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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11969: Notas de leitura (513): "Misiones en Conflicto, La Habana, Washington y África, 1959-1976", por Piero Gleijeses (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Maio de 2013:

Queridos amigos,
Trata-se de uma obra fundamental para conhecer o que foi a participação dos cubanos ao lado do PAIGC.
O encontro entre Che Guevara e Cabral, em Conacri, terá sido determinante, numa primeira fase. Depois, quando Cabral participou na Conferência Tricontinental, em Havana, Fidel ficou impressionado pela sua ideologia e determinação. 1966 é o ano que marca a presença de cubanos a formar artilheiros, como médicos, como consultores. Será assim até à independência efetiva.
Para os cubanos, foi o seu maior êxito em África. E os comandantes do PAIGC nunca esqueceram esta colaboração.

Um abraço do
Mário


Os cubanos na Guiné (1)

Beja Santos

“Misiones en Conflicto, La Habana, Washington y África, 1959-1976”, por Piero Gleijeses, Editorial de Ciencias Sociales, La Habana, 2007, é o livro indispensável para conhecer a natureza da participação dos cubanos na luta armada da Guiné. Piero Gleijeses é um prestigiado investigador de origem italiana, professor nos Estados Unidos, que durante anos procedeu a uma minuciosa pesquisa nos arquivos e entrevistou pessoalmente centenas de participantes em diversos conflitos africanos onde houve intervenção cubana. Em Janeiro de 1967, Fidalgo Castro não escondia o seu pessimismo sobre as questões africanas. A única exceção era o PAIGC, e este ponto de vista coincidia com as informações que a diplomacia norte-americana transmitia para Washington (que o PAIGC era o movimento de libertação nacional mais bem-sucedido de África). Para um movimento revolucionário cubano, a Guiné tornara-se na sua prioridade estratégica em África.

O professor Gleijeses procura caraterizar Cabral. O líder do PAIGC era admirado pela maneira como tinha desenvolvido a mobilização política e sabido estabelecer novas estruturas políticas nas zonas libertadas. Era respeitado por toda a gente. Os seus estudiosos mais próximos não ignoravam a sua influência marxista, mas reconheciam que ele não era marxista. E cita-se um dos seus principais biógrafos, Patrick Chabal: “Chegou a ver o marxismo como uma metodologia e não como uma ideologia. Se considerava útil para analisar a sociedade guineense, servia-se dele. Quando o método era insatisfatório, abandonava-o sem hesitação”. De igual modo, os cubanos sabiam que ele não era comunista, definiam-no como um líder progressista com ideias muito avançadas e uma grande clareza sobre os problemas africanos. Além disso, era considerado um grande comandante e tático militar, as suas decisões eram acatadas e ele sentia-se diretamente responsável pela coordenação das operações. Aprendeu muito com o desaire de Novembro de 1966, os líderes do PAIGC julgavam que iam tomar Madina do Boé e tiveram um enorme fracasso, Cabral aprendeu a lição, adotando a técnica do desgaste e do confinamento das unidades militares portuguesas dentro do arame farpado.

Os primeiros contactos do PAIGC com Cuba datam de 1963, cinco membros do PAIGC receberam bolsas e foram Cuba em 1964. Che Guevara esteve em África três meses, em 1964, foi então que se consolidou o vínculo com o PAIGC. Che reuniu-se em Conacri com Cabral, em 12 de Janeiro de 1965. Começaram a chegar armas e medicamentos a partir de Maio. Em Julho desse ano, um punhado de cabo-verdianos que havia estudado na Europa, partiu de Argel para Havana para receber treino militar. Em Janeiro de 1966, Cabral fez a sua primeira viagem a Cuba, participou na Conferência Tricontinental. Os serviços secretos norte-americanos consideraram que foi o mais influente dos participantes africanos e que tinha causado uma boa impressão nos anfitriões. Fidel e Cabral encontraram-se em privado, acompanhados de Oscar Oramas. Cabral pediu insistentemente artilharia e instrutores, Fidel compreendeu que também necessitavam de médicos e meios de transporte mais eficazes. Após estas conversações, Fidel convidou Cabral para uma viagem que durou três dias em Cuba. Cabral pediu igualmente que fosse nomeado um novo embaixador para Conacri que servisse de ligação com o PAIGC, e Fidel nomeou Oscar Oramas.

É partir daí que começa o fornecimento de bens muito apreciados: tabaco, peças de algodão, açúcar, uniformes, camiões com peças de substituição, munições. Em Março de 1966, Oramas entrega a Sékou Touré uma mensagem de Fidel informando-o que Cuba tinha decidido dar uma ajuda ao PAIGC importante e pedia a melhor colaboração de Conacri.

Dois artilheiros e três médicos chegam a Conacri em 8 de Maio, a seguir vieram os técnicos cubanos. As promessas de Fidel a Amílcar começavam a ser cumpridas. Em pouco tempo, estavam 31 voluntários (11 especialistas em artilharia, 8 motoristas, 1 mecânico, 10 médicos) ao serviço do PAIGC coordenados por um oficial dos serviços secretos, o tenente Aurelio Ricard. Fidel tinha pedido voluntários de cor escura, para não dar nas vistas, data dessa altura a determinação de Cabral no uso da maior discrição na participação militar cubana, que será sempre omitida, mesmo quando, em 1969, o capitão Peralta for preso. Mas rapidamente os cubanos se tornaram notados em Conacri, a fumar os seus charutos.

A missão militar cubana destinada ao PAIGC tinha o seu quartel-general em Conacri. O relacionamento entre o PAIGC e Aurelio Ricard foi muito mau. Será substituído por Dreke, que tinha regressado do Zaire. Dreke virá a ser muito apreciado pelos comandantes do PAIGC.

Em Abril de 1967, havia quase 60 cubanos na Guiné. No ano seguinte, Schulz será substituído por Spínola, numa altura em que a situação militar se debilitava do lado português. O embaixador norte-americano em Dakar escrevia para os seus superiores: “Resta saber se a ajuda cubana será suficiente para conter a ofensiva portuguesa". Depois do insucesso parcial da invasão de Conacri, quando se agravou o isolamento diplomático português, Cabral pediu novas armas para os seus cerca de 7 mil soldados bem armados e treinados. Entretanto, o PAIGC ia-se convertendo num símbolo de orgulho que chegava aos afro-americanos, o partido das Panteras Negras quis mandar voluntários para a Guiné, o seu dirigente Stokely Carmichael viajou para Conacri, Cabral recebeu a proposta de apoio com imensa prudência. Depois Carmichael casou-se com Miriam Makeba e nunca mais se falou em apoios ao PAIGC.

Em que consistia a assistência militar cubana? É preciso ir atrás e recordar que o PAIGC não aceitava voluntários estrangeiros, ou melhor, e dito por Cabral em várias entrevistas, só aceitariam assessores militares, e nada mais, considerava que os voluntários iam roubar aos guerrilheiros a grande oportunidade de se afirmarem perante a história. Ora os cubanos chegaram a Conacri a pedido de Cabral. A luta armada, na ótica de Cabral, era o melhor remédio para ultrapassar as questões étnicas, mas cedo reconheceu que necessitava de especialistas sobretudo para as armas de longo alcance. Cabral limitou a participação estrangeira de duas maneiras: primeiro, só aceitou os cubanos, eles foram os únicos estrangeiros que combateram na Guiné, com a exceção de médicos, um vietnamita e um outro panamiano; segundo, reduziu a intervenção cubana a questões essenciais, recusou sempre a vinda de centenas de militares cubanos para os ajudar a atacar os quartéis portugueses.

Com o evoluir da guerra, o armamento sofisticado requeria artilheiros que soubessem fazer cálculos. Os cubanos eram também especialistas na colocação de minas e no uso de armas de infantaria mais sofisticadas. Os cubanos estiveram preparados para fazer rebentar a ponte de Ensalmá, Cabral reconsiderou e disse que não, não queria ver destruída uma ponte que viesse a exigir novas construções, ele queria no futuro uma cooperação para outras áreas e por isso recuou quanto à destruição de infraestruturas essenciais.

(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 19 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11954: Notas de leitura (512): Uma Breve História de África, por Gordon Kerr (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5760: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (12): Cerimónia da inauguração, a 20 de Janeiro de 2010, e visita, a 29, de uma delegação cubana (Pepito)


 Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico  Memória de Guiledje (*) > 20 de Janeiro de 2010 > "O dia da inauguração contou com a visita do Senhor Presidente da Republica da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, o qual recebe esclarecimentos prestados pelo Dr. Alfredo Caldeira,  da Fundação Mário Soares".



"Igualmente o Senhor Primeiro Ministro, Carlos Gomes Junior, acompanhado do Ministro da Educação Nacional, Artur Silva, [e, à direita deste, o anfitrião, o Director Executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento , Eng. Agrónomo Carlos Schwarz da Silva,]  seguiram detalhadamente todas as secções do Museu".



"O Senhor Vice-Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, António Indjai, acompanhado de uma forte delegação de membros das chefias militares, percorreu com interesse o Museu"



VISITA DE INTERNACIONALISTAS CUBANOS

No dia 29 de Janeiro de 2010, uma delegação de 7 combatentes cubanos, que apoiaram a luta pela Independência da Guiné-Bissau, liderados pelo famoso Comandante Móia (Victor Dreke Cruz) (**), foram expressamente a Guiledje para uma visita guiada ao Museu.




A delegação cubana em visita ao Museu...



 O Comandante Móia, chefe da delegação...


Comandante René: foi ele  que colocou as minas na estrada de Guiledje no início da operação de assalto final ao quartel.



Fotos e legendas: ©  Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados
_____
 
Notas de L.G.:
 
(*) Vd. último poste da série > 30 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5731: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (11): Inauguração da mesquita, almadjadja, com a presença do filho do Cherno Rachide e da Júlia Neto (Pepito)

(**) Vd. poste de 18 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P967: Antologia (51): Os combatentes cubanos ou a mística da guerrilha (Victor Dreke)

Vd. também postes de:

1 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P951: Antologia (47): Um médico cubano no Morés e no Cantanhez (Domingo Diaz, 1966/67)

24 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3090: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação do cubano Ulises Estrada

terça-feira, 12 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4326: Estórias cabralianas (49): Cariño mio... Muy cerca de ti, el ultimo subteniente romántico (Jorge Cabral)

1. Mensagem do Jorge Cabral, ex- Alf Mil Art, Pel Caç Nat 63 (Fá e Missirá, 1969/71)

Amigos!
A propósito do Mato Cão (*) aí vai estória.
Luís, prepara o prefácio.

