terça-feira, 2 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19064: In Memoriam (327): António Manuel Sucena Rodrigues (1951-2018): até sempre, camarada ! (António Duarte, Jorge Araújo, Luís Graça)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel de Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Dois camaradas da 3.ª geração de graduados, metropolitanos, da CCAÇ 12, o António Duarte e António Manuel Sucena Rodrigues (1950-2018). Foi a última vez que eu vi o Sucena Rodrigues, meu "neto": sou da 1.ª geração, a dos pais-fundadores da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969-71).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Vagos > 13 de janeiro de 2018 > Tomada de posse dos corpos sociais  da Confraria dos Rojões da Bairrada com Grelo e Batata a Racha (biénio de 2018-2019). O António Manuel Sucena Rodrigues, já doente, é o segundo a contar da direita... Sabemos pouco sobre a sua vida pessoal, a não ser que era professor reformado, tendo-se formado em engenharia; e era um apaixonado pela gastronomia da sua região natal, a Bairrada, pertencendo nomeadamente  esta confraria bairradina e à sua direção, exercendo o cargo de vice-presidente mordomo.

"A Missão da Confraria dos Rojões da Bairrada com Grelo e Batata à Racha é preservar, promover e divulgar os rojões da Bairrada, assim como outras iguarias, genuinamente locais e tradicionais, que sejam produtos diferenciadores das demais regiões, podendo constituir uma alavanca para o desenvolvimento socioeconómico local."

 (Fonte: página do Facebook da  Confraria dos Rojões da Bairrada com Grelo e Batata à Racha.  Com a devida vénia, a foto aqui reproduzida foi editada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).


1. Em Samba Silate, Xime, Setor L1, no pós 25 de abril, fazendo a paz depois da guerra

por A. M. Sucena Rodrigues

[ex-fur mil inf, CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1972-1974]

Cumpri a minha comissão de serviço na Guiné de 23 de junho de 72 a 30 de julho de 74. Apanhei lá o 25 de Abril, como se pode concluir, e por isso tive oportunidade de viver a transição da guerra para a paz. Guardo disso algumas recordações (...).

Estive na CCaç 12 (, pertenci à 3.ª geração de militares europeus da companhia), inicialmente em Bambadinca e posteriormente no Xime [, a partir de março de 73]. A vida neste local era certamente igual à que se vivia no resto do teatro de operações da Guiné (salvo alguns casos pontuais, quiçá mais complicados): actividade operacional quanta baste, incluindo as habituais flagelações ao quartel, normalmente de curta duração, que ocorriam aproximadamente de duas em duas semanas e que de resto nunca deixaram mossa grave, com excepção de duas delas, sendo que uma dessas foi a última, e aconteceu poucas semanas depois do 25 de Abril.

Foi um ataque ao cair da noite como normalmente acontecia, com características algo diferentes daquilo que era habitual. Durou mais tempo, com disparos da artilharia inimiga (ou RPG),  mais espaçados. Curiosamente uma dessas granadas atingiu uma árvore de grande porte por cima da tabanca,  tendo os estilhaços ferido alguma população. Foram de imediato tratadas na enfermaria (às escuras). Lembro-me, pelo menos,  de duas mulheres, uma delas grávida já quase no fim do tempo, e de algumas crianças. É de realçar que nem as mulheres nem as crianças disseram um 'ai' que fosse, antes, durante ou depois dos tratamentos. Isto mostra um conformismo com o sofrimento e uma capacidade impressionante de suportar a dor, certamente adquirida pelo 'calo' da guerra. Imaginem se fosse cá. (...)


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) >  Subsetor do Xime > CCAÇ 12 (Xime, 1973/74) >  Samba Silate > Pós 25 de abril de 1974 > "Para a posteridade aqui ficou uma foto tirada em Samba Silate, a única vez que lá fui,  em que me apresento com as barbas que mantenho há 40 anos. Apenas mudaram de cor"... Ao centro, um guerrilheiro do PAIGC e à esquerda, na ponta, um soldado.


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) >  Subsetor do Xime > CCAÇ 12 (Xime, 1973/74) >  Samba Silate > Pós 25 de abril de 1974 > Visita do guerrilheiro à tabanca de Samba Silate, sua terra natal. De pé, pode ver-se o guerrilheiro (segundo a contar da esquerda), o Jamil (de braços cruzados) e o capitão Simão (de camisola branca e com a mão no cinturão).


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) >  Subsetor do Xime > CCAÇ 12 (Xime, 1973/74) >   Samba Silate > Pós 25 de abril de 1974 > Continuação da visita à tabanca de Samba Silate. É curioso observar, pela imagem, que a população não era certamente de etnia Fula nem Mandinga, muçulmana, mas sim Balanta, devida à prática da suinicultura...


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) >  Subsetor do Xime > CCAÇ 12 (Xime, 1973/74) > Samba Silate >  Pós 25 de abril de 1974 > Ruinas da casa onde nasceu o guerrilheiro acima referido (vd. o poste P14055).... Ao fundo, à direita, devidamente sinalizada a vermelho, pode ver-se a cruz que, segundo o guerrilheiro, foi erigida antes da guerra,  nos anos 50, pelo  missionário católico italiano que lá viveu e que ele chamava padre António Grillo. (Nasceu em 1925, em Acerenza, Itália, foi preso pela PIDE em 23/2/1963; faleceu em 18/6/2014, com 89 anos
de idade, na sua terra natal, depois de ter voltado à Guiné-Bissau e aos seus "balantas de Samba  Silate", a seguir à independência.)

Fotos, legendas e texto : © António Manuel Sucena Rodrigues (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Não foi por acaso que se tratou de um ataque diferente dos habituais. Enquanto estávamos debaixo de fogo, verificámos que havia disparos de RPG tracejantes nas nossas costas e algo distantes, o que nunca tinha acontecido. É que ao mesmo tempo foi atacada a tabanca de Samba Silate (...)

Esta tabanca recebia população refugiada, vinda das chamadas zonas libertadas. Era colocada ali porque, dada a sua localização, tornava-se muito difícil sofrer um ataque de retaliação por parte da guerrilha. De um lado,  tinha a estrada [, alcatroadA,] Bambadinca-Xime e, do outro,  a bolanha e o rio Geba. Pode-se dizer que executaram uma operação bem planeada. Impediram-nos de sair do quartel, atacando-nos durante o tempo necessário, enquanto outro grupo destruía parte da tabanca de Samba Silate.

Mas a história não acaba aqui. Não nos podemos esquecer que já tinha acontecido o 25 de Abril. Porém a paz oficialmente ainda não tinha sido acordada entre as novas autoridades portuguesas e a direcção do PAIGC. Ainda não tinham começado as primeiras conversações em Londres, com Mário Soares do lado de Portugal e Pedro Pires do lado do PAIGC. Passaram mais umas duas ou três semanas e apareceu na tabanca do Xime, pela primeira vez, um guerrilheiro fardado e desarmado. (...)

