quinta-feira, 12 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1655: Tabanca Grande (6): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil Trms (Bambadinca, CCS/BART 2917, 1970/72)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BART 2917 (1970/72) > O Furriel Miliciano de Transmissões Almeida, que acaba de pedir a sua adesão à nossa tertúlia. Privou com a malta da CCAÇ 12 desde meados de 1970 a Março de 1971.



Foto actual do José Armando Ferreira Almeida, o ex-Fur Mil Trms da CCS do BART 2917 (1970/72), 60 anos, aposentado da PT, onde trabalhou na Direcção de Aveiro, na área da Gestão de Recursos Humanos. Casado, com uma filha, reside em Albergaria-A-Velha (1).

Fotos: © José Armando (2007). Direitos reservados.


Mensagem do José Armando (Almeida), com data de 4 de Abril de 2007:


Amigo e Camarada Luís Graça (Henriques):

Desde há algum tempo, tenho vindo a seguir com profundo interesse e emoção o que vai sendo escrito e documentado neste espaço de opinião e partilha, num verdadeiro espírito de sã camaradagem e amizade.

Para ti, desde já, os meus agradecimentos e admiração pela iniciativa que em devido tempo felizmente promoveste e em que continuas esforçadamente empenhado, agora com a colaboração dos restantes tertulianos.

Pois também eu, ex-Fur Mil de Transmissões Almeida, da CCS/BART 2917 (1), que partilhei contigo, então Henriques, e com o Levezinho, o Reis, o Moreira, o Rodrigues, o Fernandes, o Branquinho, para só falar de alguns da CCAÇ 12, do mesmo espaço em Bambadinca, gostaria de ser admitido na Tertúlia, agora também com a certeza - e já não só uma esperança - de poder voltar a reencontrar, se não todos, pelo menos alguns dos velhos - de mais de 35 anos - camaradas e amigos.

Teremos, certamente, oportunidade noutras ocasiões para falar de alguns aspectos mais particulares. De qualquer modo, aí vão alguns, à laia de curriculum:

Já estou aposentado da PT, onde trabalhei na Direcção de Aveiro - é verdade, já fiz 60 anos !... fui responsável na área dos Recursos Humanos, sou casado e tenho uma filha, já licenciada em Design.

E por agora, fiquemos por aqui que a prosa já vai adiantada!

Até breve, e um abraço amigo para todos os camaradas tertulianos do

Zé Armando (Almeida)

Comentário de L.G.:

Almeida: Reconheci-te logo pela foto, apesar de tantos anos já passados. É uma alegria ver-se alargar o círculo de camaradas de Bambadinca. Da tua CCS só cá tínhamos, até agora, o Luís Moreira - o vosso alferes miliciano sapador, ferido em mina anticarro, à saída de Nhabijões, a 13 de Janeiro de 1971, e evacuado para Bissau - (2), o Benjamim Durães (3) e o Abílio Machado (4), para além do David Guimarães (que pertencia à CART 2716, sedeada no Xitole, e que é um dos camaradas mais antigos desta terúlia).

Pois muito bem, faz como dantes, na nossa saudosa messe e bar de sargentos em Bambadinca: entra, acomoda-te e... paga um copo à gente! O mesmo é dizer, que fico/ficamos à espera das tuas estórias.

Um grande abraço do... Henriques.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de

15 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1527: Lista de ex-militares da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e unidades adidas (Benjamim Durães)

1 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1556: 1º Convívio da CCS do BART 2917: Setúbal, 9 de Junho de 2007 (Benjamim Durães)

(2) Vd. posts de:

23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCIX: Luís Moreira, de alferes sapador a professor de matemática

23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971)


(3) Vd. post de 21 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1618: Tertúlia: Benjamim Durães, ex-furriel mil da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)

(4) 29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1635: Amigos, enquando vos escrevo, bebo um Porto velho à nossa saúde (Abílio Machado, CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

Guiné 63/74 - P1654: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (3): De pá e pica, construindo Gandembel

"Na região de Forreá e nas imediações do rio Balana, uma grande coluna provinda de Guileje havia de parar, desfazer-se das suas cargas, para desde logo se dar início aos trabalhos de construção do aquartelamento de Gandembel"...

Foto 206 > "Tanto trabalho por realizar, com pás, picaretas e outros artefactos manuais, criando calos nas mãos, que por vezes sangravam" (IR)


"Urgia arranjar uns abrigos (tocas escavadas), que nos garantisse alguma segurança, mesmo diminuta, durante o período da construção das casernas-abrigo"... Foto 205 > "A parte das escavações, em que os utensílios manuais, por vezes eram arrojados para o chão, para serem substituídos pelas armas" (IR)...


"Outras infra-estruturas, as mais essenciais e vitais, surgiram no imediato, tais como o posto-rádio e a cozinha; estes, foram sendo melhorados no delongar do tempo"...

Foto 204 > "A cozinha, quedou-se naquele local. Teve que levar um telhado em chapa, para a abrigar das inclemências das chuvas. Mas a qualidade dos alimentos postos à sua mercê foi, em grandes períodos, manifestamente má" (IR)...


Foto 203 > "O posto-rádio tornou-se uma infra-estrutura bem consolidada; desde cedo, constatou-se que a vida em Gandembel seria impossível, sem um funcional centro de transmissões" )(IR)...

Foto 202 > "Uma das primeiras prioridades, consistiu na limpeza de duas pequenas áreas, de molde a colocar uma tenda para servir de posto de enfermagem e também onde o helicóptero pudesse aterrar" (IR)...


Foto 201 > "De um lado, um monte de baga-baga à espera de uma picareta para o destruir, e tantas árvores para derrubar numa imensa zona para limpar" (IR)


Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Instalação e início da construção do aquartelameto de Gandembel.

Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.


III Parte da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1). Texto enviado em 11 de Fevereiro de 2007.

Meu caro Luís

Após ter exercido o meu direito cívico, estive o resto da tarde, à volta desta narrativa. E também contribuiu para contactar com alguns, saber-lhes das suas vidas e saúde. Infelizmente, tive a notícia que o coração arredou mais um do nosso seio. E estas notícias custam!
Seguem mais 2 capítulos, de 4 sobre Gandembel/Ponte Balana.

Até breve. Um cordial abraço do Idálio Reis.


Parte III - Instalação e início da construção do aquartelamento de Gandembel
por Idálio Reis (Subtítulos do editor do blogue)



Resumo: Em Gandembel, vinga a insensatez, a obrigarem-nos a penar um inextinguível tempo de arrastados sacrifícios. Do período mediado entre o início da construção do aquartelamento e a chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio.(Ganembel/Balana, Parte Ia/IV)



O dia 8 de Abril de 1968 alvoreceu para um conjunto de homens inquietamente sós, desunidos de um futuro confiante, porque, por mais que se procurasse predizer, não lhes era possível reconhecer se se podia atingir. Um imenso manto de silêncio ali estava especado, com secretas sombras negras a envolver-nos.

Restava-nos apenas um singelo e frágil elo de ligação, com o presente a reclamar esperança, ainda que tão ténue e falível.

No chão do PAIGC....
Tudo estava pronto para se tomar rumo por uma estrada, onde as NT já lá não passavam há um ror de meses (desde quando?), por força do maior poder bélico que o PAIGC mantinha na zona.
A coluna partiu, e foi fácil atingir o cruzamento de Guileje. Aqui, virou-se à esquerda, e entrou-se numa estrada como tantas outras, em terra batida, a romper adentro de uma densa floresta.

A vegetação arbustiva já tinha começado a assenhorear-se do seu assento, e muitas árvores estavam tombadas, a dificultar o andamento da longa coluna. De quando em vez, encostadas sobre as bermas, jazendo no local de abandono, apareciam torcidos os destroços de viaturas carcomidos pela voragem do tempo.

Desde esse cruzamento, tão cruel para a Companhia ainda há dias, o avanço processou-se vagarosamente, com muitas paragens de permeio. E desde cedo, o Sol começou a lançar os seus inclementes raios, que nos começava a entorpecer os movimentos e a ressecar as gargantas, onde a preciosidade da pouca água que ia minguando no cantil, era de uma premente tentação a preservar para saciar uma outra secura, a sorver aquando da desidratação que proviesse do arfar do cansaço.

Apesar desta agonia, ao entardecer, sem grandes incidentes a registar, a coluna chegava junto ao corredor de Guileje, nas imediações do rio Bundo Boro, onde bivacou numa nesga de terreno que apresentava uma clareira mais rala, e onde o grande número de viaturas se dispôs em formato circular, cada uma guardada por pequenos grupos de militares.
Abatia-se sobre todos nós uma tensa e suspeita inquietação, e uma extenuante fadiga que se tinha apoderado facilmente, impelia-nos ao descanso. Se alguma ração se abriu, foi a boca sedenta a buscar algum líquido, embora na coluna viesse uma grande cisterna com água, a mesma que trouxéramos de Cacine; todavia, vinha fortemente defendida para ninguém ousar fazer abuso, e por isso até houve o cuidado de a colocar numa defendida posição de salvaguarda.
E parece que os homens do PAIGC deixaram assentar com toda a quietude este grande efectivo humano, serenamente, para amainar da canseira da jornada.


As boas-vindas do IN...

Fez-se então noite, e tudo se preparou para o próximo dia, encontrando cada um a melhor forma de fruir algum possível repouso, não descurando os que haviam de manter a indispensável vigília.

Amargamente, esta doce sensação de paz e tranquilidade, teve uma duração pouco mais que efémera. Num relance, um imenso tiroteio desencadeia-se, como resultado dos disparos de metralhadoras ligeiras até às fortes detonações das granadas de morteiros e de rockets, com uma repetição de acções quase consecutivamente.

Como tudo era escuro como breu, os estampidos dos projécteis indicavam-nos para nossa satisfação, que não atingiam o seu destino. Contudo, já na visibilidade da alvorada, os seus impactos cada vez mais se aproximavam, o que nos atemorizou ao ponto de muitos de nós ter que rastejar sob as viaturas à procura de um eventual refúgio mais seguro. Cruciantes momentos de arrepiar!

