segunda-feira, 25 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10073: Tabanca Grande (346): Fernando Sucio, ex-Condutor Auto do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Fernando Sucio, ex-Soldado Condutor do Pel Mort 4275, com data de 20 de Junho de 2012:

Chamo-me Fernando Sucio, nasci no dia 20 de Outubro de 1951 e fui Soldado Condutor no Pelotão de Morteiros 4275.

Cheguei à Guiné no dia 14 de Outubro de 1972.
Após as apresentações no Cumeré,  fui para Bula onde fui integrado na CCS do BCAV 8320.

Permaneci em Bula e São Vicente onde fizemos o destacamento.

Locais que me lembro de ter percorrido: Có, Ponta Augusto Barros, Pelundo, Teixerira Pinto, Cacheu, Binar, Nhamate, Pete, Ponta Consolação, Bissorã, Mansoa, Catió, Mansabá, Capunga e Bissau aonde me deslocava muitas vezes.

Regressei no dia 8 de Agosto de 1974.

As viagens de ida e volta foram feitas nos aviões dos TAM


Agora  a história.

Há bons e maus momentos para lembrar.

Tivemos logo duas mortes trágicas: a do 1.º Cabo Mecânico Realinho e a de outro Mecânico, quando tentaram ir a Binar, sem protecção, para reparar uma viatura civil da Casa Gouveia.
Foram mortos com um tiro cada um e o empregado da Casa Gouveia ficou sem as pernas, saindo ileso um rapaz que veio ao quartel dar a triste notícia.

Outras coisas aconteceram, de bom ficaram os amigos que lá fizemos.

Lembro-me de um pequeno a quem chamávamos Batatinha que queria vir comigo para Portugal. Não consegui despedir-me dele na hora do regresso, mas espero um dia vir a encontrá-lo.

Tenho muito mais para contar mas fica para mais tarde.

Envio um abraço muito grande a todos os ex-combatentes e agradecer a oportunidade que me deram para fazer parte desta grande página.


VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> Na foto: à esquerda Leonel Olhero (Ermesinde / Valongo) e à direita Fernando Súcio (Vila Real)


2. Comentário de CV:

Caro Fernando, bem-vindo à Tabanca Grande onde não és de todo desconhecido como prova a foto acima. Estiveste connosco no VII Encontro de Monte Real, e eu próprio já te encontrei na Tabanca dos Melros recentemente.

Seguindo as normas habituais, estás agora formalmente apresentado à tertúlia. Assim, a partir de hoje assumes a responsabilidade de colaboração escrita, ou em fotos, para aumentar o valioso espólio deste Blogue.

Ainda de acordo com o habitual, recebe um abraço em nome da tertúlia, dos editores e demais colaboradores desta págia.

Recebe um abraço pessoal do camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10063: Tabanca Grande (345): O nosso camarada Miguel Pessoa deu uma queda, fracturou o úmero, estando internado em Santa Maria para colocação de uma prótese

Guiné 63/74 - P10072: O Mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (58): O reencontro, 38 anos depois, de dois camaradas da Ponte Caium, o Cristina e o Pinto, 3º Gr Comb, CCAÇ 3546, Piche, 1972/74 (Cristina Silva, Funchal)




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) >Destacamento da Ponte Caium > A suite, os aposentos, os bu...rakos em que nós vivemlos... As camas, com rede mosquiteira (!), eram em beliche, e eram um luxo, como se pode ver na foto...
Este abrigo era o mais pequeno do destacamento de Caium: tinha apenas quatro camas... Ao lado era o depósito de géneros (que roubou espaço ao abrigo). Na foto, o nosso camarigo Jacinto Cristina, com o 1º cabo Pinto, o apontador do morteiro 10.7, assinalado com um círculo a vermelho...

Havia quatro abrigos, dois em cada lado do tabuleiro da ponte. Os outros três eram todos maiores (de 6 a 8 camas). Os abrigos eram ladeados por fiadas de bidões cheios de terra, dando alguma protecção em caso de ataque.



Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > 3º Grupo de Combate (Os Fantasmas do Leste) > Destacamento da Ponte de Caium > 1973 > Álbum fotográfico do Florimundo Rocha > Foto nº 8 > A famosa equipa de futebol...

