Mostrar mensagens com a etiqueta J. L. Mendes Gomes. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta J. L. Mendes Gomes. Mostrar todas as mensagens

domingo, 23 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22220: Blogpoesia (737): "Semelhanças e diferenças"; Quem espera..."; "Revolução" e "Definições", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Semelhanças e diferenças

A semelhança e a diferença é a veste que veste a natureza.
As coisas participam de pedacinhos que todos têm.
Variam só as formas e os tons.
É inesgotáel a possibiidade de combinações.
Os cruzamentos sucedem-se na evolução do tempo e do espaço.
É caleidoscópica a imagem, em profundidade do passado.
As épocas da história se sucedem irrepetíveis.
Isto é assim por uma lei atenta e lúcida da Natureza.
Dá que pensar: porquê e para quê?...


Berlim, 16 de Maio de 2021
17h24m
Jlmg


********************

Quem espera...

Quem espera pode ou não obter o que gostava.
Mas é preciso fazer por isso.
Sem esforço e colaboração ninguém consegue nada.
Lícitamente. Porque, ilícitamente, é sujo.
Quase mesmo criminal.
A vida é feita de colaboração e esforço.
Enriquecer sem ele é parasitismo.
O que é detestável.


Berlim, 17 de Maio de 2021
18h14m
Jlmg


********************

Revolução

É preciso revolver a terra, ao menos uma vez por ano.
Pôr-lhe à mostra o húmus.
Expor os vermes ao sabor do sol.
Dar às aves o alimento devido.
Derramar a seiva nas veias das árvores.
Expor ao sol as hastes prenhes.
Para que o grão multiplique.
Encher as eiras de milho ao sol.
Abarrotar os celeiros com as maçarocas loiras.
E, depois, regalar as ceias com a broa à mão...


Berlim, 21 de Maio de 2021
17h10m
Jlmg


********************

Definições

Há um risco de fracasso ao não definir o objectivo.
O êxito é sempre fruto da previsão.
Nunca do acaso.
O progresso é a soma de ideias bem delineadas.
A riqueza advém do esforço e da concentração.
Quem quiser arruinar-se é deitar-se na pasmaceira.
A vida sã vem da intimidade bem resolvida.


Berlim, 22 de Maio de 2021
15h30m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 18 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22212: Blogpoesia (736): "Escondam-se que eles vêm aí", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70)

domingo, 16 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22204: Blogpoesia (735): "Brunir o fato"; Abram as portas!..."; "Brincar à macaca" e "Dum momento para o outro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Brunir o fato

Houve tempo que era imperdoável vestir o fato mal brunido.
A aparência era muito importante. Era um valor.
Depois, vieram as engomadeiras nos supermercados.
A gente levava o saco da roupa e ela fazia o resto.
Muito prático. Barato e poupava-se para viver.
Bons tempos. Quando a aparência era um valor.


Berlim, 10 de Maio de 2021
Jlmg


********************

Abram as portas!...

Com as portas fechadas,
Nada acontece que se veja cá fora.
É preciso dar o que sobra a quem precisa ou que pede.
Aferrolhar só para ter, é má atitude.
Diz muito mal de nós.
A soberba morre seca e abandonada no chao.
Não valeria a pena viver se todos fôssemos soberbos assim...


Berlim, 11 de Maio de 2021
14h59m
Jlmg


********************

Brincar à macaca

Tanto se brincava à macaca na escola!...
Uma fantasia.
A imaginação da pequenada fazia o resto.
Rapazes e raparigas. Não importava.
Não havia patelas. Só pedrinhas e cacos.
Uma subida em escalada.
A habilidade galardova os habilidosos.
Com jeito, pouco ou muito.
Se passavam os recreios na escola,
Enquanto o professor fuma va um cigarro
E a professora fazia crochet.
Tempos felizes...


Berlim, 13 de Maio de 2021
8h55m


********************

Dum momento para o outro

Dum momento para o outro, tudo pode ficar diferente.
Para melhor ou para pior.
A vida é transformação.
Mudam as formas e aparências.
Vem uma doença e enegrece a nossa vida.
Nessa altura damos valor aquilo que tínhamos à mão e não davamos valor.
Temos de nos contentarmos com o que temos.
O que vier de bom será benvindo.
O sabor da vida está no equilíbrio e na satisfação com o que dá e chega.
Quanto mais se tem mais se quer.
Daí a infelicidade constante...


Berlim, 14 de Maio de 2021
15h14m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22184: Blogpoesia (734): "Trovada em Berlim"; Poema da tarde"; "Vale das lamentações" e "Abrir as portas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 9 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22184: Blogpoesia (734): "Trovada em Berlim"; Poema da tarde"; "Vale das lamentações" e "Abrir as portas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Trovoada em Berlim

De repente, um estrondo, seco e cortante,
Rebentou no céu de Berlim.
Reduzidos a pó,
Fortes e fracos,
Ricos e pobres,
Ficamos sem pinta de sangue.
Parecia o fim de tudo.
Depois, inocente, como se nada fosse com ela,
Desapareceu.
Recolheu a penates.
Ali está. Pronta a actuar.
Pondo tudo na ordem.
Afinal, que humanidade é esta?
Muda e calada.
Pior que uma mosca
Tantas peneiras para quê?...


Berlim, 7 de Maio de 2021
18h6m
Jlmg


********************

Poema da tarde

Sorriem os telhados rubros do casario de Berlim.
O sol, cansado, se despede do dia que acaba.
É a hora do descanso do suor de cada dia.
Da ceia em família
Onde se contam histórias do passado.
Os avós se se deliciam com as carícias de seus netos.
Se aguarda a hora de dormir.
Em paz.
Amanhã será um novo dia...


Berlim, 3 de Maio de 2021
19h47m
Jlmg


********************

Vale das lamentações

Impressionante como passa depressa o tempo e a vida.
Por mais que se a agarre,
Escapa-se pelas frestas como se água.
Não valem a pena lamentações.
É assim. É a lei que os descreve.
Há que preencher-lhes atentamente e certos os passos,
Para que não surjam passadas em falso,
Com o risco do abismo.
Depois, já não há emenda nem remédio...


