quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 – P20688: Memórias de Gabú (José Saúde) (91): “Um Ranger na Guerra Colonial Guiné-Bissau 1973/74” (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

Memórias de Gabu

“Um Ranger na Guerra Colonial  Guiné-Bissau 1973/74”

Camaradas, deixo-vos aqui um de muitos textos que o meu último livro, o nono, contempla. Viagens por espaços físicos que muitos de vós conheceram. A obra, com a chancela da Editora Colibri, é tão-só uma reminiscência de circunstâncias que permanecem eternamente nas nossas memórias. Comprem o livro e rever-se-ão em cada tema narrado.

Bafatá, cidade acolhedora

Um olhar sobre o Geba

Cativava-me uma viagem a Bafatá! E foram muitas as jornadas àquela cidade guineense. Um olhar lançado sobre o rio Geba, ao cimo da rua principal, deleitava espíritos de jovens militares que, no mato, se deparavam com frequência a imensos problemas de índole diversa. A guerrilha, sempre ativa, quebrava permanentemente a monotonia de tropas dispersas por toda a região.    
Uma ida a Bafatá simbolizava uma jornada à faustosa urbe para militares entregues a um profundo isolamento. A cidade debruçava-se sobre uma das margens do leito do rio Geba, um portentoso curso de água que ao longo da guerra registou inúmeras histórias fatídicas. Bafatá era uma boa anfitriã.
As minhas idas a Bafatá baseavam-se em colunas de reabastecimentos. A estrada era asfaltada. A distância que separava as duas localidades (Bafatá-Nova Lamego), rondavam, mais ou menos, os 35 kms, julgo. Lembro-me de uma ocasião em que o major Óscar Castelo da Silva, segundo comandante do BART 6523, me pediu para o acompanhar a Bafatá. Tendo em conta a distância e o ambiente de guerra que se vivia, disse-lhe que “preparava o grupo e o meu major levava o jipe com o condutor”. Resposta: “Não, você acompanha-me, armado, e iremos os três”.
E lá nos fizemos à estrada. Confesso que a certa altura cheguei a ter receio da aventura. Havia quilómetros de mato denso. Sabia que esse trajeto, todo em alcatrão, não oferecia problemas de maior. Regressámos sem nada se registar.
Bafatá foi também um azimute traçado quando um dia subi o rio Geba. Embarquei em Bissau e ancorei no Xime. As ligações para Gabu, via aérea, complicaram-se. A guerrilha estava ao rubro. Ganhava uma imponente dimensão. Impunha-se um maior cuidado. Esperei alguns dias, comparecia nos Adidos (estrada que unia Bissau a Bissalanca) e a resposta negativa mantinha-se. Aguardavam ordens, diziam-me. Numa manhã, já desolado com a situação deparada, colocaram-me como hipótese o meu regresso ao Leste por via fluvial. Disse prontamente que sim.
Nunca imaginei uma viagem tão atribulada. A lancha da marinha – LDG – ia cheia que nem um ovo. Os negros, em grande número, transportavam consigo vários apetrechos pessoais. Nem a galinha faltou à chamada!
Ao chegarmos à zona da Ponta Varela, e com o rio a estreitar as suas margens, o comandante da embarcação mandou-nos deitar. “Nem uma cabeça a ver-se do exterior”, avisou. Os marinheiros, já feitos à dita viagem, agarraram-se às metralhadoras e fez-se silêncio. Prevaleceu, momentaneamente, o medo. O “cabo Bojador” foi ultrapassado e, desta feita, o pessoal passou isento de eventuais novidades.
Disseram-me que a zona era extremamente perigosa. Contava-se que aquela viagem já tinha conhecido contornos fatais resultantes de ataques do PAIGC a partir das margens do rio.  
A navegar já em águas fluviais mais “calmas” ancorámos no cais do Xime. Seguiu-se a viagem numa Berliet que cruzou Bambadinca, Bafatá e, finalmente, Gabu.
Bambadinca era também conhecida como a terra do tenente Jamanca, um negro de corpo franzino, estatura baixa e que comandava a CCAÇ 21. Recordo as suas virtualidades como guerrilheiro. Tive a oportunidade de com ele contactar e ouvir histórias em que o soneto da guerra agitava as curiosidades.  

 A rua principal de Bafatá com o Geba ao fundo 


Cais do Xime, 1973

Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. também os postes:

Guiné 61/74 - P20687: Parabéns a você (1764): Luís R. Moreira, ex-Alf Mil Sapador do BART 2917 e BENG 447 (Guiné, 1970/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20684: Parabéns a você (1763): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista MMA da FAP (1979/82)

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20686: Historiografia da presença portuguesa em África (201): "A Guiné Através da História", pelo Coronel Leite de Magalhães; Cadernos Coloniais, Editorial Cosmos (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Março de 2019:

Queridos amigos,
É justo uma palavra de apreço sobre esta coleção dos Cadernos Coloniais, iniciativa da Editorial Cosmos, eram livrinhos de cerca de 60 páginas, o conhecimento das parcelas imperiais, de vultos e trabalhos ultramarinos muito lhe deve.
O caderno n.º 24 foi escrito por António Leite de Magalhães, homem com bibliografia, a ele se voltará mais tarde. Atenda-se ao percurso histórico que ele sintetizou neste seu livrinho, bastante útil para confirmar a leveza da presença portuguesa ao longo dos séculos em que ali se permaneceu, presença leve e sempre com a agravante de uma atmosfera de indisciplina interna e permanente hostilidade em torno das praças e presídios.

Um abraço do
Mário

Coronel António Leite de Magalhães


A Guiné Através da História, pelo Coronel Leite de Magalhães (1)

Beja Santos

Estes Cadernos Coloniais foram uma aposta da Editorial Cosmos, foram publicados durante décadas. O número 24 teve como autor o Coronel António Leite de Magalhães, governador da Guiné de 1927 a 1931, apanhou a Revolução Triunfante. É um livrinho de divulgação que tem aspetos bastante curiosos, Leite de Magalhães elenca, à luz dos conhecimentos da época alguns dos aspetos mais palpitantes da vida da colónia-feitoria.

