me proporcionam, com a leitura dos postes e comentários aos mesmos, só possível graças à iniciativa do Luís Graça e "sus muchachos", (com a devida vénia) e sem esquecer o "mecenas" Humberto Reis, que deram origem a este fenómeno de adesão, desde o Soldado ao General (ao tempo, porque no Blogue não existem patentes) e que dá pelo nome de "blogueforanadaevaotres".

Em meu nome e estou convencido que dos restantes Tertulianos, os meus Parabéns pelo Aniversário do Blogue e que para o ano possamos todos, estar a festejar o 7º aniversário.

Com um GRANDE a todos e até ao dia 26-06-10, em Monte Real, sou:

Pedro Neves
Ex-Furriel Mil. Op. Especiais
C.Caç. 4745 - Águias de Binta
Guiné 73/74

4. Mensagem do Amílcar Ventura:
PARABÉNS,
Quero dar os parabéns ao blogue e em especial ao Luís Graça, por ter criado este ponto de encontro.
Claro que também apresento os meus parabéns aos Editores que nos aturam com os nossos e-mails.
Quero dizer que tenho pena de não ter descoberto este espaço de amizade mais cedo, pois permitiu que a minha vida desse uma volta de cento e oitenta graus.
Desde que entrei em contacto com o blogue:
- Fui obrigado a aprender a mexer num computador (foi fácil porque tenho um especialista em casa);
- E me apresentei à tabanca tenho feito grandes amigos e, engraçado, não conheço nenhum pessoalmente, a não ser alguns pelas fotos e por vários e-mails que tenho trocado todos os dias com eles.
Vejo nas suas palavras que são de grande sinceridade e pura amizade.
Quero aqui, pessoalmente, agradecer a todos eles.
Alguns houve em que a minha primeira avaliação foi negativa, talvez pela minha ajuda, em tempos, ao PAIGC e a diversos comentários proferidos por outros.
Logo percebi que as opiniões dos outros, mesmo não nos agradando, têm que ser respeitadas, para que as minhas o possam ser também.
Tudo passou e hoje nutro uma grande amizade por todos eles, pois trocamos e-mails quase todos os dias, alguns com pps que até servem para me levantar o moral quando estou em baixo.
E é tudo!
Mais uma vez quero agradecer ao Luís Graça pela criação deste blogue, e aos seus co-Editores.
Parabéns para todos vocês.
Um abraço do tamanho da Guiné para toda a Tabanca Grande!

5. Mensagem do Carlos Marques Santos:

6º Aniversário
Vinhal:
Não queria deixar de parte esta data de 23 de Abril, por isso através de ti, insuspeito amigo, um ABRAÇO para toda a TERTÚLIA.
Tenho andado às voltas com o convívio da minha CART.
Já falta menos de um mês!!!!!!!!!
Até breve,
CMSantos
Fá Mandinga/ Mansambo 68-69
CART 2339
6. Mensagem do Rogério Cardoso
6º ANIVERSÁRIO DA TABANCA GRANDE
Amigos,
Só há 5 meses conheci o blogue e que pena eu andar de cabeça no ar estes anos passados.
Não tenho desculpa, por ser dos mais velhos camaradas de armas, mas nunca é tarde para receber ou transmitir a amizade que nos une, mesmo sem haver conhecimento directo em alguns casos.
Estou feliz, neste curto espaço de tempo voltei à Guiné.
Obrigado Luis Graça, Carlos Vinhal e restante companhia, desejo muitos e muitos anos de vida para todos.
Rogério Cardoso
Fur Mil
CART 643 / BART 645 "Aguias Negras"
Mansoa, Bissorã, Mansabá
1964/1965
7. Mensagem José Nunes:

Comandante Graça,
A Engenharia apresenta os parabéns pelo Aniversário da Tabanca, e já sabem sempre disponíveis prás engenhocas e dar-vos luz onde e sempre que seja necessário.
Foi bom ter encontrado por acaso este espaço de fraterna e sã camaradagem,
Todos os dias por aqui dou as minhas voltas, lendo e relendo os textos dos camaradas operacionais que verteram sangue, suor e lágrimas pelas bolanhas e picadas da Guiné. Apesar de estar grande parte da Comissão em Bissau, no tempo em que fiz assistências ao mato, aprendi a respeitar e a ter admiração por aquela "malta". Eu tive mais sorte.
Grato para sempre.
Aos Camaradas Editores vai também o meu agradecimento.
José Nunes
1º Cabo Mec Elect Centrais do BENG 447
Brá-68/70

8. Mensagem do Torcato Mendonça:

Caros Editores e Camaradas,

Dizem-me ser o sexto aniversário do Blogue, Luís Graça e Camaradas da Guiné, e eu folgo com isso. Mas questiono-me o que é o blogue? Quem faz anos?
O blogue de sexto aniversário é o do Luís.
Então faz ele anos e mando-lhe um abraço e uns eteceteras; se o blogue é este espaço, espaço com quatro centenas de pessoas, milhares de escritos onde, porque fica gravado, vêm ler e saber de assuntos ou novas centenas de milhar de visitantes.
Ainda por este espaço ser global e as gentes, quer as que a ele pertencem quer as que o visitam, espalham-se mundo fora. Espaço de afectos, espaço de discussão plural, espaço de controvérsia ou só espaço de terapia colectiva de uns quantos.
Ou todos?
Penso que é isso tudo. Mais, penso ser um espaço a contribuir para o tratamento futuro da nossa memória colectiva. Da memória de outros Povos que connosco conviveram por séculos.
Os de bilege? Também porque só prova a necessidade de nos conhecermos melhor como Povo.
Trabalho para historiadores, não para cronistas do reino...

Mas então para quem são os parabéns? Eu escrevi uma ou outra vez, comentei aqui e acolá... e vou dar parabéns a mim? Eu, além disso só para aqui vim em Maio de 2006 e fiquei.

Penso que os parabéns são para o fundador, para os editores, para todos os que pertencem e se identificam e acreditam na validade deste projecto.

