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domingo, 30 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8966: Blogpoesia (163): Fado da 'Orion' (José Pardete Ferreira)

1. Mensagem de J. Pardete Ferreira:

Data: 30 de Outubro de 2011 15:26
Assunto: Fado da Orion

 Caro Luís, o prometido é devido:

O Fado da Orion foi escrito em Homenagem ao Comandante Faria dos Santos. A LFG passou mais de um ano acostada ao molhe do Pi(n)djiguiti porque tinha cedido a Batarda um dos motores.

Quando o recebeu de volta ou ele foi substituído por um novo, já não posso precisar, fez uma viagem experimental e de contrabando "a acreditar nos praticantes da má-língua" e, de seguida,  foi o navio almirante da ida a Conacri, sob o Comando de Faria dos Santos, mais tarde Comandante do porto e, em seguida, Governador Civil de Aveiro.

Poeta e grande amigo, recebia a jantar e bem um pequeno número de amigos na torre, onde, no final, a poesia expulsava o álcool.

Ele foi, igualmente, a nossa chave de acesso à Base Naval de Bissau onde, às quintas-feiras, havia jantar melhorado e aberto a convidados.

2. Blogpoesia  > Fado da "Orion"
por José Pardete Ferreira


[, LFG Orion, a navegar no Rico Cacheu, em 1967, foto à esquerda; crédito fotográfico:  Manuel Lema Santos]






Tristes noites de Bissau,
Neste clima tão mau,
Passá-las não há maneira,
Sem comer arroz, galinha.
Ou então ir à "Marinha"
Aos "jantares da quinta-feira"!

Às vezes um Comandante,
Bom amigo, bem falante,
Obriga uma pessoa,
Com uma grande bebedeira,
Pensar que o Ilhéu do Rei
Fica em frente de Lisboa.

Refrão

Ser marinheiro
De "LFG' no estaleiro,
Sem motores nem cantineiro,
Junto ao cais sem navegar,
E esperando,
A comissão foi passando,
Ai!, os amigos engrossando,
Com o Geba a embalar.

Quando vinha dessa Terra
E voltava à minha Serra,
Nem eu queria acreditar !
Virei-me ainda p'ra ver,
O meu Adeus lhe lançar
E também lhe agradecer:

Com meu suor derramado
No teu chão, tão maltratado,
Deixo-te votos amigos
E, também, as minhas preces,
'squecendo rancores antigos,
Por ti, Guiné, que mereces.

Refrão...

(1ª parte e Refrão escritos em Bissau em Novembro de 1970. 2ª parte escrita em Setúbal na madrugada de 15 de Dezembro de 1997. Para ser cantado com a Música do "Fado do Cacilheiro" do Maestro Carlos Dias).

J. A. Pardete Ferreira
 _______________

Nota do editor:

sábado, 13 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8666: O Regresso dos Heróis (Domingos Gonçalves) (3): O último susto


O Regresso dos Heróis*

Por

Domingos Gonçalves
(Ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887)


DEDICATÓRIA
A todos os colegas da CCAÇ 1546 do BCaç 1887



III - O ÚLTIMO SUSTO

Dia 13
Pelas doze horas o Alfange atracou em Binta. De imediato, desembarcou a Companhia de “Periquitos” e as respectivas bagagens. Depois, a minha Companhia embarcou. Pouco depois das duas horas, acenando um adeus às terras de Binta, subíamos o Cacheu até Farim. Nunca percebi muito bem esta programação da viagem. Com efeito, a lógica que na tropa não tem lugar, apontaria para que embarcássemos apenas quando o barco descesse o rio. Mas, como gostam muito de nós e estão satisfeitos com o nosso trabalho e com a guerra que fizemos ao longo de todos estes meses, os que mandam em nós quiseram que fizéssemos turismo, durante mais umas horas, viajando por este rio maravilhoso, em condições de excepcional conforto.

 LDG Alfange - Foto de autor desconhecido. Com a devida vénia

Em Farim entraram no Barco a Companhia N.º 1548 e a Companhia de Comando e Serviços e, já de noite, iniciou-se a viagem para Bissau, com uma ligeira paragem de novo em Binta, donde se partiu quando a noite já ia bastante alta.

A partir de Binta, a barcaça que nos transportava seguiu viagem, escoltada por um barco de Guerra, que navegava à nossa frente escassas dezenas de metros.

Pouco passava das 21 horas. Rio abaixo tudo parecia normal. Na penumbra da noite apenas se escutava o ligeiro ruído provocado pelo deslizar sereno do barco sobre as águas do Cacheu, e o barulho surdo dos motores da embarcação que nos transportava.

A escuridão da noite, o céu sem estrelas e um horizonte que morria ali muito perto, na penumbra das margens, emprestavam à viagem um ambiente sinistro feito de mistério e receio. Fora da barcaça, que navegava com as luzes apagadas, apenas se vislumbrava a sombra da floresta que, nas margens, se casa com o rio, e um pouco à frente, embora pouco perceptível, a sombra do barco que nos escoltava. Aquele era um ambiente de mistério, sinistro e tristonho, a que, aliás, durante outras viagens pelo rio já nos tínhamos habituado.

Não muito longe de Binta, a escassas centenas de metros, numa curva do rio, começámos a ser alvejados por tiros de bazooka, ou de canhão sem recuo. E um calafrio enorme apossou-se de mim, e também, por certo, de todos os que viajavam a meu lado. Eram eles, os turras, que nos estavam a atacar ali, no meio do rio, quando pensávamos que a guerra para nós já não existia, e já nem tínhamos uma reles G3 para varrer com algumas rajadas as margens do rio. Era efectivamente a guerra que continuava a perseguir-nos!

E o barco de guerra que seguia à nossa frente, e nos escoltava, foi atingido lateralmente por algumas granadas, que lhe causaram bastantes estragos, tendo a tripulação sofrido um morto e alguns feridos. Viveram-se momentos de pavor, mas não houve pânico.**

Guiné > Bissau > A LFG Lira, já atracada em Bissau, ao lado da Orion, sendo bem visíveis, na ponte, os estragos provocados pelo rebentamento da granada de RPG, em chapa balística de 0.25.

Guiné > Bissau > A LGF Lira > Os danos no convés, no rufo da casa das máquinas e nos botes de borracha dos FZ .
Fotos: © Manuel Lema Santos (2007). Direitos reservados.

Entretanto, um grupo de fuzileiros que seguia na nossa barcaça, em missão de segurança, abriu fogo sobre as margens do rio, para a zona donde teria partido o ataque. Ao mesmo tempo, o barco de guerra que nos escoltava seguia, a grande velocidade, para Bissau. E a barcaça que nos transportava recebeu ordens para regressar a Binta, onde chegou pelas vinte e duas horas.

E todos nós, cerca de 500 homens, passámos a noite em frente a Binta, a bordo da embarcação.

Foi uma noite difícil de passar. A barcaça não tinha espaço para transportar, com o mínimo de condições, uma centena de pessoas, e estávamos lá dento três Companhias com as respectivas bagagens.
Os soldados quase não tinham espaço para se mexer.

Mais uma vez, tivemos muita sorte. Se os gajos em vez de acertar no barco de guerra que nos dava escolta, tivessem disparado e acertado no nosso, com tanta gente dentro, poderia ter acontecido mais um grande desastre. Bastaria apenas a confusão gerada por uma granada que acertasse em cheio no barco, aliada à escuridão da noite, para que houvesse uma tragédia de consequências imprevisíveis.

Apesar de tudo, o azar quase que não o foi. Os nossos homens, para além do incómodo do atraso da viagem e da noite passada no meio do rio, sem um agasalho que os protegesse da humidade, nada mais sofreram.

Mas não deixou de ser para todos nós mais um grande susto com o qual já ninguém estava a contar. E ali tão perto de Binta não havia memória de que os barcos de guerra tivessem sido alguma vez atacados.

(Continua)
____________

Notas de CV:

(*) O Regresso dos Heróis é um livro do nosso camarada Domingos Gonçalves (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68), edição de autor.

(**) Vd. poste de 16 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1665: Operação Larga Agora, Tancroal, Cacheu, local maldito para a Marinha (Parte I) (Lema Santos)

Em 13 de Janeiro de 1968, a LFG Lira que escoltava a LDG Alfange, depois de ter transportado 3 companhias de FT de S. Vicente para Binta, foi violentamente atacada no Tancroal com RPG, sendo atindida na ponte e no rufo (cobertura) da casa das máquinas. O resultado, além dos estragos materiais, foi dramático: 1 morto e 8 feridos, alguns deles em estado grave, sendo 2 evacuados de helicóptero e 3 de Dornier.

Vd. último poste da série de 10 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8657: O Regresso dos Heróis (Domingos Gonçalves) (2): Guiné, 1968

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7222: Blogues da nossa blogosfera (39): Vitor Mendes, marinheiro radiotelegrafista, N.R.P. Orion, 1970/1971






O Blogue do Vitor Mendes, com uma bela foto da LFG Orion, algures na Guiné...Legenda: " LFG (Lancha de Fiscalização Grande) Orion, da classe Argos, num rio da Guiné [ 1970/71].Deslocamento: 210 toneladas; Dimensões (em metros): 41,7 x 6,7 x 2,1; Armamento: 2 canhões Bofors 40mm/70, metralhadoras 7,62mm e granadas de dilagrama; Propulsão: 2 motores diesel Maybach Tunel MD 440/12 accionando dois hélices, totalizando 2400cv; Velocidade: 17,3 nós; Autonomia: 1660 milhas náuticas; Tripulação: 24. Os navios desta classe usados na Guiné eram parcialmente blindados"...


1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Vitor E.I. Mendes, que foi tripulante do NRP Orion (1970/72) (*)


De: Vitor E. I. Mendes [vitorinacio.mendes@netvisao.pt]
Enviado: quinta-feira, 4 de Novembro de 2010 16:17
Assunto: N.R.P. "Orion" Guiné 1970/1971

Caro Luís Graça:

... e eis senão quando, em busca de dados sobre a "Orion", eu,  que durante quase dois anos fui dela um dos dois marinheiros Radiotelegrafistas, durante as operações e nos anos acima citados o mais antigo, (a antiguidade era um posto, não era?...), descubro um blogue de ex-camaradas de guerra e não apenas da Marinha!

Tenho estado a ler alguns posts do seu blogue e a minha memória já de 61 anos transporta-me para muitas das situações idênticas às descritas e às reflexões inevitáveis do que todos vivemos -  e o Luís Graça no mesmo período que eu...