Felizmente que não houve agravos para o pessoal ou para o material. Os homens que guardavam a cisterna também se vieram a assustar, perderam o seu controlo, o que serviu para muitos, em sofreguidão, preferirem encher os cantis, enquanto os silvos estalavam na periferia...

Tudo me leva a crer que foi este imenso tiroteio que determinou a que a coluna se refizesse e avançasse mais cerca de meia dúzia de quilómetros para norte, em busca de uma linha de água que nos viesse a proporcionar o fornecimento desse elemento tão vital, e que, dado o adiantado da época seca, se tornava um bem bastante escasso.


O início de Gandembel/Ponte Balana

E por via disso, na superior linha de festo do rio Balana, nos viemos a quedar nessa manhã, para de imediato dar início à odisseia que representou a construção de um posto militar fixo, que se viria a chamar Gandembel e mais tarde a uma anexa afastada apenas de poucas centenas de metros, de nome Ponte Balana.

Sob a vigilância directa de uma tropa já bastante mais experimentada — a CART 1689 —, que já reconhecera o local antecipadamente, e que teve uma acção extraordinária durante a permanência que teve connosco até à sua retirada a 15 de Maio, e que é de elementar justiça salientar o papel relevante que sempre demonstrou, começámos a arranjar as nossas guaridas colectivas, autênticos abrigos-toupeira, que nos ofertassem uma maior segurança pessoal durante o tempo de construção dos abrigos definitivos.

Mas antes do mais, houve que proceder à limpeza arbórea da zona, onde a única ferramenta mecânica — a moto-serra —, nos propiciou uma ajuda preciosa. Não foi assim, mestre-soldado Horácio Almeida?, tu que desde criança, tens tido uma vida mancomunada com a floresta.

Tratou-se de uma tarefa bastante penosa, de uma luta travada sem tréguas contra o tempo que se esvaía, porquanto muito repentinamente tomámos plena consciência que potestades infernais tinham desabado sobre as nossas cabeças. Para tentar impedir ou minorar o absurdo das desgraças, mesmo dos desalentos, prestes a acontecerem a todo e qualquer momento, havia que arranjar forças em suficiência, sacadas aos recônditos de cada um de nós, dispostas a sobrepujar tais contrariedades.

Cada grupo de combate teve que arranjar num espaço de tempo de pouco mais de uma semana, e distanciados a cerca de uma dezena de metros, 2 buracos rectangulares escavados a uma profundidade da ordem do 1,5 metros, que depois foram cobertos por troncos de árvores justapostos, atapetados por chapas de latão aplainadas dos bidões, com um recoberto final de terra. Havia uma única entrada, que servia também de posto de sentinela.

9 de Maio: inauguração da luz eléctrica

A vivência nestes abrigos durou cerca de um mês, precisamente até 9 de Maio, que corresponde à inauguração da luz eléctrica, e que pelo simbolismo da data representa um forte «ronco», e que desejo que seja de marca maior, para lhe dar a primazia para o primeiro excerto a focar sobre Gandembel/Ponte Balana.

Este acontecimento correspondia à maior façanha atingida até então, pois se outrora as noites eram guiadas pela audição e cheiros, propiciava-se desde agora a ter luminosidade externa, que correspondia à visão alcançar para além das trevas. Aclaravam-se alguns dos negrumes, que impiedosamente se vinham abatendo sobre Gandembel.

Sentíamo-nos mais defendidos, uma vez que as noites sem luz eram aterradoras, em que o ecoar do mínimo ruído correspondia quase sempre a um constante tiroteio, e as noites sobre noites eram passadas em constante sobressalto, ante o sibilo das G3 em acção, a que se juntavam os estouros das flagelações inimigas que iam recrudescendo.

E o sossego dos corpos, tão fundamental, ia-se passivamente desestruturando. E tornava-se tão crucial manter elevado e coeso o moral desta tropa sempre briosa e intrépida. E era fundamental enfrentar as adversas agruras, com muita coragem, sem nos deixarmos abater.
A qualidade de vida que se nos deparou nestes abrigos, é de uma extrema precariedade, dada a crueldade das situações em presença, violentas e severas, desde o calor que se fazia sentir pelo efeito estufa resultante de um espaço quase nulo, os colchões de borracha que ao fim de poucos dias acabaram todos furados, os cheiros fétidos de corpos sujos de pó e bafientos do meio envolvente.

A Gandembel das morteiradas...
Havia também o reconhecimento que o grau de segurança minimamente necessário, era muito pouco fiável, em especial para as largas centenas de morteiradas que rebentavam sobre aquela zona. Felizmente que nenhuma granada explodiu sobre o coberto de qualquer destes abrigos.
Mas a situação mais angustiante para nós, era a audição das saídas das granadas de morteiros sem antevermos onde viriam a cair e deflagrar; parece que o record, como me afirmou há pouco tempo o Carlos Alentejano, foi de 32 (trinta e duas). Mais de uma trintena de granadas de grande potência, a curvar nos ares, para tombarem aqui ou além (onde?).

Durante o movimento imprevisível destes projécteis, ficávamos naqueles breves instantes, suspensos de uma qualquer intercessão, num silêncio persistentemente surdo, de ansiedade e expectativa. Eram momentos de um pavor incontrolável, em que se tremia de susto.

Foram empolgantes desafios de vida, estes consecutivos dias de escravatura, que se prolongariam principalmente até ao aquartelamento declarar algum estatuto de forma definitiva, e que impuseram um gigantesco esforço braçal quase constante, pois houve que proceder à execução das seguintes tarefas prioritárias:

— abertura de latrinas, e sua preservação com os mínimos requisitos de alguma salubridade;
— limpeza de uma área que possibilitasse uma descida rápida de um helicóptero, essa máquina voadora tão fundamental nas emergências;
— construção de abrigos de consistência bastante sólida, para a implantação do posto rádio e do comandante da Companhia;
— criação de um posto de primeiros socorros;
— arranjo de uma cozinha e de um forno para cozer pão;
— construção de abrigos consolidados, para servirem de paiol ou de defesa para localização dos obuses e de metralhadoras;
— arranjo dos abrigos definitivos, de execução mais demorada, a obrigar a um conjunto consecutivo de trabalhos específicos;
— limpeza de um vasto perímetro circundante ao arame farpado, a fim de poder manter um grau de visibilidade de algum alcance;
— ida à água que o Balana poderia fornecer; enquanto o período das chuvas não chegou, buscava-se ao longo do leito e que era uma tarefa a requerer sempre o maior cuidado, pois desde logo se começou a notar a utilização de minas e armadilhas.

(Continua > Ib/IV)

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Nota de L.G.

Guiné 63/74 - P1653: Memórias de um Comandante de Pelotão de Caçadores Nativos (Paulo Santiago) (8): A pontaria dos artilheiros de Aldeia Formosa

Guiné-Bissau > Saltinho > Contabane > Fevereiro de 2005 > "Foto Tirada no antigo reordenamento de Contabane, hoje Sinchã Sambel. De roupa verde está a viúva do Régulo Sambel, mãe do actual Régulo Suleimane, ex-cabo do Pel Caç Nat 53. Foto tirada pelo meu filho João em Fevereiro de 2005.O Suleimane estava em Portugal, nesta data" (PS).


Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Saltinho > Contabane > Pel Caç Nat 53 > 1972 > "Foto tirada quando, após tensas relações com o Lourenço (o Capitão-Proveta) (1) fui viver para Contabane. Junto encontra-se um canhão s/r 82B-10 de origem russa. Primeiramente
esta arma encontrava-se no quartel do Saltinho, tendo transitado para aquele reordenamento, após a sua construção. No quartel seria ineficaz, visto Contabane ficar no enfiamento, do outro lado do Corubal, indo na direcção da picada para Aldeia Formosa" (PS)

Fotos: © Paulo Santiago (2007). Direitos reservados.

VIII Parte das memórias do Paulo Santiago, ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 53 (Saltinho , 1970/72). O Paulo é natural de Águeda.

Em Abril de 71, apesar de algumas casas já prontas e ocupadas, continuava-se com a
construção do Reordenamento de Contabane.

Um fim de tarde, o Cap Clemente [, comandante da CCAÇ 2701, unidade de quadrícula do Saltinho 1970/72] chamou-me, informando-me, de seguida, ter sido recebida uma informação de grau A2 (penso ser esta a designação), prevendo um ataque ao referido Reordenamento. Uma informação com aquela classificação teria quase 90% de possibilidade de ser infalível. Havia que tomar providências, para fazer face ao previsível ataque.

Logo no início da construção tinha sido aberta uma vala de defesa. Era essa vala que deveria ser ocupada, de imediato, pelo Pel Caç Nat 53, reforçado com duas secções de um dos pelotões da CCAÇ 2701.

Assim se procedeu e, ao escurecer, estava o pessoal instalado ao longo da vala. A frente e parte lateral do Reordenamento, de onde poderia vir ataque , estava fortemente minada e armadilhada. Havia, contudo, a antiga picada em direcção a Aldeia Formosa, que por ser utilizada pelos djilas [,vendedores ambulantes, de etnia futa-fula], não se encontrava armadilhada, apenas ao anoitecer, se colocava uma granada com arame de tropeçar, perto do arame farpado, distante uns cinquenta metros da vala. O IN poderia perfeitamente utilizar aquela via, era um dos pontos fulcrais a ter em atenção e vigilância.

A tensão era elevada. O Clemente tinha-me informado que iria, entre as 18,30 e as
19,00 horas, bater a zona com o morteiro 10.7, existente no quartel do Saltinho, o que não me levantava problemas, meses atrás tinham sido bem marcados os pontos de tiro, com auxílio de um heli.

Seriam perto das 19,00 horas, ouvem-se, pareceu ali muito perto, três saídas quase
simultâneas. Cornos dentro da vala, os assobios a passar e três fortíssimas explosões logo à frente do arame farpado. Levanta-se a cabeça, mas volta-se a afocinhar, repetem-se mais três saídas e mais três explosões, ali muito perto, e ouve-se o barulho produzido por algumas chapas de zinco das casas, quando atingidas por estilhaços e arrancadas dos cibos onde estavam pregadas.

