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terça-feira, 28 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19838: (In)citações (132): A cruz de guerra, coletiva, que ainda estou à espera de... receber, mais de meio século depois de um violentíssima emboscada em Darsalame, Baio, subsetor do Xime, em 1965 (João Crisóstomo, ex-alf mil inf, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Enxalé >  CCAÇ 1439 (1965/67) > Algures numa operação no mato, a norte do Enxalé, o João Crisóstomo, ex-alf mil inf, e o seu "guarda-costas".

Foto: © João Crisóstomo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



João Crisóstomo (Nova Iorque)

1. Pedimos ao João Crisóstomo para comentar uma informação por email, de hoje, do nosso colaborador permanente José Martins: 

"Ainda sobre a CCAÇ 1439, há várias Cruz de Guerra, entre elas a do João Crisóstomo.  Sabiam?"... 

O João respondeu-nos hoje, logo de manhã,,, Nós sabíamos dessa cruz de guerra, que ele nunca chegara a receber.  Eis a explicação:

Confirmo.

Não fui nenhum herói, apenas quis (fui obrigado pelas circunstâncias a) defender a minha pele e a dos que estavam mesmo comigo. Eu explico:

Numa operação (a minha memória não me diz já o nome de código) (*), já perto do objectivo, fomos "surpreendidos/emboscados": pelo que depreendo, "esperavam-nos" e de repente o meu pelotão que tinha sido escolhido pelo Capitão Pires [, cmdt da CCAÇ 1439, sediada no Enxalé]  como ponta de lança, caiu num fogo cerrado de frente (a uns escassos metros 15 a 20 metros) e de ambos os lados, numa situação verdadeiramente desesperada. (**)

Vi imediatamente, de meus próprios olhos, um dos nossos guias a cair e dois outros logo a seguir gravemente feridos; felizmente que havia um pequena vala à nossa frente onde a coluna da frente na qual eu estava integrado com o Furriel [António Nunes] Lopes,   nos atirámos. 

Estávamos cortados do resto da companhia, e de eventuais reforços, que compunham esta força e nos seguiam mais para trás. O nosso capitão disse-me, mais tarde, que quando nos viu naquela situação, nos deu a todos por perdidos e que nada podia fazer. 

Eu apercebi-me da situação e berrei ao Furriel Lopes, que estava mesmo a meu lado, e ao meu "guarda-costas", que passassem a palavra (tudo isto foi em segundos, quase em simultâneo com o iniciar do fogo cerrado pelo IN) para, aos três,  lançarmos as granadas de mão e correr em cima deles. 

E foi o que nos salvou: Eles não esperavam por esta reação imediata da nossa parte e, ao verem-nos de pé a correr para eles, a lançar  metralha, levantaram-se e foi um fugir desenfreado. Nem as próprias armas que estavam usando levaram… Para eles tinha-se virado o feitiço contra o feiticeiro como depois verificámos pelos vários corpos IN abandonados, e outros "pormenores",  como sucedia sempre em semelhantes ocasiões.

Ao voltarmos à base o nosso Capitão Pires juntou a Companhia para dizer a todos que muitos dos que estavam ali deviam a sua vida e esta "secção de valentes" (, e mencionou vários nomes, incluindo o do furriel Lopes e o meu,) que não só se salvaram a eles mesmos como possivelmente salvaram muitos outros, pois a "emboscada tinha sido bem montada e teria sido uma gaita" se nós não tivéssemos reagido tão rápido e com tanta coragem como fizemos.

Passados tempos vieram louvores (que mais tarde foram transformados em cruzes de guerra) e entre os recipientes estavam o Capitão Pires, eu, o Furriel Lopes, o meu guarda-costas e, a título póstumo, o guia Adão.

Eu estranhei e disse ao Capitão Pires que todo o meu pelotão merecia a mesma cruz de guerra; mas que, se não quisessem dar a todo o pelotão, a dessem pelo menos a toda a secção que ia na frente: todos fizeram o mesmo, não sabia porque só davam a a condecoração a  alguns.

Depois de voltarmos da Guiné, quando me começaram a enviar cartas para eu e mais duas pessoas da minha família irmos receber a condecoração,  e foram várias vezes, do Funchal, Beja, Lisboa… eu respondi sempre que a iria receber se dessem a mesma medalha a todos os membros da secção da frente (, comandada pelo Furriel Lopes). Como nunca me responderam a este meu pedido (os "convites" eram sempre nas mesmas situações, sem mais nada),  eu nunca fui a parte nenhuma e a minha "cruz de guerra" nunca chegou a sair da gaveta.

Espero que fique explicada a situação. Isto não é "modéstia fingida" da minha parte: trata-se apenas de uma "questão de igualdade" que deve ser respeitada. (***).

Permito-me aproveitar este para dizer que esta reunião [, o XIV Encontro Nacional  da ] Tabanca Grande em 25 de Maio, em Monte Real, foi uma grande experiência para mim. Entre outros motivos, por ver soldados e generais no mesmo nível como simples seres humanos. Um "Bem hajam" a todos estes grandes camaradas com

Um abraço do
João de Nova Iorque.
________________

Notas do editor:

(*) Op Avante, 30 de agosto de 1965, acrescenta o "consultor militar" e colaborador permanente José Martins.

(**) Vd. poste de 14 de julho de  2015 > Guiné 63/74 - P14874: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (3): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte II): João Crisóstomo e António Nunes Lopes, do mesmo pelotão, da CCAÇ 1439, encontram-se 50 anos depois e falam, com emoção e dramatismo, da violenta emboscada que uma vez sofreram em Darsalame (Baio), no subsetor do Xime

(...) Vídeo (7' 31''). Alojado em You Tube > Luís Graça

Lourinhã > Ribamar > Praia de Porto Dinheiro > Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > O João Crisóstomo e o António Nunes Lopes encontram-se ao fim de 50 anos... Pertenceram à mesma companhia e ao mesmo pelotão... E evocam aqui, com uma espantosa precisão de detalhes, e grande emoção, uma dos mais duros episódios de guerra por que passaram, em 1966, em Darsalame (Baio), na zona de Baio/Buruntoni, no Xime, que o PAIGC sempre "controlou" durante toda a guerra, e onde era inevitável haver "contacto" com as NT... Qual o nome verdadeiro do místico soldado, de alcunha "Penálti", de aqui se fala ? Pode ser que alguém saiba mais sobre este homem, que foi herói e desertor...

João Crisóstomo, que é natural de uma freguesia vizinha, A-dos-Cunhados, do concelho de Torres Vedras, fez-se à vida depois do regresso da guerra. Andou pela Europa e Brasil, até se fixar em 1975, nos EUA, onde hoje vive (em Nova Iorque) e que é a sua segunda pátria.

(***) Último poste da série > 16 de maio de  2019 > Guiné 61/74 - P19794: (In)citações (131): A dureza da nossa infância e a guerra (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BCAÇ 3872)

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17593: (De) Caras (85): Gente boa, brava e chã da Tabanca dos Melros em dia de apresentação das "Memórias Boas da Minha Guerra", volume II, do José Ferreira: restaurante "Choupal dos Melros", Fânzeres, Gondomar, 8 de julho de 2017 - Parte II (Vídeo, fotos e texto: Luís Graça)


Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > O autor, visivelmente bem disposto,  no uso da palavra, no final da sessão. Vídeo (8' 45'') disponível em You Tube > Luís Graça
 

Foto nº 1 > Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > À direita, uma das quatro amorosas netas do escritor. De pé, os "melros", da esquerda para a direita, David Guimarães, Gil Moutinho e António Marques Barbosa.



