terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7842: Memória dos lugares (142): Bissau, Santa Luzia, Clube de Oficiais, Outubro de 1973 (António Graça de Abreu, ex-Alf Mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)

Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > Foto 7 > Bissau vista do ar


Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > Foto 16 > - Avenida Principal: Comparar o estado da avenida em Outubro de 1973 com o estado actual [...Av da República, Hoje, Av Amílcar Cabral,  ao fundo, o Palácio do Governador, e a Praça do Império;   a meio,  à direita, a Catedral de Bissau, e à esquerda, a Casa Gouveia; originalmente, a imagem estava invertida por erro de digitalização, conforme o próprio António Graça de Abreu nos alertou: de facto, a Av da República vinha da Praça do Império ao Cais do Pidjiguiti,  tendo no final a estátua de Nuno Tristão; no sentido ascendente, ou seja,  do Pidjiguiti para a Praça do Império, tinha à esquerda a Casa Gouveia e mais à frente, à direita, a Catedral; o erro foi corrigido pelo nosso co-editor CV ].



Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > Foto 21 >  Cais de Pidjiguiti



Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > Foto 22 > [O António Graça de Abreu, no regresso de férias na Metrópole,  na ] piscina do Clube de Oficiais, Santa Luzia [,  enquanto aguardava transporte para o CAOP1,em Cufar].


Fotos (e legendas):  © António Graça de Abreu (2011). Direitos reservados


1. Mensagem do António Graça de Abreu, com data de 6 do corrente:


Publiquem, se acharem oportuno.Deve ser a minha última intervenção por uns tempos no blogue. Sexta, 11 de Fevereiro vou para Xangai e só regresso a 22 de Março. Na China tudo quanto é blogue é cortado.


As excelentes fotos do António Teixeira recordaram-me o Clube de Oficiais, em Santa Luzia, Bissau. Envio foto comprovativa da estada (era um rapazinho tão elegante e bonito!, éramos todos!...) e texto do meu Diário, em Outubro de 1973, acabadinho de chegar de 35 dias de férias em Portugal.


Abraço,


António Graça de Abreu


2. Excerto do Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra e Paz, Editores, SA, 2007), p. 150:


Bissau, 26 de Outubro de 1973


O regresso normal a Bissau, a viagem igualzinha às outras duas. E, tal como da última vez, tive de utilizar os serviços de barbearia do Clube de Oficiais para cortar o cabelo e me apresentar no Quartel-General com o digno aspecto de um oficial do exército.



São dez da manhã, escrevo à sombrinha junto da piscina do Clube de Oficiais que acabou de ser lavada e ainda está a encher. Durante a noite, mergulharam de cabeça para a piscina uns cinquenta sapos, anafados e feios, tiveram de os tirar lá e de lavar e desinfectar a piscina. Só quando estiver de novo cheia autorizam o mergulho de cabeça, ou de pés, a oficiais do exército.


De Lisboa, trouxe um pequeno gravador de cassetes que me faz boa companhia. O José Mário Branco canta, só para mim, o “Casa comigo, Marta”.


Vou permanecer em Bissau mais uns dias, aqui vive-se melhor do que em Cufar. Hoje voaram Nordatlas e hélis lá para baixo, mas eu fiz de conta que não sabia. Em vez de ser eu a tratar de obter transporte, espero que sejam os tipos das repartições a marcar-me a viagem. Fico mais folgado nesta cidade pacífica, fico sobretudo mais seguro.


Por aqui é vida de Clube de Oficiais, piscina (sem sapos!), almoçar, jantar, dormir, ouvir as histórias da guerra, as aldrabices, os boatos. E comprovar como está baixa a moral de toda a tropa.

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Nota de L.G.:

Último poste da série > 21 de Fevereiro de 2011 >Guiné 63/74 - P7831: Memória dos lugares (141): Bedanda vista por António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (1971/73) (3)

Guiné 63/74 - P7841: Convívios (292): Almoço de confraternização do pessoal da CCAÇ 2464, dia 30 de Abril de 2011 em Fátima (António Nobre)

1. Mensagem de António Nobre* (ex-Fur Mil, CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Buba, Nhala e Binar, 1969/70), com data de 21 de Fevereiro de 2011:

Meu caro Carlos
Se porventura vislumbrares algum interesse na publicitação no nosso Blog, estou a remeter-te informação de mais um Almoço de Confraternização da minha Companhia, concretamente a CCAÇ 2464 e que ocorrerá no próximo dia 30 de Abril em Fátima.

Junto igualmente uma foto de um dos nossos almoços que habitualmente contava com a presença do Senhor General António de Spínola que infelizmente já nos deixou.

Um abraço para todos vos do
Antonio Nobre


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Nota de CV:

(*) vd. poste de 12 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6976: Tabanca Grande (243): António Nobre, ex-Fur Mil da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861 (Buba, Nhala e Binar, 1969/70)

Vd. último poste da série de 10 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7753: Convívios (207): 9º Encontro da Tabanca do Centro (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P7840: VI Encontro da Tabanca Grande, dia 4 de Junho em Monte Real (1) Marcada a data para 4 de Junho de 2011 (A Organização)

VI ENCONTRO DA TABANCA GRANDE

4 DE JUNHO DE 2011

PALACE HOTEL MONTE REAL


1. Como se diz na gíria jornalística (quando se fala de imagens), sem editar, aqui está a mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves, recebida hoje na nossa redação, desculpem, no nosso Blogue:

Meus caros camarigos
Marcada a data para o 4 de Junho, vamos então confirmar o seguinte:

1 – Valor da ementa por pessoa: 30,00€

2 – Valor de alojamento no Palace Hotel Monte Real

- Duplo: 60€ APA
- Single: 50€ APA

Preços especiais para este encontro.

Anexo a ementa.

As fotos podemos servir-nos das do ano passado.

Vamos calmamente arrancar com isto, até para que não marquem encontros para este dia.

Assim sugiro que o "anúncio" seja feito o mais breve possível na Tabanca Grande

Como nos outros anos, sugiro que o Carlos coordene as inscrições e que as reservas para alojamento sejam feitas com a bervidade possível e logo me sejam indicadas.