Berlim, 2 de Maio de 2021
11h34m
Jlmg


********************

Abrir as portas

Franquear a nossa ajuda, sempre que, por bem, nos seja pedida ajuda pode ser um bom lema de vida.
É uma fonte inesgotável de paz e de justiça.
Não somos iguais nem temos todos as mesmas possibilidades.
Como seria melhor o mundo se se adoptasse aquele lema.
A vida é tão breve e preciosa
Para se perder com questiúnculas e mexericos.
Oxalá despertem para isso nossas consciências.


Berlim, 6 de Abril de 2021
10h10m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 2 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22164: Blogpoesia (733): "Madrugada de Abril"; Ninguém a viu chegar"; "Liberdade" e "Mais uma visita", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 2 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22164: Blogpoesia (733): "Madrugada de Abril"; Ninguém a viu chegar"; "Liberdade" e "Mais uma visita", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Madrugada de Abril

Um clarão ribombou nos céus.
A guerra possível estalou.
As forças mandantes podiam pegar em armas,
Defendendo seu poder.
Nada aconteceu.
As ruas encheram-se de cravos.
Era o perfume da liberdade.
Até que enfim. Chegou.
Rebentou a euforia.
Vieram, porém, os meliantes.
Com desejos de devorar.
Vindos do leste comunista.
Num repente invadiram as searas.
Chegaram-lhes fogo.
Os oportunistas se lançaram a destruir.
Levando tudo à frente.
Com razão e sem razão.
As herdades, as grandes empresas, só por si, são más.
Há que as esganar.
Foi um espectáculo triste,
De cima a baixo pelo país.
Do norte ao sul.
Só quem tudo isto viveu
Pode falar e avaliar.
Pelo menos, o ultramar acabou.


Berlim, 25 de Abril de 2021
16h53m
Jlmg


********************

Ninguém a viu chegar

Era madrugada. Todos dormiam descansados.
Acostumados à sua sorte.
Viveram sua infância e juventude.
Serviram a pátria como uma deusa.
Foram à guerra da independência.
Nunca se queixaram de sua sorte.
Voltaram em paz na consciência.
Dever cumprido.
Tudo era paz e liberdade.
Mesmo que amordaçada.


Berlim, 26 de Abril de 2021
19h21m
Jlmg


********************

Liberdade

Princesa rainha das quimeras.
Nuvem sobranceira planando nas alturas como o sol.
Iluminando pobres e ricos por igual.
A aspiração da liberdade é o oxigénio que respiramos.
Como o sangue que corre nas nossas veias.
Vivificando nosso corpo.
Trave-mestra desta nave gótica da catedral.
Montanha piramidal apontando as alturas.
Arca salvífica de Noé que nos salva dos dilúvios.
A companheira que nos segue e ilumina nossas passadas.


Berlim, 26 de Abril de 2021
18h8m
Jlmg


********************

Mais uma visita

Visitar os presos e os que esperam
É tarefa e dever dos que estão em liberdade.
A vida é uma roda em movimento.
Nunca se sabe se, um dia, será a minha vez.
Visitar os filhos, um de cada vez,
É dever dos pais que os geraram.
Eles nos aguardam como os passarinhos,
De bico aberto, onde nasceram.
É isto que dá consistência à vida.
De contrário, seríamos um monte de companheiros,
Ou de condenados a andar...


Berlim, 29 de Abril de 2021
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 25 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22140: Blogpoesia (732): "A elegância do condor"; A dor e a alegria"; "Cantando melodicamente" e "Calças de ganga", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728">

domingo, 25 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22140: Blogpoesia (732): "A elegância do condor"; A dor e a alegria"; "Cantando melodicamente" e "Calças de ganga", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


A elegância do condor

Um desfiladeiro imenso. Medonho para nós mortais.
O condor, parece indiferente.
Sem medo de cair.
Sabe que tem dois anjos, suas asas longas e firmes.
Sempre prontas a acudir.
De repente, se abrem e ele vai planando como uma nuvem,
Mirando a imponência daquele abismo.
De fugir.
Se despede dos seus cuidadores
E vai em voo largo e leve.
Para seu reino.
A liberdade...


Ouvindo "condor dos Andes" em gaitas pelos andinos

Berlim, 18 de Abril de 2021m
10h 20m
Jlmg


********************

A dor e a alegria

A dor e alegria são as manifestações da alma.
Por elas, ela chora ela ri.
Linguagem do bem e da dor.
Pedidos e brados.
Sofrer e sorrir são momentos da vida.
A compõem e tecem.
Dão-lhe o verdadeiro sabor.
Subir e descer.
Descansar e sofrer com suor
É a lei impressa por quem a criou e a dá para que nosso viver
Tenha sabor e valor...


Berlim, 21 de Abril de 2021
17h54m
Jlmg


********************

Cantando melodicamente

Cantando melodicamente,
Esqueço as mágoas que a vida me traz.
Alivio minha dor na saudade da minha infância.
Quando a vida sorria no dealbar das emoções.
Tantas agruras estavam à espera.
Na juventude. O tempo doloroso das incertezas.
Só a esperança em melhores dias
Aliviavam e calavam a negritude.
O fim ainda virá longe.
Daí a fé que tudo mude para melhor...


Berlim, 24 de Abril de 2021
21h43m
Jlmg


********************

Calças de ganga

Durante muito tempo não havia ganga.
O que havia era o cotim e a fazenda.
Vestir bem era a ânsia de toda a gente.
Os ricos podíam-no sem qualquer custo.
Os pobres gastavam os cobres que poupavam a muito custo
E mandavam fazer as calças e os fatos por encomenda ao alfaiate.
Belos tempos em que havia esmero e muita vaidade sã.
O meu primeiro fato foi o da comunhão solene.
Quem o fez foi o meu pai.
Era cinzento...


Berlim, 23 de Abril de 2021
21h12m
Jlmg

____________

Notas do editor

Poste anterior de J. L. Mendes Gomes de 18 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22113: Blogpoesia (729): "Arroz doce"; O brilho dos brasões"; "Gradeadas as portas e janelas" e "Bom rasto", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Último poste da série de 25 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22138: Blogpoesia (731): Neste dia 25 de Abril, as inquietações de sempre, "Esquecimento", poema de Juvenal Amado (Ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)

domingo, 18 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22113: Blogpoesia (729): "Arroz doce"; O brilho dos brasões"; "Gradeadas as portas e janelas" e "Bom rasto", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Arroz doce

A vida é um rio que flui para o mar carregado de tristezas e alegrias.
Dias alegres. Outros menos.
Adicionar-lhes uns grãos de doçura,
Mitiga as dores. Alisa arestas.
Sara feridas.
Nosso parto é dor. Por lei divina.
Trazer à mesa, de vez em quando ao menos,
Um prato de arroz doce adoça a vida.
Desperta sonhos. Esquece agruras.
Basta juntar arroz, ovos e açucar.
O resto virá...