Porra para esta merda! Isto não é o 10.7, mas... serão morteiradas do IN ? Ligo através do AVP 1 para o quartel, donde me informam que a zona está a ser batida pelos obuses 14 de Aldeia Formosa e para o pessoal se manter calmo e protegido. Passo palavra a avisar da informação dada. Ainda houve mais uma meia dúzia de rebentamentos da Artilharia.

O Cap Clemente não me tinha falado nesta hipótese dos obuses, daí a nossa apreensão e cagunfa inicial. Aquelas bojardas, à nossa beira, metiam respeito.

Na manhã do dia seguinte, feito um patrulhamento, nas redondezas, não se encontraram vestígios de presença do IN, encontraram-se foi dentro do Reordenamento alguns
estilhaços, bem grandes, de granadas de obus, alguns dos quais tinham lixado paredes e chapas de várias casas.

Após esta cobertura de fogo amigo fiquei com duas certezas:

(i) Os gaijos da Artilharia eram certeiros. Enfiaram as ameixas nos locais pedidos, via rádio, do quartel do Saltinho.

(ii) Dificilmente o Reordenamento de Contabane seria flagelado pelo PAIGC, após esta demonstração de fogo. Poderia haver era um ataque ao arame, que tornava complicado, senão impossível, responder com a Artilharia.

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Notas de L.G.:

(1) Referência ao Capitão da CCAÇ 3490 (Saltinho), pertencente ao BCAÇ 3871 (Galomaro, 1971/74). Vd. posts de:

23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)

25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P985: CCAÇ 3490 (Saltinho), do BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)


(2) Vd. posts anteriores:

5 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1564: Memórias de um Comandante de Pelotão de Caçadores Nativos (Paulo Santiago) (7): Fogo no capinzal

13 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1424: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (6): amigos do peito da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72)

4 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1338: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (5): estreia dos Órgãos de Estaline, os Katiusha

13 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1275: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (4): tropa-macaca, com três cruzes de guerra

19 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1192: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (3): De prevenção por causa da invasão de Conacri

13 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1170: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (2) : nhac nhac nhac nhac ou um teste de liderança

12 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1168: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (1): Periquito gozado

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1652: Tabanca Grande: Três novos candidatos: José Pereira, Hélder Sousa e Jorge Teixeira



Guiné > Região do Gabu > Canjadude > CCAÇ 5 > 1974 > A azáfama dos últimos dias, antes da partida das NT... (1)

Foto: © João Carvalho (2006). Direitos reservados


1. Mensagem de José Pereira, de Penude, Nova Lamego, com data de 24 de Março de 2007:

Amigo Luís Graça: Também estive na Guiné, na CCAÇ 3 e CCAÇ 5 em 1966/68, em Nova Lamego, Cabuca, Cheche e Canjadude, além de outros destacamentos.

Fiquei muito satisfeito por ter entrado neste site. Sou de Lamego, n mais propriamente de Penude, onde fica situado o quartel dos rangers e comandos. Quando posso visito sempre este site. Tambem gostava de entrar para este grupo mas ainda não sei como entrar.

Um abraço deste amigo, Jose Pereira

Comentário do editor do blogue:

Camarada Zé Pereira: As regars de funcionamento do nosso grupo constam do sítio Tertúlia de ex-Combatentes da Guiné. Mandas duas fotos (uma do tempo da tropa e outra actual). E falas um pouco mais detalhadamente de ti, da tua unidade e do teu empod e Guiné. Temos muito gosto em que faças parte dos bravos do pelotão... Aparece. É conveniente teres um endereço de e-mail que utilixzes com frequência. L.G.


2. Mensagem de Helder Sousa, que vive em Setúbal. Data: 10 de Abril de 2007

Sr. Professor e camarada da Guiné:

Peço desculpa de entrar desta maneira no seu (teu) endereço mas penso que é desta forma que se contacta o blogue.

Sou leitor assíduo do Luís Graça & Camaradas da Guiné, desde finais de Fevereiro, altura em que encontrei, comprei e li o livro Diário da Guiné do António Abreu e, através da informação lá disponibilizada, tomei conhecimento do blogue.

A Guiné sempre provocou em mim um misto de atracção e de nostalgia mas não me tinha dado ao trabalho de procurar coisas que afinal estão por aí e já há bastante tempo e com bastante qualidade.

Chamo-me Hélder Valério de Sousa, vivo actualmente em Setúbal, fui Furriel Miliciano de Transmissões, do STM, cumprindo a comissão de serviço na Guiné entre 9 de Novembro de 1970 e 10 de Novembro de 1972, tendo estado cerca 7 meses em Piche (contemporâneo do BCAV 2922) e o resto da comissão ao serviço do Centro de Escuta e de Radiolocalização do Agrupamento de Transmissões da Guiné.

Das minhas leituras do blogue devo começar por dizer que concordo inteiramente com os estatutos do mesmo. Penso até que só mesmo com enquadramentos colectivos com essa abrangência e ao mesmo tempo com esses compromissos, se pode criar e manter uma ampla plataforma de entendimento onde as diferenças se assumam mas se respeitem.

Não estou ainda a fazer um pedido formal para ser aceite como membro da Tertúlia porque não tenho ainda cumprida uma outra condição para ser membro e que se prende com as fotografias. Tenho que resolver essa lacuna pois tenho que procurar as fotos antigas e essas andam guardadas em algures.

Sendo assim, então qual o motivo deste contacto? Simples, como está previsto o almoço/convívio em Pombal (e não no, conforme recomendação expressa), a pergunta é se, não sendo membro, se pode participar e, caso sim, se se deve enviar a comunicação para o editor do blogue (para poder testemunhar que embora não sendo tertuliano de facto, já tem contacto preliminar no sentido de se efectivar) ou para o organizador do almoço (Vítor Junqueira).

Saudações e até breve.

Hélder Sousa

Nota: para efeitos de endereço de mail é melhor usar soushelder@gmail.com

Comentário de L.G.:

Camarada Hélder:

Fico feliz por saber que és um fiel leitor do nosso blogue, que és nosso camarada e que queres entrar para a nossa caserna virtual… Os aspectos formais (o envio de duas fotos e uma estória) são importantes como mecanismo para estimular a produção de conteúdos. Como sabes, o nosso lema é : conta a tua estória, antes que alguém a (re)conte por ti

O teu depoimento é importante. Toda a gente pode e deve testemunhar: neste caso, exprimir, em palavras e imagens, a sua passagem pela Guiné, entre os anos 60 e meados e a primeira metade de 70. A Guiné e a guerra da Guiné marcou-nos a todos, desde a malta de transmissões (temos bastantes camaradas a de transmissões) aos operacionais. Aqui somos todos camaradas e dispensamos títulos, as formalidades sociais…

Considera-te, desde já, como tertuliano. O Vitor Junqueira e o Carlos Marques dos Santos, que estão a organizar o nosso encontro em Pombal, ficarão radiantes por te conhecer e receber. Vou-lhes fazer uma recomendação nesse sentido. De qualquer modo, respeito a autonomia de decisão deles. Terás que contactar um deles, enviando por email o teu pedido de inscrição. Quando puderes, mandas-me duas ou mais fotos (duas pessoais e outras que aches que têm interesse documental sobre a Guiné do nosso tempo). Escreves também mais qualquer coisa sobre a tua vida como Furriel de Transmissões em Piche e em Bissau. Hélder, que sejas bem vindo. Recebe um grande abraço do Luís Graça.


3. Mensagem de Jorge Teixeira, com data de 10 de Abril de 2007:

Caro Graça:

Só agora me disponibilizei a dar seguimento ao mail do João. Sim, em tempos te escrevi, para saber se poderia colaborar e mesmo fazer parte do grupo.

Acredito que tenha passado despercebido, e não tem mal nenhum isso ter acontecido, pois o mais importante é ver e ler o que se passa no espaço. De qualquer forma, como atrás disse, gostaria de fazer parte do grupo.

Estive na Guiné entre Maio/68 e Abril/70. Por acaso fez anos ontem que passei à disponibilidade.

Fico esperando as tuas notícias e até lá recebe um abraço do


Comentário de L.G.

Jorge: És bem vindo… O João Tunes (2) veio lembrar-me a minha descortesia ao não responder-te em tempo útil... Houve um lapso qualquer... Peço-te que me perdoes... Não tenho a tua mensagem original, a pedir a entrada na nossa tertúlia... Cumpres o resto das formalidades (duas fotos, uma estória...). Apresento-te depois ao grupo. Não queres aparecer, entretanto, em Pombal, no dia 28 de Abril ? Um abraço. Luís Graça

________

Notas de L.G.:

(1) Sobre Canjadude e a CCAÇ 5, vd. por exemplo os seguintes posts do João Carvalho:

4 Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCV: A última noite em Canjadude (CCAÇ 5) (João Carvalho)

4 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIV: Os últimos dias de Canjadude (fotos de João Carvalho)

27 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXCIII: Cancioneiro de Canjadude (CCAÇ 5, Gatos Pretos)

23 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIV: O nosso fotógrafo em Canjadude (CCAÇ 5, 1973/74)

(2) Mensagem do João Tunes, de 24 de Março de 2007:

Caro Luís,

Este camarada queixa-se que te escreveu e não lhe respondeste (imagino o volume da tua caixa do correio!). Pelo visto, é um tertuliano em lista de espera. Queres dar-lhe uma palavrinha? (3)

Abraço do
João Tunes

(3) Email do Jorge Teixeira enviado ao João Tunes, em 24 de Março de 2007:

Caro João,

Obrigado pela tua resposta (4). Na realidade foi por pouco o nosso desencontro. Eu saí de Catió em meados de Março e o meu pelotão em fins do mesmo. Regressámos a 3 de Abril.

Tenho visto o espaço do Graça e em tempos lhe escrevi, mas por qualquer motivo não recebi resposta.