"Em primeiro, ao centro, o Rocha, o dono da bola, à direita o José Alberto, à esquerda o Pinto [, assinalado com um círculo a vermelho]. De pé, na segunda fila, à direita, o Barbeiro, o furriel Barroca, o Santiago que tem a fita na cabeça, e o furriel Ribeiro" (Legenda: Carlos Alexandre, Peniche).


Foto: © Florimundo Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.





Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte Caium > Da esquerda para a direita: O 1º Cabo Pinto (assinalado com um círculo a vermelho), e os soldados Ramos, Jacinto Cristina (segurando granadas de morteiro 60), o Wolkswagen, o Fernandes, de pé (outro que morreu na emboscada de 14/6/1973) e o Silva ("que percorreu 18 km com um tiro no pé!")... Foto e legenda do Jacinto Cristina.


Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Não sei se foi graças ao nosso blogue, mas a verdade é que dois camaradas do 3º Gr Comb da CCAÇ 3546 (1972/74), que estiveram juntos na famosa Ponte Caium, o Jacinto Cristina e o Pinto, encontraram-se finalmente, 38 anos depois do seu regresso a casa, de avião dos TAM, em 23 de junho de 1974.

Quem me deu a notícia, foi a engª Cristina Silva, minha amiga, filha única do Jacinto Cristina e da Goretti, e casada com o meu amigo Rui Silva, médico (o casal vive e trabalha na Madeira).

A Cristina, que estava em Coimbra, para o concerto da Madonna (uma prenda de amor do seu esposo, que não pode vir por razões profissionais), deu-me a notícia, por telemóvel, com grande regozijo, ao saber da emoção com que o pai Jacinto acabava de receber, de braços abertos, o ex-1º cabo Pinto, o apontador do morteiro 10.7 e seu companheiro de abrigo (o Cristina, além de padeiro, era também o municiador do morteiro).

Para a emoção ser ainda maior, esse reencontro deu-se precisamente a 23 de junho de 2012, sábado passado, data que o Pinto fez questão de recordar, com pompa e circunstância...

Não sei de pormenores, mas fiquei com a ideia de que o Pinto fora visitar, no sábado passado, o Cristina na sua terra, Figueira dos Cavaleiros, concelho de Ferreira do Alentejo.

Quanto ao Pinto, não sei onde vive, nem muito menos sei o seu nome completo. De qualquer modo, através do blogue, o Jacinto tem tido notícias de outros camaradas da Ponte Caium, nomeadamente o Florimundo Rocha (Olhão), o Carlos Alexandre (Peniche) e o Ribeiro (Braga)... É caso para dizer, mais uma vez, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande! Agora falta o ex-1º cabo Pinto apresentar-se aos demais amigos e camaradas da Guiné.


Um beijinho para a Cristina [, foto à direita quando era mais pequenina, folheando o álbum do papá], e um alfa bravo para o camarada Jacinto, que eu não vejo há já uns bons tempos (*)

PS - Como é sabido, a Cristina Silva representa, e muito bem, o seu pai, Jacinto, na Tabanca Grande, não tendo ele nem email nem computador nem o hábito de blogar...

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Nota do editor:

Útimo poste da série > 23 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10062: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (57): Tenho na minha colecção peças de fardamento, de 1961, de António Sousa Teles, Major de Infantaria (Miguel Andrade)

Guiné 63/74 - P10071: Patronos e Padroeiros (José Martins) (28): S. Mateus, Patrono da extinta Guarda-Fiscal




1. Em mensagem do dia 16 de Junho de 2012, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos mais um trabalho para a série Patronos e Padroeiros.






Patronos e Padroeiros XXVIII

PATRONO DA GUARDA-FISCAL

São Mateus
Imagem da colecção de Manuela Martins
© Foto de José Martins.


São Mateus

Com a data e local de nascimento desconhecida, o filho de Alfeu, Mateus, ou Levi como também era conhecido, e sobre quem há pouca informação, situa-o na cidade de Cafarnaum com a profissão de publicano, termo que designa o cobrador de impostos ou “homem de negócios”, mas com sentido pejorativo.

