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sábado, 21 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10177: Do Ninho D'Águia até África (1): Mobilização e partida para um Comando de Agrupamento (Tony Borié, ex-1º cabo cripo, Cmd Agrup 16, Mansoa, 1964/66)

1. O Tony Borié*, que entrou há tempo para a Tabanca Grande, ofereceu-se para para publicar, no todo ou em parte, um livro em formato eletrónico (o chamdo e-book) que ele elaborou com as suas memórias de há quase meio século. Chamou-lhe Do Ninho de d´'Aguia até à África... É um caminho, coletivo, que todos nós também conhecemos. Mas é também um caminho, único, individual, singular... O caminho que nos levou, das nossas terras, até a um país, em África, na África Ocidental, a alguns milhares de quilómetros de casa... Combinámos com ele editar, no nosso blogue, todas as semanas, o livro eletrónico (que nunca foi publicado em papel, é portanto um inédito).

Há tempos eles explicou-nos a génese deste livro:

(...)"Eu relacionava-me bem com os meus camaradas, em especial do batalhão de artilharia 645, e de um pelotão de morteirosde que não me recorda o número, mas dormia na mesma camarata deles, e vivia todas as suas peripécias. Esse pelotão teve três mortos,  se não me engano, e eu chorei-os como se fossem meus irmãos. Eu tinha acesso a todos os reportes de toda a movimentação de tropas que se fazia na região do Oio e é com esses elementos de que me vou lembrando, que escrevi o livro. Não menciono nomes verídicos nem lugares, mas toda a história se passou na região do Oio e é verídica. Houve esses ataques e houve essas minas que rebentaram, e houve esses camaradas que desapareceram para sempre, embrulhados num camuflado todo roto e ensanguentado, e alguns, com um ar de crianças no rosto"- (...)

Ele vai-nos mandando um número de páginas que pode ser variável (4 a 8), é preciso é que cada poste (ou parte) corresponda a um "episódio", "situação", "cena" ou "pequena história"... para não se perder o fio à meada... Como ele estás nos EUA há quatro décadas (vive hoje na Florida), é normal aparecer um ou outro erro de português, ortográfico (ou até de simples processamento de texto) que vamos procurar detectar e corrigir, com a plena anuência e bom vontade do autor,  a quem agradecemos desde já o seu companheirismo e generosidade.  O título da série é dele: os substítulos serão, em princípio, da responsabilidade do editor de serviço. (CV)

2. Do Ninho D'Águia até África (1): Mobilização e partida
por Tony Borié (EUA, Florida)


O comboio das dez e meia da manhã levou o Tó d’Agar, da vila até à cidade. No quartel da cidade, vai  “às Sortes”. Os doutores ordenam-lhe que tire a roupa, e inspeccionam o seu corpo nu, de diversos ângulos. Mandam abrir a boca, mostrar os dentes, dar saltos, baixar-se, abrir e fechar as pernas, ler algumas letras, curvar-se e metem-lhe o dedo no ânus, que bastante lhe dói, verificam as mãos e os pés, se tem cinco dedos, tudo isto entre outras coisas. Falam entre si, numa linguagem, talvez técnica, mas incompreensível. No final, o que tem cara de mais velho, dos ditos doutores, ordena-lhe que se vista, e entrega-lhe um papel com o seu nome, que tem um carimbo a letras vermelhas, onde se lê “Apurado para todo o serviço militar”.

Algum tempo depois, recebe uma carta registada, na casa de seus pais, a notificá-lo para se apresentar num quartel militar da província, a fim de ser incorporado no exército de Portugal.

O Tó d’Agar, depois de passar por esse quartel militar da província, onde recebe uma instrução básica, que era concentrada em saber defender-se, e como deve matar. Matar de diferentes maneiras, usando diferente partes do corpo, onde pode produzir uma morte rápida, ou prolongada. A instrução foi baseada em saber matar. O militar que proporcionava a instrução, tinha regressado, há pouco tempo,  de uma comissão numa província do ultramar, contava histórias de combate, exemplificava, em cada instruendo, o local do corpo, em que devíamos acertar com uma bala, ou com uma faca. Fazia isso, com tal precisão, e com os olhos vidrados de raiva, que até assustava os instruendos.

Terminada essa instrução básica, é transferido para os arredores da capital, onde recebe um pequeno treino de especialização. Durante este treino, dizem-lhe constantemente que é um filho da Pátria, que deve dar a vida por ela, que a partir do final, quando receber todo este treino de especialização é um militar fora do normal, que não pode dormir na mesma caserna, com outros militares, pois pode ter insónias, e revelar segredos de Estado a que vai ter acesso no futuro, e fazer perder uma guerra, e mais um blá, blá, blá, que,  quando acaba o treino, vem com um peso no corpo, como se carregasse com dez milhões de portugueses às costas!

Entretanto, rebenta outra rebelião de independência, noutra província do então ultramar português. É mobilizado. O chefe do governo de Portugal dizia na rádio e na televisão, também do governo, para que o povo português, visse e ouvisse:

- VAMOS PARA A GUERRA, E EM FORÇA!

Não teve tempo, nem para se despedir da família na sua aldeia do vale do Ninho d’Águia.

Sem dar por nada, tem umas botas novas calçadas, e está vestido de amarelo, com um saco às costas e uma mala de cartão, no cais da alfândega de Lisboa, esperando a sua vez de entrar para o navio que havia de o levar para a província da Guiné, onde começava uma guerra traiçoeira e imprevista. Chora sem lágrimas, para dentro, pensando que já é um homem. O navio apita três vezes, chamando todos para bordo. O apito  é rude e de aflição, não é um apito bonito, como era o comboio das seis e meia, na sua aldeia do vale do Ninho d’Águia.

O primeiro dia no alto mar é de surpresa e admiração. Tanta água, de um lado e do outro, não dá para compreender, não há terra à vista, de vez em quando, passa um barco, lá ao longe, e apita. Ao terceiro, ou quarto dia, viam-se peixes voadores, saíam da onda, e voavam uns segundos, desaparecendo noutra onda, alguns iam de encontro ao barco. O convívio com futuros colegas de companhia começa a fazer-se. Alguns perguntam:
- De onde és? Como te chamas?

Se o nome é difícil de pronunciar, passa a chamar-se pelo nome da terra ou região onde nasceu. Assim, aparece em cenário de guerra, o primeiro cabo Bolinhas, o Açoriano, o Lisboa, o Matateu, o Setúbal, o Corcunda, o Morteiro. O Tó d’Agar passou a chamar-se “o Cifra”, talvez por causa da especialidade.

Passados uns tantos dias, chegam ao porto de destino. Era manhã cedo, um nevoeiro fraco, mas quente, muito quente e húmido, não corria nenhuma aragem, era abafado. Lá ao longe, algumas casas, um intenso arvoredo, verde e de outras cores, rente à água, com árvores gigantes aqui e ali. O cais de desembarque, via-se a umas tantas centenas de metros do barco. Não se podia atracar, apesar de o barco ser pequeno. Os militares iam sendo desembarcados, em lanchas, que os transportavam, assim como todo o equipamento militar, ao cais.

Esta operação, demorou um dia. Já em terra, e deslocados para uma área, onde se via a tal vegetação verde e de outras cores, rente à água, com árvores gigantes, aqui e ali, começou a organização, dentro da desorganização. É distribuída uma ordem, num papel, género da “ordem do dia”, onde era comunicado: O Agrupamento número tal vai juntar-se à Companhia de Infantaria número tal, que está estacionada no espaço número tal, e o Pelotão de Morteiros, número tal, fica agregado à Companhia de Infantaria número tal, que se deve encontrar na zona tal, e por aí adiante. Tudo em campo aberto. Com a movimentação de militares e viaturas, passado uns tantos dias, o local do acampamento estava coberto de lama, e com ela, milhares de mosquitos. Neste cenário, viveram quase três semanas, até serem enviados para o interior da província, e possível cenário de guerra.

Neste espaço de tempo, não havia água potável, nem para beber, ou lavar simplesmente a cara. Era em bidões vazios de gasóleo ou óleo, que se lavavam, e enchiam com água turva dos rios e pântanos próximos, esperava-se umas horas para que algumas impurezas assentassem no fundo, e depois essa água, era utilizada. Viviam à base de ração de combate. Pela manhã, em determinada área, ferviam água, e faziam café, muito forte, que distribuíam com um naco de pão, ou um biscoito. Um pouco retirado do acampamento, abriam-se valas no chão, que serviam de latrinas. Aqui começava a lei da sobrevivência. Tudo era motivo para discussão entre militares, e às vezes havia mesmo confrontos físicos. Neste maldito acampamento, com algumas centenas de militares, houve um suicídio, e vários casos de febre constante, que, diziam, era a doença do paludismo.

