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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21587: Bombolom XXVIII (Paulo Salgado): Saudação e participação

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor dos livros, "Milando ou Andanças por África", "Guiné, Crónicas de Guerra e Amor" e "7 Histórias para o Xavier", com data de 25 de Novembro de 2020:

Meu Caro Luís Graça,
Meus Caros Coeditores,



O meu Bombolom

Era devida a lembrança do Padre Macedo. Ocorreu-me trazer esta memória ao nosso Blogue na sequência do que foi escrito acerca de clérigos que serviram na Guiné. E já após a independência. Devo trazer a terreiro que pude consultar várias obras que abordam a presença em Cabo Verde e Costa Africana até ao Golfo da Guiné de clérigos ao longo dos séculos. Aliás, ficcionei, numa das minhas "Crónicas de Guiné – Crónicas de Guerra e Amor" – a existência simultaneamente atribulada e feliz do Frei Cipriano, que, em Cacheu, se introduziu na população, e converteu, e penou… Agradeço a fotografia que encima o meu texto sobre o grande Padre Macedo.[1]

Em tempo de pandemia, procuro estar atento ao que se passa, e ler, ler, e escrever. Ajuda a combater este bitcho carêto que nos faz emburacar e isolar…
Escrevi "A Revolta dos Animais" – um livro que se dirige aos jovens e não apenas. Nele procurei colocar os animais (seus representantes por eles escolhidos) a dialogar entre si e com os deuses gregos, reunidos na Acrópole. Para, de seguida, de forma ordeira mas firme, se dirigirem à ONU para apresentar as suas reivindicações… Mais não digo.
A capa e contracapa do livro vai junto (ver anexo). O livro tem a apresentação de Tiago Rodrigues (Director do Teatro Nacional D. Maria II), meu Amigo e filho de um grande meu Amigo, o Rogério Rodrigues (ver abaixo). E tem a ilustração pro bono da grande pintora Josete Fernandes, natural de Cedães, Mirandela, onde vive e tem o seu ateliê, e onde é possível apreciar a sua riquíssima e vastíssima obra.
Ofereci o livro à Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, minha Terra. O objectivo é distribuí-lo pelos jovens do Agrupamento de Escolas Dr. Ramiro Salgado.
Quero registar outra iniciativa: a minha mulher, a Maria da Conceição, atreveu-se a fazer a fotobiografia da presença do seu soldadinho na Guiné – anos de 70-72. Para os meus netos saberem o que foi a guerra colonial e como o avô a passou, e como tanta gente sofreu, lá e cá, durante treze anos. Não é tempo para esquecer, como não se esquecem as invasões francesas, as guerras mundiais, os descobrimentos…o bom e o mau…

Outras iniciativas estão na calha. Delas falarei mais tarde.

Aproveito para dar os parabéns aos magníficos textos dos camaradas escreventes neste Blogue. Recordo, sem esquecer outros, o Hélder, o Beja Santos, os poetas, o José Martins, o Abel Santos.

Aos bloguistas e seus Familiares, desejo saúde e resiliência (lá, na guerra colonial, utilizávamos a expressão resistência…).

Um abraço.
A partir de Torre de Moncorvo.
Paulo Salgado
25.11.2020

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Notas do editor:

[1] . Vd poste de 24 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21579: (In)citações (172): Frei Francisco Macedo (1924-2006), um madeirense, homem de Igreja e de Cultura, profundamente ligado à história contemporânea da Guiné-Bissau (Paulo Salgado, ex-alf mil op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)

Último poste da série de 23 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21475: Bombolom XXVII (Paulo Salgado): Drogas na Guerra Colonial - Um comentário e uma história

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21579: (In)citações (172): Frei Francisco Macedo (1924-2006), um madeirense, homem de Igreja e de Cultura, profundamente ligado à história contemporânea da Guiné-Bissau (Paulo Salgado, ex-alf mil op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)


Guiné- Bissau > Bissau > c. 2010 > Vista aérea do centro histórico: Av Amílcar Cabral (, antiga Av da República, que partia da Praça do Império). Em primeiro plano, a Catedral de Bissau. 


Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (*)



Paulo Salgado

1. Mensagem do Paulo Salgado [ex-Alf Mil Op Esp, CAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72); transmontano de Torre de Moncorvo, administrador hospitalar reformado;  autor dos livros, "Milando ou Andanças por África", "Guiné, Crónicas de Guerra e Amor" e "7 Histórias para o Xavier"; autor também da série do nosso blogue, "Bombolom"; tem mais de um centena de referências no blogue]


Data - 27/10/2020 , 22:28
Assunto - O Padre Macedo: a memória de um franciscano, um cidadão e um clérigo exemplar.

Camaradas do Blogue,

Desejo partilhar convosco uma referência ao Padre Francisco Macedo, natural da Madeira, tendo-lhe sido prestada uma singela e sentida homenagem em 2007. Mas nunca é demais recordá-lo. 

Por esta razão, respigo, abaixo, alguns trechos da referida homenagem. Escreveu-se, bem, sobre Frei Heitor Pinto Rema (**). Permiti-me que invoque Frei Francisco Macedo.

Confesso que não conhecera o Frei Francisco Macedo, no tempo da guerra; apenas travei conhecimento com este grande cidadão e clérigo por força de duas circunstâncias felizes.

Na minha primeira ida à Guiné-Bissau, entre Novembro de 1990 e Outubro de 1992 – portanto quase dois anos, tantos quanto a tal estada entre 1970 e 1972 – fui à residência dos franciscanos para cumprimentar o Padre Sobrinho, também franciscano, irmão do Dr. Sobrinho, meu antigo professor no Colégio Campos Monteiro, em Torre de Moncorvo. Naquele momento, tive oportunidade de conhecer o Padre Macedo. Por três vezes visitei os decanos franciscanos na sua residência e havia…um sempre um Porto!

O segundo aspecto respeita ao facto de a minha filha Maria Paula (quinze anos) ter sido aluna de Português (11.º ano) do Padre Macedo. Com a temperança que se lhe reconhecia, os alunos adoravam-no. E acabavam por aprender a língua portuguesa. 

Um dia, fui buscar a Maria Paula ao fim da tarde, e o Padre Macedo chamou-me e disse: "Sabe, a sua filha é, talvez, a melhor aluna de Português que tive ao longo de mais de quarenta anos".

Claro que fiquei feliz!  (***)

Paulo Salgado 
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Frei Francisco Macedo: Homem de Igreja e de Cultura (1924-2006)  (Excertos)

Ecclesia > Abr 4, 2007 - 10:57  

Realizou-se no passado dia 1 de Abril, uma homenagem póstuma ao Fr. Francisco Macedo, no Centro Cultural John dos Passos, na Ponta do Sol, Made
ira.

Sendo o primeiro sacerdote franciscano natural da Ilha da Madeira, após a extinção das Ordens Religiosas em 1834, pretendeu-se com esta homenagem dá-lo a conhecer na sua terra natal e perpetuar a sua memória. 

Esta homenagem contou com o apoio da Câmara Municipal da Ponta do Sol e da Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Para além dos autarcas locais, marcou ainda presença o Bispo do Funchal, D. Teodoro de Faria e o Provincial dos Franciscanos, Fr. Isidro Lamelas. (...) 

Fr. Macedo nasceu na Ponta do Sol a 2 de Abril de 1924. Por influência da avó paterna, terceira franciscana, entrou para a Ordem Franciscana em 1937 (Colégio de Montariol, Braga), tendo realizado a Profissão Solene em 1946, no Convento de Varatojo, e a Ordenação Sacerdotal em 1949, no Seminário da Luz, em Lisboa. 