Estamos a "falar" de um fim de semana já de início de Verão com as Termas abertas e por isso com algumas possibilidades de "dificuldades" de alojamento.

O Miguel vai-se aprontando para os respectivos crachás, pois claro!

Cá fico à disposição.

Um forte e amigo abraço do
Joaquim



2. Há que esclarecer que esta mensagem não caiu sem mais nem menos no Blogue.

Como não houve reclamações em relação ao serviço e instalações no último Encontro da Tabanca Grande, bem antes pelo contrário só houve elogios, a comissão ad hoc para o VI Encontro, após consulta à disponibilidade do Palace Hotel de Monte Real, encontrou disponível só o primeiro fim de semana de Junho.

Estamos assim a dar o pontapé de saída para o VI Encontro da Tabanca Grande que se vai realizar no dia 4 de Junho de 2011 no Palace Hotel de Monte Real.

As inscrições estão abertas a partir deste momento, devendo ser feitas a devido tempo para evitar problemas logísticos ao camarigo Mexia Alves que, no terreno, tudo vai fazer para que nada falhe.

Como nos anos anteriores, eu (para quem ainda não me conhece), Carlos Vinhal, vosso fiel servidor, serei o fulcro das inscrições. Sem prejuízo do envio das mesmas para o Mexia Alves, convém que me seja dado conhecimento para que as listas se mantenham actualizadas.

Provavelmente haverá camadas que não irão estar presentes porque a data não lhes convém, a eles pedimos desde já desculpa, mas não se encontrou alternativa, a menos que se adiasse o convívio lá para Setembro, já com os dias mais curtos e frescos.

A exemplo dos anos anteriores, no envio da inscrição devem mencionar o nome da vossa companheira, necessidade ou não de alojamento, para que dias, e o local de onde se deslocam. 
Os tertulianos que inscrevam camaradas não pertencentes à tertúlia, devem-nos identificar com o nome e apelido, se possível indicando os seus contactos telefónicos ou electrónicos.

Por muito que me custe falar do assunto, para não ferir susceptibilidades, sou obrigado a lembrar que no ano passado faltaram alguns camaradas inscritos, e todos nós tivemos que pagar um pouco mais do que o previsto, porque o Restaurante não "perdoou" essas faltas. Vale mais uma inscrição à última da hora do que estar em inscrito e não comparecer. Ninguém faltou de propósito, nem por má fé, temos a certeza, mas se avisarem da vossa indisponibilidade com 72 horas de antecedência, evitam-se sobrecargas aos presentes.

EMENTA:



A organização do Encontro será mais uma vez fruto da iniciativa do nosso Editor Luís Graça e do nosso camarada Mexia Alves. São colaboradores (os melhores no ramo após pesquisa no mercado), Miguel Pessoa que se dedicará à feitura dos crachás e controle das inscrições, e dos co-editores Carlos Vinhal, recepção e feitura da lista de inscrições, e Eduardo Magalhães mais liberto, mas atento, porque ainda tem a EDP como actividade principal e todos precisamos que ele continue  a dar à luz.

Quem de algum modo queira colaborar na organização do evento ou no próprio dia, por favor não se acanhe porque há trabalho para todos. Aceitam-se ideias e iniciativas que contribuam para o são convívio entre os camarigos.

Feita esta primeira abordagem, esperamos as primeiras inscrições.
Contamos convosco para superar o número de participantes no V Encontro.
Os camaradas que entraram mais recentemente para a tertúlia (salta periquito)  não podem perder a oportunidade de vir conhecer os mais velhinhos, porque são já uma instituição.

Pela Organização
Mexia Alves/Carlos Vinhal

Guiné 63/74 - P7839: Notas de leitura (208): Antologia Poética da Guiné-Bissau (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Fevereiro de 2011:

Queridos amigos,
Para sermos sinceros, a lírica da Guiné-Bissau carece de originalidade, faz muito recurso do óbvio, dos sons tonitruantes, bombásticos ou da rima apurada pelo menor denominador comum.
Manuel Ferreira, com cuidado, nesta edição de 1990, alertava para a necessidade de esperar pelos arroubos líricos da identidade da Guiné-Bissau. Resta saber o que há de verdadeiramente singular na poesia dos últimos 20 anos.
Quem tiver essa poesia disponível para nos emprestar, bem se agradece.

Um abraço do
Mário


Poetas da resistência e da luta, dos afectos e dos sonhos

Beja Santos

A “Antologia Poética da Guiné-Bissau”, com prefácio de Manuel Ferreira (Editorial Inquérito, 1990) é um importante documento sobre o estado da lírica guineense, cerca de 16 anos após a independência de facto do país. É uma lírica de combatentes com cultura superior e cujos temas nucleares são, regra-geral: a denúncia do colonialismo e a firme aposta na luta armada; a declaração política pela resistência ou a valorização das raízes africanas; a exaltação do amor e os sentimentos de saudade e nostalgia pelo ausente. É incontestável que os poetas mais velhos de modo algum enjeitam a raiz neo-realista, mesmo numa toada mais livre e solta; há, igualmente, o conhecimento dos clássicos e a busca (por vezes rebuscada) de manejar as palavras para fazer do estro um quase panfleto para animar os combatentes.

Já se falou de Amílcar Cabral e seguramente do seu poema mais interessante Ilha. Vasco Cabral, a quem já se dedicou aqui uma recensão a propósito do seu livro A Luta é a Minha Primavera, foi um dos fundadores do PAIGC e teve funções elevadas no aparelho partidário. O seu acervo poético tem três direcções pronunciadas: a exaltação heróica da luta; o cântico pelos humilhados e indefesos; a entrega dolente aos afectos e à mãe África. Vejamos o Vasco Cabral do panfleto e do chamamento à luta:

 Firmeza

Os carrascos torturaram-me.
Aumentaram as pancadas
os insultos
os requintes.
E eu disse aos carrascos:
Só amanhã trairei, hoje não!

No amanhã cresceram as torturas
os insultos
os requintes.
e eu disse aos carrascos:
só amanhã trairei, hoje não!

Noutro amanhã cresceram mais as torturas
os insultos
os requintes.
e eu disse aos carrascos:
jamais trairei. Talvez ontem, hoje não!