Berlim, 11 de Abril de 2021
9h21m
Jlmg


********************

O brilho dos brasões

Nem com brasões o brilho senhorial se aguentou com o rolar dos tempos.
Gente ilustre. Com fidalguia.
Ganha nas expedições das guerras.
Condecorações nas folhas de serviço.
Deram azo ao direito de engalanar as suas casas.
Fazer ver às gentes a história de seus feitos.
Foi o regalo e orgulho dos primeiros donos.
Com o rolar das gerações,
Foi esmaecendo a vaidade.
Novas emigrações da descendência vieram no rolar da vida.
Foram abandonadas as casas
Só restaram os brasões na frontaria,
Mas inùtilmente. Ninguém lhes liga.
Cobrem-se de lendas e histórias de bruxarias.
Dizem que mora lá o diabo.
Por isso ninguém é capaz de a deitar abaixo
Mas é só por medo.
Assim passam as glórias deste mundo!...


Berlim, 12 de Abril de 2021
11h17m
Jlmg


********************

Gradeadas as portas e janelas

Estão gradeadas as portas e janelas das casas das ruelas.
É perigoso andar pelas madrugadas.
Uma arma. Um punhal podem ser a ameaça inesperada,
Numa esquina das vielas.
É melhor nunca arriscar.
Os meliantes, dos aventureiros é o que eles esperam.
Tantas histórias do passado contam rixas cheias de sangue.
Era escusado...

Ouvindo o fado, "sei dum rio" de Camané

Berlim, 16 de Abril de 2021
15h11m
Jlmg


********************

Bom rasto

Deixar bom rasto.
Sejam certos nossos passos.
Que a vida siga o caminho da virtude e dos valores.
A honra e a justiça a iluminem.
O respeito pelo nosso semelhante.
Atenção às suas necessidades.
Sem outro interesse que o de ajudar.
Brilhe nossa vida como no céu uma estrela.
Só assim a vida terá valido a pena.


Berlim, 17 de Abril de 2021
21h30m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 11 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22095: Blogpoesia (728): "Santa Páscoa"; O bico do lápis"; "A vida volta a nascer com os gatos atrás" e "A eternidade", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 11 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22095: Blogpoesia (728): "Santa Páscoa"; O bico do lápis"; "A vida volta a nascer com os gatos atrás" e "A eternidade", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Santa Páscoa

- O Senhor lhes dê uma Santa Páscoa!
Era a saudação da gente da minha aldeia nos meus tempos de criança.
Tempos bons. Com valores.
Onde quem reinava era o Senhor.
Havia paz. Havia justiça e solidariedade.
O povo vivia mais renitente às futilidades do modernismo.
Quase tudo desapareceu.
Apenas ficou a saudade e a pena de que tudo secasse.


Ouvindo Schubert- Impromptus

Berlim, 4 de Abril de 2021
17h40m
Jlmg


********************

O bico do lápis

Atiço-lhe o fogo em brasa,
A inspiração.
Como um foguete desatinado
Ele rodopia sobre a tela e a paleta.
Descreve riscos e arabescos.
Escreve letras.
Desenha tons e sons de melodias.
Sonetes de alecrim.
Como flores num jardim às cores.
É um céu a arder
No sol , ao nascer de cada dia.
Ou a lua da saudade,
Ao escurecer de cada noite.
Quando é a hora da saudade,
Onde campeia a saudade estrema,
Em rimas doces de harmonia.


Berlim, 5 de Abril de 2021
8h12m
Jlmg


********************

A vida voltava a nascer com os gatos atrás

Como era bom vê-lo a subir a costeira de Pedra Maria.
Vinha da Longra. A carroça com ele.
Fazer bem era seu dom.
A tigela da sopa.
Comprada na feira,
Caíra ao chão, desfeita em cacos.
Guardados num cesto,
Esperava o médico.
Com suturas e pensos,
Endireitava os ossos,
A carne sarava
E, de novo a sopa,
Voltava a ferver...


Berlim, 6 de Abril de 2021
17h55m
Jlmg


********************

A eternidade

Alcandorada no alto dos céus,
Vive oculta à fraqueza de quem desiste à primeira dificuldade.
De quem não afronta com confiança
A esperança de alcançar.
O esplendor das montanhas exige esforço.
Vencer as escarpas e os desfiladeiros
Só é de quem arregaça as mangas e e se entrega corajoso.
Desistir é próprio dos fracos
E dos fracos "não reza a história"...
Para alcançar a eternidade é preciso extinguir os egoísmos
Que semeiam o mal e as injustiças geradoras da guerra,
Rainha de todos os males que grassam pelo mundo.


Ouvindo Tanhauser de Wagner

Berlim, 8 de Abril de 2021
8h47m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 4 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22067: Blogpoesia (727): "Na beira da estrada"; Os sinos da minha aldeia"; "Conformação" e "Trocar as voltas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 4 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22067: Blogpoesia (727): "Na beira da estrada"; Os sinos da minha aldeia"; "Conformação" e "Trocar as voltas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Na beira da estrada

É bom morar à beira da estrada.
Ouvir os tamancos, batendo no chão.
Gente que vai e que vem.
E, pela madrugada, ouvir as conversas da gente que passa.

* Aqui morava o Sr José dos engaços.
* Um bom "home".
* O Senhor o tenha num lugarzinho no céu.
* Pouco viveu, depois de perder a mulher.
* Não tinha mãos a medir.

A alegria das gentes quando ia para a feira.
Açafates à cabeça, com produtos da casa.
Ovos. Galinhas poedeiras.
Couves da horta.
E, os lavradores, de varapau na mão,
Tangiam suave as costas do gado.
Havia que andar.
E, pela tardinha, era vê-los regressar com um grãozito nas asas.
Do tinto de gema, à bica da pipa.
Que saudade eu tenho,
Quando era garoto e os via passar...


