Mostrar mensagens com a etiqueta Vasco Pires. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Vasco Pires. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16663: In Memoriam (268): Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72), acaba de morrer, em Porto Seguro, Brasil (Pedro Araújo, seu afilhado)


Vasco Pires, natural de Anadia, ex-cmdt do 23.º Pel Art (Gadamael, 1970/72), emigrante no Brasil desde 1972. Morreu hoje em Porto Seguro.


1. Mensagem de Pedro Araújo. com data de hoje, às 19h24:

Caro Sr. Luis Graça.

Faleceu em Porto Seguro esta noite (31/10/2016),  de enfarte, seu camarada Vasco Pires. Como sei que era participante em seu blog,  sinto-me no dever de o informar do sucedido.

Seu afilhado.
Pedro Araújo.


2. Comentário do editor LG:

Meu caro Carlos Vinhal, editor do Vasco Pires:

Acabo de ser surpreendido com a notícia da morte, súbita, do nosso camarada e amigo Vasco Pires, "teu afilhado" (como ele gostava de dizer, com delicadeza, ternura e bom humor, considerando que tu eras o"padrinho" dele no blogue, porque o acolheste e o apresentaste à Tabanca Grande e lhe editas a sua série "Fantasmas... e Realidades do Fundo do Baú")...

Vamos fazer de imediato um poste, "in memoriam"... Se quiseres e puderes acrescenta qualquer coisa mais da tua lavra... Recordo que ele era um apaixonado pelas suas raízes bairradinas  e que fora para o Brasil em 1972, depois do regresso da Guiné... 

Mas não temos grandes dados biográficos sobre ele: família, amigos, negócios... Mas, ao certo ao certo em que concelho da região da Bairrada nasceu: Anadia ? Águeda ?...Sei que estudara em Coimbra, mas desconheço a vida dele no Brasil, que terá começado em São Paulo. Não sabemos o ano exato em que nasceu,  talvez entre 1945 e 1948... Sabemos o nome da sua companheira, Maria Helena, psicóloga clínica...

A trágica notícia é dada pelo afilhado, Pedro Araújo, a quem agradeço, comovido, o seu gesto (que é também de gratidão e apreço pelo seu padrinho e pelos seus camaradas de armas)...

Sabemos que morreu de morte súbita, em Porto Seguro, mais perto das suas raízes...Foi aqui que em 1500 os portugueses aportaram, quando chegaram às terras do Novo Mundo. Porto Seguro, a 4000 km da sua Gadamael, na região de Tombali, Guiné-Bissau, onde foi um brioso artilheiro, comandante do 23º Pel Art, entre 1970 e 1972; e a 7000 mil da sua Bairrada querida, e do seu Portugal sofrido...

Estou desolado, estamos desolados, tu e eu. Ambos testemunhamos que o Vasco era uma presença, discreta mas constante, no nosso blogue. Tem 60 referências, afora muitas dezenas de comentários (que é preciso revisitar).

À família mais próxima, à sua companheira Maria Helena, e aos seus amigos, a todos eles na pessoa do afilhado Pedro Araújo (que agora é o nosso contacto com Porto SEguro), a Tabanca Grande, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, quer transmitir toda a sua solidariedade na dor.

O Vasco, que era a gentileza em pessoa, apesar da distância (física) que nos separava, era um ser humano de grande estatura e um extraordinário camarada, de quem começamos já a ter saudades.

Até sempre, camarada!...
Gadamael, presente!
23.º Pel Art, presente!
Tabanca Grande, presente!,
Brasil e Portugal, presentes!...

O editor
Luís Graça



Guiné > s/l > 1970 > Uma "selfie" ("avant la lettre"...) do Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; bairradino, vivia no Brasil desde que acabou a comissão de serviço no CTIG... Sempre longe tão perto de nós, como ele gostava de nos dizer...




Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72, o primeiro à esquerda, de óculos escuros, no final da comissão, em Ingoré, região do Cacheu, 1972.


Fotos (e legendas): © Vasco Pires (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


 3. Um camarada grato à Tabanca Grande



Caro Luis,

As palavras são de justiça, e agradecer não há que; não estou mitificando ninguém, a mim parece óbvio que a equipa que você lidera, presta relevante Serviço à nossa tão injustiçada geração.

Falando em justiça, não posso deixar de "confessar" a minha dívida pessoal, com duas pessoas, cada uma a seu modo, que me guiaram e incentivaram, nesses por vezes tão íngremes e tortuosos caminhos da memória; e só nós sabemos, que o "caminho da memória" dos veteranos de guerra, por vezes é ainda mais tortuoso que o do comum dos mortais.

A Maria Helena, minha companheira do pós-guerra, que é psicóloga clínica, foi quem me guiou com datas e factos que já estavam "jogados" no subconsciente, e me incentivou a essa catarse. E o camarada Carlos Vinhal, quem me recebeu nesta GRANDE TABANCA, criou até o caminho para os FANTASMAS saírem, e sempre me incentivou a encaminhá-los para o papel.

As palavras, como disse acima, são de JUSTIÇA e GRATIDÃO.

Forte abraço a todos

Vasco Pires


4. Comentário do coeditor CV.

Nesta época já de si nada alegre, uma notícia como a de hoje cala bem fundo em que estava habituado àquelas mensagens, curtas e concisas, que invariavelmente começavam por: Bom dia Padrinho, Cordiais saudações...

A última mensagem de trabalho, que guardo do meu afilhado é de 13 de Maio passado. O assunto era Fundo do Baú (revisitado), referente à sua série Fantasmas... e realidades do fundo do baú.

Quando se levantavam dúvidas na edição dos postes, deixava ao "meu exclusivo e avalizado critério" a escolha da melhor solução.

Refere o Luís a sua delicadeza, ternura e bom humor, o que confirmo após quase 5 anos de contacto. Os seus comentários, sempre correctos e oportunos, vinham no sentido de tentar esclarecer ou completar ideias ou acontecimentos, nunca depreciando qualquer camarada, mesmo os que davam palpites na área em que ele se sentia mais à vontade, a artilharia, aquela que usava obuses e peças, não a nossa, a da G3.

O Vasco vai para a equipa dos que partiram, mas não sem antes deixar o seu valioso contributo no nosso Blogue.

Pela minha parte, agradeço ao seu afilhado Pedro Araújo o nobre gesto de nos dar a notícia, que não queríamos receber, do seu falecimento. Peço-lhe que seja portador, junto da família, do nosso pesar pela perda do seu ente querido e do desgosto destes velhos combatentes pela perda do seu camarada e amigo Vasco Pires, de quem se orgulham. 

Carlos Vinhal
Coeditor
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de outubro de  2016 > Guiné 63/74 - P16653: In Memoriam (267): gen pilav ref Francisco Dias da Costa Gomes (BA12, Bissalanca, 1967/68, cmdt do Grupo Operacional 1201)... Foi o primeiro piloto de Fiat G-91 a ser abatido, em 28/7/1968, sob os céus de Gandembel (José Matos, investigador independente em história militar)

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16232: Inquérito 'on line' (55): A nossas queridas lavadeiras... (Foto: Jorge Pinto / Comentários: Henrique Cerqueira / José Diniz de Sousa Faro / Vasco Pires / António J. Pereira da Costa)




Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Lavadeiras na Fonte antiga.

"Todos os soldados tinham a sua lavadeira. A lavagem da roupa era feita na tabanca com água retirada através do único furo, feito por uma companhia de caçadores estacionada em Fulacunda em 68/69 [ou melhor, 69/70], e que penso chamar-se “Boinas Negras” [ CCAV 2482, "Boinas Negras", subunidade que esteve em Fulacunda entre 30 de Junho de 1969 e 14 de Dezembro de 1970, data em que foi rendida e partiu para Bissau]. 

" Contudo, quando havia muita roupa para lavar, as lavadeiras deslocavam-se à fonte antiga, que se localizava na parte exterior do aquartelamento e portanto sujeita a “surpresas” [, acções do IN]."

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]


A. Quatro  comentários aos poste P16229 (*)

Henrique Cerqueira  > 
"As lavadeiras também marcaram 
a nossa passagem pela Guiné"

Já tive aqui a oportunidade de escrever sobre as Lavadeiras na Guiné.

Tenho muito gratas recordações de todas as lavadeiras que encontrei. No entanto a que mais me marcou foi a lavadeira que tive em Bissorã.

Seu nome era Amélia. Era uma linda mulher, muito sensata e sempre bem disposta. Mais tarde quando a minha mulher (Ni) e meu filho Miguel se juntaram a mim em Bissorã,  a Amélia continuou a ser a nossa lavadeira e tornou-se grande amiga e até confidente da minha mulher. Pois que a Amélia era uma mulher muito educada e bastante esclarecida.