Após uma curta permanência na Casa de Sto. António à Sé, partiu para as missões da Guiné-Bissau em 1951. Como missionário distinguiu-se, sobretudo, como pedagogo e educador da juventude. Sendo professor do Liceu Honório Barreto, em Bissau, recebeu a mais alta distinção do país pelos bons serviços prestados ao serviço da Educação: a condecoração com a Ordem de Instrução Pública, a 4 de Fevereiro de 1968, pelas mãos do então Presidente da República, Américo Tomás. 

Em 1973 toma posse como Reitor do mesmo Liceu, na presença do então Governador da Guiné, General António Spínola, sendo reconduzido no cargo, em 1975, pelos novos dirigentes da Educação, após a independência do país. 

No ano seguinte, convidado a trabalhar no Ministério da Educação, torna-se Assessor e Conselheiro do Ministro da Educação, chefiando o Gabinete de Planeamento e Estatística, departamento central do ministério. 

Foi ainda Director do Liceu Diocesano João XXIII, desde 1983, por indicação do Bispo de Bissau, D. Septtimio Ferrazetta. (...)

Fr. Macedo dedicou-se ainda à promoção do cinema, da fotografia, do teatro e da dança. Contudo, foi na música e no canto que mais se fez sentir o seu pendor artístico.

Criou o Orfeão de Bula, com cerca de 100 vozes, executando, estes, canções em latim, a três e quatro vozes, na Catedral de Bissau, nos ofícios e cerimónias da Semana Santa.

Presidiu à Comissão Diocesana de reforma e adaptação do canto litúrgico, tendo musicado, em três livros, os salmos dominicais vertidos para o Crioulo.

Foi ainda o responsável pela encomenda do órgão de tubos da Catedral, de fabrico alemão, em 1955, por ocasião da visita do Presidente da República, Higino Craveiro Lopes, tendo composto a música e letra de um hino, para esse efeito, que ficou célebre em toda a Guiné.

Deixando de trabalhar no Ministério da Educação da Guiné, em 1989, é condecorado pelo Governo do país que o louvou, oficialmente, pela Ordem nº 1/89, do Conselho de Ministros, reconhecendo-lhe as “excepcionais qualidades reveladas no exercício das diferentes funções que lhe foram confiadas no âmbito da educação, pelos seus dotes de inteligência, capacidade de trabalho, dedicação e espírito de sacrifício do que adveio uma profícua colaboração em prol do ensino, o que é grato destacar em sinal de reconhecimento do governo e do povo guineense”.

Em 1997, regressa a Portugal, por motivos de saúde. Após algum tempo no Convento de Leiria, foi colocado no Convento de Nª. Sra. da Penha, no Funchal. 

Foi Superior da Fraternidade, Assistente da União Missionara Franciscana (UMF), Capelão do Instituto Prisional da Cancela e, sobretudo, Confessor em muitas comunidades religiosas e paróquias. Faleceu a 6 de Março de 2006. 

 
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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 14 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20344: Roteiro de Bissau: fotos de c. 2010, de um amigo do Virgílio Teixeira, empresário do ramo da hotelaria - Parte I


(***) Último poste da série > 6 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21520: (In)citações (173): Muitos parabéns, Professor Jorge Cabral, meu Mestre! (Petrouska Ribeiro, Luanda)

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21475: Bombolom XXVII (Paulo Salgado): Drogas na Guerra Colonial - Um comentário e uma história

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor dos livros, "Milando ou Andanças por África", "Guiné, Crónicas de Guerra e Amor" e "7 Histórias para o Xavier", com data de 18 de Outubro de 2020:


BOMBOLOM DO PAULO SALGADO

DROGAS NA GUERRA COLONIAL – UM COMENTÁRIO E UMA HISTÓRIA

Ainda a propósito do livro “Drogas em Combate. A Guerra Colonial”, de Vasco Gil Calado, Editora Lua Eléctrica, Junho de 2020, sobre o qual não tomo uma posição acabada e crítica, mas permito-me a liberdade de fazer um comentário e transcrever uma lenda.

1.º Comentário

Tem a ver com a minha experiência na Guiné.

Pertenci a uma companhia independente – a CCAV 2721 (1970-1972) – que esteve aquartelada no Olossato, bem perto do Morés, fazendo um triângulo com Mansabá e Farim. Segundo o modelo de combate de quadrícula, ali estávamos, no fim da picada que ia de Bissorã (a partir dali estava minada…), a mesma picada que outrora continuava até Farim, e que eu, acompanhado pela minha mulher e Moura Marques percorremos na totalidade, com uma sensação de alívio em 2006…).

Se é certo que outras zonas eram muito mais perigosas, não deixámos de sofrer nas emboscadas, nos patrulhamentos, nas flagelações – com feridos (vários) e mortos (2).

Ora, se o ambiente era de guerra, se dentro do arame farpado viviam cerca de cento e cinquenta homens, jovens éramos, tal poderia levar ao consumo de bebidas alcoólicas. E havia momentos de mais bebida, sim. No bar se bebiam à farta cervejas e whiskey, mas nunca antes de uma operação. Como evitar o cansaço, o isolamento, a pequena disputa na caserna, a ausência de notícias, em especial das mulheres dos militares já casados? No entanto, drogas, não havia. E eu estava particularmente atento, porque em Coimbra, quando estudante, passando alguns momentos na Clepsidra, sabia que estava na fase da experiência o consumo de drogas entre os estudantes, embora pouquíssimos – tanto quanto me apercebi.

Ah, mas havia a cola, um fruto, bonito fruto. As populações chupavam a cola – o fruto das plantas malvaceae, e que existem na África Ocidental e no Sudeste Asiático. Existem muitas espécies de cola. Possui um gosto amargo e detém grande quantidade de cafeína. Por terem propriedades estimulantes e até excitantes do sistema nervoso e muscular, podem ser “mascadas”, “chupadas”. Isto era utilizado pelas populações e pelas nossas milícias. Aliás, nas “banquinhas”, lá estão as diversas espécies de colas – o que apreciei melhor aquando das minhas sucessivas idas à Guiné-Bissau como cooperante.

Uma nota: os escravos mascavam colas para suportar trabalhos penosos.

Nos patrulhamentos, quando passávamos junto de uma árvore da cola houve oportunidade de a provar.

Noz de cola - Foto retirada da Wikipedia

2.º Lenda

Acerca deste fruto, a cola, transcrevo um belo texto acerca dos costumes dos povos da Guiné. É narrada pelo historiador e antropólogo que escreveu muito sobre os costumes de África, em particular da Guiné, Manuel Belchior. Se é certo que este antropólogo serviu os desígnios da nossa presença em África, também é correcto afirmar que deixou textos muito interessantes que a mim me seduzem pelo detalhe, pela descrição e pela profundidade, o que foi meritório.

Faço aqui um parêntesis para afirmar o seguinte: na Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo, a minha terra, e onde a minha mulher e eu agora estamos mais tempo, um fundo bibliográfico de notável importância do Prof. Santos Júnior (1901-1990), eminente médico, antropólogo, ornitologista que calcorreou Portugal, Angola e Moçambique. Tal fundo já foi visitado por investigadores angolanos e moçambicanos, o que vale por dizer, desapaixonadamente, que a História tem de ser contada no que tem de belo e medonho.