Mas, se me o permitem envio os meus PARABÉNS e os meus agradecimentos aos Editores pelo excelente trabalho. São muitas horas roubadas sabe-se lá a quê e a quem...

Meus Camaradas Amigos para vocês o meu bem haja e, através de vós felicito toda esta Tertúlia de homens e mulheres de cá, do nosso País, ou da Guiné e os da Diáspora mundo fora como é sina nossa... partilhando o Mundo... não dando novos... já lá estava...
Abraços
TM
9. Mensagem do José Martins:
Camaradas,
Não foi há 6 anos, porque ainda não conhecia o blogue.
Mas há cerca de 5 anos, descobri-o por acaso, e tratando do tema que me é mais caro da Guiné: o desastre do Cheche.
Nessa altura trabalhava já na história dos GATOS PRETOS, tentando fazer a catarse. Inflecti um pouco o rumo e aderi à tertúlia, hoje Tabanca Grande. Não me dei mal.
Criaram-se novos laços (é preciso criar laços - Saint Exupéry) e foi possível manter dois caminhos, concorrentes mas não incompatíveis: manter a busca sobre a companhia e aumentar os conhecimentos sobre a Guiné e, sobretudo partilhá-los.
Afinal, parece, que a prenda do aniversário foi para mim: já aconteceu o encontro dos Gatos Pretos e, como já referi noutro local, todos "miavam de saudades".
Foi uma festa bonita! A nossa, a da Tabanca, também vai ser bonita. Onde há amizade, há beleza.
Bem hajam aqueles que começaram e os outros que se lhe juntaram.
José Martins
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
23 de Abril de 2010 >
Guiné 63/74 - P6231: O 6º aniversário do nosso blogue (26): Parabéns Luís Graça por este Espaço de Memória Futura (Luís Faria)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6231: O 6º aniversário do nosso blogue (26): Parabéns Luís Graça por este Espaço de Memória Futura (Luís Faria)

1. Texto de Luís Faria* (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72) chagado até nós, alusivo ao nosso aniversário:

6.º Aniversário do Blogue
23-ABR-2010


Talvez saudoso(?) de uma mocidade que tantos e tantos Camaradas de Armas “formatou” como homens para toda uma vida de Esperança, mas desiludido e apreensivo por continuar a constatar que ao longo de todos estes anos, para muitos se foi dissipando essa Esperança.

A meu ver ficaram e continuam perdidos e abandonados à insensibilidade de uma Sociedade em que fomos esquecidos, maltratados, vilipendiados pela Política, pelos Governos e pela maioria dos nossos Políticos!

Continuamos e continuaremos a sê-lo, enquanto a vida se nos vai esgotando, a menos que consigamos uma chamada de consciência colectiva!

A própria Instituição Militar pouco fez/faz por nós (Milicianos, em especial), por aqueles que a serviram abnegadamente, com tamanha escassez de meios e condições tantas vezes infra-humanas, em Teatros tão exigentes e fatídicos como os do ex-Ultramar Português, esquecendo-os, abandonando-os, não procurando assegurar ou que assegurem, a tantos e tantos, um mínimo de dignidade Humana mais que merecida e devida, deixando-os à deriva com todas as mazelas físicas e psíquicas, que os têm levado à degradação espiritual e física - com consequências tantas vezes funestas - “medalhas” ganhas no cumprimento do dever, em defesa do que à altura, não esqueçamos, também era a nossa Pátria Una e Indivisível, PORTUGAL.

Tudo isto… com a complacência doentia e egoísta da maioria dos Cidadãos (onde os ex - Combatentes se incluem) que, salvo honrosas excepções, individualmente ou em Associação, cumprem com o seu dever de Cidadãos, tentando minorar ao menos um pouco todo esse sofrimento que continua e continuará a grassar pelo nosso País, cada vez mais alienado de uma realidade Histórica passada, que parecem continuar a CONSIDERAR VERGONHOSA, devendo como tal ser esquecida… apagada até, votando ao esquecimento os seus intervenientes “anónimos”, quer os já infelizmente falecidos quer os ainda vivos, esperando talvez que estes últimos acabem por desaparecer e que a cal branca “coma” definitivamente a ”NÓDOA INCÓMODA“!?

Pela parte que me toca, TENHO ORGULHO, MUITO ORGULHO em pertencer a esse Grande Grupo de Portuguesas e Portugueses que ajudaram a escrever uma Página da nossa História, como outros o fizeram outrora.

Incluo Mães, Pais, Esposas, Filhos - que sofreram e choraram (ainda hoje o fazem!), que viveram de outro modo mas à mesma intensamente, esse pedaço da nossa História.

A meu ver, por norma somos na grande maioria demasiado individualistas, acomodatícios, egoístas até, olhando para o lado e assobiando se pressentimos que algo que devamos assumir nos vai tirar do nosso “não é nada comigo… que se cosa!!”

E nós, Ex-Combatentes ainda vivos da guerra do Ultramar, temos o País que não merecemos mas que “aceitamos”, já que também pouco ou nada fizemos ou fazemos para alterar esta e outras realidades.

É neste contexto e talvez a esta luz, que há meia dúzia de anos atrás surge a “CHAMA” de uma vela acesa pelo Luís Graça que, com a complementaridade do Vinhal, Briote e M. Ribeiro, foi evoluindo até se transformar no que é já hoje, um FAROL sinalizador de um espaço de excepção, de Ex-Combatentes que na sua diversidade humana e sociocultural o alimentam com os seus escritos.

Espaço de convivência na pluralidade de opiniões, de transversalidade de vivências havidas, de reabilitação de afectos e emoções, de expurgo de “fantasmas e demónios“.

Espaço de afectos, de amizades, de encontros e reencontros.
Espaço de conhecimento, de saber, de ideias e por vezes de controvérsia.
Espaço (quer-se), de verdade, de autenticidade, de humildade, de tolerância.
Espaço de vida, de “terapia”, de esperança ainda.
Espaço de consulta.

Espaço de “Memória Futura”

Espaço que começa a “prender” a atenção desta nossa Sociedade “amorfa e instalada”, abanando-a podendo vir a ser o início da tal chamada de consciência colectiva, quem sabe ?!