Tenho contactado com outros ex-camaradas que por lá tenho encontrado. Vou andar por lá, sim.

Um abraço de amizade do
Jorge

(4) E-mail do João Tunes, de 24 de Março de 2007:

Caro camarada Jorge Teixeira,

Eu fui colocado em Catió (5), como alferes de transmissões, em Abril de 1970. Devemos ter estado sob ordens do mesmo comandante de batalhão (Ten Cor Mello de Carvalho), só que não nos encontrámos (por pouco). [antes de ter estado em Catió, eu estive no Pelundo].

Recomendo-te que adiras à ciber-tertúlia de antigos combatentes na Guiné (http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/) que é superiormente dirigida pelo nosso camarada (agora também blogo-comandante) Luís Graça. Lá encontrarás muitos depoimentos e material vasto de consulta (incluindo várias fotos antigas e recentes do quartel e da vila de Catió). E certamente não deixarás de dar o teu testemunho e as tuas opiniões.

E, para inscrição, em que não se paga quota nem jóia, basta a identificação civil e militar e duas fotos – uma do tempo de militar na Guiné e outra da actualidade. E depois entrares em catarse colectiva em que a única regra é que, como camaradas, nos tratamos todos por tu, independentemente do posto militar que tivemos e da posição social e profissional actual. Para te inscreveres, basta contactares o Nosso General Luís Graça (cujo mail está inscrito neste no sítio para conhecimento).

Espero encontrar-te lá. Em breve.

Um abraço do
João Tunes

PS – Obviamente que o meu blogue pessoal continua disponível para, com todo o agrado, continuar a receber os teus comentários.

(5) Sobre Catió, vd. posts do João Tunes:

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P999: Eu, cacimbado, me confesso (João Tunes) (I): tudo bons rapazes!

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1003: Eu, cacimbado, me confesso (João Tunes)(II): tirem-me daqui!

2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1018: Eu, cacimbado, me confesso (João Tunes) (III): E o jipe nunca voou

Guiné 63/74 - P1651: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (4): Historietas



Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Um dia alguém irá estudar o nosso humor de caserna, aqui tão bem tipificado por esta e outras deliciosas historietas do Fernando Barata... Legenda da foto: "Aspecto parcial da Enfermaria, vendo-se um militar (pela nuca parece ser o Alferes Barros) entregue aos cuidados das mãos milagrosas de um fisioterapeuta estagiária, natural de Paiai Numba e que, na altura, estava a recibo verde"...É claro que não havia enfermaria nenhuma em Dulombi, e muito menos fisioterapeutas com mãos de fada, oriundas de Paiai Numba (que ficava a sul de Padada, vd. carta da Padada, e que era zona de guerra).

Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Um pote de fumos

Fotos: Fernando Barata (2007). Direitos reservados.

IV parte do resumo da história da CCAÇ 2700 (Dulombi, Maio de 1970/ Abril de 72), unidade que pertenceu ao BCAÇ 2912, e foi render a CCAÇ 2405 do BCAÇ 2852 (1968/70). O autor do texto é o ex-Alf Mil Fernando Barata, da CCAÇ 2700 (1).


3 - HISTORIETAS

Delírios etílicos


3.1. Numa altura em que o nosso Capitão tinha ido a Bissau e porque o Alferes Correia se encontrava de férias na Metrópole, eu assumi a chefia da Companhia.

Durante a noite aparece-me no abrigo uma alta patente, muito esbaforida, alertando-me para o facto de estar eminente o ataque dos turras ao nosso aquartelamento, pois tinha visto no ar um Boro Naice (*) que seguramente funcionaria como sinal para um ataque concertado.

Rapidamente contacto os sentinelas que, para meu espanto, referem não terem visto nada, o que foi corroborado por outros soldados que se encontravam acordados. Depois mais calmo e perante o bafo do visionário, conclui que o tintol deveria ter LSD. Só me apeteceu dar-lhe uma pantufada.


Uma boleia de jipe até Galomaro



3.2. Volta e meia, aparecia no nosso aquartelamento um fotocine que projectava um filme para distracção das tropas. Terminada a sua função e como não estivesse prevista qualquer coluna que o recambiasse, o indivíduo já começava a desesperar. Até que o Alferes Correia (estava na altura a comandar a Companhia) me propôs que levasse o dito a Galomaro no jeep do Comando.

Perante o fascínio de dar uma volta a sério, lá me meti a caminho acompanhado pelo Meirim com a sua G3 e pelo Mesquinhata com o seu morteiro. Hoje arrepio-me ao pensar no perigo em que me constitui e os constitui (embora fossem voluntariamente) só pelo prazer de ter um volante nas mãos.

O jipe que andava sozinho


3.3. O jeep do Comando tinha a deficiência (uns diriam característica) que se traduzia no facto de quando se virava totalmente o volante para a direita a direcção ficava presa.

Um dia, aproveitando tal característica, pus o dito jeep a descrever círculos no campo de futebol, sem que alguém o conduzisse. Fui chamar o Semba para que este me explicasse este fenómeno paranormal. Após alguns segundos de verificação, saltou para o jeep impulsionado como que por uma mola, endireita o volante e grita:
-Alfero, era demónio não, era volante preso.

Um médico mais doido que o doido do soldado


3.4. Um soldado a partir de determinada altura desequilibrou, tornando-se extremamente agressivo chegando mesmo a apontar a arma a alguns colegas.

Perante este quadro, o médico do Batalhão, Dr. Vítor Veloso (2**) , passa--lhe uma credencial para que se apresente nos Serviços de Psiquiatria do Hospital Militar.

Qual não é o meu espanto quando passados 4/5 dias, o doentinho já se encontrava em Galomaro, vindo de Bissau e pronto a seguir para Dulombi. Assim que me vê, remata:
- Oh meu Alferes, o médico que me atendeu era mais doido que eu.
- Porquê? - retorqui.
- Então não quer lá saber que me perguntou o que me apetecia fazer naquele momento. Disse-lhe que me apetecia deitar a secretária dele pela janela fora e o que me espantou é que ele se levantou para me ajudar o fazê-lo, pegando logo num dos bordos da mesa. Nunca mais lá ponho os pés.

Na realidade foi uma terapia espectacular, o moço nunca mais deu problemas.

Um mecânico (improvisado) de helis



3.5. Como devem estar recordados, éramos frequentemente visitados por helis, quer para nos trazer frescos, quer para transportar algumas individualidades que nos visitavam. Certo dia, um desses helis estava com dificuldade em pegar. Perante este facto e como o Rosa, que era mecânico, estava a presenciar a situação, o nosso Capitão disse-lhe, a brincar, para ir buscar a mala da ferramenta. Aquele tomou a ordem a sério e lá foi buscar a mala, sem que antes não dissesse:
- Meu Capitão, mas olhe que eu de helicópteros não percebo nada.

Claro, quando o Rosa chegou com a mala já o héli ia ao nível de Duas Fontes. Ficou-me na memória o respeito por uma ordem dada.

O ronco do Pelotão de Milícias


3. 6. Naquela fase final em que já não queríamos correr riscos, incumbiu o nosso Capitão o Pelotão de Milícias de fazer um patrulhamento ao Vendu Qualquer-Coisam [ havia várias localidades começadas por Vendu, a sudoeste de Dulombi: por exemplo, Vendu Cachitol, Vendu Coima, Vendu Bambadela...].

Passados alguns minutos de terem saído, ouvimos um tiroteio imenso. Logo aquele espalhafato nos pareceu mise-en-scène.

Quando chegou o Pelotão ao aquartelamento, depois de algum aperto, o Comandante acabou por confessar que não havia turra nenhum e que era só para fazer ronco e para puderem justificar uma quantidade de munições que tinham em falta.



É só fumaça!



3.7 . Certo dia, fumo intenso é detectado a sair do paiol. Perante o eminente rebentamento de todo o arsenal que lá se encontrava armazenado, rapidamente o quartel é abandonado por todos nós para além do arame farpado, não fosse presentear-nos algum estilhaço ou mesmo o sopro que iria gerar.

Como passados bons minutos a deflagração não acontecesse, o Alferes Ravasco, perdoem-me mas não encontro neste momento expressão mais apropriada, teve tomates e a serenidade necessária para enfrentar a situação. Que acontecera? Um pote de fumos ao cair no chão - que se encontrava alagado - entra em reacção química com a água, gerando o espectáculo que acabo de referir.

Chegámos a pensar que seria um acto de sabotagem do inimigo. Pena é que o Almirante Pinheiro de Azevedo, na altura ainda não tivesse pronunciado a célebre frase O povo é sereno, isto é só fumaça. Na realidade vinha mesmo a propósito.


O dialecto de Cabeçudos


3.8. Em determinada altura, um indígena pretendia reclamar ou peticionar algo junto do nosso Comandante. Como aquele tivesse certa dificuldade em se fazer compreender, alguém sugeriu que se fosse chamar o Carneiro Azevedo para servir de intérprete.

Estiveram seguramente cinco minutos numa troca de jametus, tá na mala e sapodidis, arregalando, o Mamadu, cada vez mais, os olhos na tentativa de entender o que o Azevedo lhe dizia. Até que passados os tais cinco minutos, o fula chega à brilhante conclusão que aquele arrevesado do Azevedo não seria dialecto fula, mas sim dialecto de Cabeçudos (terra natal do Azevedo).


O padeiro de Trancoso


3.9. Mal chegados a Dulombi logo se abeirou de mim o Cândido Nunes disponibilizando o seu know-how em matéria de panificação para exercer a função de padeiro da Companhia. Argumentou que em Trancoso era a profissão que exercia. Falei com o nosso Capitão, sendo o Nunes admitido de imediato, mesmo sem prestar provas, na função que ele dizia conhecer tão bem.

Ao longo da comissão desempenhou a sua tarefa cabalmente e com o benefício de ser dispensado da actividade operacional a qual encerrava alguns riscos e grande esforço físico, como todos sabem.

