Mostrar mensagens com a etiqueta Artes. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Artes. Mostrar todas as mensagens

sábado, 3 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22338: Os nossos seres, saberes e lazeres (458): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (5): A doação de José-Augusto França à cidade de Tomar (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Maio de 2021:

Queridos amigos,
Por diversas vezes, José-Augusto França descreveu a doação que fez a Tomar, mormente nas suas Memórias para o Ano 2000 e subsequentes. É um acervo da maior importância que abarca alguns desenhos, como os de Almada, Bernardo Marques, Mario Eloy, António Pedro, Dacosta e Vespeira, obras de grande significado do surrealismo, do abstracionismo e da não-figuração, tudo se espraia por uma moradia de rés-do-chão e dois andares e em qualquer um destes espaços se frui o que de relevante artistas como Costa Pinheiro, José Escada, Lourdes Castro, Manuel Baptista, Noronha da Costa, Cutileiro, Júlio Resende, Fernando Lanhas, Emília Nadal, Alice Jorge ou Luís Dourdil, entre tanto outros, inscreveram do que há de mais significativo nas Artes Plásticas Portuguesas. Não há nada como visitar este Núcleo (sempre no horário da tarde), a documentação produzida é muito esclarecedora, sugere-se uma primeira visita para tomar conhecimento, depois um passeio pelo Mouchão ou pela Corredoura até à Praça da República, visitando a Igreja de São João Baptista, e novo regresso ao acervo doado por José-Augusto França para degustar com mais pormenor as obras que mais toquem à sua sensibilidade - estão ali manifestações das mais expressivas de quase todo o século XX.

Um abraço do
Mário


A doação de José-Augusto França à cidade de Tomar (1)

Mário Beja Santos

O Núcleo de Arte Contemporânea José-Augusto França está instalado num prédio adaptado para o efeito com projeto do arquiteto Jorge Mascarenhas, integra uma centena de obras de arte da coleção do escritor e historiador que nasceu em Tomar em 1922. A inauguração efetuou-se em 2004 e proporciona a quem visita tão bela coleção momentos de fruição ímpares devido à qualidade das obras e até mesmo a coerência do gosto de quem a doou. José-Augusto França cedo se começou a relacionar com artistas plásticos e a fazer crítica, que se prolongou sobretudo entre os anos 1940 e 1970. Foi galerista e a sua bibliografia é impressionante.

Nesse mesmo ano de 2004 ele avançou algumas razões para esta doação:
“… de ordem moral uma, sentimental, a outra. Ao termo de sessenta anos de vida útil (dir-se-ia de carreira, mas detesto tal coisa), entendeu o doador arrumar o que neles foi acumulando, pinturas e outros objetos de arte, livros e manuscritos, o que seria, mas ainda não é, o seu espólio, distribuindo-os por sítios apropriados de cultura, os quadros para museus (e foram, principalmente, o do Chiado, e este de Tomar, consoante adequação histórica das espécies), os livros para várias bibliotecas, entre as quais a de Tomar, a da Fundação Gulbenkian (que guarda, desde 1992, o total da bibliografia ativa, em volumes singulares e coletivos, folhetos, catálogos e publicações periódicas do que se fez nessa altura, exposição e catálogo de 3400 números e ainda arquivos de doutoramentos no Departamento de História de Arte da Universidade Nova de Lisboa e da Cinemateca Nacional. A moral da história está em se acrescentar assim a utilidade que a vida do doador, isto é, a minha, possa ter tido, mostrando em permanência o que ele tinha guardado para uso próprio, gozo com certeza, mas também, e indispensavelmente, instrumentação do seu trabalho – uma coisa e outra no seu quotidiano de 60 anos”.