Espaço NOSSO, dos Ex-COMBATENTES!

Parabéns “Luís Graça & Camaradas da Guiné”

Parabéns Mulheres e Homens que mantêm este espaço vivo.

Luís Faria
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6156: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (28): Teixeira Pinto - O Bolo

Vd. último poste de 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6230: O 6º aniversário do nosso blogue (25): Sonho inverosímil (Mário G. R. Pinto)

Guiné 63/74 - P6229: O 6º aniversário do nosso blogue (24): No aniversário do Blogue, homenagem à Guiné (Conceição Salgado)

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), de hoje:

Luís, Carlos,
Parece que toda a família Salgado despertou – é este bichinho da Guiné, que ficou, que marcou…

A Conceição quis dar o seu contributo a partir de Luanda…

Mantenhas pa tudus.
Paulo Salgado


A nossa tertuliana Conceição Salgado em Uaque


No Aniversário do Blog

Homenagem à Guiné



Guiné,
Como adolescente trouxeste-me:
Sofrimento
Temor
Ansiedade
Também me ensinaste
Reflexão sobre o sentido:
Da vida
Da guerra
Da paz
Da amizade

Aprendizagem e ressentimento
Nunca te queria conhecer!

Anos 90
Já adulta
Finalmente conheci-te
Fiquei cativa
Pelo teu bafo quente
Teu cheiro a bolanha
Tuas ilhas
Teu mar
Tuas florestas
Teus rios
Tuas picadas

Tuas cidades esventradas
Teu povo sofrido
Fizeram-me compreender
Melhor o Mundo

Ao conhecer-te
Descobri-me
Outra pessoa

Por tudo que me deste
Estarás sempre em mim
Obrigada.


Conceição Salgado
23 de Abril de 2010
__________

Vd. último poste da série de 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6228: O 6º aniversário do nosso blogue (23): Obrigada a todos, em meu nome e da Cidália, por nos terem permitido entrar nas vossas vidas (Cátia Félix)

Guiné 63/74 - P6225: O 6º aniversário do nosso blogue (20): Parabéns editores, participantes e denunciantes do medo, do horror... (Felismina Costa)

1. Mensagem de Felismina Costa*, a partir de hoje mais uma amiga e tertuliana do nosso Blogue, com um poema que nos dedica e que vai sensibilizar todos os nossos camaradas, tenho a certeza.


6º ANIVERSÁRIO DO BLOGUE

Parabéns Srs Editores!
Parabéns a todos os participantes
A todos os denunciantes
Do medo, do horror, do degredo...
Em terra linda, que vos encantou.
Parabéns, porque sois capazes de denunciar!
De gritar a vossa revolta.
A vossa digna revolta.
Parabéns, porque sois vós, a vóz com razão
Que não teme a repressão,
Que não bajula, que não pactua,
Que não se acobarda.
Parabéns, porque... sobrevivesteis!
Porque fizesteis questão de contar, de relatar,
De registar os horrores, que presensiasteis,
quando ainda meninos, vos mandaram matar...
Terrível realidade, que em vossos peitos se instalou
e que em muitos, deixou marcas físicas, psíquicas,
continuamente revividas...
Mas ditas!
Mas... que eles não apagam.
Haja ao menos o blogue, o vosso amado blogue, onde despejam alegrias e tristezas.
Onde contam, como ninguém, as vossas certezas e incertezas.
Comungo convosco desta festa, desta festa, onde celebram, a vossa...
Sobrevivência!


Parabéns
Felismina Costa
__________

Notas de CV:

(*) Felismina Costa, recorreu ao nosso Blogue em Fevereiro passado, para tentar encontrar o seu afilhado de guerra dos tempos de 1963/64, Hélder Martins de Matos, ex-1.º Cabo Escriturário do BENG 447.

No tempo em que ainda era menina, mas sensibilizada para a nobre missão de apoiar moralmente, quem longe do seio meio familiar, não tinha junto de si: mãe, irmã, esposa, namorada ou amiga que lhe dedicasse um pouco de afecto, adoptou como afilhado um camarada, que como nós, combatia na Guiné.

Dele nunca mais teve notícias, até que se lembrou de o procurar, vd. poste de 27 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5894: Em busca de... (119): Afilhado de guerra, Hélder Martins de Matos, ex-1.º Cabo Escriturário, Bafatá, 1963/64 (Felismina Costa).

Vd. último poste da série de 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6224: O 6º aniversário do nosso blogue (19): Um povo e uma terra que estão no meu coração (Paula Salgado, Londres)

Guiné 63/74 - P6223: O 6º aniversário do nosso blogue (18): Ensinamento de vida (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 20 de Abril de 2010:

Meus caros camarigos editores
Tenho pensado na forma de festejar o aniversário da Tabanca Grande que se aproxima.
Quis escrever alguma coisa que marcasse o dia.
E fui andando "por qui, por li", como se diz na minha terra e... nada!

Numa procura que estava a fazer de textos antigos para um trabalho em mãos, deparei-me com algo que escrevi e publiquei no meu blogue, depois do nosso Convívio de 2007.
Ao lê-lo percebi que seria a melhor homenagem que poderia fazer ao nosso espaço de tertúlia e amizade.

Anexo o texto.

Porque o mesmo contêm a expressão viva daquilo que eu vivo como homem de fé, compreenderei se acharem que não o devem publicar como "presente" de aniversário, por eventual critica de "proselitismo".

Tal não me passa pela cabeça, mas, volto a dizer, compreenderei perfeitamente a vossa decisão.
Ficará a intenção e a minha sempre constante amizade e camaradagem, para melhor dizer, camarigagem.

Um abraço deste camarigo
Joaquim


ENSINAMENTO DE VIDA

Tive um fim-de-semana muito ocupado, mas sobretudo vivido muito intensamente.

No Sábado estive num almoço convívio com ex-combatentes da Guiné, (onde estive de 1971 a 1973), e hoje, Domingo, participei na Sé de Leiria, na celebração da Eucaristia de Ordenação de um Presbítero, o Marco, e um Diácono, o Marcelo, que pertence desde a primeira hora à nossa Comunidade Luz e Vida.

