segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3830: Blogoterapia (88): Os nossos sentimentos contraditórios (Virgínio Briote)

1. Mensagem de Virgínio Briote (*), ex-Alf Mil Comando, CCAV 489/BCAV 490, Guiné 1965/67, com data de 1 de Fevereiro de 2009:

Foi apenas um comentário ao artigo do Mexia Alves, Camarada que aprecio ler na coerência que defende, sempre de uma forma honesta e leal . Não julgo que merecia um artigo. Saiu das contradições que tenho, da forma como vejo a minha participação na Guerra na Guiné. Com declarações de apoio ou de repulsa, está feito, não há mais nada a declarar.

Penso, no entanto que devo uma explicação (**). Quando me referi ao meu familiar, desertor, de quem fui muito amigo (já morreu) e ao meu irmão, limitei-me a relatar a contradição de uma família feita de "nacionalistas" e "oposicionistas", para utilizar a linguagem da época. E limitei-me a descrever os sentimentos que me assaltaram.

O nosso blogue tem também, para não dizer principalmente, um efeito desbloqueador de sentimentos. Juntar ex-combatentes, ajudá-los a reencontrarem-se com a sua própria história, que é a História do Portugal daqueles anos. E de que não tenho vergonha, acrescento, independentemente do governo e das oposições de então.

No meu comentário não pretendi fazer qualquer censura aos que, por qualquer motivo, decidiram sair do país. Da mesma forma, não foi minha intenção denegrir nem as vozes dos locutores, nem as músicas que se ouviam.

O que pretendi foi dizer que ainda me lembro do que vi, ouvi e senti nesses tempos. E que continuo a sentir. É uma cultura que tem raízes, não vem de agora. Na minha adolescência convivi com dois ex-combatentes na Flandres. Ouvia-os falar dos gases, das metralhadoras, dos capacetes alemães, do frio que lhes queimava os dedos. E via-os doentes, abandonados pelo Estado, amparados pelas famílias.

Nos EUA, Inglaterra, Canadá, Austrália, França, até na Alemanha da época hitleriana, honram-se os soldados que combateram pelas suas pátrias, procedem-se a cerimónias anuais, com veteranos, filhos, netos, governantes e oposição presentes. Os cemitérios são tratados como os outros, com respeito.

Cemitérios da mesma guerra na Normandia: alemão, aliados e americano

VB
__________

Notas de CV

(*) Vd. último poste de 31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3824: (Ex)citações (14): Foi bom que a guerra tenha acabado, mas não foi por este país que eu combati (Virgínio Briote)

(**) Vd. último poste desta sérioe, Blogoterapia > 30 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3820: Blogoterapia (87) : O nosso (às vezes, triste) fado... (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P3829: Convite da A25A/RTP: Sessão de apresentação do sítio Guerra Colonial, Academia Militar, Amadora, 4ª feira, dia 4, às 16h


1. Mail do Pedro Lauret, membro do nosso blogue, neste fim de semana:

"Segue convite para a apresentação do site http://www.guerracolonial.org/. Gostaria de o tornar extensivo a toda a nossa tertúlia. Como achas que podemos fazer? Se o quiseres reenviar eu ficaria grato. Aguardo noticias. Um abraço. Pedro Lauret".

O convite chegou-nos, em nome do presidente da Associação 25 de Abril (A25A) e do presidente do Conselho de Administração da Rádio Televisão Portuguesa (RTP), para a sessão de apresentação de: (i) sítio Guerra Colonial (http://www.guerracolonial.org/), da iniciativa da A25A, e em colaboração com a RTP; (ii) página de documentários sobre a Guerra Colonial, alojada no site da RTP (http://www.rtp.pt/).

A sessão terá lugar no Auditório da Academia Militar, na Amadora, na apróxima 4* feira, dia 4 de Fevereiro de 2009, pelas 16.00 horas, e a sua apresentação estará a cargo do Major-General Pedro Pezarat Correia e do Capitão-de-Mar-e-Guerra Pedro Cunha Lauret.

A cerimónia será presidida pelo Ministro da Defesa, sendo anfitrião o Chefe do Estado-Maior do Exército.

Se possível, confirma a tua presença através do Telefone 213 241 420.





2. Comentário de L.G.:

O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné associa-se a esta iniciativa, convidando todos os membros da nossa Tabanca Grande bem como os demais amigos e camaradas da Guiné, a comparecer na Academia Militar, aquartelamento da Amadora, à supracitada sessão.

Sabemos que a hora não é a mais conveniente para quem ainda trabalha. Mesmo assim, será bom que os ex-combatentes da Guiné, com destaque para a malta do nosso blogue, possam fazer sentir a sua presença.

Eles, os nossos camaradas da Guiné, mais que ninguém, são a memória viva da guerra colonial ou do ultramar. Eles e os camaradas que estiveram nas outras frentes (Angola e Moçambique). Infelizmente, no arquivo da RTP, não há muitas imagens da Guiné (*). Seria curioso saber porquê. Para documentar a guerra da Guiné, vai-se buscar filmes de arquivos estrangeiros, como por exemplo o do Institut National de l'Audiovisuel (INA), francês.

A guerra da Guiné não teve, entre nós, o mesmo impacto mediático da guerra em Angola, no seu início, em 1961. Por exemplo, nenhum operador de câmara, português, civil, da RTP, conseguiu apanhar imagens dramáticas como as da ORTF, que passaram na reportagem sobre a Operação Ostra Amarga (**).

De qualquer modo, com as limitações que apresenta o - mesmo assim vasto e rico - arquivo RTP, no que diz respeito à guerra colonial/ guerra do ultramar, aqueles filmes de documentário, aqueles imagens dos repórteres da RTP, também nos pertencem. E há muito que deveriam estar disponíveis 'on line'...

A RTP cumpre a sua missão de serviço público. Tardiamente, mas cumpre. Nunca é tarde para o fazer. A nós compete-nos também mostrar reconhecimento por esse facto, sem perda da nossa independência, do nosso espírito crítico e da nossa especificidade. Como consta do nosso blogue, não somos historiadores, jornalistas ou investigadores, nem temos nenhuma bandeira. Isso não nos impede de estar gratos pela conjugação de esforços de entidades e de pessoas como, por exemplo, o Pedro Lauret (A25A) e o Joaquim Furtado (RTP), que tornaram possível este site e puseram à nossa disposição um vasto conjunto de recursos que vamos explorar e apreciar, com emoção, sensibilidade e espírito crítico. Haverá naturalmente outros públicos-alvo como os nossos filhos e netos que andam na escola, e a quem deve ser transmitida a memória e a história do nosso país, incluindo a guerra colonial/guerra do ultramar (1961-1974).

Eu, pelo menos, estarei lá, no anfiteatro da Academia Militar, na Amadora, às 16h em ponto, para ver e ouvir. A cerimónia terá, seguramente, boa cobertura televisiva, pelo menos por parte da RTP (daí a hora, um pouco estranha, que consta do convite). Até 4ª feira.