Tenho estado a escrever qualquer coisa parecido com memórias no meu blogue http://comunidade.sol.pt/blogs/vitormendes/default.aspx  que gostaria de partilhar consigo. Recordar é viver - máxima que poderá também ser o contrário... Dizia um poeta: "partir é morrer um pouco"!...

Disponha, se quiser e puder responder-me.

Com consideração
Vitor (Emanuel Inácio) Mendes
vitorinacio.mendes@netvisao.pt


2. Comentário de L.G.:

Anda tão discreta, escondida  (ou submersa ?),  a nossa marinha, que é difícil encontrar um marinheiro, mesmo dos velhinhos como tu que bateram os rios e os braços de mar da Guiné...A surpresa também é, pois, da nossa parte, ao deparar nas andanças da blogosfera um camarada como tu, marinheiro radiotelegrafista... Parabéns pelo teu blogue. Fico à espera dos próximos episódios do teu herói de carne e osso(**). Incentivo-te a que continues e convido-te, inclusivamente, a ingressar na nossa  Tabanca Grande que já conta com cerca de 460 camaradas, todos eles heróis de terra, mar e ar... E claro, de carne e osso, como o teu. Não estranhes o tratamento, romano, por tu: afinal, fomos todos camaradas de armas...Bons ventos para as tuas viagens de regresso ao passado. Prometo voltar a visitar-te. Um Alfa Bravo. Luís


PS - Registo a primeira frase que escreveste no teu blogue, em Março de 2007: "Então por que é que não havia eu de entrar neste mundo algo misterioso da blogomania?...No fundo tenho tanta necessidade de me fazer ouv(e)r como qualquer outro pobre mortal deste planeta"...Registo igualmente uma das tuas citações da Bíblia, que é um dos teus livros de cabeceira: "O que foi, isso é o que há-de ser, e o que se fez, isso se tornará a fazer; DE MODO QUE NADA HÁ DE NOVO DEBAIXO DO SOL. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós." (Livro do Eclesiastes, ou do Pregador).
_____________

Notas de L.G.:

(*) Último poste desta série > 1 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7066: Blogues da nossa blogosfera (38): Breve História da Tabanca dos Melros (Carlos Silva)

(**) Com a devida vénia este teu primeiro naco de prosa:

(...) Chegara a Bissau, capital da então Guiné Portuguesa, no dia 1 de Fevereiro de 1970. Após uma longa madrugada a enganar o sono enroscado em cima de um caixote de madeira, a bordo de uma lancha de desembarque grande (LDG), cujo nome esqueci, desembarquei na ponte-cais que servia também de base naval. Saco-mochila de lona às costas, como se dentro dele transportasse um cadáver, aos primeiros alvores da madrugada tropical, tinha de encontrar o navio para o qual eu havia sido destacado. 

Havia vários, lanchas de fiscalização grandes e outras embarcações menores, mas qual a “Orion”, que esperava um radiotelegrafista para rendição individual? Interroguei um africano, eventual estivador que por ali estava à espera de trabalho em navio mercante prestes a chegar, se me podia satisfazer a curiosidade. Admirado pela pergunta de um marinheiro branco alvamente fardado, supostamente no seu ambiente, apontou-me a mancha cinzenta característica da pintura dos navios de guerra ali atracados. Peças de artilharia à vante e à ré, antenas de radar e de TSF verticais e horizontais, pára-raios, balanceavam ao sabor da viragem da maré no Rio Geba. Ouviam-se os sons do marulho da água nos pilares de sustentação do cais enquanto descia, meio ensonado e vagueando, a escada do primeiro portaló dos vários “patrulhas” atracados de braço dado.

O primeiro ser humano surgiu – um escola, como nos tratávamos, o “cabo de dia”, de familiar pistola “Walter 9 mm” à cintura, a sair estremunhado de uma noite de vigia. Não estava no navio que eu procurava, mas reconhecendo em mim um “piriquito”, algo pálido até pela falta de descanso, ofereceu-me café quente que tinha acabado de fazer para ele e disse-me que estávamos a bordo ou da “Cassiopeia”, ou da “Lira” ou da “Hidra”, os "patrulhas" ou LFG’s gémeas, eu sei lá, mas que a “Orion”, a outra irmã, estava numa das posições seguintes e que eu tinha tempo porque ainda estava tudo a dormir… O apito da alvorada ouvir-se-ia daí a instantes. (...)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Guiné 63/74 – P6217: Estórias de Guileje (8): O papel da fragata Orion na batalha de Gadamael (Manuel Reis, ex-Alf Mil At Inf da CCAV 8350)


O nosso Camarada Manuel Reis (*), ex-Alf Mil At Inf da CCAV 8350, (Guileje, 1972/74), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 19 de Abril de 2010:

Camaradas,
Este tema poderá já ter sido abordado no Blogue, anterior à minha participação no Blogue, que data dos finais de 2008.
Não é minha intenção provocar uma tempestade, num momento em que o Blogue navega num mar de calmaria e caminha para o seu 6º Aniversário.
Mensagem de Manuel Reis ( Ex-Alf. Mil. da C. CAV. 8350) sobre:

A LFG Orion no Cacheu. Foto do Lema Santos, com a vénia devida.
O PAPEL DA FRAGATA ORION NA BATALHA DE GADAMAEL
Estava em Gadamael quando estes factos ocorreram, mas só tive conhecimento do apoio dos “fuzos” ao pessoal em fuga para Cacine. Sobre a actuação da Fragata Orion o meu desconhecimento era total.

Nos meus recortes de jornal sobre a Guerra Colonial, encontrei um texto sobre o desempenho da tripulação da fragata Orion na batalha de Gadamael. É um trabalho de investigação do jornalista Eduardo Dâmaso, publicado no Jornal Público no dia 26 de Junho de 2005, descrito nas páginas 12-13-14, com título de 1ª página “ A nave dos feridos, mortos, desaparecidos e enlouquecidos”.

Recordo, de forma resumida e com a devida vénia e respeito, o que nessa data foi escrito pelo jornalista Eduardo Dâmaso.

O trabalho do jornalista é baseado em depoimentos do Comandante, então imediato, Pedro Lauret e do soldado grumete electricista Ulisses Pereira.

A fragata Orion encontrava-se no rio Cumbijã, em missão de apoio aos aquartelamentos construídos recentemente no Cantanhez, quando no dia 1 de Junho de 1973, à hora de jantar, o seu Comandante recebe uma mensagem do Comandante em Chefe, António de Spínola, para subir o rio e proceder ao embarque de uma Companhia de Pára-quedistas, em reforço no Cantanhez.

Participaram nesta operação, para além da fragata Orion, duas lanchas de desembarque médio (LDM), oito botes zebro e uma companhia de “fuzos”.São dadas ordens aos “patrões” das LDM para seguirem para Cacine pelo canal do Melo, enquanto o Orion segue rio acima para recolher a Companhia de Pára-quedistas.

Só às 8 horas da manhã do dia 2 de Junho a Orion chega ao largo de Cacine. Aí, a tripulação é informada pelo Major Pessoa, Comandante do Batalhão de Pára-quedistas, da situação de caos que se vive em Gadamael: Do efectivo de 3 companhias que aí se encontravam não existiam mais de 30 homens a defender o aquartelamento. Os restantes e a população encontravam-se em fuga para Cacine ou na orla da mata.

São transmitidas as ordens de Spínola: “ É proibido o auxílio a cobardes”.

Contrariando as ordens de Spínola, Major Pessoa informa da urgência no socorro a essas pessoas e promete ir buscá-las, nem que fosse de canoa, caso o Comando da Orion não discordasse das ordens de Spínola.

As tropas Pára-quedistas desembarcam e seguem nos botes para Gadamael.

A Orion avançou em apoio das tropas fugitivas até ao ponto onde lhe era possível, sem qualquer comunicação ao Comando da Defesa Marítima. As LDM começaram a percorrer as margens e com a colaboração dos zebros recolheram os soldados que andavam perdidos.

“Havia mortos e feridos. Desaparecidos e enlouquecidos”. Improvisou-se um hospital no convés para assistir os feridos ligeiros, enquanto os feridos graves eram colocados na coberta dos “praças”. Foram recuperadas entre 300 a 400 pessoas que posteriormente foram transportadas para Cacine de modo a terem uma assistência mais eficaz.

Pedro Laurent, Comandante do Orion, recorda uma imagem que nunca mais o abandonou: “À noite, a coberta das praças estava completamente repleta de feridos, não havendo lugar para as praças se deitarem”

Sobre este acontecimento fez-se um manto de silêncio. A hierarquia nunca questionou a desobediência da Orion e o seu Comando e tripulação não foram alvo de qualquer processo disciplinar.

Outras histórias são relatadas pelo Comandante Pedro Lauret e pelo Grumete Ulisses Pereira, que me vou dispensar de as transmitir.

Para todos os camaradas, ex-combatentes, um abraço amigo,
Manuel Reis
Alf Mil At Inf da CCAV 8350
_________
Nota de MR:
Vd. último poste da série em:

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)


1. Carta ao Director do Público, enviada pelo João Seabra, advogado com escritório em Lisboa, ex-Alf Mil da CCAV 8350 (Guileje, 1972/73) (*);

Senhor Director,

Tendo lido as peças de Eduardo Dâmaso “A nave dos feridos, mortos, desaparecidos e enlouquecidos” e “Ninguém entregou a condecoração ao coronel”, publicadas no “Público de 26/6/2005”, achei conveniente pôr à sua disposição as tardias considerações que se seguem, às quais dará o destino que bem entender.

Fui alferes miliciano na Ccav 8350, retirada de Guileje, em 22/5/73, por sensata decisão do comandante do então COP5, sr. major (coronel) Coutinho e Lima.

Nunca estive a bordo da “fragata Orion” (não seria uma LFG – lancha de fiscalização grande?), pela simples razão de que nunca me ausentei de Gadamael na sequência dos ataques dos dias 1/6/73 (uma quinta-feira) e seguintes.

Escreve-se numa das peças em causa: “os três ou quatro soldados que sobraram da tropa comandada pelo recém-chegado capitão Ferreira da Silva, ficaram sem artilharia, sem apoio aéreo, sem oficiais, sem posto de rádio ...”.

Não foi assim.