Cafarnaum, que possuía uma alfândega e uma guarnição romana, cujo comandante se mostrava bastante amistoso com os judeus, tendo, inclusivamente, construída uma sinagoga, sugere que se tratava de uma cidade fronteiriça.

Da Bíblia podemos retirar a forma como foi descrito o encontro de Jesus com Mateus, e como este se tornou seu seguidor.

Em Marcos (2.14) “Ao passar viu Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe; Segue-me. Ele levantando-se, o seguiu”; em Lucas (5.27,28) “Depois disto, saiu ele e viu sentado na colectoria um publicano chamado Levi, ao qual disse: Segue-me. Ele, deixou tudo, levantou-se e o seguiu”; e no texto do próprio Mateus (9.9) “Partindo Jesus dali, viu um homem que estava sentado na colectoria, chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me. Ele, levantando-se, o seguiu”. Numa linguagem “dos nossos dias”, devemos entender que este homem, Mateus, seria um funcionário tributário ou um técnico de contabilidade que, com base na lei e nos rendimentos, calculava e cobrava os impostos, uma das razões que o elevaram a Patrono dos Contabilistas.

O facto relatado, deu-se quando Jesus, depois de atravessar o Lago Tiberíades, na sua missão de pregação e quando procurava encontrar os apóstolos para que continuassem a pregação.

Seguiu Jesus durante a vida pública deste, estando presente na Última Ceia, na Ascensão e no Pentecostes, partindo em missão de evangelização, para as regiões da Palestina e da Etiópia, acabando por escrever o que é considerado o primeiro Evangelho, para assim mais facilmente ser difundida a mensagem junto da comunidade cristã recém-saída do judaísmo.

Morreu cerca do ano de 70, e tem o seu dia festivo em 21 de Setembro. São Mateus foi declarado Patrono da Guarda Fiscal, por breve de Sua Santidade o Papa Paulo VI, de 25 de Março de 1964, sendo o Dia da Guarda Fiscal comemorado em 21 de Setembro de cada ano, data da celebração litúrgica do Santo

 
Nota do Autor:

A Guarda Fiscal era uma força policial dependente do Ministério das Finanças, criado em 17 de Setembro de 1885, substituindo na função o Corpo de Guarda-Barreiras, tendo por missão a fiscalização fronteiriça e aduaneira. Foi extinta em 26 de Junho de 1993, tendo sido criada uma brigada, junto da Guarda Nacional Republicana para as mesmas funções. Mais tarde passou a ter a designação de Unidade de Acção Fiscal.


Pesquisa e texto de José Marcelino Martins
17 de Junho de 2012

© Foto do militar da Guarda-Fiscal de Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10057: Patronos e Padroeiros (José Martins) (27): Bartholomeu Costa, Patrono do Serviço de Material

Guiné 63/74 - P10070: Notas de leitura (372): Obra Escolhidas de Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 7 de Maio de 2012:

Queridos amigos,
Para que conste, os dois volumes das obras escolhidas de Amílcar Cabral, pelo critério experiente de Mário Pinto de Andrade, estão esgotados.
Trata-se de uma antologia que garante um conhecimento dos dotes invulgares de Cabral como pensador revolucionário, estudioso, conferencista e cientista, por um lado, e autor de notícias, palavras de ordem, mensagens, improvisos e textos curtos da mais variada índole.
Tudo escrito em português de primeira água, a sua comunicação de que tanto se orgulhava, a língua que ele deu como indiscutível para unir os povos que quis libertar.

Um abraço do
Mário

Obras escolhidas de Amílcar Cabral

 Beja Santos

Trata-se, sem margem para dúvida, de uma seleção representativa do pensamento e da atividade militante de Amílcar Cabral, uma escolha feita por Mário Pinto de Andrade, um amigo e um intelectual de indiscutível mérito que conheceu o líder do PAIGC como poucos outros dirigentes africanos: “A arma de teoria, unidade e luta” e “A prática revolucionária, unidade e luta II”, ambos os volumes editados pela Seara Nova, em 1977 e 1978. Obra infelizmente esgotada e não se compreende a sua reedição. O leitor interessado no pensamento de Cabral tem disponível a antologia “Documentário” organizada por António Duarte Silva e editada pela Cotovia, em 2008, a preço muito acessível.