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. a página de Multimédia do sítio Guerra Colonial (que, de resto, apresenta de deficiências na reprodução do som, há filmes que ainda não estão disponóveis, e que portanto ainda está em fase de edição e de afinação):

Galeria Multimédia

» Portugal no pós II Guerra Mundial

Retrospectiva - Em Pano de Fundo
Portugal na Cena Internacional - 1960, 1961
Portugal e a ONU - Caso Angola
Guerra e Sociedade - Resistências
Do ímpasse ao litígio - A ONU e Portugal
Política de Defesa - A Viragem
Oposição - Convicções e hesitações
Igreja Católica - Colaboração e resistência
Envolvimento politico dos militares - O Movimento dos Capitães
O 25 de Abril e o fim do Império

» O Contexto Internacional

Descolonização - Portugal e os Ventos da História
A Libertação de África - OUA

» Doutrinas

O Inimigo
Doutrinas
A Africanização da Guerra
Forças Armadas - Contra-Guerrilha
Manobra das Populações - Psico

» Cenários

Cenários - O Mato
Angola – Meio Físico – Humano - Económico
Angola - Teatro de Operações
Guiné - Meio Físico - Humano - Económico
Guiné - Teatro de Operações
Moçambique - Meio Físico - Humano - Económico
Moçambique - Teatro de Operações

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Finanças - Custos de Guerra
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Armas e Forças
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Comandos - "Audaces fortuna juvat"
Fuzileiros - «Gente mais ousada»
Pára-quedistas - «Que nunca por vencidos se conheçam»
Guerra a Cavalo - Leste de Angola

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Movimentos de Libertação - Evolução Política
Movimentos de Libertação - Angola
UPA - FNLA
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UNITA
PAIGC
FRELIMO

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Armamento Exército
Forças Armadas prtuguesas - Armamentos
Movimentos de Libertação - Armamentos
Forças terrestres - Exército
Armada Portuguesa - Lanchas e Navios
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Acções de Guerrilha e Contra-Guerrilha
O dia do terror - 15 de Março
A Reocupação
Operação Viriato
Comunicações Terrestres - Abertura de Itinerários
Grandes Operações - Raros Êxitos
Operação Tridente
Operação Nó Górdio
Guiné Maio de 1973: O Inferno
Operação Águia

» Quartéis e Quotidiano

Quartéis - Capelas Imperfeitas
Viver dois anos

» Feridas de Guerra

Feridas de Guerra - Mortos, feridos e prisioneiros
Feridas de Guerra, Deficientes

» Cerimoniais

O Embarque
O 10 de Junho

Vd também poste de 4 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3701: Blogues da Nossa Blogosfera (12): Portal Guerra Colonial, da A25A (Pedro Lauret)

(**) Sobre a Operação Ostra Amarga, vd. postes de:

8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P3828: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (1): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 1-2

Capa da revista mensal, editada em francês, PAIGC Actualités (dedicado à vida e à luta na Guiné e Cabo Verde), nº 54, Outubro de 1973. Título (em cima): "Reunida a 24 de Setembro, na região do Boé, a 1ª Assembleia Nacional Popular da história do nosso povo proclamou às 8h55 GMT o Estado da Guiné-Bissau".

A capa traz em grande plano a imagem de Amílcar Cabral, "o líder muito amado do nosso povo", que foi proclamado "fundador da Nação", tendo passado o dia do seu nascimento (12 de Setembro) a ser feriado nacional.

Imagens da cerimónia de proclamação da independência no Boé. Legenda (em cima): "O comandante João Bernardo Vieira, membro do Secretariado Permanente do nosso Partido, foi eleito Presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP)".


Legenda: "Depois de ter pronunciado as palavras históricas que consagraram o nascimento do nosso Estado, o Presidente da ANP recebeu, de um destacamento das nossas Forças Armadas Revolucionárias do Povo, a bandeira nacional do novo Estado: é constituída por três bandas, de superfícies iguais, sendo uma vermela disposta verticalmente e com uma estrela negra nela afixada. As outras duas bandas estão dispostas horizontalmente, a superior de cor amarela e a inferior de cor verde".

Artigos 28, 29 e 30 da Constituição da República da Guiné-Bissau, relativos à Assembleia Nacional Popular (ANP).


Lista dos restantes deputados eleitos para a presidência da ANP. Entre eles, uma mulher, felizmente ainda hoje viva, Carmen Pereira, uma referência moral do PAIGC e uma lenda viva da luta de libertação, que alguns de nós, portugueses, tivemos o privilégio de conhecer pessoalmente em Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008).

Tradução do francês: L.G.

Imagens: © Magalhães Ribeiro / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.

1. O nosso camarada Eduardo Magalhães Ribeiro (o pira de Mansoa, como ele gosta de se chamar) tem-nos enviado alguns documentos digitalizados, respeitantes ao PAIGC. Ele tem espírito de coleccionador e gosta de partilhar com os seus camaradas as coisas interessantes que tem no seu espólio, relativas à Guiné e à guerra que lá travámos.

Vamos começar por apresentar as duas primeiras páginas da revista, em francês, PAIGC - Actualités, nº 54, de Outubro de 1973, e que foi dedicada à proclamação da República da Guiné-Bissau, na região do Boé.

O Magalhães Ribeiro, que trabalha da EDP - Porto, tem desde Etembro de 2008 um blogue > Coisas do MR , dedicado a Operações Especiais / Rangers de Portugal / Guerra do Ultramar.

Na sua mensagem aos editores, ele escreveu:

"Anexo o 2º panfleto desdobrável, emitido pelo PAIGC, com o nº 54 com data de Outubro de 1973, que penso ter sido dos mais importantes, que o mesmo parttido africano publicou durante o período da guerra. Este diz respeito à declaração do Estado da Guiné-Bissau e é formado por 8 páginas. Um abraço amigo do Pira de Mansoa, M.R.".

A divulgação, no nosso blogue, deste material (que no passado as NT consideravam como "propaganda do IN"), tem apenas um intuito informativo, documental, historiográfico e cultural. São documentos que interessam aos nossos dois povos, que partilham uma história e uma língua.

Alguns dos nossos camaradas que nessa época estavam na Guiné deram-se conta do acontecimento (a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau, por parte do PAIGC) e das suas eventuais implicações, diplomáticas, políticas e militares. Sempre bem informado, o António Graça de Abreu, que era Alf Mil do CAOP1, escreveu o seguinte apontamento do seu diário, na véspera de ir de férias à Metrópole, pela terceira (e última vez):

"Cufar, 26 de Setembro de 1974: O PAIGC declarou ontem a independência. Por aqui nada mudou a não ser que agora, oficialmente, somos nós portugueses quem está a ocupar a pátria deles"... (In Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra & Paz. 2007. p. 149).

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3827: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (4): Nhamo, nano... / Direita, esquerda...





1. Continuação da publicação do Dicionário Fula/Português, organizado pelo nosso camarada Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922 (Piche, 1970/72).

IV arte da lista de vocábulos em dialecto fula (e respectiva tradução em português) (*), recolhidos em resultado de conversas com o seu amigo Cherno Al Hadj Mamangari, que vivia em Cambor, a nordeste de Piche. Como já foi dito, o título Al Hadj é dado ao crente muçulmano, depois de regressar da sua peregrinação a Meca.