O Cifra, que é como o Tó d’Agar passa a ser conhecido em cenário de guerra, ao fim de aproximadamente três semanas, sai do acampamento, e vai para o interior da província, onde se começava a desenrolar o conflito. O Comando do Agrupamento a que pertence, instalou-se numa vila do interior, nas instalações do que diziam ser um antigo convento de padres de uma ordem religiosa francesa, quase em ruínas, onde já se encontrava alguns militares, que iniciaram a construção de um aquartelamento, que mais tarde, viria a ser o principal e mais importante posto avançado para o interior da província. (,,,)

(Continua)
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10150: Camaradas da diáspora (11): Tony Borié, ex-1º cabo cripto, Comando de Agrupamento nº 16 (Mansoa, 1964/66), a viver na Flórida, EUA

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10104: O Nosso Livro de Visitas (140): António Rés Borié, ex-1º cabo cripto, Cmd Agr nº 16, Mansoa, 1964/66, camarada da diáspora, vive na Florida, EUA, e procura camaradas do seu tempo


1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) António Rés Borié, que vive nos EUA:

De: António Borié [tonisaborie@gmail.com]

Data: segunda-feira, 2 de Julho de 2012 13:52

Assunto: Comando de Agrupamento nº 16, Mansoa, Guiné, 1964/66


Caro camarada, Luis Graça:

Não calcula como fiquei comovido, por saber alguém com coragem, que fez vir ao de cima milhares de vozes de camaradas que passaram por essa guerra colonial do então ultramar português, que nos marcou para o resto das nossas vidas. 


Eu,  António, mais conhecido na guerra, no meu aquartelamento, por "O Cifra", pois era primeiro cabo cifra, fui mobilizado para a província da Guiné, no ano de 1964 onde permaneci até 1966. 

Durante a minha estadia na então provincia, andei por diversas zonas onde a guerra se começava a desenrolar, mas estacionei a maior parte do tempo na vila de Mansoa, onde iniciamos a construção do aquartelamento, que seria no futuro um forte posto avançado, para o interior da província. 

Agora com 70 anos de idade, uma das razões que me faz sobreviver, são as recordações, dessa guerra maldita, onde deixei um dos meus melhores amigos, e que me marcou para o resto dos meus dias. 

Tenho um livro escrito, mas ainda não publicado, onde conto alguns pormenores dessa guerra, que no tempo em que estive na província, estava a começar, e por isso era traiçoeira e imprevista, e nós sem muita preparação, e sem medicamentos de primeira necessidade, sofríamos emboscadas, e algumas vezes mortes, que mais tarde creio que seriam evitadas. 

Gostaria de saber se ainda existem camaradas vivos, que fizeram parte do Agrupamento 16, que esteve na Guiné de 1964 a 1966 em Mansoa. Mais uma vez o felicito pela sua coragem, e com todo o respeito, sou António Rés Borié, estou a viver os meus últimos anos de vida na Florida, nos Estados Unidos, o meu email é: tonisaborie@gmail.com, para onde me pode contactar, se o desejar.


Bem haja.





Blogue do camarada João Valentim, algarvio de Olhão, ex-casapiano, ex-1º cabo escriturário da CCS/BART 645, Mansoa, 1964/66. Este blogue merece uma visita mais demorada... De qualquer modo, trata-se de um contemporãneo do António Borié. Será que ele é capaz de o reconhecer, à distância de quase 50 anos ? O João Valetim tem mais oito (8) blogues, além deste...




Guiné > Região do Oio > BART 645 (1964/66) > "As trazeiras da Igreja. Um dos poucos edifícios de pedra e cal e talvez o mais alto."






Guiné > Região do Oio > BART 645 (1964/66) > "Mansoa , 1965. O depósito de água dentro do quartel".


Fotos (e legendas): João Valentim (2009) (Com a devida vénia...)


2. Comentário do editor:

Querido camarada Tony (julgo que é assim que te tratam na Florida): Antes de mais, tenho que te bater a pala!...Para já. entre camaradas, tratamo-nos por tu, o que simplifica muita coisa... Por outro lado, a antiguidade,  aqui, no nosso blogue,  é apreciada e respeitada. Pouca gente do teu tempo (, comparativamente com os mais novos, os piras da 1ª metade de 1970...)  se sente afoita para aparecer por estas bandas, contando as suas histórias, as suas alegrias e as suas mágoas... 

Com 70 anos e a  viver na Florida, és um jovem! Nada de discursos derrotistas ou pessimistas. Espero que tenhas muita saúde, longa vida e os dólares suficientes para viveres a tua 4ª idade com dignidade e qualidade...


Fico orgulhoso de ti e da tua ousadia de escrever um livro sobre a tua experiência de guerra na Guiné, há meio século atrás... Ficas desde já convidado a integrar a nossa Tabanca Grande: como mandam as regras, basta-te mandar duas fotos digitalizadas, uma do teu tempo de tropa (pode ser de Mansoa) e outra atual, da Florida...  Se assim o entenderes, tens o lugar nº 564 à tua espera, debaixo do frondoso e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande. Como vês, já somos mais do que um batalhão...

Manda-nos também um a pequena história passada lá na região do Oio... O facto de teres sido cripto também significa que tivestes acesso a informação outrora classificada... Há coisas que estás muito mais à vontade para partilhar hoje, com todos os teus camaradas, quer os do teu tempo (1964/66) quer os piras que fecharam a guerra... 



Infelizmente não encontro ninguém do teu Comando de Agrupamento nº 16... Mas sobre Mansoa temos mais de 250 referências... E, em contrapartida, encontrei, por aí, o João Valentim, que foi 1º cabo escriturário da CCS/BART 645, e que portanto esteve contigo em Mansoa, na mesma época. Dá uma espreitadela ao blogue dele, onde há muitas fotos dele, nessa época. Vê se te lembras dele e dos sítios...


Por certo que vamos encontrar gente que esteve nessa época contigo, embora pertencente a outras unidades... Ficas também à vontade para publicar, no nosso blogue, alguns excertos do teu livro. Seria uma honra para nós. E vais ter aqui os teus mais entusiastas e apaixonados leitores. Isso garanto-te eu. Já saíram daqui, no nosso blogue, diversos livros e aqui nascem bons e grandes escritores... Pensa nisso. Recebe um grande abraço. E até à próxima. LG


PS 1 - O Comando de Agrupamento nº 16 foi mobilizado pelo RI 1. Partiu para o TO da Guiné em 23 de maio de 1964 e regressou a 14 de maio de 1964. Nesse tempo cumpriam-se dois anos de comissão... Esteve em Bissau e em Mansoa. Foi seu comandante o cap inf José Augusto Henriques Monteiro Torres Pinto Soares.


PS 2 - Sobre o BART 645 (´"Águias Negras") temos mais de 20 referências no nosso blogue. Sabemos que o seu pessoal há mais de trinta anos.O mais ativo dos seus representantes no nosso blogue é o Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66).


Mobilizado pelo RI 1, o BART 645 partiu para a Guiné em 4 de março de 1964 e regressou a 9 de fevereiro de 1966. Esteve em Bissau e em Mansoa. Teve dois comandantes: ten cor art António Braamcamp Sobral, e maj art Raul Pereira Baptista. Subunidades de quadrícula: CART 642 (Mansoa, Mansabá, Bissau(, CART 643 (Mansabá, Bissorã, Bissau) e CART 644 (Mansabá, Mansoa).
_________________


Nota do editor:


Último poste da série > 15 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10034: O Nosso Livro de Visitas (139): Investigação sobre Guiledje (TCorEng José Berger)

sábado, 29 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8962: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (26): Calções da ordem



1. Em mensagem do dia 28 de Outubro de 2011 o nosso camarada Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66) enviou-nos esta Nota Solta da CART 643:


NOTAS SOLTAS DA CART 643 (26)

CALÇÕES DA ORDEM


1965-Pista de Bissorã - DO 27


Sabemos perfeitamente que a rapaziada nunca gostou de cumprir o regulamentado pelas Chefias Militares. Estava na vulgarmente chamada "massa do sangue" gostar de fazer o contrário e deste modo marcar a
diferença.

