terça-feira, 5 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20315: Memória dos lugares (397): Roteiro de Bissau: velhas e novas toponímias, velhas e novas geografias emocionais... (David Guimarães / Humberto Reis / A. Marques Lopes / Agostinho Gaspar)



Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Domingos Ramos > 2001 > O mercado municipal, aliás, "Mercado Central"  (entre a Av Domingos Ramos e a R Vitorino Costa, vd. o mapa da Google)... A mesma tabuleta esmaltada de há trinta e tal anos atrás...




Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > Edifício colonial em ruínas, em frente à antiga Casa Pintosinho [, de António Pinto), um dos sítios em Bissau onde comíamos as célebres ostras. Devia ser  na Rua Oliveira Salazar, hoje  Rua Guerra Mendes (paralela à Marginal, agora Av 3 de Agosto, segundo o mapa da Google). Originalmente terá pertencido à Casa Gouveia, fundada por António Silva Gouveia. (A Casa Gouveia mudou para as mãos da CUF em 1927.)



Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > A marginal (hoje Av 3 de Agosto) e, em segundo plano, à esquerda, o antigo Pelicano, de saudosa memória. Ao fundo, veem-se os contentores do porto de Bissau (vd. mapa do Google)... O alcatrão há muito que tinha desaparecido.

Fotos nºs 1 a 3  (e legendas) : © David Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Bissau > 1996 > Aspecto pouco abonatório do estado de conservação do "Pelicano,  Restaurante, Bar, Night Cub"... Em 1970 era o melhor café-esplanada de Bissau.


Foto (e legenda): © Humberto Reis (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Domingos Ramos > 2001 > à esquerda uma agência do BAO - Banco da Africa Ocidental




Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) (vd. mapa do Google)  > 2001 >  À esquerda a Pensão D. Berta... A saudosa Berta de Oliveira Bento, cabo-verdiana radicada na Guiné Bissau há várias décadas, faleceu  em 2012, aos 88 anos. Não deixou filhos, mas tinha muitos amigos.


Foto nº 7 < Guiné-Bissau > Bissau > 2001>  Bomba da GALP... Era aqui o antigo Café Bento ou a famosa 5ª Repartição do tempo da guerra colonial.  Ficava na Rua Tomás Ribeiro, hoje Rua António Nbana. O posto de combustível da GALP, é o único na Bissau Velha, pelo mapa do Google fica na Av Amílcar Cabral, fazendo esquina com a R António Nbana. A RTP África também fica aqui perto.

O Café Bento era um dos nossos locais de convívio, dos gajos do mato, dos desenfiados e sobretudo dos heróis da guerra do ar condicionado. Havia 4 grandes repartições militares em Bissau mas a 5ª, o Café Bento, era a mais famosa, porque era lá que paravam todos os "tugas" que estavam em (ou iam a) Bissau, gozar as "delícias do sistema".



Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > Praceta junto ao Forte da Amura (construção militar setecentista), por detrás do Zé da Amura, que fica na rua Capitão Barata Feio (hoje, Rua 24 de Setembro)... Confunde-se o Zé da Amura com o Café Bento (que ficava na Rua Tomás Ribeiro, hoje Rua António Nbana).

Fotos nº 5 a 8 (e legendas): © David Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Bissau > 1998: O velho forte da Amura com os seus canhões de bronze

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Foto nº 10 > Guiné-Bissau > Bissau > 2001>    Estrada para o aeroporto ,em Bissalanca. Agora, Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira. À esquerda,  o célebre mercado de Bandim, que ficava a sudoeste da  cidadezinha colonial de Bissau que nós conhecemos: primeiro o Chão de Papel e depois Bandim  (Vd. mapa do Google).

 Foto (e legendas): © David Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Bissau >1998: A cidade de Bissau, vista do lado sudoeste; ao fundo, as duas torres da catedral de Bissau (que fica na Av Amílcar Cabral, antiga Av República, vd. mapa do Google)

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Bissau > s/d [. c 19690/70] > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa") (Detalhe). Colecção: Agostinho Gaspar / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)

Agora a Praça chama-se Che Guevara (vd. mapa do Google)... e o antigo Hotel Portugal agora é Hotel  Kalliste...


1. Há quem lhe chame "saudosismo mórbido, doentio"...  Saudosismo ? Não gosto do termo... Não, não é saudades do "antigamente".  Hoje a Guiné-Bissau é um país independente e pertence à CPLP...  Há um passado que foi irredemediavelmente ultrapassado, pelos dois povos... Mas há também  uma convivência entre esses mesmos dois povos,  há uma história, um património material e imaterial... partilhado por ambos.