No primeiro volume, Mário Pinto de Andrade selecionou escritos da juventude, textos relacionados com o trabalho que Cabral desenvolveu num recenseamento agrícola da Guiné, em 1953, seguem-se textos incontornáveis como o material de divulgação de uso internacional aqui intitulado “A dominação colonial portuguesa”; depois procede-se a uma sumula dos trabalhos sobre a estrutura social da Guiné, os princípios do PAIGC e a prática política, as lições positivas e negativas da revolução africana, textos indispensáveis para se perceber a preocupação de Cabral com o unitarismo numa paisagem de fracassos consecutivos; os textos “A arma da teoria” revelam o pensador brilhante e também, para que dúvidas não houvesse, uma certa ligação ao leninismo; e, por último, as suas considerações, por vezes fulgurantes, sobre o conceito de libertação nacional e cultura.

Se o leitor me pedisse opinião sobre o que é de todo imprescindível conhecer deste pensamento e com base nas escolhas de Mário Pinto de Andrade, recomendaria sem hesitar “A dominação colonial portuguesa", texto escrito em inglês com o pseudónimo de Abel Djassi, que apareceu em Londres em Junho de 1960; “A arma da teoria” o famoso e controverso discurso que pronunciou em Havana, em 6 de Janeiro de 1966; e “A cultura nacional” conferência pronunciada na Universidade de Syracusa, EUA, em 20 de Fevereiro de 1970. Aqui nos quedamos, por uns instantes.

“A dominação colonial portuguesa” é um libelo explicativo do que move os movimentos de libertação nas colónias portuguesas. Cabral começa por pôr na mesa os argumentos enunciados pelo regime de Salazar como os direitos históricos, a missão de civilização, a assimilação, a unidade nacional e depois rebate-os ponto por ponto, usando argumentos muito caros à corrente principal, à escala mundial, que advoga a descolonização. Tome-se a situação social, como ele a descreve: "99,7 % da população africana de Angola, Guiné e Moçambique é considerada não civilizada pelas leis coloniais portuguesas e 0,3 % é considerada assimilada. Para que uma pessoa não civilizada obtenha o estatuto de assimilada, tem de fazer prova de estabilidade económica e gozar do nível de vida mais elevado do que a maior parte da população de Portugal. Tem de viver à europeia, pagar impostos, cumprir o serviço militar e saber ler e escrever corretamente o português. Se os portugueses tivessem de preencher estas condições, mais de 50 % da população não teria direito ao estatuto de civilizado ou de assimilado". É uma argumentação contrastante, cortante, como vai aparecer no trabalho forçado: “Na Guiné, em Moçambique e Angola existe o trabalho forçado para os trabalhos públicos. Mas nestes dois últimos países estende-se também às companhias privadas. Todos os anos são alugados 250 mil angolanos para as plantações, sociedades mineiras e empresas de construção. Todos os anos 400 mil moçambicanos são submetidos ao trabalho forçado; entre eles 100 mil são exportados para as minas da África do Sul e das Rodésias. Henrique Galvão, um ex-inspetor da administração colonial, declarava que a situação atual é pior do que a criada pela escravatura”. Depois do quadro explicativo, enuncia as suas pretensões: “Nós, africanos das colónias portuguesas, lutamos contra o colonialismo português, para defender os direitos do nosso povo. Exigimos que Portugal siga o exemplo da Inglaterra, da França e da Bélgica e reconheça o direito dos povos que domina à autodeterminação e à independência. As organizações africanas anticolonialistas das colónias portuguesas, que representam as aspirações legítimas dos seus povos, querem restabelecer a dignidade humana dos africanos, a sua liberdade e o direito de decidirem do seu futuro”.