Não deixa de ser uma classe muito marcante durante a nossa comissão,pois que era um momento sempre esperado pelos militares a "hora das lavadeiras" quando iam aos aquartelamentos recolher as roupas para lavar.

Fosse qual fosse a intenção da malta, o que é certo é que eram momentos quase sempre de alguma alegria e de grande converseio com todas aquelas senhoras que, à hora certa,  lá apareciam em bandos e se espalhavam pelo aquartelamento.

Não haverá dúvidas que foram pessoas que também marcaram a nossa passagem pela Guiné.


José Diniz Carneiro de Sousa e Faro > 
"O preço da lavadeira era conforme o posto"


Em Cameconde onde estive um ano (de abril de 1968 a junho de 1969). , tive uma Lavadeira, esposa de um milícia de Cacine. 

O resto de tempo eram as esposas do meu pessoal que era de incorporação da Guiné. 

Em Bissau no QG eram aquelas que apareciam na messe dos Sargentos. As esposas dos meus camaradas do pelotão eram cuidadosas, nunca faltou um botão;  já em Bissau faltavam sempre os botões. 

O preço era consoante o pré: para o soldado mais barato, para  cabo mais caro; e depois sargento e oficial... Pelo menos em Cacine, Guiné 68/70


Vasco Pires > 
"No pelotão de artilharia, em Gadamael, 
herdei o ordenança e a lavadeira"


A rendição individual na Artilharia, muitas vezes era complicada (a minha inclusive); "a linha de montagem de Artilheiros" de Vendas Novas,por vezes não dava conta.

Foi o caso do meu antecessor em Gadamael,quando cheguei, estava desesperado para ir para casa.
Deveria me passar o Pelotão (material, estoque de granadas...etc.),a pressa era tanta, que só me apresentou os Furriéis e me passou o ordenança e a lavadeira.

Daí, dá para avaliar a importância da lavadeira naquele contexto. 


António J. Pereira da Costa > 
"Numa terra com tantas dificuldades, 
lavadeira era uma profissão 
que permitia aumentar o peculium familiar... 
Espero que o PAIGC não as tenha tratado 
como colaboracionistas""

Olá Camaradas

Para o irmão Kó-kósha um abraço especial.

Era realmente assim, em Cacine/Cameconde o preço a pagar era função do posto. Muito democrático e socialmente justo, portanto.

Partilhei a lavadeira com o capitão  da companhia. Era uma empresa familiar: às vezes vinha a Matilde que se queixava do Alfero Comprido que lhe dizia: Àbó é runho! Bó suma trutruga, À bó futucêro. À bó quer come mim

Vendeu-me um colar de conchas por 10 pesos. Quando lho pedi começou a desconversar, mas depois vendeu-mo e a Isabel ainda o tem.

Outras vezes vinha uma caboverdeana velhota que fazia um pitch-pach verdadeiramente espectacular.

Outra vezes a mulher do alfaiate que o PIDE prendeu e interrogou. A caboverdeana baixinha e velhota, cujo nome não recordo, era avó da Ami Silá, uma menina que tinha medo de mim e com quem nunca cheguei nem à fala.

No Xime,  era a Maria, viúva de um furriel dos Cmds Africanos e mãe do Balantazinho que jogava ori contra mim.

Em Mansabá,  era a Mariama, a quem eu dizia: dia ku muir cá tacompanhau interra. Nunca me faltaram os botões e a roupa da Isabel também foi bem tratada.

Espero que nenhuma tenha sido tratada como "colaboracionista" pelos guerrilheiros do PAIGC.

Numa terra com tantas dificuldades, lavadeira era uma profissão que permitia aumentar o peculium familiar...
____________

Nota do editor:

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16218: Dossiê Guileje / Gadamael (28): A situação de Gadamel, ao tempo da CCÇ 2796 (1970/72), que teve dois grandes comandantes, Cap Op Esp Fernando Assunção Silva e Cap Art António Carlos Morais Silva (Vasco Pires, (ex-Alf Mil Art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

1. Mensagem de 4 do corrente do nosso camarada da diáspora, Vasco Pires (ex-Alf Mil Art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72):

Assunto - Tempo de antena

Boa tarde Padrinho, Carlos Vinhal, Cordiais saudações. 
Tendo lido os rasgados (e acredito merecidos) elogios ao Senhor Tenente-General  [António Martins de Matos] (*), escrevo este, para dar uma modesta sugestão: publicar como post os meus últimos comentários sobre o Senhor Coronel Morais Silva, até para os Camaradas que não o conheceram, saberem que não se trata de qualquer um que andou passeando os galões pelos trópicos, mas sim de um Oficial com "obra feita" como Comandante operacional, e se isso não fosse suficiente, Professor da Academia Militar e Capitão de Abril. 
Esse é o meu pedido, que submeto à avalizada decisão dos editores.

Forte abraço.
VP


2. Segunda mensagem com data de 12 do corrente:

Assunto - Situação de Gadamael 1970/72
Bom dia Carlos /Luís,
Cordiais saudações,

Nestes tempos de comunicação em rede, quando alguém publica uma informação, verdadeira ou falsa, logo uma "multidão" a repete, muitas vezes, sem qualquer verificação.

Quando alguém fez o relato dos acontecimentos de 73, ajuntou a afirmação de que raramente Gadamael era atacada, provavelmente comparando. Então, quando alguém quer discorrer sobre Gadamael, repete a mesma afirmação.

É direito e obrigação dos intervenientes, restaurarem a realidade dos factos. Foi o que fez recentemente o senhor Coronel A. C. Morais Silva, à época Comandante Operacional do aquartelamento de Gadamael, que passo a citar:  

"...em dezembro 70, a CCAÇ Ind 2796 (em início de comissão) foi flagelada em 16, atacado o aquartelamento em 20 (uma hora), e flagelada no dia 30. ~

"Destas ações resultaram 2 baixas nas NT e 16 na POP. Em janeiro de 71, ataques em 8, 10, 11 e 28. Combate próximo em 5 e 24 ( morte do cmdt comp.capitão inf. Assunção Silva). (**)

Em 6/7 de fevereiro de 71 o aquartelamento é flagelado durante 3 (três!) horas repetindo em 28 de fev. Neste período a companhia teve 9 baixas (ver no P7756 o estado da companhia em fins de janeiro de 71...).(**)

"Nos treze meses de estadia em Gadamael, a CCaç 2796, teve 5 mortos e 26 feridos, foi flagelada 25 vezes e teve 5 contactos com o IN."

"Reafirmo que a pressão exercida pelo PAIGC de Dez de 70 a Mar 71, buscava a queda de Gadamael e a consequente queda de Guileje. Não o conseguiu, porque a guarnição de Gadamael, apesar dos momentos difíceis que viveu, manteve a posse da posição, a segurança da população, o apoio logístico a Guileje, e a liberdade de movimentos do setor. "

Solicito publiquem, para que fiquem registados os factos; assim, qualquer um pode fazer as comparações que lhe aprouver!!!

Forte abraço
Vasco Pires
Ex-soldado de Artilharia
Gadamael (***)
_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16152: FAP (95): de Gadamael a Kandiafara… sem passaporte nem guia de marcha (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)


domingo, 22 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16121: Dando a mão à palmatória (29): Fundo do Baú revisado, ou a foto onde posso não estar (Vasco Pires, ex-Alf Mil do 23.º Pel Art)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 13 de Março de 2015:


FUNDO DO BAÚ REVISADO

Bom dia Padrinho(1),
Cordiais saudações.

Houve anteriormente uma "cobrança" tua, para "raspar o fundo do baú", porém, venho agora revisá-lo.

O nosso Camarada Manuel Vaz, historiador de Gadamael, nas suas intensivas pesquisas, me alertou que na foto do P11148, onde eu pensava estar atrás do Capitão Videira, posso não ser eu. Como já referi algumas vezes anteriormente, saí de Portugal no mesmo ano (1972) em que voltei da Guiné.

Fiquei "afastado" das minhas memórias Africanas durante décadas, até que durante o repouso forçado após um acidente, tive contato com o Blog, ativaram-se algumas memórias e reconstruíram-se outras.


Quando resolvi falar do Capitão Videira, encontrei uma foto já desgastada pelo tempo e a má conservação, que estava entre as poucas que restaram das minhas "andanças por aí". Por estar comigo, e por ter rapado o cabelo por essa data, pensei ser eu.

Depois do alerta, ampliando a foto digitalizada, concluí que não devo ser eu. Peço, que faças no P11148 as alterações que julgares necessárias.