2. Comentário de Carlos Silva (ex-Fur Mil, Caç 2548/BCaç 2879, Farim, 1969/71, advogado de muitos guineenses da diáspora, residente em Massamá, animador do sítio Guerra da Guiné 63/74 por Carlos Silva:


Acabo de ler o o Post 3785 sobre o Dicionário Fula/Portugês (*).

Devo dizer que ainda comecei a fazer um trabalho desses com a colaboração dos nossos amigos fulas da diáspora e outros que me são próximos, ainda dediquei muitas horas ao assunto, mas cheguei à conclusão que, não sendo especialista em linguísta, não valia a pena prosseguir com o trabalho, pois as dificuldades são muitas, na medida em que cerca 30 ou 40 amigos contactados e com boa vontade de me ensinarem a sua língua mãe fula, pois até me ofereceram livros com tradução Fula/Francês do Senegal, mesmo assim não consegui, porque cada um pronuncia e escreve a palavra de modo diferente.

Passei horas a trocar impressões com eles sobre essa diferença, então lá me explicavam, que há várias famílias de fulas, conforme sabemos, e que as pronúncias eram diferentes também, tal como aqui em Portugal entre alfacinhas, tripeiros, alentejanos e algarvios.

No entanto, e correspondendo ao teu apelo [, Luís, ] aqui vai um mini dicionário Fula/Português, em Word elaborado por mim, com a colaboração dos tais meus/nossos amigos, através do qual já podes ver algumas diferenças com as palavras do blogue. Nhonhaludá - Nháluda e muitas outras palavras.

Com um abraço

Carlos Silva

3. Comentário de L.G.:

Obrigado, Carlos. O teu minidicionário fula / português será publicado oportunamente. Ainda falta publicar a 5ª e última parte desta série. Concordo contigo que isto é tarefa para especialistas. Mas o esforço de camaradas como o Luís Borrega, o Carlos Silva e outros deve e pode merecer o nosso apreço e o nosso aplauso... Admito que esta recolha, feita por um não-especialista, possa ser útil a alguém (um falante da língua portuguesa que queira comunicar com outro falante da língua fula ou vice-versa)... LG

___________

Nota de L.G.

(*) Vd. postes anteriores desta série:

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3785: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (1): Nafinda, nháluda, naquirda... Bom dia, boa tarde, boa noite...

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3786: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (2): Gô, Didi, Tati, Nai, Joi.../ Um, Dois, Três, Quatro, Cinco...

26 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3798: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (3): Jungo, neuréjungo, ondo... / Braço, mão, dedo, ...

Guiné 63/74 - P3826: FAP (3): A entrada em acção dos Strela, vista do CAOP1, Mansoa, Março-Maio de 1973 (António Graça de Abreu)



Capa de Diário da Guiné, do nosso Camarada António Graça de Abreu, publicado em 2007, pela Guerra e Paz Editores. O livro foi escrito na Guiné, a partir das notas do seu diário e dos seus aerogramas. Foi alferes miliciano no CAOP1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74) (*)

1. Mensagem do António Graça de Abreu:

Meu caro Luís: Aqui vai, na volta do correio, os textos do meu Diário que me pediste para publicar. Peço-te que introduzas apenas esta pequena nota:

O Luís Graça pediu-me para publicar no blogue os textos do meu Diário da Guiné referentes àquele período crítico de Abril/Maio de 1973, quando o aparecimento dos mísseis Strella complicou toda a estratégia de guerra na Guiné. É uma prosa datada, pode ter esta ou aquela pequena incorrecção, mas não retiro, nem acrescento uma vírgula ao que escrevi então.


Depois,nos meses a seguir, com a situação mais calma, dou testemunho no meu Diário, até 20 de Abril de 1974, da forma excelente como a Força Aérea continuou a voar por toda a Guiné, desmentindo a tese de que com os Strella "a guerra acabou", houve um "colapso", e a "supremacia" do PAIGC era indesmentível. Esta não é a verdade histórica da guerra na Guiné.

Um forte abraço,
António Graça de Abreu



2. Extracto do Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu (**):

[Fixação do texto e negritos: L.G.]

Mansoa, 29 de Março de 1973

Foi abatido um avião a jacto Fiat G 91, um pequeno bombardeiro, lá para o sul perto de Guileje. O tenente piloto aviador [, Miguel Pessoa,] foi abençoado pelos céus, ejectou-se, saltou de pára-quedas numa zona onde não foi detectado pelo IN, passou a noite no mato e no dia seguinte foi recuperado pelas NT. Está agora em Bissau, em boas condições. (i)

Ontem repetiu-se o incidente, foi abatido outro Fiat G 91. Desta vez, o piloto não teve sorte, o avião desintegrou-se e morreu o tenente-coronel Almeida Brito, o comandante das esquadrilhas de aviões na Guiné.

É uma nova realidade com que temos de contar, o PAIGC já dispõe de mísseis anti-aéreos que são eficazes. Os pilotos estão com medo de voar, quem se quer suicidar? (ii)

Esta manhã esteve cá o furriel piloto Baltazar da Silva, o tal rapaz alto do cabelo encaracolado e muito ruivo, meu conhecido e amigo desde aquela primeira aterragem estranha, alvoroçada em Teixeira Pinto. Trouxe a sua DO, pareceu-me preocupado, assustado. Almoçámos juntos, ele quase não tocou na comida, fixava os olhos em coisa nenhuma. Trouxe-o até ao meu quarto, bebemos um whisky velho, animei-o tanto quanto fui capaz. Regressou a Bissau com a morte na alma.

(i) Trata-se do tenente piloto aviador Miguel Pessoa, que mais tarde haveria de casar com a enfermeira sargento pára-quedista Giselda Antunes (...).

(ii) Sobre a queda dos aviões abatidos pelos mísseis Strella ou Sa 7 do PAIGC ver Nuno Mira Vaz, Guiné 1968-1973, Soldados uma vez, sempre Soldados, Lisboa, Ed. Tribuna da História, 2003, pp. 58-63.

(...)

Mansoa, 7 de Abril de 1973

Uma DO foi atingida pelo mísseis do PAIGC e caiu lá no norte. Morreram o piloto, um mecânico e o major Jaime Mariz que conhecia muito bem, desempenhou durante algum tempo as funções de 2º. Comandante do Batalhão 3863, de Canchungo (Teixeira Pinto). Almoçámos e jantámos muitas vezes juntos na messe de Teixeira Pinto. Era pessoa de fino trato, aberto, civilizado, camarada. (iii)

(iii) O corpo do major Jaime Mariz jamais foi encontrado, nem sequer foi possível fazer-lhe um funeral digno (...).

Mansoa, 8 de Abril de 1973

Outra DO pilotada pelo furriel piloto aviador Baltazar da Silva foi abatida pelo IN quando voava entre Bigene e Guidage. O rapaz morreu, junto com um alferes médico e um sargento. O Baltazar almoçou comigo na semana passada, esteve aqui no meu quarto, desanimado e triste. Escrevi então que ele havia partido para Bissau “com a morte na alma”.

(...)

Mansoa, 30 de Abril de 1973

(...) O movimento normal no nosso Comando decresceu muito. Sem apoio aéreo, sem aviões, não se fazem operações significativas. Se houver mortos ou feridos não temos os helicópteros para os ir buscar ao mato. O coronel [, Rafael Durão, comandante do CAOP1,] também me parece com menos “espírito guerreiro”. Já fez a guerra em Moçambique e em Angola e, apesar de duro e determinado, não advoga a tese do suicídio.