Já nada disto existe, a ser não na memória de alguns de nós...Existem as ruas, com outros nomes, existe a maior parte dos edifícios, uns em ruina, outros readaptados... Mas são memórias a que temos direito, aqueles de nós que por lá passámos, não só entre 1961 e 1974 mas depois, nas tais viagens de "saudade" (e não de "saudosismo")... São memórias dos lugares (*). São lugares, são paisagens, que não pertencem a ninguém...  São novas e velhas toponímias, não novas e velhas geografias emocionais...

As imagens de Lisboa ou de Bissau não pertencem a ninguém. As paisagens não pertencem a ninguém. Tal como as cores, os sabores. os cheiros... dos sítios por onde passamos.  Como a terra, que é de todos nós.  Um tsunami (de que Deus, Alá, Jeová e os bons irãs da Tabanca Grande, todos juntos, nos livrem!) pode destruir Lisboa ou Bissau. Mas as imagens, as memórias, essas, ficarão connosco enquanto formos vivos e enquanto existirem os seus suportes digitais: os nossos textos, as nossas fotos, os nossos documentos, este blogue, que não é mais do que um sítio, virtual, onde partilhamos memórias (e afetos), e que oxalá/enxalé/inshallah possa sobreviver-nos...

Adicionalmente, no poste P12980, pode-se ver alguns dos edifícios públicos, com interesse arquitetónico que por lá ficaram, em Bissau, e que é pena se os guineenses não cuidarem deles,  com a nossa ajuda (**)... Sabemos que os guineenses têm outras prioridades mais prementes, como o pão para a boca, o emprego, a saúde, a educção, a paz..., a estabilidade política e a normalidade democrática que, infelizmente, ainda não conseguiram alcançar, quase meio século depois da independência.
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Guiné 61/74 - P20314: Agenda cultural (710): Lançamento do livro "A Nossa Guerra: dois anos de muita luta, Guiné 1964/66", dos nossos camaradas Belmiro Tavares e José Eduardo Reis de Oliveira: Instituto de Ação Social das Forças Armadas, Oeiras, 6/11/2019, às 14h30. Apresentação de Beja Santos.


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segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20313: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte VIII: Fulacunda, usos e costumes... Lembro-me pelo menos de uma menina que foi a Bissau ao "fanado", e não voltou... Não havia, na época, preocupação de maior com a Mutilação Genital Feminina, por parte das autoridades. civis e militares


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  Lavadeiras... Mas aqui também, se praticava a Mutilação Genital Feminina, coisa que nunca preocupou nem Spínola nem Amílcar Cabral...

Foto (e legenda): ©  Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1/ CAC 7, 1969/71) > Parte VIII


[ Foto à esquerda: Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71; comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda]



Dentro da população, tínhamos o Alferes de 2ª linha, o Malan, que era um homem sensato e que tinha a habilidade de nos contar histórias/lendas do seu povo.


Recordo que alguns desses contos foram reproduzidos no boletim que a Companhia publicava quase mensalmente e que se chamava “O Boina Negra”. 

Entre muitos dos que colaboravam, estava na linha da frente o Alferes  Barbosa,  e eu próprio escrevi alguns artigos. Recordo-me também de reproduzir situações bem conhecidas do “Zé da Fisga”, na contracapa.

Ao fim da tarde, era frequente ver furriéis e soldados passearem pela Tabanca para gáudio dos miúdos que brincavam ao vento. 


Conhecíamos alguns hábitos e costumes destas gentes e entrávamos nas suas tabancas com alguma frequência apenas com a curiosidade de poder conhecer o seu “modus vivendi”. 

Sabíamos que era frequente terem várias mulheres, de acordo com as suas regras de vivência. O dono da morança dormia numa esteira no quarto que só a ele pertencia e os mais afortunados já tinham uma tarimba no seu quarto. As mulheres, normalmente, dormiam todas em outro quarto e ao chamamento do marido lá eram escolhidas para uma noite de acasalamento. 

Quando um homem pretendia casar com terceira mulher, já deveria ter quase sempre em mente o casamento com a quarta mulher,  o mais depressa possível. É que ter três mulheres em casa provoca um desequilíbrio grave pois uma delas virava quase sempre vítima das outras duas.  Até nesta forma de viver os Africanos tinham as suas regras de vivência pacífica.