Agradeço ao Camarada Manuel Vaz, a sua ajuda na reconstrução do passado.

Forte abraço.
Vasco Pires
____________

Notas do editor

(1) - O editor, entre os tertulianos tem alguns afilhados e até um mano.

Último poste da série de 11 de julho de 2011 Guiné 63/74 - P8539: Dando a mão à palmatória (28): Na melhor nódoa cai o pano... ou: Não basta à mulher de César ser séria, é preciso parecê-lo (Luís Graça)

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15973: XI Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 16 de Abril de 2016 (5): Camaradas da diáspora: (i) Virgílio Valente, Macau (ex-alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74): manda-nos saudações; (ii) Vasco Pires, ex-alf mil art, 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), Brasil, "aqui de longe, mas tão perto" : envia abraço fraterno; (iii) Zeca Macedo, EUA (ex-2º ten fuzileiro especial, DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74): vai dar-nos o prazer da sua presença, dele e da esposa Goretti

1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau, há mais de 2 décadas; foi alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74; é o nosso grã-tabanqueiro nº 709]


Data: 14 de abril de 2016 às 08:24

Assunto: XI Convívio da Tertúlia - Encontro da Tabanca Grande - 16 de Abril de 2016


Caro Luís, caros Tabanqueiros,

Não podendo participar no vosso Convívio, por estar ausente em Macau, onde trabalho, quero enviar um Grande Abraço para todos e desejar-vos um Bom e Saudável Convívio, repleto de partilhas e de boas histórias.

Um dia estarei fisicamente presente.
Saudações,
Virgílio Valente
Companhia de Caçadores 4142 - Gampará, Guiné-Bissau

1972-74

"A wise man makes his own decisions; an ignorant man follows public opinion." 
(Chinese proverb) |  "Um homem sábio decide por si próprio; um homem ignorante segue a opinião pública."  (Provérbio chinês



2. Comentário (*) de Vasco Pires [ex-alf mil art,  cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72, bairradino, a viver no Brasil desde 1972; foto atual à direita]


Aqui de longe (mas tão perto) envio um fraterno abraço aos Camaradas, e os parabéns aos organizadores.

VP




3. Mensagem, de 29 de dezembro de 2915, do nosso camarada José Macedo [ou Zeca Macedo, , que antecipadamente preparou a sua viagem a Portugal para poder estar no nosso encontro;



[Zeca Macedo foi 2º tenente fuzileiro especial, DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74); nasceu na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951; vive nos Estados Unidos, onde é advogado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 13/2/2008; aqui na foto, no novio Escola Sagres, com a esposa Goretti].


Feliz Ano Novo.

Camarada Luís Graça, penso ir à reunião anual da Tabanca Grande, contudo gostaria que me confirmasse que será no dia 16 de Abril, pois necessito de planear com uma certa antecedência e mudar as datas de alguns julgamentos que possa ter. A minha mulher {Goretti] tambm terá de pedir umas férias. Também conto levar o meu irmão e a mulher que moram na Charneca da Caparica.

Um abraço amigo

Zeca Macedo

Jose J. Macedo, Esquire | Law Offices of Jose J. Macedo
392 Cambridge Street, Cambridge, MA 02141
Tel. (617) 354-1115 | Fax (617) 354-9955

________________

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15523: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (9): Abel Santos; António Paiva; Luís Fonseca; Alberto Sousa e Silva; Vasco Pires e Albino Silva

1. Do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69):


************

2. Do nosso camarada António Paiva, ex-Soldado Condutor Auto no HM 241, Bissau, 1968/70:

Boas Festas e Feliz Natal para toda a Tertúlia

************

3. Do nosso camarada Luís Fonseca, ex-Fur Mil Trms da CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73, o seu postal natalício:



************

4. Postal de Alberto Sousa e Silva, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70


************

5. Mensagem natalícia do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72):

Luís e Carlos,
Aqui de longe (mas tão perto) envio votos de Boas Festas a toda a Tabanca Grande. 
Porém, nas posso deixar passar a oportunidade de saudar toda equipa editorial, pela dedicação e perseverança para manter viva a voz de uma geração, que muitos gostariam de calar, como se assim pudessem sepultar o passado próximo. 

Forte abraço a todos
Vasco Pires

************

6. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70:

Boas Festas para a Tabanca Grande e todos os Tertulianos, mas Também e em Especial para os Chefes de Tabanca e ao Carlos Vinhal. 
Feliz Natal e um Novo Ano cheio de coisas Boas entre elas muita Saúde. 

Junto um Grande Abraço, 
Albino Silva

____________

Nota do editor

Último poste da série de 21 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15521: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (8): Luciana Saraiva Guerra, empresária luso-brasileira, sobrinha do ex-capitão comando Maurício Saraiva

domingo, 8 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15339: (In)citações (77): "O boato fere como uma lâmina", lia-se em cartazes nos corredores da Máfrica... Qual teriam sido, camaradas, os maiores boatos que ouvimos durante as nossas comissões ? (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23º Pel Art , Gadamael, 1970/72; bairradino na diáspora lusitana do Brasil desde 1972)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires 

[, foto atual, à esquerda do grã-tabanqueiro Vasco Pires, que no passado século, por volta de 1970/72, lá no cu de Judas, na África profunda, em terras de Tombali, num sítio chamado Gadamael,  foi bravo artilheiro, comandante do 23.º Pel Art, numa guerra que já se varrei da memória dos povos;  bairradino até à medula, é outro camarada da diáspora lusitana: vive no Brasil esde 1972]

Data: 13 de outubro de 2015 às 14:41
Assunto: BOATO


Bom dia Luis e Carlos, cordiais saudações.

Tenho acompanhado essas perguntas "online"; sem dúvida estão dinamizando o blog, e, quem sabe, ajudando a afastar o Dr. Alemão.

Tempos atrás, lendo uma matéria, lembrei de cartaz que vi em um dos quartéis por onde passei, talvez "Máfrica" [, EPI, Mafra]. Dizia: "O boato fere como uma lâmina " (se não falha a memória).

Quantos boatos não passaram na nossa vida militar?

Muitos fabricados pela contra-informacão, outros gerados pelos nossos medos. Logo propagados nos "jornais da caserna".

Guiné 63/74 - P13357: (Ex)citações (235): A 'Máfrica' (EPI, Mafra) dos nossos verdes anos (Vasco Pires,  camarada da diáspora lusitana no Brasil; ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

Aqui fica a minha modesta sugestão para mais uma pergunta "online": Qual o maior boato que ouviste  na tua comissão?

Forte abraço

VP

2. Comentário de LG:

Obrigado, Vasco, pela tua sugestão, para mais vinda do outro lado do Atlântico, o grande oceano que tivemos de domar e vencer para poder chegar ao Índico e criar a autoestrada da globalização... Vencendo mil e um medos, mitos,  lendas, boatos, pragas, perigos...

Sei dúvida que o boato (para mais em, tempo de guerra e de fim de uma época) é tema que se presta a um bom debate... Concordo que o boato (nas nossas organizações, comunidades e sociedades) é uma uma lâmina que fere... Mas é uma lâmina de dois gumes, usada por uns e por outros sobretudo em situações de luta pelo poder, marcadas pela ambiguidade, a incerteza, a conflitualidade...

Mas, tal como formulas a pergunta, não  podemos  pô-la no nosso inquérito "on line"... Por razões técnicas, o nosso servidor, o Blogger, só nos deixa fazer um pergunta de cada vez... E essa pergunta tem de ser fechada, isto é, tem de ser seguida das várias respostas hipotéticas à pergunta...  

Explicando-me melhor: a uma pergunta como a que formulas "Qual o maior boato que ouviste  na tua comissão?", teremos que ter uma meia dúzia (no máximo) de situações ocorridas, no TO da 
Guiné, entre 1961 e 1974, e que poderíamos designar como "grandes boatos"... 

Num período de tempo tão grande (1961-1974), e passado já um meio século, é difícil fazer esse exercício de memória... Mas fica aqui a tua ideia louvável e o teu desafio estimulante... Houve pequenos e grandes  boatos, ao longo da guerra, e sobretudo no início e no fim, afetando o nosso estado de espírito (individual) e por certo o moral da tropa... 1973 (Guidaje, Guileje, Gadamael, assassínio de Amílcal Cabral,  aparecimento do Strela nos céus da Guiné, o medo do MiG, a saída de Spínola, o Marcelo Caetano refém dos "ultras" do regime...) deve ter ido sido um ano fértil em boatos... Mas também o de 1970 (massacre do chão manjaco,  morte - física - de Salazar, invasão de Conacri,...).