Perguntarão o que tem uma coisa a ver com a outra, e também eu perguntei isso mesmo ao meu Deus e Senhor, que sempre nos dá algum ensinamento sobre o que vai acontecendo no dia-a-dia das nossas vidas.

No almoço convívio, (de muitos ex-combatentes que se reúnem num blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné), estavam por isso mesmo, muitos camaradas de armas, (como nos costumamos chamar), de diversas idades, proveniências e unidades militares, dos quais muitos não se conheciam ainda pessoalmente.

No entanto, o sentir, a identificação de algo comum, a unidade de uma experiência colectiva, a comunhão de todos estes sentimentos e vivências, fazia com que nos sentíssemos todos iguais, todos irmanados, todos acolhedores, todos no fundo como um só, embora tão diferentes nas nossas vidas, desde a idade, à política e com certeza à religião.

Na Eucaristia da Ordenação do Marco e do Marcelo, estávamos também pessoas de diversas idades, diversas experiências de vida, locais diferentes, diferentes “sentires”, diferentes modos de viver a Fé, mas no entanto, todos unidos, acolhedores, sorrindo uns para os outros, querendo dar as mãos, e na diversidade, comungando a e na unidade com o Senhor Nosso Deus.

E então o que é que em eventos tão diferentes, se pode encontrar como ensinamento para a vida?

E a resposta é a própria vida, a vida que se dá, que se entrega, a vida que se recebe, a vida que se predispõe para os outros e dos outros para nós.

Com efeito, na guerra, colocamos a nossa vida nas mãos dos outros, dos que estão ao nosso lado, que nos acompanham e que às vezes apenas conhecemos ali, enquanto os outros nos entregam as suas vidas, confiando em que as vamos proteger com as nossas próprias vidas.

Só com essa entrega mútua de confiança, é possível sobreviver na guerra.

Essa vivência faz-nos identificar com todos os que estiveram na guerra, no nosso tempo, no nosso sitio, ou tempos e sítios totalmente diferentes.

Quando nos encontramos, conhecendo-nos ou não, apesar de todas as diferenças que possam existir entre cada um, abraçamo-nos, acolhemo-nos e comungamos de um mesmo sentimento: a vida que continuamos a ter.

Na vivência da Fé, na e em Igreja, a vida só tem sentido se for uma oferta permanente a Deus, e por Deus aos outros.

Só posso viver e crescer em comunhão com os outros e para os outros, senão arrisco-me a perecer na primeira dificuldade, a cair na primeira tentação.

A minha salvação só tem sentido na salvação dos outros e os outros contam com a minha entrega em oração por eles, como eu conto com a sua entrega em oração por mim.

Pode mesmo chegar-se um dia ao extremo de termos, por amor, de dar a vida pelos outros, entregando-nos confiantemente nas mãos do Criador, como ainda hoje tantos fazem, em nome de Deus, pelos seus irmãos.

E não interessa onde estamos, onde nos encontramos, no nosso país ou outro qualquer, porque nos identificamos e reconhecemos nessa entrega de amor a Deus e aos outros.

Na guerra os outros confiam que eu os protegerei e contam com as minhas capacidades, como eu conto com as deles, para chegarmos sãos e vivos ao nosso ponto de partida.

Na Igreja, os outros contam com as minhas orações, com o meu testemunho de vida, como eu conto com o deles, para crescermos juntos na Fé e alcançarmos a Salvação, que nos foi dada por Jesus Cristo Nosso Senhor.

A entrega da nossa vida, pelos outros e dos outros por nós, leva-nos a este encontro de comunhão de sermos um só com o mesmo objectivo.

A diferença está em que, na guerra a finalidade é preservarmos a nossa vida, muitas vezes aniquilando a vida do outro.

Na vivência da Fé, em Igreja, a finalidade é a salvação do outro com a entrega da nossa vida, alcançando também a nossa salvação.

Monte Real, 30 de Abril de 2007
JMA
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6112: Parabéns a você (99): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil OP Esp (Os editores)

Vd. último poste da série de 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P622: O 6º aniversário do nosso blogue (17): Quem disse que hoje não havia rancho melhorado ? (Torcato Mendonça)

Guiné 63/74 - P6220: O 6º aniversário do nosso blogue (16): Um Blogue? Sei lá o que é isso! (Paulo Santiago)

1. Mensagem de Paulo Santiago* (ex-Alf Mil do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72), com data de 22 de Abril de 2010:

Camaradas

Entrei, pacificamente, nesta Tabanca em 26 de Junho de 2006, e por cá me tenho aguentado com muita satisfação e bem estar.

Muitos tabanqueiros chegaram a esta morança, porque houve um ou uns tabanqueiros que disseram: é pá, anda aí na net um Régulo, o Luís Graça Baldé, também há quem o conheça por Mamadú Henriques, construiu um Reordenamento, onde se exorcisam antigos fantasmas e se faz blogoterapia... A mim ninguém me deu esta dica.

Em Fevereiro de 2005, fui à Guiné acompanhado pelo meu filho João, sozinhos, malucos, chamaram-nos, e antes da partida, tive de ir à GNR, era na altura arguido com termo de identidade e residência, chamavam-me arruaceiro, tinha batido numa senhora, era a acusação, e assim tive de comunicar a minha ausência para aquela terra vermelha da qual tinha imensas saudades.

A viagem foi um arraial de emoções, está descrita por aí, mas aconteceu que vim mais apanhado, aquele meu encontro, no Quirafo, com a carcassa da GMC, deixou-me arrasado. Tenho de contar esta tragédia, tenho de dar porrada em quem provocou esta mortandade. Como fazê-lo? interrogava-me.