Pois bem, eis lenda. Escreveu Manuel Belchior:

«A um futa-fula ouvi há anos no Forreá, uma lenda a respeito da cola, o fruto cujo valor místico e simbólico não conhece par junto dos povos islamizados da Guiné. Conta essa lenda que no momento em que Ádama (Adão) e Aua (Eva) foram expulsos do Paraíso por culpa da nossa primeira mãe, ela, arrependida, chorou copiosamente. E onde essas lágrimas tombaram nasceu a primeira árvore de cola. É esse o motivo por que os frutos têm o sabor amargo e salgado das lágrimas.»

In Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Volume XXII, N.os 87-88. Julho-Outubro de 1967, p. 305.

Paulo Salgado
18.10.2020
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21270: Bombolom XXVI (Paulo Salgado): Jornal "O Tabanca" da CCAV 2721 no Olossato

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21270: Bombolom XXVI (Paulo Salgado): Jornal "O Tabanca" da CCAV 2721 no Olossato

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor dos livros, "Milando ou Andanças por África", "Guiné, Crónicas de Guerra e Amor" e "7 Histórias para o Xavier", com data de 18 de Agosto de 2020:


Jornal “O Tabanca”

Companhia de Cavalaria 2721 – Olossato e Nhacra, de Abril de 1970 a Fevereiro de 1972

Pois é: no Olossato, durante algum tempo – aquele que o tempo de que dispúnhamos e a situação no TO permitiam – construímos um jornal. Chamámos-lhe “O Tabanca”. Fruto de vontades individuais que se fundiram num esforço colectivo, “O Tabanca” pretendia, acreditávamos, ser uma forma lúdica e lúcida de dar vazão a ideias que fossem para além das conversas de bar (importantes naquele escoar das horas), das jogatanas de cartas (um escape pouco saudável) e dos copos bebidos em dia de folga (se folga havia) – sempre que as forças físicas e anímicas careciam de algo diferente.

Sem qualquer pretensão, um pequeno grupo começou a magicar algo que nos envolvesse para além da solidariedade conseguida nos momentos de perigo. A ideia, creio, partiu do Capitão Mário Tomé, Comandante da Companhia, logo secundada pelo Bento, pelo Branco e por mim próprio, depois alargada a muita malta que desejava “entrar” naquela andança. E que entrou. A sério.

Foi uma azáfama: primeiro, no Posto de Comando, tendo conversado, debatido e concluído pela designação a atribuir ao jornal. Penso ter sido o Bento (um “homem grande”) a alvitrar a designação. Já tínhamos quase cinco meses de guerra no lombo, e interessava dar outra coesão às tropas – que fosse para além das actividades bélicas; segundo, ver os pontos de interesse de cada um e do corpo de militares; finalmente, envolver, de forma gradual, a malta. Tivemos sorte, porque havia várias motivações pessoais, como é bom de ver. O Branco foi um desenhador excelente, além de autor. Houve muitas participações, incluindo inquéritos a soldados, cabos e graduados sobre diversos assuntos. Cada um escreveu o que lhe apeteceu, por vezes, muitas vezes, raiando a inconveniência, “o politicamente incorrecto”.

Um sentido importante foi dado: o nome Tabanca pretendia significar a forte ligação à aldeia. Por curiosidade, a ligação à tabanca era efectuada por diversas formas: limpeza diária da aldeia com equipa de serviço e jovens designados pelos chefes de tabanca, num Unimog com bidões construídos para o efeito; reuniões semanais com chefes tradicionais, apoio à população para deslocações nas colunas para Bissorã.






Voltarei ao tema “ligação à tabanca” noutro meu bombolom.

Ainda outra curiosidade da Companhia: fizemos vários encontros culturais e recreativos na Sala do Soldado.

Saíram somente quatro números. Com alguma regularidade. Foi um escape excelente. Um espaço de convívio. Ainda nos uniu mais, na Companhia. Basta ver os artigos através dos sumários de três números, os primeiros, pois perdi o quarto. A deslocação para Nhacra, fez dispersar os diversos grupos por aquartelamentos: Dugal, Tchugué, Ponte de Ensalmá e outros – o que retirou a coesão, que não a amizade e a solidariedade.

Paulo Salgado
Ex-alferes miliciano e comandante de companhia interino
Agosto de 2020.
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21211: Bombolom VI (Paulo Salgado): Amaral Bernardo, um homem bom, um homem grande

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21211: Bombolom XXV (Paulo Salgado): Amaral Bernardo, um homem bom, um homem grande


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 > A famosa e feliz foto do ex-Alf Mil Médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007: a saída do obus 14, de noite.

"Foi tirada com a máquina rente ao chão. Bedanda tinha três. Uma arma demolidora. Um supositório de 50 quilos lançado a 14 km de distância... Era um pavor quando disparavam os três ao mesmo tempo... 


"Era costume pregar sustos aos periquitos... Eu também tive honras de obus, quando lá cheguei... Guileje não tinha nenhum obus, mas sim três peças de artilharia 11.4. A peça era esteticamente mais elegante do que o obus" - disse-me o Amaral Bernardo, no dia em que o conheci pessoalmente, no Porto, no seu gabinete no Hospital Geral de Santo António, que é a sua segunda casa, e onde é (ou era, em 2007) o director do ensino pré-graduado da licenciatura de medicina do ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar/HGSA Ciclo Clínico (ou seja, responsável por mais de meio milhar de alunos, um batalhão; reformou-se, entretanto]...


José Maria Ferreira do Amaral Bernardo, professor catedrático convidado, aposentado, Hospital Geral de Santo António, e  ICBAS, Porto  [ex-Alf Mil Médico da CCS / BCAÇ 2930, Catió, e CCAÇ 5, Catió, Guileje, Bedanda, 1970/72: ,membro da nossa Tabanca Grande ]

Fotos (e legendas): © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de Paulo Cordeiro Salgado [, ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72); administrador hospitalar reformado; natural de Torre de Moncorvo]

Date: quinta, 30/07/2020 à(s) 12:30

Subject: Amaral Bernardo - algumas plavras

Três breves episódios sobre o Camarada, ex-alferes Médico, Dr. Amaral Bernardo, que hoje faz anos (*),

Tenho tido o privilégio de manter um contacto frequente com o nosso Dr. Amaral Bernardo.

Primeiro – O Amaral Bernardo é um intelectual emotivo. Vê-lo apresentar o livro Quatro Rios e Um Destino, de Fernando de Sousa, é comovedor, é infinitamente gratificante.

Neste livro, o autor afirma (transcrevo):

«Este livro, fala de realidades. Fala de mim, da minha vivência, da minha forma de ser e de estar, da minha entrega a tudo aquilo em que acredito. Das minhas convicções, dos meus sentimentos, da minha passagem, por uma Guerra e, suas consequências, de pesadelos sem fim, das muitas emoções.

Nele procurei inserir e exaltar os ensinamentos assimilados, das várias gerações com que me fui cruzando neste caminho da vida, de várias épocas, em dois mundos e duas culturas diferentes.»


Na oportunidade, na messe do Porto, onde decorreu a apresentação do livro, o Dr. Amaral Bernardo, escolhido pelo Sousa, exibe o grande humanismo que o norteou na missão para que foi chamado. Referiu a grande capacidade de resistência à dor do militar ferido, a quem tratou, antes de mandar evacuar para Bissau. O Dr. Amaral Bernardo exibiu, no momento clínico que promoveu, um grande profissionalismo e grandiosidade ética que sempre o norteou.

A falar dos outros, dos que sofreram consigo, mostra-nos o médico atento, organizado e sofredor - no meio de ataques e de andanças pelo Sul da Guiné.

Segundo – Em 1997, voltou o Dr. Amaral Bernardo, já professor no ICBAS [, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salzar, o Porto], à Guiné-Bissau. Num projecto de cooperação – responsável médico na formação de quadros médicos no Hospital Nacional Simão Mendes.