O discurso “A arma da teoria” é considerado pelos estudiosos do pensamento de Cabral como uma das suas peças superiores. Dirige-se ao auditório para informar os presentes sobre a situação concreta da luta nas três colónias portuguesas. Para incómodo de uma boa parte da assistência diz coisas como esta “A deficiência ideológica, para não dizer a falta total de ideologia, por parte dos movimentos de libertação nacional, constitui a maior fraqueza da nossa luta contra o imperialismo”. E introduz um novo conceito da luta de classes, de acordo com o prisma africano, lembra a quem o ouve o que é o modo de produção e como se estão a processar as transformações na estrutura social. E certamente perante um auditório já confuso com tanto anátema à vulgata marxista-leninista fala sobre o papel da pequena burguesia como o dinâmico impulsionador da vanguarda da consciência revolucionária e profere: “A pequena burguesia só tem um caminho: reforçar a sua consciência revolucionária, repudiar as tentações de emburguesamento, identificar-se com as classes trabalhadoras. Isto significa que, para desempenhar cabalmente o papel que lhe cabe na luta de libertação nacional, a pequena burguesia revolucionária deve ser capaz de suicidar-se como classe, para ressuscitar na condição de trabalhador revolucionário, inteiramente identificado com as aspirações mais profundas do povo a que pertence”.

“A libertação nacional, ato de cultura” é outro expoente do seu pensamento. Associa a libertação nacional a um ato de cultura. Como observa, o colonizador nega o processo histórico do colonizado, é o colonizador que determina o modo de produção. Este modo de produção representa o resultado da pesquisa incessante de um equilíbrio dinâmico entre o nível das forças produtivas e o regime de utilização social dessas forças. E aqui a história é também cultura. E escreve: “A cultura, seja quais forem as características ideológicas ou idealistas das suas manifestações, é um elemento essencial da história de um povo. É talvez a resultante dessa história como a flor é o resultado de uma planta. Como a história, ou porque é a história, a cultura tem como base material o nível das forças produtivas e o modo de produção. Mergulha as suas raízes no húmus da realidade material do meio em que se desenvolve e reflete a natureza orgânica da sociedade, podendo ser mais ou menos influenciada por fatores externos. Se a história permite conhecer a natureza e a extensão dos desequilíbrios e dos conflitos (económicos, políticos e sociais) que caracterizam a evolução de uma sociedade, a cultura permite saber quais foram as sínteses dinâmicas, elaboradas e fixadas pela consciência social para a solução desses conflitos, em cada etapa da evolução dessa mesma sociedade, em busca de sobrevivência e progresso”.

Deixa-se para o próximo texto um conjunto de referências a documentos mais datados, panfletos, palavras de ordem e as suas derradeiras mensagens.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10061: Notas de leitura (371): "Bissau, Entre o Amor e a Guerra", de Leonel C. Barreiros (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10069: Cartas do meu avô (10): Oitava carta: finalmente, jurista da CGD (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

[Imagem  à esquerda: cartaz  comemorativos dos 40 anos do MRPP -  Movimento Reorganizativo do Proletariado Portugues, cortesia do blogue Restos de Colecção, de José leite



Segundo  este blogue, o MRRP  [que em 26 de dezembro de 1976 deu origem ao PCTP / MRPP]  "publica 'Bandeira Vermelha' em 1970, como órgão teórico,  e 'Luta Popular' em 1971, como órgão de massas e órgão central ". 


(...) "O MRPP foi um partido muito activo antes do 25 de Abril de 1974, especialmente entre estudantes e jovens operários de Lisboa e sofreu a repressão das forças policiais, reivindicando como mártir Ribeiro Santos, um estudante assassinado pela polícia política durante uma manifestação ilegal em 12 de Outubro de 1972. Arnaldo Matos era o seu Secretário Geral" (...).


O MRPP, influente nessa época na academia portuguesa, e em particular na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (segundo o testemunho do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, trabalhador-estudante até 1974/75), terá sido também a primeira das organizações políticas a liderar, a seguir ao 25 de abril de 1974, uma primeira manifestação de boicote ao embarque de soldados para o Ultramar, mais exatamente em 4 de Maio de 1974: 


 "O MRPP organiza a primeira manifestação de boicote ao embarque de soldados para as colónias. A Junta de Salvação Nacional previra a necessidade de envio de alguns batalhões de militares para substituirem a tropa portuguesa ainda em território africano e cujo período de mobilização já terminara. Pensava-se também que seria importante manter as Forças Armadas Portuguesas em África até final das negociações com os Movimentos de Libertação Africanos, com vista à independência dos territórios". [ Centro de Docu,entação 25 de Abril da Universidade de Coimbra]



A. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria do nosso camarigo Joaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió, que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66. [, Foto à direita, com os netos]. 