Entretanto, a minha mulher ofereceu-me este portátil, onde continuo a clicar com um só dedo, e um dia um amigo diz-me: oh caralho, tens de fazer um blogue para descarregares essas merdas que tens na cabeça. Um blogue? sei lá o que é isso, respondi-lhe. Mas, esse meu amigo deixou-me umas instruções, e penso que andava à procura de um nome para o tal imaginário blogue, e quando escrevo Guiné, aparece-me a página que bem conheceis. CCAÇ 12, Bambadinca, e aparece-me a foto do Vacas de Carvalho, de lenço amarelo, sentado na torre da Daimller, e recuei a Outubro-Novembro de 1971, era o único que conhecia... e assim entrei para o Luís Graça e Camaradas da Guiné.

Descarreguei tudo. Hoje sinto que sou outro graças ao Luís, não serei o único, estou a lembrar-me do Batista que será uma pessoa diferente daquela que conheci, juntamente com o Álvaro Basto, há três anos atrás. Lembro, recentemente, a guineense Neusa Danho, filha do 1.º Sargento Miliciano Cristóvão Santos, que graças ao blogue conseguiu encontrar camaradas do pai, falecido quando ela era recém nascida. Hoje, curiosamente, recebi um telefonema da Cidália Cunha, viúva do 1.º Cabo António Ferreira, e notei que era outra pessoa, agora já fez o luto, e também aqui graças ao Graça.

Luís, tu criaste esta imensa Tabanca de afectos, mereces o meu/nosso reconhecimento.

Neste aniversário recebe um grande abraço de amizade, extensivo ao Briote, ao Vinhal e ao Magalhães Ribeiro. Agora, graças a vós, os nossos filhos já sabem onde os pais andaram na juventude.
Bem-Hajam!
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6150: O Spínola que eu conheci (8): O Militar que foi meu Comandante-Chefe (Paulo Santiago)

Vd. último poste da série de 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6219: O 6º aniversário do nosso blogue (15): Seis anos de vida! É Obra! Vamos reflectir (Hélder Sousa)

Guiné 63/74 - P6219: O 6º aniversário do nosso blogue (15): Seis anos de vida! É Obra! Vamos reflectir (Hélder Sousa)

Texto enviado hoje mesmo pelo nosso camarada Hélder Valério Sousa* (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72) alusivo ao aniversário do nosso Blogue:


O NOSSO BLOGUE

Caros camaradas, amigos e outros…

O nosso Blogue vai fazer 6 anos de vida! É obra!


Nesta época de vertigem, em que as coisas são moda e rapidamente descartáveis, criar, manter, alimentar e desenvolver um Blogue, principalmente com as características deste nosso, é de facto um caso notável.

Mas, afinal, de que estamos a falar? O que é, realmente, o nosso Blogue?

Aquando do aniversário do ‘criador’, o Luís Graça, tive a oportunidade de, para o felicitar, apresentar algumas frases sobre o Blogue, salientando principalmente como ideia-chave que a ‘criação ultrapassou o criador’, ou seja, o Blogue já não seria do Luís Graça (pelo menos em exclusivo e na prática) mas sim de nós todos, que na realidade o adoptámos, o acarinhámos e o desenvolvemos constantemente, de tal modo que podemos escrever sem errar “O Nosso Blogue”, quando a ele nos referimos.

Outras coisas também lhe chamei: lugar de afectos, espaço de memórias, local de controvérsias, catalizador de sentimentos, revelação de poetas e prosadores, propiciador de ‘blogueterapia’, motivador de encontros e reencontros, forja de amizades que se criam e se renovam, etc.

Entretanto, também ocorrem convulsões!

Um ‘post’ recente, do Alberto Branquinho, vem lançar um grito de alerta, provocar um abanão, colocando uma série de interrogações para a aparente abstinência de colaboração de alguns camaradas que já não ‘produzem’ artigos faz bastante tempo. E a propósito desse ‘post’ o Carlos Vinhal avança com algumas considerações, confessando, na prática, que a situação é conhecida e causa preocupação, apelando à participação de todos, conforme as suas possibilidades. Sucedem-se vários comentários de camaradas que fazem sentir a oportunidade e a justeza das interrogações do Branquinho, salientando aqui, sem desprimor para qualquer outro, a intervenção do António Matos, na linha de algumas outras (passadas) intervenções que ele já teve, com a caracterização, na sua opinião, de algumas ‘doenças infantis’ que afectam o nosso Blogue e no sentido de ‘recentrar’ os seus objectivos.

Pois então que se faça essa reflexão, se ‘recentrem’ os objectivos. Como se fará isso? E como? De que modo? E onde? E quando?


O QUE DISTINGUE O NOSSO BLOGUE

Voltando ao “nosso Blogue”, o que mais se poderá dizer? O que o torna distinto e portanto ‘apetecível’? O que o faz ter e manter um conjunto de ‘acompanhantes’ bem mais numeroso do que aqueles que se encorajaram a incorporá-lo?

Há uma questão que às vezes me colocam. “Porquê isso da Guiné? Foi pior para vocês do que para os outros? Há aí alguma competição no sentido de que ‘a minha guerra foi pior que a tua’, foram mais sofredores, ou ganhadores, ou sacrificados que os outros?”.

Não, não há nenhuma competição, não faz sentido algum. Os traços são comuns aos diversos T.O., pois em todos houve os que ‘embarcaram’ convencidos que estavam a ‘defender a civilização ocidental e cristã contra os interesses inconfessáveis dos estrangeiros’ e houve os outros, que foram por sentido do dever, por não terem alternativa, por acharem que sim, por outro motivo qualquer, mas para todos houve na prática o afastamento da família, dos amigos, do meio de vida, da escola, do trabalho, vidas interrompidas (e algumas delas acabadas…), enviados para ambientes estranhos onde houve que fazer adaptações (e rápidas), quer em termos pessoais quer em termos operacionais.

Para o rememorar desses tempos acontecem os encontros, os almoços, as confraternizações: dos diversos grupos funcionais, dos elementos dos cursos, do pessoal das Companhias, dos Batalhões, de outras Unidades e/ou actividades; aparecem vários Blogues, alguns mais simples, outros com qualidade acrescida, dessas Unidades.

E então o que é que diferencia e torna interessante o “Luís Graça & Camaradas da Guiné”?