Berlim, 29 de Março de 2021
18h14m
Jlmg


********************

Os sinos da minha aldeia

Os sinos da minha aldeia,
Sua casa é o campanário.
Clama bênçãos, saudações.
Em tons sonoros.
No amanhecer de cada dia.
À noitinha, as Trindades são a vénia de adoração
Ao Santo Espírito, ao Pai e Filho ressuscitado.
São a voz de cada aldeia perante a magnificência
Deste mundo. Quem o criou foi o Criador...


Ouvindo Schubert- Impromptus

Berlim, 2 de Abril de 2021
18h41m
Jlmg


********************

Conformação

Surgem sempre contrariedades na vida de cada um de nós.
Por mais cuidado, há sempre momentos bons e outros não.
Uma doença. A morte dum ente querido.
Ninguém está livre.
Temos de os saber enfrentar.
A conformação é a arma sempre à mão.
Não significa baixar as mãos e nada fazer.
Mas, conformar-nos é nossa condição.
É isto que dá gosto viver.
Se tudo corresse sempre bem,
Seria uma monotonia insuportável.


Berlim, 3 de Abril de 2021
14h21m
Jlmg


********************

Trocar as voltas

De vez em quando, na vida, é preciso trocar as voltas.
Não dar o dito por não dito.
Mas enfrentar de caras, a dureza da realidade.
Com tibieza, só os fracos existirão.
A vida exige esforço.
Tudo custa suor e, por vezes, lágrimas.
É preciso enxuga-las até à exaustão.
A obra-prima só começa a surgir,
Quando reina a perfeição...


Berlim, 30 de Março de 2021
17h23m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 28 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22045: Blogpoesia (726): "Desânimo"; Perdoar e desculpar"; "Lembrar e esquecer" e "Permanência e realidade", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 28 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22045: Blogpoesia (726): "Desânimo"; Perdoar e desculpar"; "Lembrar e esquecer" e "Permanência e realidade", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Desânimo

Está negra a noite e cada dia.
Nuvens negras cobrem o céu e toldam nosso viver.
Vivemos acicatados.
Boca seca e olhos secos.
Amordaçou todos.
Sem discriminação.
Forte e fraco.
Rico e pobre.
Parecemos passarinhos de bico aberto
Esperando os pais.
Só que não estamos inocentes.
Temos o que semeamos.
É hora de arrepiar caminho...


Berlim, 21 de Março de 2021
15h e 2m
Jlmg


********************

Perdoar e desculpar

Sabe-se lá o que vai na alma de alguém.
"Quem vê caras não vê corações".
A vida não é pera doce para ninguém.
Mesmo os que parecem mais afortunados.
Tantas contrariedades leva o rio da vida.
Para todos.
Fortes e fracos.
Ricos e pobres.
A alegria é um estado excepcional.
Tudo tem de sr conquistado com a força do suor.
É nossa condição
A dita a Natureza.
O remanso da tranquilidade só acontece no intervalo das tempestades.


Berlim, 25 de Março de 2021
8h59m
Jlmg


********************

Lembrar e esquecer

A vida é um rio de noites e dias.
De claros e escuros.
Duas faces da mesma moeda.
Lembrar e esquecer faz parte de nós.
Nos tapa e destapa.
Se esquece e se lembra
O bem e o mal da mesma maneira.
É nossa defesa.
O bem deixa saudade.
O mal gera o negrume.
De tudo se compõe nossa vida.
É assim que está escrito.
Lembrar e esquecer,
Duas portas que abrem e fecham.


Berlim, 25 de Março de 2021
15h13m
Jlmg


********************

Permanência e realidade

Todo o real é permanente.
Mesmo quando ele muda.
Permanece igual em cada parte.
Fica aparente se não mudar.
É sonho ou ilusão.
O ser é combustão.
Se apaga se não vive.
Se mantém a vida
Mesmo que morra, fica a saudade.
É esse o reino da verdade.


Berlim, 27 de Março de 2021
17h16m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 21 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22022: Blogpoesia (725): "Cacho de uvas"; Quando não há pão..."; "Chove nas vielas" e "Suavemente", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 21 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22022: Blogpoesia (725): "Cacho de uvas"; Quando não há pão..."; "Chove nas vielas" e "Suavemente", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Cacho de uvas

Família numerosa de filhos.
Cada um o mais saboroso.
Brilham ao sol e chuva.
Sabem a mel no calor de Agosto.
Cada ramada é um altar de prendas.
Enchem o lagar numa noite de canseira.
A fermentação do mosto, um milagre ali mesmo à vista.
Sua transformação em vinho.
Algum dele tem mesmo honra de ir ao altar,
Para ser o sangue do Criador.
Fruta abundante entre todas abençoada.


Berlim, 15 de Março de 2021
8h53m
Jlmg


********************

Quando não há pão...

O pão é escasso para a fome geral.
Sua mãe é a injustiça.
Há quem se aproveite com o que é de todos.
A lei que tudo rege quem a ditou
Foi o Criador.
Sem discriminar.
A ganância gera este clima de guerras geral
Que avassala o mundo.
Depois não se queixem das pandemias
Que arrasa tudo.
Não há fortes nem fracos.
Ficam todos esmagados e humilhados.


Berlim, 16 de Março de 2021
1051m
Jlmg


********************

Chove nas vielas

Estão molhadas as vielas dos bairros de Lisboa.
Chovem sonhos enamorados.
Uma fonte inesgotável.
Os tempos que passaram.
As saudades nunca secam.
São estrelas nas noites negras.
São vida da alma dorida.
Se foram e não voltam.
Quem nos dera.
É a lei que Deus ditou...


Berlim, 17 de Março de 2021
21h9m
Jlmg


********************

Suavemente

Melodia suave deleita e consola.
Fruto saboroso dum talento do som.
Partilhado e oferecido gratuito.
Fonte de sonho.
Fica feliz quem a ouve e saboreia.
O talento é dado.
Retê-lo para si, seria ingratidão.
Cada um tem seus talentos e dotes,
Para servir à mesa da amizade.
É assim que foi escrito na lei,
O seu Autor final.