Abração,
Jorge Cabral



2. Estórias cabralianas > Da Enfermeira Cubana aos Tubarões no Geba

Dois dias depois de chegado a Bambadinca em meados de Junho de 69, fui mandado montar segurança no Mato Cão. Periquitíssimo, cumpri todas as regras, vigiando a mata de costas para o rio, sem sequer reparar na beleza da paisagem.

Mal sabia então, que ali havia de voltar dezenas de vezes, durante o ano que passei em Missirá. Pelo menos uma ida por semana para ver passar o Barco, no que se transformou numa quase agradável rotina.

Se a hora era propícia até lá batíamos uma boa sesta e certamente algum turra passeante se surpreendeu com os meus estridentes roncos, os quais numa estória que conto aos miúdos, assustavam os tubarões do Geba.

Tubarões no Geba? Claro que sim!

Pois não relatou o meu avô, militar em Moçambique na Guerra do Mouzinho, que marchou um dia inteiro por cima de uma jibóia?

Aí por Março de 71, chegou-me uma informação mais que duvidosa, mas que eu quis acreditar – em Madina existia uma enfermeira cubana. Ora na altura tinham-me mandado afixar nas árvores do Mato Cão, uns panfletos, convidando os turras à deserção.

Quais turras, quais quê? Eu só pensava na Cubana, que a minha imaginação transformara numa bela andaluza cheia de salero. Ela sim, seria bem-vinda a Missirá.

Assim em vez dos panfletos deixei uma mensagem:

“Se habla español. Mui cerca de ti, Cabral, el último alférez romántico”...

Que terão pensado os guerrilheiros?

Não sei. Mas hoje acredito que foi por esta e por outras que o Missirá do Cabral nunca foi atacado.


Jorge Cabral

3. Comentário de L.G.:

Não resisto, embora quebrando o meu dever de isenção, a fazer um comentário a mais esta estória cabraliana. O Jorge, que na vida real é professor universitário, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, onde coordena a pós-graduação de Criminologia e onde lecciona matérias como Direito Penal, Direito Processual Penal e Direito de Menores, não é dos tabanqueiros mais assíduos. Sei que nos lê religiosamente todos os dias, mas é mais parco na colaboração escrita. Não sendo prolixo, é contudo um dos autores mais queridos do nosso blogue, tendo inclusive um clube de fãs...

Fico feliz por ele, expressamente, me convidar para prefaciar o seu futuro livro, que ainda não tem título nem editor. Claro que aceito, logo de caras. E vamos fazer tudo para que se tranforme no sucesso editorial do ano. Ele, Cabral, bem o merece. E, com ele, o nosso blogue, a nossa Tabanca Grande, os seus leitores, os/as seus/suas admiradores/as, incluindo muitos dos seus alunos/as da pátria de Cabral (do outro, o Amílcar).

Quanto à história de hoje, não podia ser mais apropriada. 12 de Maio é o Dia Internacional do/a Enfermeiro/a. Faz anos que nasceu a mulher que fundou a moderna profissão de enfermagem, a inglesa Florence Nightingale (1820-1910).

Por outro lado, a enfermeira internacionalista cubana fazia parte do imaginário (ou das miragens) do Zé tuga, na Guiné ... Por todo lado, víamos hospitais no mato e, à nossa espera, uma enfermeira cubana, imaculada, vestida de bata branca (***)...

Que dizer destas pequenas jóias literárias do nosso Cabral (o único, o autêntico, o nosso) ? Falo com ele ao telefone, de vez em quando, e ele deixa-me sempre bem disposto, mesmo quando não me trás boas notícias da nossa Guiné (que lhe chegam em primeira mão, através dos seus alunos, incluindo os filhos da nomenclatura)... Ontem, dizia-me que continua a querer voltar a Fá Mandinga para ir buscar uns papéis, seguramente imnoportantes, que deixou escondidos, em 1971, no alto do depósito de água, num buraco bem calefatado... Ele diz-me isto sem se desconcertar, com a maior naturalidade do mundo... É por isso que o seu humor é tão sui generis... Talento que lhe vêm no ADN, ou não tivera ele um avô, militar, que lhe contava histórias do realismo fantástico, como essa de andar a marchar toda a noite, em Moçambique, por cima de uma jibóia tão comprimida como a picada...

Jorge, mãos à obra, vamos ultimar livrinho!

PS - Jorge, no exército cubano, não me parece que eles tenham esse tal posto de alferes... Pelo sim, pelo não, promovo-te, no título, a subteniente
, não acontecer que a carta não chegue a Garcia, por erro no remetente.
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. o postes de 11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4317: Os Bu... rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)


(**) Vd. os últimos postes desta série:

8 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4155: Estórias cabralianas (48): A Bandolândia ou uma aula de história em... 2092 (Jorge Cabral)

(...) O Cidadão – Aluno XI7 frequenta a décima semana do Curso Unificado – Primário, Secundário, Universitário, o qual segundo as normas da Declaração de Cacilhas, lher irá conferir o Diploma da Sabedoria.

Claro que, quando entrou na escola, já dominava muitas das matérias que antigamente demoravam anos a aprender, pois logo em criança lhe implantaram um chip com todos os conhecimentos básicos. Porém XI7, hoje chegou à aula cheio de dúvidas. É que encontrou uma fotografia do seu trisavô, vestido com uma farda e empunhando um instrumento, talvez uma arma.(...)



2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4129: Estórias cabralianas (47): A minha mobilização: o galo dos Cabrais... (Jorge Cabral)

(...) Calma, simpática, acolhedora, a Vila de Vendas Novas. Bom vinho, petiscos, raparigas bonitas. Que mais podia aspirar o Aspirante? No Quartel fazia tudo, isto é, nada. Acumulara cargos, Justiça, Acção Psicológica, Revista, Cinema e ainda os discursos da Peluda.

Cumpria gostosamente um peculiar horário. Após o toque de alvorada, às vezes de ressaca, de cara por lavar e barba por fazer, corria para a Formatura Geral, onde... passava revista ao Pelotão. Meia hora depois, abancava no Bar e tomava um lauto pequeno almoço, antes de regressar à cama. (...)


31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4114: Estórias cabralianas (46): Inspecção Militar: E todos os tinham no sítio... (Jorge Cabral)

(...) Pois, também eu naquela manhã de Junho me dirigi à Avenida de Berna, ao Quartel do Trem Auto, onde hoje funciona a [Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da] Universidade Nova [de Lisboa].Éramos mais de cem, altos e baixos, loiros e morenos, alguns mancos, pitosgas muitos, um quase corcunda, três gagos e dois tontos. Mandaram-nos despir e pôr em fila, numa literal e verdadeira bicha de pirilau. (...)

2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3963: Estórias cabralianas (45): Massacres e violações (Jorge Cabral)

(...) Corria o ano de 1968, quando prestes a concluir o Curso, não resisti ao convite do Estado – Férias pagas em África, com grande animação e desportos radicais. Primeiro o estágio-praia para os lados da Ericeira, findo o qual, tive um grande desgosto. Tinham-me destinado ao turismo intelectual – secretariado. Felizmente as cunhas funcionaram e consegui ser reclassificado em atirador, tendo passado a frequentar no Alentejo, o estágio-campo. Terminado este, ainda vivi muitos meses de tristeza e inveja ao ver os meus camaradas integrarem satisfeitos numerosas excursões, as quais iam embarcando (...).

27 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3808: Estórias cabralianas (44): O amoroso bando das quatro não deixou só saudades... (Jorge Cabral)

(...) O Amoroso Bando das Quatro deixou-nos muitas saudades. Mas que noite agradável ... até sonhámos com elas. Só que ainda nem três dias haviam passado, já recebíamos tratamento à fortíssima infecção que nos atingira o dito e adjacências. Graças à Penicilina, o caso seria em breve esquecido, pois afinal tinham sido apenas ossos do ofício, os quais segundo alguns até mereceram a pena... Porém, e estranhamente, os sintomas começaram a surgir nos africanos, soldados e milícias, os quais não tinham usufruído da benesse (...).

6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3572: Estórias cabralianas (43): O super-periquito e as vacas sagradas (Jorge Cabral)

(...) Cumbá, a terceira mulher do Maunde, ainda uma menina, sentiu as dores de parto, ao princípio da noite. Às duas da manhã sou lá chamado. Está muito mal e as velhas não sabem o que fazer. Eu também não. Vamos para Bambadinca. Chegamos, mas Cumbá morre e com ela a criança não nascida. Amparo o Maunde, que chora e grita:-Duas vacas, Alfero, duas vacas! (...)

26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3519: Estórias cabralianas (42): As noites do Alfero em Missirá e uma estranhíssima ementa (Jorge Cabral)

(...) Eram calmas as noites do Alfero? Deviam ser, pois assim que pôs os pés em Missirá, cessou imediatamente a actividade operacional dos seus vizinhos de Madina. Chegou-se a pensar que o Comandante Corca Só entrara em greve, mas no Batalhão acreditava-se num oculto mérito do Cabral. Aliás, estando ainda em Fá e esperando-se um ataque a Finete, o Magalhães Filipe para aí o mandou, sozinho, reforçar o Pelotão de Milícias. Lá passou oito dias, dormindo na varanda do Bacari Soncó, que o alimentou a ovos cozidos (...).


13 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3446: Estórias cabralianas (41): O palácio do prazer, no Pilão (Jorge Cabral)

(...) De Bissau conheci muito pouco. Apenas o Pilão, e neste Os Dez Quartos, um palácio do Prazer. Era o local ideal para um sexólogo, pois tendo todos os quartos o mesmo tecto e paredes incompletas, ouviam-se os murmúrios, os gritos, os ais e os uis, deles e delas, em plena actividade. Sempre que lá fui, abstraí-me um pouco da minha função e dediquei-me à escuta, tentando até catalogar os clientes por posto, ramo, forma, jeito, velocidade e desempenho (...).

4 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3399: Estórias cabralianas (40): O meu sonho de empresário (falhado): a construção de uma tabanca-bordel (Jorge Cabral)

(...) Claro que lembro do Tosco! Havia pretas, mulatas e até uma chinesa. Todas, mais os copos, trataram-me da saúde. Entrava sempre a coxear, por via dos descontos… Mas o meu preferido era o Bolero, onde jantava no primeiro andar, antes do Tango em baixo, tocado a rigor por uma orquestra de cegos. Ainda lá fui após o 25 de Abril. A mesma orquestra, as mesmas putas, mas a música mudara – Todos em coro cantávamos a Internacional (...).

