sexta-feira, 19 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19995: Os nossos seres, saberes e lazeres (342): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (2) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

1. Lembremos o que nos dizia o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), na sua mensagem de 12 de Julho de 2019, onde nos falava de um projecto em que esteve envolvido no Saltinho, a criação de um jornal para a CCAÇ 2701, a que foi dado o o título de O Saltitão:

Quando, no final de Agosto/71, após as minhas primeiras férias na metrópole, regressei ao Saltinho, fui convidado pelo Capitão Carlos Trindade Clemente, Comandante da Companhia ali instalada (CCAÇ 2701), para levar avante a criação do Jornal da Unidade, que era uma coisa que ele tinha em mente há muito tempo. Só ele saberá das razões que o levaram a escolher-me para missão de tamanha responsabilidade, tanto mais que eu não fazia parte dos quadros da Unidade – estava lá em diligência desde Março/71, após estágio de informações, com a duração de cerca de três meses, em Bambadinca. Claro que logo aceitei a incumbência com o maior entusiasmo, ou não tivesse eu, sem que ele conhecesse o facto, grande experiência do antecedente naquelas coisas do jornalismo – fora, de parceria com um conterrâneo do mesmo pelotão, o grande feitor do Jornal de Parede da 5.ª Companhia no RI 5, nas Caldas da Rainha (recruta do 4.º turno de 1969 – Curso de Sargentos Milicianos), após termos afastado a indesejável concorrência à bofetada.
[...]
Esposende, 10 de Julho de 2019
Mário Migueis

********************

2. Páginas 5 a 11 do primeiro número de O Saltitão








(Continua)
____________

Nota do editor

Poste anterior de 18 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19989: Os nossos seres, saberes e lazeres (341): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (1) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

Guiné 61/74 - P19994: Facebook...ando (52): Viva o STM - Serviço de Transmissões Militares, embora as nossas "comunicações" andem um bocado lentas... (Guilherme Morgado / Hélder Sousa)


Sintra > Praia da Aguda > c. 1980 > O Guilherme Morgado. Foto de cronologia da sua página no Facebook, com a devida vénia...


1. Afinal de contas, já tínhamos trocado "galhardetes", em 23 de junho de 2015, na nossa página do Facebook, o Guilherme Morgado (*), o editor Luís Graça e o nosso colaborador permanente Hélder Sousa... Levamos 4 anos a retomar as nossas conversas,o que na vida de um homem é muito tempo (5% da atual esperança média de vida de um português). Em boa verdade, as nossas "comunicações" andam lentas...

Aqui vai um apanhado delas, das nossas "comunicações" (**)...

(i) Guilherme Morgado  (já era então, em 2015,  nosso amigo no Facebook):

O meu nome completo é Guilherme António Resendes Morgado. Fui Furriel Miliciano nr mec. 016819/69. Estive na Guiné Bissau de Abril de 1971 a Maio de 1973, no STM de Santa Luzia no QG desta cidade. 

Conheci toda a Guiné à conta das instalações radio telefónicas dos VHF e conheci o seu blogg através do artigo que o jornal Público tem apresentado sobre um assunto sobre o qual tenho uma crítica pouco favorável. Aliás já lhes apresentei as razões da minha discordância sobre este tipo de trabalho. Enfim, jornalistas! 

Mas bastou-me saber que existe uma bela plataforma informática de antigos combatentes da Guiné (terra que muito amei, amo e onde deixei amores) para me recordar de alguns dos melhores anos da minha vida, mau grado o estado de guerra que se viveu. 

Proximamente enviarei fotos e pdf´s de alguma documentação minha para constar nos vossos files. Um grande abraço para si e para todos os camaradas que estiveram na Guiné. Realmente o mundo é pequeno, mas a nossa Tabanca é grande. Até à próxima.

2. Houve, na altura, 3 comentários, do editor da Tabanca Grande, do Hélder Sousa e do próprio Guilherme Morgado:

Guilherme, és bem vindo!.. Temos muito gosto em acolher-te!... Na Tabanca Grande todos os camaradas da Guiné cabem com tudo aquilo que os une e até com aquilo que os separa... Manda o teu material através do nosso endereço de email: O blogue é a nossa casa comum... Esta página do Facebook é apenas o "hall" de entrada... Endereço de email: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com


(iii) Hélder Valério de Sousa


Caro Guilherme, devemos ter tido algum cruzamento no tempo por lá, já que a minha comissão foi de Novembro de 1970 a Novembro de 1972. Também pertenci ao STM e por via disso fui para Piche até quase ao final de 1971 donde vim para ingressar na "Escuta"… e onde estive até ao final da comissão. 

Faz como está indicado, vai pelo endereço de mail do Blogue e conta-nos as tuas memórias. Nesse tempo, comigo na "Escuta" estavam os Fur. Mil. Eduardo Pinto, o Nelson Batalha, o Manuel Martinho, o José Fanha, todos do meu Curso,  e ainda havia o António Calmeiro. talvez também te lembres do Vítor Raposeiro. No Blogue também estão o Vasconcelos, o Belarmino Sardinha, o Manuel Dias Pinheiro Gomes, e outros que assim de repente não recordo.

(iv) Guilherme Morgado

Lembro-me bem do [Belarmino] Sardinha e seguramente estive com mais alguns. Fui a Piche quando fomos instalar o rádio telefone VHF que ligava esta povoação a Nova Lamego onde também tinha estado anteriormente a instalar o mesmo sistema.

Fiz Nova Lamego-Piche-Nova Lamego numa Chaimite. Jamais me esquecerei dessa deslocação por várias razões e uma delas bastante triste; em Piche deu-se um acidente que acabou por ser mortal a um camarada nosso atirador quando estava a limpar a arma após uma chegada de uma operação no mato. Há nomes que,  se me disseres,  já não me recordo. Vou-vos enviar algumas fotos através do Blog. Vamos contactando seguramente.

_____________

Notas do editor:

(*) Vd, poste de 19 de julho de  2019 > Guiné 61/74 - P19991: O nosso livro de visitas (201): Guilherme António Resendes Morgado, ex-fur mil mecânico rádio e radar, STM, Bissau, Santa Luzia, 1971/73

(**) Último poste da série > 19 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19902: Facebook...ando (51): Altamiro Claro, ex-alf mil op esp, da CCAÇ 3548 / BCAÇ 3884 (Geba, 1972/74), atual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Valpaços

Guiné 61/74 - P19993: Notas de leitura (1199): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (15) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Abril de 2019:

Queridos amigos,
Chegou o momento de compulsar a história do BCAV 490, ter em conta o que nela se escreve para corroborar o que entusiasmadamente o bardo exalta. Diz-se explicitamente que faltam relatórios, ou não houve tempo de os apensar à História da Unidade, ficamos com referência ao que concretamente constituiu a ida ao Morés e os patrulhamentos no Oio. Terá sido uma operação espinhosa, com destruição temporária das bases do PAIGC. A seu tempo, aqui se reproduzirão o hino do batalhão e as recordações de um outro elemento do BCAV 490.
Devo ao nosso confrade Carlos Silva a amabilidade, nele muito comum, disponibiliza generosamente os papéis da sua farta biblioteca, desta História da Unidade. Espera-se que os intervenientes comentem, acrescentem, recordem e juntem-se à exaltação lírica do Santos Andrade... A missão vai-se cumprindo, até ao último de nós partir para as estrelas.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (15)

Beja Santos

“Foi então a retirada.
Nas tabancas se ficou.
Atacaram noite inteira e três dias se regressou.