Foto nº 2 > Aspeto geral da assistência


Foto nº 3 >  A "bicha" para a sessão de autógrafos


Foto nº 4 >  O escritor e...  o professor (Joaquim Peixoto). Em segundo plano, de costas, à direita, o Manuel Carvalho; ao fundo, ao centro, o José Cancela.


Foto nº 5 > Dedicatória "ao amigo penafidelense Joaquim Peixoto, camarada da Guiné e de outras guerras, com muita estima e admiração".


Foto nº 6 > O António Barbosa assina o "livro de honra da Tabanca dos Melros", neste caso o cartaz com o evento do dia.


Foto nº 7 > Aspeto dos aperitivos servidos em mesas de tampos de carros de bois, sob uma belíssima latada.


Foto nº 8 > Uma casa cheia de memórias vivas, uma quinta que é também um núcleo museológico da ruralidade gondomarense... e da guerra colonial.  O concelho de Gondomar teve mais de 7 dezenas de mortos na guerra do ultramar / guerra colonial.


Foto nº 9  > Belo exemplar de uma prensa de varas, de um antigo lagar de vinho, em uso no país até meados no séc. XX,  uma tecnologia que remonta aos romanos


Foto nº 10 > Restaurante Choupal dos Melros > À mesa, o "melro" Antero Santos e a esposa. Deste restaurante típico, gerido pelo nosso camarada Gil Moutinho, diz o Expresso ("Boa Cama e Boa Mesa"):

"O restaurante típico Choupal dos Melros, inserido na Quinta dos Choupos, em Fânzeres, está vocacionado para eventos, abrindo apenas ao almoço de domingo para serviço ao público em geral. A sala é cómoda e rústica, com um serviço eficiente e pratos bem preparados em forno de lenha. Tem uma agradável varanda coberta por um telheiro que constitui uma excelente alternativa na época do verão. Boa garrafeira."

Vídeo, fotos e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

terça-feira, 14 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17139: Agenda cultural (546): Apresentação do livro de fotografia, "Buruntuma", do nosso camarada Jorge Ferreira, em Oeiras, no passado sábado, dia 4 (Parte II) - Fotos de tocadores de korá e atuação do mestre Braima Galissá


Tocador de korá (pág. 89)


O "grande batuque" no dia da despedida da guarnição do destacemento de Buruntuma, depois de 11 meses de missão: tocadores de korá (pág. 45)


O "grande batuque" no dia da despedida da guarnição do destacemento de Buruntuma, depois de 11 meses de missão (pág. 45)


Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > 1962 > Tocadores de korá e dançarinos na festa de despedida da força militar que guarnecia o destacamemto, comandado pelo alf mil Jorge Ferreira... O Braima Galissá descobriu, emocionado, entre os tocadores de korá o seu avó e mais familiares.

Fotos do livro de Jorge Ferreira, "Buruntuma: alguum dia serás grande!... Guiné, Gabu, 1961-63 (Oeiras, edição de autor, 2016), pp. 45 e 89.




Vídeo (0'  39'') > You Tube > Luís Graça



Vídeo (0' 48'') > You Tube > Luís Graça


Oeiras >  Galeria livraria Verney >  4 de março de 2017 > Sessãode lançamento do livro de fotografia, "Burutunma", de Jorge Ferreira (edição de autor, 2016) > Excertos da atuação do mestre Braima Galissá, tocador de korá e "djidiu" (*)


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso editor Luís Graça, que fez a apresentação do livro de Jorge Ferreira, teve também a ocasião de dizer duas palavrinhas sobre o Braima Galissá e o seu mágico instrimento, o korá... 

Membro da nossa Taabanca Grande (nº 732), José Braima Galissá nasceu no Gabu (antiga Nova Lamego), em 1964, sendo filho, neto, bisneto, trisneto, tetraneto, e por aí fora, de músicos e cantores ("djidius"), mandingas.. A origem da família remonta há seis séculos, às origens do próprio império do Mail (séc. XIII-XVI) que se irá depois fragmentar, dando origem a  vários reinos, dos quais o do Gabu (1537.1867).

Começou a aprender  o korá. com o seu pai, por volta de 1970, com seis anos. Com a independência tornou-se compositor do Ballet Nacional da Guiné-Bissau e professor de korá na Escola Nacional de Música José Carlos Schwarz.  O golpe de Estado de 1998 apanhou-o em Lishoa, onde desde então passou a residir e a trabalhar. Em Portugal, além de atuar a solo ou com o seu grupo musical Bela Nafa, tem feito sobretudo um trabalho como pedagogo do korá e da música afromandinga.

Considera-se portiguês, "nascido sob a bandeira portuguesa", mas ainda não obteve até agora a tão desejada naturalização que lhe irá permitir circular, com toda a liberdade,  pelo espaço da União Europeia.

Quanto ao korá, é um instrumemto  cordofone, misto de harpa e de alaúde (árabe). Para os mandingas é um instrumemto sagrado, que se toca nos eventos mais importantes, È, digamos, um instrumento de música de câmara.

Braima Galissá  não é apenas um instrumentista, é também herdeiro da  tradição dos "djiudius" ("griots", erm francês), os  cantores ambulamtes ou trovadotres.

No final desta sessão, o Braima tocou e cantou o hino nacional... Todos nos levantámos e acompanhámo-lo. Foi um momento bonito, O Braima emocinou-se. E nós também.

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Nota do editor:

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16884: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (21): José Carlos Mussá Biai, José da Câmara, Aires Ferreira e José Lino Oliveira


Lisboa, Avenida da Liberdade, 18 de dezembro de 2016 > Iluminações de Natal

Vídeo (1' 00'') > alojado no You Tube > Luís Graça


1. Mais algunas mensagens natalícias de amigos e camaradas da Guiné:


 (i) José Carlos Mussá Biai   [o nosso "mininu do Xime", membro da nossa Tabanca Grande, desde longa data, hoje engenheiro florestal, a viver e a trabalkhar em Portugal]


Caros Luís e Camaradas da Guiné,

Mais um ano prestes a terminar e um outro que se aproxima a grande velocidade...
Faço votos que o próximo ano seja melhor do que este que está a terminar, tanto em termos pessoais, familiares e profissionais (para aqules que ainda estão no ativo).

Um Natal muito Feliz e com muita saúde.

(ii)  José da Câmara  

[ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73]

Para os meus fmiliares e amigos um Feliz e Santo Natal. Que o Menino vos traga muita saúde.

(iii)  Aires Ferreira

[ex-alf mil, CCAÇ 1686 / BCAÇ 1912; Mansoa, 1967/69)}

Feliz Natal e um Novo Ano com muita saúde e alegria.

Um abraço


[ex-Fur Mil Amanuense da CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 1974]

Bom dia, feliz Natal, muita saúde  e um bom Ano de 2017.