E José-Augusto França refere-se concretamente à razão de ordem moral e à vertente social, invoca a descentralização cultural, a razão sentimental de ter nascido na então Travessa da Saboaria, no segundo andar, no primeiro andar vivia a avó materna viúva. Despede-se das suas obras com enorme saudade e questiona o que se pode ver para fruição do visitante desta belíssima coleção que doou a Tomar:
“Não sei ainda exatamente quantos quadros, desenhos ou esculturas, mais de cem, podem ser mostrados ao mesmo tempo, obras de mais de 50 artistas portugueses. Não é aqui de mencionar obras de catálogo que algumas, sem propositada hierarquia, destaco em 20 reproduções. Porém, sim: e o doador deseja assinalar dois quadros que doou, e diz porquê. ‘Signos desmemoriados, momentos IX, de Fernando Lemos, pintado em 1972, durante 30 anos foi a primeira imagem que vi ao acordar, na minha casa de Lisboa, pendurado ao fundo do quarto, onde só outros ficaram, por serem estrangeiros. A grande pintura em duas tábuas, de Noronha da Costa, sem título, de cerca de 1970, é outra obra que, partindo, me deixa um grande vazio, de parede e de alma, porque durante os mesmos 30 anos, me sentei, todas as noites, com ela atrás de mim, sombra protetora – escrevi, muito tendo escrito sobre os dois pintores, meus amigos de duas gerações já”.
Noronha da Costa
A árvore azul, de José de Guimarães e um belo painel azulejar de Eduardo Nery recebem o visitante à entrada do Núcleo de Arte Contemporânea
Um desenho de Almada Negreiros, o inequívoco traço do grande mestre do Modernismo
No rés-do-chão do Núcleo proliferam obras muito importantes do surrealismo, do abstracionismo e da nova figuração. Ali se podem ver desenhos de Almada, Bernardo Marques, Mário Eloy, António Pedro, Vespeira e Fernando de Azevedo. A pintura surrealista da “Terceira Geração” do Modernismo nacional, está representada por Fernando Azevedo, Moniz Pereira e Fernando Lemos. Ao fundo da sala uma pintura de Vasco Costa. Uma escultura de papel recortado de José de Guimarães e duas esculturas de António Pedro preenchem o conteúdo deste piso.
António Pedro, provavelmente o seu melhor desenho
Escultura de António Pedro
Óleo de Marcelino Vespeira
Óleo de Marcelino Vespeira
Escada de acesso ao primeiro andar, como igualmente a de acesso ao segundo andar, o visitante encontrará séries de litografias de Costa Pinheiro, José de Guimarães, René Bertholo, além de uma série de azulejos originais realizados por J. Machado da Costa
Obras de José de Guimarães
____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22318: Os nossos seres, saberes e lazeres (457): As Necessidades, a olhar o Palácio e a percorrer em júbilo a Tapada (Mário Beja Santos)

sábado, 19 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22297: Os nossos seres, saberes e lazeres (456): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (3): De visita obrigatória: exposição Representações do Povo, Museu do Neo-Realismo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Maio de 2021:

Queridos amigos,
Trata-se de um acontecimento cultural relevante, um conteúdo organizado num espaço onde os núcleos dialogam ora entre si ora exprimem a diferença das épocas e o peso das respetivas mentalidades. Mas todas elas representações do mesmo povo, o que foge do invasor francês e come a sopa em Arroios, então à entrada da cidade, o estereotipado Zé Povinho, umas vezes sujeito à canga, outras vezes veemente no seu manguito para quem dele usa e abusa; e atravessamos os campos da Reforma Agrária, o mundo piscatório de Matosinhos, a dolorosa aprendizagem dos jovens vidreiros da Marinha Grande até chegarmos à mulher transmontana, de vigorosa sabedoria. A exposição intitula-se Representações do Povo, a sua coordenadora é Raquel Henriques da Silva, nome indispensável da historiografia de arte, e diretora científica do Museu do Neo-Realismo. Está patente até abril do próximo ano, é excecional, recomenda-se que não se perca estas representações do povo, numa apresentação original e credoras de um catálogo de imperdível leitura.