Continuamos à espera que venham atacar Mansoa. Durante as minhas férias flagelaram por duas vezes, sem consequências, os quartéis de Mansabá e Bissorã, aqui na zona. Agora só falta Mansoa “embrulhar”. A ver vamos…
(...)

Mansoa, 19 de Maio de 1973

Há dez dias atrás, por causa de vacas, aproveitei uma boleia e fui até Cutia, a vinte quilómetros daqui, na estrada alcatroada para Mansabá e Farim.

Os balantas, etnia predominantemente na região de Mansoa, não querem vender vacas aos militares portugueses. Em Farim, sessenta quilómetros a norte, os fulas, outra etnia, vendem os animais com facilidade. Como em Mansoa falta carne para a alimentação diária, é preciso recorrer ao que há, neste caso as vacas de Farim. Fez-se uma coluna com quatro unimogs do CAOP e quarenta homens da 38ª. de Comandos para irem lá ao norte buscar as vacas. Como à tarde havia coluna de Cutia para Mansoa, peguei na G 3 e segui com o nosso pessoal.

Regressei calmamente a Mansoa, depois de mais uns quilómetros a conhecer a mata, o aquartelamento e a aldeia de Cutia, florestas, bolanhas, a terra pobre. Os comandos e os quatro condutores do CAOP seguiram viagem e quando chegaram a Farim havia realidades bem mais duras do que a história da compra e transporte das vacas. Era crítica a situação em Guidage, uns quarenta quilómetros a noroeste de Farim, junto à fronteira com o Senegal. O aquartelamento estava a ser atacado há dois dias, de quatro em quatro horas, em média. Duas colunas de reabastecimento haviam partido de Farim para Guidage com víveres e munições e foram ambas atacadas na estrada, com mortos e muitos feridos. Tornou-se necessário chamar os aviões Fiats de Bissau, não para bombardearem o IN mas para destruir as Berliets carregadas de víveres e munições, abandonadas pelas NT, evitando assim que caíssem nas mãos dos guerrilheiros.

Os Comandos mais os nossos condutores do CAOP iam buscar vacas, mas nessa altura o mais importante era socorrer Guidage. De emergência, organizou-se nova coluna de Farim para Guidage reforçada com os nossos homens. Foi uma caminhada de morte, havia abutres a rondar os cadáveres dos soldados portugueses abandonados na picada pela coluna anterior, havia minas, uma delas rebentou sob o Unimog da frente, arrancou-lhe uma roda que foi projectada e passou por cima da cabeça do alferes Dias, da 38ª. de Comandos, houve emboscadas e um soldado comando ficou sem um pé e sem três dedos da mão direita. O infeliz foi o Tavares, um rapaz ribatejano do Cartaxo que até conheço bem, pai de dois filhos. Como não se fazem evacuações de helicóptero, levaram-no até Guidage com o coto e a mão amarrados em ligaduras.

Durante dois dias, em Guidage, foram atacados treze vezes, com morteiros e canhão sem recuo. Os guerrilheiros afinaram a pontaria para dentro das valas onde se abrigavam os nossos homens. Lá morreu mais um soldado da 38ª. de Comandos e o soldado condutor auto David Ferreira Viegas, do CAOP 1. Era um dos meus homens, um rapaz baixo, magrinho, tímido, natural de Olhão. Tinha vinte e um anos, fora pescador no Algarve, estava connosco no CAOP desde 3 de Março e na tropa há apenas oito meses.

Não trouxeram o corpo do Viegas para Mansoa, meteram-no na urna e seguiu de barco para Bissau. Tenho sido eu a tratar das coisas dele, fui-lhe mexer na mala e fazer o espólio de todos os seus pertences para enviar à família. Possuía tão pouco, algumas quinquilharias e uma roupita tão pobre! O povo português vai morrendo, o nosso David foi apenas mais um.

Comoveu-me o último aerograma com data de 27 de Abril que lhe foi enviado pela mãe, escrito pela Rosarinho, uma das sobrinhas, porque a mãe é analfabeta. A Elsa Maria, outra sobrinha pequena, como ainda não sabe escrever, mandou contas ao tio David:

1 2 3 4 5 2 1
1 2 3 4 5 2 1
______________
2 4 6 8 0 3 3

A Ana Cristina Viegas Fava, também sobrinha, diz:

“Tio, eu já sei escrever e quando o tio estiver aborrecido escreva para mim que eu lhe respondo, está bem?"

O David Ferreira Viegas contava apenas vinte e um anos. Não vai escrever a mais ninguém.

(...)
____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de ou sobre o António Graça de Abreu e o seu livro:

5 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1498: Novo membro da nossa tertúlia: António Graça de Abreu... Da China com Amor

6 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1499: A guerra em directo em Cufar: 'Porra, estamos a embrulhar' (António Graça de Abreu)

12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1517: Tertúlia: Com o António Graça de Abreu em Teixeira Pinto (Mário Bravo)

27 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1552: Lançamento do livro 'Diário da Guiné, sangue, lama e água pura' (António Graça de Abreu)

16 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1601: Dois anos depois: relembrando os três majores do CAOP 1, assassinados pelo PAIGC em 1970 (António Graça de Abreu)

17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1668: In Memoriam do piloto aviador Baltazar da Silva e de outros portugueses com asas de pássaro (António da Graça Abreu / Luís Graça)

1 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1807: António Graça de Abreu na Feira do Livro para autografar o seu Diário: Porto, dia 2 de Junho; Lisboa, dia 10

7 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2414: Notas de leitura (5): Diário da Guiné, de António Graça de Abreu (Virgínio Briote)

(**) Vd. último poste da série FAP > 31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strellas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)

sábado, 31 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strelas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)

1. Mensagem do António Martins de Matos, que foi Ten Pilav, Bissalanaca, BA12, 1972/74 (hoje Ten Gen Pilav Res):


Caro amigo: Aproveitando a leitura do mail que enviaste ao António Graça de Abreu, com conhecimento à minha pessoa, e no sentido de te dar uma ajuda, em relação aos STRELAS, deixa-me dizer-te:

25 de Março de 1973 > Abatido o Ten Pilav Miguel Pessoa, na zona de Guileje

28 de Março de 1973 > Abatido o Ten Cor Pilav Brito, no sul perto de Aldeia Formosa

8 de Abril de 1973 > Abatido o Maj Pilav Mantovani Filipe, entre Bigene e Guidage

8 de Abril de 1973 > Abatido o Fur Mil Pil Baltazar entre Bigene e Guidage

8 de Abril de 1973 > Desapareceu o Fur Mil Pil Ferreira ao sair do Guidage ( ia a bordo o Major Roriz, do COP Bigene)

Como vês, o dia 8 Abril foi forte.

9 ou 10 de Abril de 1973 > Paragem da actividade aérea

11 de Abril de 1973 > Re-início da actividade aérea (na minha caderneta de voo e após 10 de Abril de 1973, estão registados apoios-fogo em 11, 13, 15, 16, 17, 20, 21, 22, 24, 26, 28 e 30)

31 de Janeiro de 1974 > Abatido o Ten Pilav Gil, na zona de Canquelifá.