Enfim, fica aqui um espaço para a produção de textos sobre o boato "cá e lá", na metrópole e na Guiné!... Venham eles!

Lembrei-me que tenho um texto, com mais de dez anos, sobre "o país-do-diz-que -disse"... Com a amavável complacência dos nossos leitores, volto a reproduzi-lo aqui. Foi publicado originalmente no meu blogue que antes de ser o blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" (sobretudo a partir da II Série, 1/6/2006), chamava-se simplemente Blogue-Fora-Nada (I Série)... No final, em 31/5/2006 tínhamos um tertúlia com 111 membros... O blogue nesse épcoa apresentava-se assim:

"blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boe. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje.lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!"


13 FEVEREIRO 2005

Socio(b)logia - XIII: O país-do-diz-que-disse

Não há pachorra!...
Abre-se a televisão
Ou sintoniza-se a rádio
E corre-se um sério risco
De ouvir a mesma notícia
Ad nauseam:
Alguém
(Um candidato a primeiro-ministro,
Um candidato a candidato,
Um amigo do candidato,
Um amigo do amigo do candidato,
O seu assessor de imagem,
O primo da terra,
A ex-amante...)
A dizer que não disse o que disse,
Ou melhor: Não disse, meus senhores,
O que os jornais disseram
Que ele disse
Ou o que o jornalista achava
Que ele deveria dizer.

Este estilo comunicacional
Tem muitos cultores,
E ficou defintivamente consagrado
Com a seráfica Zezinha:
"Você sabe que eu sei
Que você sabe".
Há uma variante tropical
Deste estilo de não-assertividade
Inventada pelos portugas:
"Eu sei que você sabe
Que eu sei que você sabe
Que é difícil de dizer",
Diz a brasileira Marisa Monte,
Na sua canção "Eu sei"...

No país-do-diz-que-disse
Impera a lei da fofoca,
Do boato pidesco,
Da intriga palaciana,
Das bruxas feias e más,
Dos meninos birrentos e queixinhas,
Dos santinhos de pau carunchoso,
Do título de caixa alta,
Da delacção inquisitorial,
Da saloiice do Zé Povinho.
Faz-se do boato notícia,
Da insinuação verdade
E da anedota tese doutoral.

Não tenho pachorra,
Ponto final!
_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 1 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14955: (In)citações (76): Fiquei chocado com a Guiné que conheci em 17 de Janeiro de 1967 (Mário Vitorino Gaspar)

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14644: (De)caras (21): Em defesa da artilharia e dos artilheiros... e contra o lugar-comum "Importante é a versão, não o facto"... (Vasco Pires, bairradino em terras do Novo Mundo, fazendo também aqui prova de vida, sob o sagrado poilão da Tabanca Grande)


Vasco Pires, um artilheiro de corpo inteiro, fazendo aqui prova (pública) de vida, a meio corpo...



1. Mensagem do nosso camarada, o grã-tabanqueiro Vasco Pires, que no passado século, por volta de 1970/72, lá no cu de Judas, na África profunda, em terras de Tombali, num sítio chamado Gadamael,  foi bravo artilheiro, comandante do 23.º Pel Art, numa guerra que já se varrei da memória dos povos...

Data: 19 de maio de 2015 às 16:19

Assunto: ...Ainda a Artilharia.

"Importante é a versão, e não o facto " (Anónimo).


Caríssimos Carlos e Luis, 

Nós (Artilharia), fomos (somos) poucos e quase esquecidos, uma meia dúzia, talvez, nesta "Grande Tabanca"

Ultimamente as referências que tenho lido, aqui e em outras média, falam de fogo amigo, folclorizando e apequenando a atuação da Artilharia.

Tenho a convicção que,  além de um ou outro estudioso, só nós mesmos lemos os nossos escritos.
Mais tarde, um ou outro antropólogo vai dar uma olhada na nossa versão da História.

Será justo, passar a ideia de Artilheiros relapsos ou trapalhões?

O GAC7 (GA7), teve trinta e dois Pelotões espalhados pelo TO da Guiné, apoiando tropas debaixo de fogo IN, atingindo importantes alvos, quer por ordem superior, quer como fogo de contra-bateria, por vezes apoiando outros aquartelamentos, até tiro direto, para impedir supostas invasões do quartel.

Como somos minoria, a nossa voz quase não é ouvida, mesmo ténue, aqui fica registrada a minha.

Forte abraço.
E siga a Artilharia (que na Guiné estava parada)

VP
Ex-soldado de Artilharia

PS - Conforme solicitado pelo nosso editor-chefe, segue em anexo foto atual.

______________

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14595: A bianda nossa de cada dia (4): Os nossos "chefs gourmet", lá no mato.. A fome aguçava o engenho... (Jorge Rosales / Manuel Serôdio / Vasco Pires)


Jorge Rosales,  alf mil da 1ª CCaç Indígena, Porto Gole, 1964/66, e  atual "régulo" da Tabanca da Linha



 Manuel Serôdio . camarada da diáspora lusitana, vive em Rennes, Bretanha, França; ex-fur mil CCAÇ 1787 / BCAÇ 1932, Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68



Vasco Pires, o primeiro à esquerda, de óculos escuros, no final da comissão, em Ingoré, região do Cacheu,  1972; ex-allf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; bairradino até à medula, é outro camarada da diáspora lusitana: vive no Brasil esde 1972



1. Mensagens de 5 do corrente  de  três queridos camaradas nossos, a propósito do tema "A bianda nossa de cada dia":



(i) Manuel Seròdio

A guerra não se fazia sem eles, e quando se regressava à "base" a seguir a uns dias de mato e às famosas rações de combate, comer um "pitéu" cozinhado nessas cozinhas de 5 estrelas era uma satisfação para as barrigas esfomeadas.

(ii) Vasco Pires

Pois ém  Luis, Esse negócio da bianda era um caso sério. Exceto alguns poucos meses de "férias" em Ingoré, passei a maior parte da comissão em Gadamael. O abastecimento era por via marítima, de dois em dois meses,  se não me falha a memória, aí quando a Lancha (LDM/LDP) não vinha, aí a memória também "patina", as coisas ficavam difíceis, apesar da improvisação do pessoal do rancho..

Em Gadamael, existiam pescadores e caçadores, contudo em quantidades insuficientes para abastecer a tropa.

Desde, logo após a minha chegada, eu e os Furrieis, fomos viver na Tabanca. Numa dessas crises, o Furriel Oliveira, cozinheiro e "gourmet, avant la lettre", montou, junto com o meu ordenança, Cabo Apontador da guarnição local, um sofisticado esquema logístico, para interceptar durante a madrugada, pescadores e caçadores, com o fim de adquirir as preciosas proteínas animais, Ter guarnição local tinha algumas vantagens.

Para manter os "canhões troando ",os operadores precisavam de proteína.

Forte abraço
Vasco Pires
Ex-soldado de Artilharia

(iii) Jorge Rosales


Luís:

Em Porto Gole, 30 homens, o problema da "bianda" estava entregue ao Furriel Victor Gregório da "556". A comida e o pão, era ele,que orientava tudo, em como bom caçador, tudo corria bem...

Na minha memória,recordo-me que uma vez o barco não entregou farinha e fermento, e aí é que foi um problema, porque faltava o casqueiro!!!

Fomos buscar ao Geba, pequenas pedras, que serviram para acompanhar o molho.

Este grupo, tinha o Alface, sargento do quadro, que com o seu "saber", safava sempre nos dias mais dificeis, Aí aprendi, ou refinei, o espirito de equipe, que resolve tudo.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14447: Os nossos seres, saberes e lazeres (84): O Leitão da Bairrada - Uma dávida e um milagre da natureza, do Doutor Manuel dos Santos Oliveiros (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 13 de Março de 2015:

Bom dia Padrinho,
Cordiais saudações,
Como não tenho o talento do Camarada Francisco Baptista, para fazer essas "Viagens na minha terra", peguei emprestado um escrito do meu saudoso Mestre (e do Manuel Reis) Doutor Manuel dos Santos Oliveiros, que era também o Diretor informal, aquele que "descia o cacete" quando necessário.
Não vou falar das outras "maravilhas Bairradinas", porque são demasiado evidentes...
Fica a teu critério a publicação deste escrito.
forte abraço
VP


O leitão da Bairrada
Uma dádiva e um milagre da Natureza*

Dedicatória
Este pequeno trabalho de “saberes” e “lembranças” de um Médico Veterinário rural, que começou a sua actividade em 1 de Outubro de 1936, na Bairrada, é dedicado, com muito apreço à Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada

O seu nascimento e a sua criação, em regime doméstico, ocorria em pocilgas, nas quais, para tal fim existia um “varrasco” de raça Bísara e uma ou várias “porcas criadeiras”.