Abraço do
Mário


De visita obrigatória: exposição Representações do Povo, Museu do Neo-Realismo

Mário Beja Santos

É irrefutável que o povo só passa a ser uma presença obrigatória na obra de arte depois do Século das Luzes, aufere os seus galões nos movimentos revolucionários, a industrialização, os movimentos estéticos realistas e as ideias socialistas deram razão de ser às representações do povo, designadamente na pintura, na fotografia, no desenho (na literatura seguirá os seus rumos, bem distintos). A exposição Representações do Povo, coordenada por Raquel Henriques da Silva, que permanecerá no Museu do Neorrealismo até abril de 2022, é um acontecimento cultural pelas abordagens apresentadas, o desafio à resposta O que é o povo?. Escolheram-se obras concretas, algumas de extraordinário valor, mas o aliciante da organização do espaço expositivo é o diálogo entre essas mesmas representações onde cabem uma gravura de Domingos António Sequeira, A Sopa dos Pobres em Arroios, um tributo ao macerado povo alentejano, um quadro a óleo de Jorge Pinheiro que nos leva ao assassinato de dois cooperantes alentejanos no ciclo final da Reforma Agrária, intervém o génio de Rafael Bordalo Pinheiro com um ícone que jamais saiu de cena, o Zé Povinho, com o seu manguito e a sua albarda; e vamos a Matosinhos, onde Augusto Gomes nos revela os pescadores da sua terra natal na sua impressionante qualidade, tema popular que se confronta com outro, o povo dos vidreiros da Marinha Grande, da autoria de Teresa Arriaga; e assim chegamos ao último núcleo, da autoria de Graça Morais que nos apresenta as mulheres de Vieiro, aldeia transmontana onde nasceu. Como escreve Raquel Henriques da Silva na introdução do magnífico catálogo que o visitante não deve dispensar: “O nosso objetivo foi dar continuidade à linha expositiva do Museu do Neo-Realismo que valoriza os contextos sociais, políticos e culturais da produção artística. Trata-se de um repto estimulante, pouco praticado nos museus de arte que, ao longo do século XX, foram afirmando uma expografia centrada na capacidade falante do objeto artístico e da sua autonomia em relação aos contextos produtivos. Há casos em que assim é, mas há muitos outros, como acontece com os autores aqui expostos, que na totalidade das suas obras, ou em parte delas, assumem, como motivação, a narrativa da História (…) O povo destes artistas é a representação dos fundamentos de uma nação (…) O que muitos artistas têm feito, em ciclos longos e muito diversificados, é representar essa humanidade menorizada, dando-lhes uma simbólica aura, pressentindo que ela é o fundamento de uma cultura regida por ritmos antiquíssimos, talvez mais afins da biologia do que de frágeis conceitos de História”. Assim nasceu o desafio de pôr o século XIX em franco diálogo com o século XX, o povo no palco da História. E o desafio do projeto triunfou, a exposição é magnífica, vamos visitá-la.
Sugere-se ao visitante que comece por contemplar no bar os azulejos de Querubim Lapa, datam da inauguração do museu, 2007, ali estão vibrantes, geométricos e buliçosos, melhor acicate ou tónico para entrar no museu duvida-se que pudesse haver.
Para quê estar a apregoar a ousadia de linhas de Alcino Soutinho? A disposição das formas garante a leveza, luminosidade, apetece subir e descer e descobrir ângulos recônditos, há para ali uma escadaria flutuante que faz medrar ilusões óticas pelas subtis combinações matéricas, e tal leveza – deverá ter sido esse o móbil do arquiteto – põe todo este interior museológico a conversar entre paredes e estimular o visitante a subir e descer, sem pressa nenhuma, pois as obras de arte que visita estão transfiguradas pela obra de arte que as encerra. E ponto final.
Tudo aconteceu em 27 de setembro de 1979, António Maria do Pomar Casquinha, 17 anos, e João Geraldo “Caravela”, 57 anos, foram mortos pela GNR, na Herdade do Vale do Nobre, perto de Montemor-O-Novo, durante uma devolução de terras ao seu proprietário. Houve quem fotografasse na hora própria, há obras de arte alusivas, mas este impressionante quadro de Jorge Pinheiro intitulado Ao Povo Alentejano catapulta-nos para os valores simbólicos, usados com uma simplicidade que atrai quem contempla a obra de arte: as papoilas e as espigas convocam o pão; quem está morto e quase transfigurado em todo aquele planejamento que se assemelha a um sudário evoca a indignidade de quem morreu e queria ganhar a vida com o suor do seu rosto, é como se uma força revolucionária dali emanasse para abalar a consciência.
Sopa dos Pobres em Arroios (Domingos Sequeira)