O Comandante do Batalhão
toda a emboscada passou
e feridos às costas carregou
seguindo para a povoação.
É homem de bom coração,
deu provas de ser camarada.
Ele e toda a rapaziada
vir a coisa muito feia
e mais ou menos às 5 e meia
foi então a retirada.

Com o Sequeira carregava
o amigo Crespo do morteiro.
Mostrou ser bom companheiro,
ele e quem o ajudava.
A uma clareira se chegava
e um cerco se montou,
o helicóptero poisou
para os feridos mais graves levar.
E para a noite se passar,
nas tabancas se ficou.

À povoação abandonada
todo o pessoal chegou
e em redor se acampou
e a bandeira foi içada.
Tivemos um camarada
que viu chegar dois à sua beira.
O amigo Ventura Pereira
estava ferido e não dormia,
porque com muita rebeldia
atacaram a noite inteira.

Dois pelotões o renderam
para continuarem a missão
e abalaram estes então
e mais um ataque sofreram,
mais três colegas gemeram
porque o fogo lhes acertou.
Em seguida, a sede apertou
e numa bolanha se bebeu.
Tudo isto se sofreu
e três dias se regressou.”

********************

É o momento azado para se consultar a história do BCAV 490, há muita sintonia entre o que nos conta o bardo e o que ficou exarado em máquina datilográfica. Em resumo, o BCAV 490 estruturou-se em Estremoz, predominava o alentejano dentre as regiões de naturalidade do pessoal. Foi durante o período de licença que se recebeu a comunicação que o batalhão já não se destinava a Moçambique mas à Guiné, e escreve-se: “Esta alteração provocou uma certa perturbação no espírito do pessoal, até porque já tinham sido feitas as declarações de pensões, as quais, à última hora, tiveram de ser substituídas e reduzidas para cerca de metade. No entanto, ninguém deixou de comparecer ao embarque”. Segue-se a relação nominal de todo o efetivo, ler-se-á adiante que houve um sem número de alterações na sua composição. Partiram no Niassa em 17 de julho, conjuntamente com outras unidades. Durante a viagem houve instrução de armamento, o pessoal estava a familiarizar-se com a G3, arma que nunca tinham visto.

Por razões de ordem logística, sobretudo devido à falta de alojamentos em Bissau, o BCAV 490 só desembarcou em 27 de julho. Leia-se sobre as suas condições de habitabilidade:  
“Após o desembarque, ficou alojado na Bolola, recinto constituído por alguns barracões sem as mínimas condições de vida. O pessoal utilizava as marmitas (nos dois anos de comissão só utilizou pratos durante dois meses) para as suas refeições, sem qualquer recinto abrigado que o protegesse das inclemências do tempo. Os alojamentos não tinham portas nem janelas e os telhados dos barracões eram permeáveis à chuva. Não existia qualquer compartimento que pudesse ser utilizado como arrecadação. Na altura em que as obras já estavam quase concluídas, e em que o batalhão poderia beneficiar dos melhoramentos, em meados de dezembro de 1963, foi-lhe determinada a mudança para o Forte da Amura, com instalações mais apropriadas, mas mesmo assim deficientes. Antes de terminar este capítulo, não é descabido referir que no deslocamento da Unidade, de Bissau para o Setor 02, as condições especiais em que aquele foi executado, não permitiram nem aconselhavam que o pessoal transportasse a sua bagagem, até porque se calculava que o Batalhão desempenhasse uma missão de intervenção com a duração de cerca de 20 dias. Assim não sucedeu e o batalhão entrou em Sector, possuindo os homens apenas uma muda de roupa e organizando as suas posições ao mesmo tempo que combatiam um IN moralizado e atrevido. Em consequência das dificuldades de transportes, grande parte do pessoal, somente oito meses após a entrada em Sector, recebeu as bagagens com os seus pertences, alguns incapazes de serem utilizados devido à influência perniciosa do clima”.

De Bissau seguem para a região do Oio, na História da Unidade é tratada como o fulcro do terrorismo e o reduto do Morés como santuário. O BCAV 490 permanece até final do ano, está em intervenção à responsabilidade do BCAÇ 512, sediado em Mansoa. Irá atuar nas regiões de Mansabá e Bissorã, executando ações de rusga, reconhecimento, limpeza, remoção de abatises, fazendo emboscadas, patrulhamentos, dialogando com a população e participando em operações de maior envergadura. Não houve tempo para incluir os relatórios de todas as operações realizadas, apensam-se algumas das mais importantes, sempre o Oio, sempre o Morés.

Há o relatório de Operação Adonis A-2, uma operação para aniquilar um forte grupo IN na região delimitada pelas povoações de Mindodo – Sansabato – Iracunda – Fajonquito – Maca. Saiu-se de Bissorã, viaturas estacionadas em Ponte de Maquê e Olossato. Descansaram em Canicó, tabanca fiel, estabeleceram cerco a Sansabato, dispôs-se o efetivo para atacar e cortar os itinerários de retirada. Em Sansabato prenderam-se elementos de ligação dos terroristas e conhecedores dos caminhos utilizados pelos indígenas, o chefe da tabanca foi forçado a incorporar-se na operação, os outros elementos seguiam amarrados uns aos outros. De Sansabato encaminharam-se para Fajonquito, encaminharam-se duas mulheres e duas sentinelas. Foram recebidos por forte tiroteio, houve que retirar para a orla da mata e solicitar apoio aéreo. Como este não chegou, prosseguiu-se o caminho para o Olossato. Os guerrilheiros respondiam na mata. É nisto que apareceram dois T-6, voltou-se atrás, até ao local do primeiro tiroteio, numa pequena clareira houve uma nova troca de tiros, desta vez quase à queima-roupa. Foram abatidos elementos do IN e apreendido armamento. E regressou-se ao Olossato e daqui a Bissorã. O autor do relatório, o Capitão Romeiras Júnior considerava que a cooperação ar-terra se deveria basear em observação aérea para orientação e indicação das forças terrestres e também indicação por estas forças para os objetivos da aviação.