A alimentação destes animais não diferia em qualidade, da de outros suínos que eram criados com o fim de fornecerem carne e toucinho para o consumo do agregado familiar:
- cereais diversos, com primazia para o milho, em grão ou farinha com farelos, tubérculos, raízes, legumes e verduras, bem como diversos frutos a que nunca faltavam as uvas, daquelas produtoras do vinho da Bairrada;
- água de nascentes, poços ou fontes, todos estes produtos de origem bairradina, semeados, criados e colhidos na região.

A Bairrada (concelhos de Anadia, de Oliveira do Bairro, da Mealhada e uma pequena parte dos de Águeda e Cantanhede) é uma região de solos argilo-calcários, com características muito peculiares, acompanhada de um clima muito especial.
São as características edáficas que explicam muitos factos da vida terrestre, tanto no que respeita à vida animal, como principalmente à vida vegetal, de que depende não só o Homem, como os animais, para seu sustento; são estas características influenciadas pelos microorganismos microscópicos animais e vegetais que nele pululam.
Aliados a estes factores, há a considerar as emanações ou eflúvios que se evolam dos elementos de um clima especial, que se faz sentir pela acção da luminosidade, da temperatura, da humidade, da pressão atmosférica e das brisas e dos ventos, que conseguem fazer da Região da Bairrada, um paraíso terrestre, de pâmpanos verdes na Primavera, doirados aos sóis do Verão e rubros e afogueados pelo sol do Outono.
Tudo isto consegue ser transmitido através do leite das mães aos seus filhos, dando origem ao LEITÃO DA BAIRRADA, que é Uma Dádiva e um Milagre da Natureza.

Eis o “LEITÃO DA BAIRRADA” o qual, depois de assado, segundo os rituais da tradição, apresenta uma mistura de cor doirada e afogueada da terra onde nasceu e que mantém os seus perfumes e os seus sabores, os perfumes e os sabores que a Natureza lhe imprimiu, por mor de uma infiltração e impregnação misteriosa e mágica.
Eis o “leitão assado da Bairrada”, o manjar de deuses e também dos Homens, especialmente dos Homens que, vivendo do espírito, sabem comer.


O porco bísaro – (tipo céltico)

BÍSARO é o nome de uma raça de porcos, autóctones, que povoa todo o Norte de Portugal, acima do Tejo. É um suíno do tipo céltico, longilíneo, mais produtor de carne que de toucinho, ao passo que o porco alentejano pertence ao tipo ibérico e apresenta características bem diferentes. Esta raça existiu largamente representada em toda a Bairrada, em regime de criação doméstica ou caseira. Ao longo dos anos, foi sendo substituída por porcos de raça inglesa, o Yorkshire, Large Wihte – um cruzamento do porco céltico indígena inglês com a raça italiana de Nápoles – raça mais apurada, mais precoce e mais “februda”, na maneira de dizer dos nossos lavradores.

Em 1 de Outubro de 1936, quando comecei o meu trabalho, no concelho de Oliveira do Bairro, como Inspector Municipal de Sanidade Pecuária e, depois em 1937, também em Anadia e Mealhada, esta raça de porcos estava disseminada por casa dos lavradores da região e também por muitas casas particulares de pessoas não ligadas directamente aos trabalhos da terra.
Eram criados e cevados (engordados) para serem abatidos durante os meses de frio (Novembro, Dezembro e Janeiro), com o fim de servirem para o consumo das famílias de harmonia com um ritual festivo que ainda hoje é lembrado e praticado ao vivo em algumas povoações da região, sempre em ar de festa: - as célebres e celebradas “MATANÇAS DO PORCO”.
Todavia, nem todas as famílias tinham as condições necessárias mínimas para criar e engordar um porco por ano, com o fim de ser morto, para servir de governo da casa.
E sendo assim, recorria-se à sua compra em feiras que todos os meses se efectuavam na região: as feiras da Fogueira, de Vilarinho do Bairro e da Moita, com concelho de Anadia; a importante feira da Palhaça, no concelho de Oliveira do Bairro; a feira de Santa Luzia, no concelho da Mealhada e a muito concorridas feira das Almas Santas d’Areosa, no concelho de Águeda, quase no limite do concelho de Anadia; bem como a feira de Cantanhede.

A título de curiosidade, digo que um porco cevado, em condições de ser morto para consumo, custava nesse tempo (1937), a módica quantia de 500 escudos[1], com o peso vivo de seis arrobas, calculadas a olho.
No dia seguinte à matança, depois de ter deixado decorrer o tempo necessário ao “amadurecimento” da carne, procedia-se à operação de desmanchar o porco, operação designada na região por “desmancha”, e as “peças” que daí resultavam eram enterradas em sal marinho cristalizado, em grandes caixas de madeira, as “salgadeiras”, para se conservarem durante um ano e fazerem parte do “governo da casa”.

“Pernalta e esgalgado, focinho comprido e rabo em saca-rolhas” (em dizeres populares), pelagem cerdosa malhada de preto, assim eram os Bísaros da Bairrada. Morfologicamente iguais a todos os suínos de raça Bísara que povoam as regiões das Beiras, do Minho, do Douro e de Trás-os-Montes, mas… …FISIOLOGICAMENTE diferentes de todos, por razões óbvias, já indicadas.
Foram eles que deram origem ao “Leitão da Bairrada”.
Os factores hereditários, os factores edáficos e os factores ambientais, aliados aos factores alimentares, criam o “Leitão da Bairrada”, que assim não é mais do que uma Dádiva e um Milagre da Natureza.


A idade dos suínos

Os Leitões da Bairrada destinados a serem abatidos para a confecção do manjar típico e de grande renome, não só em Portugal, como em todo o mundo gastronómico, o chamado e conhecido LEITÃO ASSADO DA BAIRRADA, devem ser abatidos, de preferência, à data do desmame, quando têm 8 semanas, ou seja 2 meses de idade.
Para tanto é indispensável que se saiba determinar a sua idade, quando se receie fazer fé na informação prestada pelos criadores de leitões.
Anote-se:
- os leitões, ao nascer, têm 8 dentes: - 4 caninos, chamados colmilhos e 4 post-molares posteriores, distribuídos pelas duas maxilas;
- ao mês, com o nascimento de 2 incisivos centrais – os pinças – no maxilar inferior, o leitão fica com 10 dentes;
- aos dois meses, começam a aparecer os 2 pinças do maxilar superior e os 2 incisivos médios no maxilar inferior, apresentando os leitões, nesta idade, 14 dentes. (Tendo nesta idade um peso vivo que oscila entre os 8 e os 9 quilos, está na idade de preferência para o seu abate e preparação do leitão assado).
- Aos três meses, dá-se a erupção dos 2 incisivos médios do maxilar superior, ficando o leitão com um total de 16 dentes e apresentando um peso vivo que varia entre os 9 e os 10 quilos. (A partir desta idade, o leitão deixa de ser leitão, para ser bácoro – porco novo e ainda pequeno, mas um pouco mais do que leitão).

Embora nada tenha a ver com a idade dos leitões, parece-me pertinente, que aqui fique referida as restantes idades dos suínos até aos 3 anos, muito embora a maior parte destes animais não sobrevivam para lá de 1 ano, a idade aconselhável de abate para o consumo das suas carnes e das suas gorduras.
E assim,
- entre os 6 e os 10 meses, os 2 colmilhos e os 2 post-molares posteriores do maxilar superior caem e são substituídos por dentes da dentição permanente;
- ao ano, caem os 2 colmilhos e os 2 post-molares posteriores do maxilar inferior e aparecem os dentes permanentes que lhes correspondem;
- com 1 a 2 anos, caem e são substituídos os 4 incisivos centrais – os pinças – dos dois maxilares;
- com 2 a 3 anos, caem e são substituídos os 4 incisivos médios das duas maxilas. (A partir desta idade é difícil conhecer a idade dos porcos; apenas podemos recorrer ao desenvolvimento dos colmilhos – no estado adulto, o porco apresenta uma dentição permanente de 44 anos: - 12 incinsivos, 4 colmilhos, 16 pré-molares e 12 molares).

Voltemos atrás, aos leitões de 8 semanas (dois meses).
Transportados para o local de abate, é de regra fazerem um repouso de 24 horas, com uma dieta exclusivamente hídrica. Passado este período de repouso são insensibilizados[2] e a seguir abatidos por sangria; depois escaldados e esbolhados; depois de estonados, são abertos pela linha média ventral, eviscerados nas duas cavidades – a torácica e a abdominal; a seguir, lavados interna e externamente e postos a escorrer e a enxugar, para, por último, serem assados em fornos aquecidos com lenha – de preferência de videira – segundo preceitos antigos, com ritual próprio.