Com condições de vida muito precárias, viviam de alguns trabalhos que emanavam do Comando da Companhia. Semeavam mancarra, amendoim, que frequentemente iam vender a Bissau, normalmente à Casa Gouveia, pertencente a (ou contratante de) o Grupo CUF.

Havia, também, outras vivências. Recordo de um ou dois casos de raparigas com os seus oito ou dez anos, terem ido a Bissau fazer a ablação do clitóris. Uma delas não voltou, porque, segundo se constou, não sobreviveu às infeções a que estavam expostas. 


Eram rituais da população que ao que sei, à época, as autoridades não dariam muita importância, assim como a circuncisão dos rapazes.

Hoje, sabemos que se está fazendo um esforço de sensibilização para se evitarem tais atos nefastos para a saúde das raparigas, futuras mulheres. Fazem-se leis, mas de difícil cumprimento porque a África é demasiado grande e os meios de comunicação demasiados lentos e escassos. Os costumes milenares levam sempre muito tempo a serem mudados ou erradicados.


Quando havia disponibilidade e sossego para isso, tinha grandes conversas agradáveis com o Comandante [da CCAV 2482]. 


Era um jovem Capitão, Oficial e Cavalheiro da Arma de cavalaria. Tinha um trato fácil e simpático. Era respeitado pelos seus Homens, por quem estes tinham e demonstravam ter uma estima como se de um protetor se tratasse.

Não me lembro de ordens ríspidas ou despropositadas. Era um “ranger” que também respeitava os seus Homens, embora quase todos a iniciarem a maioridade, que na época se alcançava aos 21 anos, a menos que ingressasse nas Forças Armadas com idade inferior. Hoje a maioridade é reconhecida aos 18 anos, mas de uma imaturidade que brada ao Altíssimo. 


(Continua)
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Guiné 61/74 - P20312: Notas de leitura (1233): “A Sociedade Civil e o Estado na Guiné-Bissau, Dinâmicas, Desafios e Perspetivas”, coordenação de Miguel Barros; Edições Corubal, 2014 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Janeiro de 2017:

Queridos amigos,
Este documento que contou com a coordenação de um dos mais promissores sociólogos guineenses, Miguel de Barros, ativista da democracia participativa, dá-nos um entendimento da fragilização do Estado, das mudanças ocorridas na sociedade civil após 1991, com o reconhecimento do multipartidarismo, fica-se com um quadro de referência de quem é quem na sociedade civil, quais as vulnerabilidades e até perversidades existentes no universo associativo, procede-se a recomendações e não se ilude que no quadro dos cenários se impõem três vias: um Estado funcional, uma sociedade civil forte e um sistema democrático viabilizado, um Estado frágil, uma sociedade civil dependente de um sistema democrático de fachada ou, mais grave ainda, um Estado disfuncional, uma sociedade civil fraca e um sistema democrático ameaçado.
Sem querermos ser patéticos, tudo se encaminha, insidiosamente, para a terceira hipótese.

Um abraço do
Mário


A sociedade civil guineense: ásperos tempos, esperanças enormes

Beja Santos

Miguel de Barros
A obra intitula-se “A Sociedade Civil e o Estado na Guiné-Bissau, Dinâmicas, Desafios e Perspetivas”, coordenação de Miguel Barros, Edições Corubal, 2014.

O autor é um dinâmico sociólogo, diretor executivo da ONG Tiniguena e autor de trabalhos relacionados com a sociedade civil, em dimensões como a segurança alimentar, a participação das mulheres na política, a juventude e as transformações sociais na Guiné-Bissau. Graças a um programa patrocinado pela União Europeia, cujo objetivo é contribuir para a consolidação da boa governação e o envolvimento dos atores não estatais, procede-se neste trabalho a um diagnóstico para identificar as organizações da sociedade civil, em particular organizações não-governamentais (sindicatos, associações de base, redes e plataformas, grupos temáticos), e procurar entender os desafios que se põem para que estes parceiros desenvolvam parcerias com todas as organizações dedicadas ao desenvolvimento da sociedade civil.

Primeiro, o ambiente de trabalho, a grave crise económica e social permanente, em que o Estado reduziu a sua intervenção em simultâneo com a perda de capacidade económica e do poder de compra das famílias. As convulsões político-militares, os golpes de Estado, a fragilidade governamental, o próprio Estado frágil acarretam crescimento negativo, empobrecimento, quebra nos indicadores de desenvolvimento humano. A sociedade civil iniciou um processo de autonomização com o definhamento do partido-Estado e o multipartidarismo, fenómenos contemporâneos do fim dos monopólios estatais e da omnipresença do Estado na esfera dos negócios.