Berlim, 19 de Março de 2021
18h00m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 14 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22004: Blogpoesia (724): "Pelas esquinas das vielas"; "Sacadas de flores"; "Mar das imperfeições" e "Os lampiões das vielas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 14 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22004: Blogpoesia (724): "Pelas esquinas das vielas"; "Sacadas de flores"; "Mar das imperfeições" e "Os lampiões das vielas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Pelas esquinas das vielas

Há surpresas a cada hora, pelas esquinas das vielas.
Enlaces e desenlaces.
Despedidas mui sofridas.
O mar se interpõe.
As ausências que se impôem.
Sabe-se lá até quando.
Os mares se interpõem implacáveis.
Pelo destino e pela fortuna.
É a sina que a sorte lhes traçou.
Ser marujo.
Já o foram os seus avós.


Berlim, 7 de Março de 2021m
Jlmg


********************

Sacadas de flores

São jardins pendentes
As varandas das casas da cidade.
São sonho dum jardim
Com terra e húmus.
Ficaram desertos na sua aldeia.
Luta da sobrevivência
Arranca cruelmente
Quem quer ganhar o pão
E vencer a vida.
Mas o coração ali fica preso
E nunca esquece.
Uma lei cruel.
Que só a injustiça dita alheadamente
E não repõe.


Berlim, 8 de Março de 2021
11h59m
Jlmg


********************

Mar das imperfeições

Vivemos mergulhados no mar das imperfeições.
Desde logo, é com dor de parto que todos nascemos.
Depois, a tarefa ingente de nos adaptar-nos às coisas deste mundo.
A saber falar com ele. Interpretar os seus caprichos.
A variação do tempo.
Ora chove ora faz sol.
Entendermo-nos uns aos outros.
Complicadas e variadas são as formas do falar.
Essa coisa de sermos homem ou mulher.
Os laços que nos prendem, desde a nascença.
Aos pais e aos mais próximos.
E aquele sentimento indefinido, que germina dentro de nós
E nos leva a amar quem nos quer bem.
Tudo são as faces inúmeras deste poliedro
Que é o enigma desta vida.
Fomos uns privilegiados.
Seríamos muito ingratos se a não soubéssemos aproveitar.


Ouvindo Albinoni

Berlim, 12 de Março de 2021
8h36m
Jlmg


********************

Os lampiões das vielas

Se acendem à noitinha e iluminam as madrugadas.
Com lua e sem sol, clareiam as ruelas.
Como faunos pelos bosques,
Vagueiam os ladrões.
Aparecem pelas esquinas.
Não são do bem suas facadas.
Grande risco andar nas ruas.
Só arrisca quem o quiser.
Vai longe o tempo em que se andava à vontade.
Era o respeito quem reinava...


Berlim, 10 de Março de 2021
14h47m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 7 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21977: Blogpoesia (723): "Atalhos da vida"; "Miam os gatos pelas ruelas"; "Melodias do Mondego" e "Lampiões das madrugadas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 7 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21977: Blogpoesia (723): "Atalhos da vida"; "Miam os gatos pelas ruelas"; "Melodias do Mondego" e "Lampiões das madrugadas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Atalhos da vida

Encurtam distâncias.
Tornam mais perto anseios e sonhos.
Acrescentam à vida o tempo que poupam.
Poder estudar. Crescer na sabedoria.
Chegar a mestre na arte ou profissão.
Desenvolver seus talentos.
Fazem subir. Ver de mais alto a riqueza da vida.
A variedade dá cor.
O progresso é a soma e combinação das capacidades de cada membro.
Sua falta torna o mundo apático e pobre.
Todos os atalhos convergem para o largo dos progressos

Como os rios para o mar.


Berlim, 11h15m de 2021
Jlmg


********************

Miam os gatos pelas ruelas

É fevereiro. Miam os gatos pelas ruelas.
É o cio da paixão.
Aquele rio de águas quentes.
Só descansa no mar.
Bairros negros de Lisboa,
Batidos de sol e vento.
Vagueiam neles os marujos.
Sedentos de paixão.
É a hora prenhe da madrugada,
Quando acende a paixão.


Ouvindo Camané "sei dum rio"
Berlim, 3 e Fevereiro de 2021
15h7m
Jlmg


********************

Melodias do Mondego

Passam serenas as águas límpidas do Mondego.
Fluem nelas as mágoas das saudades.
Gerações de estudantinas
Pisaram suas pedras.
Latadas desde a tarde à madruga.
A vadiagem obstinada da estudantada.
Se recusa a descansar.
Têm de viver a vida inteira num só dia.
Gerações sem fim do passado,
Vivem suas mágoas de saudade.
O tempo não voltará,
Por mais que cantem ou chorem.


Berlim, 5 de Fevereiro de 2021
9h58m
Jlmg


********************

Lampiões das madrugadas

Acesas, desde a tardinha, ao amanhecer.
Sol e lua das madrugadas.
Verões da liberdade.
Que reacendem as paixões.
Sois o guia da vadiagem.
Quando o sonho é o rei.
Sois a luz sobre o passado.
Como o sol é do futuro.
Enquanto a vida dura.
Já que a morte tudo esquece.


Berlim, 6 de Fevereiro de 2021m
16h47m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 2 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21961: Blogpoesia (722): "Como eu te vi Guiné" (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845)

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21955: Blogpoesia (721): "Atracção fatal"; "Lago dos Cisnes" e "Carlos Paredes", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Atracção fatal

Quando desperta um ideal, fica-se escravo.
Tudo se sacrifica para o alcançar.
Uma carreira. Uma profissão.
Cada um tem suas tendências.
Se o talento existe,
Fica-se preso.
Uma obra de arte que se prossegue,
Em cima duma mesa ou duma tela.
A centelha dum poema que desperta, de repente.
Depois, é a saciedade. Quase o êxtase.


Ouvindo HAUSER - Adagio (Albinoni)

Berlim, 26 de Fevereiro de 2021
14h29m
Jlmg


********************

Lago dos cisnes

Albo luar da madrugada.
Batendo em cheio nas águas prateadas deste lago,
A fumegar de luz e sonho.
Brasa quente calcinada.
Vulcão de lava a arder.
Bailam os cisnes, albos.
Descrevendo arcos de fantasia.
Batendo as asas, de vez em quando.
Como se gaivotas sobre as ondas.
Chega aqui sua brisa.
Miusculas ondinhas circundantes
Tecem redes. Fazem rodas de mãos dadas.
Como a criançada no recreio.
É a alegria que chove gratuitamente
E cai dos céus...