A Alimentação do porco de raça bísara (em terras da Bairrada)

A sua alimentação era constituída pelas “lavagens”, nome, com certeza, derivado da composição desses alimentos.
Em vasilhas de madeira, com aduelas – os “baldes”, com capacidade entre os 10 e os 15 litros – despejavam-se as águas das lavagens dos utensílios da cozinha (panelas, tachos, sertãs) e também a água das lavagens da louça usada nas refeições do agregado familiar, bem como os resíduos e as sobras das refeições. Isto numa época em ainda não se usavam detergentes nestas operações de lavagem. Os “baldes” tinham a forma de um tronco de cone, em que o perímetro da base ou fundo do balde era menor do que o perímetro da boca ou abertura. Tinha duas aduelas suficientemente salientes, em posição diametralmente oposta, e furadas por onde passava uma pequena vara cilíndrica, que servia de pega[3].
Às “lavagens” eram adicionados alguns punhados de farinha de milho, obtida nos moinhos das proximidades, com os grãos de milho existentes nas casas, desde a época das colheitas, em grandes caixas de madeira, as “arcas”.
Estas “arcas” faziam parte do mobiliário das adegas, para além do “cincho”, da “dorna”, dos “cântaros de almude”, dos “quartos”, das “pipas” e dos “tonéis” e também de um ou mais bancos de três ou quatro pés.
À água das “lavagens”, engrossada com farinha de milho, juntava-se: talhadas de abóbora porqueira, batatas, nabos, beterrabas, cenouras, tudo cortado em pedaços, umas vezes crus, outras cozidos, folhas de couves, migadas e muitas vezes escaldadas e fruta da época – figos, maçãs e, como não podia deixar de ser, uvas! De notar que as “lavagens” assim compostas, eram, pelos lavradores mais cuidadosos, condimentadas com umas folhas de louro e um raminho de carqueja florida, sem faltar o sal das cozinhas.
Estes alimentos eram levados aos currais dos suínos, nos tais baldes, duas vezes por dia: uma logo pela manhã, à primeira claridade, outra à tardinha, ao escurecer. Como complemento desta alimentação, uma ou duas vezes por dia, eram fornecidos aos animais várias “malgas” de grãos de milho seco ou remolhado e um molho de erva enxuta, ceifada na véspera, e espalhada em pequenos montículos, na cama de fetos e mato que atapetava o chão dos currais.
Na época da ceva ou engorda, eram os porcos alimentados com grandes quantidades de milho e batatas, para além da alimentação normal do ano.


Os currais de porcos ou pocilgas

Construídos sob o signo da poupança, nos atrases da residência dos lavradores da região, em espaços geralmente rectangulares, atapetados de “mato” e designados por “aido” 3 ou “quinteira”, eram construções toscas com paredes feitas em adobos, por rebocar e tetos de telha vã. O chão, geralmente térreo, era atapetado com fetos e mato, este constituído predominantemente por urze e carqueja, para servir de cama aos animais[4].
A “decoração” destes compartimentos era feita de numerosas teias de aranha, uma já velhas e cheias de pó, outras recentes, pendentes das traves do teto e outras das paredes.
As portas eram construídas de tábuas por aparelhar, pregadas umas às outras com o auxílio de traves ou travessas – fasquias de madeira – e fechadas com tramelas, também de madeira, de fácil manejo. Os lavradores mais supersticiosos cravavam, na parte interior da porta, uma grossa cavilha, onde, por vezes, se viam dependuradas umas calças velhas do dono da casa e viradas do avesso, e também um ramo de Rosmaninho ou de Arruda, com “poderes” sobrenaturais, para afugentarem os “maus olhados”, o “mal de inveja”, as “pragas que nos rogam” e as doenças incuráveis (dos animais), a conselho de bruxas e curandeiras que tinham já feito as suas visitas e recitado as suas “rezas” e praticado as suas “benzeduras”.
Em cada curral existiam duas pias, construídas de madeira ou talhadas em pedra (mais recentemente, em cimento), uma das quais servia para as “lavagens” e a outra para estar sempre com água limpa e fresca, diariamente substituída, para os animais beberem. Era também frequente encontrar-se aí uma “telha portuguesa”, arrecadada junto à soleira da porta do curral, para nela se fazerem “defumações”, com pó de enxofre e “erva benta” (pontas de raminhos de alecrim benzidos no Dia de Ramos), isto. Após a visita de curiosos, de bruxas e curandeiros, aquando das doenças dos animais.


Últimas palavras

Para confirmação das informações acerca da raça bísara dos porcos que povoavam, em 1936 e nos anos seguintes, a Região da Bairrada, transcrevo o que escreveram, no Relatório do Chefe de Serviço (da 3.ª Repartição) da Direcção geral dos Serviços Pecuários (publicado em dezembro de 1941 – Porto, Tipografia Leitão, página LVI), o Médico Veterinário, Aldovino Pereira Lucas e o seu colaborador e colega Armando Moradas Ferreira:
“…Uma linha natural – o curso do Tejo – separa nitidamente as zonas de dispersão dos dois grupos porcinos em que no País a espécie está representada. …o porco transtaganao, de tipo românico, que vive em toda a região do Alentejo… todo o resto do território continental mantém o porco bísaro do tipo céltico. Este porco tem sido cruzado com indivíduos de raças exóticas”.

Para terminar, uma curiosidade estaística: em 31 de Dezembro de 1940, existiam na Região da Bairrada (aqui alargada à totalidade dos cinco concelhos), 26.677 suínos, assim distribuídos pelos seus cinco concelhos: Águeda – 6591; Anadia – 6366; Cantanhede – 6761; Mealhada – 2917; Oliveira do Bairro – 4042.

Manuel dos Santos Oliveiros
Publicado na Revista Aqua Nativa N.º 18
Agosto 2000

************

[1] NR – De acordo com o coeficiente de desvalorização da moeda, aprovado pela Portaria n.º393/99, de 29 de Maio, a “módica” quantia de 500$00, corresponde hoje (2000) a 63.415$00

[2] NR- O autor refere-se ao processo actual e obrigatório de abate em matadouro industrial. É, neste caso, de preceito legal que sejam inspeccionados sanitariamente, por um Inspector Sanitário – um Médico Veterinário – em vida, quando estão prestes a ser sacrificados, e também post-mortem, quando já estão dependurados em ganchos a enxugar, acompanhados das suas vísceras, em tempo que antecede a sua assadura. Ao serem aprovados para consumo público, são marcados a fogo, com carimbo próprio, na presença do Inspector Sanitário. Como é bem de notar, estes procedimentos não constavam, nem constam dos abates tradicionais, em casas particulares, para consumo familiar.

[3] Estes baldes eram obra artesanal de tanoeiros, uma profissão que parece estar em vias de extinção, na Região da Bairrada, onde chegaram a ser numerosos. Os mesmos baldes ou outros semelhantes serviam, também, para tirar água dos poços, presos à vara da “cegonha” ou “picota”.
NR – Esta designação não era comum a todos os lugares, na Bairrada, pois, por “aido” ou “eido” era geralmente conhecido o quintal, quinteiro ou pátio junto à casa; o mesmo se passa em a expressão “quinteira” ou “quinteiro”, de acordo com uma recolha de vocabulário regional, em tempos levada a cabo pelo Director desta Revista.

[4] Este tapete de mato era substituído periodicamente por mato novo, sendo que o mato retirado ia para uma montueira para, mais tarde estrumar as terras.

************

Artigo publicado com a devida vénia a Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada
____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14444: Os nossos seres, saberes e lazeres (83): Mau tempo no canal: do Faial ao Pico, ali perto está S. Jorge (2) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 18 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14383: (Ex)citações (267): Será que nós estamos escrevendo milhares de postes à procura da juventudo "perdida" na guerra? (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71) com data de 12 de Março de 2015:

Olá Carlos,
Peço-te que coloques esta minha interpretação sobre a questão proveniente do outro lado do Atlântico.
O Vasco(*) é muito pertinente na abordagem do tema e, seguramente, valerá a pena conhecer as opiniões dos camaradas.
Também tenho costela de bairradino, pelo lado paterno, por isso evito falar de caçoilas, mas desejo-lhe muitas alegrias.

Com um abraço
JD

************

O Vasco lança o repto para respondermos aqui no Blogue, se andamos à procura da juventude "perdida" durante a guerra, e eleva o nível da introspecção pelo cotejo da procura do tempo perdido, de Proust. Também dá tópicos para reflexão, como termos nascido numa "ilha", considerando a localização (influência mediterrânica), e o tempo do pós-guerra, de que o nosso "jardim" ficou imune às devastações ocorridas no resto da Europa.