No final da comissão, já em Bissau, diz-me:
- Meu Alferes, de padaria eu só conhecia o local por lá ter entrado nas poucas vezes que a minha mãe me mandava comprar pão.

Sorri e dei-lhe os parabéns pela sua astúcia.


Eu, pecador, me confesso: A tentação das ostras do Pelicano


3.10. E para acabar. Adivinhem qual era o Alferes que já tinha carta de condução civil e foi tirar a militar só para ter motivo para passar pelo menos mais uma semanita em Bissau? É que aquelas ostras no Pelicano mereciam qualquer estratagema.

_________

Notas de F.B.:

(*) Queria-se referir a um Very-Light

(**) Hoje, Presidente do Conselho de Administração do do IPO/Porto - Instituto Português de Oncologia, Porto.
___________


Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'

26 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial

terça-feira, 10 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1650: Tod@s a Pombal, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Carlos Marques dos Santos / Luís Graça)

1. Amigos & camaradas:

O editor do blogue andou desenfiado estes dias todos de Semana Santa & Aleluia… E ontem quando chegou a casa, vindo directamente de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, era tardíssimo… Hoje de manhã, tinha mudanças de piso e de gabinete, no local de trabalho: subiu um piso, mudou de gabinete… Se quiserem tomem nota: Gabinete 3A41; telefone (directo): 21 751 21 90…

Sabem como é que são as mudanças: no meu caso (que sou prof), toneladas de papel, de livros, de dossiês, de pastas… Um pandemónio… Já tinha tudo encaixotado antes das miniférias de Páscoa… Hoje foram as mudanças (de diversos professores e investigadores) a cargo de uma empresa especializada… Tudo isto para explicar (e pedir desculpa por) a nossa fraca produção bloguística destes últimos dias…

2. Mensagem (poético-satírica, mas bem humorada, e inspiradíssima) do nosso tenente general graduado Vitor Junqueira, que tem a incumbência máxima de nos reunir a todos, amigos e camaradas da Guiné, em Pombal, no próximo dia 28 de Abril de 2007... (Por favor, não digam no Pombal, que lhe sobe logo a mostarda ao nariz!)…

Enfim, não caio no exagero de dizer que ele tem a missão de pôr Pombal no mapa de Portugal, porque Pombal já lá está, com todo o mérito, e bem no centro... (Por favor não digam o Pombal, que lhe sobe logo a mostarda ao nariz). Compete-lhe, pelo menos, convencer-nos, a todos nós, amigos e camaradas da Guiné, de que vale a pena ir a Pombal e que Pombal não se resume à estação de serviço onde alguns de nós às vezes paramos, para o chichi e o café, na autoestrada A1, em viagem Sul-Norte ou Norte-Sul...

Escreveu o Vitor, a meio da tarde de ontem:

Esta tanga é especialmente dedicada aos retardatários. Os que já se inscreveram só têm que apreciar o repentismo em linguagem estrebo*- brejeira. Estou a ver que nem dando-lhes música eles reagem!

Vá lá, amigos e camaradas! Digam qualquer coisa, falem, pronunciem-se. Ainda que seja para dizer que não podem vir. Aceito qualquer resposta. Até uma desculpa esfarrapada. VJ
____________

(*) de estrebaria (VJ)


Camaradas,


A Páscoa já lá vai e ...

Das coisas que sabem bem
Neste período Pascal
Houve amêndoas a rodos,.
Os ovos marcharam todos
e os coelhinhos também.
E o nosso encontro em Pombal?

O tempo tem estado lixado ...
Nesta fria Primavera
Venha o tempo primaveril
Que eu já sinto o cheiro a férias
E tudo o resto são lérias.
Aguentai a dura espera
Até ao vinte e oito de Abril

Depois virá o Verão. Tempo de recordações...

Nesta fraterna Tertúlia
Sossegai, oh camaradas,
Homens de feitos tamanhos,
Havemos de ir a banhos
Em Quarteira ou na Apúlia
Teremos sol às carradas.

E quem não sonha ...?
Dos frémitos da juventude
Gostamos de nos lembrar,
Faziamos cada vergonha ...!
(Só é velho quem não sonha)
Desprezávamos a virtude,
Era o sangue a borbulhar

Há sempre uns tristes ...
E para dizer a verdade
Só conheço uma vergonha
Que é a do jovem casado
Pobre, triste, coitado
Está perdendo a mocidade
Por não ter em quem se ponha

E já agora, por falar em virtude ...

Todos dizem: está no meio
Venham cá, à minha terra
Não vão por aí à toa
Entre o Porto e Lisboa
Para acolher-vos no seu seio
Está Pombal à vossa espera.

E tu?
Tens a distinta lata,
De a todos deixares mal?
Viras as costas e pronto
Marimbas-te p'ró Encontro,
Estás-te cagando p'rá malta.
Não queres vir a Pombal?


Quero ouvir o refrão:

A vinte e oito de Abril,
Não chegávamos a ser mil,
Decidimos atacar
Bela arena, a do Manjar,
Foi grande o arraial
Na cidade de Pombal .

Versalhada às três pancadas da autoria do
Vitor Junqueira

3. O negócio, ontem, ainda estava fraco, mas hoje já recebi uma lista mais composta, enviada pelo Carlos Marques dos Santos, que vive em Coimbra e que também faz parte da comissão organizadora...

Ao todo, havia cerca de quatro dezenas de inscrições, mas não tenho dúvidas que, depois da chicotada psicológica do nosso tenente general graduado Vitor Junqueira (na tropa usava-se outro termo que eu não posso aqui repetir, sem pôr a corar as nossas amigas...), estou convencido que os mails vão começar a disparar na caixa de correio do Vitor Junqueira (Ele também aceita mensagens no telemóvel > 965517918).

Até ao momento, eram as seguintes as inscrições para o almoço de convívio da nossa tertúlia, em Pombal, dia 28 de Abril de 2007, no Restaurante Manjar do Marquês (15 € por cabeça) (1). Alguns camaradas não indicam se trazem acompanhantes nem qual a ementa preferida (**).



Nome (entre parênteses, o nº de comensais e a ementa escolhida) (1)

A. GRAÇA DE ABREU (1A)

A. MARQUES LOPES (3B)

ALBANO COSTA (**)

ANTÓNIO BAIA (2B)

ANTÓNIO SANTOS (2B)

CARLOS MARQUES SANTOS (2B)

CARLOS OLIVEIRA SANTOS (1A ou B)

CARLOS VINHAL (2B)

DAVID GUIMARÃES (2B)

FERNANDO FRANCO (2B)

HUMBERTO REIS (2A)

IDÁLIO REIS (1A)

J. L. VACAS DE CARVALHO (1A ou B)

JOAQUIM MEXIA ALVES (1A)

JOSÉ A. F. ALMEIDA (1A)

JOSÉ GANCHO (2B)

JOSÉ M. MARTINS (2A)

LUÍS GRAÇA (2A)

LUÍS RODRIGUES C. MOREIRA (1B)

MANUEL LEMA SANTOS (2B)

MÁRIO BEJA SANTOS (1A ou B)

PAULO SANTIAGO (2A ou B)

RUI ALEXANDRINO FERREIRA (1A ou B)

SOUSA DE CASTRO (2A)

TINO NEVES (**)

VIRGÍNIO BRIOTE (**)

VITOR TAVARES (1A ou B)

VITOR BARATA (1A ou B)

(**) Dados a completar.


4. Há camaradas e amigos que, na data escolhida, não poderão estar presentes, conforme email que deverá circular pela tertúlia. A seu tempo, divulgaremos também aqui a lista dos presentes em espírito. Reproduzo aqui a ficha de inscrição, a enviar directamente ao Vitor Junqueira ou ao Carlos Marques dos Santos:



POMBAL - 28 DE ABRIL DE 2007

2º ENCONTRO DA TERTÚLIA LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ

EU VOU ESTAR PRESENTE!


Nome:______________________________________________________________

Número de acompanhantes: _______________________________________________

A minha preferência vai para a ementa (A ou B):_________________________________


___________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 9 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1649: 2º Encontro da nossa tertúlia: Pombal, Restaurante Manjar do Marquês, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Luís Graça)

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1649: II Encontro da nossa tertúlia: Pombal, Restaurante Manjar do Marquês, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Luís Graça)






1. Em 20 de Março de 2007, enviei a seguinte mensagem ao nosso camarada Vitor Junqueira:


Vitor: Como vai corpo de bó ? Escrevo-te só para te dar conta do seguinte: há malta da tertúlia a querer fazer um segundo encontro lá para a meados da primavera, antes da avalanche dos almoços-convívios das unidades (finais de Maio, Junho, Julho)...

O que é o homem grande de Pombal diz ? Há alguns condições para a gente se reunir aí na tua terra adoptiva (?), ponto ideal porque equidistante do norte e do sul, como tu mesmo sugeriste na Ameira ? (1)

O Carlos Marques dos Santos (estive com ele há dias em Coimbra) já se ofereceu para se encarregar das questões ditas administrativas e logísticas... Ele tem experiência destas coisas e dá boa conta do recado... Como é que está a tua vida ? Bom, diz-me alguma coisa... Temos que ter duas ou três alternativas, definir a agenda de trabalhos, etc.

Um grande abraço. Bjinhos para a tua filhota.

2. O Vitor, que em linguagem castrense não é nenhum... empata-fodas, respondeu-me logo, feio e grosso no mesmo dia, mostrando as suas qualidades de liderança, sem ter que puxar dos galões:

Amigos Luís e Carlos,

Corpinho di bó, jametum?

A nossa próxima reunião, a ser feita em Pombal conforme proposta minha tacitamente aceite no encontro da Ameira (1), poderá realizar-se em qualquer altura. A minha cidade tem condições de restauração e hotelaria para que as marcações se possam fazer de um dia para o outro.