E ecoaram nas minhas entranhas
as gargalhadas da morte.
Depois, o resto é silêncio.
__________

Hélder Proença foi co-organizador e prefaciador da primeira antologia da poesia guineense Mantenhas para quem Luta! Exerceu cargos políticos no PAIGC. É um poeta do sonho e da esperança, sopra as trombetas do futuro, é um lirismo temperado pelo gosto de cantar a terra e a ternura da mulher, é um intimista bem singular no contexto desta poesia guineense. Vejamos

Epigrafe

Não há espaço que não caiba
no meu coração
não há Pátria que não desagúe lentamente
como flor, no meu peito.
Tenho em mim
o espaço igual
ao Homem que se ergue
nas pétalas das manhãs
que não cessam de nascer.
__________

Agnelo Regalla é também político e esteve ligado profissionalmente à comunicação. Usa a poesia como uma arma, uma palavra de ordem ou estribilho, isto a par de um gosto pronunciado pelo cultivo do amor numa estreita ligação às raízes africanas. Mas é a chamada à exaltação panfletária que comanda a sua toada heróica.

Quinhentos anos de história

Quinhentos anos de história
(Sem história…)
Quinhentos anos de escravidão e exploração,
Quinhentos anos sem luz.
Os transatlânticos
Não chegaram ao Pindjiquiti,
E os estivadores morreram…
De fome e de balas no Pindjiquiti.
Quinhentos anos de tormento
Em que as mães choraram
(E ainda choram…)
Em que os bombolons clamaram vingança,
Para que a Guiné acordasse
__________

António Soares Lopes Júnior é um homem de comunicação e é jornalista. O que o distingue é a paixão pelo homem novo, o libertado do colonialismo, embala-se no sonho e deixa-se guiar pelo lirismo puro, um português singelo que fala guineense.

Uma Lágrima

Na pétala
da flor
na dor
do tarrafe
do geba
soluçando

pousei
uma lágrima
do meu pranto

…e pindjiquiti
ardia
nas ondas
do meu coração.

(continua)
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7819: Notas de leitura (206): Antologia Poética da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 21 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7834: Notas de leitura (207): Antologia Poética da Guiné-Bissau (António Tavares)

Guiné 63/74 - P7838: Em busca de... (155): Camaradas da CART 2477/BART 2865, Cufar, 1969/70 (Ex-Alf Mil Art Francisco Valdemiro Santos)

Vista aérea de Cufar
Foto: © Jorge Simão (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Francisco Valdemiro Santos, ex-Alf Mil da CART 2477/BART 2865, Cufar, 1969/70, com data de 21 de Fevereiro de 2011:

Boa noite
Foi com muita emoção e prazer que encontrei acidentalmente o vosso blogue.

Sou Francisco V.G. dos Santos, ex-Alf Mil Art da CART 2477/BART 2865 que esteve em Cufar, Guiné, nos anos de 1969-1970.

Como estive nos estrangeiro quase todos estes anos, nunca desde o meu regresso tive contactos com nenhum de vocês, camaradas da Guiné, o que lamento muito.

Gostaria de, se possível, de entrar em contacto com alguém desta Companhia ou Batalhão, mas não faço a mínima ideia como.

Passaram muitos anos, nomes esquecem-se, fisionomias mudam, mas é provável que alguém se lembre ainda de mim, já que era o único madeirense da Companhia.

Vou também passar a visitar o vosso/nosso blogue assiduamente, claro.

Melhores saudações
Francisco Valdemiro G dos Santos,
chico.santos@live.com.pt
Funchal, Madeira


2. Comentário de CV:

Caro camarada Francisco Santos
Um abraço especial para ti, porque és da bonita ilha da Madeira onde formei Companhia para ir para a Guiné.
Estive colocado em S. Martinho, no BAG 2, onde foram mobilizadas as CART 2731 e CART 2732 (a minha), que foram para Angola e Guiné, respectivamente, em 1970.

Tenho algumas boas notícias para ti, porque na nossa tertúlia temos dois camaradas do teu Batalhão, a saber: o ex-Fur Mil Sapador António Varela da CCS/BART 2865, e o ex-1.º Cabo Escriturário da tua Companhia, Jorge Simão. Para saberes algo sobre eles clica nestes endereços:

Guiné 63/74 - P5977: Tabanca Grande (207): Jorge Simão, de S. João da Madeira, ex-1º Cabo Escriturário, CART 2477, Cufar, 1969/71

Guiné 63/74 - P3302: Tabanca Grande (91): António Varela, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2865, Catió, 1969/70

Via mail vou mandar-te os seus endereços para que os possas contactar.

Por outro lado, na Página do nosso camarada Jorge Santos, em http://guerracolonial.home.sapo.pt/encontroguine.htm encontrei três pedidos de contactos do teu Batalhão, a saber:

- José Pereira, telefone 965 588 033

- Manuel Júnior, telefones 918 319 683 e 236 487 433

- Joaquim Menas Pereira, telefone 966 773 172 e e-mail rogeriomena@iol.pt

Espero que consigas comunicar com estes cinco camaradas e com muitos mais através destes.

Quero, já agora, endereçar-te o convite para aderires à nossa Tabanca virtual, onde te sentirás bem, porque somos um grupo de camaradas e amigos que calcorrearam a Guiné enquanto combatentes. Queremos contar as nossas histórias e das nossas Unidades, mostrar as nossas fotografias, e assim constituir um espólio que servirá de memória futura, no intuito de que não seremos esquecidos e muito menos o nosso sacrifício.

Convido-te a explorares o nosso blogue, e se estiveres de acordo com as nossas pretensões, manda-nos uma foto do tempo de tropa e outra actual (ambas tipo passe de preferência e formato JPEG), uma pequena história sobre a tua passagem pela Guiné, fala de ti um pouco, e serás apresentado como novo membro desta tertúlia.

Até ao teu próximo contacto, recebe um abraço em nome dos editores e da tertúlia em geral.

Este teu camarada e amigo fica disponível para o que precisares.
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de

18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7812: Em busca de... (154): Camaradas de Nova Lamego dos anos de 1966/68 (José Pereira)

Guiné 63/74 - P7837: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (68): Na Kontra Ka Kontra: 32.º episódio




1. Trigésimo segundo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 21 de Fevereiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


32º EPISÓDIO

No dia seguinte ao incidente tudo já decorria como se nada tivesse acontecido, apenas se notava uma menor alegria nos semblantes dos africanos.