Um dos méritos é que pretende abranger todo o tempo em que durou o, chamemos-lhe assim, ‘conflito’; transversalmente a todo o espaço territorial; aposta numa atitude de reconciliação com o passado (preservando a memória); estende a mão aos antigos adversários apelando à sua participação; promove uma postura de respeito mas ao mesmo tempo de ‘igualdade’ entre os seus membros. Deste modo será quase possível, com a continuação dos depoimentos e das participações, fazer a história dos diversos locais ao longo desses tempos e também, ao cruzar as informações, fazer o ‘filme’ em cada ano e apreciar os desenvolvimentos ocorridos.

Isto não faz qualquer concorrência com as histórias e convívios das diversas Unidades, mas antes as completa e pode fazer o traço de união para que cada uma delas compreenda o ‘antes’ e também, conforme os casos e a época, o ‘depois’ (onde e quando houve depois) dos locais por onde andaram.

Para além destes aspectos acresce que a relativa pequenez do T.O. (comparado com Angola e Moçambique) faz com que todos os que de nós por lá passaram, de uma maneira geral, ‘conheçam’ o território da Guiné. Em qualquer ponto onde se estivesse chegavam as notícias (muitas vezes deturpadas ou exageradas, é certo) de acontecimentos, perto ou longe, mas que nos irmanavam nos sucessos ou nos lamentos dos sacrifícios e vidas perdidas, que ocorriam em locais cujos nomes eram muitas vezes pronunciados com respeito, temor, reverência. Isso unia-nos e ainda hoje nos une.

Mesmo em Bissau, tantas vezes referenciada como ‘a guerra do ar condicionado’, não eram raras as vezes em que se ouviam distintamente os rebentamentos do outro lado do Geba, provocando reacções de solidariedade e de desejo de que aqueles que estavam a ‘embrulhar’ tivessem sorte. Já relatei que tenho um amigo e colega de curso que estando colocado em Luanda levou uma ‘porrada’ por aquelas coisas menores que aconteciam na tropa e em locais onde era mais exigente o aprumo e, em consequência disso, foi destacado para o Luso. Pois daí enviou-me um aerograma lamentando a sua pouca sorte, pela ‘porrada’ e por ter sido enviado para ‘zona de guerra’, já que “por vezes, ouvia os canhões a apenas 25 km”. Para todos os que estiveram na Guiné é então fácil entender a solidariedade tácita imediata que se estabelece entre nós.

São, portanto, estes dois aspectos essenciais, a ‘transversalidade no tempo e no espaço’, e o da ‘identificação comum de todos com tudo’, aliados ao facto de quase todos termos dito “Guiné, nunca mais!” mas isso ser quase impossível pois “voltamos lá” muitas vezes, seja pela ‘procura da juventude perdida’, seja pela marca indelével que aquela terra, aquela gentes e aquelas paisagens nos deixaram, são esses aspectos, dizia, que nos ligam fortemente ao Blogue a ponto de, mesmo quando é varrido por questões ou assuntos que não nos agradam, mantermos a nossa atenção e o interesse.

Acontece que o nosso Blogue é acompanhado, seguido, ‘vigiado’, por muita gente que, por uma razão ou outra, não se atreve a ‘bater à porta’ da Tabanca, mas isso não é preocupação pois esse período de namoro é absolutamente natural. Algumas coisas originam reservas para que se entusiasmem e passem a colaborar activamente mas, se houver engenho e arte para ‘resolver’ essas questões, é certo que mais vontades se acrescentarão para tornar o ‘puzzle da memória’ mais completo.

Pessoalmente, assim de repente, lembro-me de duas mãos-cheias de gente que conhece e segue o nosso Blogue mas não o integram (ainda?): da Marinha, de Moçambique, da Guiné… acham que não têm relevância ou que as suas histórias não são interessantes, ou então que lhes falta ‘o jeito’, a qualidade… seremos pacientes e aguardaremos que tomem coragem!


E INIMIGOS? TERÁ O NOSSO BLOGUE INIMIGOS?

Certamente que sim!

Não é o Blogue uma espécie de ‘organismo vivo’, em boa medida já bem representativo da sociedade em que se insere? Então, o que é que se espera? Não é a sociedade constituída por antagonismos? Pois também certamente que sim, e isso reflecte-se necessariamente na atitude para com o Blogue.

E como se manifesta essa inimizade?

Bem, há pelo menos dois grandes grupos que podem ser caracterizados, cada qual com as suas ‘nuances’… e existem fora e dentro do Blogue.

Na maior parte dos casos não se trata bem de inimizade, mas sim de mágoa, de interpretações erradas ou também consequência de queixas justas, se bem que pontuais.

Fora, podemos encontrar aqueles que dizem que o Blogue ‘é só para os amigos dos editores’, coisa pouco sustentável porque são tão diversos os camaradas que têm textos e artigos publicados que não se vê maneira de sustentar tal afirmação;

Também há quem reclame da excessiva ‘intelectualização’ (aparente), que levaria ao afastamento ou não-aparição de camaradas com menos capacidade literária, mas isso não é uma verdadeira razão pois temos tido possibilidade de apreciar contributos de camaradas com essas alegadas menores capacidades e a quem os editores ajudam, compondo os textos. As queixas aqui são mais do género 'é só para os antigos oficiais, que agora são todos escritores’, o que é injusto e também pouco sustentável, face à quantidade e variedade das intervenções publicadas.

Mas há aqueles para quem o Blogue, como manifestação de grupo, de solidariedade, de partilha, com capacidade de mobilização de vontades e fonte de esclarecimento, aparece como uma ameaça, pois tudo o que ‘cheirar’ a defesa do colectivo é ‘perigoso’. E isso é verdade tanto para os que se sentem ameaçados quando se veicula a reivindicação pelo respeito e memória dos que tombaram ao serviço da Pátria (fosse lá pelos motivos que fosse) como para aqueles que querem ‘cavalgar’ descontentamentos legítimos e ‘reescrever’ a História à luz das suas próprias concepções.