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16882: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (20): Boas festas com água...Em 2016 ajudámos cerca de 100 mil pessoas a ter água potável junto das suas casas (Patrício Ribeiro, Bissau)


quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16813: Agenda cultural (528): Mestre Braima Galissa e sua banda, hoje, no B.Leza, Cais do Sodré, Lisboa, a partir das 22h30




 

Vídeo (1' 21''). Alojado em You Tube > Luís Graça

 O mestre de Korá José Braima Galissa (n. 1964, Gabu, a viver em Portugal desde 1998). Lisboa, Auditório da Associação Nacional de Farmácias, Lisboa, 6 de dezembro de 2016, no lançamento do livro de Mário Beja Santos, "História(s) da Guiné-Bissau" (Edições Húmus, V. N. Famalicão, 2016). Vídeo: Luís Graça (2016). 

Em segundo plano, os nossos grã-tabanqueiros Francisco Gamelas (Aveiro) e José Eduardo Oliveira (JERO)  (Alcobaça)
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Nota do editor:

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16804: (De)caras (55): Os picas e guias das NT, Malan Djai Quité e Mancaman Biai, que eu conheci, no Xime, em 1972 (António J. Pereira da Costa, cor art ref)



Guiné.Bissau > Região de Bafatá > Xime > Novembro de 2000 > Em primeiro plano, o Lúcio [Damiano Monteiro da] Silva, natural de Vizela,  ex-1º cabo,  CART 3494  (Xime e Mansambo, dez 1971 / abr 1974)... (Aliás, era conhecido por "Vizela".)

Quem seria, entretanto,  este velho habitante do Xime, por detrás do Lúcio Silva, envergando aquilo que se afigura ser uma velha farda ou do FARP / PAIGC  ou do antigo exército português ?... Ao fim de mais de 4 décadas de independência, está praticamente extinta a geração de guineenses que combateu na guerra. ao lado de (ou contra) o PAIGC...


Guiné.Bissau > Região de Bafatá > Xime > Novembro de 2000 > Da margem esquerda (Xime) à margem direita (Enxalé): a canoa ainda continua a ser um meio fundamental de "cambança"



Guiné.Bissau > Região de Bafatá > Xime > Novembro de 2000 > Pirogas em seco, e os "eternos meninos do Xime"...


Guiné.Bissau > Região de Bafatá > Xime > Novembro de 2000 > "Manga de ronco": a chegada da caravana dos "tugas, que veio de longe, do Porto.,..


Guiné.Bissau > Região de Bafatá > Xime > Novembro de 2000 >  O Rio Geba...Do outro lado, a margem direita, onde ficava a bolanha e a tabanca do Enxalé.


Guiné.Bissau > Região de Bafatá > Xime > Novembro de 2000 > Restos do cais acostável por onde, até ao fim da guerra, em 1974, passaram milhares e ,milhares de homens em armas... Já na altura, em novembro de 2000, o cais do Xime era uma desoladora ruína... Com o rio cada mais assoreado, deixou de ser praticável a navegação no Geba Estreito, e nomeadamente a partir de Bambadinca... O transporte dos produtos do leste faz-se agora por estrada...


Fotogramas do vídeo A Outra Guiné (The Other Guinea), de Hugo Costa, legendado em inglês. Vídeo (9' 27''). Ficha técnica: produção: Universidade do Porto, 2012; realização: Hugo Costa e Tiago Costa: diretor de fotografia: Hugo Costa; som: Hugo Costa... Duração: 9' 27''.

Cortesia de Albano Costa e Hugo Costa (2013). Edição e legendagem das imagens: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
.

1. Nesta expedição, por terra, à Guiné-Bissau,  integrou-se um grupo do Norte, incluindo o Albano Costa, ex-combatente em Guidage [ou Guidaje]  e seus amigos, todos antigos combatentes na Guiné,  além do seu filho, Hugo Costa, realizador deste vídeo.

Recorde-se que o Albano Costa já era fotógrafo (profissional) quando fez a sua comissão de serviço, como 1º cabo at inf, na CCAÇ 4150 (Guidaje, Bigene, Binta, 1973/74). A sua paixão pela fotografia fez com que ele seja um dos nossos camaradas com mais e melhor documentação sobre a Guiné, de ontem e de hoje.

Em novembro de 2000, quebradas as últimas "resistências psicológicas", ele voltou à Guiné, agora como simples turista, revisitando sítios por onde estivera vinte e seis anos antes e conhecendo muitos outros de que só ouvira falar (por exemplo, o Xime e parte da  zona leste)...

Nessa altura, juntamente com o filho Hugo Costa (, nmascido em 1978, e então finalista de um curso de comunicação social), e mais um grupo de camaradas, ex-combatentes (, o Lúcio, Casimiro, Armindo, o Carlos, o Manuel Costa, o Xico Allen, etc.), o Albano fez um verdadeiro safari turístico-sentimental, durante 15 dias, de 11 a 26 de Novembro de 2000, percorrendo a Guiné-Bissau, de lés a lés, em dois jipes. Pelo meio apanharam um golpe de estado.

Dessa aventura ficou um extenso registo, em vídeo,  de que nos  chegou, em 2005, uma cópia, em 4 DVD, por mão do Sousa de Castro, o nosso grã-tabanqueiro nº 2. É um excelente trabalho de seis horas, sendo a realização, a insonorização e a montagem do Hugo Costa. Sabemos que o Hugo ficou, entretanto,  com o negócio do pai, dando assim  continuidade a uma empresa que tem a idade de 3 gerações, a Foto Guifões [vd, aqui a página do Hugo no Facebook] (*)



2. Dois preciosos comentários do António J. Pereira da Costa, um  ao poste P16793 (**). e outro ao poste P16772 (***), que nos obrigam (ou convidam...) a reler o notável retrato psicoprofissional que ele fez, em tempos, dos dois picadores e guias do Xime, o  Malan Djai Quité e o Macaman Biai, no poste P5803, da sua série "A minha guerra a petróleo" (****).


2.1. O único sítio onde tive conhecimento que havia guias/picadores, credenciados como tal, foi no Xime. Creio, pois, que se tratava de uma situação pontual. (*)


Tinha dois - o Malan Djai Quité e o Macaman Biai - que era civis assalariados. Não me recordo por quanto e, como já disse, estive próximo de "cortar a colecta" ao Macaman. A detecção de uma mina "reforçava" o pecúlio auferido e aqui recomeçam as suspeitas. Como era possível detectar minas numa zona onde, embora houvesse uns restos de picada, se andava, muitas vezes, a corta-mato, em terrenos de lala? É que bastava passar uns metros mais ao lado e não se detectava a mina... E o o que fazia com que o PAIGC fosse pôr minas num local onde as NT tinham percursos repetidos mas muito aleatórios? Enfim, dúvidas que devia ter tido antes...

O levantamento ficava a cargo do especialista das NT, como verifiquei.

Teoricamente alternavam na realização dos patrulhamentos. Como o Macaman começou a "alternar" pouco, desconfiei e, pelos vistos, com razão. Todavia, "a História o absolverá", como já disse noutros posts em que procurei analisar a complexidade da situação vivida por aqueles que ficavam e ali viviam depois da saída de cada unidade e sem qualquer alteração da situação que se vivia.