Começa por nos dar um quadro a que ele intitula “Da descoberta à revolução liberal de 1820”. Inicia a sua descrição com a tomada de Ceuta, e logo escreve ao gosto do tempo que se lançaram as velas pandas no mar misterioso e largo, as suas quilhas abrem sulcos novos dia a dia, e neste relato entusiasmado dobra-se o Cabo Bojador e chega-se ao rio Senegal, começava a história da Senegâmbia. Não se esquece o autor de nos recordar que em 1448 o rei cedeu ao Infante o exclusivo do comércio ao sul do Cabo Bojador, e que por carta régia de D. Afonso V, de 7 de junho de 1454, o Infante D. Fernando tornou-se o donatário de todas as terras do Ultramar adquiridas e por adquirir, doação confirmada pelo Papa Nicolau V. No seu testamento, datado do ano da sua morte (1460), o Infante D. Henrique outorga à Ordem de Cristo a espiritualidade da Guiné. Dois anos depois começou a exportação de mão-de-obra escrava para Cabo Verde, António de Noli estava a povoar a Ilha de Santiago com indígenas daquela procedência. Em 1490, é feita a doação da Ilha Boavista a Rodrigo Afonso para criação de gados, é também povoada com gente da Guiné. De 1513 a 1516, Cabo Verde recebeu cerca de três mil escravos dos portos da Guiné, dos quais uma grande parte foi aproveitada por Espanha para a colonização das suas conquistas. Ao tempo a concorrência entre traficantes de escravos era enorme, mas já tinha antecedentes. D. Manuel I proibiu, em 1518, os resgates da Guiné, interdição que acabou ao fim de dois anos. No período do reinado de D. João III até ao domínio filipino a pirataria francesa fez os seus estragos na região.

Tentou-se a missionação, a história das missões irá ser alvo do importante trabalho de investigação do Padre Henrique Pinto Rema, mas o autor aqui refere a presença dos jesuítas e dos capuchinhos franceses, como é sabido, com pouco êxito. Quando em 1 de dezembro de 1640 se extinguiu o domínio espanhol, a Senegâmbia Portuguesa era um vasto campo de piratarias. Em 1641 é nomeado Capitão-Mor e Feitor de Cacheu Gonçalo de Gamboa Ayala, é o tempo em que nasce a fortaleza. A Guiné deve a este capitão a fundação de Farim e a ocupação de Zinguinchor.

A Guiné é sempre um ponto de interrogação para o Estado Português, incapaz de uma estratégia para este enclave. Em 1675, pretendeu-se formar uma companhia em benefício da Praça de Cacheu e Comércio da Guiné, não deu frutos. Segue-se um longo período de grandes tensões em Cacheu, sempre com sublevações à volta, com os ingleses no rio Gâmbia e com os franceses a pretender construir uma fortaleza em Bissau. Em 1690 funda-se a Companhia de Cacheu e Cabo Verde e dois anos depois o rei mandou que se construísse a Fortaleza de Bissau, competindo à Companhia de Cacheu e Cabo Verde costear a despesa. E o autor repertoria um estado de tensão permanente com as gentes da Guiné.

A fortaleza de Bissau foi mandada destruir em 1708, já no reinado de D. João V. Diz-se que a nova fortaleza foi edificada a expensas da Companhia do Pará e Maranhão, que se fundara em 1755, ficando com o exclusivo do comércio e a administração das ilhas de Cabo Verde. Não terá sido seguramente um êxito, a Companhia foi extinta em 1777. E o autor extrai elementos de um relatório elaborado pelo Administrador João da Costa, da Companhia do Pará e Maranhão, sobre o estado da Guiné, com data de 1778: os edifícios da praça de Bissau eram uma ruína completa, a capela caída, a guarnição de 190 soldados sem pagamento e sem vestuário, a população de 700 guineenses católicos sem serviço religioso; em Cacheu, a artilharia estava fora de uso, os soldados como os de Bissau, e quanto ao serviço religioso, ali e no rio da Gâmbia havia apenas um padre; a praça de Farim estava completamente abandonada, o mesmo se passava com Zinguinchor.


Em 1783, foi consentida a formação da Companhia de Comércio das Ilhas de Cabo Verde, mas de proveitoso para a Guiné não há registo. Instalara-se a desordem na colónia. A Corte parte para o Brasil, a Guiné ficou mais esquecida. Em 17 de maio de 1819, o Governador de Cabo Verde, António Pusich, propôs que, para alívio da Real Fazenda se entregasse a Guiné a uma companhia, o que não aconteceu. Dá-se a revolução liberal, mas não melhorou a situação da Guiné, as sublevações são constantes na guarnição de Bissau, para se salvar um dos comandantes teve de fugir para Geba, ficou protegido pela população local. Em 1834, o governador de Cabo Verde pretendeu reunir num só os dois governos, Bissau e Cacheu, Lisboa não aceitou a proposta.

Vem a propósito lembrar a extraordinária memória da Senegâmbia elaborada por Honório Pereira Barreto, em 1843: o país está completamente desorganizado, todos os empregados, desde o primeiro ao último, ignoram quais sejam as suas atribuições, e por consequência quais sejam os seus deveres… os vigários, apesar de serem ministros de uma religião sublime, pouco se importam com a moral e preceitos dela, vivem com as barregãs em casa, apresentam-nas a todos, como qualquer homem casado apresenta a mulher; a tropa é um bando de homens indisciplinados, turbulentos, esfomeados, nus e traficantes; das ilhas de Cabo Verde só mandam para estas guarnições os soldados incorrigíveis e os ladrões que lá há.

E é nesta atmosfera de caos que a Grã-Bretanha não esconde as suas ambições sobre Bolama e os franceses avançam pelo rio Casamansa e se fixam nas proximidades de Zinguinchor.