Bendito aquele que na organização das exposições se lembrou de aqui trazer uma das mais impressionantes gravuras que se fizeram em Portugal, a Sopa dos Pobres em Arroios, é preciso recorrer aos estudiosos para se saber que estamos em plena Praça do Chile, lá para cima se vai pela Almirante reis até ao Areeiro e em frente está um convento, hoje um escombro que parece destinados a um futuro hotel de luxo. O espetador é atraído por essa torrente humana constituída por milhares de refugiados da Beira e da Estremadura que fogem das tropas de Napoleão, neste caso comandadas pelo marechal André Masséna, estamos em 1810. Domingos Sequeira foi sublime no esquema cenográfico, desloca para primeiro plano o drama humanitário que se desenrola na calçada, deixa os militares a meio, obriga-nos a olhar uma encruzilhada de caminhos que têm o condão de alavancar a animação de tudo quanto se representa. Escreve-se no catálogo: “Em primeiro plano, várias figuras, sobretudo mulheres cobertas com xailes e lenços, comem a sopa em pé, junto de mulas sobrecarregadas com os volumes dos haveres que os camponeses conseguiram trazer de casa. Mas o destaque vai para o numeroso grupo de jovens mulheres que dão de comer ou acompanham bebés e crianças, sorvendo alguns a sopa das málagas. A ausência masculina só reforça a ideia de um país em guerra”. Que tal darmos um elucidativo texto sobre esta topografia, e o autor alude a algo que eventualmente nos possa escapar: Sequeira terá querido veicular uma mensagem que pretendia universal. O povo que Sequeira apresenta nesta gravura não representaria somente uma comunidade nacional e numa leitura atual se pode dizer que o episódio retratado pode ser visto como um exemplo de defesa dos direitos humanos.
O mais genial artista do século XIX fez aparecer o Zé Povinho em 1875. “Veste um traje rústico e remendado, usa barba à passa-piolho e apresenta um riso alvar, ingénuo. É de salientar a escolha do seu nome, composto por dois diminutivos, a partir de José, nome próprio comum em Portugal, e de Povo, identificado com a Nação, mas reduzido ao seu estrato mais baixo e de espetro alargado. Que não sendo ninguém em particular é toda a gente”. O visitante vai encontrar no precioso catálogo ou elementos necessários para conhecer a história desta figura e como ela mantém uma popularidade que nenhuma outra iconografia de representação do povo consegue superar, nos dias de hoje.
Alguém fala das representações destes vidreiros da Marinha Grande, saídos do punho de Teresa Arriaga como sudários do vidro. Esta artista comunista foi professora na Marinha Grande, na escola industrial. Vale a pena ler o documento, conhecer o trabalho do vidro e chegarmos à compreensão e ao testemunho destes jovens vidreiros. “Os aprendizes entravam na fábrica ainda meninos. As tarefas que desempenhavam variavam consoante a tipologia de produção, abrangendo o fechamento e abertura dos moldes, o transporte das peças para as arcas de tempero, galerias normalmente contíguas aos fornos, onde arrefeciam lentamente, a limpeza do espaço de trabalho, dos moldes e dos utensílios”. Chegam a ser pungentes os depoimentos que o catálogo recolhe e este quadro que aqui vemos tem a ver com a obragem. “O trabalho decorre num estrado que organiza o espaço pictórico em diagonal, estruturando a tela de grandes dimensões e disposta ao alto. Os cinco operários movimentam-se neste corredor estreito e enegrecido, exclusivamente iluminado pelas duas bocas de forno, pelas duas peras de vidro incandescente e pela peça que o oficial tem em acabamento. É uma composição centrada na operação que se desenrola e não nas personagens. Nenhuma delas foi individualizada. Teresa não reintroduziu na tela os retratos que tão intensamente desenhara sete anos antes”. E o visitante tem à sua disposição não só esse rol de desenhos como outros retratos.
Numa entrevista a Maria Antónia Palla disse Augusto Gomes: “Muitas vezes se afirma que sou um neorrealista. Eu diria que a minha pintura é populista. Na verdade, não pretendia fazer uma arte de luta. Pintava temas populares por gosto, porque me sinto próximo dessas figuras". O artista teve a sua vida sempre ligada a Matosinhos, o Litoral está sempre permanente nas suas obras de arte, convoca o mundo da pesca, recorde-se que Matosinhos foi durante a primeira metade do século XX um dos principais portos piscatórios portugueses e mundiais. É impressionante este quadro intitulado Família de Pescadores. “É uma pintura com gente triste, mas não é exatamente uma pintura sentimental, há nela uma combinação entre desânimo e solenidade”. Podemos situar este quadro nos finais dos anos 40, foi uma encomenda da Junta de Freguesia de Matosinhos, após um acontecimento trágico, um naufrágio que ocorreu em 2 de dezembro de 1947, em que morreram 152 pescadores e 4 traineiras. Augusto Gomes dizia-se atraído pela pintura clássica e há de facto um aspeto de sagrada família neste grupo e apresentado como uma estrutura do tipo piramidal: a representação da mãe e do filho, há ali uma evocação de uma Virgem com o Menino, não se pode ignorar uma certa influência da pintura italiana do século XV. Contempla-se, e fica-se esmagado pela força da representação.
Graça Morais representa mulheres transmontanas, sabemo-las que são camponesas com variadas lides, as domésticas e as da terra, a própria artista tece comentários como estes: “Têm o poder da maternidade, um poder fortíssimo. E os homens sabem disso, sabem que as mulheres têm sempre uma grande ligação com os filhos”. O que aqui vemos é algo que se prende ao processo de envelhecimento e da acumulação de saberes, elas aparecem aqui representadas como uma força motriz ancestral que trabalha, garantindo a vitalidade da terra e do ser humano, é obrigatório ler o que se escreve sobre estas Marias transmontanas, que Graça Morais imortalizou.
Convém não sair do edifício desenhado por Alcino Soutinho sem visitar a exposição dedicada a Júlio Pomar e à sua obra gráfica. Trata-se de uma coleção privada onde ganha realce a obra em gravura do grande artista, nas décadas de 1950 e 1960, veja-se o potencial revolucionário do almoço do trolha, da fase puramente neorrealista de Pomar, mas o visitante tem outros núcleos à espera, intitulados Tigres, Índios da Amazónia, Retratos Míticos, Animália, Mitologias, Figuras do Povo, Tauromaquias, Eróticas. Uma excelente oportunidade para conhecer esta obra gráfica de um dos mais significativos artistas portugueses da segunda metade do século XX que foi pioneiro do neorrealismo pictórico.
____________