Sobre o Malan Djai Quité, ferido na primeira emboscada na Ponta Cóli, mas que, constava de relatório da acção, tinha feito fogo com duas (!) G-3 e de pé, já me pronunciei. Terá apostado no cavalo errado e pagou, caro(?),  a sua fidelidade. Sei que tinha a mulher em Demba Taco o quer seria estranho, se não fosse na Guiné. Poderá ter desaparecido a partir daí...
Vivia num abrigo construído por si mesmo e às vezes parecia ter problemas mentais, como naquela noite em que vestido apenas com uma "ridia" (rede) foi a casa da viúva Maria. O burburinho inerente e ficou-se por aí. 

Era um antigo lutador de luta mandinga e levou ao tapete o Costa - lisboeta e empregado do Sol-Mar - com bastante facilidade. Um dia perguntei-lhe por um chefe guerrilheiro que tínhamos informações que andava por ali, Tóda Na Fenba.
Respondeu:
- O gajo cá presta. Tem cu pequenino de Malan. Um dia jogámos porrada e Malan ganhou.


2.2. Apanhei uma situação [, na 2º metade do ano do 1972] em que já não havia duplo-controlo. Havia ligações familiares e de amizade entre ambas as partes. (**)

Recordo-me que a LDG afundou um vez uma canoa, na curva para o Geba Estreito. Foram salvos e vinham num estado miserável quando me foram entregues no Xime, Esfomeados e rotos,  e um deles era amigo do chefe da tabanca. Tive para com eles as atitudes regulamentares, mas não creio que ficassem por muito tempo. 

Quem estava para Sul do Xime ou tinha feito ou fora obrigado a fazer as suas opções. Todavia, a luta da "guerra a petróleo" era sempre pela população. Sei, por outras vias que não é possível à população "em geral" fazer opções nesta guerra ou numa ocupação de território, por exemplo. 

No caso do Mancaman aceitarei que numa primeira fase ele tivesse querido ficar com os portugueses. No fundo, na óptica dele, eram a facção com a qual tinha a ganhar. Porém, com o evoluir da guerra, ter-se-á começado a aperceber que as coisas não terminariam bem e até terá sido "avisado" de que as coisas, quando a guerra acabasse, correriam mal para "as cores dele".

Que fazer nesse caso? Filosofar e tentar jogar com um pau de dois bicos. Pelos vistos saiu-se bem. Que seja feliz!


3. Comentário do editor:

O primeiro comentário do António J. Pereira da Costa, surge na sequência de um outro comentário do editor em que se dizia:

 "Temos uma dívida de gratidão aos nossos guias e picadores, guineenses... Sem eles, as nossas operações teriam sido bem mais penosas e mortíferas... E alguns pagaram bem caro a sua dedicação às NT... Eram simples civis, assalariados.pagos à peça (mina detetada e levantada, picagem, serviço de guia...). Precisamos de conhecer melhor o seu trabalho no TO da Guiné. Temos falado pouco deles...Na realidade, pouco ou nada sabíamos deles"...

Retomamos aqui um texto, já antigo, mas de antologia, e que como tal merece ser relido, do Pereira da Costa (que foi um dos comdts da CART 3494, no Xime, na 2ª metade do ano de 1972), sobre os seus dois guias picadores (****).
_________________


(***) Vd. poste de 29 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16772: (De)Caras (63): Em homenagem ao António Vaz (1936-2015), que nos deixou há um ano na véspera de natal: "os guias e picadores do Xime: Seco Camará 'versus' Mancaman Biai"

(****) Vd. poste de 12 de fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5803: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (2): Os guias e picadores, mandingas, do Xime, Malan e Mancaman: duas maneiras diferentes de ser e de estar na guerra...


(..:) Passei ali, [no Xime,]  aqueles que, ainda hoje, considero os cinco piores meses da minha vida. Por razões que não descortinei, nessa altura, a CArt 3494 utilizava dois guias-picadores para as suas operações e que eram pagos como tal: o Malan Djai Quité e o Mancaman  [Biai](...). Teoricamente guiariam alternadamente as forças que saíssem, procurando também detectar minas, o que lhes asseguraria um pequeno pecúlio, creio que de cerca de mil escudos, por cada mina anti-pessoal e dois contos, por cada mina anti-carro.

Estas, porém, o inimigo não tinha muito motivo para utilizar, uma vez que a tropa saía sempre em direcção ao Sul e apeada, considerando que nessa direcção não tínhamos qualquer aquartelamento até à curva do Corubal. Nunca entendi bem como é que numa área onde andávamos a corta-mato ou por trilhos pouco batidos, se poderiam colocar minas com boa possibilidade de serem accionadas. O inimigo poderia colocá-las, mas nada lhe garantia que iríamos passar naquele trilho e não a todo-o-terreno ou não abriríamos outro, alguns metros mais ao lado, que a Natureza pressurosamente iria fechar nos dias seguintes.

Detectar minas parecia-me uma coisa problemática, a menos que se soubesse onde íamos passar e, forçosamente com pouca antecedência, ali as colocassem. Efectivamente, da antiga estrada para a Ponta Varela e Ponta do Inglês restava pouco mais de um quilómetro. Depois, o terreno era "todo ou quase todo igual" e a progressão era feita a todo-o-terreno, com uma ou outra referência. Claro que poderíamos descer pela margem do rio, tendo-o sempre à vista e ao nosso lado direito, o que facilitava o movimento e dava a possibilidade de nos opormos às travessias, que, às vezes o inimigo tentava mesmo à luz do dia. De qualquer modo, uma coisa era certa: o caminho que seguiríamos entrava no âmbito do cálculo das probabilidades, um a dois quilómetros depois de sairmos do arame farpado.

Eram bem diferentes os dois guias, embora fossem ambos mandingas.


O Malan [Djai Quité], mais velho, 
rondaria os cinquenta e cinco anos... 


Era, portanto velho, no contexto da população, mas exibia os restos de uma constituição física notável que lhe permitia realizar sozinho trabalhos agrícolas, recorrendo a alfaias tradicionais. Usava uma espécie de remo, com cerca de dois metros de comprido e, espetando a pá no solo com uma inclinação inferior a 45º, ia removendo pasadas de terra que punha para o lado, abrindo uma leira onde plantava arroz.

Outras vezes, pescava com uma espécie de rede (uma ridia, como ele dizia) e apanhava uma espécie de lagostins cuja cabeça tinha o comprimento quase igual ao do corpo. Eram saborosos e, infelizmente, poucas vezes apanhava mais de dez. Estou em crer que seria uma espécie de lagostins adaptados à água salobra, muito semelhantes aos que, por cá se desenvolvem nos arrozais.

O Malan fumava um daqueles cachimbos de madeira que enchia com toda a calma, dobrando cientificamente a folha do tabaco. Era um trabalhador infatigável e um guia de confiança. Era casado com uma mulher, mas vivia sozinho num abrigo minúsculo, construído por ele. Aproveitava o reabastecimento às auto-desfesas para visitar a mulher, em Demba-Taco. Levava-lhe dinheiro e alguns produtos da terra e eu nunca entendi de que é que uma mulher bastante mais nova que ele, vivia numa tabanca tão pequena e com tão poucos recursos.