A propósito da guerra-fria recorda uma linha de orientação adoptada por Salazar, que lançou a ideia neutral do Minho a Timor. Foi uma espécie de realidade da época, pois a neutralidade revelou-se comprometida com os dois lados da contenda, o que ia custando a invasão dos Açores. Também poucos saberão, que depois do 25 de Abril os timorenses, que viviam pacificamente sob a bandeira das quinas, quiseram continuar portugueses, e só uma campanha de dinamização entusiástica os levou à guerra forçada, para escolha do modelo político que a independência exigia.

Sobre a máquina de propaganda de Salazar, provavelmente, não foi tão eficiente para a juventude mais esclarecida que frequentava os meios académicos, quanto tem sido as lavagens aos cérebros desde a revolução, assente nos pressupostos dos 3 dês - descolonização, democratização e desenvolvimento. O primeiro pressuposto foi rápida e miseravelmente realizado, recheado de traições, crimes, e outras ignomínias; o segundo, corresponde a uma quimera, um mito bestial, e a população, nem de perto nem de longe, aceita a acusação de ter vivido acima das possibilidades, nem tem responsabilidades sobre a situação económico-financeira, nem foi consultada e confrontada com a adesão à CE (ex-CEE), nem passou mandatos para a venda de infra-estruturas públicas e estratégicas, pelo que as coisas têm acontecido marginais à democracia, mas em obediência a uma descontrolada "democracia-representativa" que aproveita a espertalhões; e sobre o terceiro pressuposto, como decorre do anterior, tudo tem acontecido sem rei nem ropue, à mercê do investimento estrangeiro (agora a China é que está a dar), ou do crédito internacional, que os sucessivos governos têm desbaratado com vaidade e seleccionada galhardia.

Ah! A nossa juventude?

Durante os 3 anos de tropa que nos eram impostos, dávamos largas à nossa alegria e energia, sempre que as oportunidades o permitiam. Construímos novas amizades e praticamos a solidariedade, de que os encontros de confraternização são bons exemplos, e acabado o serviço militar, entrámos no mercado de trabalho conforme competências, apetências e oportunidades de cada um, e constituímos famílias. Não me refiro aqui aos que tiveram a infelicidade de transportarem sequelas da guerra, que são casos muito especiais que a sociedade, ignorando a solidariedade democrática, parece ignorar.

A guerra parecia perdida "ab initio", mas a generosidade dos jovens portugueses veio a impor-se à admiração do mundo (mau grado algumas artimanhas que contrariaram a dignidade da condição militar pelo aproveitamento pessoal de oportunidades ilegítimas e ilegais. Não se queria saber, ao mesmo tempo, que as maiores colónias mostravam um processo de desenvolvimento económico-social com taxas de crescimento entre os 6 e os 15%, enquanto a metrópole registava médias de 3 a 4%. Outro factor a considerar, é que aquelas colónias registaram o crescimento da população branca para o dobro, pois passaram a catalizar o interesse de uma parte dos ex-combatentes, que ali procuraram futuro, e não usavam chicote, G-3, ou Bazuka. O ambiente era pluri-racial e cada vez mais havia nativos a ombrear com metropolitanos nas diferentes actividades laborais e culturais - mas neste âmbito que consideramos, as coisas não acontecem com a facilidade e velocidade do interruptor.

Meu caro Vasco, as minhas memórias (depois da Guiné fui trabalhar em Angola) incidem na experiência pessoal, na alegria e na realização no trabalho, na segurança e harmonia familiar, mas também na observação atenta (li vários relatórios do Banco de Angola), enquanto cotejava com a propaganda local, nacional, e nacionalista (lia o Comércio do Funchal, esquerdista, e o Expresso desde o n.º 1, para além de alguns ensaios escritos que encontrava), as primeiras eram dinâmicas, a última era muito pobre de ideias e soluções dogmáticas. Também integrei uma reduzida mas interessante tertúlia com interesses no bem comum. E sonhávamos. Deve haver, porém, gente com opinião diferente, sobretudo se vinculada a dogmas ideológicos.

Finalmente, é minha convicção, que aquelas sociedades pujantes caminhavam inexoravelmente para a auto-determinação, talvez com independência soberana.

Abraços fraternos
JD
____________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 12 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14351: Blogoterapia (266): O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du temps perdu"... Será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra? (Vasco Pires, ex-alf mil art. cmdt do 23º Pel Art. Gadamael, 1970/72)

Último poste da série de 17 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14379: (Ex)citações (266): Considero, e para ser objectivo, que todos se estão borrifando para a Guiné-Bissau (Mário Vitorino Gaspar)

quinta-feira, 12 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14351: Blogoterapia (266): O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du temps perdu"... Será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra? (Vasco Pires, ex-alf mil art. cmdt do 23º Pel Art. Gadamael, 1970/72)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 11 de Março de 2015:

Pois é Luis, como dizia o meu avô, do alto da sua "sabedoria Bairradina": pela boca, morre o peixe, e tu "implacável" editor, te encarregaste da cobrança.

Vamos lá tentar então, mesmo sabendo que estou entrando "numa rua escura" ou ao menos mal iluminada.

Nós, da nossa geração, nascemos numa "ilha ".

Ao passo que no resto da Europa, tudo tinha sido destruído pela Segunda Guerra, - infra-estruturas, estruturas e superestruturas - neste nosso "Jardim à beira mar plantado" tudo continuava de pé.

Éramos também filhos da "Guerra fria", bombardeados pela propaganda dos dois lados.

Sabemos hoje que o nosso "Último Imperador ", tinha a "certeza" que Portugal não sobreviveria sem o "Império", a máquina de propaganda, alardeava que éramos um País multirracial e pluricontinental.

E lá fomos nós para outro Continente "dilatar a fé e o Império", erámos jovens inocentes na maioria, alguns de nós, nunca tínha visto o mar nem um comboio.

Alguns outros se achavam bem informados, porque ouviam a BBC ou a Rádio Moscovo.

Sei, havia também os "filhos" da República Velha, o meu avô era um deles, culpando os "Jesuítas" de todos os males da Nação.

Também não éramos (somos) Europeus, nem antropológica nem culturalmente, mais tarde nos convenceram do contrário, e vimos no que deu!

Enquanto todos os países coloniais negociavam a transição, nós fomos à guerra, guerra politicamente perdida "ab initio".

Pergunto eu então, o que eu tenho a ver com esse soldado largado nas "bolanhas" Africanas?

Ah, sim, entre eu hoje, e o jovem Soldado de Artilharia, há as memórias.

O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du  temps perdu", será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra?

E as memórias, serão reprodução de vivências, ou construções mentais? Memória involuntária ou memória voluntária?

Nesta hora lembro a frase afixada na fachada da República Praquistão, na Coimbra de então: "Não sou eu nem o outro, sou algo de intermédio..." Mário de Sá-Carneiro.

Há sim muitas perguntas, mas (felizmente) temos o Blog à procura das respostas!

Forte abraço
VP
___________

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14305: Inquérito online: só um em cada quatro de nós admite que não mudou muito, física e/ou psicologicamente. Resultados preliminares: 65 respostas


Guiné > Região de Tombali > Nhala (a nordeste de Buba) > 1974 > Agosto de 1974 > Os "Unidos de Mampatá", em final de comissão, foram despedir-se dos "periquitos" de Nhala (2ª CCAÇ/BCAÇ 4513)... À esquerda, assinalado por um quadrado amarelo, o nosso António Carvallho, o Toni, mais conhecido por Carvalho de Mampatá. Esta foto foi o pretexto para a nossa sondagem desta semana.

Foto: © António Murta (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


A. Resultados preliminares da nossa sondagem (n=65)

"AO FIM DESTES 40/50 ANOS, MUDEI MUITO, FÍSICA E PSICOLOGICAMENTE" (RESPOSTA MÚLTIPLA)





1. Sim, mudei muito  > 17 (26%)

2. Mudei muito fisicamemnte  > 29 (44%)

3. Mudei muito psicologicamente  > 24 (36%)

4. Não, não mudei muito  > 18 (27%)

5. Não mudei muito fisicamente  > 13 (20%)

6. Não mudei muito psicologicamente  > 15 (23%)

7. Não sei > 2 (3%)


Votos apurados: 65

Dias que restam para votar: 4 (até ao dia 3 de março)

B. Comentário do Carvalho de Mampatá (*)


Caro Luís: Eu e o meu irmão (posso falar por ele) não nos zangamos por coisa pouca ou por nenhuma coisa. Sobre nós podes publicar tudo porque sabemos que és um rapaz muito ajuizado e jamais publicarias o impublicável. Devo acrescentar que ambos ficámos muito contentes, para não dizer envaidecidos, por sermos alvo da tua atenção, mesmo sabendo que isso se deve à circunstância pouco comum de ambos termos estado no mesmo conflito.