Nota do editor
Último poste da série de 12 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22276: Os nossos seres, saberes e lazeres (455): Na Sertã, no dia em que aqui recebi a primeira dose da vacina (2) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20679: Tabanca da Diáspora Lusófona (7): A história de mil anos de Portugal explicada numa hora à comunidade eslovena em Nova Iorque (João Crisóstomo) - Parte III


O nosso camarada e amigo  João Crisóstomo, luso-americano, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes...  Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun:

Conversa sobre Portugal: 19 de janeiro de 2020, Comunidade eslovena em Nova Iorque

por João Crisóstomo


[ O autor tinha preparado um guião original, já com cortes, para uma comversa de meia hora (*); como o tempo disponível acabou, entretanto,  por ser maior - cerca de uma hora - ele passou a ter liberdade  para introduzir notas e comentários extra;   a versão original está disponível em inglês, no final deste poste; o editor Luís Graça fez a tradução e adaptação livre para o blogue, com a devida autorização do autor](**)


(...) Logo, de Lisboa à Índia, China e Japão, os navios portugueses,  sob o comando de Afonso de Albuquerque,  haviam se tornado os donos dos mares. Com a conquista de Malaca, porta de entrada para todo o Extremo Oriente, Portugal teve o controle completo de toda a região. 


Embora sejam atribuídos aos ingleses os primeiros povoamentos da Austrália, há um crescente consenso entre os historiadores australianos de que os portugueses de Malaca foram os primeiros europeus que chegaram lá.




Japão > Arte nambam > Séc. XVII > Uma "carraca": obra atribuída a Kano Naizen, Kobe City Museum.
Fonte: Wikipedia (com a devida vénia...)

namban | s. m. pl.

namban
(palavra japonesa)

substantivo masculino plural

Palavra japonesa que significa bárbaros do Sul ou portugueses e geralmente empregada, nos séculos XVI e XVII, para designar obras num estilo inteiramente novo, de influência ocidental, quer na pintura, quer no baixo-relevo, de entre os quais se salientam os namban-byobu (= biombos dos bárbaros do Sul), que perpetuaram a chegada dos barcos portugueses ao Japão.

"namban", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/namban [consultado em 23-02-2020].

Os portugueses foram os primeiros ocidentais a chegar ao Japão, onde, entre outras coisas, mostraram e ensinaram  aos japoneses como construir em pedra, e introduziram a fabricação de armas de fogo que por sua vez levaria à unificação do Japão. Mais tarde, um grande número de colonos portugueses fundou e construiu a cidade de Nagasaki (P 146). 

Na China "os portugueses já conselheiros do imperador da China antes que Marco Polo alegasse ter chegado lá". (P.19) 


E, ao contrário de Hong Kong, que foi obtida pelos ingleses pela força, a cidade de Macau foi um presente dado aos Portugueses pelo imperador da China,  por terem, a seu pedido, corrido com os piratas que infestvan os mares da China. 


Como vocês se devem lembrar, Macau foi a última colónia de um país ocidental a ser restituída, e isso foi feito a pedido dos portugueses que tomaram a iniciativa, pois a China não mostrava nenhum interesse em recuperá-la.

Tudo isso parece muito difícil de entender, uma vez que Portugal tinha uma população de apenas 1,5 milhão de pessoas (em comparação com os 12 milhões de italianos, 6,0 na Espanha e 3,0 na Inglaterra); mesmo assim, Lisboa se tornou a nova capital mundial da riqueza no mundo ocidental, "a cidade mais fabulosamente rica da Europa "(p. 107/8).

Foi nesse momento da história, em 1494, que ocorreu o Tratado de Tordesilhas. O objetivo era resolver a confusão criada por Cristovão Colombo depois da descoberta  da América, que Colombo pensava ser a Índia. 


O Papa Alexandre VI criou então uma linha imaginária dividindo o mundo em duas  partes: quaisquer novas terras descobertas a leste desta linha passavam a ficar sob a posse de Portugal;  e as terras a oeste dessa linha seriam pertença da Espanha. No final do século XVI, Espanha e Portugal uniram-se [, a chamada monarquia dual: o último rei de Portugal [ da II dinastia, o cardeal dom Henrique, 1543-1580, tio-neto de Dom Sebastião,] morreu sem herdeiro e o "parente mais próximo" foi o rei da Espanha[, Filipe II, Filipe I de Portugal,III dinastia]. 


Os primeiros anos pareciam bons, mas logo essa união provou ser um desastre para Portugal. As colónias de Portugal,  agora sob o domínio espanhol,   ficaram sem proteção,  e sujeitas a ataques e invasões dos ingleses e holandeses, inimigos da Espanha.