Ao que me foi dito, durante os ataques com armas pesadas, sentava-se tranquilamente em cima do abrigo a fumar o cachimbo e explicava que "O homem 'mure', quando 'mure'!" e, por isso, não tinha grande necessidade de se abrigar. Ao que parece teria problemas sexuais de impotência, mas também de desejo.

O alferes Pinho, da Artilharia,  contou-me que um dia, durante uma operação, resolveu pôr-se a gritar no meio da bolanha de Lântar: "A tabanca matou o meu caralho!", enquanto mostrava a "prova do crime". Durante o meu tempo, só recebi queixa da Maria, viúva de um furriel dos comandos, e que vivia com um filho de quatro ou cinco anos.

Uma noite, o Malan resolveu visitá-la. Creio que não terá sido bem recebido ou nem sequer tolerado nas proximidades. Depois... uma intervenção da vizinhança em apoio da Maria resolveu o problema. No dia seguinte, ela veio apresentar queixa e eu lá tive que "lavar o cérebro" ao Malan. (...)

Um dia recebemos informações de que Tóda Nafemba e o Biota Tanhala andavam pelas redondezas e preparado-se para fazer das suas. A notícia (A-1, como é de calcular) dizia que um deles era natural do Xime. Convoquei o Malan e perguntei-lhe se sabia quem era. Respondeu-me que sim e acrescentou:
- Esse gajo cá presta e tem cu pequenino de Malan.

Intrigado quis saber porquê. Fiquei então a saber que o Malan tinha sido campeão de uma espécie de sumo, mas praticado com algo parecido com umas cuecas-fio-dental, em cabedal grosso. Ambos os contendores se agarravam pela cintura e procuravam, aplicando rasteiras, derrubar o adversário. Nos bons velhos tempos do Malan tinham competido e o agora guerrilheiro sempre fora levado de vencida. Mesmo sem o equipamento adequado, o impedido da messe, o atirador Costa, desafiou-o para um combate ali e naquele momento. O Costa, empregado de mesa do Solmar, em Lisboa, era um malandreco da cidade e julgou que podia "dar baile" ao velhote, mas como "quem sabe não esquece" desistiu à segunda queda.

Nas conversas que tive com ele, o Malan pareceu-me verdadeiramente infantil. Não estava sequer capaz de entender o mundo para além do que via e sentia. Para ele, a vida não ia além da sua tabanca e da natureza que a rodeava, do trabalho na terra ou no rio e, agora, porque era preciso, nem ele sabia bem porquê, fazia a guerra.

Não creio que odiasse o  Inimigo ou que tivesse qualquer assomo de patriotismo, na sua acepção mais corrente, naquele tempo. Julgo que lhe tinham dito que os turras eram maus e que ele tinha que guiar a tropa contra eles. Além disso, sempre ganhava dinheiro o que terá sido uma promoção social a que se foi habituando. A sua vida repartia-se quase exclusivamente pela sua actividade como guia-picador e os trabalhos que lhe asseguravam a subsistência.

"Este gajo é puro!", dizia o alferes Gomes depois de mais uma conversa metafísica entre ambos. Falavam de Deus (ou dos Irãs), da Natureza e dos hábitos dos Mandingas. A argumentação do Malan era pobre, mas não havia quem o demovesse das suas convicções acerca da sua fé ou da estrutura social e valores éticos dos Mandingas, que ele aceitava, sem hesitar. Enfim, seria aquilo a que poderíamos chamar a encarnação do "Bom Selvagem". Já perguntei por ele à malta que lá foi matar saudades. Ninguém sabe qual foi o seu destino, após a independência, o que não é nada bom sinal... Velho, renitente e tendo colaborado muito com os colonialistas, não lhe auguro um bom destino...


O outro guia 
era o Mancaman [Biai]...

Claramente mais novo que o Malan, era alto, bastante magro e vestia sempre à moda muçulmana tradicional. Falava baixo, parecia medir as palavras ou digerir as perguntas que lhe fizessem ou as deixas do interlocutor. Só depois de ter estudado bem o que lhe fora dito, respondia. Dir-se-ia que não queria ser apanhado em falso ou em contradições. Esfingicamente fechado,  era-me difícil saber o que pensava.

Pouco depois de eu ter chegado, começou a pretextar motivos para não guiar a companhia. Nunca entendi aquele volte face que coincidiu com a minha chegada. Presumo que terá pensado que eu imprimiria outra orientação à actividade operacional. Parecia estar farto de guerra e, por isso, procurava sair dela ou, no mínimo, reduzir a sua participação, a pouco e pouco. 

Creio que descria já de uma "esmagadora vitória das NT" e, sentenciado a viver naquela terra, não vislumbrava uma saída para o impasse em que se encontrava. Claro que o dinheiro que ganhava era-lhe fundamental para a sua sobrevivência, mas comprometia-o com algo de que queria afastar-se. Qualquer que fosse a sua opção teria custos. Posto perante a evidência de que tinha de continuar a participar nas acções da companhia, cedeu, com relutância e reatou a sua colaboração.

Confesso que desconfiei dele. Todavia, pensando melhor, comecei a compreender a sua indecisão e até angústia. Ele deveria estar a ver para o futuro. É que, depois de junho de 1972, as populações e os militares do recrutamento local, ou mesmo simples apoiantes da acção do Exército viviam, diariamente e há vários anos, o desgaste da guerra e, numa observação simples, podiam aperceber-se de que os campos estavam cada vez mais extremados e que a guerrilha, se não estava a ganhar a guerra, também não dava sinais de regredir, havendo até sítios onde já há alguns anos não era possível ir sem que isso implicasse uma operação militar de custos mais ou menos elevados e mais-valias duvidosas. É que, ir a um dado local só por ir não faria sentido. Permancer lá, teria custos consideráveis. Restava a última hipótese que era normalmente a mais corrente: ir, destruir o que houvesse e matar quem se revelasse, uma vez que a "população sob duplo controlo" era cada vez mais um mito.

Que é que um cidadão guineense poderia fazer, nesta situação? Não tenho dúvidas de que os mais atentos começavam a interrogar-se acerca do modo como tudo aquilo iria terminar. Creio que alguns começavam a prever que o fim seria certamente dramático. É dificílimo ter de optar em tempo de guerra ou grave convulsão. Porém, a vida real obriga a que essa opção seja uma escolha imediata e com reflexo na acção diária. A História cobra sempre dividendos aos vencidos de um fenómeno social e o cansaço da guerra, aliado à falta de êxitos claros da parte que apoiavam, dava-lhes a indicação de que maus tempos aí vinham. Só não sabiam quando.

A tabanca do Xime estava situada numa posição excêntrica que permitia que fosse abordada sem que o pessoal vigilante da companhia fosse alertado. Em noites de Lua-nova era mesmo difícil detectar movimentos para além do arame farpado. Daí até ao Poindom não havia ninguém. Depois, não sei. Estimo que as populações sob controlo do inimigo se dispersariam até à curva do Corubal. Não tenho elementos para dizer se e onde o inimigo residia naquela área.