(***) Sobre os serviços de saúde do PAIGC e a ajuda cubana, vd. por exemplo:

15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli (Luís Graça)

11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P951: Antologia (47): Um médico cubano no Morés e no Cantanhez (Domingos Diaz, 1966/67)

12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P956: Antologia (48): Félix Laporta, o primeiro cubano a morrer, num ataque a Beli, em Julho de 1967

14 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P960: Antologia (49): Oficialmente morreram 17 cubanos durante a guerra

18 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P967: Antologia (51): Os combatentes cubanos ou a mística da guerrilha (Victor Dreke)

15 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2762: PAIGC: Instrução, táctica e logística (11): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XI Parte): A máquina logística (A. Marques Lopes)

17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2955: PAIGC: Instrução, táctica e logística (12): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XII Parte): Saúde (A. Marques Lopes)

24 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3090: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação do cubano Ulises Estrada

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3090: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação do cubano Ulises Estrada



Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje > 3 de Março de 2008 > Os participantes cubanos Oscar Oramas, antigo embaixador de Cuba na Guiné-Conacri, e Ulises Estrada, antigo combatente internacionalista que integrou, como voluntário, as fileiras do PAIGC. Ambos manifestaram o seu regojizo por voltar a encontrar antigos camaradas de armas (guineenses e caboverdianos) mas também portugueses que estavam do outro lado da barricada...

No final do Simpósio, Ulises Estrada fez um belíssimo improviso sobre o "momento histórico" que se estava a viver, ao juntar-se antigos inimigos, hoje reconciliados, num seminário científico mas também político que honra e premeia "a qualidade do ser humano" (sic)... Haveremos de apresentar, oportunamento, um excerto do seus discurso, desta vez mais caloroso e amistosa que a comunicação que hoje se divulga, uma pequena parte, em vídeo...


Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje > 3 de Março de 2008 > O cubano Ulises Estrada, antigo combatente internacionalista que esteve ao lado dos guerrilherios do PAIGC, evocando o papel dos cubanos na guerra, nove dos quais lá morreram, incluindo o 1º tenente médico Angel Sequera Palácios (?).

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje > 3 de Março de 2008 > O cubano Oscar Oramas fazendo uma intervenção, a partir da plateia. É doutorado em Filosofia e actualmente interessa-se por música. É autor de diversos livros, incluindo uma biografia de Amílcar Cabral. É um homem afável e que estabeleceu, com os portugueses, participantes no Simpósio, uma realação franca e aberta. Viajou, tal como o seu camarada Ulises, a partir de Lisboa.

Fotos: © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]




Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Terça-Feira, 4 de Março de 2008 > Painel 1 > Guiledje e a Guerra Colonial/Guerra de Libertação (Moderador: João José Monteiro, Universidade Colinas de Boé) > Comunicação: 11h30 – 12h00: Ulisses Estrada (Ex-Militar, diplomata, jornalista e escritor cubano) – Internacionalismo cubano e a participação de Cuba no esforço da guerra de libertação da Guiné-Bissau.

Vídeo (5' 49''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes. (Em caso de deficiente visionamento ou carregamento do vídeo, clicar, no You Tube > Nhabijões, em watch in high quality ).



Sinopse: Neste excerto, Ulises Estrada que chega à Guiné em meados de 1966 - não fazendo parte, por isso, do primeiro contingente cubano, que era composto por 3 médicos e 3 artilheiros, chegados a 29 de Abril de 1966 - relata o esforço dos voluntários cubanos na luta de libertação, ao lado dos guerrilheiros do PAIGC (1).

Faz referência a ataques em que ele próprio participou, desde o Olossato a Farim, desde Buba ao Morés, incluindo uma emboscada na estrada de Enxalé-Portugole, e um ataque ao destacamento de Missirá, no Cuor, a norte do Rio Geba (em Dezembro de 1966), a nossa conhecida Missirá onde estiveram, em épocas diferentes, os nossos camaradas Beja Santos (Pel Caç Nat 52, 1968/69) e Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63, 1970/71).

Evoca também a figura de Domingos Ramos, chefe da Frente Leste e comissário político do PAIGC, que morre a seu lado a 10 de Novembro de 1966, num ataque de artilharia (1 canhão s/r) e infantaria ao quartel de Madina do Boé. 

O Ulises disse-me pessoalmente, em Bissau, que o Domingos Ramos foi morto por um estilhaço de morteiro, quando o tentava proteger (a ele, Ulises). O seu corpo foi resgatado pelo cubano, "para que não caísse nas mãos dos portugueses" (sic), e levado a seguir para a base de Boké, na Guiné-Conacri, onde foi entregue a Aristides Pereira. Ulises diz do seu camarada guineense que era um grande homem, um grande combatente, e um grande líder político (2).

Ulises Estrada fala ainda de outros combatentes cubanos que se destacaram na luta de libertação na Guiné, incluindo o comandante Raul Diaz Arguelles que esteve ao lado de Nino Vieira no cerco de Guileje, em Maio de 1973 (e que viria a morrer em Angola, em Dezembro de 1975, na Batalha da Ponte 14, em que o MPLA e os seus aliados cubanos foram massacrados pelas tropas da África do Sul). 

Referiu ainda o nome (mal perceptível) de um tal coronel Fernandez Caturno (?), que comandava o pelotão de bazucas (RPG 7). Foi referido ainda o nome do Capitão Pedro Rodriguez Peralta, ferido e capturado pela CCP 122/BCP 12, em 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje (Operação Jove).

No final, é lida a lista dos nomes dos 9 cubanos que morreram em combate na Guiné, incluindo um médico, o 1º tenente médico Angel Sequera Palácios (?). Há tempos li, noutra fonte (cubana), que teriam morrido 17 cubanos na guerra da Guiné (3).

Ulises Estrada e Oscar Oramas foram os únicos cubanos que participaram no Simpósio Internacional de Guileje, como oradores. Tal como os restantes convidados estrangeiros, incluindo os portugueses, estiveram hospedados no Hotel Azalai (antigo 24 de Setembro).

À hora das refeições, nas idas e vindas de autocarro, e nos programas sociais, tivemos oportunidade de conviver um pouco mais com estes cidadãos cubanos que, durante a guerra colonial/luta de libertação, desempenharam papéis diferentes. Objectivamente eram nossos inimigos. Em Bisssau (e na visita ao sul da Guné) comportámo-nos como velhos combatentes que o passado de guerra aproximou, em vez de separar.

Ulises Estrada, hoje com 73 anos I(nasceu em 1934), combateu nas matas na Guiné, desde Farim ao Morés, do Cuor a Madina do Boé, viu morrer a seu lado, em Madina do Boé, o comandante Domingos Ramos, atacou quartéis e destacamentos portugueses (como Buba e Missirá), montou emboscadas (como, por exemplo, na estrada Enxalé-Porto Gole)...

Oscar Oramas, pelo seu lado, era embaixador de Cuba na Guiné-Conacri, na altura em que foi assassinado Amílcar Cabral.

São personalidades bem distintas: Oramas é um homem afável, cavalheiro, amistoso, que nunca se furtou ao relacionamento com o grupo, mais numeroso, de portugueses... Ulises, um negrão, como diriam os nossos amigos brasileiros, pareceu-me um homem física e psicologicamente abatido. Inclusive terá sofrido um ataque de paludismo durante a sua estadia em Bissau. No regresso a Lisboa, vinha visivelmente combalido. Era também um homem, por essa ou outras razões, mais reservado. Parecia haver algum desconforto por, combatente do outro lado, estar agora ali, ao lado dos seus inimigos de ontem...

Infelizmente não falámos o suficiente para eu poder perceber o que lhe ia na alma... A sua comunicação (de que vos dou um registo, em vídeo, de cerca de 6 minutos) fala por si: não difere da linguagem seca, aparentemente assertiva, objectiva, dos nossos militares profissionais... Não há emoção, não há subjectividade... Diferente será o seu discurso, de improviso, na sessão de encerramento, onde vem ao de cima o homem e não tanto o ex-revolucionário profissional.

Estrada é um velho combatente internacionalista que andou por muitas guerras (da Sierra Maestra ao Chile, do Congo à Guiné, sem esquecer a Palestina)... É autor de três livros incluindo um sobre a controversa Tânia, a Mata-Hari da América Latina, de origem alemã e judia, que fez trabalho de espionagem para os cubanos (mas possivelmente também para os alemães de leste e para os soviéticos)... Diz-se que foi amante do Che e do próprio Ulises...

De qualquer modo, o depoimento de um (Oramas) e outro (Estrada) são importantes. É outro ponto de vista, necessariamente diferente do nosso, sobre a guerra da Guiné... Sabemos ainda pouco sobre o papel dos cubanos cujos fantasmas eram vistos um pouco por todo o lado, na Guiné, no meu tempo (1969/71)... Só se fala do Capitão Peralta, ferido e capturado em 1969 pelos paraquedistas e libertado, já depois do 25 de Abril de 1974... Sabemos pouco sobre as misérias e grandezas da guerrilha... Quarenta anos depois, é já altura de abrirmos dossiês e corações...


Ulises Estrada Lescaille - Curriculum Vitae 

Nació el 11 de diciembre de 1934 en Santiago de Cuba, antigua provincia de Oriente. Origen social: clase media. Bachiller y Licenciado en Ciencias Sociales. Habla el idioma ingles.

Participó en la lucha clandestina en Santiago de Cuba y La Habana contra la dictadura de Fulgencio Batista en las filas del Movimiento 26 de Julio. Fue Oficial del Ejército Rebelde y del Ministerio del Interior, donde ocupó importantes responsabilidades en el Viceministerio Técnico como Director General de la Dirección V encargada del apoyo solidario de la Revolución Cubana a los Movimientos de Liberación Nacional africanos.

Participó en la lucha guerrillera del Consejo Supremo de la Revolución Congolesa en Congo Leopoldville junto con el Comandante Ernesto Che Guevara y en la guerra de liberación del PAIGCV [Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde].

Estuvo en zonas de guerra de los comandos Al Assifa contra Israel en las márgenes del río Jordán. También participó en la ejecución de la ayuda solidaria de Cuba con los movimientos revolucionarios y fuerzas progresistas en América Latina y el Caribe.

Entre 1975 y 1979 fue primer vicejefe del Departamento América del Comité Central del Partido Comunista de Cuba y Embajador Extraordinario y entre 1979 y 1990 fue Embajador Extraordinario y Plenipotenciario en Jamaica, Yemen Democrático, Mauritania, la República Árabe Saharaui Democrática y Argelia asi como Director de Medio Oriente, No Alineados y vice Ministro del Ministerio de Relaciones Exteriores.

A partir de 1990 como periodista fue jefe de Información del periódico Granma Internacional, órgano oficial del Comité Central del Partido Comunista de Cuba, periodista del periódico El Habanero, órgano oficial del Comité Provincial del Partido en la provincia de La Habana, director de la revista Tricontinental de la Organización de Solidaridad con los Pueblos de África, Asia y América Latina y periodista de la revista Bohemia.