São estes os abatidos por Strelas. Cairam dois outros Fiats por falhas mecânicas (Cap Pilav Wanzeller e Cap Pilav Cruz) (**).

Resumindo, dos cerca de 60 Strelas disparados houve 5 baixas. (Vd. imagem à esquerda: O míssil SA-7. Fonte: Wikipedia).

PS - O Ten Cor Brito, Maj Mantovani e Ten Gil são PILAV. Os Fur Ferreira e Baltazar são PIL. A regra é: os PILAV são do Quadro, oriundos da Academia; os PIL são milicianos.

2. Comentário de L.G.:

Obrigado pela informação que tens trazido para o nosso blogue e que nos ajuda a esclarecer melhor o papel dos bravos de Bissalanca, durante a guerra...

Até agora, e como sabes, só tínhamos o contributo (qualificado) de dois digníssimos representantes da FAP, que passaram pela BA12, o Jorge Félix, Pil heli (1968/70) (***), e o Victor Barata, melech (1971/73), este último autor e animador do blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74. (****)

Entretanto, e depois de ti, já apareceu o teu amigo e camarada de curso e de arma Miguel Pessoa, hoje Cor Pilav Ref (*****).

Quem quer que apareça, de novo, oriundo da FAP, é naturalmente bem vindo a este espaço de encontro e de convívio, que é o blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.

Ainda hoje recebi, com emoção, um telefonema do Jorge Caiano que era o mecânico do heli do Alf Mil Pil Manso, no dia 25 de Julho de 1970... (Ele chegou ao nosso blogue através do blogue do Victor Barata)...

Por decisão do comandante da esquadrilha, o Cap Pilav Cubas, e aparentemente por uma questão de peso, o Caiano seguiu com ele e não com o Alf Manso, na viagem de regresso a Bissau... Essa é a razão por que ainda hoje está vivo... e acredita que o destino marca a hora. O heli do Manso despenhou-se, "por volta das 15 horas", sobre o Rio Mansoa, tendo morrido ou desaparecido 4 deputados da Nação (incluindo o Dr. Pinto Leite, chefe da chamada ala iberal), além do Manso e de um oficial do exército do QG...

O Caiano vive no Canadá, na região de Toronto, desde 1974. Prometeu mandar-me um mail. E eu prometi resumir, no nosso blogue, a conversa que tivemos hoje ao telefone. Manda um abraço para todos os camaradas da FAP e em especial para os pilotos Félix e Coelho, que ele conheceu em Bissalanca e com quem voou (mais com o Coelho do que com o Félix) (******).

O Jorge Caiano esteve 22 meses na BA12, entre 1969 e 1970. Terminou a sua comissão em Novembro de 1970. É natural de Louriçal, Pombal, mas foi cedo para Aveiro. Tem hoje 60 anos.

Um Alfa Bravo. Luís

_________

Notas de L.G.:

(*) 23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3783: FAP (1): A diferença entre o desastre e a segurança das tropas terrestres (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res)

(**) Vd. poste de 21 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1867: Força Aérea Portuguesa: Seis Fiat G.91 abatidos pelo PAIGC entre 1968 e 1974 (Arnaldo Sousa)

(...) Blogue Callsign AFP (Informação sobre o passado e o presente da Força Aérea Portuguesa: pilotos, aeronaves, esquadras de voo e eventos históricos).

15 de Setembro de 2006 > Fiat G.91 - Aeronaves destruídas durante a Guerra do Ultramar

Lista de aeronaves Fiat G.91 destruídas durante a Guerra do Ultramar, devido a acidentes ou em acções de combate :

Data: 22/02/1967

Piloto: Maj Armando Augusto dos Santos Moreira (Comandante da Esq. 121)
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5407"
Causa: explosão prematura de uma bomba de 110 lbs.
(Esq 121, Guiné)

Data: 28/07/1968

Piloto: Ten Cor Francisco da Costa Gomes (Comandante do Grupo Operacional 1201)
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5411"
Causa: fogo antiaéreo de .50 polegadas (12.7 mm) disparado a partir da fronteira da Guiné-Conacri.
(Esq 121, Guiné) (4)

Data: 15/03/1973

Piloto: Ten Emílio José Lourenço †
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5429"
Causa: explosão prematura de bomba.
(Esq 702, Moçambique)

Data: 25/03/1973

Piloto: Ten Miguel Cassola Cardoso Pessoa
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5413"
Causa: abate por SAM-7 Grail.
(Esq 121, Guiné)

Data: 28/03/1973

Piloto: Ten Cor José Fernando de Almeida Brito † (Comandante do Grupo Operacional 1201)
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5419"
Causa: abate por SAM-7 Grail.
(Esq 121, Guiné)
Data: 01/09/1973

Piloto: Cap Carlos Augusto Wanzeller
Aeronave: Fiat G.91R/4 "5416"
Causa: fogo antiaéreo de .50 polegadas (12.7mm).
(Esq. 121, Guiné)

Data: 04/10/1973

Piloto: Cap Alberto R. Cruz
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5409"
Causa: fogo antiaéreo de .50 polegadas (12.7mm).
(Esq 121, Guiné)

Data: 31/01/1974

Piloto: Ten Victor Manuel Castro Gil
Aeronave: Fiat G.91 R/4 "5437"
Causa: abate por SAM-7 Grail.
(Esq 121, Guiné)

† Pilotos que faleceram.

(***) Vd. último poste do Jorge Félix > 3 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3557: Controvérsias (16): Eu, Jorge Félix, ex-Pilav de helis, a Op Lança Afiada e a honra da nossa Força Aérea

(****) Vd. último poste do Victor Barata > 24 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3351: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (8): Homenagem à memória do Honório e do Manso (Victor Barata)

(*****) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strellado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)

(******) Vd. poste de 11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3604: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (15): Eu, o Duarte, o Coelho, o Nico... mais o Jubilé do Honório (Jorge Félix)

Guiné 63/74 - P3824: (Ex)citações (14): Foi bom que a guerra tenha acabado, mas não foi por este país que eu combati (Virgínio Briote)

1. Comentário do nosso co-editor e administrador Virgínio Briote ao poste P3820 (*)

A guerra em que participei, insiste em não me largar. Já desisti de lutar contra isso, sei que vai andar comigo até ao fim do caminho. Ao longo destas quatro décadas andou atrás de mim, como uma sombra .

Já na metrópole, em 1974, em dias, vi escaqueirar-se todo o esforço que a minha geração tinha feito em anos. Bem feito, mal feito? Não vou falar disso agora, há bibliotecas sobre o assunto. Falo, sim, é sobre outras coisas a que fui assistindo ao longo destes anos todos.

Naqueles dias, a seguir a Maio de 1974, vi combatentes envergonhados de terem participado na guerra em África. A TV, tenho bem presente, lançava censuras sobre os que tinham combatido. Massacres do Pidjiguitti, de Wiriamu, na baixa do Cassange. Imagens e imagens de negros desfeitos a tiro e à faca eram passadas dia sim, dia não.