Parecia que ali havia uma Terra de Ninguém. O PAIGC controlava as populações e o terreno para Sul do Poindom. Para Norte e até à linha definida pelas três tabancas (Amedalai, Taibatá e Demba-Taco), o domínio parecia ser nosso. Quase de certeza que o Mancaman não trabalhava para o PAIGC, mas tudo indica que sentiria uma certa pressão para reduzir a sua colaboração connosco e, se bem observado por alguém infiltrado na tabanca, poderia dar indícios utilíssimos, mesmo involuntariamente.

É o retrato que tenho esboçado destes dois homens que, em última análise, reagiam como podiam a uma situação social e política que martirizava a sua terra. Um nem sequer questionava a escolha que tinha feito e, como é habitual, terá sido trucidado pelos acontecimentos. O outro via-se entre dois fogos, sem possibilidade de optar, mas imaginando que se aproximavam tempos aos quais, no mínimo, teremos de chamar difíceis. Hoje podemos culpá-los de terem feito escolhas más. Será a opinião dos teóricos detentores da solução depois da poeira do cataclismo ter assentado. Hoje explicam como se deveria ter feito, mas é como se resolvessem um problema cuja solução lhes foi fornecida pelo desenrolar da História. (...)


sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16539: Os nossos seres, saberes e lazeres (177): 28 segundos de fama, adrenalina e felicidade de avô... Cernache, Coimbra, o meu primeiro vídeo de um salto em paraquedas... (Paulo Santiago, ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 53, Saltinho e Bambadinca, 1970/72)

Vídeo (0' 28'') alojado em You Tube > Luís Graça


Cernache, Coimbra, 25 de setembro de 2016... Paulo Santiago que há 4 anos tirou o curso de paraquedismo ("abertura  automática"), só agora tem um vídeo de um salto...

Escreveu ele: "Nos 4.000 pés... Abraço ao meu instrutor, Avelino Cruz, meu amigo e camarada da Guiné.... Mais ou menos à mesma hora, eu voava, e na maternidade, nascia a minha neta...bela!!!"

Foto e vídeo: Cortesia do Paulo Santiago / Avelino Cruz (2016)


1. Mensagem,  com data de 28 de setembro último, de Paulo Santiago [, ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 53, Saltinho e Bambadinca, 1970/72]:


Luis, boa tarde

Tenho um pequeno vídeo no Facebook,  relativo a um salto que dei no passado domingo, dia 25.

Como deves saber, saiu no blogue, há quatro anos tirei o curso de Paraquedismo ("abertura automática").  Se tivesse menos uns anos, ainda iria para a "queda livre"...

Até hoje, não tinha qualquer vídeo dos saltos. Foi o "largador" que filmou os breves segundos. O salto foi em Cernache, Coimbra. 

Coincidência, quase à mesma hora do salto, nascia, na maternidade Daniel de Matos, a minha neta.

Se achares o vídeo bom para "saberes e lazeres" podes publicar.Como não sei se é possível sacá-lo do facebook,vou reencaminhar-te o mail onde ele se encontra.

Abraço. Paulo

PS -  A neta é mesmo minha,vem da minha filha...

2. Comentário do editor:

Paulo,  duplos, triplos, múltiplos  parabéns!... Por estares em boa forma, pelo salto, pela neta!... Boa continuação da jornada da vida... Obrigado pelo vídeo... Como vês, está editado (no You Tube).... É a tua prova de vida. E um exemplo para os demais camaradas da Tabanca Grande que já queixam do peso dos anos... Nunca é tarde para saltar... até de paraquedas!....Abraço grande. LG
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terça-feira, 12 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16296: FAP (96); Algumas correções, para a história: (i) Morais da Silva comandava a Esquadra121, também dos Fiat G-91 e nunca voou helicópteros; (ii) quem veio substituir o cap pilav Cubas em 1970 foi o cap pilav Zúquete da Fonseca, o meu primeiro comandante de Esquadra; (iii) não foi a Esquadrilha mas a Esquadra de voo 122, que sempre se designou por Canibais; (iv ) quando lá cheguei, em 8/12/1970, ainda conheci a "velhice", o Jorge Félix, o Solano de Almeida, o Heleno e o Falé... (Lino Reis, ex-alf mil pil, BA 12, Bissalanca, 1970/72)

Alouette III. Bambadimca (c. 1969/70). Foto:
Humberto Reis (2006)
1. Mensagem do nosso leitor e camarada Lino Reis [e, além disso, amigo e conterrâneo do nosso editor LG; foi alf mil pil, BA 12, Bissalanca, 1970/72, hoje cor pilav ref; tem página no Facebook]


De: Lino Reis
Data: 8 de julho de 2016 às 12:36
Assunto: Mais uma correcção cirúrgica.


Luís, bom dia.

Pensava entretanto encontrar-me contigo no Táss....qualquer coisa,[Bar da Praia da Areia Branca, Tasse-Bem] para te comunicar uma pequena correcção a um dado colocado por Humberto Reis que colo abaixo [, na sequência de uma pesquisa que fiz no teu blogue, sobre os Canibais]

" Notas de L.G.:

(1) Mensagem que recebi hoje, do Humberto Reis:

"(...) Este nosso novo tertuliano Jorge Félix, ex-alf mil pil av, julgo que era um que andava quase sempre com botas de cano alto. O comandante da esq 123 era o cap Cubas, de alcunha o Canibalão, pois a esquadrilha era a de Os Canibais. O Cubas foi substituído em 70, se não me engano, pelo cap Morais da Silva, que chegou a ser CEMFA depois do 25 de Abril."


Para que a verdade histórica seja uma meta suprema, sugiro que a referência a Morais da Silva, na altura Capitão Piloto Aviador e que mais tarde foi CEMFA após o 11 de Março [de 1975], seja corrigida.

Ele comandava a Esquadra 121, também dos Fiat G-91 e nunca voou Helicópteros na sua carreira militar.

Entretanto partiu há meses para o seu último voo. [José Alberto Morais da Silva, cor pilav ref, 1041-2014]

Quem veio substituir o Capitão Piloto Aviador Cubas em 1970 foi o Capitão Piloto Aviador Zuquete da Fonseca, que foi o meu comandante de Esquadra durante quase toda a Comissão [, na Guiné, 1970/72].

Não foi a Esquadrilha mas a Esquadra de voo 122, que sempre se designou por Canibais.

Quando lá cheguei, dia 8 de Dezembro de 1970, ainda conheci o Jorge Félix [, foto à direita], sempre com as suas máquinas a tiracolo, o Solano de Almeida (que teve a sua carreira civil na TAP seguindo o seu pai e o seu irmão), o Heleno (continuou a voar na TAP) e o Falé, pelo menos.

"Eram a velhice" e eu um garboso "periquito" ou abreviando um"PIRA".

Foram escassos dias de sobreposição ou de "largada" dos piras (graças às nossas qualidades no domínio das máquinas voadoras,kkk), pois desapareceram pouco tempo depois rumo à Metrópole; felizmente chegara a sua hora.

É um pequeno contributo para, repito, a verdade dos factos históricos. (**)

Desapareço com saudações aeronáuticas.

Um abraço

Lino Reis

Piloto Cmdt. de Linha Aérea de Aviões ref.