Ha escrito cientos de trabajos en diferentes géneros periodísticos en medios de prensa cubanos y extranjeros. Ha escrito tres libros.


Título da Comunicação > O internacionalismo cubano e participação de Cuba no esforço da guerra de libertação da Guiné-Bissau

Sínopse da Comunicação

La ponencia refiere las condiciones existentes en Guinea Bissau bajo el colonialismo portugués y la decisión de su pueblo de alzarse en armas en la lucha por su independencia nacional bajo la guía política y militar del compañero Amilcar Cabral y el PAIGCV impulsando la conciencia y unidad nacional hasta lograr la victoria.

En este contexto, como a partir de la reunión de Amilcar con el Che Guevara a finales de 1965 y posteriormente con el Comandante en Jefe Fidel Castro, se inicio la ayuda solidaria de la Revolución Cubana con instructores y combatientes militares, médicos y personal para médico, medicinas, alimentos, armas y municiones, aperos de labranza, uniformes y becas de estudio, hasta que alcanzó su independencia de Portugal. (...)


Fonte: Guiledje: Simpósio Internacional [Página oficial do Simpósio já não disponível, inserida na sítio da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau] [LG - 3/11/2014. Ulisses Estrada morreu, entretanto, em 26/1/2014, em Cuba]

Outros elementos curriculares:
Dias com el Che, por Ulises Estrada Lescaille. Revista Tricontinental, Cuba.
(...) "Al salir de Cuba, el Che había dejado a Fidel, a quien calificaba como su guía revolucionario y amigo, la carta de despedida ante el llamado de otras tierras del mundo. La campaña internacional, cargada de infamias y especulaciones, más la preocupación y dudas de algunos amigos fuera de nuestras fronteras sobre la supuesta "desaparición" del Che, fueron aplastadas cuando Fidel decidió dar a conocer esa carta, a la vez que envió al comandante José Ramón Machado Ventura, entonces ministro de Salud Pública, a explicarle al Che las razones de su publicación, así como la situación existente y la creación del Partido Comunista de Cuba y su comité central, del cual, por razones obvias, no formaba parte.

"En el recorrido que realizara por el continente africano, profundizó en sus conocimientos sobre la lucha de liberación nacional que desarrollaban los movimientos anticolonialistas, con muchos de los cuales se entrevistó, y les ofreció la ayuda solidaria de Cuba. Esa fue la razón por la que viajé en el barco Uvero entregando alimentos, ropa, medicamentos y armas a los movimientos revolucionarios, entre ellos el Partido Africano para la Independencia de Guinea Bissau y Cabo Verde, dirigido por el legendario Amílcar Cabral.

"El periplo concluyó en Dar es Salaam, República de Tanzania. Allí llevamos suministros destinados al Frente de Liberación de Mozambique (FRELIMO), al Consejo Supremo de la Revolución (CSR) y para el grupo de asesores militares cubanos en el Congo". (...)





Ulises Estrada é autor de Tania: Undercover with Che Guevara in Bolivia (Paperback, June 2005).

De seu nome, Haydée Tamara Bunke Bíder, nasceu em 1937, na Argentina, sendo de origem judaico-alemã. Os pais fixaram-se, depois da guerra, na Alemanha comunista. Tânia, uma mulher inteligente, apaixonada, sedutora e controversa, aderiu à Revolução Cubana. Torna-se espia dos cubanos e faz, na Bolívia, à guerrilha de Che Guevara. Morre aos 30 anos, em 1967, numa emboscada.





Oscar Oramas - Curriculum Vitae

Nació en San Fernando de Camarones, Provincia de Cienfuegos, Cuba, el 12 de noviembre de 1936.

Doctor en Filosofía. Actualmente hace una Maestria en Historia del Arte, con la tesis: La impronta de la música en la identidad y la psicología social del cubano.
Es autor de los libros:

Amílcar Cabral, más allá de su tiempo, publicado por la Editorial Côte Femmes de París y Amílcar Cabral, para além do seu tempo, Editorial Hugin, Lisboa;
Las personalidades políticas más descollantes en el proceso de descolonización de África, publicado por la Editora Política de La Habana;
Estados Unidos: su otra cara, publicado por la Editora Política de La Habana,
El alma del cubano: su música, publicado por la Editorial Prensa Latina,
Los desafíos del siglo XXI, publicado por la Editorial de Los Andes de Venezuela,
Miel de la vida: el bolero, publicado por la editorial Vinciguerra de Buenos Aires.

Pendientes de publicación están los siguientes títulos: "Sueños traficados”, “La música de los árboles” y “Countdown to Sunrise”, “Los Ángeles también cantan”, “La Gloria tiene un nombre: Chucho Valdés”.

Fue Embajador de Cuba en Republica de Guinea, Malí, Angola, Sao Tomé y Príncipe y Las Naciones Unidas, así como Director de África del Minrex y Vice-Ministro de dicho Ministerio.

Durante 10 años fue funcionario de la Secretaria de las Naciones Unidas de lucha contra la Desertificación y coordinador de la misma para América Latina y el Caribe.

Recibió en octubre de 2005 la Medalla Amílcar Cabral de Primer Grado, otorgada por el Gobierno de la República de Cabo Verde.


Título da comunicação >  Contribuição e participação cubana na luta de libertação nacional da Guiné-Bissau: dados, números e factos

Sinopse da comunicação

Un hito en las relaciones de Cuba con Guinea Bissau y Cabo Verde lo constituyo el encuentro entre, Amilcar Cabral y el Guerrillero Heroico, Ernesto Guevara, celebrado en Conakry en los albores de 1965. Ya ellos habían conversado en Accra y el Che expreso su deseo de visitar el territorio liberado. Producto de esas conversaciones, zarpa del puerto de Matanzas, el barco Uvero, con productos alimenticios, medicamentos, uniformes, productos agrícolas y armamentos para el PAIGC.

El comandante Jorge Serguera es el encargado de entregar esa primera ayuda de Cuba al PAIGC, en la capital de la República de Guinea, en Conakry. Con ese hecho se sello una amistad, entre nuestros pueblos, que la vida se ha encargado de mostrar cuan perecedera ha sido. Fue una muestra palpable de la solidaridad humana y por parte de Cuba, una muestra de gratitud para con los pueblos que un día fueron obligados a emigrar a América y allí nos crearon.

En 1965, Amilcar Cabral al frente de una delegación viaja a la Habana, para participar en la primera Conferencia Tricontinental de solidaridad con los pueblos de Asia-África-América Latina. En esa oportunidad, el Comandante en Jefe, Fidel Castro invita a Amilcar Cabral a visitar las montañas del Escambray y en una fría mañana, discuten, en presencia del comandante Manuel Pineriro Losada, el envío de consejeros militares, armamentos y personal medico para apoyarlos en la lucha contra el ocupante colonialista portugués.

En mayo de 1966 llegan los primeros consejeros militares cubanos y los médicos, así como material militar. Desde ese entonces hasta el día de la independencia Cuba trabajó codo con codo, junto a vuestros valerosos combatientes por alcanzar ese don tan preciado para el hombre, como lo es, la independencia.

Algunas semanas después del aquel memorable encuentro, el Jefe de la revolución cubana envía una pequeña delegación a Guinea, con el propósito de estudiar las condiciones del terreno, de analizar la situación de la lucha armada y determinar la ayuda que Cuba pudiera brindar y que fuera más eficaz para la lucha.

La presencia cubana debía mantenerse en secreto, para evitar incidentes internacionales. Y había que proteger la vida de los cubanos, según dispuso el PAIGC. Los cubanos fueron enviados al comando central del frente sur, a la región de Bochisance, otro grupo es situado en Madina Boe y un tercer grupo es destinado a permanecer en la retaguardia, en la villa de Boke, donde están los principales servicios médicos de PAIGC.

La experiencia de los militares cubanos se trasmite inmediatamente a los responsables militares del PAIGC, es decir: explorar el teatro de operaciones, los objetivos que deben ser blancos de la artillería, la organización de los repliegues de los combatientes. Hasta ese entonces el ejercito portugués o tugas, como los llamaban ustedes, se lanzaban sobre los combatientes en los momentos de la retirada, pero las nuevas tácticas de combate, lo obligan a ser más cauteloso, pues se les castiga. Aumenta el uso de la aviación por parte del colonialista, ventaja de cierta significación en esa contienda y contra la cual hubo que protegerse.

El 10 de noviembre de 1966, un cuartel de Madina Boé es atacado por las fuerzas del PAIGC, con la participación de instructores militares cubanos. Es una operación dirigida por el comandante Domingo Ramos, heroico guerrillero. El responsable de la ayuda para África, Ulises Estrada, es uno de los participantes en esos hechos y Domingo Ramos tratando de protegerlo es herido mortalmente por la esquirla de un obús de mortero. No pudo llegar a tiempo al hospital el combatiente, pero el gesto y la sangre unieron como los dedos de una mano a los hijos de ambos pueblos.

Combatientes militares fueron entrenados en las escuelas especiales cubanas, allá en Cuba. Decenas y decenas de jóvenes surcaron los mares hacia el Caribe, pero esta vez, para prepararse en muchas disciplinas y ser los que en el futuro asegurarían el porvenir del país. El PAIGC pensó en el futuro, al mismo tiempo que luchaban por el hoy, y Cuba, consciente de la necesidad de forjar a los profesionales del mañana, no vaciló en apoyarlos. Era la lucha de todos por la justicia, por liquidar la noche colonial y por garantizar que la libertad solo prevalece si los hijos de un pueblo se preparan adecuadamente para encarar la dura tarea del desarrollo socio económico.

Las armas enviadas no se cuantifican, las toneladas de azúcar, los medicamentos, todos los productos donados, aunque, y en la medida de las posibilidades de la pequeña Cuba, nunca dejaron de fluir hacia ustedes, pero lo trascendente aquí, es que ningún obstáculo amilano, o hizo retroceder la decisión de los combatientes internacionalistas cubanos, o de la dirección de la Revolución cubana, por luchar junto a ustedes. Ustedes, en la lucha se hicieron acreedores del sacrifico de seres humanos que se separaron de sus familiares más queridos, para correr la misma suerte, para ser victimas de las balas o del paludismo u otras enfermedades, del hambre o de las heridas en combate.

El significado del ataque al cuartel de Guiledje y las diferentes acciones combativas de las Fuerzas Armadas de Liberación del PAIGC, constituyeron una estrategia militar y politico de gran significación en la lucha por expulsar de todas sus colonias al regimen fascista de Portugal.

El desgaste politico y militar de las Fuerzas Armadas coloniales fue el elemento catalizador de la rebelión y la llamada revolución de los claveles en Portugal. Digámoslo con absoluta convicción que el sacrificio de los pueblos de Guinea Bissau, Cabo Verde, Angola, Mozambique fructificó en las calles de Lisboa y otras ciudades de la metrópoli, aquel día, 25 de abril, cuando el ejercito cansado de cruentos conflictos, que solo servían a determinados intereses económicos y políticos, decidió dar un vuelco a la situación y tomar el poder, para democratizar la sociedad portuguesa y regresar a sus hijos de las posesiones coloniales.

Si, cuando los patriotas del PAIGC liquidaban a un colonialista estaban mostrando que eran capaces de vencer al enemigo, de obtener la victoria y al mismo tiempo, liberar al Portugal fascista de uno de los regimenes más crueles que ha conocido un país europeo. Fue esa, una gran contribución de vuestros pueblos al proceso de formación de la conciencia del hombre africano, de sus capacidades y de lo innoble y acientífico de muchas de las concepciones de supuestos pensadores de los países coloniales acerca de la inferioridad de los seres humanos del mundo colonizado.

El ataque al cuartel significo un hito en el terreno militar, pues hasta ese instante la guerrilla no había desafiado al ejército colonial en sus instalaciones. Existía la concepción de que los combates contra los cuarteles podían provocar muchas muertes dentro de los luchadores por la liberación nacional y que eso afectaría la moral de los combatientes, pero el hecho le mostró a la guerrilla su capacidad en poder inflingirle fuertes golpes al enemigo. Ustedes lucharon victoriosamente y de acuerdo a las características propias del entorno histórico, social y económico del escenario de las batallas.

Dura brega, cuando se exigía el esfuerzo cotidiano, propio de ese tipo de lucha. No es necesario recordar las vicisitudes pasadas, ellas son consustanciales con el empeño de liberar a un pueblo, pero si es preciso decir una y mil veces que la contienda fue épica y que se requirió de mucha sabiduría, coraje, determinación, disciplina, para vencer siglos de oscurantismo, los propios de la noche colonial, de duro batallar para asimilar la técnica moderna, el arte de la guerra frente a un poderoso enemigo, para hacerlo morder el polvo de la derrota.

La doctrina militar desarrollada por el PAIGC, adecuada para el contexto de la lucha de esos pueblos por la liberación nacional, concebía que el proceso fuera largo y que el desgaste de Portugal diera lugar a la independencia. La práctica demostró la pertinencia de la concepción elaborada, pues el nivel de conocimientos, de medios y fuerzas de la guerrilla, en comparación con los del enemigo era enorme, solo era favorables a la guerrilla: el conocimiento del terreno, el apoyo de las poblaciones, la justeza del hecho, la solidaridad internacional. Todos debiéramos compartir aquel aserto del máximo dirigente del Partido, Amilcar Cabral, cuando dijera: “La Lucha de Liberación Nacional es un acto de cultura”.

Todo cubano que participó en vuestra contienda se siente feliz de haberlo hecho. Martianos al fin, sentimos que cumplimos con un deber, porque para nosotros, “Patria es Humanidad”. Pudiéramos hacer muchas historias o contar incidentes, como los acaecidos en Casamance, o las vicisitudes de los médicos que de manera abnegada laboraron junto a ustedes y salvaron muchas vidas, o la de la captura y prisión del entonces capitán Pedro Rodríguez Peralta o la presencia entre ustedes de los comandantes Víctor Dreke, Raúl Díaz Arguelles y tantos otros oficiales de las Fuerzas Armadas Revolucionarias, pero no, baste decir aquí, que nos enriquecimos espiritualmente, que se escribieron páginas de glorias de principios de alta significación humana, como lo es, la solidaridad militante en la lucha por la liberación nacional de los pueblos. La independencia alcanzada por ustedes, es nuestra mayor y única recompensa.


Fonte: Guiledje: Simpósio Internacional 
[Página oficial do Simpósio já não disponível, inserida na sítio da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau] [LG - 3/11/2014]
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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P951: Antologia (47): Um médico cubano no Morés e no Cantanhez (Domingos Diaz, 1966/67)

12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P956: Antologia (48): Félix Laporta, o primeiro cubano a morrer, num ataque a Beli, em Julho de 1967

18 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P967: Antologia (51): Os combatentes cubanos ou a mística da guerrilha (Victor Dreke)

(2) Vd. as revelações do Mário Dias sobre o Domingos Ramos, seu amigo e camarada do Curso de Sargentos Milicianos de 1959:

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando

12 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2343: PAIGC - Quem foi quem (5): Domingos Ramos (Mário Dias / Luís Graça)

20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2461: Blogoterapia (38): Dois heróis, dois homens com valores, Domingos Ramos e Mário Dias (Torcato Mendonça)

(3) Vd. post de 14 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P960: Antologia (49): Oficialmente morreram 17 cubanos durante a guerra



terça-feira, 18 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P967: Antologia (51): Os combatentes cubanos ou a mística da guerrilha (Victor Dreke)


1. No dia 11 de Julho de 2006, mandei a seguinte mensagem para a nossa tertúlia:

Gostaria que comentassem este depoimento de um médico cubano que esteve na guerrilha, em 1966/67... Está em espanhol, lê-se bem... Há um resumo, em português, no post anterior. 

Esta informação chegou-me através do incansável camarada fuzo que é o Jorge Santos... O artigo original cacei-o eu, na Net... Vou pedir a um antigo aluno meu, médico, cubano, que vive em Portugal e que fez a guerra de Angola e da Eritreia, para me pôr em contacto o seu colega Domingo Diaz.

É outro ponto de vista, polémico mas muito interessante, sobre a guerra da Guiné... Sabemos pouco sobre o papel dos cubanos... Só se fala do Capitão Peralta... Sabemos pouco sobre as misérias e grandezas da guerrilha... Enfim, vejam lá se me ajudam a identificar o resto das bases do PAIGC...

Guiné 63/74 - P951: Antologia (47): Um médico cubano no Morés e no Cantanhez (Domingos Diaz, 1966/67)

Guiné 63/74 - P950: Antologia (46): Depoimento de médico cubano na guerrilha do PAIGC (1966/67)



2. Respondeu-me, logo a seguir, o Carlos Fortunato, meu velho camarada da CCAÇ 2591, mais tarde CCAÇ 13. Embarcámos juntos no velho Niassa, com destino à Guiné, em finais de Maio de 1969.

Luís:

Os cubanos desempenharam sem dúvida um papel importante na guerra da Guiné. Para além do apoio médico e do fornecimento de especialistas para os foguetões de 122 mm, houve sempre a suspeita de que estavam por trás do planeamento de muitas das operações realizadas na Guiné.

Queria chamar-te a atenção para outro artigo que considero bastante interessante, e que é da autoria do coronel aposentado Victor Dreke, que foi o chefe dos combatentes cubanos na Guiné-Bissau durante a guerra.

Seria excelente se conseguissemos estabelecer contacto com o comandante Victor Dreke, pois este poderia, se quisesse e pudesse, esclarecer muitas das lacunas existentes [sobre o conhecimento da] guerra da Guiné. Podes tentar um contacto, através desse teu antigo aluno?

Junto em anexo o texto do coronel Victor Dreke, mas aqui vai o a página da Net onde o consultei:

http://granmai.cubaweb.com/portugues/marzo03/mier12/10nues-p.html

Podes encontrar algumas fotos de cubanos na Guiné, num outro artigo, sobre os cubanos em África, que também tem várias referências ao seu papel na Guiné. A página da Net é:

http://www.tricontinental.cubaweb.cu/REVISTA/texto20ingl.html (*)

Um abraço

Carlos Fortunato

(*) Nota de L.G.: Texto em inglês > A History Worthy of Pride, by Dr. Piero Gleijeses, Professor of US Foreign Policy, Johns Hopkins University. Photos: Ediciones Verde Olivo.
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3. Então aqui vai, para efeitos de divulgação mais alargada, o texto de Victor Dreke, publicado no jornal diário Granma, o órgão oficial do Comité Central do Partido Comunista de Cuba, na sua versão internacional e digital, na edição de 12 de Março de 2003. 

Esta versão, em português do Brasil, contém alguns erros, que corrigi, nomeadamente nos nomes das localidades da Guiné-Bissau. A ortografia é brasileira (LG).

Fotos: A History Worthy of Pride (com a devida vénia)


Nossos antepassados levados à América como escravos estão contentes

por Victor Dreke (*)

Amílcar Cabral, um dos dirigentes africanos mais brilhantes, revelou que o Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC), valorizava intensamente o apoio dado pelo povo cubano. Assim informou-o num discurso histórico, em 30 de Agosto de 1966, de visita [a] Brazzaville com outros dirigentes das colônias portuguesas em luta.

Manifestou que não acreditava na imortalidade da alma. «Mas, se assim fosse» - acrescentou - «poderíamos dizer que as almas dos nossos antepassados levados [para a] América como escravos, estão contentes ao verem nesta hora seus filhos reunidos, contribuindo para a libertação e a independência verdadeiras».

Noutro momento desse discurso, Amílcar expressou: «Não são os rios nem as montanhas que fazem a história. A história é feita pelos homens e agradeço aos povos e aos homens que foram capazes de provar antes de nós essa realidade histórica, principalmente ao povo cubano e a Fidel Castro, que o fizeram através de seu exemplo».

Três meses antes, em 29 de abril de 1966, Cabral tinha-se reunido com os seis primeiros cubanos que chegaram à Guiné-Bissau, três deles médicos, Labarrere, Rómulo e Domingo (1), e [os outros] três artilheiros, Aldo, Verdecia e Salabarria, mais conhecido por Horácio, «o homenzarrão». Estes companheiros participaram do seu primeiro combate, [no] 1º de Maio desse ano. Posteriormente nos meses seguintes chegaram outros grupos.

Amílcar não queria que os cubanos se arriscassem e era oposto a que participaram [opunha-se a que participassem em combate] como soldados da infantaria. A morte do primeiro cubano, Félix Barriento Laporte, em 2 de Julho de 1967, no ataque ao quartel [de Beli, a nordeste de Madina do Boé, e não de Melle, como vem no original], foi para Amílcar uma grande preocupação e uma profunda dor, pois era do critério [de opinião] de que a guerra devia ser travada pelos guineenses e pelos cabo-verdianos. O apreço e admiração de Amílcar pelos cubanos foi expresso em cada momento.

A data de 2 de Março de 2003 virou data histórica e inesquecível para os povos de Cuba, da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, com a inauguração, no Parque dos Próceres Africanos, nas ruas 13 e 64, Miramar, [em Havana, Cuba,] do busto desse grande lutador pela liberdade de seus dois povos, da África e da humanidade: Amílcar Cabral.

Este homem nasceu em 12 de Setembro de 1924, em Bafatá. Em 1932, a família mudou-se para Cabo Verde, onde continuou seus estudos até 1945, ano em que lhe foi outorgada uma bolsa de estudos para Lisboa.

Na etapa de estudante destacou-se na luta contra a colônia, realizando várias atividades como membro do comitê antifascista.

Em 1950, retornou a Bissau formado como engenheiro agrônomo, mas em 1955, devido a suas ideias e atividades anticoloniais, foi expulso pelo governador, motivo pelo qual viajou a Angola e aderiu ao movimento de libertação desse país (MPLA).

Em 19 de Setembro de 1956, foi constituído em Bissau o PAI (Partido Africano da Independência), adotando posteriormente o nome de PAIGC.

Amílcar preparou as condições para iniciar a guerra necessária e em 23 de Janeiro de 1962 começou a luta armada com o ataque ao quartel de [Tite e não de Titi, como vem no original], no sul do país. O dirigente africano traçou a estratégia da luta política, militar e econômica do país em guerra.

Em 1964, editou os primeiros livros escolares para a alfabetização, inaugurou uma escola para os filhos dos combatentes e crianças da zona libertadas e organizou a agricultura nas zonas dominadas pela guerrilha.

Em Novembro de 1964, constitui a primeira unidade do exército popular, organizou as milícias, abriu o front [a frente] leste e organizou, com os recursos existentes, as unidades de saúde.


África Ocidental > Congo (Zaire) > Possivelmente Abril de 1965. Da esquerda para a direita, Victor Dreke (Moja), o médico Rafael Zerquera (Kumi) e Che Guevara. Fonte: El Comandante Che Guevara (com a devida vénia)


De 13 a 17 de Fevereiro de 1964, celebrou-se o primeiro congresso do PAIGC em armas, no sul do país em [ Cassacá e não Casacá, como se lê no original], constituindo o bureau político e o comitê central.

No início de 1965, reuniu-se com o comandante Ernesto Che Guevara, na República da Guiné[-Conacri], de cujo encontro o Che fez uma avaliação muito positiva que expressou na sua Mensagem à Tricontinental (2).

Em 1966, por ocasião da primeira reunião da Tricontinental, Amílcar fez pronunciamentos sobre a unidade necessária na luta dos povos contra o colonialismo, os quais foram gravados para a humanidade toda. Visitou com nosso comandante-em-chefe Fidel Castro o Escambray e a partir desse momento Amílcar e seu povo uniram-se a Cuba na batalha por uma pátria livre do colonialismo.

[Nós,] os cubanos lembramos aquele grupo de companheiros cabo-verdianos que, sob as ordens do atual presidente Pedro Pires e com a participação direta do capitão Toledo, Coqui e outros cubanos, prepararam-se física e militarmente.

Posteriormente, os vimos nos campos da Guiné combatendo pela liberdade da [Guiné-] Bissau e Cabo Verde; presentes também na emissora Radio Liberação [Libertação], criada para cumprir a missão de fazer chegar a verdade ao povo, e que começou as transmissões em 16 de julho de 1967, na República da Guiné-[Conacri].

Amílcar Cabral foi um lutador incansável pela unidade e a paz de seus povos, pela cultura e o desenvolvimento de ambos os países, assinalando a esse respeito: «De Portugal só precisamos da língua para poder sair ao mundo».

Não podemos esquecer aquela noite triste do mês de Outubro de 1967, quando na embaixada de Cuba na República da Guiné-[Conacri] reun[iu-se] o bureau político do PAIGC, liderado por Amílcar e Aristides Pereira, para prestar tributo ao Comandante Che Guevara ao ser confirmada a notícia de sua morte na Bolívia (3).

[Em] resumo, Amílcar deu a palavra de ordem: atacar todos os quartéis durante 15 dias na operação que nomeou «o Che não morreu».

É por isso que estamos certos que Amílcar neste momento estaria junto a Fidel na luta pela unidade dos povos em defesa da liberdade e o retorno dos nossos Cinco heróis prisioneiros do Império (4). Com certeza, nossos antepassados levados à América como escravos estão contentes.

Prestamos homenagem aos combatentes cabo-verdianos e guineenses mortos e como tributo também lembramos os cubanos que morreram na Guiné-Bissau: tenente Raúl Pérez Abad, Raúl Mestres Infante, Miguel A. Zerquera Palacio, Pedro Casimiro Llopins, Radamé Sánchez Begerano, Eduardo Solís Renté, Felix Barriento Laporte, Radamés Despaigne Robert e Edilberto González (5).
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(*) O coronel aposentado Victor Dreke foi o chefe dos combatentes cubanos na Guiné-Bissau durante a guerra de libertação desse povo

Fonte: http://granmai.cubaweb.com/portugues/marzo03/mier12/10nues-p.html

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Notas de L. G.:

(1) Vd post de 1 de Jukho de 2006 > Guiné 63/74 - P951: Antologia (47): Um médico cubano no Morés e no Cantanhez (Domingo Diaz, 1966/67)

(...) "A principios del año 66, respondiendo a esa solicitud, lo designan como miembro del primer grupo (muy reducido), de médicos y combatientes que participarían en la liberación de Guinea Bissau, cuya metrópoli era Portugal (...).

"En ese momento yo era jefe de los servicios médicos de la división 1270 en el Mariel. Fuimos nueve médicos (tres viajaron por avión) junto a los instructores, en total 24 hombres. Tenía bastante experiencia en cirugía porque en esa época, desde que uno estaba estudiando podías participar en determinado equipo quirúrgico. Dos meses después de mi incorporación a este contingente, integrado por artilleros, morteristas, cañoneros y médicos, salimos hacia Guinea Bissau, en la motonave Lidia Doce de 2 000 toneladas. El viaje duró casi 20 días, hasta llegar al puerto de Conakry. La nave estaba deteriorada y fue un trayecto difícil, pues se rompió por lo menos tres veces. En una ocasión hubo un inicio de fuego en las máquinas y por poco tenemos que abandonar el barco" (...).

(2) Tal significa que o Che Guevara nunca esteve na antiga colónia portuguesa, como às vezes consta. O texto de Piero Gleijeses, Professor de Política Externa Norte-Americana, na prestigiada Universidade de Johns Hopkins, também não coloca a Guiné-Bissau na missão secreta que levou Guevara à África, de Dezembro de 1964 a Fevereiro de 1965:

In December 1964, Che Guevara went to Africa on a three-month trip that evidenced the increased interest of Havana in the region. In February 1965, in Dar es Salaam, Tanzania, Che came to an agreement with the rebellious Zairians that Cuba would send a group of instructors to help them in their struggle. In April, a Cuban column of about 120 men under Che´s orders entered eastern Zaire through Tanzania. (...). Fonte: A History Worthy of Pride

Em contrapartida, foi a Guiné-Bissau o país de África, em luta pela independência, que beneficiou mais, nessa época, do apoio político-militar de Cuba:

The end of the 1960’s was a period of growing maturation in the relationship between Cuba and Africa. In those years – until 1974 – Cuba’s focus in the continent was centered on Guinea-Bissau, where PAIGC guerilla fighters were fighting to liberate their country from the yoke of Portuguese colonialism.

At the request of the PAIGC, Cuban military instructors came to Guinea-Bissau in 1966 and stayed until the end of the war in 1974. This was the longest Cuban operation in Africa until the dispatching of troops to Angola in 1975; and it was also the most successful.

According to the words of the first president of Guinea-Bissau, “we knew that we could fight and triumph because other countries and people supported us... with weapons, with medicines, with supplies... But there is a country that, besides material, political and diplomatic support sent their sons and daughters to fight on our side, to spill their blood in our earth alongside that of the best children of our homeland. This great people, this heroic people, we all know is the heroic people of Cuba, the Cuba of Fidel Castro, the Cuba of the Sierra Maestra, the Cuba of Moncada... Cuba sent its best youth here to help us in the technical aspects of our war, to help us carry out this great struggle... against Portuguese colonialism.


Mais diz o autor que únicos estrangeiros que combateram ao lado do PAIGC nas bolanhas da Guiné, de 1966 a 1974, foram os cubanos. Cubanos (com uma única excepção, pontual, ao que parece) eram também os médicos que davam assistência à guerrilha, na frente de combate e nos hospitais de campanha. Até 1968 o PAIGC não dispunha de médicos guineenses:


"The only foreigners who fought with the PAIGC in Guinea-Bissau were the Cubans. Likewise, throughout the duration of this long war, the only foreign doctors in the guerilla areas were Cuban (with a single and fleeting exception), and there were no Guinean doctors up until 1968. “The Cuban doctors really made a miracle”, said Francisca Pereira, a health worker of the PAIGC. She observed, “I am eternally grateful to them. Not only did they save lives, but also they risked their own. They were truly selfless.”


Os jovens combatentes cubanos - ao que parece, todos voluntários - seriam apenas motivados pela "mística da guerrilha", no dizer de Piero Gleijeses, cujo artigo tenho vindo a citar. A sua missão era secreta. Em caso algum, poderiam esperar o reconhecimento público pelos seus feitos, ou queixar-se da má sorte da guerra... Eram jovens, sentiam-se "filhos de uma revolução" e tinham sido criados no seio da ideologia castrista e do culto do exemplo romântico de Che Guevara...O próprio Victor Dreke era apontado como o nº 2 da hierarquia dos combantentes cubanos em África, a seguir ao Che Guevara...

The Cubans who went to Africa did so voluntarily. The mystic of the guerrilla war motivated them. “We dreamed about revolution” one meditated. “We wanted to be part of it, to feel that we fought for it. We were young and the children of a revolution.” The volunteers didn’t receive public praise in Cuba. They left “knowing that their history would remain secret.” They didn’t win medals or receive material rewards. Upon their return they could not boast about their feats because what they had done was secret.


(3) Guevara foi capturado, ainda vivo, pelos rangers do Exército boliviano, treinados pelos Estados Unidos, em 8 de outubro de 1967; passou a noite numa escola da aldeia de La Higuera, a 50 quilómetros de Vallegrande, no centro-sul da Bolívia, para depois ser excutado, a sangue frio, com nove tiros, no dia seguinte, 9 de Outubro de 1967, por ordem do presidente da Bolívia, general René Barrientos.

(4) Referência a 5 cubanos, na altura (Março de 2003) presos nos Estados Unidos da América, sob a acusação de terrorismo.