Dentro, também se podem encontrar sinais que, certamente de modo involuntário, fomentam inimizades. Dum modo geral configuram infracções às regras do Blogue, pelo que, se escrupulosamente respeitadas, evitariam a maior parte das situações menos boas que por vezes surgem e que fazem ‘azedar’ o ambiente. Já alguém alvitrou ao Luís para ‘deixar sair as G3 de vez em quando’ como forma de ‘aliviar tensões’ mas isso, em si mesmo, pode descambar e criar fracções totalmente indesejáveis. É um jogo perigoso.


QUE FAZER?

Para já, impõe-se reflectir como sugerido ou motivado pelo artigo do A. Branquinho.

A forma de o fazer poderá ser constituída por artigos ou textos de opinião ou sugestões enviadas para o Blogue e que cheguem ao conhecimento colectivo, onde se apontem caminhos e acções a tomar e a desenvolver.

Pode também passar pela apreciação e discussão em ‘grupos de trabalho’ que tracem ou sugiram os novos (se for o caso) caminhos a seguir, ou o reforço organizativo existente.

Pensem (pensemos) nisso!

Entretanto, e para terminar, resta dar os parabéns ao “Nosso Blogue”, que é como quem diz, dar os parabéns ao seu criador, aos editores que o materializam e a nós todos que o alimentamos, acarinhamos e defendemos.

Que tenha longa vida e que nos vejamos representados nele!


Um abraço para toda a Tabanca!
Hélder Sousa
Fur Mil TRMS TSF
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6099: A Guiné aos olhos das actuais gerações (2): Marta Ceitil, sente que está a aprender e a crescer na Guiné-Bissau (Hélder Sousa)

Vd. último poste da série de 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6218: O 6º aniversário do nosso blogue (14): Homenagem ao Blogue e aos Mendes que nos acompanharam (Paulo Salgado)

Guiné 63/74 - P6218: O 6º aniversário do nosso blogue (14): Homenagem ao Blogue e aos Mendes que nos acompanharam (Paulo Salgado)

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), com data de 21 de Abril de 2010:

Meu Caro Luís Graça,
Vai a minha participação – mais do que isso a homenagem ao Mendes, aos “Mendes” que nos acompanharam, lado a lado, numa guerra de que ainda não se escreveu de forma verdadeiramente científica…

Posta lá isso, o que vai em itálico.

Um abraço tertuliano.
Paulo Salgado



As notícias

Que me desculpem os companheiros bloguistas e os que, não participando nesta tertúlia – aqueles milhares que palmilharam bolanhas, matas e matagais, tarrafos, rios, riachos – eu não pretendo “armar-me” em intelectual, que não sou. Gosto de ler, de reflectir. É verdade. Lá no Olossato, em tempo de algum breve lazer, e para além das cervejas geladinhas ou gins ou cocas no bar, tive oportunidade de ler o Alves Redol quase todo, algum Rodrigues Miguéis, as pequenas (grandes) obras do Soeiro, o Russell – com troca com outros. Ou ouvíamos a Mahalia Jackson ou o Ray Charles ou la burrita – não sei quem é o autor (o Moreira ainda guarda esse disco ali em Gaia), verdade que às vezes púnhamos a rodar a 3.ª sinfonia ou a 5.ª sinfonia do Beethoven…enquanto ao longe se ouvia o batuque!

Vem isto a propósito do saboroso texto do Miguel Esteves Cardoso que escrevinha todos os dias um artigo interessante no Público. Diz ele, a propósito das nuvens do vulcão: «Já fui atingido pela nuvem de cinza e finalmente compreendi a tragédia. As coisas são mais tocantes quando nos tocam a nós. É que a nuvem atrasou o correio expresso.»

De imediato me lembrei que as nossas “nuvens” (desta natureza) por toda a Guiné eram os atrasos do aviãozinho (Dornier) que trazia o saco verde do correio. Pois é. Toda a maralha ficava fodiscada. Mas quem recordo, meus caros, é o Mendes, o homem da G3 e das imensas fitas que transportava, logo a seguir ao guia (bom, não me recordo se era a seguir imediatamente…) que, em dia de ausência de correio, bebia que se fartava e era um corrupio no que se chamava de caserna. Punha todos em polvorosa: fosse quem fosse, até o filho da puta do alferes… Não admira a razão: era casado, tinha uma filha…

Ao Mendes e a tantos “Mendes” eu quero endereçar neste dia de aniversário do nosso blogue, este humilde contributo.

Na verdade, as notícias que nos interessavam vinham em aerogramas carregados de emoção…

Obrigado, Mendes, pelo teu humano sofrimento de que me recordo vivamente, e que me ajudou a crescer e pensar muito.

Paulo Salgado
23 de Abril de 2010
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(*) Vd. poste de 19 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5500: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (11): Natal com calor (Paulo Salgado)

Vd. último poste da série de 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6213: O 6º aniversário do nosso blogue (13): A nossa blogoterapia, objecto de artigo da revista Visão, edição de hoje

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6214: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (13): Força, Luís e Camaradas, porque o Blogue é um momento único e inigualável no mundo (Pepito)


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 4 de Abril de 2010 > "Doação para as escolas rurais da Guiné-Bissau". Foto tirada em 6 de Março de 2010.  (Foto reproduzida com a devida vénia...) (*)


I. Legenda: "A 'Memórias e Gentes', associação humanitária portuguesa de Coimbra veio no início de Março de 2010 em expedição terrestre à Guiné-Bissau, trazendo uma importante doação de produtos essenciais destinados aos seus diferentes parceiros locais, os quais terão a responsabilidade de os fazer chegar aos destinatários finais, escolas, hospitais, centros de acolhimento, creches, etc.

"A AD foi contemplada com numerosos cartões contendo livros escolares da 1ª à 9ª classe, brinquedos infantis para as creches e roupa diversificada para raparigas e rapazes, assim como material escolar.

"Na pessoa de José Moreira, presidente da associação, as Escolas de Verificação Ambiental do sector de S.Domingos e o Centro de Animação Infantil de Quelélé em Bissau, passaram a dispor de melhores condições de ensino e material lúdico que encantam as crianças".