Vejamos agora o relatório da Operação Adonis B-3, a missão é detetar, aprisionar e destruir um bando IN referenciado no Morés, comanda a operação o Coronel Fernando Cavaleiro. Uma primeira força dirige-se diretamente ao Morés e uma outra fica emboscada na região de Mamboncó. A saída foi a partir de Mansabá. A força atacante não encontrou obstáculos até Cai, aí começou o fogo das nossas forças, um elemento IN fora gravemente ferido na anca e prontificou-se a colaborar para o cumprimento de chegar ao Morés. Um outro elemento pôs-se em fuga, progrediu a marcha e depois de Cai foram vistos 6 ou 7 elementos IN armados de pistola e espingarda.
E escreve-se:  
“Morés foi atingida pelas 8,30 da manhã. Imediatamente foi passada revista às palhotas existentes e detida uma nativa velha que estava numa delas junto do marido doente. A velha, que se chamava Mala Seidi, deu informações de grande interesse e coincidentes com as declarações anteriores do prisioneiro ferido. Ficámos então com a certeza que a casa de mato se encontrava junto do caminho que de Morés conduz a Talicó, pouco mais ou menos a meio das duas bolanhas existentes a Sul. Entretanto, foram vistos a cerca de 300 metros a Nordeste de Morés oito elementos IN armados, fardados de camuflado. Internaram-se na mata e não tornaram a ser vistos. Pelas 11 horas, aterrou o helicóptero com o Comandante-Chefe da Guiné e na sua presença foi hasteada a bandeira da Pátria em Morés e tiradas algumas fotografias. Mais adiante, chegaram dois T-6, de acordo com o pedido feito de intervenção sobre as zonas das casas de mato. Enquanto os aviões metralharam a área, procedeu-se à destruição de cerca de 300 palhotas que se encontravam de pé nos aglomerados do Centro e Sul da tabanca do Morés.”

Procurou-se alcançar a casa de mato considerada o quartel-general dos grupos que atuavam na região do Oio, a força atacante encontrou resistência, alguns foram abatidos, da parte da força atacante havia feridos, o 1.º Cabo-Enfermeiro Adozindo Carvalho de Brito fora gravemente atingido. Foi um período de 45 minutos de inferno de fogo e sangue até que chegaram os T-6 que metralharam o IN. “Durante a retirada, alguém se lembrou da velha que foi utilizada como guia, mas essa pagou com a vida a colaboração que anteriormente dera aos terroristas, varada com uma rajada de pistola-metralhadora dos próprios correligionários. O 1.º Cabo Adozindo não resistiu aos ferimentos. Permaneceu-se no Morés até ao dia seguinte, o IN espingardeou durante a noite".
O relator foi o Capitão António Pais do Amaral, escreve em dado passo:  
“É de justiça fazer uma referência muito especial ao nosso guia, Malan Seidi, que nos acompanhou desde Mansabá. Pretendemos evacuá-lo na manhã de 3 de Novembro por se encontrar com um ferimento no joelho recebido na emboscada da véspera, possivelmente por bala que não chegou a sair segundo a opinião do nosso médico. Depois de um comportamento exemplar, respondeu terminantemente que iria acompanhar a tropa. Estas palavras sinceras, ditas por nativo ferido, da cor e raça daqueles que nos fazem guerra no Oio, são extremamente consoladores e o melhor incentivo para não abandonarmos à ignomínia todos aqueles que por nós serão capazes de proceder como fez o nosso guia e amigo Malan”.
Na manhã seguinte foram recolhidos os feridos e chegaram munições e água, a aviação bombardeou e metralhou as zonas das casas de mato. No regresso, levantaram-se abatises colocadas nas estradas entre Bigine e Cudana e mais 24 abatises foram removidas no caminho do Morés até à estrada de Bissorã. No final do relatório, a propósito dos ensinamentos colhidos, o relator observa: “Hoje em dia, nenhum informador nativo se aventura a percorrer certas zonas do Oio e nós que já temos muitas dezenas de quilómetros percorridos na região, desola-nos nem sempre a podermos colher, porque raramente se encontra alguém e quando isto sucede os nativos interrogados ou não sabem ou não dizem talvez por recearem represálias por parte dos terroristas”. E não esconde o seu orgulho em citar o nome do comandante do batalhão pela sua nunca desmerecida valentia.

(continua)



____________

Notas do editor

Poste anterior de 12 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19972: Notas de leitura (1197): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (14) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 15 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19979: Notas de leitura (1198): “Estratégias de Vivência e de Sobrevivência em Contextos de Crise: Os Mancanhas na Cidade de Bissau”, por Mamadú Jao; Nota de Rodapé Edições, 2015 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19992: Historiografia da presença portuguesa em África (168): a colónia das terras vermelhas, por Machado Saldanha: excertos de "O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa : álbum-catálogo oficial" [, Porto, 1934,] capa + pp. 279-283.












Guiné: a colónia das terras vermelhas, por Machado Saldanha. In: O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa : álbum-catálogo oficial [, Porto,  1934,] capa, + pp. 279-283. (*)


1. No início da década de 1930, a colónia portuguesa da Guiné tinha pouco mais de 340 mil habitantes, dos quais apenas 983 eram "brancos" (0,29 %) e 1310 "mestiços (0,38%)... 

No catálogo da Exposição Colonial do Porto,  de 1934, faz-se a apologia da Guiné como "colónia de exploração", dando-se algumas "dicas" para a fixação do europeu: a parte oriental (região leste) era "mais saudável", devido à disposição orográfica, sendo a vinda do colono aconselhada na estação "seca ou fresca", de dezembro a abril...

Não se esconde que a "ocupação" total e efetiva do território só se efetuou a partir de 1913 (início das campanhas de pacificação do capitão Teixeira Pinto)... A festa do "fanado", as festas do Ramadã e o regime matriarcal dos bijagós são três notas marcantes da "idiossincrasia" guineense, segundo o autor do texto, Machado Saldanha, que não esconde a sua "simpatia" pelos povos guineenses, os "aborígenes", termo muito em voga na época, mas hoje arcaico e até depreciativo... (O "africanista" Machado Saldanha usa até um termo, não grafado nos dicionários, para expressar a sua admiração por estes povos, o "maravilhosismo"...).

Pelas fotos publicadas, Bolama, a capital,  ainda era uma cidadezinha colonial com alguns belos edifícios, mas Bissau parecia caminhar, rapidamente, para a suplantar e substituir como capital da colónia, uma década depois.

Trata-se de um escrito jornalístico, e não propriamente propagandístico, O  autor, por exemplo, não deixa de sublinar que a economia local ressentia-se da grande crise do capitalismo em 1929, havendo excesso de produção das oleaginosas em todo o mundo...  A "mancarra" e o arroz eram já os dois principais produtos da agricultura guineense. E até aos finais da década de 1920, e desde 1917, a balança comercial era equilibrada, as exportações excedendo as importações.