Isto vem a propósito do uso de calções, que no meu tempo da chamada farda amarela, e que segundo o permitido, o seu comprimento deveria ficar a 4 dedos de travessa do joelho, ficando a meia também a 4 dedos de travessa, da parte inferior do referenciado joelho, assim deste modo a zona a descoberto seria muito reduzida.

Com o passar do tempo, a malta começou a encurtar os ditos calções, e se olharmos com alguma atenção no Blogue, com certeza aparecem alguns.

Do pequeno encurtar ao exagero foi um instante, cada um aparecia com os calções mais curtos, que mais pareciam "fatos de banho", uns largos na perna, outros apertados, enfim uma variedade que seria como
vulgarmente se diz - cada cor seu paladar.

Também o uso de cuecas parecia ter os dias contados, sendo o calor o principal culpado.
As noites em meados de Abril de 1964, antes da ida dos Águias Negras para as bandas do Oio, eram passadas na esplanada do Bento, beber uma cerveja, um leite com chocolate ou outra bebida era o normal, além da cavaqueira.

A postura habitual era o traçar de pernas, e eis que com a eliminação da cueca e o encurtamento dos calções, por vezes os "apêndices" tentavam saltar para o exterior, talvez para apanhar um pouco de ar, o
fresco da noite, ou por outros motivos que só eles sabiam.

Aí começaram os problemas, pois a esplanada também era frequentada por senhoras, que estavam em grupo de amigos ou mesmo com os maridos militares sediados em Bissau.

O facto era reparado, havia as que achavam piada pelo descaramento, outras, na sua maioria, com um olhar reprovativo fuzilavam quem tinha esse descaramento.

A partir de então presumo que a PM tivesse tido algum trabalho, não sabendo nós qual o resultado final, motivado pela nossa ida para Bissorã, Mansabá e Mansoa, que durou praticamente até ao embarque para
a Metrópole em Fevereiro de 1966.

Rogerio Cardoso
Ex-Fur.Mil.-Cart.643-AGUIAS NEGRAS
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6731: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (25): O meu Irmão Álvaro

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8743: In Memoriam (91): Magalhães Pinto, ex-Fur Mil Vague Mestre da CCS/BART 645 - Águias Negras (Bissau e Mansoa, 1964/66) (Carlos Vinhal)

No dia 6 de Setembro de 2011, Magalhães Pinto, ex-Fur Mil Vague Mestre da CCS/BART 645 (Águias Negras) parte para a eternidade.

Caros camaradas, é caso para dizer Soma e segue. (*)

Há poucos minutos recebi uma mensagem do nosso amigo Albano Costa a dar conhecimento do falecimento de mais um camarada da Guiné, desta feita o (para nós) Dr. Magalhães Pinto, ex-Fur Mil Vague Mestre da CCS/BART 645 (Águias Negras), Batalhão a que pertencia o nosso camarada e tertuliano Rogério Cardoso, da CART 643, a quem aliás já mandei mensagem a dar conta deste acontecimento.

Magalhães Pinto, Economista, pessoa sempre atenta ao que o rodeava, tinha um Blogue, o Poliscópio, nas suas palavras: Os sinais do nosso tempo, num registo despretensioso, bem humorado por vezes e sempre crítico.

Tinha regular actividade cívica e política, além de publicar alguns artigos de opinião em jornais e revistas locais e nacionais.

O seu grande amigo Joaquim Queirós, que durante muitos anos foi director do extinto jornal Matosinhos Hoje, onde Magalhães Pinto colaborava regularmente, já manifestou o seu profundo desgosto na página do facebook do nosso camarada agora falecido.

Autor de vários e variados livros, entre os quais o romance Os Heróis e o Medo, onde, baseado em factos reais, conta a história do seu Batalhão, que foi comandado pelo Coronel Braamcamp Sobral, e dos seus camaradas do BART 645 (**). Este romance foi alvo de uma recensão por parte do nosso camarada Beja Santos.

No próximo dia 14 de Setembro iria ser apresentado o seu último trabalho, Fernando Pinto de Oliveira, um homem além do seu tempo, a biografia de um antigo Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, cujo mandato ocorreu entre os anos de 1958 e 1970, homenagem a que se iria associar o actual Presidente da Câmara, Dr. Guilherme Pinto.

A este propósito dizia há dias Magalhães Pinto no seu Poliscópio: Não sei que mais admirar: se a qualidade de um Presidente de Câmara durante a ditadura (Fernando Pinto de Oliveira - Matosinhos), se a de outro, actual, que decidiu homenagear essa qualidade (Guilherme Pinto - Matosinhos). Parece mesmo é que a qualidade é matosinhense.

Matosinhos acaba de perder uma pessoa importante e nós, ex-combatentes da Guiné, um brilhante camarada.

O seu funeral sairá amanhã pelas 14h30 da Capela Mortuária de Matosinhos para o Cemitério de Sendim.

À família enlutada apresentamos os nossos sentidos pêsames e a certeza de que têm a solidariedade dos inúmeros amigos que este cidadão e camarada granjeou ao longo da sua vida.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. último poste da série de 5 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8738: In Memoriam (90): Fernando de Sousa Henriques, foi Alf Mil OpEsp / RANGER na CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74), faleceu ontem, dia 4 de Setembro de 2011

(**) O BART 645 foi mobilizado pelo RAL 1. Partiu para a Guiné em 4/3/1964 e regressou à Metrópole em 9/2/1966. Esteve em Bissau e em Mansoa. Comandantes:  Ten Cor Art  António Braamcamp Sobral; Maj Art Raul Pereira Baptista.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8015: Convívios (303): 31.º Encontro da Associação Amizade do BART 645 - Águia Negras (Guiné, 1964/66), dia 30 de Abril em Montemor-o-Velho (Rogério Cardoso)




1. Mensagem de Rogério Cardoso  (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 30 de Março de 2011:

Caro amigo Carlos
Com os meus cumprimentos, solicito por favor, que seja publicado no blogue, o anuncio do nosso 31º Encontro, com o seguinte programa:




31.º ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO AMIZADE DO BART 645 - ÁGUIAS NEGRAS

LOCAL:  MONTEMOR-O-VELHO

DATA : 30 DE ABRIL DE 2011

RESTAURANTE PATINHOS, Ladeira dos Caídos - Estrada Nacional Coimbra - Figueira da Foz (junto a Montemor)

10,00 h - Concentração junto à Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, perto do Tribunal de Montemor

11,00 h - Missa de sufrágio por todos os companheiros falecidos.

12,30 h - Saida em caravana para o Restaurante Patinhos (2km)

13,30 h - Almoço com diversas entradas, sopa, peixe, carne, sobremesas (mesas de queijos, doces e frutos), bolo aniversário e espumante.

Vinhos, sumos, café e digestivos.

No final do almoço iremos ter musica ao vivo para o chamado PÉ DE DANÇA.

A inscrição terá lugar até 23 de Abril para Rogério Cardoso, telemóvel 939 339 340.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7990: Convívios (218): Encontro do pessoal da CCS e da CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, dias 21 e 28 de Maio de 2010 na Mealhada (Albino Silva)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7785: Memórias de Mansabá (16): Vamos todos cá ver / O quanto custa aqui viver / Nesta terra que é Mansabá... (Rogério Cardoso)

MEMÓRIAS DE MANSABÁ (16)

CANCIONEIRO

1. Comentário de Rogério Cardoso  (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66, foto à direita), inserido no poste P7767 (*)

Caro amigo Ernesto [Duarte]:

O que contas fez-me voltar atrás no tempo, 1964/65. Eu pertencia aos ÁGUIAS NEGRAS, estacionados em Mansabá,  CArt 642 e 644, Bissorã,  CArt 643. Conheci bem todos esses locais, inclusive o célebre Morés, essas locais foram calcorreados pela nossa malta.

Eu também senti a chamada sorte ou talvez um pouco mais, fui atingido por uma granada Pancerovka de 120 m/m, que bateu na minha perna e não rebentou.

A respeito de Mansabá, um camarada nosso adaptou um poema à musica La Mamma, cantada na altura por Charles Aznavour. É que a sede do Batalhão [, BART  645,]  estava em Mansoa e quando porventura por lá "poisávamos", a malta era sempre tramada.

Vista aérea de Mansabá

VENHAM TODOS VENHAM CÁ VER
O QUANTO CUSTA AQUI VIVER
NESTA TERRA QUE É MANSABÁ.


UMA VIDA DE COMOÇÕES,
CONSTANTEMENTE EM OPERAÇOES,
SEM TERMOS ACOMODAÇÕES,
COMO TE ADORO, Ó MANSABÁ!