Para além de mim próprio, permaneceram no interior do destacamento, o alferes Luís Pinto dos Santos, comandante do pelotão de artilharia do Guileje e o alferes Rocha, comandante de um pelotão de canhões sem recuo 57 mm (e já vão três oficiais), e ainda, pelo menos, um furriel, e algumas (poucas) praças desta mesma unidade e da CCaç 4743 (a companhia originariamente de guarnição a Gadamael).

Além disso, encontravam-se em patrulha próxima do aquartedamento um pelotão da CCaç 4743 (com o seu alferes) e outro da CCav 8350 (alferes Reis).

Sou portanto uma das raras pessoas, que reúne em si a dupla qualidade de “cobarde” que, sob as ordens do major (coronel) Coutinho e Lima, retirou do Guileje e de pretenso “herói” de Gadamael. Nesta última condição fui louvado por despacho do General Comandante-Chefe de 28/8/73.

E não saímos de Gadamael por razões de decência básica (havia mortos e feridos que não podiam ser abandonados) e de elementar sensatez (uma retirada, devidamente comandada, é uma manobra militar, mas não consigo imaginar nada de tão perigoso como uma debandada).

Acontece que, na situação que se gerou em 1/6/73, só por comodidade de expressão se poderá falar em “tropa comandada pelo recém-chegado capitão Ferreira da Silva”.

Para o perceber, há que retroceder às peripécias que determinaram a retirada de Guileje, e às que se lhe seguiram.

Ao contrário de Guileje, Gadamael era uma posição sustentável, com poços de água potável muito próximos do perímetro exterior do aquartelamento, dotada de um cais acostável, acessível por via fluvial através de LDM, que na praia-mar navegavam sem dificuldades no braço do rio Cacine em cuja margem se situava.

Já Guileje era um destacamento absurdo, necessitando de organização de colunas escoltadas para reabastecimento de água a 3,4 Km,  dependente, para o seu aprovisionamento, de complicadas colunas rodoviárias múltiplas, de e para Gadamael, com uma pontualidade que poderia servir de exemplo à CP, e que ficava completamente isolado na época das chuvas.

O inimigo (termo convencional pelo qual designarei a entidade que nos pretendia matar, estropiar ou capturar, e a quem, se tivéssemos oportunidade, faríamos outro tanto) conseguiu conjugar duas vastas operações, práticamente simultâneas, ao norte sobre Guidage e ao sul sobre Guileje.

A primeira dessas operações, quase esgotou a chamada reserva do comando chefe, em tropas especiais.

Os meios utilizados pelo inimigo, tanto em artilharia como em infantaria, eram quantitativa e qualitativamente muito superiores aos das nossas guarnições de quadrícula.

A este propósito, tem interesse a leitura do artigo, publicado no Público, de 26/7/2004, pelo comandante Osvaldo Lopes da Silva do PAIGC, se bem que a desenvoltura com que este oficial transita da astronomia para a geografia e da geografia para a topografia, me sugira não ter sido ele o autor do plano de fogos na operação sobre Guileje.

Seja como for, dada a prioridade à defesa de Guidaje, Guileje foi isolado mediante a interdição dos seus acessos rodoviários a Gadamael e à água potável, através de emboscadas permanentes, por unidades de infantaria do inimigo, numerosas e dotadas de superior poder de fogo, minagem em profundidade dos itinerários, e sujeito a contínuo bombardeamento por todas as armas pesadas de que o inimigo dispunha.

Retirada a guarnição, e população, de Guileje, através de um itinerário ainda não reconhecido pelo inimigo, foi recebida em Gadamael, pelo então coronel (agora brigadeiro na reserva) Rafael Durão (Comandante do CAOP3, com sede em Cufar) esclarecido oficial, cuja primeira medida consistiu em promover uma formatura da CCav 8350, para ademoestar os respectivos oficiais, sargentos e praças, em bom vernáculo militar. O major Coutinho e Lima foi enviado para Bissau, onde permaneceu detido, pelo menos até ao 25/4/74.

Ainda hoje estou para perceber por que razão, confirmada a sua evacuação, o aquartelamento de Guileje não foi imediata e intensivamente bombardeado pela Força Aérea. Provavelmente havia quem acalentasse a fantasia de uma reocupação imediata. Certo é que o inimigo continuou a flagelar a posição após a nossa retirada, e só nela entrou dois a três dias depois (como diria Alves a C.ª: “ que coisa prudente é a prudência!”).

Dir-se-ia que, naquela conjuntura, se afigurava, pelo menos, bastante provável que o inimigo procurasse balancear, sobre Gadamael, os abundantes e sofisticados meios que tinha reunido para a operação de Guileje.

Nessa eventualidade – e sem prejuízo do indispensável patrulhamento em profundidade – eram necessárias providências urgentes.

Antes de mais – porque em Gadamael não havia obras ou abrigos adequados a uma guarnição entretanto duplicada – impunha-se a necessária actividade de organização do terreno, fortificando o destacamento, reforçando os espaldões de armas pesadas, abrindo trincheiras eficientes, enquadrando as subunidades, dotando-as de postos de combate defensivos bem determinados e interligados entre si e com o comando.

Em vez disso, o pessoal da CCav 8350 foi caóticamente disperso, em alojamentos de ocasião, pelos cerca de 40 000 m2 do aquartelamento, sem contacto com os seus oficiais e com o comando. Não se iniciaram quaisquer obras defensivas.

Por iniciativa de alguém que não consigo identificar, nas semanas anteriores operou-se uma radical alteração do material à disposição dos pelotões de artilharia de Guileje e Gadamael: as peças 114 mm (Guileje) e 105 mm (Gadamael), foram substituídas por obuses de 140 mm.

Ora, tanto as peças de artilharia de campanha como as próprias armas pesadas de infantaria, quando instaladas numa dada posição, necessitam de regulação do tiro, mediante a observação dos respectivos pontos de impacto, geralmente através de observação aérea, que já se sabia ser impraticável a partir do momento em que o inimigo passou a dispor de misseis solo-ar Strella-SA7.

As causas da desregulação são variadas, tendo a ver, designadamente, com choques sofridos pelas armas durante o serviço, com as condições meteorológicas, com insuficiências de cartografia, etc..

Os nossos obuses 140 mm (modelo 1943), tinham portanto a interessante função de fazer barulho e, nos casos em que abriam fogo de noite, de fornecer indicações de ajustamento do tiro do inimigo.

Nesta prometedora situação, o coronel Durão – certamente a benefício do brio e da disciplina – pôs de parte qualquer trabalho de organização defensiva, determinando um patrulhamento que se pretendia agressivo e que envolvia, em permanência, dois a quatro pelotões de entre as duas companhias.

De tal actividade resultaram dois contactos com pequenos grupos de reconhecimento do inimigo (os quais, por definição, evitam empenhar-se em combate), a quem foram capturadas três espingardas automáticas Kalashnikov.

No dia 31 de Maio de 1973 (uma quarta-feira), de manhã, o coronel Rafael Durão, retirou-se para Cufar, tendo chegado à lúcida conclusão que o inimigo, em consequência dos nossos “sucessos”, tinha retraído o seu dispositivo, sendo improvável um esforço sério da sua parte sobre Gadamael. Tratou-se evidentemente de uma bazófia só comparável com a sua idílica ignorância das intenções e do sistema de forças do inimigo.

Em sua substituição deixou o capitão (coronel/dr.) Ferreira da Silva. Nesse mesmo dia, à tarde, iniciou o inimigo uma forte flagelação sobre Gadamael, utilizando, sobretudo, morteiros 120 mm, mas também foguetões Katyusha de 122 mm e peças de 130 mm, com uma qualidade de tiro surpreendente.

No dia 1 de Junho, o fogo da artilharia do inimigo intensificou-se qualitativa e quantitativamente e, entre as 10 e as 13 horas, uma área de 20 000 a 30 000 m2 do destacamento de Gadamael encaixou, seguramente, entre 350 e 400 impactos de morteiro 120 mm, provocando consideráveis baixas na guarnição.

Os dois capitães (comandantes, respectivamente, da Ccaç 4743 e da Ccav 8350), foram evacuados entre as 10,30 e as 11,00 horas, e não “ao princípio da tarde”.

Apercebendo-me de que se estava a gerar uma debandada, tentei impedi-la, pelas razões acima expostas, com resultados muito limitados.

O pessoal estava completamente entregue a si próprio e a falta de condições de comando era total: só conseguíamos transmitir ordens a quem nos passasse ao alcance da voz.

Dois dos três espaldões das peças de artilharia receberam granadas de morteiro 120 mm, que feriram, mataram ou dispersaram a totalidade das respectivas guarnições.

O pessoal que ia debandando dizia-me que o capitão (coronel/dr.) Ferreira da Silva tinha dado ordens para se “sair do quartel”.

Dirigindo-me a uma das posições da artilharia, encontrei o alferes Luís Pinto dos Santos, que sobreviveu, com ferimentos ligeiros, e resolvemos ambos procurar o capitão (coronel/dr.) Ferreira da Silva, para lhe perguntar se tinha ordenado a evacuação do aquartelamento. Respondeu-nos que tal não era a sua intenção, tendo apenas recomendado ao pessoal que se deslocasse temporariamente “para fora do arame”, isto é, para o exterior do perímetro do destacamento, uma vez que o seu interior estava a ser intensamente batido pela artilharia inimiga.

Fizemos-lhe saber que tal “deslocação temporária” tinha degenerado em debanda incontrolável.

O alferes Pinto dos Santos, com a minha ajuda, conseguiu improvisar um mínimo de serventes (entre os quais o furriel de transmissões da CCav 8350) para activar um dos três obuses 140 mm, à cadência de um tiro de quarto de hora em quarto de hora.

Tudo visto, recolheram-se os mortos, evacuaram-se os feridos por via fluvial, e garantiu-se, com fogo esporádico de obus 140 mm, de morteiro de 81 mm e de canhão sem recuo de 57 mm, uma aparência de capacidade de reacção que dissuadisse um eventual reconhecimento em força por parte do inimigo (que aliás não se mostrou muito afoito).

Enfim: o trivial.

As munições para as armas pesadas eram transportadas do paiol em uma viatura Berliet temerariamente conduzida por um cabo escriturário (Raposo) da CCaç 4743, o qual, na volta, também transportava feridos para locais de embarque.