Era uma terra "pujante", plena de potencialidades, na perspetiva deo "desenvolvimento económico da colónia". Machado Saldanha destaca também  algumas das recentes realizações da administração da colónia, como a rede de estradas e a rede de linhas telefónicas e telegráficas (c. 800 km, 16 estações). Não deixa de apontar para 3 vertentes essenciais para o futuro: a saúde, a educação e o fomento agropecuária, embora a perspetiva ainda fosse meramente "assitencial"... Um dos graves erros da administração colonial, como sabemos, foi a tardia aposta na formação de quadros técnicos e superiores... Privilegiava-se ainda, desde a I República,  a construção de infraestruturas, mas era preciso esperar pelo pós-guerra e o "desenvolvimentismo" do Sarmento Rodrigues...

Machado Saldanha compara o litoral da Guiné ao "sistema fiórdico da Noruega" (sic), "entrecortado por diversos braços de mar e por um grande número de canais, constituindo uma espécie de rede aquática, engrossada por alguns rios que nascem em território francês, a leste da colónia", sem citar os nomes dos grandes rios como o Geba e o Corunal. Curioso, o rio Corubal era navegável até ao Xitole (ou Xitoli...), por navios de cabotagem, o que deixou de acontecer com o início da guerra na década de sessenta, obrigando ao abandomo das férteis "pontas" que existiam na bacia hidrográfica do Corubal (como, por exemplo, a ponta do Inglês, a ponta João da Silva, a ponta Luís Dias...).

Além de Bissau e Bolama, os principais centros comerciais eram já Bafatá, Canchungo, Mansoa e Farim ... Bissau, por sua vez, já possuía um cais de cimento armado aonde podiam acostar navios de 8 mil toneladas... Curiosamente, as fotos são todas de... Bolam, incluindo a do terreno da futura Escola de Artes e Ofícios...

2. Surpreendentemente, Machado Saldanha  tem nome de rua na cidade de Luanda, uma rua comprida de mais de 3 km, no Bairro Neves Bendinha (ex-Bairro Popular), na parte sudeste da capital. Pelo que apuramos, ele foi um elemento influente, liberal,  da redação do diário ABC - Diário de Angola, fundado em 1958. (**)

Nascido possivelmente no início do século, temos dúvidas sobre a sua região de origem: ou Aveiro ou Cabo Verde. De qualquer modo, ao longo da sua vida, como jornalista, teve uma relação especial com a Guiné, Cabo Verde e Angola.

João Manuel Rocha, que fez um estudo recente sobre a imprensa diária de Luanda, antes da independência, diz o seguinte: "De forma resumida e muito simplificada, pode traçar-se uma paisagem que coloca o Diário de Luanda no papel de porta-voz do regime (...) ; O Comércio como entusiasta da política colonial; o Província como arauto de aspirações autonomistas da sociedade colonial; e o ABC como pólo de aglutinação de oposicionistas ou pelo menos críticos relativamente ao regime e às suas políticas coloniais. (**)

Este investigador cita, entre outros, o testemunho de Adelino Torres, que integrou a redacção do ABC em 1961 e 1962, antes de partir para o exílio, e que escreveu o seguinte em 2000: "É justo relembrar a actividade do quotidiano ABC de Luanda que, cercado (e, poder-se-ia dizer, constantemente 'trucidado') pela Censura, sobrevivia em 1961 com quatro elementos: o director Machado Saldanha, um velho e honrado democrata; o chefe de redacção Acácio Barradas, hoje no Diário de Notícias de Lisboa; e dois redactores: Adolfo Rodrigues Maria e o signatário". (**)

Há pelo menos 10 registos bibliográficos do Manuel Machado Saldanha, na biblioteca digital do portal Memórias de África e do Oriente, da Fundação Portugal-África, Universidade de Aveiro. Tem vários escritos sobre a economia e o comércio coloniais. (LG)

PS - Em 1934, a colónia portuguesa da Guiné ainda era um projeto de país... Será que alguém, no  Estado Novo,  alguma vez pensou ou pôs a hipótese de vir a ser um país independente, como aconteceu com os seus vizinhos, francófonos, embora  com relações privilegiadas com Portugal ? E nós, hoje, podemos fazer a pergunta, meramente teórica e seguramente ingénua: o que seria a Guiné-Bissau sem a maldita guerra colonial / guerra de libertação ? E o que seria o nosso país, hoje, sem o 25 de Abril de 1974 ?
__________

 Notas do editor:

 (*) Último poste da série > 17 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19985: Historiografia da presença portuguesa em África (167) “A Cultura do Poder, a propaganda nos Estados autoritários”, com coordenação de Alberto Pena-Rodríguez e Heloísa Paulo, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016 (Mário Beja Santos)

 (**) Vd. João Manuel Rocha, « Os jornais diários de Luanda em vésperas da guerra colonial », Ler História [Online], 74 | 2019, posto online no dia 25 junho 2019, consultado no dia 07 julho 2019. URL : http://journals.openedition.org/lerhistoria/4898  ; DOI : 10.4000/lerhistoria.4898

Guiné 61/74 - P19991: O nosso livro de visitas (201): Guilherme António Resendes Morgado, ex-fur mil mecânico rádio e radar, STM, Bissau, Santa Luzia, 1971/73


Guiné > Bissau > Santa Luzia > 1972 > Quartel do Agrupamento de Transmissões

Foto (e legenda): © Sousa de Castro (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso leitor e camarada Guilherme António Resendes Morgado:

Data: terça, 16/07/2019 à(s) 13:33
Assunto: Camarada da Guine


Olá, camarada!

O meu nome é Guilherme António Resendes Morgado.

Fui furriel miliciano mecânico de rádio e radar. Estive na Guiné de 1971 a 1973, no STM de Bissau,  em Santa Luzia. O meu nº mecanografico era o 017819 69.

Gostei muito de tomar conhecimento deste teu blogue. Serei seu seguidor e,  caso consiga sem dor entrar bem fundo nas minhas recordações guineenses, terei muito gosto em dar o conhecimento que elas bem merecem.

Afinal a Tabanca é Grande. Não há lugar para esconder seja o que for.

Um grande abraço

Os meus emails são [...]

Guilherme Morgado

NB - Desculpa a acentuação e pontuação não serem correctas mas não me dou e fujo sempre que posso do sistema Apple, que a minha filha, Isabel Morgado, me emprestou.
Para mim só Microsoft. Manias!

2. Comentário do editor Luís Graça:

Camarada Morgado, tens toda a razão, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Temos, por isso, um lugar à tua espera, para te poderes sentar, confortavelmente, à sombra do nosso poilão: o lugar nº 794 ou números seguintes, até 800. Estamos a fazer uma campanha de angariação de novos membros da Tabanca Grande... Queremos chegar aos 800, até pelo menos ao Natal... Na calha, para o nº 794, tenho já o Lúcio Vieira, que vive em Torres Novas, e que pertenceu à CCAV 788 / BCAV 790, Guiné, 1965/67. Tu podes ser o nº 795, se entretanto me mandares, no "gosse gosse" [, ou seja, depressa...],  as duas fotos da praxe, uma do teu tempo em Bissau, e outra mais atual.