Ouvindo "O lago dos cisnes" de Tchaikowski

Berlim, 24 de Fevereiro de 2021
10h54m
Jlmg


********************

Carlos Paredes

Forja em fogo. Esparzindo chispas de melodia.
Irrequietas. Zumbem como vespas.
Mas têm o encanto das madressilvas.
Escorrem doces. Lânguidas. Serenas.
Brotam da alma como um rio.
Trazem as saudades das latadas de Coimbra. Anfitriã.
O Mondego conhece-o bem das noitadas da vadiagem de Estudante.
Cordas tensas da guitarra retinem tão sonoras.
Parecem amoras dos silvados encapelados.
Refúgio das abelhas debicando o mel.
Dá vontade de adormecer ouvindo-o a cantar...

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 23 de Fevereiro de 2021
16h27m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 21 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21927: Blogpoesia (720): "A gratidão"; "Senhor Guilherme - latoeiro" e "Casa do brasileiro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21927: Blogpoesia (720): "A gratidão"; "Senhor Guilherme - latoeiro" e "Casa do brasileiro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


A gratidão

Aquela força anímica que tudo transforma e aproxima.
Um gesto simples e apropriado que une faz justiça.
Ninguém consegue tudo por si.
Todos fomos ajudados a aprender a andar a e a falar.
Estes instrumentos que não são de corda.
Vêm do coração.
Como o fogo que arde e aquece.
São nosso cunho e sinete.
A prova de que reconhecemos a quem nos faz bem.
Até os animais a sentem e a demonstram sempre, sem regatear.
Com risco da própria vida,
Se for necessário.
O mar que banha os corações e os incendeia.


Ouvindo Sherazade
Berlim, 19 de Fevereiro de 2021
17h54m
Jlmg


********************

Senhor Guilherme - latoeiro

Ali na Forca, um lugar de Varziela,
Ele tinha a oficina.

Maçaricos e folhas de Flandres,
Eram tudo que enchia as estantes.
Seu balcão, voltado para a estrada,
Permitiam-lhe que nada lhe escapasse
Do que se passava na estrada.
A Mikinhas era a mulher do Sr. Guilherme.
Pai do Francisco, Zeca, Esmeralda e do António.
As pessoas que iam para a Feira na vila
Davam-lhe os bons-dias.
Ele respondia sempre prazenteiro.
- Já passou a mulher da nota?
- Não. Ainda não.
- Safada! Passou lá na minha casa e nada!

- Meu pai precisava duns botões.
- Assim, tenho de ir eu à vila!...


Berlim, 19h34m
Jlmg


********************

Casa do brasileiro

Estou a vê-lo. Estatura baixa. Meia idade.
De bengala. A passar na estrada.
Tirando chapéu a quem o saudava.
Emigrou para o Brasil, naquela época.
Toda a gente enriquecia.
Princípios do século vinte.
O casal vinha cá uma vez por ano.
Até que um dia, o palacete, de azulejo grená,
Começou a emergir do chão.
Em pouco tempo, ficou como está.
À face da estrada. Apenas um jardim à frente.
Sobranceiro a umas vistas largas sobre a Serrinha e o Marão,
Lá longe.
Eu era bem miúdo.
Não me lembro de que alguma vez,
Nos falássemos.
Tinha dois filhos rapazes.
Conduziam um Skoda.
Um dia, o casal morreu de acidente.
A casa ficou em estado de abandono.
Só há pouco tempo, começaram a vender o recheio.
Para minha casa vieram uma cama de solteiro larga
E duas mesas de cabeceira.
Um casal que não fazia, nem bem nem mal.


Berlim, 14 de Fevereiro de 2021
17h19m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 14 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21897: Blogpoesia (719): "A fome"; "Casa da Tripa" e "O silêncio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21897: Blogpoesia (719): "A fome"; "Casa da Tripa" e "O silêncio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


A fome

Condenação ou não, o homem tem de ganhar seu pão com o suor de seu rosto.
A fome obriga o homem a trabalhar se quer manter sua vida acesa.
Motor da vida impele o homem a se levantar da cama cada dia,
Com chuva ou sol,
Para ganhar seu pão e o de seus descendentes.
Quem não o fizer será só um parasita.
Como o verme que vive no húmus.
Foi essa a vontade do Criador de tudo quanto existe.

Ouvindo Schubert
8h59m
Jlmg


********************

Casa da Tripa

Um casarão fidalgo.
Um palácio comprado com dinheiro das rendas senhoriais das quintas.
Uma alameda empedrada de camélias multicolores
Ligava-o à estrada nacional.
Uma grande quinta arrendada a um lavrador rendeiro
Abastecia-o de vinho e de pão.
Era gente oriunda de Trás-os-Montes.
Quem lá vivia agora era uma descendente, com seus quatro filhos.
Dois pares.
A dona Efigénia. Viúva.
Muito dedicada ao serviço da Capela de Pedra Maria.
Ainda bastante viçosa.
Cantava e tocava órgão na capela.
O abade da freguesia era um convidado habitual lá de casa.
Apoiava-a e era apoiado.
Era bonito vê-la, toda de preto, vir pela alameda sob latadas,
Pelas trazeiras do palacete,
Dirigida a Pedra Maria.
Foi minha madrinha de crisma, aos 11 anos.
Éramos dois fãs um do outro.


Berlim, 10 de Fevereiro de 2021
10h10m

Jmg


********************

O silêncio

Ninguém gosta do silêncio.
Ninguém gosta de se ouvir.
Nossos medos. Nossos temores e complexos
Afloram à superfície.
Aquela voz implacável.
Não desculpa o próprio dono.
Censura o que está errado,
Mas louva o que está certo.
Uma campainha alerta.
Toca ao mais pequeno dislate.


Berlim, 12 de Fevereiro de 2021
19h12m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de7 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21863: Blogpoesia (718): "O que vai dentro"; "A seiva do mar" e "Suicídio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21863: Blogpoesia (718): "O que vai dentro"; "A seiva do mar" e "Suicídio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


O que vai dentro

Só nós sabemos o que vai dentro de nós.
Tudo anda oculto.
Só, de vez em quando, assoma à superfície.
O bom e o belo habitam essas paragens.
Ali voa a inspiração.
Volta e meia, entoam poemas e telas coloridas.
Hossanas de beleza à Natureza que a criou.
Um jardim de flores.
Açucenas e miosótis.
Barrocas fundas com as bordas entapetadas de cochilos lilazes
Pequeninos cálices de suavidade e de frescura.
Só vicejam pelas aldeias onde a paz e a esperança
Têm os seus reinos.


Berlim, 31 de Janeiro de 2021
9h25m
Jlmg


********************

A seiva do mar

Cheira a iodo a maresia do mar.
Tingido de algas.
Horta bravia. De ondas sem conta.
Maduras de verde.
Alheias ao tempo.
Resistem sózinhas
Ao sol e ao vento.
As algas sem conto.
Nem as gaivotas se interessam por elas.
Sentiam-se inúteis.
As mèzinhas dos homens
Lhes roubam seu corpo.
Queriam voar,
Poisar nos rochedos
Como as gaivotas.
Morrem de tristes.
Depois de horas ao sol,
Só servem de húmus.
Foi para isso que vieram ao mundo.


Berlim, 1 de Fevereiro de 2021
10h
Jlmg


********************

Suicídio

Não creio que Lobo Antunes tenha tendência para o suicídio.
Quem como ele tem fome de escrever,
Jamais pensará nessa aberração.
Viver é um privilégio.
Ter a sorte de ter nascido.
Só uns poucos o tiveram.
Se há alguém onde essa tara não adere,
É Lobo Antunes.
A garra com que leva avante
Uma tarefa ingente de cada dia.
Crónicas. Romances.
A necessidade de comunicar.
Precisa dela. Sua razão de ser.
Não abdica dela.
Só vivendo a pode concretizar.
Um dia, quando Deus quiser,
Ele nos deixará...


Berlim, 5 de Fevereiro de 2021
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 2 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21838: Blogpoesia (717): "Como eu gosto de África" (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845)

domingo, 31 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21829: Blogpoesia (716): "As ideias não dormem no chão"; "A encomenda esperada"; "Ameaças" e "Desfizeram-se as brumas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


As ideias não dormem no chão

No chão, vivem a terra e o húmus.
Os pés as pisam, inclementes,
Possantes.
Se alheiam dos sonhos e do belo.
Elas clamam socorro às mentes.
Alheadas, nas canseiras da vida.
Só o arado revolve as raízes.
Crescem e amaduram ao sol e à chuva.
Voam no ar seduzindo os sonhos.
Brotam do chão os frutos que saciam a alma.
Poetas, pintores entoam poemas nas telas
Como flores num jardim.


Berlim, 30 de Janeiro de 2021
10h9m
Jlmg


********************

A encomenda esperada

Ainda não chegou a encomenda esperada.
Bateram à porta. Mas por engano.
Era na porta ao lado.
O bom e o não pdem surpreender-nos,
A toda a hora.
Ainda ontem, cozinhou de festa para a netinha doce.
Fez anos.
Estava mesmo a chegar. Sem o saber.
Hoje, já cá não está.
Partiu para sempre,
Para o reino da saudade e da esperança.
Descansa em paz, camarada de guerra.
Um "ranger" apaixonado e desprendido.
O Roger dos "comandos" da Guiné.
O Senhor te tenha em bom lugar...


Berlim, 28 de Janeiro de 2021
15h29m
Jlmg


********************

Ameaças

Pairam ameaças tonitruantes pelos céus.
Aves agoirentas toldam-nos de sons sinistros.
Sobem prantos de dor e lágrimas.
Clamando o seu perdão.
Se transviou a humanidade.
Errou a rota,
Escolhendo mal os seus caminhos.
Há sinais evidentes de que ainda é tempo.
Não tem fim a divina clemência.
Sempre pronta a acolher o tresmalhado.


Berlim, 26 de Janeiro de 2021
9h36m
Jlmg


********************

Desfizeram-se as brumas

Desfizeram-se as brumas na história da humanidade.
Se desfiguraram os sonhos da paz e da solidariedade.
É tudo sete cães a um osso.
Regrediu ao reino do homem da caverna.
Todos tratam de seu umbigo.
É o vale tudo.
O que importa é o nosso osso.
Para os homens do poder é era do vale tudo.
Se matar o semelhante, porque não?
Não falte o pão e o vinho na mesa do poder...


Ouvindo Rimsky-Korsakov: Scheherazade op.35
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21801: Blogpoesia (715): "Naquelas paredes negras", "Vou partir" e "Tem sabor a fado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 24 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21801: Blogpoesia (715): "Naquelas paredes negras", "Vou partir" e "Tem sabor a fado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Naquelas paredes negras

Naquelas paredes negras há casas e lares
Há dores escondidas.
Há sonhos.
Há saudades do passado.
De quando se vadiava pelas ruas,
Como um recreio da escola
A que não se ia.
Há sonhos dum futuro farto e abundante
De saúde e de saudades.
Há janelas debruadas de vermelho,
Um tição de vida a arder e não se apaga.
Há raios de sol enviezado.
Que vence as frestas das janelas.
Há cantos de sereias e de outonos ressequidos do verão.
Celeiros loiros de fartura
Como se fome nunca houvesse.


Berlim, 21 de Janeiro de 2021
Jlmg


********************

Vou partir

Vou zarpar desta terra contaminada.
Tu ficou pior.
A maldição choveu.
Inundou-a.
Já nem nos lembramos de como era.
Aquela liberdade de caminhar.
Subir as serras.
Trepar montanhas.
Banhar na praia,
Com sol e saudades da primavera.
De repente e, sem o esperar, ficamos nus.
Vestidos de maldição.
Quem me dera aquelas manhãs na praia.
O banho frio pelas manhãs.
Remédio santo para tdas as malditas constipações.
Gripes mortais ou não.
Esta, porém, não arreda pé.
Resiste ao tempo.
Consome os mais serenos.
Atira ao chão os arrgantes.
Ricos ou poderosos.
Pobres e desprotegidos.
Tudo vai a eito.
Um castigo. Uma maldição.
Não adianta refilar.
Com más caras ou não.
Tudo se dobra perante ela.
E, não se vê remédio.
Só irá quando ela quiser.
Arre!...