Segundo, foi nesse contexto que cresceram as iniciativas de mobilização coletiva, brotaram as organizações não-governamentais, fenómeno a que não foi indiferente o aparecimento de fundos oriundos da Ajuda Pública ao Desenvolvimento, constelação social que revela aspetos muito positivos mas também perversos, por estarem independentes das agendas dos financiadores e dos programas.

Terceiro, importa não esquecer que a ideia da sociedade civil no contexto guineense não está forçosamente ligada nem à implantação das estruturas modernas do Estado colonial nem ao próprio colonialismo, investigadores de mérito já identificaram uma sequência cronológica desde o período pré-colonial que atesta a existência de movimentos e associações de cidadãos cujo campo de ação está da esfera do Estado. Um desses investigadores, Carlos Cardoso recorda que a sociedade civil guineense retira a sua força de várias fontes históricas, incluindo a evolução das relações e das alianças interétnicas, das estruturas sociais baseadas em classes de idade, dos sistemas de autoridade das aldeias, das formações socio-religiosas, etc. Mas o atual quadro das organizações da sociedade civil deve ser entendido pelo dado primordial da incapacidade do Estado em satisfazer as necessidades elementares das populações e de não estar presente em todo o território. Miguel de Barros enuncia o quadro jurídico-legal constituinte da sociedade civil guineense, releva os seus dilemas, paradoxos e desafios, mostra as suas debilidades, fenómenos de tendência autocrática, inexistência de recursos apropriados, excessiva burocratização do sistema de financiamento das organizações internacionais, falta de criação de atividades alternativas geradoras de rendimento, uma gama de vulnerabilidades, em suma, a que não escapam os sindicatos, as associações socioprofissionais, as organizações não-governamentais, as redes e plataformas, até as universidades e centros de pesquisa.

Quarto, nesta atmosfera, e de acordo com o diagnóstico efetuado mediante questionário e conversas presenciais com estes diferentes agentes sociais, o relatório propõe dinâmicas, rasga perspetivas. É observado na sequência dos imperativos da guerra civil, emergiu uma nova rede de solidariedade e de ajuda humanitária, estabeleceu-se um amplo movimento congregacional, e dão-se exemplos. Um deles é o Movimento da Sociedade Civil para a Democracia e Paz, albergando no seu seio um elevado número de organizações não-governamentais, sindicatos, igrejas, organizações de jovens e de mulheres; outro é a Célula das ONGs (CECRON) que surgiu no âmbito do apoio e canalização da ajuda humanitária aos deslocados da guerra. O desmantelamento do sistema económico-social pós-conflito levou a repensar o Estado e a sociedade civil. Instalou-se a UNIOGBIS, com o intuito de garantir a segurança às populações. Os partidos políticos tiveram que apresentar propostas com base de superação da fragilidade do Estado. A sociedade civil envolveu-se no campo político, proliferam plataformas, certas ONGs como AD – Ação para o Desenvolvimento ou TINIGUENA adquiriram credibilidade, mas o mesmo se pode dizer das organizações religiosas e de muitas associações comunitárias, caso dos grupos de Mandjuandades e no campo dos direitos humanos a Liga Guineense é o farol da vigilância e da denúncia.

Quinto, há que repensar o Estado e sociedade civil, esta tem vindo a caminhar de forma lenta mas positiva. A sociedade civil implica a limitação da intervenção estatal e a clarificação de áreas de intervenção. Interroga-se a insustentabilidade das ONG, e Miguel Barros defende que é preciso encontrar um novo empreendedorismo político e económico baseado no contrato social. 

“Isto quer dizer que a economia deve estar implantada numa sociedade civil mais ampla e que albergue as interações sociais baseadas em normas como a confiança, fiabilidade, capacidade para o compromisso com todos os atores sociais e um reconhecimento mútuo não violento. Para isso é fundamental a reforma do sistema político”.