Agradeço muito a disponibilidade do Carlos que com a experiência que já tem do encontro anterior, vai ser certamente um aliado de peso. Até porque, tenho de confessá-lo, não disponho no meu newsgroup dos endereços de todos os camaradas. Portanto, caro amigo Carlos Marques, se quiseres fazer o favor de avançar com uma data que te pareça consensual e propô-la à rapaziada para que se pronuncie, ficar-te-ia muito grato. Logo que tenhamos uma lista com o número aproximado de convivas, eu tratarei de negociar local e preços. A mesma coisa para as reservas de hotel, se as houver.

Entretanto devo estar a partir para a minha peregrinação anual. Desta vez tenciono ir até ao sul da Itália (Sicília), Grécia, Balcãs e Turquia. Se houver por aí alguém que queira alinhar, faça favor!
Tchau e até logo,
Vitor.

3. Em 26 de Março o Vitor mandou o seguinte e-mail ao Carlos Marques dos Santos com conhecimento editor do blogue:

Amigo Carlos,

Até agora ainda ninguém sugeriu qualquer data. Aliás, até agora ainda ninguém se pronunciou sobre o encontro. Excepto quanto a uma proposta alternativa [do Beja Santos] para que o mesmo se realizasse na zona de Figueiró dos Vinhos, e que eu só não aplaudo por me parecer que não teve grande eco. Portanto há que arregaçar as mangas e avançar.

Olhando para o calendário, temos o seguinte: Dia 7 de Junho é feriado, dia do Corpo de Deus, se não me engano. Calha a uma quinta-feira. Muito provavelmente haverá uma ponte no dia 8, sexta feira. A seguir vem, o fim de semana, que inclui mais um feriado, o do dia 10 de Junho. Proponho por isso que o nosso encontro se realize num dia a definir segundo o critério do interesse da maioria, entre sete e dez de Junho próximo.

Por favor malta, manifestem-se! Digam-me qual o dia que mais vos convém para que possamos dar início à fase das inscrições.

Aos amigos Carlos M. Santos ou Luís Graça, peço o favor de fazerem circular este e-mail pelos tertulianos.

Cordiais saudações do Vitor Junqueira

4. No dia 28 de Março, o Vitor perdeu a santa paciência e falou ainda mais feio e grosso do que das outras vezes:

Amigos Luís Graça e Carlos Marques Santos,

Após o apelo lançado à Tertúlia para que opinasse afim de se encontrar uma data consensual para a realização do nosso segundo encontro ...Quem se encontra em palpos de aranha sou eu! A maltosa, bem à portuguesa, vai deixando correr.

Honra ao P. Santiago, Mexia Alves e D. Guimarães que, conforme e-mails que já circularam pela tertúlia, disseram de sua justiça. Com base na opinião destes três camaradas, que naturalmente está longe de ser representativa, o intervalo que propus para o mês de Junho não parece sofrer grande contestação, salvo o pormenor de acerto para o caso do D. Guimarães. Mas como se vê e até ao momento, também não suscitou qualquer entusiasmo.

Será de recuperar a proposta do 28 de Abril, passá-la a definitiva e não se fala mais nisso? A vossa opinião (indeclinável), começa a urgir. Está tudo tão sereno! Ou haverá por aí algo de pessoal? O ímpeto dos encontros parece ter esmorecido após Ameira, porquê? Diferenças, mágoas escondidas, pedritas no sapato? Ora, camaradas, estamos velhos para isso, e além do mais essas porras fazem mal ao coração.

Querem a minha opinião? Pois queiram ou não, ela aí vai, e partindo de mim de mim sei que já não vão estranhar: Sapos vivos, daqueles verdes, viscosos e escorregadios, todos temos que engolir uns tantos. Quanto a isso não há volta a dar ao texto. Mas o mais importante, é ser capaz de os vomitar! Não permitir que nos provoquem indigestão crónica, amargos de boca ou sorrisos amarelos. E assim havemos de nos entender todos, de preferência de olhos nos olhos à volta da mesa do nosso próximo encontro. Para aconcretização desse objectivo, estou disponível para dar tudo, até o ... (não é isso chiça!), braço.

Fico à espera dos vossos comentários, sugestões e sobretudo, confirmação de presenças. Façam-no para o meu email > Vitor Junqueira

Telemóvel > 965517918

Abraços para todos.

5. Em 31 de Março de 2007, acabaram-se as desculpas, os alibis as moratórias, as hesitações... O Vitor foi peremptório: o nosso próximo encontro é em Pombal, no próximo dia 28 de Abril de 2007, sábado!!! Para a pequena história da nossa tertúlia, aqui fica a ordem de serviço:

Queridos camaradas,

Está decidido! Nem que chovam picaretas, no próximo dia 28 de Abril, vamos encontrar-nos. Estou certo de que iremos fruir de momentos inesquecíveis de especial camaradagem. Para isso torna-se necessário que cada um dos meus amigos se dê à maçada de preencher e devolver esta espécie de ficha que segue abaixo.

O nosso encontro irá decorrer no restaurante Manjar do Marquês, conhecido pela maioria como a antiga Shell. Vejam a sua localização através do diagrama anexo.

Proponho que comecemos a reunir por volta do meio dia, para que às 13.00 h toda a gente se encontre sentada à volta da mesa. Por favor, dêm-me a conhecer qual a vossa preferência quanto à ementa . Como TPC terão de imprimir, recortar e, se quiserem colar muma pequena cartolina o gráfico Portugal-Guiné. Depois é só pendurá-lo com a ajuda de um clip na botoeira do casaco ou na pestana do bolso da camisa. Para que possamos reconhecer-nos mútua e rapidamente.

Fico à vossa inteira disposição para quaisquer esclarecimentos que estejam ao meu alcance.

Ao Luís Graça, peço que faça correr os obrigatórios éditos no Blog.
Amistosos cumprimentos,

Vitor Junqueira

6. O editor do blogue, que andou desenfiado estes dias da Semana Santa & Aleluia, por terras do Norte (Porto, Marco de Canavezes, Braga, Amares, Terras do Bouro, etc....) causando alguma ansiedade na caserna, reaparece.... e só que tem que cumprir as ordens do nosso tenente general graduado Vitor Junqueira.

Lá estaremos em Pombal, no dia 28 de Abril, com a mesma alegria, entusiasmo e espírito de camaradagem com que estivemos na Ameira, o ano passado. Só espero que não deixem a vossa inscrição para o último dia, para não atrapalhar o pessoal da organização & logística... Já sei que há camaradas (e amigos) que não podem estar, por motivos de calendário. Outros há que já se inscreveram. Mas o grosso do pelotão ainda se manifestou a sua soberana vontade. Por favor não deixem o nosso tenente general graduado à beira de um ataque de nervos... De qualquer modo, não é caso para isso. A nossa guerra está ganha... L.G.
_____________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 15 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1177: Encontro da Ameira: foi bonita a festa, pá... A próxima será no Pombal (Luís Graça)

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1648: Bibliografia de uma guerra (18): Uma obra de síntese, da autoria do Coronel Fernando Policarpo (Beja Santos)

República da Guiné - Bissau > Bandeira. Este símbolo nacional foi adoptada em 1973, com a proclamação, pelo PAIGC, da independência do território, em Madina do Boé. É formada pelas três cores características do panafricanismo: além do negro, da estrela de África, o vermelho que simboliza o sangue dos heróis que morreram na luta pela independência; o verde das florestas; e o dourado, alusivo às riquezas do subsolo (LG).

Finalmente uma síntese da guerra colonial
por Beja Santos

Na colecção Batalhas de Portugal, editada pela Quidnovi ao longo de 2006, o volume sobre a Guiné 1963-1974 (1) deve merecer a nossa atenção, e passo a explicar porquê. O seu autor é o Coronel Fernando Policarpo que foi alferes de 1972 a 74, tendo ficado gravemente ferido em combate. Licenciado em História, foi co-fundador do Centro de Estudos de História Militar e é professor do Colégio Militar. A sua obra está centrada na divulgação dos principais episódios que levam à compreensão do nascimento do movimento independentista e as duas fases da resistência da forças armadas ao PAIGC (1963-1968; 1968-1974).

Ficamos com um quadro esquemático da História da Guiné Portuguesa, as lutas da pacificação e a emergência do sentimento anticolonialista e o respectivo contexto internacional. O Coronel Fernando Policarpo permite ao leitor não iniciado o enquadramento das realidades internacionais da descolonização entre os anos 50 e 60. Depois enumera as características físicas do território, o mosaico populacional, a economia dos transportes antes do início da luta armada. Para os mais desacautelados, lembra os grandes obstáculos que a Geografia oferece, desde os rios, aos pântanos, à vegetação, ao clima, os 99 por cento de analfabetos, a economia nas mãos da Casa Gouveia (CUF) e dos comerciantes sírios e libaneses. A natureza do movimento de libertação, a ideologização do PAIGC, a complexidade da luta deste movimento no âmbito da Guerra Fria, a diversidade de apoios entre a China e a União Soviética, entre a Guiné Conacri e o Senegal são expostas com rigor e acessibilidade.

Segue-se a exposição sobre a primeira fase do conflito, que se estendeu a praticamente todo o território, com a criação de santuários e bases em áreas dificilmente acessíveis. Com a desarticulação da organização social tradicional, de 1963 a 1965 a guerrilha consolidou posições e passou a seleccionar as áreas e os momentos da flagelação. O autor desvela a estratégia militar do PAIGC, o controlo do território, sobretudo a Sul e a incapacidade de o exército português fazer reverter os sucessos obtidos pelo PAIGC durante esta primeira fase do conflito.

É em 1968 que se aprofunda a superioridade da guerrilha e daí para adiante são desencadeados ataques aos povoados mais populosos ou nevrálgicos como Bafatá, Farim, Mansoa, Bolama e Bambadinca. Com a chegada do Brigadeiro António Spínola, estabelece-se uma nova orientação estratégica. Spínola encontra a Guiné numa fase progressiva de degradação, um PAIGC moralizado e interessado numa grande ofensiva militar na frente Leste. A sua estratégia de contenção para o PAIGC passa pelo reordenamento das populações, por operações ofensivas de limpeza, a formação de tropas especiais africanas, a criação de um espírito ofensivo para assaltar e destruir bases tidas como inexpugnáveis e o abandono de aquartelamentos tidos como inviáveis, caso de Madina de Boé, donde se retira em Fevereiro de 1969.