Nesse mesmo dia 1 de Junho à tarde:

Reentraram no quartel os dois pelotões que estavam em patrulha exterior; desembarcaram, de helicóptero, dois oficiais de confiança do Comando Chefe (capitães Caetano e Manuel Soares Monge) e o coronel Rafael Durão (pessoa dotada de coragem física em proporção inversa à do respectivo discernimento).

No dia 3 de Junho (Sábado), desembarcou a companhia 122 de paraquedistas (capitão Terras Marques), e no dia seguinte a 123 (capitão Cordeiro).

Uns dias mais tarde chegou a companhia de paraquedistas nº 121 (comandatada pelo então tenente, e hoje tenente-general, Hugo Borges), o que significa que foi deslocado para Gadamael um batalhão completo de paraquedistas (BCP 12).

Entre sexta-feira, dia 2/6/73 e o domingo seguinte, a presença do major Pessoa, do BCP 12, pôs termo ao efémero comando do capitão (coronel /dr.) Ferreira da Silva) no, assim chamado, COP5.

Um verdadeiro e próprio comando das forças de Gadamael foi estabelecido no domingo (4/6/73) na pessoa do tenente-coronel Araújo e Sá (comandante do BCP 12).

Nesse mesmo dia – por razões que, para mim, permanecem obscuras – o major Pessoa (era o 2º comandante do BCP12) retirou-se de Gadamael.

Apesar de não figurarem habitualmente como “heróis de batalha de Gadamael”, as operações das diversas companhias paraquedistas, em cerca de duas semanas, desarticularam o dispositivo inimigo, sofrendo baixas moderadas (uns 25 a 40 feridos, na maior parte ligeiros, com estilhaços de RPG 7).

Nunca será demais sublinhar a qualidade destas tropas de elite. Recordando os contactos que mantive com os seus oficiais (designadamente os capitães Terras Marques e Cordeiro), anoto, como curiosidade, que se mostravam extremamente críticos (no limiar do humor negro) em relação aos fundamentos e à condução da guerra, sendo a sua considerável eficiência, fruto exclusivo de um extraordinário brio profissional.

O corpo de tropas pára- quedistas – das melhores que se poderiam encontrar, inclusivé a nível da NATO – foi destroçado, como unidade combatente, em 1975. Ao que me consta o brigadeiro Rafael Durão e o major Pessoa tiveram, nessa meritória obra, a sua função, cada um do seu lado, respectivamente, no “11 de Março” e no “25 de Novembro”.

Não sei se o tenente coronel Fabião tinha condecorações para atribuir. Recordo que o alferes Pinto dos Santos e eu próprio fomos ouvidos como testemunhas num processo de averiguações para atribuição de condecoração militar ao capitão (coronel/dr.) Ferreira da Silva, pelo major (brigadeiro) Manuel Soares Monge, no quartel general do Comando Chefe, em Bissau.

A nenhum de nós dois pareceu que fosse caso de condecorações a propósito do que se passou em Gadamael no dia 1 de Junho de 1973 (excepção feita ao cabo Raposo, atentos o seu posto e especialidade).

Recordo-me que, na altura, o então capitão Caetano me disse que tinha chegado a “fase dos baldes de plástico” (brinde comercial muito apreciado à época). Temíamos o aproveitamento de tal “fase” para transformar o capitão Ferreira da Silva numa espécie de contra-exemplo, em relação ao major Coutinho e Lima.

A serem atribuídas condecorações, deveriam elas ser, obviamente, atribuídas a oficiais, sargentos ou praças das tropas paraquedistas.

A partir da chegada do BCP 12, a CCav  8350 e a CCaç 4743 não tiveram qualquer actividade operacional de relevo.

Aliás nem poderiam ter, uma vez que não tinham treino, nem armamento, para se defrontar com a infantaria inimiga em reconhecimento avançado, do que foi feita a (desnecessária) demonstração no dia 4 de Junho, quando um pelotão da CCav 8350, reduzida a uma dúzia de elementos, caiu numa emboscada a menos de 1 km do aquartelamento, sofrendo quatro mortos (entre eles o respectivo alferes) e cinco feridos graves.

Será a este episódio que o dr. Ferreira da Silva, por equívoco, se quererá referir quando alude a “seis paraquedistas mortos no mesmo dia” (os cadáveres foram efectivamente recuperados por um pelotão de paraquedistas).

O objectivo desta pretensa patrulha era o de “descongestionar” o aquartelamento da sua, por assim dizer, densidade humana, face à eficiência do tiro da artilharia inimiga. Em suma: a CCav 8350 e a CCaç 4743 tinham passado a desempenhar a proverbial função de carne para canhão.

Note-se que a nossa tropa de quadrícula (companhias tipo caçadores), nem sequer estava dotada de uma metralhadora ligeira decente (a nossa inacreditável HK-21 encravava ao fim de cinco ou seis tiros).

As tropas especiais usavam as metralhadoras ligeiras MG 42 e, em considerável quantidade, equipamento capturado ao inimigo: metralhadoras ligeiras Degtyarev, lança granadas RPG 2 e RPG 7, espingardas automáticas Kalashnikov. Excelente material que, ainda hoje, está ao serviço, do Iraque ao Afeganistão, do Sudão à Libéria.

Tive a inspiração de selecionar, de entre os meus pertences, que carreguei de Guileje, um grande livro: Bouvard et Pécuchet, de Gustave Flaubert.

Quando saí de Gadamael, faz agora trinta e dois anos, tinha chegado a uma passagem célebre: “alors une faculté gênante se développa dans leur esprit, celle de percevoir la bêtise e de ne plus pouvoir la tol
érer.” [ “então uma faculdade embaraçosa se desenvolveu em suas mentes, a de perceber a estupidez e não mais ser capaz de tolerá-la.” [tr. do editor LG ]

Dê a este enfadonho relato, Sr. Director, o destino que bem entender.

João Seabra

Antigo Alferes Miliciano da CCaV 8350 (1972/74)

P.S. - Porque, em certos aspectos factuais, confirma algo do acima relatado, junto segue extracto da minha folha de matrícula. 

____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 25 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3790: Dossiê Guileje / Gadamael (3): "Um precedente grave" (Diário, Mansoa, 28 de Maio de 1973) ... (António Graça de Abreu)

domingo, 4 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3701: Blogues da Nossa Blogosfera (12): Portal Guerra Colonial, da A25A (Pedro Lauret)


1. Mensagem de Pedro Lauret


Está on-line o novo site sobre a Guerra Colonial – http://www.guerracolonial.org/ – lançado pela Associação 25 de Abril e coordenado por mim.

Os textos base são da obra de Aniceto Afonso e Matos Gomes – Guerra Colonial. De momento o site está em finalização e aperfeiçoamentos, devendo ser lançado oficialmente a 4 de Fevereiro. Nesse mesmo dia será lançado, conjuntamente, uma página, no site da RTP, com documentários da Guerra, quer produzidos na época quer actuais, incluindo o do Joaquim Furtado.

Se acharem indicado divulguem pela nossa Tabanca e quem entender fazer críticas ou sugestões nós agradecemos.

Para o lançamento oficial enviarei os adequados convites.

Pedro Lauret

2. Comentário de VB:

Ver aqui o mapa do site: http://www.guerracolonial.org/mapa_do_site

Tem cinco grandes dossiês:

» Cronologia
» ONU
» Protagonistas
» Galeria Multimédia
» Estatísticas

Os nossos parabéns ao nosso camarada Pedro Lauret e à sua equipa. Este portal historiográfico, recheado de textos, imagens e vídeos (estes, fundamentalmente com origem na RTP) é um valiosíssimo contributo para o aprofundamento e divulgação do conhecimento da guerra que Portugal travou em três frentes, no continente africano, entre 1961 e 1974.

Vamos incentivar os amigos e camaradas da Guiné a visitá-lo e a consultá-lo com atenção, entusiasmo e espírito crítico. Para já nem todas as funcionalidades parecem estar operacionais, presumimndo-se que o site ainda esteja em construção, como se deduz da própria mensagem do Pedro Lauret (por exemplo, ainda está disponível a informação de rodapé sobre: Colaborações e bibliografia; Equipa técnica; Mensagem; Links; Contactos...).
__________

Notas de vb:

1. Pedro Lauret, actualmente Capitão-de-mar-e-guerra na reforma, embarcou para a Guiné, em Setembro de 1971. Como Imediato do NRP "Orion" percorreu rios e braços de mar navegáveis (Cacheu, Geba, Buba, Tombali, Cumbijã, Cacine, Bijagós). Em Maio de 1973 encontrava-se em missão no Rio Cacheu aquando dos ataques a Guidage, Desembarcou o DF 8 no Jagali, afluente do Cacheu. No mesmo mês, no rio Cacine, foi a primeira unidade a chegar a Gadamael depois da retirada de Guileje, evacuando cerca de 300 militares e civis que se encontravam espalhados pelas margens do rio. Actualmente faz parte da Direcção da Associação 25 de Abril e lidera um projecto de investigação Histórica com a designação –“Marinha: do fim da II Guerra Mundial ao 25 de Abril de 1974”.

2. Último artigo da série:

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3313: Grandes acidentes (1): Oito mortos do Pel Mort 980, em 5 de Janeiro de 1965, no Rio Cacheu (Virgínio Briote)

Batalhão de Cavalaria 490. História da Unidade.
Guiné. Fevereiro 1963/Agosto 1965.


Com a História do BCav 490 nas mãos, oferta do Carlos Silva (que mantém um blogue com muita informação útil, especialmente sobre o Sector de Farim), ao folheá-la deparei com o relatório de um acidente de que, lembro-me agora, ouvi falar em finais de Janeiro de 1965.

Eram ainda os primeiros anos da Guerra na Guiné. Os meios escasseavam e a improvisação impunha-se mais que nunca.

Pelo interesse de que se reveste, transcrevo na íntegra o relatório assinado pelo Alf Inf José Pedro Cruz, que, se a memória me não atraiçoa, foi mais tarde Cmdt da CCav 489 e, posteriormente (talvez Set/Out 65), vim a encontrar no Xitole, como Cmdt de uma CCaç (de que já não me lembro o número).

vb

Revisão e fixação de texto: Carlos Silva e Virgínio Briote.
__________


Cópia do relatório do acidente, que se transcreve abaixo.


Batalhão de Cavalaria n.º 490

Pelotão de Morteiros n.º 980

Relatório do acidente que teve lugar em 5/01/1965

O Pel Mort 980 era constituído por 33 homens, incluindo o cmdt de Pelotão e os Furriéis (3), comandantes de Secção.