Vais encontrar aqui muita malta da tua arma de transmissões, do STM de Bissau, e do teu tempo, 1971/73.

Sobre o STM temos mais de 40 referências no nosso blogue. Também temos uma meia dúzia sobre Santa Luzia.

Precisamos de histórias, memórias, fotos, documentos... Vê o que nos podes arranjar para enriquecer as nossas "geografias emocionais"... Manda pelo mesmo endereço do blogue, que utilizaste. Creio que és o primeiro furriel mecânico que se apresenta com a "dupla especialidade" de rádio e radar... Tinha a ideia de que não havia radares (operacionais)... no CTIG. Não sei se é verdade, e eu estou a cometer uma injustiça para com a nossa gloriosa FAP... Tens de nos explicar o que fazias em Santa Luzia... Não devias antes estar em Bissalanca, na BA 12, onde havia um radar de defesa mas que não funcionava ?!

Até a uma próxima. Um alfabravo do Luís Graça, fundador, administrador e um dos editores do blogue.
_______________

Nota do editor:

Último poste da série >  3 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19941: O nosso livro de visitas (200): Ana Catarina Tavares, sobrinha-neta do capelão Libório Tavares (, nascido em 1933, em Rabo de Peixe, São Miguel; esteve em Nova Lamego, ao tempo do BCAÇ 2835, 1968/69; foi pároco em Brampton, Toronto, Canadá)

Guiné 61/74 - P19990: Parabéns a você (1655): Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 e CART 2732 (Guiné, 1970/72) e João Santos, ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70)


____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 de Julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19984: Parabéns a você (1654): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 3492 (Guiné, 1971/74); Jaime Bonifácio Silva, ex-Alf Mil Paraquedista do BCP 21 (Angola, 1970/72) e José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19 (Guiné, 1971/73)

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19989: Os nossos seres, saberes e lazeres (341): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (1) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), com data de 12 de Julho de 2019, onde nos fala de um projecto em que esteve envolvido no Saltinho, a criação de um jornal para a CCAÇ 2701, a que foi dado o o título de O Saltitão.


O Saltitão

Quando, no final de Agosto/71, após as minhas primeiras férias na metrópole, regressei ao Saltinho, fui convidado pelo Capitão Carlos Trindade Clemente, Comandante da Companhia ali instalada (CCAÇ 2701), para levar avante a criação do Jornal da Unidade, que era uma coisa que ele tinha em mente há muito tempo. Só ele saberá das razões que o levaram a escolher-me para missão de tamanha responsabilidade, tanto mais que eu não fazia parte dos quadros da Unidade – estava lá em diligência desde Março/71, após estágio de informações, com a duração de cerca de três meses, em Bambadinca. Claro que logo aceitei a incumbência com o maior entusiasmo, ou não tivesse eu, sem que ele conhecesse o facto, grande experiência do antecedente naquelas coisas do jornalismo – fora, de parceria com um conterrâneo do mesmo pelotão, o grande feitor do Jornal de Parede da 5.ª Companhia no RI 5, nas Caldas da Rainha (recruta do 4.º turno de 1969 – Curso de Sargentos Milicianos), após termos afastado a indesejável concorrência à bofetada.

A Direção do jornaleco pertenceria por inteiro, e por inerência do cargo, ao mentor da obra, o Capitão Carlos Clemente, Comandante da Companhia, que, desde logo, delegou em mim todas as competências e mais algumas: Migueis, você fica com inteira liberdade para orientar e dirigir o Jornal. Não há censuras. Mas, respeitaremos o objetivo primordial – já falámos sobre isso –, que é contribuir para manter as tropas com o moral tão elevado quanto possível. Do resto, tratará o nosso bom censo. Gostaria também que o jornal não estivesse virado apenas para as elites. Com erros ou sem erros de gramática, ponha-me os soldados a escrever. Com estas ou com outras palavras, a mensagem estava passada. E, se, no imediato, não seria possível atender a esta última recomendação do nosso Capitão – lembremo-nos do baixo nível de literacia, ao tempo, da maioria esmagadora dos nossos soldados –, para lá caminharíamos rapidamente nos números seguintes.

O Corpo Redatorial, sem o qual nada seria possível, acabaria, então, constituído por mim próprio – o moiro de trabalho, pois claro – e pelos 1.ºs Cabos Operadores Cripto, José Sargaço e Rui Coelho – com gente desta estirpe, O Saltitão só poderia ter feito um enorme ronco não só na Guiné como também no resto do mundo e arredores (se não acreditam no sucesso da coisa, perguntem ao PIFAS, que ele ainda se há de alembrar).

Para gáudio dos seus mentores, feitores, colaboradores e apoiantes, ainda naquele mês de Setembro de 1971, saltaria para as bancas o primeiro número de O Saltitão (a ideia do nome foi-nos sugerida pelo lugarzinho onde nos encontrávamos, pois claro), em tamanho A4 (normalmente, cada número dos jornais do género não passava de meia dúzia de páginas e era impresso em folhas tamanho A5), e impressão em stencil, maquineta que, em conjunto com umas boas toneladas de papel almaço branco e liso, o Capitão Clemente se apressara a requisitar a Bissau – ainda estou a ver e a ouvir o helicóptero de dois rotores, pairando, a 10 metros de altura, sobre a pista do Saltinho, a descarregar cuidadosamente aquele fardo gigantesco de resmas e mais resmas de papel para impressão.

Para satisfação da curiosidade dos estimados seguidores do nosso blog, estou a anexar algumas das cerca de trinta páginas do primeiro número do mensário (Setembro/1971). Dependendo dos likes (leia-se comentários) recebidos, divulgarei ou não o segundo número editado (Outubro/71).

Esposende, 10 de Julho de 2019
Mário Migueis

O héli de dois rotores, descarregando as preciosas toneladas de papel para impressão do Saltitão
Com a devida vénia à Sputnik Brasil, onde a foto foi publicada oportunamente

********************

2. Primeiras 5 de 19 páginas do primeiro número de O Saltitão






(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19976: Os nossos seres, saberes e lazeres (340): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19988: (Ex)citações (356): A Exposição Colonial do Porto, 1934: a balanta Rosinha, com os seus seios ao léu, foi capa de revista, num tempo e lugar em que nenhum jornal ou revista se atreveria a mostrar uma mulher branca de mamas à mostra... (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCaç 3535 / BCaç 3880, Angola, 1972-74)



Capa da "Civilização: grande magazine mensal", Porto, 1928-1937 (Direção de Ferreira de Castro, e Campos Monteiro) > Exposição colonial portuguesa, 1934: a Rosinha Balanta, fotografada pelo portuense por Domingos Alvão (1872-1946). Exemplar da coleção de Mário Beja Santos (2017) . [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentário de Fernando de Sousa Ribeiro ao poste P17782 (*):

[ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 (Zemba e Ponte de Rádi, 1972/74), do BCAÇ 3880; é licenciado em Engenharia Electrotécnica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto; vive no Porto; está reformado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 11/11/2018, sentando à nossa sombra do nosso poilão nº lugar nº 780.]