Ali, a mesma atitude generosa, competente, emotiva. Mas firme. Organizada. O que lhe valeu a estima dos médicos guineenses. Nem podia ser de outra forma, pois o Amaral Bernardo não pactua com amadorismo. Mas não esquece o seu humanismo. Que o digam os médicos Dr. João Maria Goudiaby, Dra. Alice e Dr. Armando. Este episódio foi por mim acompanhado de muito perto.

Finalmente, na apresentação do meu livro Milando ou Andanças por África, na Associação Portugal – África, Porto. Vi-lhe as lágrimas reclamarem-lhe a emoção. Sentida.

Amaral Bernardo, és um homem bom. Homem Grande.

Parabéns e muitos anos de vida.

Paulo Salgado (**)
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Notas do editor:



sexta-feira, 3 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21135: Bombolom XXIV (Paulo Salgado): Memória, em catadupas, as minhas memórias, que são, afinal, memórias dos outros



1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor dos livros, "Milando ou Andanças por África", "Guiné, Crónicas de Guerra e Amor" e "7 Histórias para o Xavier", com data de 30 de Junho de 2020:

Camaradas Editores do nosso Blogue

O meu Bombolom (não sei que número…).

Abro os “Diários da Guiné” do Mário Beja Santos, recebidos ontem, dia 29 de Junho de 2020, em tempo de pandemia. Vieram-me à memória, em catadupas, as minhas memórias, que são, afinal, memórias dos outros. Do Suleiman Seidi e do Nhindé Cudé, sargento e alferes de segunda linha, do Jam Fodé, comerciante próspero, e as crianças, e as mulheres, sobretudo a Kadi. Dos soldados, melhor dos soldadinhos (que éramos todos). Para falar deles todos não bastam os livros que escrevi, os livros que li, as narrativas de outros camaradas (gosto de usar a palavra camarada, já o afirmei aqui no blogue, carregada de um duplo sentimento: a partilha da caserna no que ela tem de físico – portanto uma conotação militar – e da noção imanente de companheiro, amigo, até do ponto de vista psicológico; ora, ainda valeria a pena falar no sentido de camarada de ideologia, mas isso nem sempre aconteceu, claro, salvo raras excepções). Para falar deles teria que os ouvir – e foi isso que fiz enquanto cooperante – indo em sua busca. Já estive com eles no meu “Guiné – Crónicas de Guerra e Amor”, e por lá passei no meu “Milando ou Andanças por África”. Até no livro infantil 7 Histórias para o Xavier, meu neto.


Mas hoje quero dizer, clamar, o quão satisfeito fiquei ao abrir o primeiro volume dos Diários. E logo me saltou a ideia de agradecer ao Mário Beja Santos: a delicada dedicatória, a nota explicativa, merecida, dirigida ao Luís Graça, e o comentário oportuno do Virgínio Briote. O que me chamou a atenção – desculpar-me-eis – foram as “leituras de guerra”. Apetece-me dizer: diz-me o que leste e dir-te-ei o que foi para ti o tempo de guerra, em termos de passar o tempo, o tempo vivido para lá das emboscadas e das cambanças e dos tarrafos e dos rios e das morteiradas e dos tiros. O Beja Santos, que me desculpe esta falha de não ter ainda comigo a obra; agora vou ler o sumo que vasto é, e que me trará – quem sabe? – alguma ideia nova.

Uma última palavra neste bombolom de hoje: para mim, a minha escrita está fortemente “agarrada” ao que passei em África. Lá, no Olossato, na Sintra da Guiné, como referiu há tempos o Beja Santos, povoação que visitámos os quatro, num Fiat 127 (!) em 1991, ele, a minha mulher, Conceição Salgado, a minha filha a Maria Paula, e eu, que por lá andou a fazer o 11.º ano e que, feito o doutoramento, quis uma viagem à Guiné, como prémio.

Um abraço. Um agradecimento ao historiador Mário Beja Santos.

Outro aos editores. Merecido. Pela persistência.
Paulo Salgado
30.06.2020
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20106: Bombolom IV (Paulo Salgado): Primeira Guerra e Guerra Colonial

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20887: Efemérides (325): De Santa Margarida ao Olossato - O Testemunho vivo de um soldado (Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp, CCAV 2721)



Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > Rio Farim > 2006 > Cambança do rio..."A bos portuguisis? Pai di nôs!"...



Guiné-Bissau > Região do Oio > Olossato > 2006 > Rio Olossato > O Paulo Salgado e o Moura Marques, 35 anos depois...


Fotos (e legendas): © Paulo Salgado (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado, [ex-Alf Mil Op Esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor do livro (, o mais recente,) "Milando ou Andanças por África" (Torre de Moncorvo: Lema d'Origem, 2019) com data de 19 de Abril de 2020:

Caros Editores, Camaradas,
Em anexo, a carta/mensagem que o Moura Marques me remeteu e que eu gostaria que fosse publicada - com a sua autorização, claro - uma vez que partimos a 4.4.1970.
E há dias, nesse dia, eu escrevi um texto e referi esta intenção de a publicar. [1]
Recordo que há texto no blogue sobre a ida nossa (minha mulher, Moura Marque e eu) e uma foto. Essa estadia do Moura Marques é de 2006.

Obrigado e um abraço camarada.
Paulo Salgado


De Santa Margarida ao Olossato
O Testemunho vivo de um soldado

O Moura Marques é meu Amigo (com letras maiúsculas) – foi 1.º Cabo, que eu promovi, do meu grupo de combate, pois logo ali vi, eu aspirante recente, um homem de costas direitas. Na Guerra, na Guiné, melhor, já em Santa Margarida, e depois no Olossato, e depois em Nhacra, e depois… sempre. A correspondência que temos trocado, os encontros da CCAV 2721, que vamos fazendo, as visitas que ele me fez a Coimbra (estava eu no meu local de trabalho, nos Hospitais da Universidade de Coimbra), a Moncorvo (onde a minha mulher e eu vimos frequentemente, às nossas raízes), as visitas que fizemos a sua casa em Tires, o encontro que tivemos em Bissau, aonde ele foi em 2006, estando nós em Bissau, em acção de cooperação – momentos que fortaleceram a admiração e respeito recíprocos.[2] Às apresentações dos meus livros na Associação 25 de Abril, foi sempre.

Da última vez que o visitámos em Tires (aquando do funeral de outro Amigo nosso, o grande jornalista e poeta Rogério Rodrigues, em Outubro de 2019) fiquei muito satisfeito ao ver a sua biblioteca – mais de duas centenas de obras: guerra colonial, 1.ª GG, 2.ª GG, Guerra Civil de Espanha, romances, alguns ensaios… bravo, meu Amigo, prova que sempre soubeste o que andas a fazer neste mundo. De resto, uma informação mais. Foi motorista de uma CERCI, carregou rapazes e raparigas e conduzia-os a casa e ao centro – um humanista, crede. No dia 4 de Abril último, como habitualmente, telefonámo-nos. Era o 50.º ano da nossa partida, de Santa Margarida para a Guiné. Nesse momento, referiu-me que iria mandar-me uma carta a propósito desta deslocação: a nossa ida para a Guerra.

Devidamente autorizado pelo autor – o meu Amigo Moura Marques – vou pedir aos editores que publiquem a carta. Apenas a “traduzi” para letra mais legível, sem, contudo, fugir da sua forma, com respeito pelo direito autoral. Esta carta é um monumento – na minha opinião. Aliás, guardo as suas cartas numa caixa, como guardo outras de familiares e amigos em outras caixas – numa época em que o registo epistolar se reduz aos computadores… (ainda bem que temos e lemos as saborosas cartas trocadas por Sena e Sofia… e outras…).