À hora do almoço, depois do patrulhamento habitual, já estavam os dezasseis metropolitanos sentados à mesa para almoçar quando chega o João e se dirige ao Alferes:

- Tenho uma coisa importante a dizer-lhe. Gostava que fosse a sós. O Alferes levantou-se, apreensivo, e afastou-se um pouco com o João. Este, em voz baixa, continuou:

- Toda a família do Chefe da Tabanca, Adramane, incluindo a Asmau foi embora durante a madrugada. Não me pergunte como saíram da tabanca nem para onde foram pois já interroguei os milícias que estavam de sentinela e nem eles nem mais ninguém me adiantou o que quer que fosse.

O Alferes esteve por momentos pensativo mas logo agradeceu ao João despedindo-se com um até logo. Rapidamente compreendeu que nenhum africano, milícia ou civil, lhe iria adiantar alguma coisa sobre a fuga. Tratava-se muito simplesmente da solidariedade africana. Aconteceu o que é normal entre a população fula desta zona. À mínima ameaça da guerrilha, abandonam as suas tabancas e aproximam-se de Bafata, ainda zona de paz. Aliás o Alferes Magalhães e a sua tropa estavam ali para isso mesmo; impedir por persuasão a fuga da população. Consumada a fuga não havia mais nada a fazer.

Com certeza para a partida do Adramane teria contribuído, mais que tudo, a morte do marido da sua filha Asmau. O Alferes não deixava de pensar nessa razão, o que o levava permanentemente a interrogar-se: Porquê o Samba? Parece-lhe um castigo divino. De qualquer forma a situação por muito tempo o iria atormentar.

Passados uns dias, com tudo a decorrer normalmente, é recebida uma nova mensagem para fazer uma outra operação à zona de Padada. O Comando de Galomaro entendeu que seria necessário passar à ofensiva e não ficar dentro do “arame” à espera que o inimigo lá fosse.

Desta vez o Alferes Magalhães não participa na operação. Por um lado está preocupado com a defesa da tabanca no caso de um ataque, por outro, o contingente com que se iam encontrar em Padada, reforçado com elementos africanos, idos directamente de Galomaro já era comandado por um Alferes. Os dois grupos reunidos perfaziam cerca de cem homens dispondo de algumas armas pesadas. O miserável cano velho de morteiro ficaria na tabanca para sua defesa. A operação era de dois dias e iriam dormir na zona de Padada fazendo, a partir da madrugada, uma emboscada em trilhos recentemente utilizados pelos guerrilheiros. No dia seguinte regressariam a Madina Xaquili e uma coluna de Galomaro viria buscar o seu pessoal.

Estava a chegar o fim do segundo dia e como não se ouviu qualquer rebentamento para a zona da operação, tudo levava a crer ter sido mais uma acção sem resultados.

Por fim, pela picada de Padada começam a chegar os elementos da operação. Rapidamente os dois Alferes metropolitanos, depois de se cumprimentarem, chegam à conclusão que não há condições para o pessoal de Galomaro ficar dentro da tabanca. Não havia alojamentos e era perigoso, pois em caso de ataque não havia abrigos para todos. Comeriam na tabanca o jantar que o “legionário” estava já a preparar e depois iriam instalar-se, emboscados, na orla da mata, para pernoitar.

É quase noite quando o contingente de quase sessenta homens, metade africanos, começou a sair da tabanca. Não iam em fila indiana mas sim em grupos. Quando os últimos elementos estavam a passar pelo “cavalo de frisa” da picada de Padada, os primeiros estavam já a entrar na mata. Neste momento aconteceu o que se acharia improvável, ou talvez não, como sempre tinha pensado o Alferes Magalhães.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7830: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (67): Na Kontra Ka Kontra: 31.º episódio

Guiné 63/74 - P7836: (In)citações (26): A morte de Salifo Camará, rei dos nalus, e pai espiritual adoptivo do nosso amigo Pepito (Luís Graça)



Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana >  Título da foto: Morreu Salifo Camará, Rei dos Nalus; Data de Publicação: 30 de Janeiro de 2011; Data da foto: 22 de Janeiro de 2011; Legenda:

"Salifo Camará, rei dos Nalus, sábio, filósofo e combatente da independência da Guiné-Bissau, despediu-se desta vida no dia 21 de Janeiro de 2011, em Cadique, onde sempre viveu.


"Entrou para a História do povo de Cantanhez e fará parte para sempre da sua Memória e das Lendas que os djidius cantarão para os mais novos saberem da grandeza de um Homem por quem todos, nalus, balantas, tandas, fulas, djacancas e sossos tinham um profundo respeito e admiração.

"Antes da partida, pediu ao filho que se encontrava junto dele para telefonar para Bissau, para o filho que adoptara 30 anos antes e por quem se prendera por amizade, o qual lhe vinha regularmente pedir conselhos e ouvir as suas sábias palavras, a quem acompanhou na procura dos caminhos para o melhor desenvolvimento do reino que era seu.

"Pediu então para o deitarem na sua cama, despediu-se da família próxima e poucos minutos depois descansava tranquila e eternamente".

Foto (e legenda): AD - Acção para o Desenvolvimento (2011) (com a devida vénia...)


2. Comentário de L.G.: 

Esse filho adoptivo de Salifo Camará era(é), nem mais nem menos, o nosso amigo... Pepito. Quando esteve recentemente entre nós, em Lisboa, por ocasião do 96º aniversário da sua mãe, Clara Schwarz, o Pepito falou-me, com a discrição e distanciamento que são típicos nele (quando se trata falar da sua vida pesaoal ou de exteriorizar os seus sentimentos pessoais), da morte do Rei dos Nalus, a quem o ligavam laços de profunda amizade e mútua admiração... 

Não tive na altura a percepção da profundidade dessa amizade (e portanto, da dor pela perda que se sente, quando desaparece um grande amigo). Nem muito menos da sabedoria humana deste Rei dos Nalus que, pressentindo a chegada da sua hora, "liquida as suas contas com a vida e com o mundo", dando-nos assim um extraordinário exemplo da "arte de bem morrer"... Que dignidade, que humanidade!!!