Foi ter à tabanca de um africano, homem magro e alto, salvo erro de etnia balanta, que se chamava Jamil (talvez algum camarada me possa confirmar o nome),  mas que era pouco falador e bem conhecido entre nós porque sempre suspeitámos que se tratava de um informador do PAIGC (...).  Foi ele que levou o guerrilheiro à presença do nosso capitão Simão.

Houve naturalmente cumprimentos cordiais de parte a parte e lembro-me que esse guerrilheiro ofereceu um galhardete com a bandeira do PAIGC ao capitão (...). Por sua vez, este ofereceu-lhe uma garrafa de whisky (ou brandy, valha a verdade). Esta garrafa trouxe consequências, como veremos mais adiante.

No dia seguinte, a pedido do guerrilheiro, fomos visitar a tabanca de Samba Silate, pouco antes atacada (...). Aproveitei para ir na comitiva e tirar as fotos que agora recordo. Foi a primeira vez e única que lá fui, e estava ali tão perto...

Esse guerrilheiro contou-nos um pouco da sua história: era de lá, e mostrou-nos, com alguma emoção, as ruinas da tabanca onde tinha nascido e vivido enquanto jovem. Falou-nos também numa cruz em cimento,  ainda intacta, a qual, segundo ele, havia sido construída, por um tal padre António [Grillo], missionário que lá viveu antes da guerra (...).  Também mostrou as ruinas da tabanca onde viveu esse missionário (...). Cumprimentou várias pessoas da tabanca, sem grande euforia, mas sempre com respeito. (...). 

Foi uma visita simples mas significativa que durou toda a manhã. Foi a oportunidade de reencontrar um passado que a guerra quase fez esquecer mas que na verdade estava bem presente. A vontade de acabar com a guerra não era exclusiva de uma das partes em conflito. Foi uma manhã emocionante. Todos os que, no mato, pegaram em armas, quer de um lado da barricada quer do outro, eram pessoas de corpo e alma, com sentimentos. Só os mandantes supremos é que não sabiam isso. Isto ficou demonstrado neste episódio simples mas significativo. (...)

Após a visita regressámos ao Xime e o guerrilheiro, não me lembro se nesse dia ou num dos seguintes, regressou ao mato tal como de lá veio, sem que dessemos por isso. Nos encontros amigáveis e de reconciliação que posteriormente realizámos no mato, em Madina Colhido, ele não esteve presente por razões que nos foram explicadas pelo comandante máximo do PAIGC na zona. É que a tal garrafa de uísque que o capitão Simão lhe entregou, era para oferecer ao dito comandante que, com os seus homens,  deveriam festejar a paz. Acontece que, no auge das emoções, ele bebeu-a só, logo 'enfrascou-se', e por isso foi castigado com prisão. Quem havia de dizer?! (...)

[Seleção, revisão e fixação de texto: LG]


2. Reações de alguns camaradas após a notícia da sua morte (**)

(i) António Duarte:

(...) Já depois de regressar da Guiné, fez em Coimbra o curso de Engenharia Electrotécnica, tendo sido professor do ensino secundário até à reforma, que ocorreu em 2016.

Casado com a Rosa Pato, professora do ensino básico, sua namorada dos tempos da Guiné, tem dois filhos e 3 netos.

Vivia em Oliveira do Bairro, tendo sido operado em Coimbra no início do ano, aquando da deteção da doença.

Era habitual estar presente nos almoços da nossa Tabanca Grande, em Monte Real. Este ano já não foi por não estar bem.

Que permaneça vivo nas nossas memórias, já que se trata de um bom Homem, com participação em causas para ajuda dos mais desfavorecidos, estando sempre pronto a ajudar o próximo de forma desinteressada. Era voluntário do Banco Alimentar e de mais algumas organizações locais de ajuda a terceiros.

À família e amigos mais chegados, presto os meus sentidos pêsames, com a certeza que sempre recordarei os momentos vividos com ele na CCAÇ 12 e, mais recentemente,  em encontros em Oliveira do Bairro e Lisboa, em conjunto com as nossas Companheiras de uma vida. (...)



(ii) Jorge Araújo:

(...) Camarada António Duarte, foi, de facto, uma má notícia aquela que acabas de me/nos dar - a morte do camarada António Rodrigues. Com ele partilhei missões conjuntas nas matas do Fiofioli, durante os anos de 1972/1973, eu, na CART 3494,  ele (e tu) na CCAÇ 12.

O que se pode fazer agora? Nada! É que a natureza do tempo aliada à natureza humana comportam-se, lamentavelmente, de forma impiedosa. (...)


(iii) Tabanca Grande Luís Graça:

António: que tão má e tão triste notícia nos trouxeste, ontem, ao fim da tarde, vinha eu em viagem do Norte. E só hoje, de manhã, a li. Obrigado, mensageiro, alguém tem que nos dar a notícia da morte dos nossos camaradas que não resistem à usura do tempo... E às vezes até parece que os camaradas da Guiné são os mais vulneráveis... Já tivemos 8 mortes, comhecidas, este ano... A nossa Tabanca Grande está cada vez mais pobre!

Eu sabia que o camarada Sucena Rodrigues estava doente, não tendo já vindo ao nosso último encontro, em Monte Real. Vem agora o desfecho, inelutável. Um duro golpe para todos nós, família (esposa, filhos, netos), amigos e camaradas...

Faço aqui um primeiro comentário, já que se tratava de um camarada da minha CCAÇ 12, da 3ª geração, um "neto", como eu gostava de lhe dizer, a brincar, a ele e ao António Duarte...

Já pedi ao António Duarte que transmita à família as condolências dos camaradas da Guiné, reunidos sob o poilão da Tabanca Grande.

O Sucena Rodrigues tem 12 referências no nosso blogue, com informações notáveis sobre o Xime e Samba Silate, do tempo em que a CCAÇ 12 passou a unidade de quadrícula, com sede no Xime, por volta do 1º trimestre de 1973 (...)

Até sempre, camarada Sucena Rodrigues! (...) (***)
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Guiné 61/74 - P19063: In Memoriam (326): João Rebola (1945-2018)... Homenagem dos amigos e camaradas. Fotos de Manuel Resende... O funeral é hoje, às 15h00, na igreja da Senhora da Hora, Matosinhos.


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Foto nº 5


Foto nº 6

Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 >


1. Imagens do João Rebolo (1945-2018) (*), porta-estandarte da Tabanca Pequena de Matosinhos,  tendo ao lado o Manuel Carvalho (fotos nºs 1 e 2) ed o Xico Allen (Foto nº 2); petiscando com os manos Varrasquinha, Diamantino e Manuel, de Ervidel, Aljustrel (foto nº 3); sentado à mesa, entre o J. Casimiro Carvalho à sua direita e o António Barbosa (Gondomar), à esquerda (foto nº 4); tocando e cantando com a malta da Tabanca de Matosinhos (fotos nºs 5 e 6).