Esta questão das tropas indisciplinadas tem um largo e doloroso historial: soldadesca amotinada era um dado frequente, não faltavam trapalhadas. Atenda-se ao que escreve o autor, é um episódio antes da revolução liberal:
“Em 1804, morre envenenado em Bissau o Capitão-Mor António Cardoso de Faria. E em Fevereiro do ano seguinte segue para aquela praça o seu substituto, Manuel Pinto Gouveia. Este leva 150 degredados tirados do limoeiro, facínoras e dos maiores crimes. Em Cabo Verde entregam-lhe mais 80 homens… da mesma qualidade. E com esta gente e mais 230 soldados pretos, treinados na ordem e no vício, formou o batalhão 460 praças até ao ponto de, com eles, impor e manter a paz entre o gentio. A ilusão durou pouco, em Abril de 1818 amotina-se a tropa por falta de pagamentos. Em 12 de Junho nova insubordinação…”.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20665: Historiografia da presença portuguesa em África (200): “A Guiné Portuguesa, subsídios para o seu estudo”, comunicação de Carlos de Almeida Pereira, no 3.º Congresso Internacional de Agricultura Tropical, Londres 1914 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20685: Fotos à procura de... uma legenda (126): O militar em questão não seria o cap inf Manuel Francisco da Silva, comandante da CCAÇ 1681/BCAÇ 1911 (1967/1969) ? Se sim, nasceu em Silves em 1933 e morreu em Faro, em 2015, como cor inf ref, tendo sido também, em 1982, presidente da Câmara Municipal de Faro (Jorge Araújo)



Será o Cap Inf Manuel Francisco da Silva , comandante  da CCAÇ 1681/BCAÇ 1911 (1967/1969), formada no RI 15 (Tomar) ? Hipótese avançada pelor Jorge Araújo. Segundo o Valdemar Queiroz, a fotografia parece ter sido tirada em Tomar, vendo-se, por detrás do militar,  as costas da estátua de Gualdim Pais e parte da torre da Igreja da S. João Baptista. Foto disponibilizada por Carlos Mota Ribeiro. 

O camarada Manuel Francisco da Silva (Silves, 1933- Faro, 2015) morreu em 5 de janeiro de 2015 aos 81 anos.






Manuel Francisco Silva, cor inf ref (Silves, 1933 - Faro, 2015)


1. Mensagem do nosso coeditor Jorge Araújo, com data de ontem, 24 de fevereiro de 2020, às 15:01:



 Caro Luís,

Está tudo bem contigo? Espero que sim.

Na sequência do meu comentário ao poste em epígrafe, anexo, para os devidos efeitos, algumas notas sobre o mesmo e respectivas fontes.
Não sei se acertei na identificação da foto... mas tentei. Aguardemos pelo seu desenvolvimento..

Um óptimo Carnaval... na Lourinhã... em Torres... não interessa o local. O importante é que à nossa volta haja alegria e felicidade e muita saúde.

Um abração. Jorge Araújo.

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Nota do editor:

(*) Último poste da série >  24 de fevereiro de  2020 > Guiné 61/74 - P20680: Fotos à procura de... uma legenda (119): restos da vida de um combatente, capitão de infantaria, provável comandante de uma Companhia de Caçadores, CTIG, 1970/72... (Carlos Mota Ribeiro, Maia)

(i) Comentário de Jorge Araújo:

Caro Carlos Ribeiro,

Como primeira hipótese de resposta ao conteúdo do presente poste, sou de opinião de que não deveremos fazer corresponder a medalha de "Cruz de Guerra" com a "das Campanhas de África", pois poderão ser de pessoas diferentes, e que só a oportunidade de compra/venda as fez juntar.

Por outro lado, tendo por base a minha investigação, ainda que superficial, sem nada que possa afirmar com total certeza, avanço com um nome de partida:

Será que estamos perante o caso do "CAPITÃO MANUEL FRANCISCO DA SILVA (?-2015)", natural de São Marcos da Serra, Silves?

Em correio separado, vou fazer chegar ao Luís Graça um pequeno resumo do que encontrei com foto.

Acrescento, no entanto, que o louvor que originou a condecoração deste militar (Cruz de Guerra) está publicado no livro da CECA - Volume 5 - Tomo VIII Cruz de Guerra, p592.

Para a elaboração da minha pesquisa, foi importante o contributo do camarada Valdemar ao apontar Tomar com local da foto publicada.

É que a Unidade a que pertenceu, na Guiné, o Cap Inf Manuel Francisco da Silva, foi a CCAÇ 1681/BCAÇ 1911 (1967/1969), formada no RI 15 (Tomar).

Este militar faleceu a 05 de Janeiro de 2015, com a patente de Coronel.

À consideração do Fórum... aguardando novos contributos.

Um abraço. Jorge Araújo.

(ii) Comentário de Jose J. Macedo, DFE 21-Guine

Camaradas, junto vos envio um Link para o Wikipedia com a biografia do Coronel Manuel Francisco da Silva. A "procura" foi feita baseada nas informações do camarada Jorge Araújo.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Francisco_da_Silva

Um abraço.

Jose J. Macedo
DFE 21
Cacheu-Bolama-Guine -1973-1974

Guiné 61/74 - P20684: Parabéns a você (1763): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista MMA da FAP (1979/82)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20683: Parabéns a você (1762): Gumerzindo da Silva, ex-Soldado Condutor Auto da CART 3331 (Guiné, 1970/72)

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20682: Em busca de... (301): Raul Fernandes Coelho, natural de Braga, piloto de Heli AL III e de caça-bombardeiro T 6, do meu tempo (Francisco José Rato Mendonça, ex-1º cabo esp MARME, BA 12, Bissalanca, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > Cufar > s/d > c. 19727/74 > Militares da FAP, pilotos: da esquerda para a direita, alf Pimenta, cap Branco, alf Cruz Dias,  fur Coelho (?) e fur Luís Santos.

Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de Francisco José Rato Mendonça, nosso camarada e leitor, ex-1º cabo especialista MARME [, mecânico de armamento e equipamento], BA 12, Bissalanca, 1972/74:

Data: sexta, 21/02/2020 à(s) 22:57

Assunto: Informação

Olá, Luís

Sou um ex-especialista MARME,  estive na FAP entre  1970 a 1976, tendo passado por, Ota, AB1, BA12, BA6, BA6, EMFA (com o General Morais e Silva).

Chamo-me Francisco José Rato Mendonca, estou no estrangeiro [Itália ?]