Ao ler esta carta, crede, fiquei emocionado, muito emocionado. Traduz sensações e sentimentos que compartilho…

Por isso, meus Caros camaradas Editores, vos peço que a publiqueis.


Guiné-Bissau > Região do Oio > Olossato > 2006 > Rio Olossato > O Paulo Salgado e o Moura Marques, 35 anos depois...

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Aqui vai.


4/4/2020

Paulo Salgado. Meu alferes, meu amigo, meu irmão soldado, de há cinquenta anos.
Hoje foi um dia marcante para o resto das nossas vidas – 4/3/2020. A Companhia 2721 está de partida. Vou ler a minha memória tatuada [acho esta expressão profunda – opinião de quem reescreve a carta].
4 horas da manhã, toque de alvorada para tomar o café no refeitório.
5 da manhã, o Sr. capitão de cavalaria Francisco Vasco Gonçalves de Moura Borges fala na caserna aos seus soldados, porque só havia três militares na companhia, ele, e Severo e Amaro, os dois 2.ºs sargentos.
Palavras do capitão Moura Borges: bem, vamos partir para a Guiné, porque é um dever nosso defender o património que os nossos antepassados que partiram em naus e caravelas por esses mares fora e descobriram e conquistaram e colonizaram vários territórios pelo Mundo fora. Alguém sabe qual foi a primeira descoberta dos portugueses? Como ninguém se chegou à frente, o recente promovido cabo Moura Marques levanta o braço e respondeu, foi a Madeira, meu capitão. O cabo também sabia o ano da descoberta, mas não disse.
Moura Borges fala do treino operacional mesmo que o mesmo se prolongasse por mais tempo pouco adiantava.
Palavras do capitão Moura Borges: porque vocês só vão ser bons soldados quando morrerem quatro ou cinco.
Ironia do destino: Moura Borges foi o primeiro a tombar.
6 horas da manhã. Entrar nas berliets para a estação de Malpique para o comboio que nos despeja no cais de Alcântara.

No cais o cabo Moura Marques descobre que aquele barco velho e ferrugento já tinha levado o pai dele para os Açores, Ilha Terceira, local Praia da Vitória, em 1942. Só que ele viajou como um turista em plena segunda grande guerra mundial. O barco era misto de passageiros e carga. Como só viajava um pelotão de metralhadoras pesadas e alguns civis, nada tinha a ver com o Carvalho Araújo do dia 4/4/1970, com três companhias mais uns quantos de rendição individual, foi uma viagem tipo século XIX.
A 2721 teve direito a algumas tarimbas toscas feitas à pressa em tábuas de pinho, mas nem todos os homens da 2721 tiveram cama, uns trinta no chão, mas as companhias 2724 e 2725 não, foram para o porão do gado que vinha dos Açores para o Continente. Esses soldados chegaram a Bissau em péssimo estado físico e psicológico.
11 horas da manhã. O Carvalho Araújo levanta ferro do Cais de Alcântara; a cena dos familiares é dramática e alguns camaradas choram como crianças. O barco sai a barra do Tejo e volta passada meia hora ao Tejo, entra alguém a bordo, volta a sair e volta a entrar e só às 4 da tarde se faz ao mar, disseram que andava a acertar agulhas…

Quando o cabo Espichel deixou de se ver, saltou uma equipa de tripulantes com tábuas de pinho a pregá-las em caneira da proa para a ré, uma de cada lado. Colocaram dois motores a tirar água do mar que passava pelas caneiras e voltava ao mar depois da obra feita. O chefe da brigada disse para alguns soldados que estavam na coberta, o cabo Moura Marques era um deles. O homem disse: a da direita é para cagar, a da esquerda é para lavar a louça, pois tinham-nos dado um prato e um copo. A colher e o garfo já nós tínhamos no quite da campanha.
E é aqui que nasce a saga das naus e caravelas e pleno século XX, a cena é dramática porque a grande maioria não sabe que uma caneira tem uma função e a outra é para lavar a louça, por isso muitos pratos e copos foram atirados ao mar mas logo aparecia alguém com uma caneta e um papel a tirar o número mecanográfico e o nome para o desgraçado pagar uma dúzia de pratos.

Dia 11/4, chegada a Bissau. Um mundo tão diferente, o calor, os cheiros, os africanos nos seus trajes típicos da sua cultura, a cidade cheia de brancos todos vestidos de verde porque também era a nossa cultura para dominar a outra milenar e dona daquele chão. Chegada ao campo de adidos em Brá, um autêntico campo de concentração, ficámos numas tendas na terra vermelha e dormíamos vestidos nos camuflados todos transpirados, só havia água entre as 4 da tarde e as 5 e dificilmente apanhava água para beber e tomar banho, as latrinas estavam atascadas até à porta, de fezes cobertas de por milhões de larvas. Nesses malditos dias, nunca tivemos uma refeição quente, só tivemos ração de combate para preparar o estômago a ela, pois durante as saídas ela se tornava mais saborosa.

Chegada ao Olossato. Logo no primeiro dia fui posto à prova pelo capitão Vargas, da CCAÇ 2402, com a equipa dos filhos da puta, no curral das vacas, uma noite inesquecível… No dia seguinte, fui apresentado a um soldado da 2402 pelo camarada Benjamim Marques, esse soldado tem o nome de Alberto Dias e trabalhou com o Benjamim no casino Estoril. Não conhecia o Alberto, mas conhecia o pai dele, era chefe dos varredores no Monte Estoril. Dias era a experiência, era a velhice, falou de Có, Mansabá e Olossato, e eu era só ouvidos. E quando começa a falar dos tempos de criança, aí eu descubro que ele e o Benjamim são conterrâneos, do Alentejo, Benjamim não gostava de ser alentejano, de Cascais sim. E bebemos mais três ou quatro cristais. Descobri que já havia dois soldados vermelhos no Olossato…

A povoação do Olossato tem gente muito pobre que vive do gado e da natureza, fiquei de boca aberta quando reparo na etnia balanta só de tanga a lavrar o chão da bolanha com uma pá de madeira, como em 1444 João Fernandes os viu pela primeira vez, pois julga-se que foi o primeiro a viajar por terras da Guiné. Ao fim de mais de quinhentos anos as culturas indígenas não tinham sido contaminadas pelos portugueses. Na minha cabeça fica um ponto de interrogação, este povo não se deixou colonizar ou a colonização foi um embuste, pois eu vi que a maioria dos guineenses não fala o português, talvez na ordem dos 80 por cento.

Primeiro patrulhamento a norte do rio Olossato, ao atravessar aquela ponte presa à margem direita por meio metro de cimento e ferro em resultado de uma carga explosiva no dia 2 de Julho de 1963 pela guerrilha. Logo mais à frente há milhares de invólucros de balas de vários anos de confrontos com o PAIGC, mais à frente saímos da mata e vimos uma serração toda queimada, os camiões já tinham árvores de certa dimensão, nascidas dentro dos chassis, mais à frente uma aldeia queimada. Voltámos a passar à estrada para o lado leste e mais invólucros, as árvores tinham cicatrizes da metralha, as palmeiras sem copa. Acordei para a realidade, pois estou na guerra.

Hoje só restam recordações, boas ou más, ao fim de cinquenta anos ainda me recordo dos vários e diferentes ataques, 2 de abelhas, 5 de malária, e 14 ao quartel fora as do mato do PAIGC.

Recordo-te Salgado, sempre, e mais quatro ou cinco camaradas.