SÓS NA CASERNA SEM NINGUÉM,
COM UM CINEMA DE ANO A ANO,
CHEIOS DE SAUDADE DE ALGUÉM,
Ó MANSABÁ DA MINHA ALMA!


QUANDO QUEREMOS O CORREIO,
NUNCA APARECE UM AVIÃO,
MAS SURGEM LOGO TRÊS OU QUATRO
PARA FAZER UMA OPERAÇÃO.


E QUANDO ALGUÉM,  PARA DESCANSAR,
VAI A MANSOA, SÓ POR ISSO
DIZEM-LHE LOGO, AO CHEGAR,
QUE AMANHÃ ENTRAS DE SERVIÇO.


Ó MANSABÁ E BISSORÃ!,
O TEU DESCANSO NÃO TEM IGUAL,
FAZ REVIVER OS CORAÇÕES,


E PARA PREOCUPAÇÕES,
PREFERIMOS AS OPERAÇÕES,
MAS JAMAIS, JAMAIS, JAMAIS,
SEDE DE BATALHÕES!!!!

Um abraço
Rogerio Cardoso
CART 643 "Águias Negras"

____________

Nota de LG:

13 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7773: Memórias de Mansabá (4): A construção dos destacamentos de Banjara e K3 (Ernesto Duarte)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7760: Memórias de Mansabá (13): A bajuda e as colunas para Manhau (Ernesto Duarte)

1. Mensagem do nosso camarada Ernesto Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67, com data de 8 de Fevereiro de 2011:

MEMÓRIAS DE MANSABÁ (13) 

A NOSSA "BAJUDA"

Falar de colunas, é falar de ir a Cutia, passando por Mamboncó, a Mansoa, a Manhau, a Banjara e a Farim, tendo a particularidade que fomos nós que reabrimos os itinerários Mansabá a Farim e Mansabá a Banjara.


Na estrada nós tínhamos uma viatura com o nome de Bajuda deixada pelos Águias Negras, que eu suponho que não tenha chegado até vocês, era uma longa vida para aquele clima.

Era uma GMC com uma casa feita em madeira, pranchas grossíssimas, blindadas com chapa de ferro, não consigo lembrar-me se tinha tecto e se se disparava pelas viseiras, mas sei que tinha sacos de terra por tudo quanto era sitio, e assente na caixa da camioneta também cheia de terra, protegida pela blindagem tipo Mansabá, tinha uma metralhadora pesada, com um poder de fogo impressionante, impunha respeito.

Picar a estrada era uma coisa fora do normal, não falando do andar a pé em África o tempo que se levava, andávamos muitos a pé à frente ainda dos picadores, praticando o desporto, possível naqueles sítios, tiro ao alvo, a tudo o que mexia, macacos, mas do que a malta gostava menos era dos abutres. Esses tiros, algumas vezes, detectaram emboscadas, com a nossa bajuda e as armas pesadas, não causavam muitos embaraços mas há excepções.

Uma delas foi no regresso de uma coluna para Mansabá que foi emboscada, em Mamboncó, com uma violência tremenda, saindo os que tinham ficado em Mansabá em socorro, e logo na subida começaram a levar a sério, tendo sido dada ordem à Artilharia para disparar. Aí calaram-se, mas como estavam muito próximo da estrada não foi logo, logo, mas a retirada deve-lhe ter sido muito difícil.

Tinha sido uma fase nova, os primeiros dias foram de alguma expectativa, voltando ao normal, tendo-nos lixado com mais duas minas anticarro, a primeira no mesmo sitio, onde já tínhamos apanhado com uma, junto à velha serração, e outra mesmo quase a entrar em Cutia.

A segunda junto à velha serração, foi rebentada por uma auto metralhadora, o rapaz ia para Mansoa para ser rendido e afastou-se o mais que pode para a direita da árvore para não passar minimamente na zona dos rodados, ela estava fora, se calhar até já há muito tempo. E acrescento, é de enlouquecer, já tinha tido a visão de uma queimada na estrada de Bissorã, mas ali ver aquela malvada estrutura a arder, e como é blindada não podermos fazer nada, nasce dentro de nós um ódio sem limites, uma vontade de vingança de destruir, as batidas do coração sobem para as 200.


Nós tínhamos o destacamento em Manhau onde um Pelotão com um grupo de Milícia, passava 15 dias. O Pelotão que ia, tinha que levar tudo, incluindo a água. Havia uma camioneta com um depósito de 10.000 litros, e como aquilo era muito perto, fazia-se a rendição, uma parte que trazia o carro da água depois quando o carro da água chegasse, eram os últimos rendidos. O carro da água andava muito devagar e às vezes até ficava para trás em demasia. Não sei a data, só sei que era o dia do Portugal Coreia, em 1966, estavam todos com muita pressa para irem ouvir o relato, não sei se fui eu, lembro-me de falar nisso com alguém, alterar a ordem das viaturas, não sei se com o Comandante de Companhia se com um Alferes. Eu tinha um rádio novo e não queria parti-lo, andando a tratar das coisas com ele na mão, e eles todos a gozar comigo, mas lá fiz ou fez-se a alteração da ordem das viaturas, passando o carro da água para os carros da frente.

Com a criação das caveiras, na prática só tínhamos dois pelotões, havia férias e a esta distancia não me lembro quem era o comandante de pelotão. Um pouco chateados mas lá fomos, eu dentro da bajuda segurando o rádio, quando atingimos a descida para a bolanha de Manhau foi a loucura, vieram granadas de mão, não sei de onde, lá tive que deixar o rádio que não se partiu. Mas com a bajuda, os moços das armas pesadas aguentámo-nos bem, até que parece que eles queriam era o carro da água e quando o viram atacaram sem perceberem que ele não estava no sitio que era hábito, mas eram sempre e sempre mais violentos, o estrondo das G3 levava sempre mais tempo a se impor, aquilo à direita tinha uma zona com muitas árvores, levou o seu tempo até se impor o silencio.

Havia uns rapazes que quando estavam em Manhau iam às laranjas a Mantida e foram... e foram, claro que eles, o IN, pensaram em apanhá-los mais a viatura, só que Deus é grande, eles não foram com a frequência que iam e entretanto, vieram uma quantidade de auto metralhadoras para Bafatá, que ao passarem por Mantida, tinham uma emboscada, pelo que ficou no terreno fizeram estragos enormes, foi feita guerra da mais violenta.
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7602: Memórias de Mansabá (1): No coração do Óio, bem perto do Morés (Ernesto Duarte / Carlos Vinhal)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7158: In Memoriam (57): Faleceu Manuel Basílio Soares Domingos, ex-Fur Mil da CART 564 (Guiné, 1964/66) (Rogério Cardoso)

FALECEU MAIS UM BRAVO

Fur Mil Manuel Basílio Soares Domingos da CART 564, assinalado na foto


1. Mensagem de Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 22 de Outubro de 2010:

Amigo Carlos Vinhal
Para publicação, hoje dia 21 de Outubro.

Faleceu o ex-Furriel Miliciano da CART 564, Manuel Basílio Soares Domingos, militar com uma excepcional actuação no teatro de operações.

Condecorado com Cruz de Guerra em 10 de Junho de 1966, no terreiro do Paço em Lisboa, conforme foto no P6163**

Rogério Cardoso
Cart 643-Águias Negras

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6840: (Ex)citações (90): O nível das modalidades desportivas amadoras de Bissau tinha baixo nível e recorria aos militares ali estacionados (Rogério Cardoso)

(**) Vd. poste de 16 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6163: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (16): Comemorações do dia 10 de Junho de 1966 no Terreiro do Paço

Vd. último poste da série de 21 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7153: In Memoriam (56): Joaquim Djassi, ex-combatente do PAIGC, radicado em Lisboa, faleceu no dia 19 de Outubro de 2010 (Hugo Moura Ferreira)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6731: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (25): O meu Irmão Álvaro

NOTAS SOLTAS DA CART 643 (25)

O MEU IRMÃO ÁLVARO

1. Mensagem de Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 11 de Julho de 2010:

Amigos da Tabanca Grande
Li com muita atenção o P6712 - Histórias do Jero: Na Guerra e na Paz... Até ao Fim...

Houve uma parte que me tocou bastante, quando ele chama de "irmão" ao ex-camarada Álvaro.

É que tenho um grande amigo, ex-camarada do BART 645 - Águias Negras, também de nome Álvaro, ex-Fur Mil da CCS, que nos chamava de "irmão" aos muitos amigos que tinha, o que me fazia alguma confusão, porquê esse tratamento?