Pretendia saber se atravás da nossa organização [  o nosso blogue,]  posso ter o contacto de Raul Fernandes Coelho,  piloto de helicóptero e de T-6 na Guiné, 1972/74. Ele é de Braga,

Esperando que me possas ajudar, as minhas saudações aeronáuticas

Francisco Mendonça


2. Resposta de hoje, às 16h13, do Miguel Pessoa, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, atualmente cor pilav ref:


Lembro-me de um Furriel Coelho, da Esquadra 122 (AL-III) que voava também o DO-27 na Esquadra 121. Penso que seja o que está referido na foto em anexo (com alguma dúvida...).
Não tenho registo de contactos deste camarada.
Abraço. Miguel Pessoa

Francisco Mendonça.
Cortesia de blogue
Especialistas da Base Aérea  12
(Guiné 65/74)
3.  Comentário do nosso editor LG;

Do Raul Fernandes Coelho não encontrei rasto no blogue dos especialistas da BA12 (Guiné, 1965/74) nem na Net.

Mas encontrei um outra mensagem  (e uma foto) do Francisco Mendonça, com data de 4 de abril de 2016, e que reproduzo aqui com a devida vénia:

Bom dia, especialistas.

Eu sou Francisco José Rato Mendonça,  Esp MARME, 2/70. As bases por onde passei foram OTA, AB1, BA12, BA6 Montijo, EMFA representante dos especialistas no tempo do General Morais e Silva,  (graduado) Comandante da BA12 Lemos Ferreira, segundo  comandante Tenente Coronel Vasquez com quem voei em Dornier 27 depois de terem sido abatidos,  numa semana, alguns aviões. Houve uma espécie de recusa naquele período pelo facto de não termos misseis.

Do tenente que era chefe do armamento,  não me lembra o nome dele. Eu era da linha da frente, carregava a Dornier com roquetes, o T6 com bombas  de napal 80 kg mais bombas de 50 kg e ninhos de granadas incendiárias. Fiz algumas missões com dois T6 com carregamento de bombas algures em território da Guiné. Nos Fiats carregávamos diversos tipos de bombas e as metralhadoras.

Durante um certo período fui transferido para fotografia aérea. Aqui na Bulgária fiz uns voos no Antonov 2, um antigo aéreo biplano que se utiliza para regas agrícolas. uma espécie do tractor americano-

Além daquilo que vos enviei,  informo: Sou piloto de Delta plano (sem motor);  piloto de Planadores PPP: piloto de aviões monomotores a hélice até 5900 kg ppa; curso incompleto de paraquedismo (sem saltos).

Saudações aeronáuticas, Francisco Mendonça

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Guiné 61/74 - P20681: Notas de leitura (1267): “Autópsia de um Mar de Ruínas”, por João de Melo, 9.ª edição reescrita pelo autor; Publicações Dom Quixote, 2017 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Fevereiro de 2017:

Queridos amigos,
Em 1984, João de Melo deu à estampa, sob forma de romance, a sua experiência como furriel enfermeiro em Calambata, São Salvador, Norte de Angola. Livro duríssimo, a contingência militar entremeada com a opressão colonial explorando os paupérrimos agricultores do café, a vida martirizada nas sanzalas onde não se pode iludir que há simpatias com os movimento os de libertação.
Em 2017, temos uma versão reescrita que veio acentuar as duas narrativas paralelas entre tropa e colonos e tropa, colonos e colonizados. Esta nova versão é deliberadamente excessiva em tudo: muita gente gananciosa e torpe, muito ideal revolucionário, a tal ponto que podemos encarar esta nova versão como um manifesto anticolonial a pretexto de se situar inteiramente num palco de guerra, Calambata, onde o autor ganha contornos de um verdadeiro apóstolo amado pelo gentio.
Texto de inegável qualidade, e exigente na interpretação desses excessos que foi aquele mar de ruínas em que viveu João de Melo e que agora o reconta sob a forma de uma guerra sem sentido.

Um abraço do
Mário


Autópsia de um mar de ruínas, nova edição reescrita pelo autor (1)

Beja Santos

João de Melo
“Autópsia de um Mar de Ruínas”, por João de Melo, 9.ª edição reescrita pelo autor, Publicações Dom Quixote, 2017 tem por base uma das obras consagradas da literatura da guerra colonial, cuja 1.ª edição data de 1984. João de Melo explica o ponto de partida e a reformulação. Onde inicialmente pesava a narrativa da presença colonial em Calambata, perto de São Salvador, no Norte de Angola, um quartel erguido sobre um monte estratégico tendo duas aldeias africanas por baixo, agora as duas narrativas decorrem paralelamente: o que fazem os militares em contraponto com a vida quotidiana nas duas sanzalas, onde vivem pessoas de diferentes etnias e soldados que desertaram dos exércitos de libertação. Nesta reescrita, torna-se mais claro quais as duas razões sociais do que nas edições anteriores. Reescrever tem os seus custos, João de Melo, conscientemente ou não, alterou o cerne da obra, de um romance de guerra toda a trama ganha a dimensão de um retábulo barroco, não há roupagem que não se torne excessiva, ondulante, sujeita a leituras diferenciadas.

Logo aquele soldado no seu posto de sentinela em completa tensão e desorientação com os movimentos que pressente na mata, seguem-se fogachos, a tropa responde a um ataque fantasma:
“Dezenas de metralhadoras ligeiras, apontadas ao foco luminoso do Seixel, uniram-se às rajadas das quatro Bredas dos postos. Bocas de chamas em crepitação, das quais saíam, numa torrente, balas incendiárias que pareciam lançar para os céus de Calambata um estrondo de um vulcão em atividade”. Entra em cena um capitão medíocre e reles, de nome Marinho, oficiais e sargentos são pessoas pouco estimáveis, depois deste grotesco capitão surge o alferes Alexandrino que leva uma coça valente no escuro. Mas a figura do capitão é alvo de uma atenção implacável: “Ia na terceira comissão de serviço, depois de Moçambique e da Guiné. Envelhecera depressa de mais. Era-lhe difícil lembrar-se de quais eram, e como, as suas qualidades marginais. Deixara-se cair no cerne das maquinações de guerra”. O capitão também não aprecia o alferes Alexandrino: “Nunca gostara daquele bigodinho ralo e descaído sobre as pontas. Detestava a sua cabecinha adamada, a voz aflautada, o risinho tortuoso”.