Para ti e esposa Conceição um abraço.
Moura Marques
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Notas do editor:

[1] - 4 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20812: Efemérides (321): No dia 4 de Abril de 1970, saiu a CCAV 2721 do cais de Alcântara em direcção a Bissau (Paulo Salgado)

[2] - 20 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16622: Memória dos lugares (348): Olossato, com o Moura Marques, o Grão de Bico, a São... 35 anos depois (Paulo Salgado, ex-alf mil cav op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72; autor do livro "Guiné: crónicas de guerra e de amor", 2016)

Último poste da série de 17 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20865: Efemérides (324): 17 de Abril de 1968, dia negro para a CART 1689, a morte do Furriel Miliciano Belmiro João (Fernando Cepa, ex-Fur Mil Art)

sábado, 4 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20812: Efemérides (321): No dia 4 de Abril de 1970, saiu a CCAV 2721 do cais de Alcântara em direcção a Bissau (Paulo Salgado)

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado, [ex-Alf Mil Op Esp,  CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor do livro (, o mais recente,) "Milando ou Andanças por África"], com data de hoje, dia 4 de Abril de 2020, relembrando a partida da CCAV 2721 de Lisboa com destino à Guiné.


50 ANOS

No dia 4 de Abril de 1970, saiu a CCAV 2721 do cais de Alcântara em direcção a Bissau (como seria em tempos de Cais da Ribeira, quando embarcavam as naus e carracas e caravelas e galeões, e nela iam marinheiros e grumetes e soldados e pilotos e mestres e boticário e barbeiro e despenseiro e centenas de viajantes que ansiavam a riqueza lá longe, nas lonjuras da África e do Oriente?).

O navio TT Carvalho Araújo na Gare Marítimo de Alcântara
Foto: António Tavares

Durante a viagem de sete dias, no velho Carvalho Araújo (velho navio das viagens para os Açores e Madeira, carregando passageiros e vacas, recuperado para transporte de carne para canhão), os mesmo enjoos de mar que nos séculos XV, XVI, XVII e sempre, e as mesmas chatices nos porões: a monte, matando o tempo com as cartas, e com os olhares tristes postos nas famílias que ficaram.

Há um relato do cabo do meu Grupo de Combate, o Moura Marques1, desde a saída de Lisboa até ao Olossato. Vou pedir-lhe para o registar no nosso blogue, dentro de dias. Um texto notável.

Desejo para todos os camaradas, a vontade de sobreviver, a mesma vontade de sobreviver o melhor possível à presente luta pela vida, aquela vontade que nos fez regressar, e uma saudade aos que partiram, então, e ao longo dos tempos.

Hoje, deixo-vos um poema de Amílcar Cabral – um dos pensadores mais importantes da História da Humanidade (considerado o segundo maior líder mundial - o ideólogo das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde, que surge numa lista elaborada por historiadores para a BBC2). A minha homenagem ao Homem que quis e tentou por diversas vezes o diálogo com os governos de Salazar e de Caetano.

Leiamos este poema “NO FUNDO DE MIM MESMO” (In Antologia Poética da Guiné-Bissau Editorial Inquérito, 1990) – talvez muito nos diga agora, igualmente.
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[1] - O Moura Marques esteve comigo em Bissau em 2006. Como foi interessante a ida ao Olossato e reencontrar amigos da população; os miúdos, homens agora, e os mais velhos recordarem o que se passou.
[2] - Vide, por todos, https://www.cmjornal.pt/mundo/africa/detalhe/amilcar-cabral-considerado-o-segundo-maior-lider-mundial.
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20693: Efemérides (319): O "Jornal do Exército", fundado em janeiro de 1960, faz 60 anos (Jorge Araújo)

sexta-feira, 27 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20780: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (120): A COVID-19 não passará!... Felizes reencontros de 3 camaradas, que estão à distância de um clique... mas fisicamente separados e agora confinados... Falamos de: (i) José Joaquim Pestana, gravemente ferido em combate em 9/3/1970, no Xime, quando era fur mil da CART 2520, e que vive em Torre de Moncorvo, sua terra natal; (ii) José Nascimento (em Faro, a 671 km, de carro); e (iii) Paulo Salgado, amigo de infância e vizinho do Pestana, a 400 metros da sua porta...


CART 2520 > c. abril/maio 1969 > Campo Militar de Santa Margarida > Santa Margarida - José Joaquim Pestana é o segundo de pé a partir da esquerda. O José Nascimemto é o primeiro da esquerda, na primeira fila. O pessoal da CART 2520 (Xime e Quinhamel, 1969/71) partiu para o CTIG, no T/T Niassa, em 24/5/1969.



Guiné > Regiaão de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca > Xime > O Fur Mil Pestana, sentado num heli AL III.

Fotos (e legendas): © José Nascimemto (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Paulo Cordeiro Salgado [ex-Alf Mil Op Esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor do livro (, o mais recente,) "Milando ou Andanças por África" (Torre de Moncorvo: Lema d'Origem, 2019); vive em Vila Nova de Gaia; está neste momento na sua casa de Torre de Moncorcvo, donde é natural;

Date: quarta, 25/03/2020 à(s) 22:31

Subject: O caso do furriel miliciano Pestana

Meus Caros Camaradas editores,

Abaixo o que me parece ser razoável, neste momento, sobre o texto do José Nascimento. Um bom e sentido texto. Acabei de ligar ao Zé Pestana. Como ele não bloga, li-lhe o texto. Ficou admirado...e decerto a pensar que há amigos que se recordam de nós...

Junto abaixo.

Um abraço e coragem perante esta guerra...

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José Pestana - um amigo

Pois é: o texto que o camarada José Nascimento escreveu (*) a falar do José Joaquim Pestana, furriel miliciano da CART 2520, despertou em mim um desejo de partilhar algo sobre este meu amigo. Apreciei a forma como o Nascimento aborda o tema. Obrigado, camarada.

Vamos por partes.

1.º - O Zé – assim o passo a designar – foi meu condiscípulo desde a 3.ª classe até ao 5.º ano liceal, aqui na nossa Vila de Torre de Moncorvo; nas brincadeiras de garotos e já adolescentes, uma amizade sã. Há fotografias que atestam esta fase da nossa vida.

2.ª – Desde jovem, o Zé foi um apaixonado pela viola; ele e o irmão (o Manel, que esteve em Angola, logo em 1961, onde viveu intensamente as "bernardas" iniciais naquela colónia, eufemisticamente chamada província…) fazem um duo de viola e guitarra de grande estilo; ainda hoje tocam quando convidados; eu próprio já me "servi" da sua disponibilidade autêntica e sã aquando da apresentação de um dos meus livros – Milando ou Andanças por África. Mas noutras oportunidades também. Imagino como ele terá sido importante com a sua viola, no Xime…Há fotografias nossas.

3.ª – Fui encontrá-lo em Bissau, em 1970 e ainda um pouco em 1971, por acaso, estando eu de passagem para o Olossato, e logo fizemos algumas almoçaradas de ostras e camarões no Pelicano e noutros restaurantes de Bissau. E conversámos…Apoiou-me logisticamente, pois ele já estava em serviços auxiliares, mas sempre prestando grandes serviços nas novas funções, após ter sido ferido em combate. Há fotografias que atestam estes momentos.

4.º - Vive em Moncorvo e onde eu, actualmente, paro mais vezes; e é tempo de voltarmos a conviver. Acabei de lhe telefonar dando conta do texto e fotos que estão no nosso blogue e ele ficou emocionado – oh, o Nascimento! – referiu.