Já agora quero-te informar que o meu irmão é que me deu conta deste post, em comunicação por telemóvel. Na verdade ele dedica-se mais ao computador do que eu e, por isso, costuma alertar-me sempre que aparece algo de novo por estas bandas. Eu, normalmente, só pela calada da noite é que abro esta caixa. 

Sobre o inquérito, já respondi dizendo que estou diferente, física e psicologicamente, porque as marcas da idade e dos escolhos da vida são inelutáveis.

Aproveito para, reiteradamente, manifestar-te a minha gratidão por tudo o que tens feito em prol da manutenção deste nosso blog, intervindo algumas vezes com sabedoria e paciência para curar uma ou outra ferida que, às vezes, emerge.

Um abração
Carvalho de Mampatá.

C. Comentário do Vasco Pires (Brasil) (*):




(i) (...) Boa pergunta, diria eu, andei até a pensar em fazer um "post "
intitulado "Retrato de um jovem soldado, (re)visto por um sexagenário ".

Me pergunto se aquilo que escrevemos são memórias ou construções mentais.  Memória voluntária?  Memória involuntária?  Escrevo sobre mim, ou o "Alfero di canhão" é um outro?

Forte abraço.
VP

(ii) ... Ao que o nosso editor respondeu nestes termos: "Vasco, fico a aguardar o teu poste... Se a nossa pergunta é boa, a tua questão ainda é melhor: (...) "Me pergunto se aquilo que escrevemos são memórias ou construções mentais. Memória voluntária? Memória involuntária? Escrevo sobre mim, ou o 'Alfero di canhão' é um outro?" (...)

(iii) Resposta imediata do Vasco Pires, o brasileiro mais "bairradino" do Brasil:

(...) "Luis, a tua pergunta, me fez lembrar adaptação de uma frase de um notável escritor,afixada numa República de Coimbra que no original diz: 'eu não sou eu nem sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio: pilar da ponte de tédio, que vai de mim para o outro' - Mário de Sá-Carneiro" (...).
___________


Nota do editor:

sábado, 29 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13959: (Ex)citações (255): A minha aventura (e da minha mulher, grávida) a bordo da BOR, numa viagem atribulada entre Bolama e Bissau (Rui Santos, ex-alf mil inf, 4ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65)

A. Mensagem enviada ao fimd a tarde, pelo correio interno, a toda a Tabanca Grande:

Camaradas:

1. Desculpem importunar o vosso descanso de fim de semana, que deveria ser sagrado para um guerreiro... Mas esta nossa partilha de menórias não tem dia(s) nem hora(s)...E é sempre mutuamente vantajosa...

2. Há dias mandei-vos uma "charada": que raio de inscrição era aquela no cano do mais puro aço Krupp no obus 10.5 de Mansambo, 19678, onde o nosso camarada Torcato Mendonça pousou (descansou) o braço direito e posou para a eternidade, qual Napoleão, mostrando o relógio Rolls Royce Breitling de duas mila patadas, no pulso do braço direito ?... A inscrição dizia Magul 1895 [, vd. foto acima]...

Foi preciso um "brazuca", ex-artilheiro de Gadamael, o Vasco Pires, mandar, do outro lado do Atlântico, a contra-senha: Magul (8/9/1895)... foi a célebre batalha que precedeu, em 3 meses, a de Chaimite (28/12/1895), em Moçambique, quando Gungunhana, rei de Gaza, e aliado dos ingleses, é aprisionado por Mouzinho de Albuquerque... Bolas, a escolinha foi há mais de meio século!... Alguém se lembraria de Magul!...

3. O exercício deste fim de semana não é menos desafiante: a BOR, já ouviram, falar? Alguns de nós andaram nela (ou nete)... Era um pachorrento ferryboat capaz de levar a carga de uma LDG... Spínola "passeou" nele(a) no Rio Corubal, em 17/3/1969... O Torcato, o Ismael e outra malta do leste andou na BOR...Eu não tenho ideia, e como não tenho a certeza não ponho no meu currículo... Andei no Bubaque, mas na BOR não me lembro...

O nosso camarada e hoje embaixaxdor de Cabo Verde em Itália, Manuel Amante da Rosa, descreve-a nestes termos

(...) "Quanto ao BOR, como os outros, também era do Comando da Defesa Marítima. Era o que se chamava um ferryboat, para transporte de viaturas, cargas a granel, passageiros, gado e tudo o mais que houvesse, incluindo a guarnição de várias unidades militares a nível de companhias e seus apetrechos e viaturas. Tinha dois potentes e ruidosos motores, um a bombordo e outro a estibordo, que lhe permitia grande capacidade de manobra e calava pouco. Mas era lento de exasperar e desconfortável. O sol era abrasador para quem não estivesse abrigado. Levava facilmente mais de 400 passageiros e cargas.Era seguro e muito utilizado para o transporte das guarnições militares". (...)

4. Não acreditam, mas nós que já publicámos cerca de 30 mil fotos no nosso blogue, não temos uma foto da BOR!... Temos tropa na BOR, na viagem de regresso de Bambadinca a Bissau, mas não temos uma foto de corpo inteiro desta valente embarcação que fez a guerra e a paz....A foto que anexo é do Fernando Cachoupo, a quem saúdo, bato pala e tiro o quico!...

Camaradas, vasculhem osvossos álbuns e baus, mas por favor mandem-me uma foto da mítica BOR!...

Um alfabravo de camarada para camarada, de amigo para amigo. Luís Graça


B. Resposta pronta do nosso veteraníssimo Rui Santos [ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65]



Ainda há poucos dias contei, não sei onde, a minha história a bordo do Bor, minha e de minha mulher que estava pançuda e o médico disse que não devíamos ir de avião... Então vai disto ... Bor,  "bamo bora" e lá vai um jovem casal,  sentados em rolos de cabos grossos, quando começa uma tempestade daquelas que todos conhecem, os que estiveram pisando o solo da Guiné, quase à saida do Canal de Bolama...

À passagem defronte da Ilha das Cobras começa o motor a... puff, puiuff e puift mêmo,  já perto do Geba, chuva na chube noss alfer ...

Pois... e eu à rasca por causa da minha mulher que nem lhe via a cor branca da face, mas aguentou estoicamente, fui falar ao "Comandante" mas pouco, e ninguém conseguía pôr a nau Catrineta a funcionar, e eu a ver os canais do Geba e a ver duas coisas ou ficamos aqui nos baixios ou vamos a caminho do Atlântico, sem rádios sem comunicação com terra ... zero!

Não sei o que se passou...  De repente ouço os motores trabalhando e os "mecânicos" rindo,  cantando e dançando, fui para o pé da minha mulher e, passado uma hora, para mais  não para menos, eis-nos chegando ao Pidjiguiti (se não for assim, é parecido) onde estava o Capitão João Nogueira e a esposa esperando e muito apreensivos.

A aventura do Bor...


Boa noite, Rui Santos


C. E a propósito, cumpre-me lembrar e reproduzir  aqui uma outra mensagem recente,  do nosso camarada e grã-tabanqueiro de longa data, e que queremos partilhar com o resto da Tabanca Grande:


Eu, Rui Gonçalves dos Santos, alferes miliciano 
de 1963 a 1965,  prestei serviço no CTIGuiné, em rendição individual, no sudoeste desse território, Bedanda (4ª CCaç) e Bolama (CIM), passando também em Fulacunda  por uns dias, por actos praticados em cumprimento do meu dever, galadoaram-me com a Medalha de Mérito Militar de 3ª classe.

Fui ... um militar de infantaria ... das operações banais .... Hoje, 13 de Novembro de 2014,  pelas 15 horas e 30 , em Chelas, numa cerimónia singela,  a meu pedido, um sr major e um sargento ajudante colocaram-me fora do peito o que tenho e sinto com muita honra dentro dele ... Obrigado!

As fotos do acto registado por meus filhos, que foram comigo testemunhar e apoiar-me na respectiva sessão da condecoração.

_____________________

Nota do editor:

Último poste da série > 29 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13958:(Ex)citações (254): quando Spínola viajou, com mais 300 homens, na BOR, em 17/3/1969, no decurso da Op Lança Afiada, em pleno Rio Corubal, da Ponta Luís Dias à Ponta do Inglês