As cartas, num total de 13, foram escritas em Berlim, onde vivem os netos, entre 5 de março e 5 de abril de 2012. (*)

B. Oitava quadra > O Quadro Técnico


Finalmente, a feroz irreveverência e espírito de luta maquiavélica e arrasadora dos MRPP conseguiu apoderar-se da universidade. 



Arquitectaram um curso impregnado das doutrinas de Mao e abriram de novo as portas, com professores oriundos dos mais variados sítios. Bastava-lhes jurar fidelidade aos ideais que reinavam e eram aceites como professores.

A competência não contava. O que importava era que tinham conseguido a aprovação do poder político reinante. Os cursos eram válidos. E as licenciaturas também.

Era preciso acabar o curso, de qualquer maneira. O resto da preparação que faltava, ficaria para depois. Com a experiência prática.


Naquele ano e meio de convulsão escolar, houve alunos que fizeram dezenas de cadeiras em catadupa. Com passagens administrativas à farta. Na faculdade de direito, nas clássicas e, pasme-se, em medicina.


Esse tsunami de licenciados à pressão entrou portas dentro das empresas e serviços públicos. 


Em 1974, na CGD [, Caixa Geral de Depósitos ] , havia meia dúzia de trabalhadores a frequentar cursos superiores e, alguns, o de direito.

Em 1976, irrompeu, nos quadros da Caixa, um movimento interno de trabalhadores recém-licenciados, chefiados pelos MRPP. Reivindicaram ao seu modo, junto da administração, o seu imediato ingresso no quadro técnico.



A pusilanimidade da administração, por receio do saneamento imediato, abriu - lhes as portas. De repente, a lista dos licenciados atingiu os trinta e tal.

O administrador encarregou-os de elaborarem o seu próprio escrutínio, para preenchimento da dúzia e meia de vagas abertas de propósito. Por causa da decidida descentralização de crédito à habitação, agricultura e pescas. Por todo o país.

A administração queria colocar um núcleo jurídico em cada filial de distrito. 



De novo, se desencadeou uma luta selvagem entre os candidatos. Havia-os com dois ou três anos de Caixa, acabadinhos de concluir o curso. Eu era o mais antigo, em todos os sentidos: Tinha já uns onze anos de serviço na Caixa. Tinha mais cadeiras obtidas dentro da normalidade escolar, antes das convulsões.


Apareceram e defenderam-se as mais desavergonhadas e aberrantes propostas oportunistas. Desde a abolição do critério de antiguidade na obtenção do curso, à da classificação final.

No final, felizmente, consegui ingressar no quadro técnico. Este feito representava uma melhoria enorme na minha condição. Só por isso, estava reparado e bem, todo o sofrimento e esforço para obter a licenciatura.



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Nota do editor:

Último poste da série > 20 e junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10052: Cartas do meu avô (9): Sétima carta: A universidade, o 25 de abril... (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)


domingo, 24 de junho de 2012

Guiné 63/74 – P10068: Convívios (456): 6º Encontro-Convívio do pessoal das unidades adstritas ao BART 2917, Guimarães, 23 de Junho de 2012 (Benjamim Durães)



1. O nosso Camarada Benjamim Durães, que foi Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 – Bambadinca -, 1970/72, enviou-nos notícias da festa do convívio anual do BART 2917 e unidades adstritas: 

6º ENCONTRO-CONVÍVIO 
GUIMARÃES
23 de Junho de 2012 



Camaradas, 


Realizou-se no passado dia 23 de Junho, na Penha em Guimarães, o 6º Encontro-Convívio da CCS/BART 2917, cuja organização esteve a cargo do Manuel Ribeiro (Pechincha) do Mário Teixeira (Sacristão) e do Durães, que reuniu 60 combatentes da Guiné (3 da CArt 2714, 3 da CArt 2715, 1 da CArt 2716, 1 do Pel Caç Nat 63, 1 do Pel Mort 2268, 2 da CCaç 12, 1 da Cart 3493 que foi mais tarde transferido para a CCaç 12, 1 da CCS do BCaç 4612/74, 1 da CCav 8350/72, 1 da CCaç 4540 e 45 da CCS/BArt 2917), num total de 114 convivas. Neste convívio tivemos a presença de 14 novos combatentes.