A grandiosa Exposição Colonial do Porto, ocorrida no Palácio de Cristal em 1934, deverá ter sido um ensaio geral para a (ainda mais grandiosa) Exposição do Mundo Português de 1940, em Lisboa. Ainda Salazar não tinha vergonha de chamar colónias às colónias.

Feita à imagem e semelhança de outras exposições coloniais realizadas em França, Inglaterra, Alemanha, etc., a Exposição Colonial do Porto de 1934 foi organizada por Henrique Galvão, esse mesmo, o do assalto ao paquete Santa Maria, que antes de ser um feroz opositor de Salazar tinha sido um seu fervoroso admirador.

A Exposição Colonial do Porto teve como finalidade, como facilmente se compreende, exaltar o orgulho imperial dos portugueses, supostamente portadores de um mandato divino de civilizar os povos primitivos sob seu domínio, e ao mesmo tempo consolidar o regime do Estado Novo, comandado pelo pulso de ferro de António de Oliveira Salazar. 

A exposição teve características idênticas às das exposições coloniais estrangeiras, a começar pela redução dos povos colonizados à condição de indígenas atrasados, cujo exotismo se procurava sublinhar. Para tanto, mostraram-se seres humanos trazidos das colónias ao público visitante, como se de animais do jardim zoológico se tratasse.

No caso da Exposição Colonial do Porto de 1934, a Guiné teve um papel de particular relevo, não necessariamente pelas melhores razões. Foi instalada uma "tabanca" de bijagós numa ilha de um pequeno lago existente nas imediações do Palácio de Cristal, onde pessoas seminuas eram exibidas ao público como se estivessem no seu ambiente natural. Ora o clima do Porto é consideravelmente mais frio do que o da Guiné. Nem quero pensar no frio que essas pessoas terão passado.

O grande êxito da exposição foi, sem sombra de dúvida, uma moça balanta de seios descobertos, a Rosinha, que deve ter povoado os sonhos eróticos de muitos homens do Porto. Além da Rosinha, teve também bastante sucesso entre o público um menino guineense que andava completamente nu, o Augusto. Mas a balanta Rosinha é que foi a grande sensação da exposição. Multidões acorreram ao Palácio de Cristal para verem ao vivo as mamas da Rosinha, além da pilinha do Augusto. Até capa de revista a Rosinha foi, com os seus seios ao léu. É claro que, naquele tempo, nenhum jornal nem nenhuma revista se atrevia a mostrar uma mulher branca de mamas à mostra, mas como a Rosinha era negra, já podiam mostrar...

Há poucos anos, encontrei na internet um blog com uma vastíssima coleção de imagens da Exposição Colonial do Porto. Dezenas e dezenas de imagens, para não dizer centenas. Não consigo voltar a encontrar esse blog. O que encontrei foi uma página de um outro blog, que faz uma referência mais resumida à exposição, mas que mesmo assim já consegue ser muito elucidativa. É a seguinte:

Porto, de Agostinho Rebelo da Costa Aos Nossos Dias > 23 de setembro de 2013 > Diverimentos dos portuenses, IX.

Também encontrei o seguinte trabalho académico:


Guiné 61/74 - P19987: Manuscrito(s) (Luís Graça (157): Andamos à volta com os fantasmas de sempre, que, desde meninos, nos ensombram, uns, ou nos encantam, outros... Para o Jaime, ao km 73 dos passos em volta...



Lourinhã > Seixal > 17 de julho de 2019 > Festinha de anos do nosso amigo e camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva... que foi alf mil paraquedista em Angola (BCP 21, 1970/72). O bolinho feito pela mana Esmeralda e o quadro que lhe traz, à memória, os fantasmas da guerra no leste de Angola.

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Herberto Hleder Oliveira
(Funchal, 1930 . Cascais, 2015)

“Os passos em volta”, de Herberto Hélder, escrito  1963 (Lisboa: Portugália Editora)… Vai agora, ao fim de mais de meio século, na 12ª edição (Porto Editora, 2019). Pensei que era uma boa prenda de aniversário, para ti, Jaime, meu amigo, vizinho e camarada. 

Quando fez esta incursão pela prosa, com vinte e tal “short stories”, o autor estaria longe de pensar que tinha escrito um dos mais  belos textos poéticos, publicados em Portugal no séc. XX.  Foi apresentado,  na altura, como um dos "novos contistas portugueses". Como era difícil de prever, para quem o leu, como eu, nessa altura, que estávamos perante um dos grandes poetas da nossa língua.

Iamgem da capa, de João Câmara
Leme. Lisboa, Portugália Editora,
1963

Sempre  li e reli este texto  como poesia... Foi dos livros, de culto,  que levei para a Guiné, em 1969, juntamente com o "Livro Sexto", de Sophia... Os passos em volta. Andamos à volta de nós mesmos. E dos outros. Saímos do lugar onde nascemos para mais tarde voltar. É o eterno retorno. Saímos da terra e à terra voltamos, definitivamente, quando morrermos. Afinal, é "na morte de um poeta que se principia a ver que o mundo é eterno".

Andamos por aí, do Seixal a Fafe, de Santarém a Almada, dos Olivais a Luanda, de Lisboa à Guiné,  da Lourinhã a Paris... Andamos por aí, na guerra e na paz. A nossa condição terrestre é andar à volta à procura de um sentido para o puro existir e o puro respirar… Os passos em volta...  Melhor do que os teólogos, os filósofos ou os cientistas, são os poetas que nos ajudam a encontrar o elo perdido dos nossos circuitos interiores e as peugadas das nossas deambulações na volta ao mundo, numa existência que é sempre imanente e inevitavelmente curta.

Andamos à volta com os fantasmas de sempre,  que, desde meninos, nos ensombram, uns, ou nos encantam, outros. A poesia, em prosa ou em verso, é a magia da(s) palavra(s). E este texto deve ser lida em voz alta, num exercício de puro exorcismo e encantamento, conforme as ocasiões e os  lugares.