Infelizmente, estamos confinados por causa deste maldito vírus. Só pelo telefone, apesar de as nossas casas distarem 400 metros, aproximadamente. (**)

Um abraço ao Nascimento.

Paulo Salgado

2. Comentário do José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71), que vive em Faro:


26 mar 2020 15:21




Caro Luís,

Agora sou eu a dizer: Oh, o Pestana?!

Fiquei deveras emocionado com o que acabei de ler.

Estas coisas não se esquecem.

Um abraço para o Paulo Salgado e também para ti, Luís

Nascimento
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20768: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (16): O Furriel Pestana

quinta-feira, 19 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20749: (In)citações (145): Guerra e Vírus (Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp)

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado, [ex-Alf Mil Op Esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor do livro (, o mais recente,) "Milando ou Andanças por África" (Torre de Moncorvo: Lema d'Origem, 2019); africanista no sentido nobre do termo; Administrador Hospitalar reformado, com um vasto currículo, que inclui a Guiné-Bissau e Angola

Caros Amigos e Editores do nosso blogue,
A vossa saúde.
Que todos sejamos cumpridores.

Um abraço e um texto, abaixo.
Paulo Salgado

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Camaradas do Blogue:

A guerra… o que é a guerra? O que fazem homens e mulheres durante a guerra? Quem é o inimigo?
Se fizermos uma retrospectiva histórica, desde a Antiguidade até aos nosso dias, que guerras foram travadas? E por quem foram travadas?

A lista é incomensurável. Se os camaradas se derem ao trabalho de ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_guerras, verificarão quão brutal é o homem!

Desde a Suméria até aos nossos dias… quantas guerras… Ou acreditamos que os homens são naturalmente bons, como defendiam Thomas Morus e Rousseau, por exemplo, e acharem que o homem nasce livre e bom… ou é naturalmente mau. Homo lupus homini [, o homem, lobo do homem].

Eu gostaria de acreditar na primeira premissa, mas as circunstâncias tornam-no, ao homem, invejoso, ganancioso, imoral, como contrapôs Voltaire; na verdade, a humanidade não funciona como um relógio certinho… a que Deus não está, infelizmente, atento, como defendia Spinoza. E Aldous Huxley afirmava o seguinte: que os homens não aprendem com a História e que esta é a mais importante de todas as lições que a História tem para ensinar…

Apesar de tudo, nas guerras sabia-se, (quando havia confronto directo), ou imaginava-se saber (quando havia guerrilha) onde estava o inimigo. Agora, onde está o inimigo do homem? O inimigo de todos os homens em todos os quadrantes? Ele é invisível, e pode estar ao nosso lado.

Agora os homens estão do mesmo lado. Vamos combatê-lo com as armas que temos na mão: comportamentos saudáveis, normas que nos são referidas e/ou impostas.

Eis – penso – uma guerra que  se ganhará sem lanças, sem morteiros, sem canhões, sem fiats, sem napalm…

Assim, almejaremos a vitória contra o COVID-19.

Um abraço, companheiros.
Paulo Salgado

[Para saber mais, vejam o sítio da Direcção Geral de Saúde]
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20734: (In)citações (145): "Gosto da Guiné - Bissau e Tenho Orgulho de o Dizer": vídeo do Zeca Romão, de Vila Real de Stº António, Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto) e CCAÇ 16 (Bachile, 1971/73)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20465: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (7): Paulo Salgado (ex-alf mil op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)


Guiné-Bissau >  s/l > s/d >  A  São e o Paulo


Guiné-Bissau > Região de Bolama / Bijagós >  Ilha de Canhabaque (ou ilha Roxa) > s/d


Guiné > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > Os rápidos do Saltino  > s/d > Foto tirada da ponte...


Guiné> s/l >  16 de setembro de 2005 > Uma bolanha


Guiné > s/d > s/ l> Belos nenúfares num afluente do rio Geba... Sempre deslumbrante esta Guiné - a da Natureza!

Fotos (e legendas): © Paulo Salgado (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Paulo Salgado no regresso ao Olossato,
em 2006
1. Mensagem de Paulo [ Cordeiro] Salgado, [ex-alf mil op esp,  CAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor do livro (, o mais recente,) "Milando ou Andanças por África" (Torre de Moncorvo: Lema d'Origem, 2019); africanista no sentido nobre do termo; administrador hospitalar reformado,  com um vasto currículo, que inclui a Guiné-Bissau e Angola; é casado ocm a Conceição Salgado, também nossa grã-tabanqueira, natural de Torre de Moncorvo;  tem mais de 9 dezenas de referências no nosso blogue]


Data: domingo, 15/12/2019 à(s) 21:35
Assunto: Natal

Amigos e Familiares,

Aproveito o que tem de bom a tecnologia de comunicação, esta ferramenta, que globaliza e aproxima. Às vezes embrutece e afasta, é certo. Faço-o por duas razões: a primeira, porque quero lembrar-me de pessoas que vou conhecendo, vim conhecendo, ao longo da vida (claro que incluo aqui os familiares porque eles merecem o poema): a segunda, porque junto excertos de um belo poema de um grande poeta e jornalista - meu amigo de sempre - falecido há cerca de dois meses, cuja obra tem força, é telúrica: Rogério Rodrigues. Leiam-no. Por favor.

Por isso, junto estes excertos.

Feliz Natal, com um abraço - nesta festa de família (e de amigos).

Paulo Salgado
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QUANDO O NATAL CHEGAR…

Quando o Natal chegar
liberta o pirilampo e liberta a luz
arruma a ternura e arruma a casa.
E areja o sótão da tua infância.

Quando o Natal chegar
dá música aos surdos
e palavra aos mudos
afaga laranjas nas mãos frias
e figos secos ao luar
e amêndoas de Agosto a quem chegar
e limões, e ácidos limões, em teu lugar.


Quando o Natal chegar
adormece à beira dos violinos
com a loucura dos deuses
e a tristeza de Mozart.

Que os deuses devem estar loucos
porque a lareira está-se a apagar.


Quando o Natal chegar
Talvez amor e amar.
Dádiva por dádiva,
aceita, é de aceitar.


Pedro Castelhano (pseudónimo de Rogério Rodrigues)
In (Re) Cantos d' Amar Morto. Lisboa,  Âncora editora, 2011.
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20462: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (6): Patrício Ribeiro, no calor(zinho) de Bissau... (às 17h00 de hoje o céu estava limpo e faziam 32 graus)

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20106: Bombolom XXIII (Paulo Salgado): Primeira Guerra e Guerra Colonial

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor do livro "Milando ou Andanças por África", com data de 22 de Agosto de 2019:

Meus Camaradas do Blogue,
No meu livro Milando ou Andanças por África, tive oportunidade de falar de um combatente da Primeira Grande Guerra – homem que conheci nos meus tempos de pré-adolescência e que me encheu a alma de histórias fantásticas, decerto verdadeiras, ainda que narradas após mais de cinquenta anos…

Aí vai um pedaço da narrativa do velho Ti Brasas (nome fictício do combatente, pedreiro era…):

Paulo Salgado


O Bombolom IV - Primeira Guerra e Guerra Colonial
 

De MILANDO OU ANDANÇAS POR ÁFRICA

Da Quarta Andança – O Pedreiro

Sentados no muro da propriedade, chamada Pombal, ancião e jovem em amena cavaqueira, um revivendo o passado, emocionado, outro, embebecido com a narrativa.

- Conte lá, Ti Brasas, como foi a viagem e a chegada a Moçambique para combater no norte contra os alemães durante a Primeira Grande Guerra – pediu Pedro.