Como se tece a narrativa em planos paralelos, estamos agora na sanzala, Romeu pontapeou o cão do senhor Valentim, autoridade colonial, vai ser sovado, brutalmente sovado. O soba Mussunda não reage, a sua autoridade é simbólica, sabe que não manda na sanzala, vive sob a ordem dos brancos. Num rasgo de dignidade pede ao polícia Valentim para parar, o agente colonial fica enraivecido, o chicote vira-se contra o soba: “Vibra o primeiro golpe no pescoço de Mussunda, que abre muitos olhos atónitos, ante a violência da agressão. Mais cego ainda, o golpe seguinte atinge-o em pleno rosto. O branco não está pelos ajustes. Assenta-lhe um punho na boca, estende-lhe uma joelhada por baixo, nos órgãos sensíveis dos machos”. Está esclarecida a correlação de forças, é a vez de a tropa transpor os velhos perigos do mato, uma coluna põe-se em movimento.

E João de Melo mostra os beneficiários da guerra, gente do quadro permanente e colonos, em pinceladas brutais:
“Tinham vindo ali parar trazidos pela mãozinha rufiona do dever patriótico dos outros, dos outros que serviam a pátria à sombra das cidades e dos seus palmares junto ao mar; dos outros que ganhavam o dinheiro com a guerra, dormiam, tranquilos e saciados, com um braço por cima do corpo amado das mulheres; dos outros que planeavam surdamente a morte à distância e criam mais e mais e sempre mais das tropas: armas apreendidas, mortos e feridos em combate, prisioneiros de guerra para interrogar sob tortura da fome e da sede, muita pancadaria, mutilações e mortes anunciadas. Havia-os de todos os aspectos próximos e distantes, desde generais velhos, atormentados pelo reumatismo, que usavam faixas cor de quaresma sobre as fardas de gala e traziam os dedos sáurios em louvados de negro, não possuindo mais nada de seu: nem o cabelo, nem o bigode com que lambiam a hierarquia dos poderes militares, de baixo para cima. Havia sargentos excedentários nos depósitos e arrecadações de víveres, outros à sombra dos paióis e das secretarias, outros de quem se dizia serem de uma palidez assustada, de uma fealdade fria, com o mistério profissional que a toda a gente lembrava negócios secretos, expedientes turvos, favores, homossexualidades reprimidas. Havia cabos gorduchos, de fardas muito coçadas pelo uso, com uns olhos alcoólicos e muito propósito de estragar a vida dos inferiores – campónios pouco mais do que analfabetos que pela mesma via das comissões sucessivas de serviço no ultramar reclamavam a promoção a sargentos. A outra realidade da guerra começava na figura dos colonos, donos de tabernas, mercearias e lojas de roupa, alguns dos quais, ao serem desmobilizados, acabavam por ficar em África, cafrealizados em pleno mato. Outros perdiam-se por outros caminhos, no tráfico dos homens contratados para irem trabalhar como escravos nas roças e fazendas, nos negócios do café e do algodão, nos comércios e contrabandos das cidades”.

Mas João de Melo tece considerações ainda mais punitivas:  
“Colonos de ontem e de hoje. Antes, usavam caçadeira e chicotes sangrentos nas costas nuas dos negros. Agora, dão o braço aos funcionários da Administração, aos polícias à paisana, ao regedor e ao pároco”. Parte a coluna e entra em cena João de Melo com o nome de furriel Gouveia, o enfermeiro, é um apóstolo estimado por todo aquele gentio: “As 750 pessoas de Calambata, entre militares e civis, ficavam entregues ao expediente, à intuição clínica e ao honesto estudo de Gouveia, um rapaz que sofria de insónias e não dava nada por aquela guerra nem por outra qualquer. A esperança do furriel estava toda posta nas crianças desprotegidas de Calambata, nos partos improvisados, no olhar de lodo e de pura bondade das velhas senhoras, que se sentavam à porta das suas cubatas, na tensão arterial, no pulso agónico dos anciãos, nos assobios de asma que se lhes soltavam dos pulmões para os seus ouvidos. Vacinava os meninos contra a cólera, a difteria, o sarampo, a Varíola e a tuberculose”. Parece que este furriel Gouveia precisa de ser vigiado, jamais o leitor merecerá a explicação sobre o seu passado antifascista ou os seus credos anticoloniais.

E temos a apresentação das crianças que vêm até ao quartel à espera das sobras do rancho:  
“Os pobres infelizes meninos atacaram em bando os caixotes do lixo rasparam com as mãos o arroz encaroçado no fundo dos tachos e panelas, serviram-se de gravetos para remover as bolas de cimento do esparguete e as cabeças do peixe. Com as mãos a servirem de conchas, foram pondo para dentro das latas enferrujadas, com uma pressa de predadores, porções de sopa, pedaços de pão ensopado no caldo, os ossos mal raspados ou ruídos que levaram para os irmãos mais novos e mais velhos, para mamã doente, para vavó com fastio de morrer em breve”.

E a trama romanesca volta a centrar-se nas sanzalas de Calambata.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20672: Notas de leitura (1266): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (46) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20680: Fotos à procura de... uma legenda (125): restos da vida de um combatente, capitão de infantaria, provável comandante de uma Companhia de Caçadores, CTIG, 1970/72... (Carlos Mota Ribeiro, Maia)


Quem será este camarada nosso, capitão de infantaria, provável comandante de uma companhia de caçadores, Guiné  1970/72? Desconhece-se a sua identidade e o nº da companhia... Foi galardoado, com uma cruz de guerra... A cerimónia em que ele foi condecorado terá sido num dos últimos 10 de junho, da década de 1970, antes do 25 de Abril de 1974... E, já agora, em que unidade militar da metrópole?

 Cruz de Guerra


Medalha das Campanhas de África... Na passadeira lê-se: Guiné de 1970-1972"

Duas condecorações e uma foto que tudo indica terem pertencido  a um  capitão de infantaria (, e comandante de uma companhia de caçadores), que terá estado no TO da Guiné entre 1970 e 1972.