A poesia sobre os nossos passos em volta não nos salvam, mas ajudam-nos a tonificar o músculo do coração que bate aos 73 anos. Como eu gosto de dizer os meus amigos e camaradas, ex-combatentes de uma estúpida e inútil guerra (como todas as guerras o são…),  Jaime, boa continuação pela caminhada da vida, ao quilómetro 73. Cuidado apenas com... as m(en)inas & armadilhas…

Se chegares aos 100 anos, é porque és santo, e a gente, se lá chegar contigo, irá, em romaria,  pôr-te uma vela no altar. Por isso a gente, os teus amigos, manas e cunhados, aqui reunidos à volta de um singelo bolo de aniversário, e de meia garrafa de aguardente da Lourinhã, te diz: “Muita saúde e longa vida, porque tu mereces tudo”…

Um xicoração fraterno, meu, da Alice e da malta toda.

Seixal, Lourinhã, 17 de julho de 2019
______________

Nota do editor:

Último poste da série > 23 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19914: Manuscrito(s) (Luís Graça) (156): Quando eu morrer vou ter saudades da... Tabanca de Candoz

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19986: (Ex)citações (355): Mortes por afogamento - A morte por afogamento, sem recuperação do corpo, do 1.º Cabo Radiotelegrafista Manuel Andrade da CCAÇ 2701 (Mário Migueis da Silva)

1. Em mensagem datada de 17 de Julho de 2019, o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), fala-nos das circunstâncias da morte, por afogamento no Corubal, nos Rápidos do Saltinho, em Agosto de 1970, do 1.º Cabo Radiotelefonista Manuel Andrade da CCAÇ 2701, cujo corpo não foi recuperado.

A morte por afogamento, sem recuperação do corpo, do 1.º Cabo Manuel Andrade, especialidade de Radiotelefonista, foi a única baixa fatal sofrida pela CCAÇ 2701 durante a sua comissão de serviço no Saltinho desde Maio/70 a Fev/72.

Segundo o José Sargaço, ex-1.º Cabo Operador Cripto, com o qual, por coincidência, estivera a falar sobre o afogamento do Andrade, duas horas antes da publicação do post de 15/07, tudo se passou assim:

O Andrade, dias após a chegada ao Saltinho, em Maio/70, foi, com um grupo de combate da CCAÇ 2701, destacado para Cansonco, tabanca em autodefesa situada a sensivelmente quinze quilómetros do aquartelamento, onde se manteve cerca de dois meses. Na tarde - seriam mais ou menos dezasseis horas - do próprio dia em que regressou de Cansonco, isto é, em 09/08/1970, o Andrade, ainda empoeirado da viagem, convidou o José Sargaço para irem tomar uma banhoca no rio (a Companhia dispunha de balneários, mas era aquela vontade de se refrescar no rio, tal como fizera antes).

Como, desde a ida do Andrade para Cansonco, o caudal do Corubal engrossara imenso (estava-se já em plena estação das chuvas - Maio a Novembro) e a corrente das águas era tremenda, eram eles dois os únicos elementos presentes junto ao rio e limitavam-se a ensaboar-se e a refrescar-se sentados numas pequenas pedras da margem. A certa altura, o Andrade, excelente nadador, talvez por ignorar a terrível força da corrente que se fazia sentir (quando partira para Cansonco, os rápidos eram ainda de grande mansidão), levantou-se e mergulhou num local em que a profundidade das águas não iria além de um metro. Só que, levado pela corrente, quando emergiu já estava nas proximidades dos pegões da ponte do Saltinho, sendo arrastado irremediavelmente naquele turbilhão tremendo, onde desapareceria para sempre.

Impotente para lhe valer, até porque o Andrade logo desapareceu sob as águas, limitar-se-ia o José Sargaço a alertar imediatamente os camaradas da Companhia. Mas, apesar das diligências efetuadas por nativos e tropas apeadas ao longo das margens do rio no próprio dia e no dia seguinte ao desaparecimento, sempre apoiados por um helicóptero, o corpo jamais seria recuperado.

Esposende, 16 de Julho de 2019
Mário Migueis


A bordo do Carvalho Araújo, rumo à Guiné, em Abril/70. Da esquerda para a direita: José Simão, 1º cabo escriturário (já falecido); José Sargaço, 1º cabo operador cripto; com a farda nº3, Manuel Andrade, 1º cabo radiotelefonista (morto por afogamento em 09/08/70).

Ainda a bordo do Carvalho Araújo, o José Simão, o José Sargaço e, mais à frente, o Manuel Andrade

Aspeto do Corubal, junto à ponte do Saltinho, durante a estação seca 

Aspeto do Coruba,l junto à Ponte do Saltinho, durante a estação das chuvas

A ponte do Saltinho
____________

Notas do editor:

Comentário de Mário Miguéis  no poste Guiné 61/74 - P19982: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: atualização: o caso do 1º cabo Henrique Manuel da Conceição Joaquim, do BENG 447, afogado em 31 de julho de 1974, na ilha da Caravela e cujo corpo não foi recuperado

Por coincidência, hoje mesmo estive a falar com o José Sargaço, ex-1.º cabo operador cripto da CCAÇ 2701 (Saltinho), a propósito de uma fotografia por ele afixada no Solar do Marquês, em Cantanhede, onde, no mês passado, decorreu o último convívio da Companhia. 
Na foto, que vou remeter a/c do Vinhal, para eventual publicação, estão presentes três 1.ºs cabos da CCAÇ 2701, a bordo do navio que os levou à Guiné em Maio/70: José Simão, José Sargaço e Manuel Andrade. Este último é precisamente o morto por afogamento no R. Corubal em 09/08/70. Um abraço, 
Mário Migueis

Último poste da série de 16 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19983: (Ex)citações (354): como é que a máquina burocrática do exército fazia chegar, à família, a notícia funesta da morte ou desaparecimento em combate de um militar ? O caso do sold at cav nº 711/65, José Henriques Mateus, desaparecido no rio Tompar, afluente do rio Cumbjiã, no decurso da Op Pirilampo, em 10/9/1966 (Jaime Silva, seu colega de escola, no Seixal, Lourinhã, ex-alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72)

Guiné 61/74 - P19985: Historiografia da presença portuguesa em África (167): “A Cultura do Poder, a propaganda nos Estados autoritários”, com coordenação de Alberto Pena-Rodríguez e Heloísa Paulo, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
Nenhum investigador do período colonial pode descurar o acervo informativo das publicações da Agência, repertoriavam tudo o que tinha a ver com legislação, colónia a colónia, e a respetiva imprensa.
Havia também publicações na Europa, é o caso da Gazeta das Colónias, que apareceu no final da I República, há igualmente que a estudar, foi através da sua consulta que encontrei a Companhia Estrela-Farim, quando pesquisava no Arquivo Histórico do BNU.
Na última fase do Estado Novo verifica-se ter existido uma diversificação das publicações, tome-se em consideração a revista Ultramar que era propriedade do Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa, era uma aposta na formação da juventude, em simultâneo com a divulgação das coisas do Império, por vezes com artigos de estudo de grande importância. Começa-se finalmente a ter um grande ecrã de todas estas publicações, que irão facilitar a vida dos investigadores e estudiosos, não se pode estudar o que quer que seja sem consultar esta rosa dos ventos, onde se inclui a propaganda colonial.

Um abraço do
Mário


Laudes para o Império Português: 
A Agência Geral das Colónias/Ultramar (1932-1974)

Beja Santos

No conjunto dos trabalhos publicados na obra “A Cultura do Poder, a propaganda nos Estados autoritários”, com coordenação de Alberto Pena-Rodríguez e Heloísa Paulo, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016, destaca-se um trabalho de José Luís Lima Garcia sobre a Agência Geral das Colónias/Ultramar, permite conheceu o itinerário das preocupações ainda na I República quanto à informação/formação que se pretendia dar aos portugueses sobre as colónias, de Cabo Verde a Timor. A Agência Geral das Colónias foi de facto criada na I República, em 30 de setembro de 1924, Armando Zuzarte Cortesão foi o seu primeiro responsável. Com a Ditadura Nacional, tomou posse Júlio Garcez de Lencastre, a grande missão era fazer compreender a ideia da unidade do império colonial, à Agência eram atribuídos novos acometimentos como a informação na recolha e divulgação de dados estatísticos. O serviço de informação da Agência era o de abastecer de notícias os jornais diários, liam-se os boletins oficiais e periódicos das colónias, tinha-se acesso a informações na área administrativa colonial e até a publicações, conheciam-se os negócios, a investigação científica, as inaugurações, a abertura de estradas, tudo era canalizado para os meios de comunicação social da época. Uma secção de propaganda preparava mostruários e expositores com produtos, cartazes e gráficos que pudessem circular pelos municípios. O primeiro evento a que se meteu mãos foi na Exposição Industrial de Lisboa, apresentou-se um mostruário das atividades coloniais. Passaram a organizar-se as “Semanas das Colónias”, em parceria com as instituições científico-pedagógicas, neste caso a Sociedade de Geografia de Lisboa e a Escola Superior Colonial.

Multiplicaram-se as sessões de divulgação, o Ministro das Colónias, Armindo Monteiro, não fugia à participação, o Tenente Henrique Galvão era outra presença obrigatória, como o jornalista António Eça de Queirós. Produziram-se filmes e houve sessões promocionais logo em Lisboa e arredores (Voz do Operário, Cinema Condes e Casino do Estoril). A primeira grande prova de fogo foi a grande Exposição Colonial do Porto, jamais se investira tanto, trouxeram-se comunidades nativas, simularam-se aldeias e modos de vida, era um corrupio constante de mirones, chegou mesmo a haver um concurso de beleza para premiar as grandes beldades. Em 1937, a Agência participou na organização da Exposição da Ocupação e no Congresso da História da Expansão Portuguesa no Mundo. Desde a sua fundação até 1937 a Agência divulgara 450 obras que representavam cerca de um milhão de exemplares. Em 29 de abril de 1938, a Agência prestou homenagem ao Marquês de Sá da Bandeira, junto do monumento que lhe foi erigido na Praça D. Luís em Lisboa, por ocasião do 80.º aniversário do decreto que abolia a escravatura. E assim se chegou à Exposição Colonial do Mundo Português, 1940, a Agência participou ativamente com publicações e a realização de eventos, no ano seguinte a Agência foi em missão oficial ao Brasil, apresentou uma mostra da sua obra cultural. Em 1942, aproveitava-se a Emissora Nacional para fazer palestras sobre o Império Colonial Português, ano em que a Agência passou a ter um delegado junto do Secretariado da Propaganda Nacional, o nomeado foi Augusto Cunha, um advogado que dirigia a revista “O Mundo Português” e estivera empenhado na organização dos cruzeiros de “Férias às Colónias” e dos “Estudantes das Colónias à Metrópole”.

Marcello Caetano sobraçou a pasta das colónias a partir de setembro de 1944, adotaram-se novas estratégias para a divulgação do império. É nesse contexto que a Agência aparece em 1945 na Feira Popular com um pavilhão artístico decorado por Jorge Segurado. Qualquer data era um ensejo para comemorações, foi assim em 1946, com as comemorações nacionais do V Centenário da Descoberta da Guiné que trouxeram a visita das autoridades tradicionais da Guiné a Lisboa, a inauguração de um monumento a Nuno Tristão e houve mesmo guineenses no “Desfile dos Municípios”, a propósito do VIII Centenário da Conquista de Lisboa. Em maio de 1950, inaugurava-se no Palácio da Independência o primeiro Centro de Estudos de Formação Imperial da Mocidade Portuguesa, a Agência estava implicada.

Com recurso aos meios audiovisuais, a Agência dispunha de uma viatura para o cinema, para missões de propaganda, abordavam-se os mais variados assuntos desde a coroação de Nossa Senhora de Fátima passando pelos desfiles da Legião Portuguesa até à viagem de Marcelo Carmona ao Porto. 1951 é o ano da Reforma Constitucional, a Agência passou a ser de Ultramar. Foram criados os Centros de Informação e Turismo em Angola, Moçambique e Índia. E assim chegamos a 1961, o ano das mudanças radicais.

Lembra o autor que em outubro de 1964 se realizou na Agência a primeira reunião que chamava a atenção para o início da guerra colonial. A Agência está muito próxima do Ministério do Ultramar. A partir de 1967 a Agência passa a ser um organismo destinado a difundir informações relativas ao património tropical, a superintender e impulsionar o turismo. Passa a ter assento na RTP, apresentava um programa de 15 minutos, primeiro quinzenal, depois semanal, produzido pela Agência Geral do Ultramar e intitulado “Portugal Além Europa”. A publicação mais evidente era o Boletim Geral, primeiro “Boletim Geral das Colónias”, depois “Boletim Geral do Ultramar”, a revista “O Mundo Português” e também desde 1970, a revista “Permanência”. Lembra o autor que com o intuito de estimular o interesse dos intelectuais pelos interesses tropicais, instituiu a Agência Geral o “Concurso de Literatura Colonial”, anualmente promovido, desde 1926 até 1951. Em 1954, o certame foi melhorado com a criação de quatro prémios que viriam a subsistir até 1974, contemplando géneros literários tão diversos como o conto, a poesia, o romance e o teatro. Foram muitos os contemplados com os prémios “Camilo Pessanha”, “Frei João dos Santos”, “Fernão Mendes Pinto”, “João de Barros” e “Pêro Vaz de Caminha”, cada um no valor de 20 contos; para além destes, havia ainda o prémio “D. João II”, no valor de 50 contos, que distinguia o melhor estudo sobre o tema que a propaganda do Estado Novo, já no período final, procurava consagrar, a Unidade Nacional.




____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19966: Historiografia da presença portuguesa em África (166): Alfa Moló Baldé e o mito fundador do reino de Fuladu, em 1867 (Cherno Baldé) - II (e última) Parte