Agora, passados 46 anos soube o motivo. Uma entrevista sua nas TARDES DA JÚLIA, o agora Dr. Álvaro (Psicologia Clínica) explica porque aplicava o "irmão" aos seus amigos e companheiros de armas.

O Álvaro é natural de Setúbal e foi de muito pequeno (5/6 anos) para um orfanato da cidade.

Contava com muita mágoa o seu infortúnio, no citado programa televisivo, com mais 50 rapazes, dos uniformes que usavam, da alimentação, etc.

Desde essa altura começou a tratar os pequenos amigos de "irmãos", de facto não o eram de sangue, mas como viviam 24 sobre 24 horas no mesmo Lar, achou por bem aplicar esse tratamento, porque afinal era a família mais próxima que tinha.

Saiu da instituição já perto da maioridade, tendo ao fim de pouco tempo ido para o serviço militar. Ao fim de 26 meses de tropa foi mobilizado para o CTIG, com a promessa de ficar só 5 a 6 meses, que seria rendido pelo curso seguinte.

Claro que tal não aconteceu e o nosso irmão Álvaro ficou até ao fim da comissão. Damos graças por esse seu contratempo, doutra forma não tínhamos privado com o GRANDE AMIGO E IRMÃO, acabando por ficar mais uns meses em Bissau, porque entretanto tinha conhecido a sua actual mulher, a amiga Estér, na altura filha de um militar residente.

Continua nosso irmão, não faltando aos convívios da nossa ASSOCIAÇÃO DE AMIZADE DO BART 645 - ÁGUIAS NEGRAS, que se realizam há 30 anos sem interrupção.

De Cascais para Alcobaça para o Jero, afinal somos da mesma altura. Estive em Bissorã de Junho de 1964 a 17 de Novembro de 65, data em que fui ferido em combate, regressando o restante pessoal do Cart 643 em príncipios de Fevereiro de 1966:

Um grande abraço,
Rogério Cardoso
Ex-Fur Mil
Cart 643 - Águias Negras
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6576: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (24):O miúdo Marciano Mamadú Sissé

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6576: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (24):O miúdo Marciano Mamadú Sissé




1. Nota solta enviada pelo nosso camarada Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), em mensagem do dia 8 de Junho de 2010:

Amigo Carlos,
Este caso marcou-me profundamente.
Por aqui se vê a amizade que tivemos pelo povo da Guiné.



NOTAS SOLTAS DA CART 643 (24)

O MIÚDO MARCIANO MAMADU SISSÉ

Havia pouco tempo que a Cart 643 - Águias Negras - se encontrava em Bissorã, estávamos em Junho de 1964.

Os primeiros dias foram preenchidos com a instalação dos homens pelo chamado aquartelamento, ficando 3 pelotões em casernas, nos ex-armazéns de mancarra.

Os oficiais num edificio do arruamento principal dentro da povoação, frente à residência do Administrador, Aguinaldo Spencer Salomão.

Os sargentos, por sua vez ficaram alojados junto às casas de alguns civis, caso do Gardeth, Michel Ajouz e outros, isto numa rua paralela á principal, não longe do mercado indigena.

Os nossos quartos em numero de três, albergavam os 16 sargentos da companhia, alojados em beliche, com uma instalação sanitária para todos, o que não era nada mau, comparado com outros locais.

Então começaram a aparecer as chamadas lavadeiras, - Bo miste lavadera -, algumas ladeadas pelos filhos, uns pela mão e outros em atrelados.

Foi nessa altura que apareçeu um miúdo, simpático, sorridente, não largando a nossa porta durante todo o dia, oferecendo os préstimos em recados, enfim um sempre pronto para qualquer tarefa.
O nome dele era Marciano Mamadu Sissé, morava na estrada do Olossato, um pouco antes da pista de aviação.

A pouco e pouco foi promovido a Mascote da Sargentada, motivado pela sua simpatia e pela prontidão e boa vontade em nos servir. À noite regressava à sua morança, levando sempre uma quantidade apreciável de rancho, não de restos mas igual ao distribuído aos homens da companhia.

O tempo foi passando, entrava no quartel como se fosse um dos nossos, entre outros serviços ajudava na cozinha e na oficina auto na pessoa do mecânico, um alentejano de Arcos-Estremoz, de nome Joaquim Cabaço.

Dia a dia, mês após mês, o calendário passava com naturalidade, até que chegou o meu fatídico dia 27 de Outubro de 1965, dia em que fui ferido com alguma gravidade.

Não mais regressei a Bissorã, sendo evacuado do mato diretcamente em heli para o HM241, mais tarde para o HMP em Lisboa.

A partir de então perdi o contacto com a minha familia militar, até porque 3 meses depois terminaram a comissão de serviço, regressando todos a casa. Perdi o contacto também com os meus amigos civis e naturalmente com o Marciano. Pouco tempo depois recebi um aerograma, deduzo que foi escrito por alguém da Cart 816, em 1966, com palavras do Marciano a seu mando.
Foi lido com atenção e emoção, mas acabei por não responder, encontrava-me no Hospital com muitos problemas de saúde, que durou entre 2 a 3 anos, como tal o que estava escrito, caiu no esquecimento.

Mais tarde decidi fazer uma pesquisa para saber se o Marciano era vivo e em caso afirmativo, o local da sua residência.

Recorri à Embaixada da Guiné-Bissau, solicitando informação junto de um funcionário, que me aconselhou escrever para as entidades oficiais de Bissorã, contando toda a história.

Acertei em cheio, depois de um tempo de espera, eis que surgem noticias, o Marciano Mamadu Sissé, era vivo e de boa saúde.

Disse que morava no mesmo local, mas depois da independência teve de fugir, e esteve anos por terras do Senegal. Fuga que foi motivada pela perseguição dos que colaboravam, ou se davam com a tropa Portuguesa, os que não conseguiram, foram impediosamente fuzilados, como me recordo do Quebá e Citafá (mandingas), nossos amigos e guias.

Entretanto o único telefone na altura existente em Bissorã, foi-me disponibilizado para poder falar com ele, foi um momento grande e emotivo, passou a chamar-me de Pai Rogério, enfim de miúdo a homem 30 anos depois.

Fiquei feliz, a minha teimosia deu frutos.

A sua descendência é de meia duzia de filhos, 2 em Bissau, 3 em Bissorã e um na cidade da Amadora, filho este que conheci mais tarde e tendo passado momentos com a minha familia, aliás foi com ele que tive conhecimento destas informações.

Hoje estou em contacto com alguma frequência, mas o sonho do Marciano era o de ter uma visita nossa à sua Bissorã.

A difícil luta pela sobrevivência é uma constante, o que de momento lhe posso garantir, é algum apoio material, tanto em dinheiro como em artigos diversos, claro quando tenho portador, o que é dificil por vezes.

Junto fotos, do Marciano aos 13 anos e mais tarde aos 45, aerograma de 1966 e carta do Secretário do Sector de Bissorã, dando a notícia que o tinha encontrado.

Rogério Cardoso
Ex-Fur Mil
Cart 643-Águias Negras


Marciano aos 13 anos

Marciano aos 45 anos


Aerograma de Marciano dirigido a Rogério Cardoso

Carta do Secretário do Sector de Bissorã enviada a Rogério Cardoso, dando conta do paradeiro de Marciano.

(Clicar nas imagens para ampliar)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6559: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (23): O Comandante do BART 645, Coronel Braamcamp Sobral

terça-feira, 8 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6559: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (23): O Comandante do BART 645, Coronel Braamcamp Sobral

1. Nota solta enviada pelo nosso camarada Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), em mensagem do dia 5 de Junho de 2010:


NOTAS SOLTAS DA CART 643 (23)

O COMANDANTE DO BART 645 - ÁGUIAS NEGRAS, COR. BRAAMCAMP SOBRAL


O Bart 645 - ÁGUIAS NEGRAS, foi formado em Santa Margarida, a partir de Novembro de 1963, data em que fui transferido do RAC de Oeiras.
Portanto desde esta data até 4 de Março de 1964, data do embarque, houve tempo suficiente para conhecimento da maioria dos camaradas.