 
II. Mandei há dias correio para o Pepito:

1. Aí tens o menino Chico [de Fajonquito]... de que te falei e que faz parte do nosso blogue... Deves lembrar-te dele, espero que por boas razões.

2. Outra coisa: falei ontem, longamente, com a tua mãe.... Falámos do seu tempo de professora no Liceu Honório Barreto...

3. Vê o novo videoclip dos Melech Mechaya... Feito com um orçamento de mil euros.. Putos com talento... Eu adorei, mas sou suspeito:

http://www.youtube.com/watch?v=7q2PdAuu-ls

 4. A Alice quer mandar mais umas roupinhas e sapatinhos para a afilhada de Farim do Cantanhez... Quando é que alguém de vocês passa por Iemberém ? Pode usar de novo a tua caixa postal ?

5. Estive anteontem, 15, no lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló, um notável livro de memórias, honesto, surpreendente... Esteve muita gente, incluindo o Alpoim Calvão... Entre os guineenses, o Bamba, que diz ser teu conhecido, e que foi ministro da saúde pública, num governo vosso, pelo Movimento de Bafatá...Estudou na Ucrânia (Kiev ?) e na Itália. Julgo que é engenheiro da área alimentar, foi um contacto breve, tenho o seu telemóvel.

6. Temos começar a preparar a viagem à tua terra em 2011... Qual seria, no teu entender, o nº ideal de pessoas ? Podia ser uma iniciativa Blogue e AD...

7. No dia 23 de Abril de 2010, vamos fazer 6 ANOS!!! A revista Visão vai publicar, na próxima 5ª feira, um artigo sobre nós...

8. Apanhámos mais um susto com os rapazes (fogosos) do batalhão de Mansoa... Gostei da resposta do povo, que veio para a rua... Sei que vocês tão bem.

Um grande chicoração. Luís

III. Resposta do Pepito:

Luís, Amigo


1. Sinceramente não me recordo do Chico lá no Ministério. Ele diz que não me ouviu no dia 20 de Janeiro (Museu). Esquece-se que eu pratico o mesmo que ele diz:"Eu ainda tenho a sorte de pertencer ao grupo dos anonimos que, no contexto da Guiné, é um grande privilegio"

2. Videoclip dos Melech Mechaya: o nosso sistema de internet está péssimo e lento. Não consegui ouvir, mas logo que melhore fá-lo-ei.

3. Diz à Alice que mande roupa sempre que quizer. Deve é avisar-me para eu estar a par e não se perder nos CTT

4. Viagem 2011: vamos a isto com a parceria Blogue-AD. Por razões de alojamento no sul estava a pensar em 14 pessoas. Se houver mais, melhor. Sempre se arranja solução satisfatória. É como no Blogue, há sempre lugar para mais um, ou como dizia o Zeca, venham mais cinco!

5. Dia 23 de Abril: para a menina Tabanca Grande, uma salva de palmas! Força,  Luís e Camaradas,  porque o Blogue é um momento único e inigualável no mundo.

6. Batalhão de Mansoa: bem quis o Amilcar Cabral que em vez de militares, tivessemos militantes armados. Uma vez acabada a luta pela independência, largavam as armas e continuavam a militar com outras "armas". Foi aí que perdemos a grande oportunidade. Hoje não é só o poder que está na ponta da espingarda. É também a Coca.

abraço amigo

pepito

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 31 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6080: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (12): Guileje, Faro Sadjuma, S. Domingos... Ecoturismo e empreendedorismo no feminino

Guiné 63/74 - P6213: O 6º aniversário do nosso blogue (13): A nossa blogoterapia, objecto de artigo da revista Visão, edição de hoje


Na edição de hoje, 23 de Abril de 2010, da revista Visão, o jornalista João Dias Miguel assina um artigo que ocupa 3/4 partes da página 78, sob a rúbrica Visão > Sociedade. O artigo é ilustrado por uma foto de Nuno Fox (acima reproduzida, com a devida vénia).

O texto começa com uma citação minha, resultado de uma longa entrevista com o jornalista: "Somos uma espécie de grupo de auto-ajuda. Costumamos falar em 'blogoterapia da guerra em África' "... E é depois referida sucintamente a  história do nosso blogue, apontado como "presta(ndo), seguramente, um serviço público, ao dar espaço a um assunto tabu - a Guerra Colonial - que estava 'enterrado debaixo de uma pedra' e que continua a fazer sofrer, em silêncio, muitos portugueses".

Destacado a amarelo, lê-se: "O blogue, onde todos se tratam por tu e não existem hierarquias militares, tem como lema a frase 'Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti' e ali se faz todos os dias a petite histoire - o relato, na primeira pessoa, das experiências que cada um viveu na Guiné-Bissau".

E continua o jornalista:

"Há um efeito terapêutico", diz o fundador. "Muita gente que vivia isolada, sozinha com os seus fantasmas e memórias, sem ligações, sem suporte social, passou a conviver e a verbalizar as suas recordações, passou a registar isso no papel. E nós publicamos".

São citadas algumas histórias que tiveram impacto no público leitor. É ainda referido que o blogue tem mais de 400 membros inscritos, duas mil visitas por dia, que é lido dos EUA à Austrália, que apoia diversas iniciativas humanitárias na Guiné-Bissau e que tem sido fonte de alimentação de livros e autores. "E dali já saíram ideias para livros como, por exemplo, Estórias Cabralianas, pequenos contos sobre o absurdo do dia-a-dia da guerra" (numa referência ao livro do Jorge Cabral, que deve ser publicado este ano).

A foto, algo insólita, em que eu apareço com o título do livro do Amadu Djaló (Guineense, Comando, Português), projectado no rosto, foi tirada numa sala de aulas, com recurso ao projector e à ligação à Internet.

O nosso blogue faz amanhã 6 anos (*).
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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série < 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6212: O 6º aniversário do nosso blogue (12): Cem pesos ? Manga de patacão, pessoal! ( Luís Graça / Humberto Reis / A. Marques Lopes / Afonso Sousa / Jorge Santos / Luís Carvalhido / Sousa de Castro)