No fim do almoço, fomos visitados pelos nossos Camaradas Casimiro Carvalho, Eduardo Campos e Magalhães Ribeiro, que se aliaram aos demais convivas, onde se incluíam alguns dos tertulianos: Jorge Cabral, Luís Moreira, José Almeida e António Duarte. 

ATENÇÃO: O 7º Encontro-Convívio ficou marcado para Maio de 2013 em Viseu


Os Combatentes das diversas Unidades presentes

Os Combatentes, seus familiares e Amigos 

Aspecto do salão com os convivas 

 Eu com a esposa e 2 netos (Flávio e Rafael)


Luís Moreira, Benjamim Durães, Eduardo Campos e Virgílio (Amigo que o Eduardo Campos não via há 20 anos)


 Magalhães Ribeiro, Luís Moreira, Jorge Cabral, Benjamim Durães, António Duarte, Casimiro Carvalho, Virgílio e Eduardo Campos
 Dr. Vilar (médico do BART 2917), Torres, Carvalho e Campos

Jorge Cabral, Casimiro Carvalho, Magalhães Ribeiro e Benjamim Durães 

Um abraço,
Benjamim Durães 
Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P10067: Convívios (455): Confraternização do BCAV 2922, decorreu no dia 16 de Junho de 2012, em Estremoz (Francisco Palma)


1. O nosso camarada Francisco Palma, que foi Soldado Condutor Auto Rodas da CCAV 2748 / BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72, enviou-nos a seguinte mensagem, sobre a festa da sua Unidade:

BCAV 2922 CONFRATENIZOU EM ESTREMOZ


Amigos e Camaradas,

O Bat. Cav. 2922 confraternizou e celebrou, em 16 de Junho 2012, os 40 anos do seu regresso da Guiné, contando com a presença de cerca de 200 Combatentes e seus familiares. 


Alem da colocação de uma lápida com a alusão ao evento, honraram-se também os nossos camaradas caídos em campanha, com a colocação de uma coroa de flores e honras militares. 

Registamos a amável colaboração e presença do Sr. Comandante do Regimento de Cavalaria 3, bem como de várias altas patentes militares e do Sr. Capelão da nossa Unidade, em Estremoz, donde havíamos partido em Julho de 1970. 

Foi um dia muito curto para tanta alegria, abraços e convívio de camaradagem.

Bem hajam a todos e obrigado por mais um dia em que relembramos velhas memórias das nossas vidas. 








Um abraço,
Francisco Palma
Sold Cond Auto Rodas da CCAV 2748/BCAV 2922
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:



23 DE JUNHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10064: Convívios (454): Encontro do pessoal da CART 2412 levado a efeito no dia 19 de Maio de 2012 em Vizela (Jorge Teixeira) 

Guiné 63/74 - P10066: Parabéns a você (440): Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72)

Para aceder aos postes do nosso camarada Vasco Joaquim clicar aqui
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10059: Parabéns a você (436): António José Pereira da Costa, Coronel de Artilharia Reformado (Guiné, 1968/69 e 1972/74)

sábado, 23 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10065: Em busca de... (193): Pormenores do acidente de aviação que vitimou o Sarg. Radiotelegrafista Domingos de Oliveira Neiva em Angola no dia 10 de Novembro de 1961 (Liliana Ramos)

1. Mensagem da nossa leitora Liliana Davis Ramos, neta do nosso camarada Sarg. Radiotelegrafista Domingos de Oliveira Neiva que faleceu num acidente no Chitado, TO de Angola ocorrido em 10 de Novembro de 1961:

Boa noite,
Hoje encontrei no vosso site http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/12/guine-6374-p9158-as-nossas-queridas.html um artigo àcerca do acidente de aviação do Chitado em 1961, sou neta do 1.º Sarg. Radiotelegrafista Domingos de Oliveira Neiva, que infelizmente se encontrava a bordo do avião, será que era possível obter mais informações deste acidente?