Pepito, não te dei na devida altura os sentidos pêsames por esta perda. Faço-o agora, publicamente, depois de ver a "foto da semana" no sítio da tua ONG... Que os nalus, do Cantanhez, saibam continuar a trilhar os caminhos da sabedoria, da paz e do desenvolvimento sustentado, no seio da tua/nossa querida Guiné-Bissau, sem perda da sua memória colectiva e da sua rica identidade cultural. E que tu continues a ser amado e estimado por esses teus patrícios que tanto precisam de ti e da tua AD, os povos do Cantanhez, os nalus, mas também os balantas, os tandas, os fulas, os djacancas e os sossos.
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Nota de L.G.:

Último poste da série > 22 de Janeiro de 2011 Guiné 63/74 - P7652: (In)citações (28): Bemba di vida [O celeiro da vida], documentário sobre a biodiversidade e as áreas protegidas da Guiné-Bissau, produzido pelo IBAP (2009) (com a colaboração da AD - Acção para o Desenvolvimento)


Guiné 63/74 - P7835: Álbum fotográfico de Vasco da Gama (ex-Cap Mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74) (1): Um ternurento Tigre de Cumbijã, padrinho da Fatmata Gama

Foto 14 >  Com uma menina, Cadi, de seu nome, filha  do Demba Baldé (milícia ou artilheiro ?)



Foto 11 >  No dia 12 de Maio de 1974, que alívio sinto ao escrever esta data, com a minha afilhada que nasceu no Cumbijã  e a quem foi dado o nome de Fatmata Gama.





Foto 3 > Pai, Mãe, Madrinha, Padrinho e o nosso caçador que veio para o Cumbijã com o Padé Nambatcha.



Foto 4 >  Quando cheguei ao Cumbijã, um deserto cheio de minas,  em Abril de 1973 a levantar uma das trinta e tal minas que encontrámos


 Fotos (e legendas): © Vasco da Gama (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Lembre-se aqui o percurso do nosso camarigo Vasco da Gama mais os seus Tigres do Cumbijã (CCAV 8531, por terras de África:



(...) A minha Companhia teve o percurso seguinte na Guiné (1972/74):


(i) Cumeré,  desde 27 de Outubro a 15 de Novembro de 1972;  


(ii) Aldeia Formosa,  desde Novembro de 1972 até inícios de 73; 


(iii) a partir daqui dormíamos no mato na zona de Colibuía (desértica), quatro vezes por semana;


(iv) ocupámos o Cumbijã,  em Março de 1973, e ficámos lá até finais de Junho de 1974;


(v) estive ainda em NHACOBÁ, depois de ter assaltado este local em 17 de Maio de 1973, dia sim dia não, recebendo ordens para aí me fixar em definitivo a 23 de Maio, e tendo abandonado esse local  às 22h00 do dia 24 de Maio após ordens superiores; 


(vi) finalmente,  em Bissau,  em Julho e Agosto de 1974.(...)




1. Primeiras fotos de um conjunto (centrado na figura do Cherno Rachide) que o Vasco da Gama nos mandou, a nós e ao Pepito (que quis fazer uma surpresa ao seu amigo Califa Aliu Djaló, filho do falecido Cherno Rachide) (*).


Vasco da Gama, o grande Tigre do Cumbijã, ex-Cap Mil da CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74), é merecedor do nosso reconhecimento público pela sua resposta "just in time" (**).
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Notas de L.G.:

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7834: Notas de leitura (207): Antologia Poética da Guiné-Bissau (António Tavares)

CCS / BCaç 2912 - Galomaro


1. Mensagem de António Tavares* (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 20 de Fevereiro de 2011:

Ao ler o poema acima na minha Antologia Poética da Guiné-Bissau  (recensão e capa no P7819 de Mário Beja Santos) transcrevo-o.

Escrito de Agnelo Regalla (1972) lembra-me: uma parte da história dos Guinéus; a minha primeira noite na Guiné (01-05-1970) passada no cais de Pindjiguiti, o cais que a maioria dos ex-combatentes pisaram.

Em 3 de Agosto de 1959 os marinheiros indígenas de várias embarcações costeiras das firmas de Bissau manifestaram-se no cais de Pindjiguiti por melhoria salarial. Manifestação que resultou em greve, que foi imediatamente reprimida com barbaridade pela PSP, PIDE e militares, com mortos e feridos.

Era o começo da luta do povo da Guiné pelos seus direitos…

Em 23 de Janeiro de 1963 começou o início das acções militares do PAIGC com o ataque ao quartel de Tite, a guerra de guerrilha.

Até 1963 o PAIGC e Amílcar Cabral acreditaram que as Nações Unidas receberiam de Portugal o acordo para a autodeterminação dos povos da Guiné Portuguesa e de Cabo Verde.

Em 1446 Nuno Tristão descobre a Guiné. Diogo Gomes em 1460 descobre as ilhas de Cabo Verde.


QUINHENTOS ANOS DE HISTÓRIA

Quinhentos anos de história
(Sem história…)
Quinhentos anos de escravidão e exploração,
Quinhentos anos sem luz.
Os transatlânticos
Não chegaram ao Pindjiguiti,
E os estivadores morreram…
De fome e de balas no Pindjiguiti.
Quinhentos anos de tormento
Em que as mães choraram
(E ainda choram...)
Em que os bombolons clamaram vingança,
Para que a Guiné acordasse.



Agnelo Regalla, nasceu em Campeane, filho de Francisco Augusto Regalla e de Maria Assana Said Regalla. Formou-se em jornalismo no Centro de Formação de Jornalistas (França). Tem um grande curriculum político e poemas nas antologias de poesia guineense.

Conheci (1970/72) Francisco A Regalla, cabo-verdiano, comerciante em Galomaro.
Tinha sido vítima de um ataque do PAIGC em Campeane, na região de Tombali, onde perdeu todos os seus bens… em Galomaro estava a reiniciar a sua vida. Tinha um restaurante /bar, negociava com mancarra, alugava a sua camioneta (1+1), viajei imenso com ele a guiar uma nova viatura que comprou com os ganhos das suas múltiplas actividades comerciais. As duas viaturas do Regalla tinham prioridade no aluguer para os reabastecimentos do vizinho BCaç 2912.