Fotos (e legendas): © Carlos Mota Ribeiro (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Carlos Mota Ribeiro
1. Mensagem do  Carlos Mota Ribeiro, engenheiro, residente na Maia, filho do nosso querido amigo, camarada e coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro, e que finalmente eu vou propor como novo membro da Tabanca Grande (*)

Data: quinta, 20/02/2020 à(s) 18:28
Assunto: Foto de Capitão - Guiné 1970-1972

Caro Luís Graça:

Antes de mais espero que esteja tudo bem contigo.

Necessito da tua ajuda, se possível claro.

Comprei, num leilão, um conjunto de duas condecorações juntamente com uma fotografia, ambos encontram-se em anexo.

Supostamente é de um combatente que esteve na frente da Guiné em 1970 a 1972, segundo a fivela da medalha das campanhas.

No entanto não sei o nome do senhor. Pela fotografia é um Capitão de infantaria (Caçadores).
Consegues-me ajudar a identificar o combatente em questão?

Envio também o correio para o meu pai (Magalhães Ribeiro) para ver se ele também conhece.

Grande e Forte Abraço.,
Atentamente.

Carlos Mota Ribeiro


2.  Comentário do editor Luís Graça:

Carlos: obrigado!... Mais uma tua "memorabilia" da Guiné com que nos honras... Fico sensibilizado pela tua "ternura" pelas memórias da Guiné, onde nunca estivestes, tanto quanto eu sei... Essa paixão pela Guiné, do tempo da guerra colonial, só pode ter sido passada pelo teu pai, nosso querido amigo, camarada "ranger" e coeditor do blogue, Eduardo Magalhães Ribeiro. Por estas e por outras, tu já merecias estar sentado, há muito, num lugar confortável, à sombr do nosso poilão. Se aceitares (, e o teu pai não se importar...), vou propor-te o lugar nº 805. Espero que aceites e que gostes... Como sabes, os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são... E nós ficamos orgulhosos de ti.

Submeti, entretanto, o teu pedido ao nosso camarada e colaborador permanente José Martins, para ver se ele nos pode ajudar... Ele é que sabe destas coisas... Aqui vai a mensagem que eu lhe reenviei para o seu "consultório militar";

"Zé: com o teu 'olho clínico',  o teu "perfil de Sherlock Holmes", e o teu vasto saber militar, vês se arranjas alguma pista... É uma cruz de guerra? E uma medalha comemorativas das campanhas de África? Onde terá sido a cerimónia de entrega das condecorações (observa o fundo, na foto do capitão)?... Terá sido nalgum 10 de junho? Trata-se de um quartel?... Há uma estátua e uma torre sineira... Mais difícil é identificar o capitão de infantaria (Guiné, 1970/72). De qualquer modo, a mim choca-lhe que estes "restos de vida" de camaradas nossos andem pelas Feira da Ladra, pela Feira da Vandoma, ou pelo OLX, vendidos por tuta e meia... Ainda bem, em todo o caso, foram parar âs mãos do filho de um camarada nosso que sabe dar valor a esta 'memorabilia'...

"Mando-te as imagens em separado... Abraço, Luis.

"PS - O Carlos Ribeiro, filho do Eduardo, deve te comprado 'estes restos da vida de um combatente', nosso camarada, na feira da Vandoma, Porto, ou  no OLX, ou coisa assim do género... Ele não especificou... Mas é um colecionador destes 'restos'  que o império teceu' "...

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20673: Fotos à procura de... uma legenda (118): o meu pai era um homem que cumpria a lei que proibia armas de guerra a civis... A tal pistola metralhadora FBP deve ter-lhe sido emprestada por alguém para a pose fotográfica (Lucinda Aranha, escritora)

Guiné 61/74 - P20679: Tabanca da Diáspora Lusófona (7): A história de mil anos de Portugal explicada numa hora à comunidade eslovena em Nova Iorque (João Crisóstomo) - Parte III


O nosso camarada e amigo  João Crisóstomo, luso-americano, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes...  Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun:

Conversa sobre Portugal: 19 de janeiro de 2020, Comunidade eslovena em Nova Iorque

por João Crisóstomo


[ O autor tinha preparado um guião original, já com cortes, para uma comversa de meia hora (*); como o tempo disponível acabou, entretanto,  por ser maior - cerca de uma hora - ele passou a ter liberdade  para introduzir notas e comentários extra;   a versão original está disponível em inglês, no final deste poste; o editor Luís Graça fez a tradução e adaptação livre para o blogue, com a devida autorização do autor](**)


(...) Logo, de Lisboa à Índia, China e Japão, os navios portugueses,  sob o comando de Afonso de Albuquerque,  haviam se tornado os donos dos mares. Com a conquista de Malaca, porta de entrada para todo o Extremo Oriente, Portugal teve o controle completo de toda a região. 


Embora sejam atribuídos aos ingleses os primeiros povoamentos da Austrália, há um crescente consenso entre os historiadores australianos de que os portugueses de Malaca foram os primeiros europeus que chegaram lá.




Japão > Arte nambam > Séc. XVII > Uma "carraca": obra atribuída a Kano Naizen, Kobe City Museum.
Fonte: Wikipedia (com a devida vénia...)

namban | s. m. pl.

namban
(palavra japonesa)

substantivo masculino plural

Palavra japonesa que significa bárbaros do Sul ou portugueses e geralmente empregada, nos séculos XVI e XVII, para designar obras num estilo inteiramente novo, de influência ocidental, quer na pintura, quer no baixo-relevo, de entre os quais se salientam os namban-byobu (= biombos dos bárbaros do Sul), que perpetuaram a chegada dos barcos portugueses ao Japão.

"namban", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/namban [consultado em 23-02-2020].

Os portugueses foram os primeiros ocidentais a chegar ao Japão, onde, entre outras coisas, mostraram e ensinaram  aos japoneses como construir em pedra, e introduziram a fabricação de armas de fogo que por sua vez levaria à unificação do Japão. Mais tarde, um grande número de colonos portugueses fundou e construiu a cidade de Nagasaki (P 146). 