Nunca consegui obter muitas informações, será possível obter mais conhecimento junto das enfermeiras Maria Arminda e Aniceto Carvalho que se deslocaram ao local?

Aguardo uma resposta. É muito importante para mim e para a minha mãe, pois infelizmente não conheceu o pai...

Atentamente,
Liliana Davis Ramos
liliana.ramos7@gmail.com
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10041: Em busca de... (192): O ex-1.º Cabo Escriturário Mário Serra de Oliveira procura o seu Tenente Mário da Silva Ascensão, 1967/1968

Guiné 63/74 - P10064: Convívios (454): Encontro do pessoal da CART 2412 levado a efeito no dia 19 de Maio de 2012 em Vizela (Jorge Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Teixeira (ex-Fur Mil Art, CART 2412, Bigene - Guidage, Barro, 1968/70), com data de 19 de Junho de 2012:

Caro Carlos Vinhal
Camarada e amigo Carlos
Como sempre apelo à tua boa vontade e disponibilidade para fazeres o favor de publicar, se for possível, o nosso encontro/convívio que aconteceu em Vizela em 19-05-2012.

Um abraço, obrigado e desculpa a trabalheira.
cumprim/jteix



Foi na linda cidade de Vizela, no dia 19-05-2012, que aconteceu conforme estava previsto, o 15º encontro/convívio da CART 2412 "SEMPRE DIFERENTES" organizado e bem, pelo nosso camarada António Ferreira Machado (Machadinho), 42 anos depois do nosso regresso da Guiné à metrópole, que como sabem aconteceu no dia 14 de Maio de 1970. Ainda se lembram?...

A concentração do pessoal começou bem cedo. Bem cedo?... bem, seriam 11:00 horas seus malandros! Mas bem mandados, começaram a aparecer no "ponto de reunião".

Depois, conforme constava na "ordem de serviço", começaram a "perfilar" na Câmara Municipal.
Era a recepção que o Sr Presidente fez questão em nos receber.



Já na câmara o presidente, Sr. Dinis Costa no uso da palavra a dirigir-nos as boas-vindas e dissecando sobre o concelho mais jovem de Portugal, Vizela, e o seu magnifico património cultural e religioso.

Depois da recepção, que muito agradecemos, as fotografias da praxe para a posteridade.


Seguiu-se uma missa na capela de S. Bento das Peras em honra dos camaradas já falecidos.

O Sr. Padre fez uma homilia alusiva à circunstância dos encontros dos ex-combatentes e no fim fez questão de nos cumprimentar. Agradecemos a amabilidade.


É aqui que começava a verdadeira "guerra" ou não estivéssemos nós já habituados a montar verdadeiras emboscadas. É evidente que o IN aqui não era o "bigodes, ou te calas ou te..." e ele não se calou e leu em poesia os "planos da pólvora" até ao fim, grande seca... ...tábem prontos, não foi.

Seguem-se as fotos do "ataque" propriamente dito, sem comentários. Estavam todos concentrados a contar munições e a relatar os factos vividos à muitos anos atrás quando o "rancho" era outro.
Olhem para eles, nem se ouvem tal a concentração...


...ide pró mato malandros!
O pessoal já começava a dispersar para desgastar...

Finalmente o bolo e seus carrascos, que diga-se de passagem estava muntabooomm!

Mas há aqui um "piqueno quiproquó" que convém esclarecer e que já vem dos anos anteriores. Façam o favor de rectificar que não é o 42º convívio, porque só fizemos 15, mas sim o 42º aniversário do nosso regresso da Guiné.

E para acabar, fim de festa: tchim, tchim... Na foto os manfios esq/dta: Godinho, Teixeira, Ventura, Machado (o trabalhador desta coisa), Barbeitos (meio escondido) e finalmente o Feliciano (e a sua mãozinha extra, para o que der e vier!). Até pró ano camaradas, um abraço para todos.
cumprim/jteix

(Fotos e legendas retiradas do Blogue da CART 2412)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10033: Convívios (453): 2.º Encontro Nacional dos "Onças Negras de Bedanda" - CCAÇ 6, ocorrido no dia 9 de Junho na Mealhada (António Teixeira)