Fotos: © Manue Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Seleção de mensagens de condolências emviadas por alguns dos seus amigos e camaradas, e recolhidas da Net (páginas do Facebook, Blogue...)

(i) Conselho de Administração da ONGD Tabanca Pequena:

(...) A sua forma de ser, estar e agir na vida, na sua simplicidade, foi um manancial de vivências que marcou todos quantos com ele se cruzaram na sua caminhada neste mundo. (...)

(ii) Carlos Vinhal, coeditor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné:

(...) Em SMS de ontem, manhã cedo, o nosso camarada José Teixeira deu-nos notícia do falecimento do João Rebola que há muito se encontrava doente. Lutou quanto pôde com a doença que o vitimou até da lei da morte se libertar. Ainda no passado dia 14 de Setembro, em resposta a um SMS que lhe mandei, dizia-me: "Bem não estou, gostaria... mas estou vivo". (...)

(iii) Tabanca Grande Luís Graça:

(...) É mais um duro golpe para os amigos e camaradas da Guiné, em especial da Tabanca de Matosinhos e da Tabanca Grande. Estão as nossas tabancas mais pobres e a fazer o luto pela perda de mais um bom amigo e camarada da Guiné!... 

Sabíamos da doença que o minava, mas mesmo assim arranjava forças para consolar e encorajar os que ainda estavam pior do que ele... Foi o caso do Joaquim Peixoto, que ele foi visitar ao hospital, pouco semanas antes de morrer... Que nobreza de carácter, que lição para todos nós!


Para a família enlutada vai o meu abraço solidário, em meu nome pessoal e dos membros da Tabanca Grande. Luís Graça (...)

(iv) Hélder Sousa:

(...) O João Rebola foi daqueles amigos "ganhos" aqui,  através do Blogue,  e com o qual foi muito fácil ganhar empatia, respeito e consideração.

Contactei algumas vezes com ele por força da regularização das quotas da Tabanca de Matosinhos e, mesmo este ano, quando a doença já mais o incomodava, não deixámos de conversar. É com tristeza que tomei conhecimento desta "partida". (...)


(v) J. Casimiro Carvalho:

(...) Fui ao velório "despedir-me" do João Rebola. Encontrei outros combatentes na mesma triste Missão. Um camarada que merece uma referência, pelo seu espírito bonacheirão, amigo e sempre bom camarada. Sempre com um sorriso rasgado para nós. e são esses que me custa ver "partir"
Adeus camarada da Guiné. (...)

(vi) Francisco Baptista:

(...) O João Rebola foi um bom homem e um camarada excelente, membro muito diligente dos Corpos Sociais da Tabanca de Matosinhos. Sem nunca procurar qualquer notoriedade, discreto e sem fazer alarde, foi sempre muito dedicado aos camaradas e aos pobres e abandonados da Guiné, o grande objectivo social da Tabanca.


Nos almoços em que estava presente, procurou sempre dar a todos e a cada um alguma visibilidade nas muitas fotografias que tirou. Afincadamente procurava cobrar as quotas dos que se esqueciam ou dos que deixavam de estar presentes nos almoços. Há cerca de meio ano encontrei-o e falou-me das minhas quotas em atraso, penso que duas. Eu prometi-lhe que quando ele voltasse eu iria também e pagaria tudo o que era devido. Infelizmente ele não pôde voltar mas eu irei à Tabanca de Matosinhos brevemente almoçar e pagar as minhas quotas em atraso.

João, irei lá pagar-te porque tu para mim continuarás vivo até ao meu fim e não posso faltar à palavra a um amigo. Até sempre camarada!

À esposa do João Rebola, senhora simpática que conheço bem e a toda a restante família dele envio os meus sentidos pêsames Envio os meus sentidos pêsames também a todos os amigos e camaradas da Tabanca de Matosinhos e doutros lugares. (...)

(vii) Valdemar Queiroz:

(...) Que chatice já começarmos a morrer. Que chatice, não merecíamos. Pelo menos que o tempo passado na Guiné conte mais uns anos no tempo da nossa vida. Não merecíamos morrer tão cedo.
Não merecíamos. (...)

(viii) Armando Pires:

(...) João Rebola morreu. E eu tenho um imenso aperto no peito. Em sua memória, das minhas crónicas no blog Luís Graça & Camaradas da Guiné:

Bissorã, 1969 (**)

(...) "Saímos da casa, e quando íamos a atravessar a rua quase fui abalroado por um gajo que, numa motorizada em grande velocidade, fez duas “chicuelinas” para me evitar, seguindo em frente sem dizer água vai nem água vem.
 – Que é isto, ó Filipe?

Com um largo sorriso informa-me, “é pá, é o maluco do Rebola, furriel da 2444”.
Apresentado assim pelo Filipe, o espanto passou-me e pensei para com os meus botões:
– Queres ver que já estou com a minha gente?

(...) Passei à porta do bar dos sargentos da 2444 e do seu interior saiam uns acordes de viola, que por acaso até me soarem bem ao ouvido.
– Pode-se entrar, camaradas?

Apresentámo-nos, sai um Johnnie Walker com duas pedras de gelo a selar o momento, e dei comigo a pensar que o gajo da viola era o mesmo que, no dia da minha chegada, me ia “atropelando” com a mota.
– Ouve lá, pá, tu não és o João Rebola?

Contei-lhe que tinha sido o Filipe (...) Gargalhada geral, venha de lá esse abraço, “ hei de vir aqui mais vezes – disse eu – que talvez ainda façamos umas fadestices".

Mais tarde (…) saí para jantar e tropecei de novo no João Rebola.
– Queres boleia, pá?

(…) E convidou-me a fazer “a viagem” na sua motorizada.
– Tens medo de andar nisto, pá?
– Só não sei andar, mas medo de andar não tenho.
– Ó pá, mas se quiseres aprender eu ensino-te já. Isto é o mesmo que andar de bicicleta.

E foi assim que o João Rebola, antes de ser meu viola privativo, se transformou no meu instrutor de motorizada.

(...) Chamado à sua presença, o capitão Barros abriu a conversa.
– Ó furriel Pires, o nosso comandante pretende estreitar os laços de amizade e de cooperação entre as nossas tropas e a comunidade civil de Bissorã, e propôs-me que realizássemos no nosso bar de sargentos, que tem espaço e excelentes condições, uns serões sociais (…) e eu pensei fazermos umas sessões de bingo aos sábados à noite (…) o nosso comandante até me disse constar entre os nossos oficiais que o senhor canta muito bem o fado…

"Olha para onde vens tu, ó Barros!" - pensei eu - e atalhei aquela espécie de música para encantar meninos fazendo-lhe uma declaração definitiva.
– Pois é, meu capitão, mas fará o favor de dizer ao nosso comandante que comigo não há fados à capela.