Desde cedo e logo de principio, que o Bart 645 estava destinado a Moçambique, província que na altura estava em completa paz. Então eu e a minha mulher, combinámos ficar em África no fim da comissão, por conseguinte decidimos casar, assim como fizeram alguns camaradas.
Mas o tempo ia passando e nunca mais o Batalhão embarcava, deste modo todos nós começámos a ficar um pouco apreensivos, e lá se aplicou o velho ditado "contar com o ovo no c... da galinha "

Lá pela altura do Natal ou Janeiro, não preciso bem, o Comandante vei-nos dizer que Moçambique estava fora de hipótese, concerteza Angola nos esperava.
Foi a desilusão geral, as familias receberam a notícia com um certo choque emocional, mas eu e outros pensámos numa defesa para com os familiares mais chegados. Dissemos que nem tudo era mau em Angola, se fosse a Guiné é que era a desgraça total, ainda por cima tinha caído em combate, um filho de um amigo de meu pai, eu achei que a justificação que apresentava, era a melhor tática, mas a ida da minha consorte, já estava à partida com menos 50% de hipóteses.

O tempo ia passando, o Comandante Braamcamp Sobral, sabia de antemão a sorte do Batalhão, dizia-se que o tinha oferecido para a Guiné, porque havia uma dívida de honra a pagar. Um dos seus filhos, oficial quando da invasão da Índia, "ausentou-se" e a forma que de momento achou melhor, foi a do oferecimento dos Águias Negras.

Lá para o fim de Fevereiro, houve a reunião de todo o pessoal, numa noite depois do jantar. Quando deu a notícia, perante cerca de 600 homens, houve um ah geral, ouviram-se alguns comentários, o chamado grande melão, pois só meia duzia de oficiais e sargentos sabiam o destino.

O Comandante Braamcamp Sobral, é aí que se encontra o grande homem que era, soube contornar a situação, as suas palavras foram de encorajamento, enaltecendo tudo e todos os Águias Negras, e meia hora depois tinha conquistado a simpatia geral.

Era um fantástico condutor de homens, assim até 4 de Março, data do embarque e mesmo até fim da comissão, teve um dos melhores batalhões que passaram pela Guiné. Estando em Mansôa, visitava com regularidade as companhias de Bissorá e Mansabá, e mesmo com aquela idade, chegou a ir ao mato, dando exemplo e mostrando como se comandava uma companhia a um certo capitão, que em Santa Margarida mostrava ser aguerrido, audaz e ousado, mas na realidade era completamente o contrário, não mostrando apetência para o lugar, sendo substituido porque era o unico que destoava daquela grande familia.

Enfim o Comandate Braamcamp Sobral, homem de alta estatura com mais de 1,90 e elevada compleição fisica, farta cabeleira totalmente branca, vulgarmente chamado pelos nativos de " Cavalo Branco", era um exemplo de homem, respeitado por nós, populações e pelo IN. Os homens dele eram intocáveis, nem a PM que às vezes em Bissau nos fazia a vida negra, ele respondia por todos o que lhe valeu alguns aborrecimentos.

Não posso nem devo terminar, sem deixar uma nota de apreço pelo nosso primeiro 2.º Comandante Major Glória Alves, homem de grande educação e amigo de todos os subordinados.

Já partiram, deixando saudades de quantos lidaram com eles.

Rogério Cardoso
Ex-Fur Mil
Cart 643 - Aguias Negras
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6480: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (22): 1.º Cabo António Melo e Soldado Manuel Bernardes, as nossas únicas baixas mortais

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6269: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (18): Recordando o nosso Comandante de Companhia Capitão Ricaro Silveira

1. Mensagem do nosso camarada Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), enviada em 20 de Abri de 2010:


A HONESTIDADE DO CAP RICARDO SILVEIRA

Quem conhecia o Cap. Ricardo Silveira como eu, sabia que era um oficial honesto em tudo. Por ser um individuo bastante disciplinador, não era muito popular no dia a dia com o pessoal, homem de poucas falas e de poucos sorrisos, mas ao mesmo tempo tinha a admiração de todos, operacionalmente era muito responsável, não se furtando a saídas difíceis, o que às vezes acontecia, mesmo a nível de pelotão, havia uma certeza, podia-se confiar no "chefe", algo de muito importante para a auto-confiança de um grupo.

Passo a narrar dois episódios que demonstram a honestidade do nosso Comandante de Companhia:

O 1.º Sargento da Companhia, chefe de secretaria a quem era confiada entre outras funções, a elaboração dos prés, foi evacuado com uma "doença de estômago", doença essa que se agravou, quando os ataques nocturnos passaram a ser com alguma frequência. O já citado 1.º Sargento, talvez por não ter espaço de manobra, cumpria em tudo o que o capitão ordenava.

Entretanto veio para Bissorã o seu substituto, homem da mesma escola do anterior, mas que não estava a par das exigências usuais.

Chegou o fim do mês, a Companhia formou para receber o pré como era costume, os primeiros soldados em ritmo ligeiro iam recebendo os míseros escudos, até que chegado ao fim da folha do livro, ouviu-se a voz do 1.º Sargento:

- Meu Capitão assine a folha por favor.

O Capitão de rompante:

- Olhe lá, o senhor quer que assine a folha com as contas feitas a lápis? A Companhia que destroce e quando tiver tudo feito como deve ser, avise-me, para se proceder ao pagamento.

Sem comentários.


No outro caso e passados uns tempos, o Furriel Vaguemestre é evacuado por ter sido ligeiramente ferido. O Cap. Silveira mandou-me chamar, assim como ao 1.º Cabo Cozinheiro Adérito Fernandes, dizendo que a partir daquele momento eu, Furriel Mil. Rogério Cardoso, acumulava mais aquele cargo e que me "desenrascasse".

Então e a partir daquela nomeação, procurei fugir às refeições da M.M., como salsichas, atum e cavala, dobradinha desidratada, etc. e conseguir dar alguns frescos, como carne de vaca, porco e galinha, confeccionados de diferentes modos, aí o pessoal da cozinha colaborou, diga-se de passagem que éramos uma família. Deste modo iria de certeza conseguir lucros, que não eram usuais.

Para verem a honestidade do Capitão Silveira, fui informá-lo de que tinha conseguido uma verba, motivado pela gerência mais cuidada, perguntando eu o que fazer com essa quantia. Obtive como resposta, a de mandar comprar bebidas como whisky, aguardente velha e cerveja, e distribuir ao pessoal no final do jantar, o dinheiro que sobrou e eles pertencia.

Homens como este não abundavam no nosso Exército, havia muitos os chamados Capitães Batata e outros afins, esses sim continuam fazendo das suas.

Rogerio Cardoso
ex-Fur. Mil.
Cart 643-ÁGUIAS NEGRAS
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6199: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (17): Velha bajuda para fazer conversa gira

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6199: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (17): Velha bajuda para fazer conversa gira

1. Mensagem do nosso camarada Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), enviada em 11 de Abri de 2010:

NOTAS SOLTAS DA CART 643 (17)

A velha bajuda


Decorria o ano de 1964, Bissorã cada vez tinha mais movimento de tropas, zona bem perto da mata de Morés, ponto de passagem para diversos destinos, enfim havia um constante vai-vem de pessoal, o que fazia que o trabalho do vague-mestre e seus acólitos da cozinha fosse mais pesado, diga-se de passagem que de cozinha só tinha o nome, era simplesmente um telheiro que cobria as mesas, e dois caldeiros de ferro alimentados a lenha, tudo com uma higiene exemplar.
Se a ASAE ou outra instituição semelhante existisse na altura, era-nos concedido a medalha de "LIMPEZA EM TERRAS DISTANTES" cena digna de ser registada para ensinamento nas Escolas de Hotelaria.

Mas voltando ao trabalho da Companhia 643, para que houvesse um bom funcionamento do que atrás referi, as Companhias de Transporte afluiam a Bissorã com maior frequência, eram colunas de 10 a 15 Mercedes 322, que quqndo chegavam necessitavam de ser descarregadas.
O pessoal da cozinha era escasso e os operacionais andavam demasiadamente cansados, então havia que recorrer aos civis, normalmente eram recrutados a "gancho" nas populações que cruzavam a povoação.

Eles, os civis não gostavam muito de ajudar na descarga, porque pouco lhes davam, eles propositadamente deixavam cair uma ou outra caixa de batata, cebola, etc., para que no rescaldo apanhassem alguma coisa.

Entretanto o Vague-Mestre foi ligeiramente ferido num rebentamento de mina (Notas soltas da Cart 643 - P6034), sendo evacuado para Bissau, tendo o Cap. Silveira, Comandante da Companhia, ordenado para que eu tomasse o seu lugar por acomulação, temporáriamente.