Viajar com o F. Regalla era um prazer porque tinha sempre interessantes assuntos para conversa e era uma pessoa que transmitia confiança às nossas tropas…

Cumprimentos do,
António Tavares
Foz do Douro, 19 de Fevereiro de 2011
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7604: Facebook...ando (7): A terrível emboscada sofrida por uma coluna da CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro) e CCAÇ 2700 (Dulombi) em 1 de Outubro de 1971, às 20h30, na estrada Galomaro - Duas Fontes (Bangacia)... (António Tavares / Carlos Filipe / Juvenal Amado / Américo Estanqueiro)

Vd. último poste da série de 19 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7819: Notas de leitura (206): Antologia Poética da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7833: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (39): Teixeira Pinto - Capó e a bela donzela

1. Mensagem de Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 19 de Fevereiro de 2011:

Caro amigo Vinhal
Com um abraço e votos de saúde e paz, envio-te mais um pouco de “Viagem…” para, se assim achares, publicar.

É um dos apontamento sobre um pequeno – longo período que passamos, onde a vida se resumia à sobrevivência diária embrutecida, em que qualquer “escape” era viver.

Um abraço para todos
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (39)

Teixeira Pinto – Capó e a bela donzela

As primeiras semanas de Outubro foram-se passando num dia-a-dia de certo modo rotineiro, em que as saídas para as matas se iam sucedendo sem haver felizmente maus encontros e as “cerimónias” marcavam o ponto, com maior ou menor assiduidade e extravasamento individual ou colectivo dos convivas, consoante o estado de alma, o mote (se é que era preciso), e a quantidade e variedade das bebidas intervenientes.

Em 02Out70, a CCAÇ 2791 (FORÇA) tinha pisado solo da Guiné. Um ano havia passado, muita vida se tinha vivido, muito sangue se tinha vertido, muita dor se tinha cumprido, no que acreditávamos ser um Dever Nobre.

Mas aquela terra que também era nossa, que juráramos defender e nos subtraíra já a juventude, iria querer ainda mais esforço, mais suor, mais dor, mais vida e a 10Out71, a escolha recaiu sobre o malogrado Jesus, Soldado Básico, simpático, solícito e bem disposto, que as águas calmas da bolanha reclamaram aquando dum refrescante banho. Triste sina a do Jesus. Indevidamente (?), já tinha sentido a mata em Bula e sobrevivido.

Os dias foram-se sucedendo sem outros males e a 25 do mês, a FORÇA a 3 GCOMB, reforçada com um GCOMB da CCAÇ 3308 vai para Capó, um não lugar no meio de nada, entre Teixeira Pinto e Cacheu, onde irá ser reinventado e construído um aquartelamento temporário que nos servirá de abrigo e base logística de apoio ao prosseguimento dos trabalhos de construção da estrada, em que íamos passar a estar empenhados na segurança próxima directa de trabalhadores, máquinas e da própria estrada.

Para além de se situar em zona já por nós ensaiada a ferro e fogo, neste acampamento íamos enquadrar meio milhar de trabalhadores nativos, o que era mais uma certa dor de cabeça diária, em especial quando regressavam do trabalho

Trabalhadores (foto J Fontinha)

Como o que não tem remédio remediado está, a desmatação inicia-se e a maquinaria faz ouvir o ronco dos seus potentes motores, desbravando e aplainando terreno, escavando valas e fossas, levantando barreiras protectoras de terra em substituição dos aramados, (por essa altura ainda nos eram desconhecidos os famigerados “bandos do arame”!?) edificando o que a breve prazo se vai transformar em reduto defensivo quadrangular torreado, que irá receber as cerca de seiscentas almas para aquelas bandas desterradas e que por lá se irão espairecer até primeiros de Dezembro.

Capó -Aspecto do aquartelamento (foto J Fontinha)

Construídas pelos exímios nativos em tempo recorde, as instalações feitas de ramos, folhas de palmeira e capim(?), vão alastrando nas suas formas paralelepipédicas pelos espaços a elas destinados. Nos quartos, perfeitamente ventilados e com “saídas de emergência”, as camas são também do mesmo material, com a particularidade de os estrados de fina ripagem arbustiva assentarem em pés enterrados no chão. Os bancos, mesas e todo o mobiliário eram peças artesanais únicas, perfeitamente enquadradas no estilo arquitectónico das edificações, estas concebidas de molde a não ferirem a sensibilidade paisagística do local.

Capó - Descanso do guerreiro! “Escopeta” sempre à mão.

Capó – higiene matinal

Capó – mobiliário - elementos 4.º Gr (foto J Fontinha)

Quanto a operacionalidade defensiva e reactiva, o Pessoal foi instruído das posições a ocupar, dos cuidados a ter e do modo de actuar. Na hora, só podíamos contar connosco, em especial à noite, já que o apoio da artilharia do Bachile não seria viável por não ter alcance suficiente, Teixeira Pinto e Cacheu estavam distantes e aviação era problemática (acabou por vir ajudar-nos, brindando-nos com um dos mais belos quadros pintados a um anoitecer)

A actividade operacional diária dos GCOMB começa a desenrolar-se com normalidade e rotatividade nas tarefas necessárias, como picagem e segurança às máquinas e trabalhos, abastecimentos, patrulhamentos e emboscadas de proximidade, segurança ao aquartelamento…

Elementos 2.º GComb (meu) - Augusto em 1.º plano

Os dias de canícula abrasadora iam-se sucedendo sem males de maior que lembre, embrenhando-nos a viver naquele meio de nada, onde o diferente era por vezes exacerbado, dando vida e alento àquelas almas penadas que por aquelas bandas se atreviam de quando em vez a sonhar(?!).

É assim que um belo dia, creio que pela manhã, reparo na correria desgarrada do pessoal ”residente” em subida para a barreira frontal à estrada. Apresso-me na mesma direcção a inteirar-me do que se passa e estampa-se-me o olhar numa branca e alourada donzela (?!), de mini - mini saiinha, que arejava as coxas e calcinha protectora das “vergonhas”, debruçando-se na apanha de pequenas florinhas amarelas, que julgo malmequeres.

Talvez por se aperceber das movimentações militantes, resolve prolongar e até alindar o trabalho, aumentando um pouco mais a ventilação da alva blusa em uso, quiçá devido ao eventual aumento de temperatura provocado pelo calor dos humanos olhares embicados e perscrutadores ou mesmo com intenção meritória e altruísta de tentar exercitar e dar um pouco de vida aos “mangalhos pendurões” e em hibernação daquela plateia de galfarros com avidez gulosa espelhada nos olhares.

Fosse por que motivo fosse… foi um raio de luz e calor que nos envolveu e marcou momentos que intimamente agradecemos e ainda hoje recordados .

Luís Faria

© Fotos L Faria/J. Fontinha
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Nota de CV:

Vd. último posue da série de 8 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7573: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (38): Teixeira Pinto - movimentações militares e dores de cabeça

Guiné 63/74 - P7832: Álbum fotográfico de Amaral Bernardo (Alf Mil Med, CCS/BCAÇ 2930, Catió, Cacine, Bedanda, Guileje, Gadamel, Tite, Bolama, 1970/72) (2): Bedanda, CCAÇ 6, 1971/72 (Parte I)





Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72 > O Alf Mil Med Amaral Bernardo esteve 13 meses em Bedanda, sendo substituído pelo Mário Bravo (finais de 1971/princípios de 1972)... Regressou à Metrópole em Outubro de 1972.


Fotos: © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservados.




1. Continuação da publicação de uma selecção de fotos do álbum da Guiné, gentilmente disponibilizadas pelo nosso camarigo Amaral Bernardo (José Maria Ferreira do Amaral Bernardo, director de serviço hospitalar, Professor Catedrático Convidado, a 30%, no ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, antigo responsável  do Departamento de Ensino Pré Graduado do HGSA - Hospital Geral de Santo António, hoje integrado no Centro Hospitalar do Porto, EPE, Porto (Telef. + 351 222077570);  ex-alf mil médico, BCAÇ 2930, Catió, 1970/72)  (*)


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Nota de L.G.:

(*) Último poste desta série > 17 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7802: Álbum fotográfico de Amaral Bernardo (Alf Mil Med, CCS/BCAÇ 2930, Catió, Cacine, Bedanda, Guileje, Gadamel, Tite, Bolama, 1970/72) (1): O reabastecimento de Bedanda, no tempo das chuvas, através do Nordatlas, com lançamento de pára-quedas

Guiné 63/74 - P7831: Memória dos lugares (141): Bedanda vista por António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (1971/73) (3)

1. Mensagem de António Teixeira* (ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda; 1971/73), com data de 19 de Fevereiro de 2011:

Boa noite
Bedandenses:

Felizmente, este movimento continua e hoje mais um reencontro, mais uma grande alegria. Graças ao amigo Vasco consegui finalmente chegar às falas com o ex-alferes Baltasar, que aparece aqui nesta foto fazendo parte de uma equipa de futebol de uma das selecções de Bedanda. O Baltasar está em primeiro plano e é o segundo a contar da esquerda, com a bola de futebol junto de si, tal ponta de lança matador. Está entre o Figueiral e o ex-furriel Vaguemestre, que suponho se chamava Revez (se alguém me puder ajudar...).

Claro que ficou bastante feliz com o contacto, onde tive a oportunidade de o por ao corrente deste movimento para o nosso reencontro. Estamos neste momento à procura de mais pessoal, e o que é certo é que o grupo vai aumentado. Falei-lhe também no nosso (acho que o posso chamar assim) blog, e já tive a oportunidade de lhe enviar via email um link.

Hoje vou-vos enviar mais algumas fotos de Bedanda, que passo a legendar.

B1 - Vista aérea de Bedanda. Em primeiro plano o Pelotão, dpois a pista de aviação e bem lá no fundo a tabanca o aquartelamento.
Foto editada por CV

B2 - Parte do aquartelamento. Este edíficio era destinado aos oficiais - os seus quartos, banhos e refeitório. Lá no fundo vê-se o refeitório geral. Por trás de este edificio ficava a nosso bar.

B3 - A Tabanca

B34 - Por do sol

B61 - Por do sol

B98 - A parede do edifício das fotos anteriores depois de um ataque. Um rocket caiu bem perto, mas só fez este estrago. Pior foi outro que caiu na tabanca e fez uma mortandade em galinhas e cabras. Conclusão, comidinha para uns dias (as que se aproveitaram)

B140 - Ao fundo está a nossa secretaria e o gabinete do capitão. Em primeiro plano já não me lembro que edifício era.

B141 - Outra imajem do aquartelamento. Ao fundo o refeitório.

B222 - Seleção de Bedanda, onde se pode ver o ex-alferes Baltasar, em primeiro plano, segundo a contar da esquerda.

Um grande abraço
António Teixeira
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7784: Em marcha, a ideia de um próximo encontro da malta que passou por Bedanda (António Teixeira)

Vd. último poste da série de 20 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7822: Memória dos lugares (140): Bedanda e o seu reabastecimento no meu tempo (Rui Santos, ex-Alf Mil, 4ª CCAÇ, 1963/65)

Guiné 63/74 - P7830: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (67): Na Kontra Ka Kontra: 31.º episódio




1. Trigésimo primeiro episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 20 de Fevereiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


31º EPISÓDIO

Um elemento da coluna tinha accionado um engenho explosivo, ficando com o corpo todo dilacerado. Nunca se chegou a saber se o engenho já lá estava na passagem anterior. Provocou ainda pequenos ferimentos nos que iam mais perto. Não produziu mais danos pois o Alferes Magalhães tinha sido muito preciso nas instruções dadas, no sentido de irem afastados uns dos outros seis ou sete metros. Um dos feridos ligeiros foi o Dionildo, que soltando meia dúzia de c… e f… depressa se recompõe.

Como autómatos, os homens tinham-se atirado para o chão e os mais nervosos, contrariamente às instruções recebidas, fizeram alguns disparos sem qualquer objectivo. Seguiu-se o silêncio, quer dos homens, quer dos animais da floresta. É então que o Alferes Magalhães com a garganta cheia do pó vermelho da picada, num grito rouco pergunta ao João Sanhá:

- Quem foi atingido?