O senhor capitão pôs um ar surpreendido, (…) “o que é que o nosso furriel quer dizer com isso?”.
– Meu capitão, quero dizer que, sem acompanhamento, sem guitarra e sem viola, eu não canto.
O recado foi levado ao senhor comandante, foi-lhe transmitido na messe de oficiais, e ali mesmo o alferes miliciano Marcão, comandante do 2º grupo de combate da 2444, anunciou que tinha no seu grupo um furriel que tocava muito bem viola. O furriel de que o Marcão falava era o João Rebola.

Encurtando parágrafos à história, as sessões de bingo foram por diante, o João Rebola trouxe consigo outro exímio violista, o soldado Vilas Boas, e depois de várias horas de necessários ensaios lá fizemos a nossa apresentação pública.

Todos os sábados à noite, o bar de sargentos da CCS enchia de tropa e civis para as sessões de bingo, e, modéstia à parte, rebentava pelas costuras quando chegava a hora do fado.”

O João Rebola, à minha direita na foto, não voltou a tocar para mim nem eu tornei a cantar com ele.
Perene, foi a amizade que nos uniu, a memória que dele me fica. (...)



Guiné > Região do Oio > Bissorã > BCAÇ 2861 > Messe de sargentos > Numa das sessões de fados aos sábados: da esquerda para a direita, João Rebola, viola,  Armando Pires, voz, e Vilas Boas, viola...
"Sou o João Manuel Pereira Rebola, ex-furriel mil que cumpriu,  desde 15/11/68 a 20/08/70, a sua comissão na Guiné. Mas foi em Bissorã que conheci o furriel enfermeiro "ribatejano e fadista", Armando Pires,  e que ao fim de 40 anos nos reencontrámos!!! (...) O Armando, durante o tempo em que a minha companhia, a CCaç 2444, 'Os Coriscos', permaneceu em Bissorã, todos aos sábados, na messe dos sargentos do BCAÇ 2861, cantava fados como ninguém e tinha como acompanhantes o Vilas Boas e eu, que me encontro à sua direita, na foto, que confirma o epíteto de furriel fadista. Aqui está a prova real!" (Excerto do poste P10821). (**)

Foto (e legenda): © João Rebola (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradasda Guiné]



Lisboa > Arquivo Geral do Exército, no antigo Convento de Chelas (, sito no largo de Chelas, em Chelas, Freguesia de Marvila, Concelho de Lisboa) > 22 de fevereiro de 2013 > O reencontro de 2 velhos amigos, camaradas de armas e companheiros de fadistagem em Bissorã... O João que reconheu o Armando... 43 anos depois: à direita, Armando Pires (Miraflores, Carnaxide, Oeiras) e João Rebola, à esquerda  (Senhora da Hora, Matosinhos)... E tudo graças ao nosso blogue... É caso para dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!"...

Foto: © Armando Pires (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
    (ii) Vivia no Porto (, mas eu tenho  a ideia que era oriundo do Sul);
    (iii) Andou na escola Colégio Portuense (, turma de 1967); 
    (iv) Estudou em Faculdade de Letras da Universidade do Porto (, turma de 1985);
    (v) Era reformado nos SBN-SAMS; e, anteriormente,  trabalhara no Sindicato Bancários do Norte;
    (vii) Era o tesoureiro da ONGD Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau e um dos "régulos" da Tabanca de Matosinhos;
    (viii) Entrou para a Tabanca Grande em 18/12/2012, sendo o seu "padrinho" o Armando Pires (***); tem mais de 20 referências no nosso blogue;

(ix) Tocava viola, bandolim e cavaquinho; era casado, e pai de duas filhas e, muito provavelmente, avô;

(x) Não chegou a completar os 73 anos; despediu-se cedo demais da "terra da alegria"; era amigo do seu amigo e camarada do seu camarada. (LG)

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19062: Memória dos lugares (381): Bigene, na fronteira com o Senegal... Foi lá que fomos render a CART 3329, em outubro de 1972, antes de ir parar ao Cantanhez (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar, Nhacra, 1972/74)



Foto nº 1 > Guiné > Região de Cacheu > Bigene > CCAÇ 4540 > c. out / dez 1972 > Junto aos brasões das Companhias que por lá tinham passado



Foto nº 2 > Guiné > Região de Cacheu > Bigene > CCAÇ 4540 > c. out / dez 1972 >
O descanso do “guerreiro” junto ao posto de rádio

Foto nº 3 > Guiné > Regão de Cacheu > Bigene > CCAÇ 4540 > c. out / dez 1972 > Com um amigo de ocasião


Foto nº 4 > Guiné > Região de Cacheu > Bigene > CCAÇ 4540 > c. out / dez 1972 > De vez em quando dava para tomar banho.


Fotos(e legendas): © Eduardo Campos (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Excerto de um texto de memórias do Eduardo Campos (ex-1.º cabo rádio-telegráfico, CCAÇ 4540, "Somos um Caso Sério", Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar. Nhacra, 1972/74) (*)


No dia 28 agosto 1972, teve início no Regimento de Infantaria 15 (RI 15), em Tomar, a concentração do pessoal que constituiria a Companhia de Caçadores 4540 ["Somos Um Caso Sério", 1972-1974]. Na sua grande maioria, os militares eram oriundos do Norte do País, sendo de realçar a presença de alguns que vieram de França, para cumprirem o Serviço Militar.

Foi-nos concedido o gozo de uma licença de 2 semanas, após a qual o pessoal da Companhia se foi apresentando novamente no RI 15, tendo-se procedido à cerimónia de Benção e Entrega do Guião à Companhia no dia 15 de setembro de 1972, seguido de um desfile das tropas, na parada do Regimento.

Às 2h00 do dia 19 desse mesmo mês, a Companhia embarcou em autocarros, em Tomar, dirigindo-se para o aeroporto de Lisboa, onde o pessoal transitou para um avião dos TAM (cerca das 09h00), após o que levantamos voo rumo aos céus da África Ocidental.

Após quatro horas de voo bastante confortável, durante as quais imperou a boa disposição, já que a quase totalidade do pessoal realizava a sua primeira viagem aérea, aterramos no Aeroporto de Bissalanca. Procedeu-se então ao desembarque, perante um calor tórrido e sufocante, próprio das regiões tropicais.

Terminadas as formalidades habituais destas rotinas, procedeu-se ao transporte dos militares e respectivas bagagens, numa coluna de viaturas com destino ao Cumeré onde ficamos instalados. No dia 22 de setembro de 1972, de manhã, fomos chamados para uma formatura geral, a que se seguiu o desfile da Companhia recém-chegada, perante o Brigadeiro Alberto Silva Banazol [, comandante do CTIG, ] que proferiu algumas palavras de boas-vindas. Nesse mesmo dia segui para Bissau, com destino ao Regimento de Transmissões, onde estive cerca de 15 dias a fazer o chamado IAO.