2. Comentário de LG:

Obrigado,  meu caro, pelas tuas "correções cirúrgicas"...  A verdade também é uma questão de detalhes. O meu camarada Humberto Reis (, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) não era da FAP, mas tinha amigos na BA 12 e tirou magníficas fotos áereas da zona leste, graças às boleias de heli...

Quanto ao Jorge Félix, há um vídeo dele (ou melhor, do  Pierre Fargeas),  a que ele acrescentou uma conhecida e nostálgica canção do Ch. Aznavour, com letra em espanhol, e carregou no You toube, na sua página... Está reproduzido no nosso blogue. Merece ser visto, revisto e comentado. Na altura escrevi-lhe o seguinte:

"Jorge, é um vídeo que eu vejo e revejo... Por muitas razões: por ti, amigo e camarada do meu tempo; pelo regresso ao passado; pelas saudades da doce, tranquila e bela Bafatá; pelos nossos 20 anos. tão generosos quanto verdes; pela beleza (pertubadora) da Ivete Fargeas; pela 'canción desesperada' do Ch. Aznavour... Uma combinação perfeita!...Um Alfa Bravo".

Julgo que ainda é do teu tempo este casal francês, os Fargeas, que suponho vivia na Base. O Pierre Fargeas (n. 1932) era o técnico francês de manutenção do Alouette  III, e representava o fabricante, a Aérospatiale, Terá estado na Guiné até 1974, segundo informação do Jorge Félix. No vídeo vê-se também o então cor pilav Manuel Diogo Neto (1924-1995).

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Notas do editor:

(*) 28 de fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2592: Voando sob os céus de Bambadinca, na Op Lança Afiada, em Março de 1969 (Jorge Félix, ex-Alf Pil Av Al III)

domingo, 20 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15516: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (6): Com os gaiteiros da Freiria na Lourinhã...Teríamos ganho a batalha de Alcácer Quibir, em 1580, se em vez de guitarras tivéssemos levado gaitas-de-fole(s)... (Luís Graça)






Vídeo: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. OGaiteiros de Freiria - Associação Musical e Etnográfica, a convite do presidente da União das Freguesias de Lourinhã e Atalaia, Pedro Margarido, animaram ontem as ruas da vila da Lourinhã, no âmbito da quadra natalícia.

O nosso editor, que adora a música de gaita-de-fole(s), fez um registo em vídeo de um desses momentos, e quis partilhá-lo com os nossos leitores.  Sem ofensa para os cristãos,  este "Gloria in excelsis Deo" já se confunde, no entanto, com o supremo hino à glória do consumo, de tanto ser reproduzido, "ad nauseam", nas nossas ruas, lojas e centros comerciais por esta altura do ano...

Segundo o nosso editor, em vez de guitarras deveríamos ler levado gaitas-de-fole(s), em Alcácer Quibir, em 1580... Recordam-se ? A trágica batalha onde morreram três reis, incluindo o nosso, Sebastião, o "Desejado", a quem é atribuída a frase mais heroica que ele ouviu na tropa e na guerra: "Morrer, sim, mas devagar!"... Com gaita-de-fole(s) seria muito mais bonito e mais digno, mesmo acabando degolado... (Em boa verdade, qualquer que seja a forma que assuma, a morte é sempre uma coisa miserável, na cama, em casa ou no terminal do  hospital, na rua ou no campo de batalha)...

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de dezembro de 2015 >  Guiné 63/74 - P15513: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (5): José Teixeira, Tabanca de Matosinhos

sábado, 12 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15480: Os nossos seres, saberes e lazeres (131): A banda Xaral's Dixie, de Minde (Ninhou), na Lourinhã com Fredericos de cópio terraiozinho judaico e de um planeta ancho que há-de vir com muita maqueda (Votos de Bom Natal e Feliz Ano Novo, em minderico)


Lourinhã > 12 de dezembro de 2015 > Animação de rua com a banda Xaral' Dixie, de Minde (ou Ninhou, terra do concelho de Alcanena, até há pouco isolada, localizada numa depressão fechada entre os Planaltos de Santo António e de São Mamede, em pleno Maciço Calcário Estremenho, e cujos habitantes falam o minderico, desde o séc. XVIII, sendo inicialmente um socioleto, um código linguístico ou "calão" falado por um grupo restrito, os fabricantes e comerciantes das mantas de Minde; a freguesia de Minde tem hoje cerca de 3300 habitantes; há outra variante do minderico, a de Mira de Aire; a língua, ameaçada de extinção, está ser objeto de medidas de preservação e revitalização; quem tiver curiosidade, pode consultar aqui o Dicionário Minderico).

E a propósito, quem quiser "postar" uma mensagem natalícia em minderico pode usar a seguinte fórmula:

"Fredericos de cópio terraiozinho judaico e de um planeta ancho que há-de vir com muita maqueda. Do/a carranchano/a (nome)” [Sugestão de Minde On-line: Natal minderico]

Vejam também aqui a página deste grupo que veio animar o comércio tradicional da Lourinhã, num sábado ainda soalheiro de fim de outono, com o Natal à porta... 


Vídeo (3' 12''). Alojado em You Tube > Luís Graça... Gravação e reprodução com a devida vénia ao grupo,  a quem desejamos Bom [Cópio] Natal [Terraizinho Judaico]  e Melhor Ano [Planeta Ancho] Novo...






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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de dezenbro de 2015 > Guiné 63/74 - P15436: Os nossos seres, saberes e lazeres (130): Um dia na Berlenga, a pensar no princípio do mundo (Mário Beja Santos)

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Guiné 63774 - P15296: (Ex)citações (296): "A ternura dos 20 anos", vídeo de Armando Ferreira, grã-tabanqueiro nº 704: seleção de comentários (António Murta, Cherno Baldé, José Sousa Pinto, Mário Vasconcelos e Tony Levezinho)

Armando Ferreira (ex.-fur mil cav, 
CCAV 8353, Cumeré, Bula, Pete
Ilondé e Bissau (1973/74)
1. Seleção de comentários ao poste P15291 (*), sobre o vídeo "A ternura dos 20 anos", de Armando Ferreira, grã-tabanqueiro nº 704 [foto à esquerda].





(...) A foto nº 7 deve ter sido tirada entre junho a agosto de 1974, no período de euforia do pós-25A74, nela estão elementos da guerrilha e jovens simpatizantes do PAIGC.

Sobre este período de transição escrevi no Poste (P6864 - A (mu)danca das bandeiras em Fajonquito em 1974) de 17/08/10 o seguinte:

"Pela forma como os recebiam e se congratulavam, trocando pequenos presentes e 'lembranças', os soldados portugueses pareciam muito mais satisfeitos com o fim da guerra do que os guerrilheiros. Talvez pela primeira vez na história dos conflitos armados, um dos beligerantes que, para todos os efeitos, tinha perdido a guerra, parecia estar feliz por não ter vencido. Era compreensível mas nem por isso deixava de ser intrigante."




(...) Inevitável não nos revermos em muitas das passagens do texto declamado. No entanto, perdoem-me a franqueza, o tom demasiado teatral da declamação, a querer imitar um Ary ou um Mário Viegas, belisca a sinceridade do contexto do estado de alma que levou o seu autor a sentir a necessidade de dar a conhecer o seu grito.