O Pelotão participava na Op Panóplia que se realizava na Península de Sambuiá, entre o rio do mesmo nome e o rio Talicó.

Para dar cumprimento à missão, o Pel embarcou na LFG Orion às 05h00 como estava previsto e foi transportado por este meio na direcção E-W pelo rio Cacheu. Como fora planeado, o navio passou pelo local de desembarque, local esse que fora reconhecido na véspera, até um ponto antes de Bigene. Aí, o navio inverteu a marcha e, como também fora planeado, foi então que o Pel desembarcou para o bote de borracha pertencente ao Exército no qual se faria o desembarque na Península de Sambuiá.



A LFG Orion no Cacheu. Foto do Lema Santos, com a vénia devida.

Embarcaram para o barco de borracha do Exército, 25 homens entre os quais se encontrava o Cmdt do Pelotão. Embarcámos também para esse barco todo o material e armamento necessário para se realizar o desembarque.´

Como seria mais seguro não embarcaram todos os homens nesse barco, que tem uma lotação aproximada de 30 homens, tendo o Comandante do navio posto à nossa disposição um barco de borracha pertencente à Marinha, no qual embarcaram simultaneamente os restantes homens do Pel Morteiros (8) assim como o restante material.

Os dois barcos seriam rebocados pela Orion"«, de maneira a estarem permanentemente encobertos das vistas de possíveis sentinelas existentes na Península onde se efectuaria o desembarque, junto ao rio Cacheu. Segundo notícias, essas sentinelas existiam. Os barcos onde eram transportados os homens do Pel Mort seriam afastados da Orion ao passarmos pelo local onde se realizaria o desembarque.

Antes do navio se pôr em marcha, foi passado um cabo por baixo do barco onde eram transportados os 25 homens, amarrado a um ferro existente no fundo do mesmo.

O navio recomeçou a marcha e, depois de ter navegado durante alguns minutos, o cabo que fora passado para rebocar o barco maior, rebentou pelo que o navio se afastou um pouco. Foi posto o motor do barco a funcionar e a recolagem fez-se sem qualquer incidente ou dificuldade.

Foi então que se passou um cabo mais forte para dentro do barco de borracha, ficando os próprios homens que o tripulavam a agarrar nesse cabo, sendo nessa altura avisado pelo Cmdt da Orion e depois por mim que, em caso de emergência, o cabo devia ser largado imediatamente. Foi nessa altura que eu chamei a atenção dos homens para a conveniência de se chegarem o mais possível para a ré, pois o barco rebocado teria a tendência a baixar a proa. Os homens assim fizeram.

A marcha recomeçou, não podendo eu avaliar a velocidade da Orion, pois ela, necessariamente, difere bastante (aparentemente), devido às diferenças de tamanho da Orion e do barco rebocado.

Depois de se navegar nestas condições alguns metros, notei que o barco de borracha deixava entrar água pela proa. Coisa sem importância, pois isso seria natural devido à ondulação provocada pela deslocação do navio rebocador.

Foi nesse momento que à ré do barco de borracha alguns homens se levantaram, talvez assustados pela água que saltava para dentro do barco. Mandei-os sentar imediatamente, mas o barco já se encontrava desiquilibrado de um dos lados e, sem nos dar tempo a qualquer reacção, afundou-se rapidamente.

Alguns homens que se encontravam dentro do barco sinistrado não sabiam nadar e, então, o pânico foi enorme.

Nadei para junto do barco que se encontrava voltado e icei-me para ele. Seguidamente e auxiliado pelo Soldado nº 1069/63 (1), fui aconselhando calma e ajudando alguns homens a içarem-se para para o barco voltado. Foi feito todo o possível para salvar o maior número de homens. Alguns não chegaram a vir à superfície uma única vez, talvez devido ao grande peso do equipamento, armamento e munições. Entre estes, dois eram bons nadadores.

Verifiquei então que se aproximava rapidamente um barco de borracha da Marinha, tripulado pelo próprio Cmdt da Orion, a qual se encontrava parada, afastada do barco sinistrado cerca de 80 metros.

Depois de se efectuar o transporte de todos os sobreviventes para bordo do navio, efectuaram-se pesquisas em todos os sentidos e recolheu-se todo o material que se encontrava a boiar.

Verifiquei imediatamente que tinham desaparecido no desastre alguns homens do meu Pelotão e varadíssimo material.

Ao subir para a Orion fui informado que dois homens se salvaram por terem ficado agarrados ao cabo do reboque, o que prova que o mesmo cabo não foi largado como foi aconselhado aos homens para o fazerem em caso de emergência.

Conclusões

1. O desastre deu-se, em grande parte, devido ao pânico de que os homens se apossaram.

2. O pânico foi devido à entrada da água pela proa do barco. Pânico natural, por muitos não saberem nadar.

3. Que a água entrou devido à ondulação provocada pelo deslocamento do barco rebocador e ainda devido à tendência do barco em baixar a proa, visto o cabo do reboque não ter sido passado por baixo do barco mas sim por cima, indo agarrado pelos próprios tripulantes do barco rebocado.

Recomendações

1. Tanto quanto possível evitar, nas operações em rios, homenss que não saibam nadar.

2. Nunca rebocar um barco com o cabo de reboque passado por cima do barco rebocado e agarrado pelos próprios homens do mesmo barco.

3. Sempre que possível, evitar reboques por meio de navio de peso elevado e de elevada velocidade.

No acidente pereceram os seguintes homens:

1.º Cabo n.º 1295/63- Arlindo dos Santos Cardoso
1.º Cabo n.º 2143/63- João Machado
Soldado n.º 2481/63- António Ferreira Baptista
Soldado n.º 2517/63- António José Patronilho Ferreira
Soldado n.º 2540/63- António Domingos Félix Alberto
Soldado n.º 2594/63- Joaquim Gonçalves Monteiro
Soldado n.º 3021/63- João Jota da Costa
Soldado n.º 3029/63- António Maria Ferreira

Quartel em Farim, 10 de Janeiro de 1965

O Comandante do Pel Mort 980

José Pedro Cruz
Alf Inf


Comentário do Comandante do BCav 490

Concordo com as conclusões e recomendações apresentadas. No que respeita à escolha dos homens que saibam nadar, creio que infelizmente é bastante teórica pois na maior parte dos casos terão que ser utilizados os efectivos disponíveis. Aliás, não basta saber nadar, pois como se verificou dois dos desparecidos eram até bons nadadores. A única solução parece-me que será dotar as Unidades de meios próprios para desembarques.

No caso presente é possível que o acidente se tivesse evitado se não tivesse havido necessidade de tomar medidas motivadas pela grande vulnerabilidade do barco de borracha.

O barco tem sido utilizado inúmeras vezes, nomedamente no percurso Farim-Binta e na travessia do rio Cacheu em Farim, deslocando-se pelos próprios meios e transportando até cargas mais elevadas, sem que a sua estabilidade desse lugar a reparos.

Quartel em Farim, 10 de Janeiro de 1965

O Comandante do BCav 490
Fernando Cavaleiro
__________

Nota:

1. Não consegui identificar o Nome deste Soldado.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2802: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (2): 1965 (A. Marques Lopes)


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério Municipal de Bissau > 6 de Março de 2008 > Um dos três talhões atribuídos aos militares portugueses, mortos durante a guerra colonial: trata-se, neste caso, do Talhão Esquerdo, onde estão as campas não identificadas. Como já o dissémos aqui, no nosso blogue, estes serão porventura os restos mais dolorosos do que restou do nosso Império (*)... Segundo a Liga Portuguesa dos Combatentes, na Guiné haveria mais de uma centena de cemitérios improvisados (locais de enterramento, desde Buba a Nova Lamego, passando por Cacine a Guidaje), onde repousam, sem honra, nem glória, nem dignidade, os restos mortais dos nossos camaradas cujas famílias não tinham, na época, recursos suficientes (cerca de 11 mil escudos!) para, a suas expensas, trasladar os seus corpos para Portugal.
Foto : © Nuno Rubim (2008) . Direitos reservados.
Quadro 3 - Guiné 1963/74: Militares portugueses metropolitanos, mortos por ferimentos em combate, doença, acidente ou outros motivos, e cujos corpos ficaram em cemitérios locais. Parte II: 1963/64 e 1965, por trimestre. No final de 1965, somavam 132.

Quadro 4 – Guiné 1963/74: Distribuição, por cemitério, dos corpos dos militares portugueses metropolitanos, mortos por ferimentos em combate, doença, acidente ou outros motivos, e cujos corpos foram enterrados em cemitérios locais. Parte Ii: 1963/1965 (n=132).

Comentário: Num total de 132 militares portugueses, de origem metropolitana (exluindo-se, portanto, os guineenses) que morreram, em 1963, 1964 e 1965, no CTIG e cujos corpos não regressaram à Pátria, cerca de 57% ficaram sepultados no Cemitério de Bissau (n=75). Seguiam-se, por ordem de frequência, os cemitérios de Nova Lamego (n=l7), Bafatá (n=9), Farim (n=3), Bolama (n=2), Fulacunda (n=2) e outros (n=6): Aldeia Formosa, Bedanda, Binta, Buba, Cacine e Catió.


Neste período (1963/65), há o registo de 18 corpos que não foram recuperados, incluindo as vítimas de um mais cruéis episódios da guerra, na sequência de um emboscada na estrada Fulacunda-Gamol, de que foram vítimas a CCAÇ 1423 e a CCAÇ 1420, em 6 de Outubro de 1965... Recordemos os nomes desses infelizes camaradas, mortos como animais acossados:
Armando dos Santos Almeida, Soldado; Armando Leite Marinho, Soldado; Fernando Manuel de Jesus Alves, 1.º Cabo; José Ferreira Araújo, Soldado; e Vasco Nuno de Loureiro de Sousa Cardoso, Alferes. Há um sexto elemento que se rendeu às forças do PAIGC, o José Vieira Lauro, que, depois de libertado em 1968, reconstituiu as circunstâncias em que morreram os seus camaradas (No livro da CECA, a sua unidade aparece como sendo a CCAÇ 1423; o nosso camarada Rui Ferreira, no seu livro Rumo a Fulacunda, diz que dois deles pertenciam à CCAÇ 1420) (**).