Na China "os portugueses já conselheiros do imperador da China antes que Marco Polo alegasse ter chegado lá". (P.19) 


E, ao contrário de Hong Kong, que foi obtida pelos ingleses pela força, a cidade de Macau foi um presente dado aos Portugueses pelo imperador da China,  por terem, a seu pedido, corrido com os piratas que infestvan os mares da China. 


Como vocês se devem lembrar, Macau foi a última colónia de um país ocidental a ser restituída, e isso foi feito a pedido dos portugueses que tomaram a iniciativa, pois a China não mostrava nenhum interesse em recuperá-la.

Tudo isso parece muito difícil de entender, uma vez que Portugal tinha uma população de apenas 1,5 milhão de pessoas (em comparação com os 12 milhões de italianos, 6,0 na Espanha e 3,0 na Inglaterra); mesmo assim, Lisboa se tornou a nova capital mundial da riqueza no mundo ocidental, "a cidade mais fabulosamente rica da Europa "(p. 107/8).

Foi nesse momento da história, em 1494, que ocorreu o Tratado de Tordesilhas. O objetivo era resolver a confusão criada por Cristovão Colombo depois da descoberta  da América, que Colombo pensava ser a Índia. 


O Papa Alexandre VI criou então uma linha imaginária dividindo o mundo em duas  partes: quaisquer novas terras descobertas a leste desta linha passavam a ficar sob a posse de Portugal;  e as terras a oeste dessa linha seriam pertença da Espanha. No final do século XVI, Espanha e Portugal uniram-se [, a chamada monarquia dual: o último rei de Portugal [ da II dinastia, o cardeal dom Henrique, 1543-1580, tio-neto de Dom Sebastião,] morreu sem herdeiro e o "parente mais próximo" foi o rei da Espanha[, Filipe II, Filipe I de Portugal,III dinastia]. 


Os primeiros anos pareciam bons, mas logo essa união provou ser um desastre para Portugal. As colónias de Portugal,  agora sob o domínio espanhol,   ficaram sem proteção,  e sujeitas a ataques e invasões dos ingleses e holandeses, inimigos da Espanha.


 A maioria dos navios portugueses (embora sem suas tripulações originais, pois os espanhóis, por um bom motivo, não podiam confiar nos portugueses para combater os ingleses) foram integrados na gigantesca 'Armada invencível'  que atacou a Inglaterra e foi completamente destroçada. 



Os nobres portugueses começaram a perder poder à medida os cargos governamentais começaram a ser ocupados por espanhóis.

Quando os portugueses perceberam que o rei da Espanha pretendia fazer de Portugal apenas uma província   de Espanha, eles se revoltaram-se, expulsaram os representantes dos espanhóis,  e proclamaram um novo rei , [, Dom João IV, em 1 de dezembro de 1640].

Durante séculos, Portugal foi um refúgio para os judeus, a única nação europeia  que os não  perseguia. Em algumas partes do mundo, Portugal era até considerado um Estado judeu. Mas as coisas mudaram com a introdução da Inquisição na Espanha e logo a Inquisição foi introduzida em Portugal, forçando a maioria dos judeus a sair. O Império Otomano,  a Holanda e as cidades-estado italianas
 foram os principais locais de refúgio. Esses países beneficiaram dessa fuga. Portugal, por sua vez, perdeu muito com a partida dos judeus.


(Continua)(***)

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Bibliografia que consultei;

1. O livro de onde faço várias referências é o livro:” The First Global Village"- How Portugal changed the world , da autoria do escritor Inglês Martin Page, 12a edição. " Casa das Letras" ( comprei este aí em Portugal).

Outros livros que li e que “consultei" agora:

2. "Encompassing the World” Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries. Um daqueles livros grandes em todo o sentido, de se lhe "tirar o chapéu, pelo seu conteúdo fabuloso em todos os aspectos. Publicaçao da “Arthur M.Sacckler Gallery( da Smithsonian Institute em Washington)

3. Lisbon - War in the shadow of the city of light, 1939-1945 da autoria de Neil Lochery

4. The First World Sea Power—1139-1521; volume 1o. Autor: Saturnino Monteiro

5. 1494 How a Family Feud in Medieval Spain Divided the World in Half . Autor:Stephen R. Bown ( St Martins Press, New York)

6. 1808 (5a edição) Autor: Laurentino Gomes ( jornalista brasileiro). Editora Planeta. Brasil

7. Os Pioneiros Portugueses e a Pedra de Dighton, do Dr. Manuel Luciano da Silva

8. Magellan autor ; Stefan Zweig,( version française) par Alzir Hella; Bernard Grasset- Paris

Jornais e revistas:

1. “ Luso-Americano” uma série de artigos sobre esta exposição, da autoria do jornalista /escritor/editor principal do" Luso Americano" . Publicadas neste jornal de 27 de Abri29 de Junho de 2007.

2. New York Times, Friday, June 29 2007

3. Washington Post, June 24 2007 e July 20 2007

4. "Portuguese in the making of America” da autoria de James H.Gill

5. Military History, July/August 2006, artigo do historiador Michael D. Hull, capa e artigo (páginas 24 a 31).

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Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores:


(**) Primeira versão do texto, em inglês:

January 19, 2020; Slovenian community :Talk on Portugal…
 

(...) Soon, from Lisbon to India, China and Japan the Portuguese ships under Afonso de Albuquerque had become the masters of the seas. With the conquest of Malaca, gateway to all the Far East, Portugal had complete control of the whole region.

Though it is attributed to the English the first settlements in Australia, "there is a growing consensus among Australian Historians that it were Portuguese from Malaca the first Europeans who arrived there".

The Portuguese were the first westerners to reach Japan where among other things they showed and taught the Japanese how to build in stone, and introduced the manufacturing of guns which in turn would lead to the unification of Japan. Latter on Portuguese settlers in large numbers founded and built the city of Nagasaki (P 146).

In China "Portuguese were advisors to the Emperor of China before Marco Polo claimed to have reached there." (P.19)

And, unlike Hong Kong, which was claimed by the English by force, the city of Macau was a gift to the Portuguese by the Emperor of China for having at his request, get rid of the Pirates who plagued the China Seas. As you will remember Macau was the last official Western colony to be given back, and it was done so at the request of the Portuguese who took the initiative, as China was not showing any interest in getting it back.

All this seems almost difficult to grasp as Portugal at this time had a population of only 1.5 million people, ( comparing with Italy's 12 million, 6.0 in Spain and 3.0 in England; Even so, Lisbon became the western world new capital of wealth, "the most fabulously rich city in Europe"( P. 107/8).

It was at this moment in history, 1494, that took place the Treaty of Tordesilhas. It was meant to solve the confusion created by Cristovão Colombo after he discovered America, which Colombo thought to be India. Pope Alexander VI created an imaginary line dividing the world in two, and awarded any new lands discovered to the east of this line to Portugal and lands to the west of this line to Spain.

By the end of the 16th century Spain and Portugal became united: the king of Portugal died with no heir and the "next of kin" was the king of Spain. The first years seemed OK but soon this union proved to be a disaster for Portugal.

Portugal colonies who had became under Spanish rule lost any protection when these were subject to invasions by the English and the Dutch, enemies of Spain. Most of the Portuguese ships ( without its original crews though , for the Spanish with good reason could not trust the Portuguese to fight the English) were included in the vast 'invincible Armada" which attacked England and was completely destroyed.

The Portuguese noblemen started to lose power as government posts started to be filled by Spaniards. So when the Portuguese realized that the King of Spain was intended on making Portugal just a royal province of Spain they revolted, threw out the Spanish king's representatives and proclaimed a new King.

For centuries Portugal was an haven, the only European nation not to persecute Jews. In some parts of the world Portugal was even considered to be a Jewish State. But things changed with the introduction of the Inquisition in Spain and soon the Inquisition was introduced in Portugal, forcing most of the Jews to leave. Turkey, Rome and Holland were the main places of refuge which benefitted from this escape from Portugal who in turn lost much with their departure.

(To be followed)

(***) Último poste da série: 

18 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20664: Tabanca da Diáspora Lusófona (6): Alô, Alô, Luiz Farinha, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil!!!... Daqui, João Crisóstomo, Nova Iorque, USA...

Guiné 61/74 - P20678: Parabéns a você (1761): António Cunha, ex-1.º Cabo da CCAÇ 763 (Guiné 1965/66) e Manuel Henrique Q. Pinho, ex-Marinheiro Radiotelegrafista das LDMs 301 e 107 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20675: Parabéns a você (1760): José Carlos Pimentel, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2401 (Guiné, 1968/70); José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689 (Guiné, 1967/69) e José Maria Claro, ex-Soldado Radiotelegrafista (DFA) da CCAÇ 2464 (Guiné, 1969)

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20677: Blogues da nossa blogosfera (123): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (38): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

TU VENS

ADÃO CRUZ


© ADÃO CRUZ


Tu vens
eu acredito que vens
neste céu de cabelos soltos e seios ao vento
nesta fome de corpo e pensamento.
Tu vens
eu sei que vens
é hora de vires
nesta vespertina voragem de felicidade
neste céu da cor da angústia.
Tu vens construir a Primavera
em teu vestido branco de espuma
dominar meu indómito cabelo
com jogos simples dos teus dedos.
Eu quero acreditar que tu vens
pegar docemente nas minhas mãos cegas
e delas fazer uma flor de acácia
com que amacias os lábios
e abres o cofre dos teus seios de fogo.
Tu vens
eu sei
por isso sou feliz no meu silêncio
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20657: Blogues da nossa blogosfera (121): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (37): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P20676: Blogpoesia (661): "Outra forma de amar...", "O sol a pino" e "As duas faces...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


Outra forma de amar...

É fugaz o amor físico
Entre um homem e uma mulher.
Mais curto que a vida duma borboleta,
Cheia de cores.

Por mais que aqueça...
Por mais que se incendeie a chama,
Depressa se apaga.
Lamparina terna,
Que se esvai de luz.

Não está só no corpo,
Pesado ou leve,
Vestido ou nu.

É na alma que permanece
Em chama,
Que nenhum vento,
Nenhum inverno,
Jamais consome
Ou apaga.

Sua chaminé
São os nossos olhos.
Com a mesma cor
E o mesmo brilho,
À sombra ou sol!...

Berlim, 20 de Fevereiro de 2014
9h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes

********************

O sol a pino

Venho duma terra distante.
Onde o sol voa rasteiro
Seu brilho desmaia ao nascer
E a vida não dá para aquecer.

Minha terra é no sul.
Onde jorra luz e calor.
Saúda quem vem e quem vai.
Abraça quem fica por bem.
Não quer ninguém a chorar.

Quem dá valor ao que tem
Sabe como o destino arrasta.
Longe, não fica bem a ninguém.
Dói a quem vem e quem parte.

Para todos brilha lá em cima.
Nem todos o vêem a pino.

Mafra, 19 de Fevereiro de 2020
13h45m
Jlmg

********************

As duas faces...

A despedida tem duas faces.
Uma brilhante e sedutora.
Nos arrasta para a frente...
Puxa para donde viemos,
Há tanto tempo.
Onde estão nossas raízes.
Aqueles clarões de vida
Que se acenderam,
À nossa nascença.

Aqueles campos.
Aqueles montes.
Aqueles vales,
Onde correm os nossos sonhos.

Outra, mais escura,
Virada para trás.
Faz-nos doer.
Cada passo em frente.
Soma a distância...
Faz-nos sofrer.

E é assim que a vida corre.
Uma vez o dia,
Outra vez a noite.
E nós cá vamos
Neste baloiço.
Como canecos duma nora em marcha.
Ora se enchem...
Ora despejam...
Para regar os campos.

Vêm as verduras.
Chegam as flores.
Depois os frutos,
Depois a colheita...
O que é preciso
É o sol sempre a nascer.

A alegria renasce.
Nos banha de paz.
E a vida corre em veloz correr...
Oxalá feliz,
Desde o nascer!...

Ouvindo Brendan Perry
Berlim, 19 de Fevereiro de 2014
22h34m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20656: Blogpoesia (660): "Rondo meu eu...", "Transparências mágicas..." e "A pente fino...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728