Só que o PAIGC tem uma estrutura inquebrantável e não cede. Spínola, lentamente, dá passos para uma solução política. Mas a 20 de Abril de 1970 os sonhos desmoronam-se com o massacre de três oficiais superiores e um alferes no chão manjaco num episódio que ainda hoje não está devidamente esclarecido (2). A operação Mar Verde, em fins de 1970 visa um golpe de estado da Guiné Conacri e no essencial resulta num fiasco, com a agravante de uma maior perda de credibilidade de Portugal.

Enquanto decorre o reordenamento da população e se promovem Congressos do Povo sob a égide de Uma Guiné Melhor e os efectivos militares são já de 50 mil europeus e africanos, o reequipamento do PAIGC, a sua pujança operacional manifestam-se a partir de Março de 1971. De falhanço em falhanço, Spínola mostra-se desapontado com a falta de solução política e em 1973 é substituído. A partir daí, o PAIGC que proclama a sua independência em Madina Boé vai-se assenhoreando do território e obtendo êxitos clamorosos nas frentes Norte e Leste. Um número apreciável de oficiais do Exército irão fazer parte do MFA, caso de Carlos Fabião, Ramalho Eanes, Firmino Miguel e Otelo Saraiva de Carvalho.

Este livro é também valioso pelo impressivo repertório fotográfico e textos complementares que envolvem personalidades como Alpoim Calvão, Marcelino da Mata ou Raúl Folques, mas também Amílcar Cabral, Nino Vieira, ou Rafael Barbosa.

Uma obra de síntese que os camaradas da Guiné podem em boa consciência pôr nas mãos dos familiares e amigos, tal a seriedade na narração dos facto, tal a chave explicativa para o desaire militar e apresentação dos principais protagonistas. Espera-se que depois desta síntese se possa evoluir para uma obra mais desenvolta, onde os indispensáveis subsídios que temos patrocinado neste blogue, testemunhos únicos que ainda podem substituir a documentação desaparecida, mereçam o devido tratamento histórico.

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Nota de L.G.:

(1) Fernando Policarpo - Guerras de África: Guiné (1963/-1974). Matosinhos: QuidNovi. 2006. (Academia Portuguesa de História: Batalhas da História de Portugal, 21).

(2) Vd. posts de:


17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1436: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F.Sousa) (1): Perguntas e respostas

18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1445: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F.Sousa) (2): O papel da CCAÇ 2586 (Júlio Rocha)

19 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1446: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M. F. Sousa) (3): O depoimento do 1º sargento da CCAÇ 2586, João Godinho

27 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1465: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (4): Os majores foram temerários e corajosos (João Tunes)

6 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1500: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (5): Homenagem ao Ten-Cor J. Pereira da Silva (Galegos, Penafiel)

8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1503: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (6): Fotografia dos três majores (Sousa de Castro)

12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1519: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (7): Extractos da entrevista de Ramalho Eanes ao 'Expresso'

25 de Fevereiro de 2007 >Guiné 63/74 - P1549: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (8): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte I

6 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1566: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (9): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte II

17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1603: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (10): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte III (Fim)

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1647: Estórias do Gabu (2): A Spinolândia (Tino Neves)

Texto enviado pelo nosso camarada Tino (Constantino) Neves, ex- 1º. Cabo Escriturário da CCS do BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71) (1).

Camarada Luís

Vou contar uma pequena estória do nosso General Spínola. Das poucas visitas programadas que fez, houve uma,não programada, muito especial.
Um determinado dia, pousou na pista de Nova Lamego, uma DO, e quando o único soldado, que estava de guarda à pista, se apercebeu de quem se tratava, já o General Spínola e o seu guarda costas, um Capitão Paraquedista, estavam junto dele. Apalermado, correu logo para o telefone.
O General Spínola perguntou então ao soldado:
- O que é que vais fazer?
- Vou telefonar ao nosso Comandante, a dizer que o Sr. está aqui!
- Não, não vais ligar, não quero falar com ele, vim aqui falar contigo.
- Comigo???
- Sim, contigo!!!

Spínola falou com o soldado durante 30 minutos, e logo a DO levantou voo.
O soldado então depois disso, ligou então a dizer ao Comandante do Batalhão, o Sr. Tenente Coronel Fernando Carneiro de Magalhães, que tinha acabado de falar com o Sr. General Spínola durante 30 minutos.
O Comandante Magalhães, admirado, pergunta:
- Então e não me avisaste?
- O nosso General não deixou, disse que só queria falar comigo!
- Contigo???
- Sim, comigo!
- Então o que era que ele queria?
- Saber se eu gostava de estar aqui, se comia bem… assim essas coisas.

Conclusão, o General Spínola, da última vez, que tinha visitado Nova Lamego, em visita programada, tinha departado com um quartel que estava um primor, só faltava estar todo embandeirado com pequenas bandeiras de várias cores, e os militares a dançarem o Vira, o Fandango ou qualquer outra dança tradicional portuguesa, para mostrar que estávamos todos alegres e contentes, e satisfeitos por termos nascido.

E o nosso General sabia disso, quando as visitas são programadas. E nós também, tanto que nós dizíamos que não estávamos na Guiné, mas sim na... Spinolândia.

Um Abraço
Tino Neves
1º Cabo Escriturário
CCS/BCaç. 2893
Nova Lamego (Gabú)
1969/71
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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 3 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1146: Constantino Neves, ex-1º Cabo Escriturário da CCS do BCAÇ 2893 (Lamego, 1969/71).

Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu

Em Junho de 1966, a CCAÇ 728 (Como, Cachil, Catió, 1964/66) regressa à Pátria no T/T Uíge... Mas não foi a mesma Pátria que acolheu os Palmeirins de Catió...

Fonte: © Navios Mercantes Portugueses , página de Carlos Russo Belo (2006) (com a devida vénia...).



XI (e última) Parte das memórias de Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins (Como, Cachil, Catió, 1964/66) (1).


2.16. REGRESSO A BISSAU


À cadência de uma grande operação de 15 em 15 dias, o tempo foi passando penosamente. Os olhos estavam cada vez mais presos ao final da comissão. Acima de tudo, havia que defender a pele… queimar o tempo da melhor forma e regressar inteiro de cada saída.

Uma ida a Bissau, por umas breves semanas, de vez em quando, por desgaste nervoso, não era difícil de conseguir, junto do castiço médico tripeiro.

O alferes Arlindo, cujo pelotão, logo de início, fora distribuido pelos restantes pelotões, como melhor forma de gerir a companhia, como sub-comandante, por si e oficiosamente, estava sempre disponível para suprir as nossas preciosas ausências.

São inesquecíveis aqueles descolares trepidantes na pandeireta desengonçada do Dornier do correio, a vencer, raivosa, a minúscula pista de terra barrenta e abaulada, ver a geometria das ruelas esquadrinhadas de Catió a afastarem-se, lá em baixo, as bolanhas verdes e imensas recortadas pelos braços tentaculares duma rede serpenteada de rios mansos e uma manta espectacular de matas densas, pejadas de turras no seu seio e de aparência tão calma, e chegar ao casario mais denso de Bissau, meia hora depois.

Três semanas de liberdade no bulício pitoresco de Bissau, com o vigor dos vinte anos, nas esplanadas dos cafés, onde a cerveja e os amendoins eram deliciosos, entrar nos fartos armazéns da CUF, recheados de tudo, com dinheiro no bolso, percorrer as tabancas negras, com os galões de alferes nos ombros, saborear, ao vivo, as vibrantes mornas e coladeras nas bamboleantes caboverdianas, naturais, passear ao longo do Geba, ressumante de vida, entrar ou assistir às missas africanas da catedral, davam para esquecer todas as angústias acumuladas no interior da guerra sangrenta.

Em finais de Junho de 66, a tão ansiada notícia da rendição da companhia chegou. Ninguém queria acreditar. Mais cedo do que o esperado…porquê, nunca se soube…

Sem regatear confortos, toda a companhia coube numa velha embarcação de madeira da carreira regular, à mistura com indígenas, mulheres, crianças, galinhas e toda a bicharia doméstica… a servir de escudo protector. Eficaz.

O regresso a Bissau foi muito mais saudado por toda a gente que, dois meses, após, iria ser a viagem no faustoso Uíge, transatlântico… para Lisboa, depois de todas as desparasitações, intestinas, da praxe.

Aqui, foi mais a sensação do acordar de um terrível e estéril pesadelo…

Mal sabíamos nós que outro iria começar. A Pátria, atenta e carinhosa que nos mandou p’ra guerra, não foi a mesma que nos acolheu…ingrata, como, com justeza, clama o certeiro e bem merecido


HINO AOS COMBATENTES DO ULTRAMAR

1

Corriam os anos sessenta.
Os clarins da guerra ressoaram, frementes,
Nos céus de Portugal, há muito,
Por artes do divino, do fado ou do destino,
Uma terra de paz, alegria e brandas gentes.

A cobiça de corsários, falsos,
Arautos de ideologias, vãs e malsãs,
Da igualdade e da fraternidade,
Servos do capital, cego e voraz,
Só do ouro, petróleo e diamante,
Da madeira, rica e do minério abundante,
Em filões,
Vestiu, de agna pele, e fez aliados,
Os eslavos cegos, os yanques e os saxões.

2

Avançar p'ràs terras da Índia, distantes,
E africanas, bem portuguesas.
Já e em força.
Foi o grito, presidente.
Imperativo, indiscutível, se tornou.
Defender as gentes e os haveres,
Muitos e imensos,
Até ao extremo,
Como glórias, lusas e sacras. Nossas.
Foi o lema, pronto e certo!