Eu via e ouvia, com músicas de fundo, magníficas, do Zeca Afonso, do Luís Cília, do Adriano e de outros, as vozes alteradas pela emoção dos locutores a enaltecerem os feitos heróicos dos combatentes pela liberdade e pela independência de Angola, Guiné e Moçambique. Com imagens alternadas de corpos nossos, do capitão Pinheiro Torres Meireles, e da interminável agonia do capitão (e amigo) pára Tinoco de Faria, os dois, por coincidência de famílias que bem conheci.

Naqueles meses, diariamente, via-me condenado. Afinal eu não passava de um vulgar criminoso de guerra. Na minha pequena família, naqueles meses, assistia a dois factos bem distintos: o regresso de Paris, em glória, de um familiar meu, desertor como tantos outros, enquanto corria para a Estrela, para o HMP e dias e meses depois para Alcoitão, para acompanhar o meu irmão na tentativa de o recuperar dos ferimentos em combate em Moçambique, das lesões na coluna que lhe afectaram a vida.

Confesso ter dito para mim: é bom que a guerra tenha acabado, mas não foi por este país que eu combati.

Ainda vivo com isto e não quero ser saudosista. O que lá vai, lá vai, vou dizendo para mim. Mas quem deu dois anos aos canos e às culatras nunca mais se vai esquecer do cheiro a pólvora e do gosto a sangue. De Camaradas e Amigos a Inimigos. vbriote (**)
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 30 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3820: Blogoterapia (87) : O nosso (às vezes, triste) fado... (Joaquim Mexia Alves)

(**) Vd. último poste da série (Ex)citações > 13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3736: (Ex)citações (13): Às vezes, tão perto e tão longe das coisas... (João Coelho)

Guiné 63/74 - P3823: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (I): Mafra, Janeiro de 1964

Cristóvão de Aguiar, em 27 de Novembro de 2008, na Biblioteca-Museu República e Resistência – Espaço Grandella, na apresentação da nova edição do seu livro Braço Tatuado.


Foto: José Martins (2008)


Luís CRISTOVÃO Dias de AGUIAR, nasceu em São Miguel, Açores, em 1940. Frequentou Filosofia Germânica, em Coimbra, curso que interrompeu para tirar o de oficiais milicianos. Em 1965 partiu para a Guiné. Regressado em 1967, depois de concluir o curso, deu aulas em Leiria e regressou a Coimbra para apresentar a sua tese de licenciatura, "O Puritanismo e a Letra Escarlate".

Foi redactor da revista Vértice, colaborador, depois do 25 de Abril, da Emissora Nacional com a "Rubrica da Imprensa Regional" e leitor de Língua Inglesa da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra.

A experiência da guerra forneceu-lhe material para um livro, incluído inicialmente em Ciclone de Setembro (1985), de que era uma das partes, e autonomizado mais tarde com o título O Braço Tatuado (1990).

Da sua obra, por diversas vezes premiada, destaca-se: Raiz Comovida I – A Semente e a Selva (1978); Relação de Bordo – Diário ou nem Tanto ou Talvez Muito Mais (1964-1988); Raiz Comovida – Trilogia Romanesca (2003); Trasfega – Casos e Contos (2003); Nova Relação de Bordo – Diário ou nem Tanto ou Talvez Muito Mais (2004) e Marilha (2005). (Adaptado por José Martins da badana do livro Braço Tatuado - edição de 2007 da D. Quixote).
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Iniciamos hoje a apresentação do Diário de Guerra, do Cristóvão de Aguiar, que nos foi enviado por intermédio do José Martins (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70). Revisão e fixação do texto: vb


Diário de Guerra
Cristóvão de Aguiar


1964

Janeiro, 26Acabei de chegar.

O casarão do convento é tão frio e tão feio, que tenho o coração a doer e vontade de chorar. Quem me dera agora na Ilha, o ventre materno para onde volto sempre que me sinto aban­donado.

Durante a viagem de boleia de Coimbra para Lisboa, bem se esforçou o Carlos Can­dal, meu amigo e companheiro de República, por me animar. Está na tropa, na capital, e só amanhã vou principiar o Curso de Oficiais Milicianos. Fi­quei na ca­serna número quinze, no ter­ceiro piso, a maior de todas, de tecto abaulado e baixo.

Acabei de fazer a cama, como soube e pude. Segui atentamen­te a demons­tração de um habilidoso fur­riel que exibiu as suas capacidades domésticas com mãos rápidas e tarimbeiras para um grupo de novos cadetes que entraram na caserna, de­bai­xo de forma, para tomar posse do cacifo e do beliche. Também nos deu sá­bias instruções sobre disci­plina, la­trocínio de quartel e obediência.
Fiquei soldado-cadete número mil cento e catorze, barra ses­senta e quatro. De­pois de ar­ru­mar as minhas coisas e de mu­dar de roupa, fui até o Bar do Cadete, no piso do rés-do-chão, e lá encontrei o Ca­margo, que chegara na véspera. Já envergava o seu fato-macaco militar cor de azei­tona.

Os meus passos naqueles tú­neis perdiam-se de perdidos que estavam. E logo amaldiçoei o empreiteiro de tal enormidade arquitectónica e as ordens religiosas que ali se encafuavam praticando as piores patifarias em nome de uma fé codificada. Tanto eu como o Camargo parecía­mos dois fan­tasmas navegando por den­tro das bo­tas e do fato zuarte. Não ficámos na mesma ca­serna. Ele ficou na um, a an­tiga capela, junta­mente com o Nogueira e Silva. Ao Vítor Branco, ilhéu da Madeira, coube a dois, a mais pequena e a mais acon­che­gada das três. Foi-me apre­sentado pelo Ca­margo. Fazemos um molhi­nho de soli­darie­dade.




Mafra > Escola Prática de Infantaria (EPI) > 1968 > Cerimónia do Juramento de Bandeira > Desfile dos novos militares, frente ao Convento de Mafra, e onde se integrava o Paulo Raposo, futuro Alff Mil da CCAÇ 2405 (Mansoa e Dulombi, 1968/70).

Fonte: © Paulo Raposo (2006). Direitos reservados

Janeiro, 27Esta noite não preguei olho.

Acolhido na caserna com uma caterva de jovens como eu, senti, ao deitar-me, uma tristeza encharcando-me os ossos e um desânimo só semelhante ao da criança perdida dos pais por entre uma multidão de desconhecidos, numa feira ou num arraial de festa de padroeira. Mas, ali, na caserna, não havia altifalantes como nos re­cintos das festas para anunciar a criança perdida.

Ali, naquele enorme dormitório, com um nauseabundo odor a pés, a ventosidades sonoras e a outras sorrateiras mas enjoosas, estava mesmo perdido para sempre. Mesmo que de mim próprio fizesse um grito de terror. Um toque, ainda madrugada escura, estranho, fez-me levantar do leito da insónia. Era o toque da alvorada. Depois de far­dado, olhei-me de alto a baixo, e achei-me ridículo. Só não chorei por vergonha. Fiz a cama como quem escreve o a, e, i, o, u pela pri­meira vez. Estava ainda na pri­meira classe atrasada...

Mafra, Janeiro, 28Fiquei a pertencer ao quarto pelotão da terceira com­panhia de in­s­tru­ção.