Ovindo Hélène Grimaud ao piano tocando Mozart ao piano

Berlim, 23 de Janeiro de 2021,
20h e 27m
Jlmg


********************

Tem sabor a fado

Tem sabor esta melodia.
Lembra outras eras.
Outras madrugadas.
Eram puras as folias.
Não havia horas.
Nem o amanhecer do sol
Adormecia a magia das guitarras.
Se vinha para as ruelas.
A ver o romper do dia.
Horas mágicas eram aquelas.
Tinham a sedução do sonho e do infinito.


Berlim, 24 de Janeiro de 2021
8h1m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21776: Blogpoesia (714): "A Tannhauser de Wagner", "Prefiro o cantar dos cucos", "A locomotiva" e "Meras coincidências?", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 17 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21776: Blogpoesia (714): "A Tannhauser de Wagner", "Prefiro o cantar dos cucos", "A locomotiva" e "Meras coincidências?", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


A Tannhauser de Wagner

Melodia eloquente e majestosa.
Como um condor a voar pelo universo infinito.
Visão total deste chão que é terra e húmus.
Onde, em cortejo, caminha a humanidade.
Mortal e infinita.
Por vontade do Criador.
Nesta terra, húmus verde,
Onde crescem as flores e os frutos,
Como areias dum deserto.
Melhor prenda, impossível.
Depois da paz e da liberdade.


Berlim, 13 de Janeiro de 2021
10h47m
Jlmg


********************

Prefiro o cantar dos cucos

Prefiro o cantar dos cucos
À melopeia agoirenta da coruja na madrugada.
O cuco anuncia-me o nascer do dia.
Com suas alegrias e tristezas.
Ela me ameaça com terrores e medos.
São o claro e escuro desta vida.
Duas faces duma moeda só.
Aqui eu páro e fico à espera da primavera e do verão.
Quando há festa do passaredo cantarolando por toda a parte.
De manhã à noite.
Ela, com vergonha, nem sai da sua toca.
A vida não é não, um mar de rosas.


Berlim, 14 de Janeiro de 2021
17h17m
Jlmg


********************

A locomotiva

A corneta apita.
Contrariada.
Preferia o sossego de estar parada.
Mas, não se nega.
Pedal a fundo.
A custo, arrasta aquela mole morta.
As rodas chispam sobre os carris.
Depois, ganham fôlego
E não querem outra coisa, se não correr.
Ei-la em marcha alegre e verde pelas encostas e ravinas.
Nos vagões confortáveis,
A gente ufana respira fundo e se emociona.
Aí vão sonhando.
Quem não viaja perde.
Estiola e esquece o gozo de viver.
Ao menos uma vez...


Berlim, 16 de Janeiro de 2021
11h21m
Jlmg


********************

Meras coincidências?

Até poderão ser.
Mas há que explicar.
Cada dia, vou dar uma caminhada.
Para manter o físico.
Pode ser de manhã ou de tarde.
A hora pode variar, por minha vontade.
Pois, encontro sempre as mesmas pessoas.
Sós ou acompanhadas.
De pessoas, filhos ou animais.
Vestidas da mesma maneira.
Reconheço-as.
É verdade?
Qual a lei?
Falta descobrir.


Berlim, 10 de Janeiro de 2021
16h24m
Jlmg

____________

Nota do editor:

Último poste da série de 10 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21755: Blogpoesia (713): "Viver a negativos", "Dar prendas", "Sem asas" e "As cores da paciência", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 10 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21755: Blogpoesia (713): "Viver a negativos", "Dar prendas", "Sem asas" e "As cores da paciência", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Viver a negativos

Há quem sobreviva a negativos.
Os esquimós.
E há os que vivem sempre a negativos.
Nas contas à ordem.
E há os que nunca sairam e também vivem.
Como se vê é uma questão de perspectiva.
Os esquimós podem ter sempre saldos positivos nas suas contas.
E, até, serem ricos.
Vivem da caça e esta abunda.
É positiva a falta de ar.
Faz-nos lutar por ele.
O sangue, para correr nas veias,
Tem de ter energia.
E, sem trabalho, não há energia.
Como se vê, esta é a nossa condição de vida.
É a lei natural que subjaz a tudo.
Vem isto a propósito do teorema de Pitágoras.
Que explica como tudo funciona na Natureza.
Só um bocadinho.
O nosso filho mais novo descobriu um pouco.
Uma revista científica da área, publicou o seu trabalho e classificou-o como inovador.
O resto, apareça quem o descubra!...


Berlim, 4 de Janeiro de 2021
11h49m
Jlmg


********************

Dar prendas

Dar e receber prendas é uma festa que se faz e se recebe.
Mostra que, afinal, somos importantes para alguém.
Uma vez que seja, de quando em quando.
Ser padrinho ou madrinha cria laços
Que apertam nossas vidas.
Pela Páscoa e pelo Natal.
Aquela regueifa fofa.
Aquelas peúgas a cheirar a novo.
A bênção que lhes pedíamos.
Traziam paz e confiança.
Não estávamos sós nos nossos passos.
Uns segundos pais a nos darem as suas mãos.
Dá saudade relembrá-los agora que somos maduros.
Tudo riquezas dos velhos tempos
Que a modernidade desconhece.
Recuou-se muito nesse sentido.
Está-se mais pobre em humanidade.


Berlim, 5 de Janeiro de 2021,
20h3m
Jlmg


********************

Sem asas

Meus pés, atolados ao chão,
Lamentam a sorte que a natureza lhes deu.
Preferiam ter asas
Para poderem voar.
Mal as batessem,
Subiriam ao céu.
Ao mundo dos sonhos.
Esqueceriam as bolhas
Que as botas lhes fazem.
Se livrariam das pedras
E das topadas que dão,
Com sangue a correr.
Mas perderiam o convívio da gente
E do bem que ele faz.


Berlim, 8 de Janeiro de 2021
16h30m
Jlmg


********************

As cores da paciência

Manto leve e transparente
Que cobre de cores nossa vida.
Arrefece a dor.
Sara as mágoas.
Finge ser o que nem sempre é assim.
Acalma os nervos.
Trespassa paredes de ingratidão e de abandono.
Derrete as agruras do dia-a-dia.
Faz renascer a paz e a esperança em melhores dias.
É dos humildes e dos pacientes chegar de pé ao fim,
Sem desistir.


Berlim, 9 de Janeiro de 2021
20h35m
Jlmg

____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21730: Blogpoesia (712): "Nunca esperei...", "Vultos na noite" e "Folhas caídas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728