Por coincidência chegava mais uma grande coluna de géneros, juntei alguns civis, tendo dito antes da descarga que se fosse rápida e sem malandrices, era-lhes distribuido arroz, farinha, batatas e conservas, como forma de pagamento.
De facto tudo correu com rapidez e eficiência, como antes nunca tinha acontecido, cumprindo eu o prometido, claro que fui logo alvo de grandes salamaleques, ficando eu tranquilo, o seu a seu dono.

Mas o melhor estava para aconteçer, um deles, salvo erro de etnia Manjaco, apareceu junto ao nosso alojamento e pediu para falar comigo.
Quando o vi julguei que ia pedir algo mais, mas enganei-me, era o contrário, ele abordou-me e falou-me deste modo:

- Ó meu Furrié, eu tem ronco para o Furrié - tendo eu agradecido sem saber o que era, julgando tratar-se talvez de uma peça de madeira, uma garrafa forrada a couro, ou outra peça regional.

Qual o meu espanto, quando ele me diz, tem aqui a minha irmã, julgando eu de repente ser sua mãe, ela vai tratar do Furrié, lavar roupa, fazer bianda com galina e também fazer conversa gira, vir para a tabanca aqui na outra banda, que era passando a ponte do Rio Armada.

Não esperava tamanha oferta de tais "serviços", a irmã no fim não era bajuda nenhuma, era sim a chamada "noiva", rapariga de mais idade, mas ainda sem homem, não sendo portanto "mulher grande".

E vá lá convencer o rapaz, eu disse-lhe que tinha já mulher na metrópole, respondendo ele que não fazia mal, podia ter mais como eles na Guiné, enfim foi o cabo dos trabalhos por não aceitar tal oferta.

Alguns camaradas assistiram à cena e passaram a dizer, este gajo tem cá uma sorte, a bajuda tem cá uns bacalhaus.

Rogério Cardoso
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6034: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (13): Perigo, mina na estrada Bissorã-Olossato

Vd. último poste da série de 16 de Abril de 2010

Guiné 63/74 - P6163: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (16): Comemorações do dia 10 de Junho de 1966 no Terreiro do Paço

sábado, 17 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6171: Convívios (216): Pessoal do BART 645, dia 14 de Abril de 2010, em Fátima (Rogério Cardoso)


1. O nosso Camarada Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), enviou-nos, em 14 de Abril de 2010, notícias da festa da seu BART 645:
Camaradas,

Anexo 2 fotos dos Camaradas do BART 645, que se reuniram em Fátima no passado sábado dia 10-04-2010.
Cerca de 90 ex-militares, que, com familiares, totalizou 210 pessoas.
Um abraço amigo,
Rogério Cardoso
Fur Mil da CART 643/BART 645
_________
Nota de MR:
Vd. último poste da série em:
13 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6148: Convívios (129): Almoço/Convívio do Pessoal da CCAÇ 1590, dia 5 de Junho de 2010, em Minde / Fátima (Mário Silva)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6163: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (16): Comemorações do dia 10 de Junho de 1966 no Terreiro do Paço

1. Mensagem do nosso camarada Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), enviada em Março de 2010, a quem peço desculpa pela demora:

Amigo Carlos
Aqui vão fotos do dia 10 de Junho de 1966 no Terreiro do Paço em Lisboa.
Os tabanqueiros podem tentar descobrir eles mesmo ou algum camarada amigo.
De seguida segue as fotos em pormenor.

Um abraço
RC


CERIMÓNIA PROTOCOLAR DE IMPOSIÇÃO DE CONDECORAÇÕES NO DIA 10 DE JUNHO DE 1966



À esquerda da foto o Cor Braamcamp Sobral, CMDT do BART645, e à direita o Fur Mil Rogério Cardoso, ambos assinalados na foto.



Fur Mil Manuel Basílio Soares Domingos da CART 564, assinalado na foto
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6094: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (15): As famosas costeletas do Asdrúbal, e não só

terça-feira, 30 de março de 2010

Guiné 63/74 - P6076: Blogoterapia (148): A propósito da gente do Enxalé, Porto Gole e Missirá (CCAÇ 1439 + Pel Caç Nat 52): a questão da e-literacia da nossa geração (Henrique Matos / Luís Graça)


Coruche > 19º Encontro Nacional da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)> O Mário Beja Santos, ao centro, tendo à sua direita, o Henrique Matos (o 1º Comandante do Pel Caç Nat 52), o João Crisóstomo e na ponta o Jorge Rosales (1ª Companhia de Caçadores Indígena, Farim e Porto Gole, 1964/66). À sua  esquerda, estão o Freitas e o Sousa, ambos da CCAÇ 1439.


Coruche > 19º Encontro da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá) > O Mário mais o Henrique, ambos comandantes do Pel Caç Nat 52; à direita do Henrique, o ex-Fur Mil João Vaz Neto e o ex-1º Cabo Cunha.
Fotos (e legendas):  ©   Matos (2010). Direitos reservados 

 1. Mensagem do Henrique Matos, com data de 19 do corrente

Assunto - Fotos do blog Camarigo Luís (i) Vamos então à legendagem das fotos (*) : na primeira, à esquerda do Beja Santos, o Freitas e na ponta o Sousa, ambos ex-Alf Mil da 1439. O Freitas veio de propósito da Madeira para o encontro. Retira da legenda que o Rosales  foi do Pel Caç Nat 54 (**). Na segunda, é tudo pessoal que esteve no Pel Caç Nat 52:  à minha direita o João Neto Vaz,  ex-Fur Mil que esteve preso em Conacri e na ponta o Luís Cunha, ex-1.º Cabo, o que levou o tiro no joelho. (ii) Quanto ao João Crisóstomo entrar para a Tabanca (*),  vai ser um berbicacho. Já lhe falei nisso várias vezes porque de vez em quando ele telefona-me. Diz que não percebe nada de computadores e até umas fotos que lhe mandei por email teve que pedir a alguém uma ajuda para as ver. Acreditas que daquele grupo da 1439 que vai aos encontros, também não se pode dizer que seja um grupo grande, ninguém vai à internet? Os contactos possíveis são feitos através dos filhos. Grande abraço e se não fôr antes, até à Monte Real. Henrique Matos
 
2. Comentário de L.G.: 

 Obrigado, camarada e amigão Henrique, homem grande do Cuor: Vou fazer as devidas correcções, incluindo o Rosales (fiz confusão, ele é da 1ª Companhia de Caçadores Indígena!). Vamos insistir com o João Crisóstomo... Vamos pô-lo a usar a Net... Como é que um lobista daqueles, um militante de causas nobres como ele,  não usa a Net ?!...Fará se usasse... Ele email, pelo menos, tem... É uma geração tramada... Da CCAÇ 1439 não temos ninguém na Tabanca Grande.. E mesmo das restantes unidades, só um, dois, três, no máximo quatro... Vê pelo teu pelotão... Activos, activos, só tu, o Mário e o Joaquim (três levas diferentes)... E da minha CCAÇ 12 ? Registados estão vários, mas para escrever, é um castigo... Podemos falar de um problema de e-literacia  (e não de iliteracia...)  da nossa geração de ex-combatentes ? A malta que escreveu milhões de aerogramas, que está a escrever livros,  que tem memória de elefante,  que operou as maiores mudanças do Portugal do Séc XX,  que comeu o pão que o diabo amassou,  que doutorou filhos,  que tem netos que já nascem a jogar playstation, não é capaz agora de mandar um simples e-mail, de digitalizar uma  fotografia ou de ler um blogue ?... Não acredito, tem que haver aí muita  preguiça mental pelo meio... 