 A maioria dos navios portugueses (embora sem suas tripulações originais, pois os espanhóis, por um bom motivo, não podiam confiar nos portugueses para combater os ingleses) foram integrados na gigantesca 'Armada invencível'  que atacou a Inglaterra e foi completamente destroçada. 



Os nobres portugueses começaram a perder poder à medida os cargos governamentais começaram a ser ocupados por espanhóis.

Quando os portugueses perceberam que o rei da Espanha pretendia fazer de Portugal apenas uma província   de Espanha, eles se revoltaram-se, expulsaram os representantes dos espanhóis,  e proclamaram um novo rei , [, Dom João IV, em 1 de dezembro de 1640].

Durante séculos, Portugal foi um refúgio para os judeus, a única nação europeia  que os não  perseguia. Em algumas partes do mundo, Portugal era até considerado um Estado judeu. Mas as coisas mudaram com a introdução da Inquisição na Espanha e logo a Inquisição foi introduzida em Portugal, forçando a maioria dos judeus a sair. O Império Otomano,  a Holanda e as cidades-estado italianas
 foram os principais locais de refúgio. Esses países beneficiaram dessa fuga. Portugal, por sua vez, perdeu muito com a partida dos judeus.


(Continua)(***)

__________

Bibliografia que consultei;

1. O livro de onde faço várias referências é o livro:” The First Global Village"- How Portugal changed the world , da autoria do escritor Inglês Martin Page, 12a edição. " Casa das Letras" ( comprei este aí em Portugal).

Outros livros que li e que “consultei" agora:

2. "Encompassing the World” Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries. Um daqueles livros grandes em todo o sentido, de se lhe "tirar o chapéu, pelo seu conteúdo fabuloso em todos os aspectos. Publicaçao da “Arthur M.Sacckler Gallery( da Smithsonian Institute em Washington)

3. Lisbon - War in the shadow of the city of light, 1939-1945 da autoria de Neil Lochery

4. The First World Sea Power—1139-1521; volume 1o. Autor: Saturnino Monteiro

5. 1494 How a Family Feud in Medieval Spain Divided the World in Half . Autor:Stephen R. Bown ( St Martins Press, New York)

6. 1808 (5a edição) Autor: Laurentino Gomes ( jornalista brasileiro). Editora Planeta. Brasil

7. Os Pioneiros Portugueses e a Pedra de Dighton, do Dr. Manuel Luciano da Silva

8. Magellan autor ; Stefan Zweig,( version française) par Alzir Hella; Bernard Grasset- Paris

Jornais e revistas:

1. “ Luso-Americano” uma série de artigos sobre esta exposição, da autoria do jornalista /escritor/editor principal do" Luso Americano" . Publicadas neste jornal de 27 de Abri29 de Junho de 2007.

2. New York Times, Friday, June 29 2007

3. Washington Post, June 24 2007 e July 20 2007

4. "Portuguese in the making of America” da autoria de James H.Gill

5. Military History, July/August 2006, artigo do historiador Michael D. Hull, capa e artigo (páginas 24 a 31).

_____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores:


(**) Primeira versão do texto, em inglês:

January 19, 2020; Slovenian community :Talk on Portugal…
 

(...) Soon, from Lisbon to India, China and Japan the Portuguese ships under Afonso de Albuquerque had become the masters of the seas. With the conquest of Malaca, gateway to all the Far East, Portugal had complete control of the whole region.

Though it is attributed to the English the first settlements in Australia, "there is a growing consensus among Australian Historians that it were Portuguese from Malaca the first Europeans who arrived there".

The Portuguese were the first westerners to reach Japan where among other things they showed and taught the Japanese how to build in stone, and introduced the manufacturing of guns which in turn would lead to the unification of Japan. Latter on Portuguese settlers in large numbers founded and built the city of Nagasaki (P 146).

In China "Portuguese were advisors to the Emperor of China before Marco Polo claimed to have reached there." (P.19)

And, unlike Hong Kong, which was claimed by the English by force, the city of Macau was a gift to the Portuguese by the Emperor of China for having at his request, get rid of the Pirates who plagued the China Seas. As you will remember Macau was the last official Western colony to be given back, and it was done so at the request of the Portuguese who took the initiative, as China was not showing any interest in getting it back.

All this seems almost difficult to grasp as Portugal at this time had a population of only 1.5 million people, ( comparing with Italy's 12 million, 6.0 in Spain and 3.0 in England; Even so, Lisbon became the western world new capital of wealth, "the most fabulously rich city in Europe"( P. 107/8).