Esta lista deiza-nos antever outras tragédias, em grupo, como a morte, por afogamento, no rio Cacheu ou no sue afluente, o Rio Sambuiá, de 4 camaradas nossos, do Pel Mort 980, logo no início do ano de 1965, a saber: os soldados António José Patronilho Ferreira, António Maria Ferreira, João Jota da Costa e João Machado. O cadáver do João Machado foi recuperado e enterrado pela tripulação da LFG Orion nas proximidades de Binta. Mas diz-nos o A. Marques Lopes que houve mais quatro vítimas, mortais, cujos corpos foram recuperados e trasladados para a metrópole. Alguém sabe o resto da história ?

Imagens e legendas: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Aqueles que nem no caixão regressaram - Parte II


(Organização por ordem cronológica da data de morte: A. Marques Lopes, Cor DFA, Ref) (***)
(Continuação) (****)

NOME e POSTO / UNIDADE / DATA da MORTE / LOCAL da MORTE / CAUSA da MORTE NATURALIDADE / LOCAL DA SEPULTURA

1965


António José Patronilho Ferreira, Soldado / Pel Morteiros 980 / 05.01.65 / Península de Sambuiá > / Afogamento / Torrão, Alcácer do Sal / Corpo não recuperado.

António Maria Ferreira, Soldado / Pel Morteiros 980 / 05.01.65 / Península de Sambuiá / Afogamento / Santa Maria, Viseu / Corpo não recuperado.

João Jota da Costa, Soldado / Pel Morteiros 980 / 05.01.65 / Península de Sambuiá / Afogamento / Aldeia do Carvalho, Covilhã / Cemitério a sul de Binta (sepultado pela tripulação da LDF Orion) (1).

João Machado, Soldado / Pel Morteiros 980 / 05.01.65 / Península de Sambuiá / Afogamento / Freixomil, Guimarães / Corpo não recuperado.

António Candeias dos Santos, Soldado / CArt 730 / 30.01.65 / HM 241, Bissau / Ferimentos em combate, em Nova Lamego / Cachopo, Tavira / Cemitério de Bissau, Campa 1370, Guiné .

António Joaquim da Graça Viegas, Soldado / CCaç727 / 30.01.65 / Madina do Boé /Ferimentos em combate / Moncarrapacho, Olhão / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Avelino Martins António, 1.º Cabo / CCaç 727 / 30.01.65 / Madina do Boé / Ferimentos em combate / Alferce, Monchique / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

José Pires da Cruz, Soldado / CCaç 727 / 30.01.65 / Madina do Boé / Ferimentos em combate / Sernache, Coimbra / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Leonel Guerreiro Francisco, 1.º Cabo / CCaç 727 / 30.01.65 / Madina do Boé / Ferimentos em combate / Alte, Loulé / Cemitério de Nova Lamego, Guiné (2).

José Augusto de Jesus, Soldado / CCS BArt 645 / 13.02.65 / HM241, Bissau / Acidente de Viação / Resgatados, Montemor-o-Novo / Cemitério de Bissau, Campa 1400, Guiné.

Albino António Tavares, Soldado / Pel Morteiros 979 / 14.02.65 / Buba / Ferimentos em combate / Cardigos, Mação / Cemitério de Bissau, Campa 1402, Guiné.

António Mergulhão Dias, Furriel CCav 677 / 21.02.65 / Jabadá / Acidente com arma de fogo / Caria, Moimenta da Beira / Cemitério de Bissau, Campa 1434, Guiné.

Fernando Teixeira Sofima, Soldado / CArt 496 / 18.03.65 / Cameconde / Acidente com arma de fogo / Argeriz, Valpaços / Cemitério de Bissau, Campa 1481, Guiné.

Felisberto Rosa Cardim, Soldado / CArt 732 / 20.03.64 / HM241, Bissau / Acidente de viação, na estrada Bissau-Mansoa / Torrão, Alcácer do Sal / Cemitério de Bissau, Campa 1515, Guiné.

José António Carrasco de Brito, Furriel CCaç 461 / 22.03.65 / Estrada Bigene-Barro / Ferimentos em combate / Lagoa, Faro / Cemitério de Farim, Campa 8, Guiné (3).

Manuel Gama Moreira, 1.º Cabo / CCaç 461 / 22.03.65 / Estrada Bigene-Barro / Ferimentos em combate / Pedorico, Castelo de Paiva / Cemitério de Farim, Campa 9, Guiné.

Francisco António Amaro, Soldado / CCav 487 / 30.03.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate, na Ilha do Como / Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém / Cemitério de Bissau, Campa 1518, Guiné.

César dos Santos Rebelo, Soldado / CArt 527 / 04.04.65 / HM241, Bissau / Doença / Penso, Sernancelhe / Cemitério de Bissau, Campa 1520, Guiné.

Fernando Gomes Nabais, Soldado / CCaç 557 / 13.04.65 / Bafatá / Afogamento / Aldeia Velha, Sabugal / Cemitério de Bafatá, Guiné.

Manuel Silva Carvalho, 1.º Cabo / CCS/BCav 705 / 01.05.65 / Bafatá / Acidente, outros motivos / Gatão, Amarante / Cemitério de Bafatá, Guiné.

António dos Santos Luna, Soldado / CArt 676 / 02.05.65 / Fasse / Afogamento / Horta, Vila Nova de Fozcoa / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Francisco António, Soldado / CCav 487 / 09.05.65 / Cameconde / Ferimentos em combate / Santiago do Cacém / Cemitério de Bissau, Campa 1582, Guiné.

Francisco Carlos Laranjo, Soldado / CArt 731 / 10.05.65 / Estrada Bafatá-Nova Lamego / Acidente de viação / Aguiar, Viana do Alentejo / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Abilardo Júlio Espada, 1.º Cabo / CArt 495 / 16.05.65 / Saltinho / Afogamento Grândola / Cemitério de Aldeia Formosa, Guiné.

José Ferreira Clemente, Soldado / CCaç 508 / 27.05.65 / Xime / Ferimentos em combate / Milagres, Leiria / Cemitério de Bissau, Campa 1812, Guiné.

Humberto de Jesus Borges, Soldado / CArt 642 / 30.05.65 / HM241, Bissau / Doença / Morais, Macedo de Cavaleiros / Cemitério de Bissau, Campa 1727, Guiné.

Manuel Pimenta Rodrigues, 1.º Cabo / Com Agr 24 / 31.05.65 / Bafatá / Afogamento / Carrazedo, Amares / Cemitério de Bafatá, Guiné.

Adelino Castanheira Dias, Soldado / CCaç 727 / 04.07.65 / Nova Lamego / Ferimentos em combate / Monsanto, Idanha-a-Nova / Cemitério de Nova Lamego.

Francisco João Beirão, 1.º Cabo / CCaç 727 / 04.07.65 / Nova Lamego / Ferimentos em combate / Veiros, Estremoz / Cemitério de Nova Lamego (4).

António Neves de Oliveira Lopes, Soldado / CCaç 818 / 16.07.65 / Porto Gole Ferimentos em combate / Pedroso, Vila Nova de Gaia / Cemitério de Bissau, Campa 1808, Guiné-

Carlos Ribeiro Pereira, Soldado / ERec 693 / 19.07.65 / Piche-Canquelifá / Ferimentos em combate / Safins do Douro, Alijó / Cemitério de Bafatá, Campa 19, Guiné.

Júlio de Lemos Pereira Martins, Furriel / CCaç 797 / 02.08.65 / Rio Louvado / Ferimentos em combate / Ponte de Lima / Corpo não recuperado.

Manuel da Silva Gago, 1.º Cabo / CArt 644 / 15.08.65 / Mansoa / Acidente de viação / Fundão / Cemitério de Bissau, Campa 1884, Guiné.

Serafim dos Santos Cardoso Fernandes, Soldado / CArt 676 / 19.08.65 / Paunca / Acidente de viação / Rio Covo, Barcelos / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

José Manuel Mendonça, Soldado / CCaç 1439 / 30.08.65 / Xime / Ferimentos em combate / Santa Maria Maior, Funchal / Cemitério de Bissau, Campa 1952, Guiné.

Tolentino Gouveia, Soldado / CCaç1439 / 30.08.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate / Xime / Santo António da Serra, Machico, Madeira / Cemitério de Bissau, Campa 1926, Guiné.

José Augusto Silva Pereira, Soldado / CCav 678 /30.08.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate / Xime / Vilar da Maçada, Alijó / Cemitério de Bissau, Campa 1953, Guiné.

Dimas Joaquim da Graça Alves, Soldado / CCav 787 / 18.09.65 / Có Ferimentos em combate / Lapas, Torres Novas / Cemitério de Bissau, Campa 1958, Guiné.

Armando dos Santos Almeida, Soldado / CCaç 1423 / 06.10.65 /Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Queiriga, Vila Nova de Paiva / Corpo não recuperado. (**)

Armando Leite Marinho, Soldado / CCaç 1423 / 06.10.65 / Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Jugueiros, Felgueiras / Corpo não recuperado. (**)

Fernando Manuel de Jesus Alves, 1.º Cabo / CCaç 1423 / 06.10.65 / Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Leiria / Corpo não recuperado. (**)

José Ferreira Araújo, Soldado CCaç 1423 / 06.10.65 / Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Povolide, Viseu / Corpo não recuperado. (**)

Vasco Nuno de Loureiro de Sousa Cardoso, Alferes / CCaç 1423 / 06.10.65 / Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Belém, Lisboa / Corpo não recuperado. (**)

Manuel Geraldo Teixeira, Soldado / CCaç 1438 / 09.10.65 / Guilege / Ferimentos em combate / Santo Antão, Calheta, Açores / Cemitério de Bissau, Campa 1965, Guiné.

Diogo Amares Neves, Soldado / CCaç 797 / 19.10.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate / Tite / Paranhos, Seia / Cemitério de Bissau, Campa 2128, Guiné.

João Rodrigues Pereira, Soldado / CCaç 1422 / 25.10.65 / Cassum / Ferimentos em combate / Ester, Castro Daire / Corpo não recuperado.

Manuel Brito da Silva, Alferes / CCaç 622 / 25.10.65 / Cassum / Ferimentos em combate / Sazes da Beira, Seia / Corpo não recuperado.

Lino do Nascimento Amado, Soldado / CArt 730 / 01.11.65 / Estrada Jubembem-Canjambari / Acidente com arma de fogo / Marmelete, Monchique / Cemitério de Bissau, Guiné.

Nuno da Costa Moreira, 1.º Cabo / CCav 678 / 10.11.65 / Galomaro / Acidente de viação / Pedorido, Castelo de Paiva / Cemitério de Bissau, Campa 2038, Guiné.