À pergunta do Alferes Magalhães: - Quem foi atingido? O João Sanhá logo respondeu:

- Foi o Samba. Está todo desfeito.

O Alferes pelo hábito de conviver com o Dionildo solta, mas só para si, um c… f…

- Logo ele.

Naquele momento o Alferes quereria que tivesse acontecido aquilo a qualquer outro milícia menos ao Samba. Pensou na Asmau que mesmo que não ficasse viúva iria com certeza ficar com um homem mutilado, dependente. Gostou muito da Asmau e ainda gosta e isso está a angustiá-lo muito. Um sentimento de culpa instala-se nele. Pensa, sem qualquer razão, que podia ter dispensado o Samba, naquele dia. Tinha subestimado o inimigo quando pensava que qualquer aproximação a Madina Xaquili se faria pelo lado de Padada e sentia-se culpado.

O Alferes Magalhães monta uma defesa com alguns elementos metidos na mata, pois nunca se sabia com o que se contava, e depois de concluir que aquela mina não passava de um acto isolado, manda de imediato quatro homens à tabanca para que o rádio-telegrafista faça um rápido pedido de evacuação.

O Samba acaba por morrer durante o transporte para a tabanca.

Cerca de uma hora depois chega um helicóptero que parte como veio. A guerra estava ali e as coisas iriam precipitar-se.

Embora o Samba não tivesse família na tabanca toda a população organiza e participa no “choro”. Para todos os metropolitanos mais parecia uma festa. Houve música e cantares, tendo o Adramane disponibilizado uns cabritos para todo o pessoal comer.

Dada a falta de condições para conservar minimamente o corpo, ao fim da tarde é enterrado no “cemitério”, local incaracterístico, situado na mata logo a seguir à zona desmatada. O Alferes acompanhou todos os rituais embora sempre acabrunhado. Da cabeça dele não saía a pergunta: - Porquê ele? Tentou ver a Asmau, para lhe dar uma palavra de conforto, mas não conseguiu descobri-la. Devia estar recolhida na morança dos pais.

Tinha mandado uma mensagem para o comando de Galomaro a contar o sucedido e aproveitou para pedir um reforço de material e munições, especialmente para o cano do morteiro 60. Pouco comeu ao jantar e logo se dirigiu para o “bentem” para conferenciar com o Chefe da Milícia. Se o Alferes Magalhães andava incomodado com a morte do Samba, o João estava apavorado com o agravar da situação. Não era para menos, tratava-se da primeira acção do PAIGC nas imediações da tabanca. Talvez já não fosse colher os próximos produtos das suas lavras…

Coube ao Alferes Magalhães, com a sua melhor preparação militar, acalmar o João e explicar-lhe que se tinha que reagir e sobretudo não demonstrar aos subordinados qualquer sentimento de insegurança. Acrescentou que, perante o acontecido, os comandos de Galomaro e de Bafata iriam com toda a certeza reforçar a guarnição da tabanca. Convencido ou não o João parece mais calmo.

Como o Braima estava presente com o seu kora, depois da sua participação no “choro”, o Alferes pede-lhe para tocar qualquer coisa, o que ajudou muito a desanuviar o pesado ambiente.

Todos estiveram no “bentem” até mais tarde nessa noite a ouvir os acordes do Braima. O Alferes achava por um lado que os guerrilheiros depois daquela acção não iriam aparecer de imediato pois achariam que a tropa Portuguesa estaria a postos, por outro lado a mina detonada não se dirigiria à sua tropa mas sim a uma futura coluna de reabastecimento de Galomaro. Pensou em todas as possibilidades. Tinha-se enganado sobre a direcção da primeira aproximação do PAIGC e não queria cometer mais erros. Não tornaria a deitar-se tão cedo como era costume para não dar vantagem ao inimigo, se num ataque o apanhassem a dormir, tanto mais que é ele que manobra o morteiro 60. Poupar as dezasseis granadas era também essencial e só confiava nele próprio para isso.

Antes de se deitarem foram os três graduados dar uma volta pelos postos de sentinela, que à noite eram todos dentro da tabanca, incutindo ânimo e sentido de responsabilidade de forma a não se deixarem dormir e estarem de ouvidos bem atentos. Como a escuridão era total a vista não ajudaria muito a detectar uma possível aproximação dos guerrilheiros.

No dia seguinte ao incidente tudo já decorria como se nada tivesse acontecido, apenas se notava uma menor alegria nos semblantes dos africanos.

À hora do almoço, depois do patrulhamento habitual, já estavam os dezasseis metropolitanos sentados à mesa para almoçar quando chega o João e se dirige ao Alferes:

- Tenho uma coisa importante a dizer-lhe. Gostava que fosse a sós. O Alferes levantou-se, apreensivo, e afastou-se um pouco com o João. Este, em voz baixa, continuou:

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7809: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (66): Na Kontra Ka Kontra: 30.º episódio

Guiné 63/74 - P7829: Álbum fotográfico de João Graça (7): Djubis do Cantanhez, um lugar que tem de ser bom para nascer, crescer, aprender, brincar, trabalhar e viver... com saúde, em liberdade, em paz, em harmonia com a natureza (Parte III)






Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Faro Sadjuma > 10 e Dezembro de 2009 >  17h00 > De regresso a Bissau, vindo de Iemberém, com passagem por Guileje >  > Meninos tristes de Faro Sadjuma (*)...


Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


[ Selecção / edição: L. G.]
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Nota de L.G.:


(*) Vd. postes anteriores da série:


20 de Fevereiro de 2011 &gtGuiné 63/74 - P7827: Álbum fotográfico de João Graça (5): Djubis do Cantanhez, um lugar que tem de ser bom para nascer, crescer, aprender, brincar, trabalhar e viver... com saúde, em liberdade, em paz, em harmonia com a natureza (Parte I)


20 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7828: Álbum fotográfico de João Graça (6): Djubis do Cantanhez, um lugar que tem de ser bom para nascer, crescer, aprender, brincar, trabalhar e viver... com saúde, em liberdade, em paz, em harmonia com a natureza (Parte II)