It was at this moment in history, 1494, that took place the Treaty of Tordesilhas. It was meant to solve the confusion created by Cristovão Colombo after he discovered America, which Colombo thought to be India. Pope Alexander VI created an imaginary line dividing the world in two, and awarded any new lands discovered to the east of this line to Portugal and lands to the west of this line to Spain.

By the end of the 16th century Spain and Portugal became united: the king of Portugal died with no heir and the "next of kin" was the king of Spain. The first years seemed OK but soon this union proved to be a disaster for Portugal.

Portugal colonies who had became under Spanish rule lost any protection when these were subject to invasions by the English and the Dutch, enemies of Spain. Most of the Portuguese ships ( without its original crews though , for the Spanish with good reason could not trust the Portuguese to fight the English) were included in the vast 'invincible Armada" which attacked England and was completely destroyed.

The Portuguese noblemen started to lose power as government posts started to be filled by Spaniards. So when the Portuguese realized that the King of Spain was intended on making Portugal just a royal province of Spain they revolted, threw out the Spanish king's representatives and proclaimed a new King.

For centuries Portugal was an haven, the only European nation not to persecute Jews. In some parts of the world Portugal was even considered to be a Jewish State. But things changed with the introduction of the Inquisition in Spain and soon the Inquisition was introduced in Portugal, forcing most of the Jews to leave. Turkey, Rome and Holland were the main places of refuge which benefitted from this escape from Portugal who in turn lost much with their departure.

(To be followed)

(***) Último poste da série: 

18 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20664: Tabanca da Diáspora Lusófona (6): Alô, Alô, Luiz Farinha, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil!!!... Daqui, João Crisóstomo, Nova Iorque, USA...

sábado, 24 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20090: Os nossos seres, saberes e lazeres (349): Tavira, a encruzilhada de civilizações (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Março de 2019:

Queridos amigos,
Era o embaraço da escolha, tal a oferta farfalhuda de núcleos museológicos, de ermidas, igrejas e exposições. Vir a Tavira e não pôr o nariz no Palácio da Galeria é como ir a Roma e não visitar os museus do Vaticano. O Palácio da Galeria/Museu Municipal de Tavira tem valor excecional, no subsolo temos vestígios da presença fenícia, depois há as molduras góticas, o edifício está moldado pela moderna estética renascentista. Nele habitaram os Aragão de Sousa, família nobre ligada à defesa das praças lusas do Norte de África, durante o século XVI, estas praças muito contribuíram para momentos áureos de Tavira. Há depois os elementos barrocos, está preservada a Galeria Quinhentista. Palácio recuperado e adaptado para fins culturais em 2001, é aqui que venho visitar mestre Almada Negreiros e daqui o viandante irá partir, bem consolado, percorrendo o centro de Tavira à beira rio, dia de sorte, culminou com um poente mediterrânico.
É assim a vida, a surpresa com que não se contava na viagem.

Um abraço do
Mário


Tavira, a encruzilhada de civilizações (2)

Beja Santos

Entra-se no Museu Municipal de Tavira/Palácio da Galeria para ver a mulher representada por Almada Negreiros, nada menos nada mais do que 55 obras, desenhos e pintura, a larga maioria pertencentes ao acervo da coleção moderna do Museu Calouste Gulbenkian, bem assim como excertos da sua obra literária e textos publicados nos jornais e revistas da época. A exposição visa mostrar a representação da mulher com um “olhar moderno”.




A curadora da exposição prestou declarações a uma agência noticiosa ao tempo da exposição tendo dito que “o olhar sobre a mulher ao longo da história da arte ocidental é um olhar masculino e aqui também não fugimos a essa regra. Estamos a falar de um homem que olha a mulher, que a retrata e que a torna objecto da sua pintura, do seu desenho ou da sua obra literária”. A curadora lembrou que Almada foi “um artista que abraçou a modernidade, que quis ser moderno acima de tudo, representou uma mulher emancipada”. E, mais adiante: “As mulheres já não são só objectos de contemplação ou representadas como passivas na obra dele, vamos sistematicamente encontrar mulheres activas, mulheres desportivas – sobre as quais aliás ele escreve também –, mulheres bailarinas, cantoras, e que não estão em nenhuma posição necessariamente subalterna, pelo menos não são mostradas dessa forma e isso, mostrá-las de maneira diferente, era também sinal de modernidade”.




Almada Negreiros (1893-1970) viveu as primeiras décadas do século XX – período a que pertencem as obras expostas, enalteceu nos seus trabalhos este fenómeno da emancipação da mulher, por vezes associada a uma certa libertação de costumes e a uma vida boémia dos chamados anos loucos de 1920.

Um óleo célebre de Almada em que se representa com a sua mulher, a pintora Sarah Afonso.