(5) Vd. post de 14 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P960: Antologia (49): Oficialmente morreram 17 cubanos durante a guerra

terça-feira, 11 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P951: Antologia (47): Um médico cubano no Morés e no Cantanhez - Domingo Diaz, 1966/67 (Luís Graça)

Guiné > 1966 > O médico cubano Domingo Díaz, que esteve em 1966/67 no território, apoiando a guerrilha do PAIGC e particiapandop em vários combates, desde o norte (São Domingos) , à região do Morés, e ao sul (Madina do Boé, Guileje). Na foto, é o terceiro de esquerda para a direita.
Foto: © Juventud Rebelde, Cuba, (2006) (Com a devida vénia).


Guiné > Anos 60 > Uma das mais emblemáticas fotos de Amílcar Cabral, dirigente do PAIGC. "Un compañero inolvidable" - é assim que o médico cubano Domingo Diaz descreve o líder histórico do PAIGC. O médico fazia parte de um grupo de revolucionário, constituído por médicos e instrutores, que chegou secretamente a Conacri para apoiar a luta de guerrilha do PAIGC.
Foto: Fonte desconhecida

Texto interessantíssimo, para se conhecer melhor a dura realidade do quotidiano da guerrilha do PAIGC... Trata-se do depoimento de um médico cubano, cirurigião de formação, quer esteve envolvido em operações de guerrilha, na Guiné, nos anos de 1966/67, apoiando o PAIGC ao abrigo do então em voga conceito de "internacionalismo proletário"... O envolvimento dos cubanos é ainda pouco conhecido... Daí o interesse deste artigo, no original.
Reproduzido, com a devida vénia, do jornal digital Juventude Rebelde, ISSN 1563-8340, CUBA, 8 de Junio de 2006 (Director: Rogelio Polanco Fuentes ):


Donde el tiempo no se mide por el reloj

Por primera vez el doctor Domingo Díaz (*) cuenta sus experiencias en las selvas de Guinea Bissau cuando en 1966 anduvo desandando ríos y selvas en compañía de guerrilleros guineanos. Su testimonio forma parte de uno de los capítulos del libro Historias secretas de médicos cubanos, del periodista de JR Hedelberto López Blanch, presentado este año en la Feria del Libro de La Habana

Hedelberto López Blanch
digital@jrebelde.cip.cu


Con 29 años y recién graduado como cirujano, el doctor Domingo Díaz Delgado llenó una planilla solicitando su incorporación como internacionalista en cualquier movimiento de liberación, inspirado en el ejemplo del guerrillero heroico, Ernesto Che Guevara.

A principios del año 66, respondiendo a esa solicitud, lo designan como miembro del primer grupo (muy reducido), de médicos y combatientes que participarían en la liberación de Guinea Bissau, cuya metrópoli era Portugal. Los guineanos llevaban dos o tres años en esa difícil lucha, y carecían de técnica militar, armamentos y asistencia médica. Las acciones se iniciaban prácticamente en esa época, pero dejemos que Domingo narre su historia.

—En ese momento yo era jefe de los servicios médicos de la división 1270 en el Mariel. Fuimos nueve médicos (tres viajaron por avión) junto a los instructores, en total 24 hombres. Tenía bastante experiencia en cirugía porque en esa época, desde que uno estaba estudiando podías participar en determinado equipo quirúrgico. Dos meses después de mi incorporación a este contingente, integrado por artilleros, morteristas, cañoneros y médicos, salimos hacia Guinea Bissau, en la motonave Lidia Doce de 2 000 toneladas. El viaje duró casi 20 días, hasta llegar al puerto de Conakry. La nave estaba deteriorada y fue un trayecto difícil, pues se rompió por lo menos tres veces. En una ocasión hubo un inicio de fuego en las máquinas y por poco tenemos que abandonar el barco.

«En unos sacos llevábamos mochilas, botas y otros implementos y en unas maleticas de madera, un equipaje sencillo. Íbamos vestidos de civil. Aquello era totalmente secreto, incluso para abordar el barco principal no lo hicimos en el puerto, sino en alta mar.

«Antes de salir de Cuba estuvimos cerca de dos meses entrenándonos física y militarmente con varios armamentos, pues aunque éramos médicos, iríamos hacia una zona de guerra. Hacíamos algunas caminatas que creíamos eran suficientes, pero cuando llegamos a Bissau nos dimos cuenta que había que haberse entrenado mucho más. En Conakry, el grupo permaneció alrededor de un mes a la espera de ser llevado a los lugares de destino. Guinea Bissau tenía tres zonas guerrilleras, que eran el Norte, el Sur y Madina de Boé, al este. Se combatía bastante para las posibilidades que tenían. En Guinea me recibió el dirigente principal de la guerrilla del Partido Africano por la Independencia de Guinea y Cabo Verde (PAIGC), Amílcar Cabral, un compañero inolvidable. Aprendí muchas cosas en los días que estuve con él. Guinea Conakry era la antigua Guinea Francesa y Guinea Bissau es un país mucho más chiquito que se puede comparar en extensión territorial con la antigua provincia de Villa Clara. Muy poco terreno y de ahí la dificultad de los combatientes para desarrollar esta lucha. Los portugueses tenían bastantes tropas, incluso fuerzas de la OTAN (Organización del Tratado del Atlántico Norte).

«De nuestro grupo, muchos fueron al sur, otros al este y a mí me designaron para ir como cirujano al norte. ¿Qué pasa? Que de Guinea Conakry no se podía ir directamente hacia el norte de Guinea Bissau, sino que había que dar un rodeo por el este en camiones, y atravesar parte del territorio de Senegal, país que limita al norte con Bissau y no era precisamente amigo de los guerrilleros, sino que por el contrario estaba a favor de Portugal. Por tanto, por el color blanco de mi piel, no podía hacer el recorrido por tierra, sin llamar la atención.
"Entonces me confeccionan un documento que funcionaba como pasaporte. Era un carné de militante del Partido del PAIGC con un nombre falso, donde aparecía como natural de Praia, una isla de Cabo Verde y con ese documento hago el vuelo, hasta la capital de Senegal, Dakar, acompañado de dos guineanos. Cuando llegamos al aeropuerto no entendían lo del pasaporte y los dos compañeros que me acompañan no supieron explicarles. De manera que tuve que darle un empujón a la talanquera en cruz que existía en el aeropuerto y salir hacia un carro de donde me hacía señas la compañera Lilica Cabral, secretaria de Amílcar Cabral, que tenía oficinas en Dakar.

«De allí, por tierra, atravesamos 400 kilómetros, que es la distancia de Dakar a Zinguinchor, un pueblo de Senegal cercano a la frontera con Guinea Bissau. En ese trayecto hay que atravesar un río y una franja de diez kilómetros de otro país denominado Gambia.

«El que me llevó hacia Zinguinchor, fue Luis Cabral, hermano de Amílcar Cabral, en un Peugeot 400. Llego a ese lugar donde permanezco dos o tres días. Me entrevisto con los jefes militares más importantes que operaban en el norte de Guinea Bissau, porque como era el primer cubano que llegaba allí, me estaban esperando. Me reúno con el jefe del Frente Norte, Osvaldo Vieira y otros. Me hacen una despedida y salgo con un grupo guineano. Al llegar a la frontera, parte del colectivo se queda conmigo y la otra permanece en Yiriban, en el lado de Senegal. Hago una caminata por un terreno abrupto que para mí fue terrible. Alrededor de cuatro a cinco horas demoré en llegar desde la frontera a la primera base guerrillera que se llamaba Zambulla.

«Cuando regresé, ese recorrido lo hice en 45 minutos, porque tenía 80 libras de menos y además llevaba un año caminando en el terreno. Hacemos noche en ese lugar y de madrugada seguimos camino hacia la próxima base, denominada Maqué. Ya habíamos tenido que beber agua en malas condiciones. Allí el agua potable es la de los ríos, y ellos acostumbraban a hacer unos hoyos en la tierra, bien marcados y escondidos, para que se llenaran cuando lloviera. En el curso del camino, sacaban esa agua con tierra y era la que desde ese momento empecé a ingerir.

«Cuando llego a la base de Maqué ya las diarreas comenzaron a hacerme estragos, pero no por eso dejé de comer lo que nos encontrábamos en el camino.

«En esa región el tiempo no se cuenta por el reloj, sino por distancia, es decir, medio día de andar, dos días de andar, que es lo que tardas en llegar a un lugar.

«Nuestra comida era la misma que la de los guineanos y una sola vez al día. Por la noche, en una palangana echábamos un poco de arroz con pedacitos de carne, huesos, que en algunas ocasiones nos los pasábamos unos a otros para chuparlos, y por supuesto, todo con las manos. Nos acostumbramos a comer el arroz metiendo la mano en las cacerolas, no había cubiertos, no había nada. Por la mañana tomábamos cocimientos de cualquier tipo de hojas y si era de naranja, mejor. Calentábamos el agua y le echábamos las hojitas, y eso fue lo que tomamos durante mucho tiempo. Eso era en el norte, ya en el este, en Madina de Boé, teníamos frijoles pero eran tantos que llegó un momento en que a un compañero le enseñabas uno solo y vomitaba.

«Cuando arribo a la segunda base guerrillera, ya llevaba dos días de andar y llegué bastante mal. Me revivió un líquido constituido por una especie de leche condensada con agua, pero muy caliente, y recuerdo perfectamente que me lo tomé y caí rendido. Al otro día de madrugada seguimos profundizando dentro del país y llegamos a la base de Moré[s] donde hacía pocas semanas los portugueses habían lanzado un bombardeo y todavía se podían apreciar los destrozos.

«Allí estuvimos un día y seguimos hasta que alcanzamos la base donde permanecí alrededor de seis meses: Saará (1). Ya aquí estaban dos médicos del grupo que se habían adelantado, pues viajaron por avión de Cuba: un ortopédico, Teudi Ojeda y un clínico, Pedro Labarrere, los dos militares. La base de Saará estaba en la profundidad del norte pero prácticamente en la mitad del territorio y muy cerca de la capital de Bissau. Llegando a esa base, estaban organizando un ataque a Bissau, pero no con el fin de tomar la ciudad sino para tener a las autoridades en tensión. Esa acción fue dirigida por un compañero que era el jefe de la seguridad del territorio norte, el caboverdiano Irenio de Nascimento.

«Teníamos un arsenal pequeño de medicamentos, instrumental quirúrgico, pero muy elementales, para resolver problemas que se presentaran en ese tipo de lucha.

«El campamento estaba en cualquier lugar pues como medida de seguridad había que trasladarlo constantemente. Llegó un momento en que detectaron la base y la ametrallaron varias veces.

«Tras permanecer seis meses en Saará, me designaron a un Big Grupo (2), integrado por 72 hombres con determinado armamento para realizar ataques en varias partes. El jefe era un comandante guineano que se llamaba Julián. De esa forma, empecé a moverme con ellos a los distintos lugares y tuve la oportunidad de participar en varios ataques.

«Siempre el jefe militar me decía que no me debía acercar mucho pues si perdían a los enfermeros y a mí, se acababa el servicio médico.

«El primer combate en que participé fue en la base de Sao Domingos. No sentí miedo porque en realidad no estaba en el mismo frente, pero sí los proyectiles me pasaban por encima. Los guerrilleros destruían el cuartel o parte de este, y se retiraban. Nunca trataban de tomarlo, era una guerra de guerrillas.

«Aquí también realizamos un segundo ataque, al cuartel de Guilelle [Guileje], que fue más efectivo. Tuve la posibilidad de estar más cerca del combate, nos hirieron a tres hombres. A uno de ellos pude hacerle una primera cura, rápida, y seguí con los dos heridos hasta llegar a la base. Ya por este tiempo yo había recorrido a pie casi todas las bases guerrilleras, Llador, Naga, Maqué, Saará, Moré[s], Zambulla.

«Seguimos trasladándonos constantemente con este grupo en la zona norte y más tarde comencé a tener varios problemas de salud, un paludismo crónico, una filaria, que en esos momentos no lo sabía pero después se me hizo el diagnóstico, y una lesión infiltrativa tuberculosa. Se decidió que saliera y regresara a Conakry para después de restablecido volver a entrar.

«Salí en febrero o marzo del 67 y lo hago para tratarme clínicamente. Por el mismo camino que entré, también salí, pero ya con más seguridad. Vuelvo a Conakry y permanezco un tiempo recuperándome. Ya el comandante Víctor Dreke era el jefe de la misión militar cubana.

«Más tarde me incorporo a la zona del Este a Madina do Boé donde terminé la misión. Esta región era un poco más tranquila desde el punto de vista de la guerra, aunque también se realizaron varios combates.

«Hay muchas cosas por contar. Por ejemplo en las primeras caminatas perdí todas las uñas de los dedos de los pies, se me pusieron prietas porque no estaba entrenado para eso, pero después que bajé de peso, uno de los primeros en llegar a los lugares era yo, incluyendo cubanos y nativos. Me puse tan flaco que parecía una cuerda de violín y caminaba mucho. Me ha quedado la costumbre y actualmente camino todos los días en La Habana cinco quiilómetros».

* Domingo Díaz Delgado nació en 1936 en Florencia, Camagüey. Es profesor titular de neurocirugía y vicedirector de Docencia e Investigaciones del CIMEQ.
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Nota de L.G.

(1) Saará: presumo que seja Sara-Saruol (carta de Mambonco): vd posts de:

29 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P924: SPM 3778 ou estórias de Missirá (4): cão vadio disfarçado de tigre (Beja Santos)

(...) "Soube da Tigre Vadio (1) em finais de Fevereiro de 1970, quando o Major de operações de Bambadinca me convidou para um passeio numa Dornier sobre os céus do Cuor. Foi uma viagem que permitiu medir o crescimento militar e populacional de Madina/Belel e a sua ligação a Sara/Sarauol, uma enorme base do PAIGC com um hospital de campanha" (...).

27 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P918: Operação Tigre Vadio (Março de 1970): uma dramática incursão a Madina/Belel (CAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e outras forças)
(...) "A missão confiada às NT era bater a área de Madina/Belel, no regulado do Cuor, a fim de aniquilar as posições IN referenciadas do antecedente e eventualmente capturar a população que nela vivesse.

"As informações de que se dispunha era que devia existir 1 bigrupo nesta região, pertencente à base do Enxalé e dispondo de 2 Morteiros 60, 1 Metralhadora Pesada Coryonov, além de armas ligeiras (Metr Degtyarev, Esp Kalashnikov, Pist Metr PPSH, etc). Admitia-se também que este bigrupo estivesse reforçado com 1 grupo de Mort 82, pertencente ao Grupo de Artilharia de Sara-Sarauol [a noroeste de Madina/Belel, vd. carta de Mambonco]" (...)

(2) Bi-grupo (habitualmente constituído por 50/60 homenos): vd. post de de Juklho de 2006 >

Guiné 63/74 - P939: A organização militar do PAIGC (Leopoldo Amado)

(...) "Essas adaptações atingiram também os bigrupos (unidade de combate originalmente constituído por 21 combatentes), mas que a dada altura atingiam as 46 pessoas, entre elementos da infantaria, minas e armadilhas, reconhecimento e artilharia (2).

"A partir de 1968 – altura crítica para o Exército do PAIGC –, Amílcar Cabral introduziu o conceito de bigrupo reforçado que normalmente atingia os 150 homens, os quais eram balanceados entre o Norte e o Sul e ainda o Leste, seja em função da necessidade de concentração de efectivos para operações de grande envergadura, seja porque o PAIGC sempre se debateu, ao longo de toda a guerra, com enormes problemas de recrutamento regular de efectivos para o seu Exército" (...).

Guiné 63/74 - P950: Antologia (46): Domingo Diaz Delgado, médico cubano na guerrilha do PAIGC, 1966/67 ()

Luis Graça:

Anexo um artigo sobre Domingo Diaz Delgado, medico cubano, participante na Luta Armada de Libertação contra o Colonialismo Português, desde 1966, na Guiné-Bissau.

Trata-se de um resumo, feita pela Agência de Bissau, de um artigo publicado no jornal cubano digital Juventud Rebelde, de 8 de Junho de 2006 (1)

Jorge Santos

MÉDICOS CUBANOS DURANTE A LUTA CONTRA O COLONIALISMO PORTUGUÉS

por Amadila Balde

Agência Bissau (19 de Junho de 2006)

Domingo Díaz Delgado nasceu em 1936 na província cubana de Camagüey, foi um dos primeiros médicos cubanos a chegar a Guiné em 1966, então recém licenciado em medicina cirúrgica. Hoje, 40 anos depois, Domingos Díaz conta a sua “impressionante” história para o diário cubano "Juventud Rebelde” a que a Agência Bissau teve acesso. E que faz parte de um dos capítulos do livro “Histórias secretas de médicos cubanos” do Jornalista Hedelberto Lopes Blanch, apresentado recentemente na feira de livros de Havana (Cuba).

E são trechos da vida deste médico cirurgião, importante figura na história da Guiné-Bissau, que agora damos a conhecer aos nossos leitores. Com base na obra acima referida.

Em 1966, três anos após o início da Luta de Libertação Nacional, o médico Domingos Díaz Delgado consegue integrar-se no primeiro contingente formado por instrutores, artilheiros, canhoneiros e médicos cubanos que participaram na Luta Armada de Libertação contra o colonialismo português na Guiné-Bissau. O contingente chegara ao porto de Conacri, após 20 dias de viagem, desde a capital cubana a bordo de um navio danificado, numa difícil trajectória. À chegada foram recebidos pelo Fundador do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Amílcar Cabral. Com quem Domingos Diaz Delgado manifesta ter aprendido muitas coisas e considera um companheiro notável.

Depois da chegada do contingente cubano em Conacri, alguns companheiros foram enviados para o sul e leste do país e Domingos Díaz Delgado é nomeado como cirurgião para o norte. Cujo percurso terrestre desde Conacri era perigoso, por ser difícil de realizar sem que se fosse descoberto pelos inimigos. O PAIGC atribui-lhe um cartão que o identifica como militante do partido com um nome fictício de nacionalidade cabo-verdiana. Com esse cartão o cirurgião em companhia de dois guineenses empreendem voo até Dacar (Senegal) onde foram recebidos pela secretária de Amílcar Cabral, Lilica Cabral.

Desde Dacar, o médico é conduzido pelo antigo presidente da República da Guiné-Bissau, Luís Cabral, numa viatura para Ziguinchor, cidade situada na região senegalesa de Casamansa, a 400 quilómetros de Dacar, onde viria a permanecer durante cerca de três dias. O médico foi o primeiro cubano a chegar à zona, aonde conversa com o chefe militar mais importante da Frente Norte, o comandante Osvaldo Vieira.

Domingos Diaz Delgado explica os obstáculos que enfrentou durante as caminhadas que fez de uma base a outra sem água potável, alimentando-se daquilo que encontrava pelo caminho. “Nessa região o tempo não se calcula com relógio, mas sim por distância, quer dizer meio-dia de caminho, dois dias de caminho, o que se pode demorar em chegar de uma localidade a outra”. Relatando ainda que comia-se alimento uma vez por dia, durante dois dias de caminho. O cirurgião recorda a sua chegada à base de Morés (norte) aonde havia passado poucas semanas depois dos bombarde[amentos] lançados pelas tropas portuguesas.

Dois dias depois, continuaram até chegarem à base de Saará [Sara-Sarauol] quase no centro do país, aonde já estavam outros médicos cubanos que tinham chegado por avião: um ortopédico, Teudi Ojeda e um clínico Pedro Labarrere. A poucos quilómetros da capital Bissau onde já estavam a organizar um ataque no sentido de chamar atenção às autoridades, acção que era conduzida pelo chefe da segurança territorial do Norte, Irene [ou Irineu ?] de Nascimento.

Domingos Diaz Delgado disse que, apesar da escassez de medicamentos e materiais cirúrgicos, o pouco que havia, era suficiente para resolver problemas para aquela ocasião, ainda por questão de segurança, era necessário constantemente mudar de um lugar a outro. O cirurgião permaneceu seis meses na base de Saará, e depois integrou um grupo de 72 homens, equipados com certos armamentos para realizar ataques em várias zonas da região dirigidos pelo comandante Julião. Naquela ocasião começou a movimentar-se com o grupo participando em várias incursões.

O primeiro combate em que o médico cubano participou foi em São Domingos numa guerra de guerrilha onde os combatentes destruíam os quartéis e retiravam-se. Também participou num dos ataques realizados ao quartel de Guileje, no sul do país, que considera mais efectivo, do qual saíram três feridos do seu grupo, dos quais tratou um rapidamente no local e continuou com os outros até a base.

Mais tarde em Fevereiro ou Março de 1967, Domingos Diaz Delgado teve que retirar-se da zona de combate para Conacri alegadamente por doença, para se submeter a tratamento médico, regressa já restabelecido clinicamente, na altura o chefe da missão militar cubana, era o comandante Victor Dreke. Desta vez foi nomeado para a frente Leste concretamente em Madina de Boé, onde mais tarde viria a terminar a sua missão na Guiné.

O Dr. Domingos Diaz Delgado disse que a história não terminou aqui. “Há muita coisa a contar. Fiquei com o hábito, e actualmente faço cinco quilómetros de caminhada todos os dias em Havana”. Actualmente é professor titular de neurocirurgia e vice-director de docência de investigações do Centro de Investigação Médico-Cirúrgico (CIMEQ).

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Nota de L.G.

(1) Vd. artigo original, mais completo, em espanhol, no post seguinte.