Queira ou se não queira,
A história do porvir, logo, aberto,
Bem claro, o demonstrou:

3

Aos sonhos do trabalho, da escola e da esperança,
Na flor d’aurora e no fulgor primeiro,
As gerações sucessivas, a gente jovem,
Pronta e digna, disse, adeus…

Vestiu farda e pegou armas, de guerreiro.
Fez-se aos mares, rasgou os ares,
Correu riscos…tantos… sofreu tormentos.
Só Deus o sabe…
Ofereceu tudo, a saúde e a vida, pela Paz!

Oh! Loucura e vã tristeza!… Para quê?!…
Tudo… em vão!


4

Com os ventos da discórdia,
em desvario e revolução
Não foi a mesma a pátria que os acolheu!
A que os mandou à guerra,
Cobarde e lesta, se despediu…
De tudo, aquela, hipócrita, se esqueceu.
Ou, bem pior, tudo… denegriu:
O sangue, o suor e as lágrimas,
Que Portugal, inteiro, verteu.
Ficou tudo letra morta…

5

Desfeitos os sonhos, a noite de bréu
Dos novos mundos, incertos,
Pós-revolução,
Toldou-lhes as vontades traídas
E, em pé de igualdade, abertos
Foram os caminhos da fortuna,
Da escola e do sucesso…
Como se nada fosse e nada houvesse,
Ou
Do zero, tudo começasse…

Oh!…Vil e imperdoável traição,
A desta pátria, secular…
Que tão ingrata se tornou
Para os guerreiros nobres do ultramar!?…

____________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez

11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)

8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo

11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar

1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG

20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia

2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo

20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1645: Questões politicamente (in)correctas (29): O Capitão Diabo, Teixeira Pinto, e o seu tempo (A. Teixeira-Pinto)

1. Resposta de A. Teixeira-Pinto (docente da UTAD - Universidade de Trás os Montes e Alto Douro) (1) aos posts P1619 e P1621 (2):

Caro Colega Luís Graça:

Naturalmente que me dirigi logo ao endereço que teve a amabilidade de em enviar (2) e, como não poderia deixar de ser, deparei-me com a nota acerada do João Tunes sobre a questão monarquia-república e o aparente desfazamento das datas (1910 - 1912 - 1915).

Como monárquico que sou, não posso perdoar à república a forma como sempre olhou para o Ultramar (não sei se sabe que no tempo do Afonso Costa chegou-se a equacionar a venda de Angola para pagamento das dívidas). Vê-se depois (sem querer ir por aí) a forma como a 3ª república tratou o Ultramar, aviltando o esforço que tantos de nós fizemos na defesa daquelas terras.

Não me agarro a saudosismos nem a situações mais do que passadas, mas continuo a interrogar-me (e a indignar-me) sobre a irresponsabilidade absoluta com que tudo foi tratado, miserável e cobardemente à pressa. Com prejuízo, sobretudo, das populações cuja segurança e futuro estavam debaixo da nossa responsabilidade.

Macau, com uma população muito menos diversificada e com cerca de 2500 indivíduos europeus, levou 25 anos a ser descolonizada, formando-se comissões conjuntas, a todos os níveis, para estudar a transferência de poder para a China, um país com um cultura multimilenar e, concorde-se ou não com o actual regime, muito mais estável e organizada que qualquer grupelho armado ao serviço de interesses exteriores descarados mas complexos.

Nesses 25 anos a preocupação de Portugal com Macau cifrou-se na visita de 3 presidentes desta república (que me recuso a escrever com letra grande); o Ramalho Eanes (2 vezes), o Mário Soares( 2 vezes) e o Jorge Sampaio (2 vezes também). Preocupações excessivas (foi-se ao ponto de discutir com minúcia as leis) na devolução de uma pequena cidade à China (um país organizado) contrariamente à pressa de sair de África onde havia populações de origem europeia na casa das centenas de milhar e populações nativas na casa dos milhões (e em que muitas delas estiveram sempre do nosso lado, sendo por isso vítima fácil dos algozes a quem se entregou os territórios).

Foi assim na Guiné (onde por exemplo o Prof. Pinto Bull, uma voz moderada e não comprometida, nunca foi ouvida) (3), em Angola (onde havia muita gente alternativa aos guerrilheiros que praticamente não tinham expressão nem militar nem política), em Moçambique (onde havia também alternativas internas à Frelimo) e até na pacífica Timor onde se inventou um movimento revolucionário à pressa para reinvindicar a independência que a esmagadora maioria da poplulação não desejava.

Eu acho que o nosso esforço de combatentes foi desbaratado. Se defendemos numa primeira fase territórios que eram património Português ancestral, numa segunda fase o nosso esforço poderia ter sido reconhecido no encaminhamento para soluções honrosas em que os interesses das populações (sobretudo as indígenas, as mais indefesas) fossem salvaguardados.

Com as desculpas mais incríveis não quis assim a república. E o esforço de tantos, que inclusivamente ali deixaram o melhor que tinham, a Vida, foi desbaratado. Nem concorreu para uma solução digna. Por isso, (e ainda hoje!!!) me recuso a plebiscitar a república (que os republicanos nunca tiveram coragem de perguntar ao Povo se a queriam). E impuseram na Constituição o dogma da república, vedando ao Povo Português a livre escolha (o regime monárquico é rigorosamente proibido).

Desculpe-me o desabafo, esta já vai longe. Mas sem querer impor as minhas ideias a ninguém (respeito absolutamente os que se consideram republicanos, embora a maioria não saiba porquê), nem distorcer a História, mantenho para mim: naquele tempo, João Teixeira Pinto integrou o chão balanta na Coroa Portuguesa, que era o regime legal em Portugal (1). O outro, resultante do 5 de Outubro de 1910 ainda não tinha sido legitimado. E, em boa verdade, ainda não o foi. Nunca foi perguntado aos Portugueses se queriam o regime republicano. Convicções tolas, dirá, mas convicções que vão morrer comigo.

Uma pequena correcção, se me permite:

Nas notas que o estimado colega Luís Graça anexa ao respigo (muito bom) de Carlos Bessa diz a certa altura: Leia-se também o próprio Teixeira Pinto, em livro de memórias que eu não conheço > João Teixeira Pinto - A ocupação militar da Guiné. Lisboa: Agência Geral das Colónias. 1936.

O livro não é de memórias nem do próprio Teixeira Pinto, é apenas prefaciado pelo Capitão de Artilharia João Teixeira Pinto, filho do Capitão Diabo (que havia morrido em combate contra os alemães, em 1917, em Negomano no Norte de Moçambique). O livro não tem autor (foi ordenada a sua publicação à Divisão de Publicações e Biblioteca da Agência Geral das Colónias pelo respectivo Ministro) e apresenta os relatórios de campanha de João Teixeira Pinto contra o Oio, os Balantas, os Manjacos e os Papéis e os Grumetes de Bissau. Com a ajuda inestimável do Abdul Injai e do Mamadu Cissé, tão maltratados depois.

Um abraço amigo do Colega

A. Teixeira-Pinto
(uso o hífen, para tentar evitar que me chamem Sr. Pinto, o que abomino)


2. Comentário do editor do blogue: Alguns dos nossos camaradas reagiram, com alguma estranheza, a um anacronismo histórico, subjacente à afirmação de A. Teixeira-Pinto segundo a qual "o capitão Teixeira Pinto (na qualidade de chefe do Estado Maior da Guiné entre 1912 e 1915) (...) entrou [depois de conquistar o Oio] no chão dos Balantas e dominou-os, submetendo-os à Coroa Portuguesa" (sic).

João Tunes, por exemplo, fez a seguinte pergunta: "Porque o rigor também é uma forma de respeitar as nossas figuras históricas, se calhar a principal, gostaria que me esclarecessem como foi possível que o capitão Teixeira Pinto, tendo estado na Guiné entre 1912 e 1915, submeteu os Balantas à Coroa Portuguesa, se a República foi instaurada em Portugal em 1910?"...

Ficamos agora a saber que A. Teixeira-Pinto, como monárquico, não reconhece, ainda hoje, a legitimidade histórica da República (1910-1926). Como editor do blogue, limito-me a registar os diferentes pontos de vista sobre esta questão (algo bizantina, para mim, devo confessá-lo), mas também não estou interessado em alimentar qualquer polémica à sua volta. O nosso blogue não tem vocação para o debate político-ideológico. É um blogue de ex-combatentes que querem, sobretudo, partilhar entre si a sua experiência humana e militar na Guiné - basicamente entre 1963 e 1974.

Agradeço ao professor A. Teixeira-Pinto os elementos informativos que nos forneceu sobre o seu ilustre parente, o Capitão J. Teixeira Pinto (Angola, 1876 / Moçambique, 1917)(1), e que por certo contribuirá para despertar o interesse pelo aprofundamento do conhecimento sobre esta tão grande quanto mal conhecida (e quiçá mal amada) figura militar, ligada às campanhas de pacificação da Guiné, entre 1912 e 1915. Agradeço-lhe igualmente a correcção que me faz em relação ao livro de 1936, A ocupação militar da Guiné, que não é um livro de memórias, e que foi prefaciado pelo filho do herói do Oio, o Capitão de Artilharia João Teixeira Pinto.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1615: O Capitão Diabo, herói do Oio, João Teixeira Pinto (1876-1917) (A. Teixeira Pinto)

(2) Vd. posts de:

22 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1619: Questões politicamente (in)correctas (27): Teixeira Pinto, a Coroa e a República (João Tunes)

22 de Março de 2007 >Guiné 63/74 - P1621: Questões politicamente (in)correctas (28): Salazar, um dos últimos reis de Portugal (David Guimarães / João Tunes)


(3) Refere-se a Benjamim Pinto Bull (que morreu em Portugal em 2006) ou ao outro Pinto Bull, seu irmão, que foi deputado pela Guiné na Assembleia Nacional, e que morreu justamente na Guiné, em acidente de helicóptero, juntamente com o Pinto Leite, líder da ala liberal , em 25 de Julho de 1970, dois dias antes da morte de Salazar ?

Sobre Benjamim Pinto Bull, vd. artígo publicado no Diário de Notícias, de 5 de Janeiro de 2006, por ocasião da sua morte > O amigo de Senghor que a Guiné não aproveitou