Sexto, no tocante a recomendações, estratégias e cenários futuros, o documento aponta para a revisão e atualização do quadro legal que enquadra as organizações da sociedade civil, que se esclareça as formas de normalizar a contribuição do Estado para estas organizações e como estas se devem relacionar com o setor privado. Segundo o relatório, temos três cenários pela frente: o primeiro com um Estado funcional numa sociedade civil forte e um sistema democrático viabilizado, portanto um ambiente promissor para a transformação estrutural do país, das instituições públicas, da economia e da estabilidade política; um segundo caraterizado por um Estado frágil, uma sociedade civil dependente de um sistema democrático de fachada, no qual o país continuará a viver ciclos de instabilidade controlada; e por último, um Estado disfuncional, uma sociedade civil fraca e um sistema democrático ameaçado.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20298: Notas de leitura (1232): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (30) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20311: Memória dos lugares (396): Roteiro de Bissau Velha: ruas antigas e ruas atuais, onde se localizavam algumas casas comerciais do nosso tempo: café Bento, Zé da Amura, Pintosinho, Pinto Grande / Henrique Carvalho, Taufik Saad, António Augusto Esteves, Farmácia Moderna...


Mapa de parte da baixa da velha Bissau (colonial), entre a  Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura.  A escuro, dois prédios que pertenciam a Nha Bijagó.  Fonte: António Estácio, em "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., il.),


Guiné- Bissau > Bissau > c. 1975 > Novo mapa, pós-colonial, da capital da nova república, já com as novas designações das ruas, avenidas e praças, que vieram substituir o roteiro português: Av 3 de Agosto (,  Marginal), a Rua Guerra Mendes (, Rua Oliveira Salazar,)  Rua António Nbana (, Rua Tomás Ribeiro) . Veja-se a localização da Fortaleza da Amura, do porto do Pidjiguiti (para os barcos de pesca e de cabotagem), à esquerda do porto de Bissau (para os navios da marinha mercante).


Foto: © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Às vezes temos dificuldade em localizar, no mapa de Bissau do nosso tempo (1961/74),  aquela casa comercial, aquele restaurante ou aquela cervejaria de que temos boas memórias... Faltam-nos um mapa com a toponímia do "antigamente", e a correspondência com os nomes das ruas e avenidas atuais... 

Com a ajuda de algumas camaradas que conhecem (ou conheceram) Bissau, aqui fica um pequeno contributo, parcelar,  para nos ajudar a localizar, com mais rigor, alguns desses estabelecimentos, alguns com várias referências do nosso blogue: por exemplo, ainda recentemente falámos aqui do comerciante António Augusto Esteves, fundador da Casa Esteves, transmontano, e que ainda ficou por lá depois da independência,  tendo ido para a Guiné  em 1922 e tendo morrido em Lisboa, em 1976...  [Tinha várias filiais no interior da Guiné. A sede era em Bissau, na antiga Rua Honório Barreto (6). ]

Segundo o António Estácio, no seu livro "Nha Bijagó", "a Rua Honório Barreto foi, na Guiné, a primeira a ser asfaltada e reabriu em 06.04.1953"...  Nesta rua, agora 19 de Setembro,  "encontravam-se estabelecimentos comerciais como, por exemplo, o de Augusto Pinto, a Olímpia Rocha (10), Barbearia Constantino (9), Casa Esteves (6),  Salgado & Tomé (11), Luís A. de Oliveira (12) e, mais tarde, parte o do Taufic Saad (4), na esquina com R Oliveira Salazar.

Na Rua Oliveira e na Marginal, ficavam as instalações da Ultramarina (que pertencia ao BNU) (14), o Hotel Miramar (15), a Gouveia (13)...

Na antiga Rua Miguel Bombarda (hoje 12 de Setembro), tínhamos o Zé da Amura (7),o Abel Dieb (19),  a Casa Escada (17), o Abel Valente de Oliveira (18), o Mamud Elaward (20). Sabemos também onde ficava o Benjamim Correia (16), ao pé da Farmácia Moderna (5), o Barbosa & Comandita (21) e a Esquadra da PSP (22)



Infelizmente o croqui que encontrámos num livrinho do António Estácio, só inclui a parte oriental da Bissau Velha,  entre a  Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura (8). 

Aguardamos, por parte dos nossos leitores. o envio de sugestões e correções, sob a forma de comentários, na respetiva caixa. Se nos quiserem mandar fotos, terá que ser por email... (LG)


Zé da Amura (7)

(...) Tínhamos o Zé da Amura onde se comiam uns chispes que iam para lá enlatados não sei de onde, mas que, à falta de melhor, eram apreciados. (...)

Café Cervejaria Bento [ou 5ª Rep] (1)

(...) Na Avenida principal [ , a Av da República, hoje Av A,ílcar Cabral], que ía do porto ao Palácio do Governo, também havia o Bento, café e esplanada característica da cidade a que vulgarmente nós, os militares, chamávamos de “5ª Rep.” já que o Quartel-general [, na Amura,]nsó tinha 4 Rep, 4 Repartições.