Terminado o IAO, houve lugar a nova formatura geral no dia 17 de outubro de 1972, desta vez frente ao General António Spínola, Governador e Comandante-Chefe das Força Armadas do CTIG. No dia seguinte, a 18 a Companhia partiu do Cumeré com destino ao porto de Bissau, onde se procedeu ao nosso embarque na LDG Bombarda, rumando à "terra prometida”, Bigene, junto à fronteira com o Senegal.

E assim, lá fomos rio acima (Cacheu), desembarcando numa localidade chamada Ganturé, onde nos esperavam os camaradas da CART 3329, que iríamos substituir. Era notável a alegria com que nos receberam, tendo-nos em seguida transportado para Bigene (cerca de 6 ou 7 km), onde deparamos com vários dísticos e cartazes alusivos à chegada da nova Companhia de periquitos, espalhados pelas paredes e pela rua principal, cheios de humor e ironia......

Bigene era bastante povoada, com gentes de várias etnias, predominando os Fulas e os Balantas, havendo ainda bastantes Mandingas. A população europeia, além dos militares e do administrador de Posto, era praticamente inexistente, havendo apenas 1 português que era proprietário de uma casa comercial. Havia mais 3 casas comerciais, propriedades de 3 libaneses.

No posto sanitário de Bigene acontecia algo que eu considerava surpreendente, que era receber e tratar populares do Senegal, que atravessavam a fronteira para receberem tratamento médico. Ao mesmo tempo, esta gente aproveitava para comercializar os seus produtos no mercado local.

No dia seguinte, começou o treino operacional em conjunto com a CART 3329, cuja finalidade era adaptar e capacitar o pessoal em situações operacionais semelhantes às que iria encontrar nas suas futuras actividades dentro do sector atribuído à Companhia. É de salientar que, ainda no período de treino operacional a 23 de outubro de 1972, se ter verificado o 1º contacto de fogo com o IN, mesmo junto ao marco fronteiriço que separava a Guiné e o Senegal.

Só me apercebi que a palavra guerra fazia aqui todo o sentido, quando saí pela primeira vez para o mato e assisti à implantação de um campo de minas, e algumas armadilhas, na zona Samoge-Sambuía [dv. mapa, abaixo].O primeiro baptismo de fogo aconteceu a 24 de outubro de 1972, próximo de Nenecó, sem consequências. O PAIGC pelas informações que tínhamos, não tinha estruturas dentro do subsector de Bigene, nem se encontrava implantado no mesmo.

Partiam de bases situadas no Senegal, principalmente em Kumbamori, crê-se que utilizando as variantes do corredor de Sambuiá, para “cambar” o rio Cacheu, transportando material e mantimentos até ás margens do rio Cacheu, que procuravam atravessar em canoas e botes de borracha, para o interior do território, sendo, por vezes, surpreendidos pelos fuzileiros que se encontravam em Ganturé.

Terminado o período de sobreposição com a CART 3329, foi transferida por esta Companhia, para a nossa, toda a responsabilidade administrativa e operacional. No dia 15 de novembro de 1972, a CART 3329 terminou a sua comissão e despediu-se de Bigene.

Foi com muita emoção que os vimos partir, após um convívio comum de quase um mês, passado naquela localidade. Passou, desde então, a nossa Companhia a dar cumprimento às missões que lhe foram atribuídas, executando as directivas do COP 3.

Uma semana depois recebemos a noticia que iríamos ser transferidos para Sul, sendo substituídos pela CCAÇ 3 e, de novo, lá fomos na LDG Bombarda...

Estávamos no dia 9 de dezembro de 1972, rio Cacheu abaixo... Destino: Cadique, Cantanhez, região de Tombali... (***)



Planta topográfica de Bigene (parte superior) > Escala aproximada 1:5000. A norte, fronteira do Senegal (Nenecó, Sindina); a nordeste, corredor de Samoge-Sambuiá); a leste da pista de aviação, Binta; a oeste,  Barro (a 13 km); a sudeste, Ganturé (e rio Cacheu) (a 6/7 km). Havia 3 obuses 14 (140 mm) e 4 ou 5 morteiros 81 (mm). (***)

Legendas:

6 - Estação dos Correios
7 - Chefe de posto
8 - 3º Gr Comb
9 - Espaldão da metralhadora Breda
10 - 1º Gr Comb
11 - Espaldão da metralhadora Breda
12 - Capela [, ao lado esquerdo, o campo de futebol]
13 - Enfermaria civil
14 - Quartos de sargentos
15 - Secretaria
16 - Arrecadação da Casa Gouveia
17 - Casa Gouveia
17A - Quarto do major e capitão do COP3
18 - Casa Issufo (?) [nome ilegível; provável aportuguesamento de Youssouf]
19 - Arrecadação de material de guerra
20 - 2º Gr Comb
21 - Escola missionária
22 - COP 3
23 - Casa Rei (?) Mané [, nome ilegível]
24 - Casa Hilário
25 - Padaria
26 - Casa Assad
27 - Quartos de oficiais
28 - Depósito de géneros, enfermaria e cozinha.




Planta topográfica de Bigene (parte inferior) > Escala aproximada 1:5000

Legendas:

1 - Central elétrica
2 - Vacaria
3 - 4º Gr Comb
4 - Arrecadação
5 - Oficinas
29 - Escola civil
30 - Mercado civil



Mapa topográfico de Bigene > Escala 1:5000.  S/d. Cópia do documento original, cortesia do nosso camarada Eduardo Campos. O original será da autoria do major Vinhas, do COP 3, na altura sob o comando do ten cor cav Correia de Campos.
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Guiné 61/74 - P19061: In Memoriam (325): João Manuel Rebola (1945-2018), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2444 (1968/70). Estará em Câmara Ardente na Capela da Senhora da Hora (Matosinhos) e o seu funeral será amanhã pelas 15 horas

IN MEMORIAM





JOÃO MANUEL REBOLA  (1945-2018)
Ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2444, 
Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70

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Notas do editor:

1 - Em SMS de hoje, manhã cedo, o nosso camarada José Teixeira deu-nos notícia do falecimento do João Rebola que há muito se encontrava doente.

Lutou quanto pôde com a doença que o vitimou até da lei da morte se libertar.

Ainda no  passado dia 14 de Setembro, em resposta a um SMS que lhe mandei, dizia-me: "Bem não estou (gostaria) mas estou vivo".

À família da João endereçamos as nossas mais sentidas condolências e a nossa solidariedade nesta hora difícil. 

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2 - Da Tabanca Pequena de Matosinhos, de que João Rebola era um dos dirigentes, recebemos a notícia que a seguir reproduzimos:

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19060: In Memoriam (324): António Manuel Sucena Rodrigues (1950-2018), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 12 (1972/74)

Guiné 61/74 - P19060: In Memoriam (324): António Manuel Sucena Rodrigues (1950-2018), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 12 (1972/74)

IN MEMORIAM



ANTÓNIO MANUEL SUCENA RODRIGUES (1950-2018)
Ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 12 - 1972/74


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1. Mensagem de António Duarte [ex-Fur Mil da CART 3493/BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; e CCAC 12 (em Novembro de 1972/74), com data de ontem, 30 de Setembro:

Boa tarde Camaradas
Uma má notícia tenho para vos dar. 
Hoje durante a noite, faleceu o nosso camarada de armas António Manuel Sucena Rodrigues, nascido em 1950, que esteve comigo na CCAÇ 12.

Prestou serviço nessa unidade de meados de 1972 a julho de 1974, tendo curiosamente, participado nos primeiros contactos com o PAIGC, em Madina Colhido, mas sem que antes não tivesse vivido vários contactos, não amigáveis, nas matas do Xime e ataques diversos ao dito aquartelamento.

Era Furriel Miliciano Atirador de Infantaria, do 3.º turno de 1971.

Já depois de regressar da Guiné, fez em Coimbra o curso de Engenharia Electrotécnica, tendo sido professor do ensino secundário até à reforma, que ocorreu em 2016.

Casado com a Rosa Pato, professora do ensino básico, sua namorada dos tempos da Guiné, tem dois filhos e 3 netos.

Vivia em Oliveira do Bairro, tendo sido operado em Coimbra no início do ano, aquando da deteção da doença.

Era habitual estar presente nos almoços da nossa Tabanca em Monte Real. Este ano já não foi por não estar bem.

Que permaneça vivo nas nossas memórias, já que se trata de um bom Homem, com participação em causas para ajuda dos mais desfavorecidos, estando sempre pronto a ajudar o próximo de forma desinteressada. Era voluntário do Banco Alimentar e de mais algumas organizações locais de ajuda a terceiros.

À família e amigos mais chegados, presto os meus sentidos pêsames, com a certeza que sempre recordarei os momentos vividos com ele na CCAÇ 12 e mais recentemente em encontros em Oliveira do Bairro e Lisboa, em conjunto com as nossas Companheiras de uma vida.

Abraços a todos
António Duarte
Cart 3493 e Ccaç 12 - dez 71 a jan de 74


Palace Hotel de Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Dois camaradas da "3.ª geração" de graduados da CCAÇ 12, o António Duarte e António Manuel Sucena Rodrigues

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Nota do editor:

À família do nosso camarada Sucena Rodrigues enviamos as nossas mais sentidas condolências pela perda do seu ente querido. 

A família dos combatentes, a cada dia que passa, fica mais reduzida.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19027: In Memoriam (323): Carlos Cordeiro (1946-2018), ex-Fur Mil Inf do Centro de Instrução de Comandos (Angola, 1969/71), Professor Aposentado da Universidade dos Açores

Guiné 61/74 - P19059: Notas de leitura (1105): “Gargalhada da Mamã Guiné”, de Carlos-Edmilson M. Vieira, edição de autor, 2014 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Julho de 2016:

Queridos amigos,
Não é a primeira vez que aqui se fala de Noni, um jurista de formação, diplomata de carreira, poeta, declamador e músico, um escritor que faz denúncia social e política e não esconde a sua veia lírica intimista. Consta no seu currículo que compôs melodias para poemas seus, cantados por Tabanka Djaz, N'Kassa Cobra, Zé Manel e Eneida Marta.
Em 1999, durante o conflito político militar que devastou a Guiné-Bissau, escreveu, compôs e produziu um CD (Bumba ka tem udju/bombas não têm olhos), em que participaram todos os músicos guineenses em França.
Uma grande promessa a caminhar para a maturidade, como observa o historiador Julião Soares Sousa.

Um abraço do
Mário


Gargalhada da Mamã Guiné, por Carlos-Edmilson M. Vieira

Beja Santos

No prefácio de “Gargalhada da Mamã Guiné”, de Carlos-Edmilson M. Vieira, edição de autor, 2014, o historiador Julião Soares Sousa analisa as temáticas em que se centra a obra literária deste jurista de formação, diplomata de carreira e artista prolífico enquanto poeta, escritor, declamador, compositor e plumitivo: Noni é um escritor atento à vida guineense e daí a sua poesia solidária e comprometida; é um poeta do amor, um intérprete da ausência, atraído pelos processos líricos intimistas. Curioso é constatar como ele se atrela às grandes linhas de intervenção de outros escritores da sua geração, um pouco mais velhos e até mais novos, caso de Ernesto Dabó, Tony Tcheka, Félix Sigá ou Odete Semedo: a denúncia dos desmandos e desvios que deitaram por terra os sonhos do movimento de libertação; a acusação sobre a decadência, a perversão de valores e o desalento cívico; e o comprazimento na exaltação do amor e na marcação da saudade.

Em “Gargalhada da Mamã Guiné” temos um conjunto de poemas em crioulo sobre a pátria dolorida por matanças, por irmãos contra irmãos que se envolveram numa tenebrosa guerra civil que despedaçou materialmente o país, é um permanente tantã sobre o sofrimento e a dor, dos meninos e dos velhos e dos indefesos, o poeta fala mesmo na palmatória do inferno, no esquecimento dos caminhos da luta que levaram à independência, é uma poesia onde se evoca o artesanato e a tipicidade do país, caso dos panos Manjacos, do macaréu, das mandjuandades. Segue-se um conjunto de poemas em francês com o jogo de contraditórios (o negro e o branco, envolvendo sentimentos, dias negros e noites brancas), saudades porque há separação física, um diplomata de carreira pode levar uma vida errante, mas a ânsia de amar permite a exaltação do futuro, afrontar os elementos da natureza, os desertos inóspitos, declarar o amor como luminosidade, como flor dos campos, o amor intemporal a partir do quotidiano e para sempre.
E vem uma dor e um quadro de sofrimento que se exprime na língua portuguesa:
a dor que em mim mora / não é o mal no meu corpo / é a que vejo no corpo dos outros / mesmo quando fecho os olhos.
E há o desvendar da voz do coração, que os outros saibam que alberga solidão, que possui sonhos floridos.
Em dado passo, essa dor regista o que o poeta vê na terra-mãe, assim:
as ruas de Pilum n’kolo… onde cresci / sim / vejo com comiseração / caras precocemente enrugadas / carapinhas prematuramente esbranquiçadas.
Muita gente partiu à procura de novos horizontes, outros resistem e o poeta desenha-os:
determinadamente de pé / enfrentam cortes inoportunos de luz / cortes traiçoeiros de água / assistência médica cronicamente deficiente / salários que se esgotam antes de chegar a casa.
E há uma incontida fome de amor, que assim se manifesta:
sentimento desmedido e sem fronteiras / sentimento sem rosto nem cor / que faz de mim / um apaixonado pachorrento.
E se há fome do amor há, em jeito de despedida a fome pela justiça, se alguns destroem os íntegros e os justos, se há atropelos, traições ou ódios, se o novo país cambaleia sem memória, o poeta torna-se panfletário e grita:
não baixem os braços / ergam a cabeça e avancem firmes / nesta penosa marcha da verdade / a justiça triunfará / a verdade vos libertará / a verdade nos libertará!

Esta a paleta da escrita: a contestação, o desassossego, o comprometimento com os valores solidários e democráticos, a caricatura dos arrivistas e oportunistas, a poesia intimista em torno de ternura e da cordialidade. Julião Soares Sousa ajuíza-o assim: esta nova produção literária de Noni é reveladora da constância de um autor que, à medida que o tempo passa, vai patenteando maior maturidade literária que o coloca no grupo restrito dos escritores guineenses de nomeada.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19052: Notas de leitura (1104): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (53) (Mário Beja Santos)

domingo, 30 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19058 (Ex)citações (344): os canhões... de Bigene!... No tempo da CART 3329 (1970-1972) e depois no meu tempo, de outubro a dezembro de 1972, havia 3 obuses 14 (140 mm) e 5 morteiros 81 (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74)

1. Mensgem de Eduardo Campos, Eduardo Campos (ex-1.º cabo rádio.telegráfico,  CCAÇ 4540, "Somos um Caso Sério", Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar. Nhacra, 1072/74)


Date: sexta, 28/09/2018 à(s) 17:49

Subject: Os canhões... de Bigene!


Boa tarde Luís:

Respondendo ao teu pedido sobre os "canhões de...Bigene" (*),,,

Depois de vários contactos com camaradas da Cart 3329 ], a quem fomos substituir, em 18/10/1972,] e o responsável do Pelotão de Artilharia à época,   constatei o seguinte.

(i) A Cart 3329 durante a sua permanência em Bigene teve 16 ataques ao aquartelamento, um dos quais provocou destruição de algumas infrasturas militares e feridos (ligeiros) entre  civis e militares.

(ii) Nesse ataque foi danificado e ficou inoperacional um obus 14 durante cerca de 30 dias;

(iii) Nada há mais a registar sobre o assunto, no período de 1970 a 12 de Dezembro de 1972, data em que saí de Bigene com destino a Cadique, noCantanhez;

(iv) Entretanto nas buscas efectuadas ao meu arquivo, poderei informar que existiam três Obuses 14  [140 mm} e 5 Morteiros 81 (em anexo, envio mapa, muito rudimentar).(**)


Mais alguma dúvida, como sempre fico ao teu dispor.

Um abraço. 

Eduardo Campos



Planta topográfica de Bigene. Cortesia de Eduardo Campos


 2. Também o A. Marques Lopes acrescentou o seguinte, com data de 27 do corrente:

Caro Luís

Sobre 1972 e 1973 não posso dizer nada. Não estava lá, a minha guerra já era outra. Mas o que posso dizer é que nunca ouvi falar desses canhões quando estive em Barro, de Maio de 1968 a princípios de 1969, mesmo quando me deslocava até Bigene para participar nas operações do COP3, até nas conversas que tinha com o Major Correia de Campos. E não creio que houvesse lá disso, pelo menos naquele tempo, pois quando Barro era atacado era natural que dessem uma ajuda dado que fica a pouco mais de 15 kms de Bigene e, segundo os especialistas que escreveram no blogue, as suas “bujardas” chegariam lá.

Abraço
Marques Lopes

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19046: (D)o outro lado do combate (36): Bigene, agosto de 1972, «Operação Silenciosa"... (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P19057: Blogpoesia (587): "Tempo perdido", "Se me queres ver alegre..." e "Fujo pró mar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Tempo perdido

Encontrei o tempo.
Um monte. Parado e triste.
Estava perdido.
Ali o deixaram.
O monte crescia
Com cada um que parava.
Não tinha futuro.
Não tinha passado.
E, o pior,
Para nada servia.
Tempos sem história.
Retalhos de vidas
Que a vida estragou.
Cheirando a ócio.
Tanta riqueza somada,
Se quem os perdeu
Os tivesse vivido,
Fazendo o bem
Ao serviço de todos.
Só há que esquecê-los.
Que seus donos voltem
E ali fiquem parados,
Perdendo a vida...

Berlim, 26 de Setembro de 2018
17h27m
Jlmg

********************

Se me queres ver alegre...

Se me queres ver alegre,
olha-me nos olhos e sorri.
Dá-me a tua mão para te ajudar a descer para o chão.
Lê um dos meus poemas e, se gostaste,
faz-mo sentir do jeito que tu quiseres.
Até pode ser um beijo ou um simples esgar do rosto, sem palavras,
onde eu leia comoção.
Me alerta dos meus erros, sintácticos ou de grafia.
Realça-me o que mais gostaste para eu tentar repeti-lo.
Vem a mim quando eu disser ou a alma to pedir.
Vamos os dois à beira-mar espraiar os nossos sonhos.
Como crianças,
Jogar à guerra com lances de água e ficar horas a olhar o mar...

Berlim, 24 de Setembro de 2018
9h44m
Jlmg

********************

Fujo pró mar...

Fujo pró mar,
desesperado da terra,
humanidade perdida,
inundada de mal.
Não há buraco do chão
donde ele não nasça.
Enche os palácios,
castelos dos vícios,
escraviza os governos,
com gula atroz.
Tudo lhes serve
pra que possam reinar.
Esgotam as fontes
que alimentam a terra,
com guerras sem conta.
Desgraçam os povos
que vivem pacatos.
Inventam teorias
que fazem tremer.
A humanidade não conta,
no fundo do ser.
Uma terra selvática
donde há que fugir.
Só um dilúvio a voltaria a limpar...

Berlim, 27 de Setembro de 2018
8h48m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19038: Blogpoesia (586): "Todos os Santos dos céus...", "Sentado no banco..." e "Mercado das arestas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

sábado, 29 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19056: Memórias de Gabú (José Saúde) (71): Gabu em tempos de despedida. Rebentamentos de material de guerra (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série. 

Gabu em tempos de despedida 

Rebentamentos de material de guerra 

O tempo passava por uma série de iniciativas, agora já em tempo de paz, no interior do arame farpado que impunham mestrias em princípios básicos que visavam rigorosas convenções previamente engendradas e depois levadas à prática. 

A euforia do 25 de Abril manifestava-se, em simultâneo, pelo mais recôndito lugar onde as nossas tropas lutavam nas três frentes de guerra por terras de África: Angola, Moçambique e Guiné. 

Em Gabu, Guiné, ecoava-se, igualmente, o hino da liberdade. A Revolução dos Cravos de 1974 abria novos horizontes e o pessoal no terreno da guerrilha lançava descomunais gritos de entusiásticas manifestações de plena alegria. 

A guerra havia terminado. Longe ficavam registados os dias de pavor e das atrocidades conhecidas. A morte de um camarada, ou as emboscadas nas picadas, os flagelamentos noturnos aos quartéis, ou a retirada de mais um camarada ferido em combate, enfim, um conjunto de circunstâncias entretanto sabidas que requeriam uma autoavaliação sobre os horrores de uma peleja onde se cruzavam mundos de fétidos interesses. 

Fui chamado para participar com o meu camarada Santos, furriel miliciano de minas e armadilhas, numa missão que tinha como finalidade o rebentamento de material de guerra armazenado no paiol e que necessitava o seu desfazer. 

Estudámos a tarefa ao pormenor e o respetivo local para a operação. O sítio escolhido ditava para um profundo matagal. Naquela frente existia um campo de minas demarcado por dois fios de arame farpado. Ah, lembro-me de um dia uma vaca ter entrado naquele espaço e rebentar uma mina causando-lhe a morte. 

Uma bela manhã começamos a labuta. O Santos foi-me dando dicas e o trabalho lá se protelou por uns dias. Antes, porém, todas as granadas a rebentar passou, naturalmente, por um inventário. 

Inventário atempadamente visto e revisto, sendo que os explosivos mereceram profícuos reconhecimentos e nada foi feito à toa de prazeres pessoais. Ali ninguém retirou uma simples peça para uma eventual recordação. Lembro a nossa azáfama perante tal responsabilidade. 

Cada caixa de granadas retirada do paiol obedecia a claros cumprimentos superiores. Havia ordens do capitão e qualquer explosivo detonado ficava implicitamente catalogado. 

O Santos, conhecedor do material armazenado, orientava os trabalhos e ele próprio manobrava cada granada, e respetivo detonador, com um à-vontade desmedido. A sua especialidade deu-lhe conhecimentos quanto baste para em casos de necessidade fazer uso da experiência adquirida. 

Por outro lado, eu como ranger, possuía, também, úteis conhecimentos em armamentos o que valeu a minha chamada ao serviço. Sei que foram várias as manhãs que passámos imbuídos numa luta que teve como prioridade o “queimar” as muitas caixas de granadas até então instaladas num paiol que se pretendia livre para entregar ao PAIGC no dia em que abandonássemos as instalações. 

Repare-se nas imagens que vos deixo camaradas: o local do “crime” completamente plano no início dos rebentamentos e o mesmo após alguns dias de intensos “bombardeamentos”. No final um enorme buraco onde uma Berliet, por exemplo, se afundaria sem lei nem roque. 

Coisas fidedignas de Gabu mas em tempo de “arrumar as botas” e dizer o definitivo adeus a uma guerrilha que antes nos fora severa. 

Ficam as reproduções recolhidas e a melancolia de uma guerra que ainda hoje mexe com os nossos egos. 



Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 



Guiné 61/74 - P19055: Os nossos capelães (12): O Carlos Manuel Valente Borges de Pinho, ex-alf mil capelão, de 16/3 a 16/9/73, CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74)


Guiné > Região de Tombali > BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Buba. Nhala, 1973/74 > Nhala > 10 de março de 1973 > 10 – Visita da Cilinha [, Cecília Supico Pinto, presidente do Movimento Nacional Femininpo].  aqui à conversa com o comandante do Batalhão, ten cor Carlos Ramalheira. Em primeiro plano,  o cap João Brás Dias, cmdt da  1.ª CCAÇ/BCAÇ 4513,  de Buba. O ten cor César Emílio Braga de Andrade e Sousa foi o 1º  comandante do batalhão,  abandonaria o TO da Guiné, por doença, logo no início da comissão, sendo substituído pelo ten cor Carlos Alberto Simões Ramalheira, aqui na foto].

Foto (e legenda): © António Murta (2015).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Comentário de José Teixeira ao poste P19024 (*):
O Carlos Manuel Valente Borges de Pinho era e é felizmente meu amigo pessoal, ao ponto de ser por convite o celebrante do meu casamento.

Foi coadjutor da paróquia de Cedofeita, no Porto, transitando depois para S. João de Ovar. 

Por razões afetivas, abandonou o sacerdócio uns meses depois de ter chegado à Guiné. Veio de regresso e foi para Mafra tirar o COM [, Curso de Oficiiais Milicianos,],  por imposição militar e foi colocado em Infantaria 6 no Porto para formar Batalhão e partir para a guerra. 

Entretanto deu-se o 25 de Abril e ficou por cá.

Estava marcado e vigiado pela PIDE/DGS  desde Cedofeita. Sei que foi chamado pelo comandante de Batalhão e por este lhe foi dito mais ou menos isto:

- A PIDE ordenou-me que o Capelão fosse vigiado porque era um tipo perigoso - e mais lhe disse:  - Eu não lhe vou criar problemas, faça a sua vidinha, mas, se me complicar a minha,  fodo-o.

Chegou a estar em Aldeia Formosa. Foi por ele, no seu regresso que soube que o Alferes de 2ª linha e meu amigo, o Aliu Baldé, chefe de Tabanca de Mampatá, tinha falecido por doença e que a grande àrvore que havia no centro de Mampatá tinha sido abatida para alargar a estrada para Iroel/Colibuia/ Nhacobá.

Cursou direito e foi trabalhar para a Soares da Costa, de onde já se deve ter reformado.

José Teixeira

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Zé pela teu precioso comentário. O Carlos Manuel Valente Borges de Pinho foi capelão apenas por 6 meses: de 16/3 a 16/9/1973 (**).  Por informação do nosso camarada Fernando Costa, de 4 de setembro de 2014,  sabemos que pertenceu à CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74).  Aliás, o seu nome consta da lista do pessoal do batalhão [Vd. o blogue deste batalhão, que se publica desde 2010 e tem mais de 53 mil visualizações].

É a ele, seguramente, que se refere um poste de 11/4/2014, com o depoimento de um camarada deste batalhão, que pediu na altura o anonimato, pedido que foi aceite, a título excecional, dado o interesse do assunto. (***).

Oxalá apareçam mais depoimentos sobre os nossos capelães e, sobretudo, que apareçam mais capelães a dar a cara no nosso blogue, o mesmo é dizer, a exercer o dever e o direito à memória. Como é timbre da nossa Tabanca Grande, não estamos aqui para julgar ninguém, apenas para partilhar memórias (e afetos). (****)

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Notas do editor;

(*) Vd. poste de > 18 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19024: Os nossos capelães (10): O "romance do Padre Puim", por Carlos Rebelo (1948-2009), ex-fur mil sapador, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)

(**) Vd. poste de 17 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19023: Os nossos capelães militares (9): segundo os dados disponíveis, serviram no CTIG 113 capelães, 90% pertenciam ao Exército, e eram na sua grande maioria oriundos do clero secular ou diocesano. Houve ainda 7 franciscanos, 3 jesuitas, 2 salesianos e 1 dominicano.