Queridos amigos,
Como tem sido largamente referenciado aqui no blogue, a Fundação Mário Soares possui um arquivo histórico exemplar de consulta obrigatória, quem vai ao sítio da Fundação e procura “A Casa Comum” sai mais esclarecido.
A cooperação com a Guiné-Bissau tem sido profícua no restauro de diferentes materiais de incontornável valor histórico, e a Fundação tem-se associado a projetos como o do inventário da arquitetura durante a presença colonial, como aqui se refere.
Resta dizer que o livro de fotografias “Raízes”, que encerra preciosas imagens restauradas de fotografias que foram publicadas no Boletim Cultural da Guiné-Portuguesa ainda está à venda ao preço módico de 7 euros.
Um abraço do
Mário
Duas publicações sobre a Guiné na Fundação Mário Soares
Beja Santos
Raízes, o olhar da etnografia em tempos imperiais
A calamitosa Guerra Civil de 1998-1999 refletiu-se brutalmente no património histórico e documental da Guiné-Bissau. As instalações no INEP-Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, que acolhera o património do Museu da Guiné Portuguesa, desde escultura, passando por cartografia, biblioteca até material fotográfico, foram ocupadas e transformadas numa base militar cerca de um ano que durou a Guerra. As instalações, para além de alvo de bombardeamentos, foram depredadas pelos efetivos senegaleses que utilizavam precioso material histórico para fazer fogueiras. O salto foi arrasador, mais de 60% dos acervos documentais da única biblioteca e arquivo histórico foi severamente atingido. Em consequência, a Fundação Mário Soares estabeleceu um protocolo para a recuperação de muito desse arquivo do Museu da Guiné Portuguesa / Centro de Estudos da Guiné Portuguesa. Recorde-se que um dos documentos mais importantes que se produziu entre 1946 e 1973 foi o Boletim Cultural, hoje completamente digitalizado e disponível on-line no site “Memória de África”, em http://memoria-africa.ua.pt/.
Da recuperação destas fotografias que tinham sido utilizadas no Boletim Cultural fez-se uma seleção e a exposição intitulada Raízes. O projeto de recuperação destinava-se a salvar 3374 negativos a preto e branco, 1212 provas a preto e branco, incluindo fotografias referentes à luta de libertação. Fez-se limpeza e expurgo, reprodução digital em boa resolução e o respetivo restauro. Tive a felicidade de visitar esta exposição em novembro de 2010, no INEP, na companhia do seu Diretor de então, Dr. Mamadu Jao, entregara-lhe um presente de valor, em nome do blogue, uma coleção integral das cartas da Guiné, que todos os militares usavam ou conheciam.
A exposição optou por apresentar imagens de homens e mulheres da Guiné-Bissau na sua faina diária ou nas circunstâncias em que se reuniam. Podemos dizer, muitas décadas depois de terem sido tiradas, que encontramos e reconhecemos as raízes de muitas das etnias do país, identificamos com mais ou menos facilidade os seus usos e tradições. O que aqui se mostra são alguns exemplos dessa altíssima qualidade fotográfica de um álbum que qualquer um de nós pode adquirir a preço módico na Fundação Mário Soares.
Mestre muçulmano a instruir os seus alunos.
Balantas trabalhando na construção de um orique.
Rapazes Felupes com trajes e armas tradicionais.
Tatuagem de rapariga Manjaco, região de Cacheu.
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A arquitetura colonial e sítios históricos da Guiné-Bissau
A exposição Urbanidades – Arquitetura e sítios históricos da Guiné-Bissau, de iniciativa da Fundação Mário Soares e do Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território do ISCTE-IUL, resultou de um levantamento elaborado pela arquiteta Ana Milheiro e equipa, rastrearam por todo o país exemplares da ocupação colonial, logo a fortaleza de Cacheu, a fortaleza da Amura, vestígios da soberania portuguesa em Bolama onde operou o engenheiro de minas José Guedes Quinhones que também traçou os planos da nova cidade de Bissau, deve-se-lhe o plano urbanístico de 1919.
Escreve-se no texto da exposição que “A segunda metade do século XX corresponde ao arranque da consolidação urbana na maioria dos núcleos urbanos guineenses graças a uma arquitetura de representação que ocupa localizações proeminentes, este processo está ligado à actuação do Gabinete de Urbanização Colonial criado em Lisboa, em 1944, por Marcello de Caetano, então Ministro das Colónias.”
A exposição permite visualizar o que era essa cidade nova, o zonamento que delimita em áreas específicas da cidade as funções residencial, hospitalar, desportiva, escolar, militar, etc.
Uma palavra sobre a arquitetura tradicional. Na última fase do período colonial, multiplicaram-se as missões aos habitats tradicionais, tudo começou com o levantamento coordenado por Teixeira da Mota, A Habitação Indígena da Guiné-Portuguesa, equipas de arquitetos irão procurar pôr de pé um novo protótipo da casa guineense, proposta que nunca será concretizada. A exposição aludia a Cacheu, à fortaleza de S. José da Amura, mostrava o património arquitetónico com mercado municipal, monumentos, edifícios ligados à administração, residências para funcionários, instalações escolares e hospitalares e outros. Também eram contemplados os núcleos fora de Bissau como Gabu e Mansoa, mostrou-se com destaque o edifício dos CTT no centro de Bissau, a antiga Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (hoje sede do PAIGC) e a Administração do Porto de Bissau apresentado como um exemplar da arquitetura tropical.
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Nota do editor
Último poste da série de 8 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18905: Historiografia da presença portuguesa em África (126): Exposição Colonial do Porto, 1934: imagens inéditas para o nosso blogue (Mário Beja Santos)