(...) O comércio de Bissau não era constituído só por cafés, restaurantes e tascas. Havia de tudo. E há nomes que não se esquecem. Para além da Casa Gouveia, o maior empório daquele então Província Ultramarina, como então se dizia, a Casa Pintosinho, a Taufik Saad, a Costa Pinheiro, e muitas outras vendiam de tudo, são nomes que ficaram para sempre na memória.

(...) "Havia, claro, várias casas de fotografia, como por exemplo a Agfa, perto da Amura, que ganhavam muito dinheiro na medida em que era raro o militar que não tivesse comprado a sua Fujica, Pentax, Nicon, etc., a que davam muito uso. Muitas casas vendiam roupa barata, nessa altura já confeccionada em Macau, especialmente aquelas camisas de meia manga, calças de ganga e sapatos leves."


Casa Pintosinho (2)

(...) Na Guiné, mais propriamente em Bissau, fomos encontrar coisas boas no comércio. Uma surpresa! Logo ali na rua paralela à marginal [, ex-Rua Oliveira Salazar, hoje Rua  Guerra Mendes,] na Casa Pintosinho, havia as últimas novidades eletrónicas. Os melhores rádios, transistores, pick-ups, aparelhagens de som, máquinas de barbear e todo o mais. Akai e Pioneer era do mais reclamado e moderno. Estavam na moda.

Um rádio para pôr na mesinha de cabeceira era o que se pretendia mais. No mato, já a ventoinha, a 5 dedos da cara, ganhava bem aos rádios. Alguns compraram autênticos rádios de sala e andavam com eles debaixo do braço, como que a dizer que o meu é maior do que o teu, e os donos da música fossem eles; outros ficavam pelos mais pequenos (vulgo transístor) que se levava no bolso e para qualquer lado.

Um camarada comprou um rádio que se transformava em pick-up após uma ligeira articulação. Foi de abrir a boca. Na Casa Pintosinho comprei ali mais tarde um “Mitsubishi”. Este transístor andava em propaganda radiofónica local e assim andou durante bastante tempo. Seduzido por tanta propaganda fui lá buscar um mais tarde, quando passei por Bissau em trânsito para férias na metrópole. Boa compra, durou muitos anos e tocava dentro do carro como se fosse um auto-rádio. Uma relíquia, mesmo depois de deixar de tocar (os tombos foram muitos), posta fora inadvertidamente, para desespero meu.

A Casa Pintosinho era uma casa atualizada e a tropa era lá muito bem recebida e atendida. Pudera! Sargentos e Oficiais tinham manga de patacão. (...)

 Taufik Saad (4)

(...) Na mesma rua e mais para o lado da Amura, na loja Taufik Saad  [, foto à esquerda, ] comprava-se, principalmente, entre outras, louças decorativas, vulgo bibelots, louças de servir à mesa, faianças e porcelanas, louça fina, entre esta bonitos Serviços de chá e café que vinham da China. 

Louça “casca d’ovo “, louça de fina espessura para não fugir aquele nome, onde no fundo se podia ver recortada na própria louça o rosto de uma linda chinesa. 

Ainda hoje guardo um serviço destes. Era uma casa requintada ao nível das melhores de Lisboa. (...)

Anúncio, Revista de Turismo,
 jan/fev 1956

Casa Pintosinho, de António Pinto  (2)

(...) O anúncio que hoje divulgamos é de uma conhecida casa de Bissau, do nosso tempo, a Casa António Pinto, ou "Pintosinho", alegadamente a melhor e a mais moderna loja da província (, em 1956, já não se dizia, ou pelo menos, não se escrevia, colónia...).

O António Pinto, que ficava na Rua Dr. Oliveira Salazar [, hoje Rua Guerra Mendes,] tinha tudo, a começar pelas "últimas novidades", desde a ourivesaria às armas, munições e demais artigos de caça e desporto, par de rádios e máquinas fotográficas (como a Zeiss Ikon)...

Era o representante,na Guiné, de uma série de marcas famosas, desde os relógios "Longines" às máquinas de escrever "Hermes", além dos "whisk" (sic, em inglês, batedeira, utensílio de cozinha...) das melhores marcas (...)


Pinto Grande, depois Ernesto Carvalho (3)



(...) Guiné > Bissau > Anos 50 > Primeira rua [, Rua Oliveira Salazar,] a ser alcatroada em Bissau. O edifício à esquerda  era o estabelecimento comercial conhecido por Pinto Grande, irmão de um outro Pinto conhecido por “Pintosinho” [,o António Pinto, ] por ser (o estabelecimento) de menores dimensões.