E o bom velho recordou, indo buscar lá bem atrás as lembranças:
- O barco Moçambique ia atafulhado de militares, nos porões fedorentos, nos deques sebentos, ao relento, espalhados por todos os lados, dormindo mal, comendo mal, deitando o que o corpo não quer ao mar, uma imundície e uma sujeira espalhada pelo navio, obedecendo a graduados de fortes bigodes, imponentes nas suas fardas, estou a vê-los, Pedro, descansando no último convés, à sombra de guarda-sóis, perto da ponte de comando, e a dar ordens a uma confusão de mais de mil homens. Quando passámos o equador, eu pensava que era uma linha traçada a negro, e era, pois negros eram os dias de caloraça e de humidade, sem condições para nos banharmos, e as necessidades era de rabo para o mar e com água do mar lavávamos as nalgas, sem fruta, sem comida que se visse, só desespero, só pequenas lutas nos porões e nos conveses por um lugar melhor para pernoita. Como me lembrava dos melões da Vilariça, das laranjas do Pocinho, das uvas códegas do Larinho, de um cadorno de pão com linguiça, de um ou dois ou três copos de tinto, ali só um caldo deslavado e batatas cozidas com pele e migadas por um azeite mal rançoso!

Onde é que vimos alho semelhante? Ah, no velho Carvalho Araújo, de 1970… transportador de carne para canhão, como o Moçambique de 1914…

"Carvalho Araújo" - Com a devida vénia a Navios Mercantes Portugueses
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18845: Bombolom III (Paulo Salgado) (3): O desembarque das tropas em Cabo Delgado (1915) e no Pidgiguiti (1970)

sábado, 11 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19774: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (17): felizmente, estou vivo; infelizmente, não posso estar com vós, em Monte Real, dia 25 (Luís de Sousa, Garcez Costa, Mário Santos, Jorge Coutinho, Manuel Coelho, Valdemar Queiroz, Manuel Vaz, José Manuel Alves, Mário Serra de Oliveira e Paulo Salgado)



Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > O nosso homem do PIFAS, o Garcez Costa, ex-fur mil... Os outros dois representantes do PIFAS, com "morança" na Tabanca Grande, Silvério Dias e João Paulo Dinis, não estão estão inscritos no XIV Encontro Nacional, Monte Real, 25 de maio de 2019...  O Garcez ainda não sabe se pode vir...O João Paulo Dinis não vem. Do Silv´rio Dias (e da "senhora tenente" não tenho notícias,,,

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. Mais 10 camaradas e amigos, com "morança" na Tabanca Grande, que felizmente estão vivos, mas que infelizmente não poderão estar connosco em Monte Real, no dia 25 de maio, sábado... Registe-se com agrado e apreço o seguinte: tiveram a gentileza de responder ao nosso convite... 

Entretanto, temos um novo prazo para inscrições dos "retardatários": dia 15,  4ª feira, até às 24h00... Temos, até ao dia 10, sexta-feira, 94 inscrições...


1. Luís de Sousa, 4 de maio de 2019, 14h46

Olá, muito obrigado pelo contacto e respectivo convite.

Estou, de facto, (ainda) vivo mas não conseguirei de certeza me deslocar a Monte Real como seria o meu desejo.

Para todos desejo uma belíssima jornada.
Luis de Sousa
2. Tony Sacavém [Garcez Costa], 4 de maio de 2009, 16h23

Ainda não sei da minha presença, com o  fim de semana agendado antecipadamente mas que poderá não ser cumprido. Aproveito oportunidade de te remeter endereço electrónico do José Manuel Barroso (sobrinho de Mário Soares/Maria Barroso) e que foi o tal 'que fechou as portas do Pifas em 1974'. Se lhe fizeres o convite é capaz de comparecer [...]

Abraços,

3. Mário Santos, 4 de maio de 2019, 16h32

Meus caros amigos e antigos camaradas da Guiné.

A minha actual residência ( Loulé, Algarve) impossibilita-me de estar atempadamente presente como seria meu desejo.

Sou um assíduo, frequentador dos convívios da Tabanca da Linha, onde ainda não falhei um único encontro da Tertúlia desde que me fiz membro em 2017...

Desejo-vos a todos uma alegre, saudável e feliz confraternização.
Saudações especiais aos meus antigos camaradas FAP.


Tudo de bom, e espero ainda um dia vir a poder estar convosco.

Grande abraço, Mário Santos

4.  Jorge Coutinho, 4 de maio de 2019, 17h11

Amigos

Mais uma vez quero agradecer o convite, mas ainda não vai dar... Já tive de recusar o Encontro organizado pela 1ª. Compnhia do 4610, pois tenho uns dias a seguir uma deslocação grande, e não me convém fazer desvios nessa altura.

Um abraço para todos, e bom convívio!!!
Jorge Coutinho

5. Manuel Coelho, sábado, 4/05/2019, 18h02



Mantenho-me por cá e os meus dados não sofreram alterações. Não vou ao convívio.
Um  abraço para todos, Manuel Coelho

6. Valdemar Queiroz, 4 de maio de 2019, 18h03

Luis, a  minha resposta:

Estou vivo, gostaria de ir mas não vou.

Não vou por que nesse mesmo dia, também, a minha CART 2479 / CART 11, faz o seu encontro/almoço anual.

Este nosso evento é sempre feito no último sábado do mês de Maio e, desta vez, o encontro vai ser nas Caldas da Rainha, seguindo para a Tornada, com almoço no Restaurante 'O Cortiço' e espero ter a habitual pachorra do Abílio Duarte de fazer o favor de ser o 112 para me levar e trazer do 'anofelino tratamento'..

Mas, por problemas de saúde não iria ao grande encontro da nossa Tabanca Grande, em Monte Real , que é o grande encontro/convívio da rapaziada que esteve na guerra na Guiné.

Abraços e saúde da boa pra todos, Valdemar Queiroz

7. Manuel  Vaz, sábado, 4/05/2019, 21:29



Amigo Luís Graça:

Estou a responder, logo estou vivo, mas não estou cá nessa altura. Um abraço,  Manuel Vaz

8 José Manuel Alves, 5/5/2019, 11h03

Obrigado pela comunicação.
Gostaria de estar presente, mas não posso;
Que tudo corra bem

Um abraço a todos, J.M.Alves

9. Mario S. de Oliveira,5/5/2019, 10h06

Tal como o "defunto, antes de o ser" (palavras de um defunto antes de o ser)...ainda mexe! Abraço camarada Luis Graça. Já há tempos...e ainda bem que dá noticias. Assim, quando terminar "Bissaulonia", comuni

10. Paulo Salgado, sexta, 10/05/2019 à(s) 19:20
Meus caros camaradas,

Não sou um "habitué" nos encontros da Tabanca Grande - do que me penitencio. Infelizmente, tem calhado em momentos de afazeres domésticos ou familiares ou mesmo profissionais...apesar de aposentado. Direis que não programo convenientemente...

Desta feita, outro encontros - da minha companhia e dos professores - curso de 1962-1964.

Um abraço e boas recordações, Paulo Salgado

II. Em relação ao XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, dia 25 de maio, sábado, vamos continuar a receber inscrições até quarta-feira, dia 15, às 24h00...  

Recorde-se que a inscrição são 35 "balázios", com direito a:

Entradas + Almoço + Lanche ajantarado : Para as criancinhas, até aos 12 anos são só 18 "morteiradas"...

Para quiser ficar alojado  no Palace Hotel Monte Real (4 estrelas ) com pequeno-almoço incluído: Single: 50,00€ | Duplo: 60,00€

Inscrições a cargo de:

Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos): email:carlos.vinhal@gmail.com | telemóvel: 916 032 220