 Henrique, aí está um bom tema para a gente discutir, esmiuçar, tabaquear, conversar, beberricar, petiscar... E-literacia: conhecimento de (e capacidade para usar, com eficiência) as novas Tecnologia da Informação e Conhecimento (TIC)... Atão essa brava gente do Cuor tem TAC(ues) a mais e TIC(ues)  a menos ?  Já  lhes chegou o Alzheimer, ou quê ?  Temos que levar esse pessoal a fazer outra IAO... Faz o favor de insistir com o João Crisóstomo & Companhia... Se não sabem, aprendem, e nunca é tarde para aprender... E professores em casa não lhes faltam, dos filhos aos netos.... Até Monte Real, no dia 26 de Junho de 2010, sábado, dia do nosso V Encontro Nacional. Vai ser no "hotel do Jaquim"... O mesmo preço de Ortigosa, ou até um pouco menos: 30 aéreos, almoço + lanche... O genro do Jaquim é o director das Termas ( ou do Palace Hotel, que está agora um brinquinho, foi completamente remodelado, depois de 20 anos fechado). Vamos estar melhor, no centro da vila, etc. Daremos notícias no blogue.  Ciao. Abraços. Luís



(**) 9 de Junho de 2009 >  Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça

(...) Ligou-me estar tarde, por telefone, mais um camarada, o Jorge Rosales, de 69 anos, residente em Monte Estoril / Cascais, e que esteve em Porto Gole (1964/66)... Tem falado ao telefone com o Henrique Matos, que esteve a seguir a ele em Porto Gole (1966/68). Falei-lhe do Abel Rei (1967/68), que é mais novo, e que ele naturalmente não conhece... (...) O Jorge Rosales pertencia à 1ª Companhia de Caçadores Indígena, com sede em Farim (Havia mais duas, uma Bedanda e outra em Nova Lamego, acrescenta ele). Ficou lá pouco tempo, em Farim, tavez uma semana. A companhia estava dispersa. Foi destacado para Porto Gole, com duas secções (da CCAÇ 556, do Enxalé) e outra secção, sua, de africanos. Tinha um guarda-costas bijagó. Parte dos soldados eram balantas. Possuíam apenas 1 morteiro (60) e 1 bazuca. A farda ainda era amarela. Ficou 18 meses em Porto Gole. Ia a Bambadinca jogar à bola com os de Fá. Foi uma vez a Bafatá, apanhar o NordAtlas. Lembra-se da piscina.
Enquanto lá esteve, em Porto Gole, havia um certo respeito mútuo, de parte a parte. A influência de Cabral era evidente, fazendo a distinção entre o povo (português) e o regime (colonialista). Podiam deslocar-se num raio de 10 km…. Mas a ligação com Mansoa já se perdera. O troço já não era seguro. Em Mansoa estavam os respeitados Águias Negras (BART 645, que dominavam o triângulo do Óio: Olossato, Bissorâ e Mansabá) .(...) 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5649: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (4): Louvores atribuídos aos Fur Mil Sap Fausto Vaz Santos e 1.º Cabo Manuel Sá Couto



1. Mensagem de Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 11 de Janeiro de 2010:

Amigo Carlos,
Apanhei nos meus arquivos louvores a dois camaradas, sendo o primeiro o amigão da malta toda e que passo a transcrever da O.S. n.º 94 do CTIG de 16/11/65 dado pelo Brigadeiro Comandante Militar:

Fur Mil Sapador Fausto das Neves Vaz dos Santos, do Bart645, porque, tendo tomado parte em muitas Operações de combate, como Comandante da Secção de Sapadores, em reforço de Companhias operacionais, nomeadamente nas Operações de Cã-Quebo, Base, Santambato e Mandigará, sempre se revelou elemento de muita decisão, sangue frio e espírito de sacrifício, qualidades estas que lhe valeram referências muito elogiosas por parte dos Comandos das Companhias que foi reforçar.
É de salientar o seu excepcional espírito de camaradagem, notável boa disposição, poder de organização que tem demonstrado tanto nos trabalhos da sua Especialidade como no desporto, tendo contribuido para o prestígio da sua Unidade.
Colaborou activamente nas obras de fortificação e de melhoramento de Mansabá e na reparação da estrada Bissorã-Olossato, onde com a sua energia física e moral tem contribuido francamente para a rápida reparação das obras, com sensíveis efeitos na actividade operacional.
Profundo conhecedor da sua Especialidade, tem mantido em bom moral a sua Secção e pessoalmente procedeu ao levantamento de uma mina anti-carro na estrada Mansoa-Mansabá, em condições de reconhecido perigo.
Este Furriel merece ser apontado como exemplo e é digno de referência especial.



Também outro amigão, o

1.º Cabo da Cart 643 - Manuel José de Sá Couto, por ter demonstrado em todas as acções de combate em que tem tomado parte, ser um militar possuidor de raro espirito de sacrifício, coragem e sangue frio.
São de salientar estas qualidades, visto quando foi ferido num combate nocturno e suportou o ferimento até o combate terminar, só então dando conhecimento aos seus camaradas para ser socorrido.
Com o seu excepcional procedimento conquistou a estima dos seus camaradas e superiores.
(O.S. n.º 23 de 10/11/65 do Com Agr 16)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5641: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (3): O nosso Cabo Enfermeiro José Botas

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5601: Breves notas sobre o BART 645 (Mansoa, 1964/66) (Rogério Cardoso)

Breves notas soltas do BART 645, enviadas por Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645**, Bissorã, 1964/66), em 29 de Dezembro de 2009.


1 - Este Batalhão era composto pelas 3 Companhias operacionais Cart 642, 643 e 644, além da CCS e foi comandada exemplarmente pelo Coronel Antonio Brancamp Sobral. Ele adorava o seu batalhão, sempre admirou os seus ÁGUIAS NEGRAS que actuavam em Bissorã (643) e Mansabá (642 e 644), intercalando com Mansoa onde era a sede do Batalhão.
O primeiro Batalhão a usar crachá foi ideia do Coronel Sobral, de princípio até nos chamavam o Batalhão das tabuletas.

2 - O Capitão Carlos de Sousa Paz, Oficial de Operações, que mais tarde chegou a Super Intendente da PSP, deixou-nos há mais ou menos de 4 anos, foi enorme como ser humano, afável e sempre amigo não olhando a quem. Era sempre bem recebido nas Companhias, mesmo quando se deslocava na sua DO 27 com os célebres mapas, pois já se sabia que dali sairia a chamada "Manga de Ronco para essa noite".

3 - O Capitão Ricardo Silveira da Cart 643 sempre austero e rigoroso, do melhor como operacional, toda a Companhia o reconhecia, quando as saídas a nível de Pelotão poderiam ser complicadas ele era o primeiro a alinhar, quando muitos
só saíam a nivel de Companhia.

4 - Da mesma Cart 643 grandes operacionais como o Alf Mil Lourenço, Alf Mil Paulo (f), Furriéis Graça, Águas, Sousa, Frazão (f) Sarg. Hipólito (f), Sarg. Gonçalves; praças como José Marques (30), Couto, Madeira, José Antonio, Julio, e tantos outros, havia no fim uma equipa operacional digna de realçe, lembrar os voluntários "LORDES", até porque foi a Companhia mais condecorada, e passo a descrever:

Cart 642

- Cap Francisco Barão da Cunha
- 1.º Cabo Felix Ferreira
- 1.º Cabo Moisés Bastos


Cart 643

- Cap. Ricardo Silveira
- Alf Mil Antonio Lourenço
- Fur Mil Hélder Águas
- Fur Mil Rogério Cardoso (a)
- 1.º Cabo José António Coelho
- Soldado Francisco Madeira
- Soldado José Marques (30)

a) Erradamente na Ordem do Exército, este elemento vem dado à Cart 645


Cart 644

- Soldado Mano Santos
- Soldado Mamadu Bari


5 - Na Cart 643 mesmo não sendo operacionais deslocavam-se para Operações frequentemente, o 1.º Cabo Cripto Carlos Cunha e o Fur Mil Rogério Cardoso que da última vez, em 27 de Outubro de 1965, foi atingido por uma granada de fabrico checo RPG-PANCEROVKA - HEAT de 120mm, ver anexo com louvor e condecoração.

6 - Militares mortos

Cart 642 - 7 - (1 local)
Cart 643 - 2 - (a)
Cart 644 - 2
Cart 645 - 3 - (1 local)

a) O Soldado Manuel Bernardes faleceu em Bissorã e não no HM 241, foi vítima de ums descarga eléctrica quando da recuperação de uma insolação contraída numa Operação a Morés.

7 - Um voto de louvor aos pilotos da Força Aérea que acompanharam a Cart 643 nas diversas Operações, pilotos excepcionais e sempre prontos a dar o seu melhor, os T6, DO 27, AUSTER, os Heli ALOUETTE II, não olhando ao perigo nas evacuações.

8 - A Associação de Amizade do Bart 645 foi formada em Fevereiro de 1981, data da primeira reunião em Cascais, depois de 29 anos já percorremos diversos lugares de Norte a Sul.
A nível de Batalhão só de facto começou em 1981, a nível da Cart 642 alguns elementos reuniam-se no Porto, e também de salientar alguns encontros em Lisboa no Café Martinho.

9 - O nosso próximo encontro será em Boleiros-Fátima a 10 de Abril de 2010, atempadamente seguirá a convocatória.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5588: Álbum fotográfico de Rogério Cardoso (3): Relembrando locais e camaradas da CART 643/BART 645

(**) Vd. poste de 27 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4594: Fichas de Unidades (3): História do BART 645 (José Martins)