José Luís Barbosa Cerdeira, 1.º Cabo / CCav 676 / 12.11.65 / S. João / Doença / Real, Castelo de Paiva / Cemitério de Bolama, Fila 5, Campa 22, Guiné.

Manuel Correia Pedro, Soldado / CCaç 1438 / 27.11.65 / Xitole / Ferimentos em combate / Velas, S. Jorge, Açores / Cemitério de Bissau, Guiné.

José Eugénio do Nascimento, Soldado / CCaç 1416 / 22.12.65 / Buruntuma / Ferimentos em combate / Piçarras, Castro Verde / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

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Notas de A. Marques Lopes:

(1) Achei estranho que os marinheiros da LFG Orion (e não LDG, como vem no livro da CECA, certamente por lapso) tivessem enterrado na margem do Cacheu um corpo. É que houve mais quatro recuperados, que foram enterrados nas suas terras de origem. Houve mais três “não recuperados” que lá ficaram no Cacheu. Contactado, o Lema Santos, que foi imediato da LFG Orion, disse-me que isso não seria normal. Deve haver qualquer equívoco. O Lema Santos sabe mais sobre esta situação.

(2) Há mais três mortos, dois sepultados na metrópole e um guineense. Nas Fichas das Unidades diz que foi “numa emboscada montada na estrada Boé-Gobige, em 30Jan65, em que causou elevado número de baixas ao inimigo”. Os batalhões, e as companhias, raramente falavam dos desaires, só dos sucessos...

(3) Houve mais um morto, soldado, enterrado na metrópole. Diz o livro da CECA que foi “explosão de mina com emboscada”.

(4) Houve mais outro morto, enterrado na metrópole.

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Nota dos editores:


(*) Vd. postes de:
30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)
(...) "Estes são os restos mais dolorosos da nossa passagem pela Guiné. Muito mais do que o que resta de abrigos e casernas. São placas de sepulturas no cemitério de Bissau, aquelas em que se pode ainda ler algumas letras ou números. Mais há, mas já nada se pode ler.
"Soube, em tempos, que chegou a haver uma comissão encarregada de fazer a trasladação dos corpos lá sepultados. Mas nunca funcionou, segundo sei. É pena, pois eles e as respectivas famílias mereciam. Ali, parece que só a família do Bacar Jaló tem tratado dele" (...).
2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1488: Vídeos (1): Reportagem da RTP sobre os talhões e cemitérios militares no Ultramar (Jorge Santos)
26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2687: Cemitério militar de Bissau: homenageando os nossos 350 soldados, uma parte dos quais desconhecidos (Nuno Rubim)
(...) "Aproveitando uma folga que me impus a mim próprio num dos dias em que decorreu o Simpósio Internacional de Guiledje, desloquei-me ao Cemitério de Bissau, onde repousam para sempre Camaradas nossos falecidos durante a guerra.
"O Cemitério tem três talhões destinados a militares, um à esquerda da porta de entrada, outro à direita e um mais central. Segundo o responsável (...), estarão lá mais de trezentas e cinquenta (?) campas, mas não me soube dizer o número exacto. Parece que os registos estão algures ..., mas não os do talhão esquerdo - homens que infelizmente nunca foram identificados !

"As campas estavam recém-caiadas, mas a sobreposição de várias camadas de cal tenderá, no futuro, a obliterar os nomes. Das unidades que comandei referenciei lá três militares da CCaç 726 e um da CCaç 1424 (...), o Soldado António Gonçalves dos Santos, caído em combate em 4 de Março de 1966, muito perto do cruzamento do corredor de Guileje" (...).

(**) Vd. poste de 4 de Agosto de 2007 >Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui Ferreira)


(...) Entretanto em Fulacunda, procedia-se ao rescaldo da operação. Formadas as Companhias já a meio da tarde, quando se começou a recear que mais ninguém conseguisse regressar, contavam-se os efectivos.- Seis! Faltavam seis homens! Dois da 1420 (o Alferes Vasco Cardoso e o Soldado-telefonista n.o 1020/64 Armando Leite Marinho)e quatro da 1423(o 1.° Cabo Fernando de Jesus Alves e os Soldados José Ferreira Araújo, Armando Santos e José Vieira Lauro. (...)

(***) Fonte: Tomo II, Guiné - Livro 2, do 8º Volume, Mortos em Campanha, da autoria de CECA - Comissão para o Estudo das Campanhas de África. Editado em 2001 pelo Estado Maior do Exército.

(****) Vd. poste de 28 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2799: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (1): De 1963 a 1964 (A. Marques Lopes)

quinta-feira, 13 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2629: Fórum Guileje (3): A Marinha esteve como peixe dentro de água no CTIG, e teve um papel logístico fundamental (Pedro Lauret)

Guiné-Bissau > Bissau > Palace Hotel > Simpósio Internacional Guiledje na Rota da Independência da Guiné-Bissau > 4 de Março de 2008 > Painel 1 (Guiledje e a Guerra Colonial / Guerra de Libertação) > Intervenção de Pedro Lauret, dirigida à mesa, e mais concretamente a Manuel dos Santos, ou Manecas, antigo comandante militar do PAIGC, que fez um comunicação sobre Amílcar Cabral e a componente militar do PAIGC: achegas para a compreensão dos meandros estratégicos e tácticos da guerra de libertação nacional.

Vídeo: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > Pedro Lauret foi o único represente da Marinha no simpósio, pelo lado dos ex-combatentes portugueses. Como orador, fez uma comunicação, no dia 5 de Março, no âmbito do painel 2 (Guerra colonial / luta de libertação nacional: problematização conceptual, contextualização histórica e importância historiográfica), subordinada ao título A Marinha no Teatro de Operações da Guiné: Guiledje e Gadamael, Maio-Junho de 1973, o papel da Marinha (1).
Sinopse da comunicação:

A Guiné, atravessada por uma multiplicidade de rios e braços de mar, com uma rede viária escassa será um Teatro de Operações privilegiado para a actuação da Marinha. Mais de 80% de todo o reabastecimento será efectuado por via fluvial. A evolução dos meios navais, as missões as potencialidades e as dificuldades, encontradas no teatro de operações. A missão hidrográfica, os levantamentos e as cartas hidrográficas, a balizagem e a farolagem. Os fuzileiros navais. A partir de Maio de 1973 com as dificuldades sentidas pela Força Aérea, a Marinha irá ser chamada a um maior esforço apesar das grandes dificuldades em meios. A Marinha e o Inferno dos 3 G’s – Guiné, Maio-Junho 1973.

Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > 1971 ou 1972 > Pedro Lauret, oficial imediato do NRP Orion (1971/73), na ponta do navio, a navegar no Cacine, tendo a seu lado o comandante Rita, com quem fez a primeira metade da sua comissão na Guiné. "Um grande homem, um grande comandante" (PL).

Foto: © Pedro Lauret (2006) . Todos os direitos reservados.

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2 de Março de 2008 > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > Os tugas de volta a Cacine, outrora um importante baluarte no sistema de defesa do Rio Cacine contra as infiltrações e ataques do PAIGC. Foi sede do Destacamento de Fuzileiros Especiais 22. Hoje, é uma terra com ar desolado e decadente. Partimos de Cananima, do outro lado do rio, num barco de pesca, depois de um belíssimo almoço onde não faltou o saboroso e fresquíssimo peixe local. Embarcados, éramos um grupo de 30 participantes do Simpósio. O nosso capitão de mar-e-guerra ficou em terra a planear as eventuais operações de socorros a náufragos. Na foto, o regresso ao barco, depois de uma duas horas em Cacine: em primeiro palno, o jornalista do Correia da Manhã, correspondente em Guileje, José Marques Lopes, seguido da Júlia, esposa do Coronel Nuno Rubim, e da Diana Andringa...

Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

Pedro Manuel Cunha Lauret Saldanha e Albuquerque - CV abreviado:

(i) É capitão-de-mar-e-guerra na situação de reforma.

(ii) Nasceu em Lisboa, a 23 de Janeiro de 1949.

(iii) Efectuou os estudos secundários no Liceu Camões (1960/67), em Lisboa, onde foi dirigente da Acção Católica (JEC), participando em movimentações estudantis.

(iv) Entrou para a Escola Naval em 1967, tendo terminado o curso de Marinha em 1971.

(v) Foi um dos fundadores, em 1970, de uma organização política clandestina de Oficiais da Armada.

(vi) Em Setembro de 1971 iniciou uma comissão na Guiné, como oficial imediato da Lancha de Fiscalização Orion, exercendo uma intensa actividade operacional até Agosto de 1973; participou no início das operações conhecidas pelo cerco a Guidaje em Maio de 1973, e nesse mesmo mês e seguinte nos acontecimentos de Guileje e Gadamael.

(vii) Em Outubro de 1973, já no continente, efectuou os primeiros contactos com o Movimento dos Capitães, por designação de um grupo de oficiais da Armada.

(viii) Fez parte da comissão que redigiu o Programa do Movimento das Forças Armadas, e outros importantes documentos – em conjunto com Vítor Alves, Melo Antunes, Franco Charais, Vítor Crespo, Almada Contreiras.

(ix) Após o 25 de Abril integrou o gabinete do Almirante Pinheiro de Azevedo, Chefe do Estado-Maior da Armada e membro da Junta de Salvação Nacional.

(x) Faz parte da Comissão Coordenadora do MFA Armada, da Assembleia do MFA Armada e Assembleia do MFA Nacional.

(xi) Em 1976, especializou-se em sistemas de armas, embarcando em 1977 como chefe de serviço de Artilharia na fragata Comandante Roberto Ivens, participando em numerosos exercícios nacionais e no âmbito NATO.

(xii) Desembarcou em 1979 vindo a desempenhar funções técnicas no Gabinete de Estudos da Direcção Geral do Material Naval onde foi nomeado para a frequência de numerosos cursos no âmbito da electrónica, sistemas digitais e informática.

(xiii) Em 1981 concluiu uma pós graduação em Estratégia e Organização, no Instituto Superior Naval de Guerra.

(xiv) Em 1983, em comissão civil, exerceu as funções de engenheiro no Grupo de Oficinas de Armamento e Electrónica do Arsenal do Alfeite, acumulando com Chefe de Serviço de Informática do Arsenal.

(xv) Em 1986 passou à reserva e depois à reforma, iniciando actividade empresarial no âmbito
da engenharia e consultoria informática.