O “Pinto Grande” [, de Augusto Pinto], embora continuando a ser chamado por esse nome, foi, durante a guerra, propriedade de um comerciante anteriormente estabelecido em Bolama, de nome Ernesto de Carvalho que o tomou de trespasse. (...)

Mário Dias

Anúncio, Revista de Turismo, jan/fev 1956
Farmácia Moderna (5)

(...) "O Rui Demba Djassi era um jovem activo e turbulento duma família de funcionários públicos, residente na então rua de S. Luzia, entre o estaleiro da Tecnil e o Quartel-General do CTIG, desertara do Eexército Português para o PAIGC com o posto de furriel miliciano, e, antes de assentar praça, fora cobrador da Farmácia Moderna, muito dedicado à Dr.ª Sofia Pombo Guerra, comunista portuguesa e uma das mães da independência da Guiné (os guineenses não deixaram de ser polígamos na política)" (...)




Guiné > Bissau > Fins de Setembro de 1967 >– Numa rua da Baixa, pobre, suja, velha, a cidade velha, penso ser na zona comercial, onde se localizava a Casa Pintosinho e a Taufik Saad e outras. Penso que estou metido num grupo de amigos, e alguém tirou a foto, acho que estou de camisa branca.

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Bissau > s/d [ c. 1960/70] > Rua Oliveira Salazar. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 135". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, SARL).

Era nesta rua, na Bissau Velha, que ficava a Casa Pintosinho, a Taufik Saad,  a Casa Pinto Grande e outras. Colecção de postais da Guiné, do nosso camarada Agostinho Gaspar, natural do concelho de Leiria, ex-1.º cabo mec auto rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74).

Digitalização e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

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domingo, 3 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20310: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXX: Adelino Oliveira Nunes Duarte, cap inf (Castelo Branco, 1939 - Moçambique, 1970)





1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). 

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à direita], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

Morais da Silva foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar. É membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 784, desde 7 do corrente.

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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20230: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXIX: Henrique Ferreira de Almeida, alf art (Sátão, 1947 - Guiné, Cabedu, 1968); pertenceu à CART 1689 / BART 1913.

Guiné 61/74 - P20309: Manuscritos (Luís Graça) (174): as cores quentes e frias do outono da Tabanca de Candoz - III (e última) Parte


















Marco de Canaveses > Paredes de Viadores >Candoz > Quinta de Candoz > 2 de novembro de 2019 > As cores "outonais"... Morte e renascimento da mãe-natureza,,,


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Estas são as cores, únicas,  do meio do Outono, cores quentes e frias...Mas também são únicas as cores do fim do Outono / princípio do Inverno... Gosto de as contemplar em dia de nevoeiro, com a manhã muito fria, altura em que ainda há folhas nos castanheiros e nos carvalhos... 

Mas já as videiras estão completamente despidas, quando em meados de  Dezembro se iniciar a poda, que pode prolongar-se até Fevereiro/Março... E já as pencas estão boas para apanhar: vão acompanhar, na ceia de Natal, o bacalhau lascudo... Oxalá haja geada, muita e boa, até lá... 

Na Tabanca de Candoz temos também alguns sobreiros, de folha perene...Crescem aqui a um ritmo de fazer inveja ao Alentejo...mas não dão cortiça de jeito.... Não se pode ter tudo. E eu desta vez, de canadiana numa das mãos e máquina fotográfica na outra, não fui lá ao cimo da terra cumprimentar o nosso belo sobreiro, que já é cinquentão.

Por enquanto delicio-.me com as cores quenres e frias do início de Novembro. Não as tinha na Guiné e faziam-me falta... Fizeram-me falta. Fazem-me falta todas as cores do arco-íris...

Esta é a terceira (e última) parte de um seleção de fotos que fiz no dia 2 de Novembro, dia de Finados, com chuva, sem sol, longe do meu mar...

Também me faz falta o mar...Como eu escrevi à Alice,"(...) Posso gostar das tuas montanhas  / e das tuas albufeiras / e das tuas florestas de castanheiros e carvalhos, / da gente rude e franca do teu Norte, / mas preciso de regressar ao meu Sul, / de vez em quando, / para respirar como as baleias" (...)

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Guiné 61/74 - P20308: Blogues da nossa blogosfera (113): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (29): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

A VOZ AO LONGE

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Quase diríamos que as paredes brancas nascem da terra.
Quase diríamos que o sol vermelho e quente
é um beijo ardente
na misteriosa face da planície inocente.
Quase diríamos que a vida não se inscreve
nas copas dos chaparros quietos e mudos
antes se deita na sombra doce.
Quase diríamos que o chão se veste e reveste de cores
cheiros e sentidos
que dão à vida algum sentido.
Quase diríamos que a vida não se aninha na erva daninha
antes baloiça de alegria no ondular da seara
como navio de esperança num mar de trigo.
Quase diríamos que a voz ao longe
não é do vento nem do tempo
nem da descrença de um outro amanhã.
Quase diríamos que a voz ao longe
é o voar sereno de uma pomba branca
trazendo no bico um livro enorme
e um ramo de paz para o ninho dos homens.
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20280: Blogues da nossa blogosfera (112): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (28): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P20307: Manuscritos (Luís Graça) (173): as cores quentes e frias do outono da Tabanca de Candoz - Parte II


















Marco de Canaveses > Paredes de Viadores >Candoz > Quinta de Candoz > 2 de novembro de 2019 > As cores "outonais"... Morte e renascimento da mãe-natureza,,,


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O quente e o frio, a paleta de cores do outono... era o que me faltava na Guiné... Havia belos poilões, bissilões, cabaceiras, acácias,... mas faltava-me as cores dos vinhedos depois das vindimas, já em pleno outono quando as folhas mudam de cor, entrando as plantas no processo (cíclíco) da morte e do renascimento... 

Fiz uma seleção de fotos tiradas na Tabanca de Candoz, no dia de finados... Esta é a parte II.

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Guiné 61/74 - P20306: Blogpoesia (643): "Cissiparidade poética", "Asas partidas" e "Quando tudo entorpece", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


Cissiparidade poética

A natureza viva rege-se por uma lei fatal e benéfica.
É a lei da dependência.
Nenhum ser perfeito é autónomo.
Sua origem o prende à união de princípios.
O masculino e o feminino.
O resultado não é uma soma.
É um alter “ego”.
Com sua identidade.
Única e independente.
Cada um o seu percurso.

Assim as ideias e a realidade da poesia.
Gravitam no ar as ideias de cada pessoa.
Se transmitem pela linguagem.
A junção dos sons geram palavras.
Os seus signos.

O diálogo é fértil.
Suscita ideias que não existiam.
Combiná-las é uma arte.
Seu motor é o fogo da inspiração.

Berlim, 28 de Outubro de 2019
12h40m
Jlmg

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Asas partidas

Sonhos imperfeitos.
Sombrias desgraças.
Páginas negras.
Estilhaços de vidas.
Falsas quimeras.
Grinaldas rasgadas.
Compassos de espera.
Ramadas sem uvas.
Amores de praia.
Tardes perdidas.
Searas sem grão.
Até os pássaros choraram.
Aldeias desertas
Porque os campos secaram.
Matas queimadas pela fogaça do crime.
Ribeiro afoito de inverno que morreu no Verão.
Romagens sonhadas que a crise matou.
Almas vibrantes que secaram de amor.
Tanta riqueza na mina que a voragem sem freio,
Impiedosamente, extinguiu.
Quermesses ao rubro que a tempestade,
Num repente, destroçou.

Ouvindo Mozart, Piano Concert Nr 24 c Moll KV 491 Rudolf Buchbinder Piano & Conducter, Wiener Phi
Berlim, 30 de Outubro de 2019
10h47m
Jlmg

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Quando tudo entorpece…

É o fim da combustão.
Quando tudo entorpece.
Desmaiam as forças.
Dão estalos as articulações.
Se encurtam as passadas.

Dá jeito a bengala.
Mais não seja para conforto.

O que parecia longínquo há pouco tempo, depressa se aproximou.
Me davam pena os velhinhos.
Pelos bancos de jardim.

Já penso como eles quando traço meu passeio.
Não me sinto tão alquebrado.
Nem aceito os anos que já conto.
É real a maior longevidade.

Não me vejo como os eu via.
Há saúde. Isso é o que importa…

Berlim, 31 de Outubro de 2019
13h2m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20294: Blogpoesia (642): "Porque tardaste?" - Poema de Juvenal Amado dedicado ao seu neto que hoje completa o seu primeiro ano de vida

Guiné 61/74 - P20305: Parabéns a você (1702): Ten-General PilAv Ref António Martins de Matos, ex-Tenente PilAv da BA 12 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 2 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20300: Parabéns a você (1100): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense do CSJD/QG/CTIG (Guiné, 1973/74)