Não dexa por isso, em meu entender, de ser mais um contributo para a história coletiva de um Portugal colonial em agonia, ainda que, aqui e ali, possamos ter visões diferentes do pesadelo em que todos os combatentes se viram envolvidos.

Saúdo o Aramando Ferreira com um abraço, extensivo a todos os camaradas. (,,,)


(...) Visionei o vídeo do Armando Ferreira. Respeito o sentimento que ele exteriorizou, mas depois dos meus 27 meses passados no teatro de operações e já casado com 4 filhos, [não] deixei em algum momento, de sentir que cumpria uma missão Patriótica, para bem de Portugal e sobretudo para bem das populações autóctones,( neste caso da Guiné), pelo que, de forma alguma, me revejo nessas palavras.

Já voltei à Guiné por 3 vezes para participar em estudos de projectos para o desenvolvimento daquela Terra. Encontrei-me 2 vezes com o Presidente Nino, antes da sua morte e falamos do que eu fiz como militar de Portugal e do que eu pensava à cerca do que teria sido melhor para a Guiné. Compreendemos ambos as situações e fizemos amizade.

Não dou, de todo. como perdido o tempo que permaneci na Guiné, apesar do atraso que isso me provocou no arranque da minha vida profissional e foi muito, mas valeu a pena por Portugal.

As maiores felicidades e muita saúde para todos os Camaradas, Tanbanqueiros , ou não. (...)


(...) Ao Armando Ferreira, militar no teatro de operações da Guiné e ao cidadão português que transporta a raça que cumpre e sofre, endereço a minha saudação de amizade.

Sendo a escultura uma arte representativa de relevos, ela vive-se aqui na ilustração de sentimentos e vivências passadas, mas nunca esquecidas. Um clamor pessoal que a todos envolve.
Um abraço sentido, que abarca todos os camaradas. (...)


(...) Tem toda a razão o Cherno Baldé quando diz que um dos beligerantes parecia estar feliz.

Mas está completamente enganado quando diz que "parecia estar feliz por não ter vencido". Não, camarada Cherno, não era por não ter vencido, (que disparate!), era por ter sobrevivido àquela guerra, por não ter sido dilacerado por ela e, razão não menos importante, saber que podia regressar a casa e à Pátria, coisa que, até ao fim das hostilidades, nunca teve como certo.

De passagem refiro que a fotografia nº 3 deste poste  (*) foi tirada no Uíge, dado que é referida a partida em 16-03-1973. Eu também vinha nele e devo-me ter cruzado com o Armando Ferreira, mas os nossos destinos tiveram rumos diferentes após a chegada à Guiné no dia 22-03-1973: em fui direitinho a Bolama com o meu BCAÇ 4513 e o Armando foi para o Cumeré com a sua CCAV 8353.

Aproveito para lhe dar as boas vindas e um grande abraço de "periquito" para "periquito", com a certeza de que os "periquitos" já não irão mais para o mato, mas que a "velhice" pode ir no Bissau quando quiser. (...) (**)

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Notas do editor:

(*) 26 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15291: Vídeos da guerra (12): "A ternura dos 20 anos", de Armando Ferreira, natural de Alpiarça, escultor de profissão, ex-fur mil cav, CCAV 8353 (Cumeré, Bula, Pete, Ilondé, Bissau, 1973/74): uma emocionante e emocionada homenagem aos seus camaradas mortos e feridos, há 42 anos, no "batismo de fogo", em 5/5/1973, em Bula, em que "deixei de ser eu" (sic)

(**) Último poste da série > 4 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15200: (Ex)citações (295): Fui advogado e amigo de Luís Cabral, e até agora não encontrei uma explicação racional para o assassinato (gratuito) dos 4 oficiais portugueses no chão manjaco nem para o fuzilamento, no pós-independência, de muitos ex-militares guineenses que serviram lealmente as NT (António Martins Moreira, ex-alf mil inf, CART 1690, Geba, 1967/69)

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14800: Memória dos lugares (297): O Rio Geba e o macaréu no Xime (António Manuel Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972/74 / José Martins Rodrigues, ex- 1º cabo aux enf, CART 2716, Xitole, 1970/72)


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 5


Foto nº 4

Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1973/74) > Xime > Rio Geba > c. 1973/74

Fotos ( e legendas): © António Manuel Sucena Rodrigues (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Estas fotos [, nºs 4, 5, 6 e 7,] mostram um fenómeno natural que poucos rios no mundo podem mostrar: o macaréu no rio Geba Trata-se de uma onda que se forma na confluência do "Geba estreito" com o "Geba largo".

Enquanto, no momento mais baixo da maré, a água do Geba estreito corre para a foz a grande velocidade e com grande caudal (rio de planície), no mar, e por isso também no "Geba largo" a maré começa a subir rapidamente devido à grande amplitude das marés. 

Este encontro das duas águas provoca uma onda que sobe o rio lentamente (a cerca de 10 a 20 Km/h ???). A sequência desta onda pode ver-se nestas fotos. Na época das chuvas esta onda pode atingir, perto de um metro ou um pouco menos (???). No fim da época seca apenas se observa uma pequena perturbação das águas. Nesta foto não se vê com muita nitidez essa onda,

Foto nº 4 - O rio Geba estreito, na maré vazia ], do lad esquerdo, a margem sul, onde se situava o quartel e tabanca do Xime; do lado direito, a margem norte, onde se situava a tabanca e o destacamento do Enxalé]:

Foro nº 5 - Já se pode ver [ e , "in loco", ouvir...]  o macaréu ao longe;

Foto nº 6 - Uma visão perfeita do macaréu à passagem junto ao cais do Xime [onde estava o fotógrafo];

Foto nº 7 - Após passar o cais,  vimos essa onda "pelas costas" e dá uma ideia de que não existe. Era bastante perigosa para os barcos pequenos que subiam o rio e talvez por isso se verificaram alguns acidentes graves [, caso de um sintex, com a companhia anterior no Xime, a CART 3494, em 10/8/1972, em que morreram três camaradas nossos ].  Neste ponto foi afundada uma das duas canoas que se encontravam na margem [norte].

António Manuel Sucena Rodrigues

[ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972-74]

2. Comentário do editor:

Temos dozes referências a este marcador, macaréu... Há um vídeo do nosso camarada José Martins Rodrigues, aquando da sua primeira viagem de saudade à Guiné-Bissau, em que ele filmou o macaréu no Xime, no dia 10 de Abril de 2001. O vídeo (6' 58'') está alojado no You Tube, na conta do nosso coeditor Carlos  [Esteves] Vinhal. Tomámos a liberdade de incorporá-lo neste poste.

O José Martins Rodrigues, nosso grã-tabanqueiro,, foi 1º cabo aux enf,  CART 2716 / BART 2917, Xitole, 1970/72). A sua primeira viagem à Guiné-Bissau, depois da guerra, foi em 1998.




O macaréu no Rio Geba, Xime, 10/4/2001.

Autor: José Rodrigues Martins (2001) 
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14797: Memória dos lugares (294): O porto fluvial do Xime, no final da guerra (António Manuel Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972/74)