(xvi) Foi Membro fundador da Associação 25 de Abril, integrando actualmente a sua Direcção.

(xvii) Coordenou a equipa que produziu o site da Associação 25 de Abril e dirige, actualmente, no mesmo âmbito, um site sobre a Guerra Colonial.

(xviii) Dirige um projecto de investigação histórica designado Marinha: do fim da segunda Guerra Mundial ao 25 de Abril de 1974, que conta com o apoio do Chefe do Estado Maior da Armada.

(xix) Foi agraciado com o grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade.

Fonte: Site oficial do Simpósio Internacional de Guiledje > Oradores > Pedro Lauret

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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores desta nova série, Fórum Guileje:

12 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2626: Fórum Guileje (1): E Cameconde ? Cabedu ? E a nossa Marinha ? (Manuel Lema Santos / Jorge Teixeira / Virgínio Briote)

12 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2628: Fórum Guileje (2): Nunca uma guerra foi feita de uma só batalha (Mário Fitas)

(2) Postes do nosso amigo e camarada Pedro Lauret:

1 de Outubro de 2006> Guiné 63/74 - P1138: 'Siga a Marinha': uma expressão do tempo da República (?) (Pedro Lauret)

5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1231: Estórias avulsas (5): Rio Cacheu: uma mina aquática muito especial (Pedro Lauret)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1300: O cruzeiro das nossas vidas (3): um submarino por baixo do TT Niassa (Pedro Lauret)

29 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1393: Saudações tertulianas na chegada do novo ano de 2007 (1) : Luís Graça / Pedro Lauret

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1590: O sacrifício dos oficiais do quadro permanente (Pedro Lauret)

18 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1767: Spínola e Senghor encontram-se na região de Casamance em 1972 (Pedro Lauret)

27 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2222: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (4): Aspectos positivos e negativos (Pedro Lauret)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2330: A Marinha e a Força Aérea nas terras do Cantanhês (Mário Fitas, CCAÇ 763)

1. Mensagem do Camarada Mário Fitas, de 2 de Dezembro

Assunto - Os Marinheiros e os seus Navios

Caro Luís,

Corpo di bó, tá bom?

É verdade, há já alguns dias que tenho andado desenfiado. Mas só em termos de escrita, pois o trabalho de pesquisa e contactos continuam.

Como ainda sou "blufo" no Blogue, tenho andado a ver coisas para trasmente e tem sido de grande utilidade.

Vou ver se consigo falar com o Benito, para se fazer o levantamento das operações em conjunto das CCAÇ 763 e 1484.

Ao ler o Post Guiné 63/74 – DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (1), vi a correspondência trocada entre o Moura Ferreira da CCAÇ 1621 – substitutos da CCAÇ 763 em Cufar - e o Lema Santos sobre um ataque ao Orion ao largo de Cadique, em 8 de Maio de 1966.



Orion com as marcas da Guerra assinaladas. Foto de M. Lema Santos.

Fui aos meus canhenhos, e lá está: “O 2º. Grupo de combate (o meu) montou segurança a um comboio naval no Cais de Impungueda e o Pel Art a pedido das F.N. flagelou Cafal”.



O 2º Gr Comb da CCAÇ 763 em Impungueda no dia em que o Lema Santos descreve o ataque ao Orion. O chefe dos Vagabundos (Mário Fitas, o 1º da esquerda) com o Manuel Ferreira (o homem que fazia tiro instintivo com a MG42, e que foi evacuado com hepatite, nunca mais soube deste meu maravilhoso companheiro). Do lado direito, o meu Cabo Piçarra, cacimbado de Beja, grande amigo. Foto de Mário Fitas.

A narração da verdadeira Guerra vai-se completando. Não há hipóteses de engano, o cruzamento está feito.

Assim sendo, aqui vai mais uma aventura dos Lassas de Cufar, na esperança, que o Lema Santos saiba alguma coisa sobre quais foram as LDM e a LFG que safaram o enrascanço. Porque da parte da F. Aérea, o Victor Barata já me deu uma boa pista, sobre os pilotos respectivamente do T6 que aterrou de emergência em Cufar, Alf. Pilav. Ribeiro e o parelha Ten. Cor. Pilav. Lopes Pereira.

Narra assim, a História da CCAÇ 763:

17 de Setembro de 1965 – A Companhia a 3 Gr Comb colaborou na operação Retorno, planeada para aniquilar o IN referenciado no novo acampamento localizado em Flaque Injã, tendo embarcado pelas 24h00 no cais de Impungueda em 2 LDM.

Pelas 1h25 a Companhia desembarcou na bolanha imediatamente a oeste de Caboxanque, rapidamente progredindo e ultrapassando esta tabanca e a de Flaque Injã internando-se na mata a leste desta. Era intuito da Companhia dirigir-se ao antigo acampamento, destruído no decorrer da operação Satã, que constituiria o 1º objectivo a alcançar.

Durante a progressão dentro da mata foram emboscados 5 elementos IN, dos quais 2 foram aprisionados, indicando a existência do novo acampamento. Este foi imediatamente detectado e quando a Companhia montava o dispositivo para atacar, o IN rompeu fogo com armas ligeiras fazendo uso de cartuchos com bala tracejante. Apesar da forte resistência oposta, as NT conquistaram o acampamento repelindo o IN que atacou imediatamente e a quem causaram 6 baixas e apreenderam diverso material.

Depois de batido o local a Companhia dirigiu-se em direcção a Caboxanque surpreendendo um numeroso grupo IN que atacou imediatamente causando-lhe mais 2 mortos e apreendendo uma ML, uma pistola e munições. Posteriormente, quando junto ao rio e aguardando reembarque, a Companhia foi atacada por um grupo entre 100 a 200 IN que tentaram a aproximação fazendo uso de armas ligeiras MP e LGF. As nossas tropas ripostaram. Considerado, porém, o elevado número de elementos IN foi pedido o apoio da FAP que flagelou duramente as posições do adversário.

Um dos T6 foi atingido com 17 impactos, pelo que teve de aterrar de emergência em Cufar. Após um demorado contacto, e com reforço de 2 LDM e da vedeta que entretanto chegaram ao local, o IN foi reduzido ao silêncio e repelido, permitindo desta forma o reembarque da Companhia.


Nota:

Segundo os nossos informadores, seria uma Companhia do Exército Popular (FARP), comandada pelo Comandante Nino. Seria? Aqui já não pode haver informações. Só do outro lado.

Continuando:

Ontem, dia 1 de Dezembro, estive num almoço tradicional rememorando Vila Fernando, a minha pequenina mas bela aldeia do Alentejo. Não me é possível deixar de escrever aqui um momento que me comoveu, mas que me encheu de orgulho, quando o capitão Rui Baixa, meu companheiro de brincadeiras de criança, me descreveu, como - ainda primeiro sargento - com o seu cabo escriturário, em Guidaje, limparam as campas dos Páras ali sepultados, e de tábuas dos caixotes do bacalhau fizeram cruzes para assinalar que os Portugueses nunca seriam esquecidos. Orgulho-me deste Homem Grande da Planície.

Como na Pami, o formigueiro vai abrindo novos caminhos.

Quem quiser que saiba beber desta inesgotável fonte que é a Tabanca Grande.
Do tamanho do Cumbijã, o abraço de sempre.

Mário Fitas

2. Nova mensagem do Mário Fitas, em 3 Dezembro:

Olá, Briote,

(...) É verdade, toda a operação por mim transcrita da História da CCAÇ 763, tem a ver com o T6 e o envolvimento do Dakota.

Não há nada escrito na História da Companhia, mas as descrições nos dias seguintes demonstram, de facto, a grande actividade da CCaç 763. Pois, a mata de Cufar Nalu, as tabancas a Sul e estrada e cruzamento para Catió eram patrulhadas, pelo que está escrito com dois grupos de combate sempre fora, e o Pelotão de Artilharia a flagelar Flaque Injã, Caboxanque, Cadique Iála e Cadique Nalu.

Mas eu vou tentar descrever o que a memória vai buscar. Recordo perfeitamente que o Dakota ia levar um motor para o T6 e o equipamento necessário para a sua colocação. Só que em Setembro ainda é época de chuvas na Guiné. A pista de Cufar era na altura a melhor pista de todo o Sul, mandada fazer pelo Sr. Camacho, dono da quinta de Cufar e terá sido inaugurada pelo Gen Craveiro Lopes em 1955. Em terra batida, tinha uma certa consistência.

O Dakota fez-se à pista de poente para nascente, ou seja sobre o ilhéu de Cantone para Cufar, mais propriamente do fim da pista para a porta do aquartelamento rolando naturalmente. A determinada altura a roda esquerda do trem de aterragem foi deixando um rasto e enterrando-se na pista, até que a aeronave adornou um pouco e afocinhando, enterrou as hélices no chão.

O Dakota enterrado na pista de Cufar (o Mário Fitas é o 1º da direita). Foto do Mário Fitas.

Isto tudo poderá ser confirmado com mais pormenores por algum camarada ou, inclusive, pessoal da FAP que, pertencente à BA12, se deslocou para Cufar, para reparar tudo.

Pelo exposto, as fotos do T6 e do Dakota estão de facto relacionadas com a operação Retorno, de 17 de Setembro de 1965. E acho que têm cabimento na descrição.

Estou à espera que o Carlos Filipe me forneça mais alguns dados sobre os cães, pois ele é que chefiava a secção de cães. Assim que tiver o material envio.

Um abraço do tamanho do Cumbijã,
Mário Fitas

PS - O assunto também inclui agora a malta da FAP. Era tudo boa gente, e para nós extraordinário sabermos que havia sempre alguém que dava uma ajuda quando havia enrascanço.
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Notas de vb:

(1) Vd.posts do Manuel Lema Santos:

25 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (Lema Santos)

13 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1842: 10 de Junho: Nós também estivemos lá (A. Marques Lopes / Lema Santos)

21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos

16 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1665: Operação Larga Agora, Tancroal, Cacheu, local maldito para a Marinha (Parte I) (Lema Santos)

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1586: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (2): Lema

7 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1571: A Operação Larga Agora, o Tancroal / Porto Batu e as cartas náuticas do Instituto Hidrográfico (Lema Santos)

11 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1420: O cruzeiro das nossas vidas (5): A viagem do TT Niassa que em Maio de 1969 levou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Manuel Lema Santos)

21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos