1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Abril de 2021:
Queridos amigos,
Estamos a descrever os últimos atos públicos de Honório Pereira Barreto que obteve na sua viagem aos Bijagós um precioso acordo de paz e aceitação da soberania portuguesa em Canhabaque. Mas os britânicos não desarmam, fazem a apologia do combate à escravidão e andam descaradamente a negociar escravos na Serra Leoa. Em Bissau, a Comissão Municipal pede a Honório Pereira Barreto para ficar, a sua presença simboliza paz. Na região do Geba tudo voltou a azedar, mais expedições, mas com resultados inconclusivos. A proteção fortda navegabilidade do Geba é garantida pela fortaleza de S. Belchior. Lemos este derradeiro período da escrita de Senna Barcelos (ele encerrará a sua investigação em 1879, quando a Guiné se autonomizou definitivamente de Cabo Verde) e assistimos a tumultos constantes, a pressão no Casamansa agudiza-se e em breve a problemática de Bolama irá ser entregue a um árbitro, ao Presidente dos Estados Unidos da América, Ulysses S. Grant.
Um abraço do
Mário
Um oficial da Armada que muito contribuiu para fazer a primeira História da Guiné (12)
Mário Beja Santos
São três volumes, sempre intitulados Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné, as partes I e II foram editadas em 1899, a parte III, de que ainda nos ocupamos, em 1905; o seu autor foi Cristiano José de Senna Barcelos, Capitão-Tenente da Armada, oficial distinto, condecorado com a Torre e Espada pelos seus feitos brilhantes no período de sufocação de sublevações em 1907-1908, no leste da Guiné. O levantamento exaustivo a que procede Senna Barcelos é de relevante importância e não há nenhum excesso em dizer que em muito contribuiu para abrir portas à historiografia guineense.
Continuamos a dar palavra a Honório Pereira Barreto, a sua epistolografia é preciosa e ninguém como Senna Barcelos deu destaque a este incontornável conjunto de peças que ajudam a esclarecer estes anos decisivos da pressão francesa sobre o Casamansa e britânica sobre o sul da Guiné. Honório escreve um relatório dirigido ao Governador-Geral em 7 de maio de 1856 acerca da viagem que fez aos Bijagós, e diz claramente:
“Desde março de 1853, em que os franceses foram atacar a ilha de Canhabaque que apliquei toda a minha atenção sobre as ilhas dos Bijagós”.
Critica o comportamento então adotado pelo Governador de Bissau e Cacheu que se devia ter oferecido como mediador em conflitos interétnicos e depois entra diretamente no assunto, dá notas dos factos:
“Em dezembro desse mesmo ano de 1853, uma esquadrilha inglesa veio à ilha de Canhabaque para exigir uma satisfação pelo assassinato feito de um oficial inglês; era eu então Governador-interino da Guiné; recorreram, porém, à minha mediação e tive a fortuna de acabar a questão a contento de ambas as partes. Longe de aumentar aí a influência estrangeira, cresceu a nossa, apertaram-se os laços da antiga amizade”.
E Honório vai contar os principais aspetos da sua viagem, iniciou-a em 11 de janeiro, descreve a sua comitiva e leva presentes para régulos e chefes. Aportou primeiro à ilha das Galinhas, a etapa seguinte foi Canhabaque, ficou hospedado em casa do régulo de Tuore, de nome Tissac, herdeiro do rei que os franceses mataram em março de 1853. Tenta uma reunião com os 17 régulos e chefes de Canhabaque, reuniu com muitos e deixa-nos o seguinte apontamento:
E Honório vai contar os principais aspetos da sua viagem, iniciou-a em 11 de janeiro, descreve a sua comitiva e leva presentes para régulos e chefes. Aportou primeiro à ilha das Galinhas, a etapa seguinte foi Canhabaque, ficou hospedado em casa do régulo de Tuore, de nome Tissac, herdeiro do rei que os franceses mataram em março de 1853. Tenta uma reunião com os 17 régulos e chefes de Canhabaque, reuniu com muitos e deixa-nos o seguinte apontamento:
"Este povo de Canhabaque é verdadeiramente livre, nem consentem ser vendidos; os régulos são simples presidentes de umas assembleias deliberativas, que só têm lugar quando se trata de negócios de interesse geral para o país”.
O ponto fundamental da reunião é de que todos se manifestam de súbditos portugueses; segue para a ilha de Orango, onde é recebido com uma salva de artilharia, e o rei deu-lhe um tratamento régio.
“Com franqueza direi a Vossa Excelência que depois que cheguei a Orango e depois que vi os objetos que o rei possuía, pois mobilou a casa em que residia com canapé, cadeiras, mesa, oleados, toalhas e esteiras, fiquei embaraçado sobre o presente com que lhe devia corresponder. Felizmente havia a bordo da lancha que me conduziu um oratório para venda, pertencente à viúva Ferreira, objetos que pessoas bem informadas me disseram seria agradável ao rei. Resolvi dar-lho”.
Mais tarde Honório enviou ao Governador-Geral o tratado que tinha efetuado com os régulos bijagós da ilha de Canhabaque.
Em 26 de agosto de 1858 fundeou no porto de Bolama o vapor de guerra inglês Tridente, que ali cometeu atos de violência contra os portugueses, e disso deu conta o morador José Carlos Rebelo Cabral a Honório Pereira Barreto:
Em 26 de agosto de 1858 fundeou no porto de Bolama o vapor de guerra inglês Tridente, que ali cometeu atos de violência contra os portugueses, e disso deu conta o morador José Carlos Rebelo Cabral a Honório Pereira Barreto:
“Pelo meio-dia desembarcou o comandante, acompanhado de tenente e alguns oficiais superiores e inferiores do navio, e de David Lourenço, vindo todos eles armados de espada e pistola. O sobredito comandante logo ao desembarcar fez fala aos habitantes, dizendo-lhes que aqueles que fossem cativos podiam embarcar para bordo como livres, porque isto era uma colónia inglesa”.
E Cabral roga conselhos a Honório Pereira Barreto que se dirige ao Governador Interino em Bissau a exigir previdências. A situação naturalmente que se agravara, o governador alegava que Bolama era portuguesa, os britânicos diziam que era inglesa. E dá-se um encontro entre Honório e o comandante Close e o que escreve Senna Barcelos é exemplar:
“A bordo, na presença do comandante, verificou Honório que todos os escravos eram os próprios que constavam das certidões de registo, mas nem assim os escravos foram entregues, levando-os o comandante para Serra Leoa, onde seriam vendidos pelas autoridades aos negociantes revertendo o produto da venda em benefício das mesmas. E assim afirmavam os ingleses que os portugueses é que faziam escravos quando o governo de Serra Leoa era um depósito de negros escravizados”.
Honório sente-se doente e quer-se afastar da política. Em 15 de julho de 1858 dirigiu o seguinte ofício ao Governador-Geral:
Honório sente-se doente e quer-se afastar da política. Em 15 de julho de 1858 dirigiu o seguinte ofício ao Governador-Geral:
“Tendo acabado de sofrer uma forte febre, havia já embarcado a bordo de uma escuna portuguesa toda a minha bagagem, e só esperava ter mais forças para poder embarcar e retirar-me para Cacheu, quando no dia 12 deste mês veio à minha casa a Comissão Municipal da Praça entregar-me a carta pedindo-me para ficar. Posto que eu esteja inteiramente convicto da inutilidade do sacrifício que de mim exigem, e que faço, não neguei demorar-me nesta até que Vossa Excelência se digne pronunciar como for conveniente e assim o comuniquei à referida comissão. Em nada concorri, nem direta nem indiretamente, para este passo que porventura imprudentemente deu a Comissão Municipal".
Tinham regressado entretanto os tumultos à região de Geba, houvera conflito entre o presídio de Geba e os Beafadas de Badora. O Major Correia Pinto fora a Geba para apaziguar uma questão entre eles, foi preso. O Governador Zagalo reuniu no Porto de Gole um conselho militar, todos foram unânimes que devia haver castigo.
Tinham regressado entretanto os tumultos à região de Geba, houvera conflito entre o presídio de Geba e os Beafadas de Badora. O Major Correia Pinto fora a Geba para apaziguar uma questão entre eles, foi preso. O Governador Zagalo reuniu no Porto de Gole um conselho militar, todos foram unânimes que devia haver castigo.
Entabulou o governador negociações com o gentio do território de Gussará e de Tumaná, eles foram atacar Ganjarra, outros efetuaram a tomada de Bigine, tudo difícil e com traições pelo caminho, não houve condições para impor uma derrota, o governador retirou-se para Bissau e deixou guarnecido o Forte de S. Belchior para proteger a navegação do rio Geba.
Senna Barcelos diz-nos que o súbdito inglês David Lawrence (que Honório Pereira Barreto considerava ser português) aproveitando-se das más relações do gentio de Badora com o Governo, mandou aos Beafadas três bandeiras inglesas que foram arvoradas em Bambadinca, Fá e Ganjarra.
Foi neste contexto que o governador Zagalo requisitou 800 soldados do reino para submeter as gentes de Badora. No entretanto, em Cacheu o gentio de Churo declarou guerra à praça, nova expedição que o Governador-Geral não aprovou. Em Geba as coisas azedaram, organizou-se uma expedição para castigar o gentio, envolveu 6 oficiais, 80 soldados e alguns voluntários a que se juntaram 300 auxiliares, incendiou-se e saqueou-se Bambadinca e voltou a calma aparente.
(continua)
Nota do editor
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(continua)
Mapa histórico da Senegâmbia em 1707
Destroço da estátua de Honório Pereira Barreto no interior da fortaleza de Cacheu
____________Nota do editor
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