Exposição magnífica, se é necessário adjetivar o que tão impressivas imagens oferecem ao leitor. Tavira tem presença fenícia, muçulmana, vestígios medievais, tem marcas do tardo-gótico e de um majestoso barroco, isto para já não falar de palácios e habitações solarengas de grande porte, algumas delas flanqueando o Rio Gilão, a caminho da Ria Formosa. Vamos passear, há um pôr do sol magnífico que espera por nós.





É fascinante descer do Palácio da Galeria até chegar aqui, onde o Rio Gibão vai abraçar a Ria Formosa, o viandante é um sortudo, com o dia e a hora, um poente magnífico no dia cálido, apetece caminhar mais para ganhar apetite para um jantar de peixe. E depois preparar, entre estes cheiros de maresia o dia de amanhã, o último em Tavira, mas sempre com uma enorme vontade de regressar.

(continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 de Agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20067: Os nossos seres, saberes e lazeres (348): Tavira, a encruzilhada de civilizações (1) (Mário Beja Santos)

sábado, 17 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20067: Os nossos seres, saberes e lazeres (348): Tavira, a encruzilhada de civilizações (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Março de 2019:

Queridos amigos,
Regressar a Tavira dá-me imenso prazer, é cidade de imensos cantos, recantos e encantos, agrada ver a preservação e a renovação, nos museus há sempre boas exposições, sente-se uma vida cultural ativa que não pode deixar nenhum turista indiferente.
Aqui fica a primeira deambulação, o visitante segue agora para uma exposição com obras de Almada Negreiros no Museu da Cidade, ser-vos-á mostrado tão belo acervo desse extraordinário artista plástico, figura de proa do modernismo português.

Um abraço do
Mário


Tavira, a encruzilhada de civilizações (1)

Beja Santos

O destino fadou Tavira com belezas naturais, um património riquíssimo graças à presença fenícia e islâmica, ao seu influente e ativo porto no tempo da presença portuguesa no Norte de África, à Ria Formosa, aos seus palácios e museus. Tavira, graças a estes cadinhos patrimoniais, atrai o turismo, justificadamente se vem à procura de uma cidade cheia de identidade, de tipicidade, de história para visitar.





Começa a visita no Núcleo Islâmico do Museu Municipal de Tavira, construído no local onde em 1996 foi encontrado o famoso vaso de Tavira e um troço da muralha islâmica. O piso superior está dedicado a exposições temporárias sobre temáticas ligadas ao Islão. A exposição Tavira Islâmica integra materiais dos séculos XI a XIII, provenientes de escavações arqueológicas realizadas no centro da cidade. Aqui se pode observar o troço da muralha do século XII e o impressionante vaso de Tavira, do século XI, a peça mais importante da exposição. Apresenta no bordo onze figuras e nas paredes, linhas, retículas, peixes e outros elementos pintados a branco. De acordo com a informação prestada neste Núcleo Islâmico, o vaso parece representar um rapto nupcial, estando presente a noiva com a face descoberta e o noivo com um turbante, ambos a cavalo; um besteiro e um cavaleiro de escudo e lança; um tocador de tambor e outro de adufe; uma tartaruga e várias pombas; e o dote, constituído por um bovídeo, um caprídeo, um camelo e um ovídeo.

Esta fotografia tem história, em 1950 o BNU comprou o edifício que era uma pensão. Quando o edifício foi demolido encontraram vestígios de uma salga fenícia, é neste espaço que funciona desde 2012 o Núcleo Islâmico. Atenda-se à beleza do telhado.





Sente-se que a cidade é alvo de conservação e restauro. Com tanta riqueza de património arqueológico, etnográfico, artístico e industrial, com clima aprazível para o turismo mas por vezes hostil para os bens patrimoniais, a autarquia é levada a intervir em painéis de azulejo, em estátuas, em edifícios representativos como a estação elevatória que foi convertida em Centro Interpretativo do Abastecimento de Água a Tavira. Convém não esquecer que Tavira é uma cidade com muitas igrejas e conventos, dispõe do Palácio da Galeria (que iremos visitar), dentro de um Museu da Cidade e um Centro de Arte Contemporânea.



Iremos seguidamente para o Palácio da Galeria, mas dá imenso prazer passear por estas ruas onde primam a pedra e as fachadas caiadas, os diferentes momentos da História, sobem-se degraus medievais até chegar a uma igreja barroca ou subitamente entra-se num jardim que associamos à presença árabe, bem forte por sinal. O viandante amesenda, descansa as pernas porque se vai lançar numa boa empreitada, no Museu da Cidade tem à sua espera uma exposição fabulosa, “Mulheres Modernas na Obra de José de Almada Negreiros”.

(continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20048: Os nossos seres, saberes e lazeres (347): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (9) (Mário Beja Santos)