O comandante da companhia, um tenente goês, é muito apa­ratoso nas con­ti­nên­cias. Parece um sinaleiro a apascentar o trânsito. Que mundo este!

O coman­dante do meu pelotão, o quarto da companhia, é um açoriano da Ilha Ter­ceira. Mas ainda não me dei a conhecer, nem deve ser preciso, que ele deve-me topar pela pro­núncia. Pelo que lhe já ouvi, deve ser um grande maluco e vai-nos decerto pôr a to­dos no mesmo es­tado. Já esteve em An­gola cum­prindo uma comissão e segundo consta fez lá das suas.

Hoje passámos o dia a aprender a fazer continência e a dis­tin­guir os postos. As aulas são na parada, com o pelotão formado em U. Aos supe­ri­o­res trata-se por meu. Meu isto, meu aquilo. Aos infe­riores, por nosso. O cade­te Carva­lhosa, que tira aponta­mentos do que ouve ao al­feres e está sempre muito atento à li­ção, como se estivesse nos bancos da Uni­versidade, passou a tratar o cabo lateiro da arre­cadação do material por meu cabo. O alferes foi aos arames com a atoarda. Nin­guém pode sair do quartel para a Vila, após a instrução - ainda não sabemos com­por­tar-nos militarmente. E não se sabe se vamos a fim-de-semana.

Janeiro, 29 – O comandante de pelotão mandou-nos formar.

E explicou-nos que a formatura era sagrada. Não se podia falar, mexer, rir ou sequer pensar. Creio, no entanto, que alguns pensaram. Depois afivelou uma cara de mau e afirmou que era proibido haver doentes. Só o médico poderia comprovar, porque as­sim determinava o Regulamento... Não está no Regulamento - era quanto bastava para se dar uma resposta menos regulamentar.

Janeiro, 30 – Escrevi-lhe para Coimbra uma longa carta.

An­tes de para aqui vir, estive com ela e outras colegas no bar da Faculdade de Medi­cina, mas não tive coragem de me declarar. Fi-lo há pouco numa longa carta que por acaso prin­cipiei a escrever ainda na República, a semana passada.

Se for a fim-de-semana, vou tentar encontrar-me com ela e hei-de obter uma res­posta. Mora num lar de freiras, ao lado da República. Não há-de ser difícil che­gar-lhe à fala. Ainda não cicatrizei a ferida da outra, a da Ilha, e já estou a meter-me noutra...

Hoje, na segunda hora de instrução, com o pelotão formado em U, a aula versou sobre o conceito de pátria, como vem nas fichas da instrução, que esclarecem que se deve apresentar aos instruendos significati­vos exemplos da nossa História para lhes incutir os verdadeiros valores.

O nosso alfe­res pegou no manual e principiou a ler: Temos, por exemplo, D. Duarte de Almeida, o decepado, o porta-bandeira ou alferes, que ofereceu com o seu gesto heróico um verdadeira lição de patriótico amor, abnegação e audácia.


Outro feito que dignifica as páginas doiradas da nossa História é o praticado por D. João de Castro, Vice-Rei da Índia, que num acto valoroso, cortou, como penhor, as venerandas barbas... E a pro­pósito, nossos cadetes, quero lembrar-vos que na formatura para terceira refeição vou passar revistas às barbas e cabelos...

Janeiro, 31 – Iniciámos de manhã o estudo da espingarda Mauser, que se di­vide em dez partes, a saber...

O alferes ia chamando os cadetes por or­dem numérica. Todos receberam a velha Mauser – "A vossa noiva, estimai-a como à vossa noiva..."

Saímos hoje para a Vila, depois da instrução da tarde na tapada. Mas não tivemos dis­pensa do recolher, nem da ter­ceira re­fei­ção. Foi pre­ciso fazer uma for­matura de saída. O oficial de dia veio-nos pas­sar mi­nu­ciosa re­vista. À barba, ao ca­belo, à graxa das botas ou dos sapa­tos da or­dem, ao vinco das calças da farda número um, aos botões da camisa e da farda! Dois cama­radas não fo­ram autorizados a sair. Tinham os pêlos da barba a arra­nhar.

Voltámos ao quartel an­tes da terceira refeição. Como estava a chuvis­car, fez-se a forma­tura para o jantar no corredor em frente do refeitório. Chama-se o corredor La Couture e nele andam jipes e outras viaturas mili­tares. Na forma­tura do recolher tinha tanto sono que cabeceava em pé, enquanto o sargen­to de dia lia a ordem, fazia a cha­mada e distribuía o correio.

O Magalhães rece­beu um telegrama da namorada, já aberto. O instruendo fazia anos. E o sar­gento, com ar de gozo, leu alto: Amo-te, stop, Mada­lena... Quando chegou ao meu número, pus-me em sentido e bati com os tacões das botas. Depois de ter man­dado destroçar, fui para a cama. Eram nove e pouco da noite. Nunca dormi tão bem em toda a minha vida.

(a continuar)

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Notas de vb:

1. Sublinhados do editor.

2. Artigos relacionados em

29 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3542: Memórias literárias da Guerra Colonial (11): Cristóvão de Aguiar na Biblioteca-Museu República. (José Martins)

25 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3515: Memórias literárias da Guerra Colonial (10): Cristóvão de Aguiar na Biblioteca-Museu República, 5ª Feira, às 19h

Guiné 63/74 - P3822: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (2): Segurança alimentar (o mangal que dá de comer...) e turismo de saudade

Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o desenvolvimento > Foto da semana > 18 de Janeiro de 2009 O título desta foto, tirada ainda no tempo das chuvas (em Setembro de 2008) é muito apropriado ao tema que se tornou um dos principais motivos de preocupação e de intervenção dos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento: refiro-me à segurança alimentar, tão fundamental para um país, como a nossa querida Guiné-Bissau, pobre e dependente, que saiu de uma guerra civil há uma década e que está a tentar construir a sua economia e a sua democracia...

Aprendo muito, sempre que visito a página da AD e procuro a sua foto da semana. A do dia 18 deste mês, é dedicada ao mangal. Aqui vai a legenda (escrita por alguém que conhece bem e ama a sua terra, as suas gentes, o seu património natural) (*):

"O mangal é um dos ecossistemas mais determinantes para a dieta alimentar das populações ribeirinhas, ao servir de viveiro para a desova e crescimento de peixes, caranguejos e camarões, importante fonte de proteína na alimentação das zonas lacustres do norte da Guiné-Bissau.

"Frequentemente são as mulheres que se deslocam em canoas através das rias para fazerem a pesca fluvial e procederem mesmo à colheita das ostras fixadas nas raízes do mangal, ou na recuperação do combé, um bivalve muito consumido nesta zona.

"Paralelamente, a beleza deste ecossistema é arrebatadora, nada substituindo um passeio de canoa nas curvas e contracurvas dos braços de mar".


Espero, entretanto, rever em Lisboa o nosso amigo Pepito, director executivo da AD, em meados do mês de Fevereiro. Daqui vai um abraço, com o comprimento de 4 mil quilómetros, para os nossos amigos e amigas que trabalham com ele, incluindo a Isabel Levy Ribeiro, sua esposa. E também para o Patrício Ribeiro, que parte no sábado para Bissau. Tive o privilégio de o conhecer pessoalmente e de conversar com ele, na 5ª feira, ao fim da tarde. Está há 25 anos na Guiné, onde tem uma empresa, a Impar Lda. É ele que tem espalhado os painéis solares que dão hoje energia eléctrica a muitos sítios da Guiné, desde hotéis, quartéis e centros de saúde.

Nascido em Angola, filho de pais portugueses, foi fuzileiro especial na sua terra, durante a guerra colonial. (E como dizem os fuzileiros, fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre). Conhece a Guiné como a palmas das suas mãos, as suas terras e as suas gentes. É um homem vivido e corajoso, mas discreto. Um apaixonado de África. Viveu intensamente a Guiné estes anos todos. Estava lá em 1998... (E se foi valiosa a sua experiência militar para muitos compatriotas nossos que tiveram de ser evacuados nessa altura,com apoio da embaixada portuguesa em Bissau!...). Entrou há dias, formalmente, para a nossa Tabanca Grande embora nos visite regularmente desde o início do nosso blogue praticamente (**).

O Patrício Ribeiro já me conhecia, diz ele, desde o Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008). Foi pena não termos tido oportunidade de conhecermo-nos pessoalmente. É também um colaborador (externo) da AD. Através do nosso blogue quer incentivar, entre os antigos combatentes portuguses, o turismo de saudade. A maior parte de vós, diz ele, estão agora na melhor altura da vida para regressar a Guiné, que é um país maravilhoso e que precisa do vosso apoio, como amigos turistas. Daqui a dez anos será muito mais complicado.

Levou um CD-ROM das cartas das ilhas que ainda não estão disponíveis no nosso blogue. Co um abraço meu e do Humberto Reis. Bom regresso, Patrício (***). E de vez em quando dá notícias tuas e dos demais amigos.

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009) (Com a devida vénia...)

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Notas de L.G.:

(*) Vd. primeiro poste desta série > 6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3573: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (1): Os elefantes voltam ao Cantanhez

(**) Vd. postes de:

29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3812: Dicas para o viajante e o turista (7): Viagens pelo sul da Guiné-Bissau (Patrício Ribeiro)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3732: Fauna & flora (6): A mensagem da Maria Joana e a resposta do Patrício Ribeiro

6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3705: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (13): O jacaré da praia do Biombo (Patrício Ribeiro)

5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1402: Um bom ano de 2007 a partir de Mejo, Guileje (Patrício Ribeiro)

2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXII: Mais um amigo em Bissau (Patrício Ribeiro)

(***) Contactos do Patrício Ribeiro:

IMPAR Lda.

Av. Domingos Ramos 43D – C.P. 489 – Bissau, tel. / Fax 00 245 214385 – Guiné-Bissau

Lisboa , tel. / Fax 00 351 218966014 – Portugal
Mail: impar_bissau@hotmail.com

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3821: Convívios (94): III Encontro dos Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 7 de Março de 2009 (Carlos Vinhal)

Monumento alusivo ao grande naufrágio em Matosinhos na madrugada de 2 de Dezembro de 1947 (*)



Vai realizar-se no dia 7 de Março de 2009 o III Encontro dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos

Este Encontro é alargado a todos os ex-combatentes da Guiné que queiram confraternizar connosco.

A concentração terá lugar pelas 11 horas e 30 minutos, em frente da Câmara Municipal de Matosinhos, onde se fará a fotografia de família.

O almoço será servido no Salão de Festas do Restaurante Mauritânia, sito na Rua Mouzinho de Albuquerque, 115 em Matosinhos.

O preço do almoço é de 30 euros e será composto pelas habituais Entradas, Pratos de carne e peixe, Sobremesa, Café e Bolo Comemorativo. As bebidas estão incluídas. Ficaremos com a Sala à nossa disposição a tarde toda e teremos o habitual momento de Fado.

As inscrições podem ser feitas para:

Ribeiro Agostinho - 969 023 731
António Maria - 938 492 478
José Oliveira - 917 898 944
Carlos Vinhal - 916 032 220 e carlos.vinhal@gmail.com

A data limite das inscrições é o dia 28 de Fevereiro, mas quanto mais cedo se inscreverem, mais facilitam a vida aos organizadores.

No último Encontro tivemos o prazer de contar com imensas presenças de tertulianos do nosso Blogue, mesmo os dos concelhos vizinhos. Contamos convosco de novo este ano.

(*) Foto: © Jorge Teixeira (2009). Com a devida vénia. Direitos reservados.
__________

Notas de CV:

Vd. poste do II Encontro de 18 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2772: Convívios (54): II Encontro de ex-Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, 12 de Abril de 2008 (Carlos Vinhal)

Vd. último poste da série de 27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3802: Convívios (92): I Encontro de militares da CART 2732, no Continente. 18 de Janeiro de 2009, Arruda dos Vinhos (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P3820: Blogoterapia (87) : O nosso (às vezes, triste) fado... (Joaquim Mexia Alves)

Fado da Guiné > Vídeo: 2 m e 19 s > Alojado no You Tube > Nhabijoes > Letra do Joaquim Mexias Alves. Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera) (com a devida vénia).
Vídeo: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

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Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > CART 3942 / BART 3873 > 1972 > O nosso autor e cantor Joaquim Mexia Alves... Além da CART 3942 (Xitole), o J. Mexia Alves comandou, como Alf Mil Op Esp o Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e e esteve ainda, na parte finald a sua comissão, na CCAÇ 15 (Mansoa).

Fado da Guiné

Letra (original): ©
Joaquim Mexia Alves (2007)
Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera)


Lembras-te bem daquele dia
Enquanto o barco partia
E tu morrias no cais.

Braço dado com a morte,
Enfrentavas tua sorte,
Abafando os teus ais.
(bis)

Dobrado o Equador,
Ficou para trás o amor
Que então em ti vivia.

Da vida tens outra margem
Onde o medo é coragem
E a noite se quer dia.
(bis)

Aqui estás mais uma vez,
Forte, leal, português,
Sempre de cabeça erguida.

Não te deixas esquecer,
Nem aos que viste morrer
Nessa guerra em tempos ida.
(bis)

Que o suor do teu valor
Que vai abafando a dor
Que te faz manter de pé,

Seja massa e fermento
Desse nobre sentimento
Que nutres pela Guiné.
(bis)

Joaquim Mexia Alves
Monte Real,
18 de Agosto de 2007

1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, com data de 29 do corrente:

Meus caros Luís, Virgínio e Carlos

Desta vez é que vocês me mandam àquela parte. Que querem, é mais forte do que eu! Façam do texto o que quiserem, e estou a escrevê-lo com sinceridade, o que quiserem!

Abraço amigo do Joaquim Mexia Alves

2. Resposta do editor L.G.:

Obrigado, meu querido amigo e camarada Joaquim...
Sabes como são as polémicas... Tenho procurado gerir isto com pinças, mas não é fácil, há as susceptibiliddaes individuais... Por outro lado, toda a gente tem o direito de resposta...E tu tens o direito à indignação...

Vou publicar o teu texto, sem quaisquer problemas. Mas, em contrapartida, não vou deixar que fiques calado... É contra os nossos regulamentos...E quem cantará o fado da Guiné ? (...)
Um abração. Luís

3. Comentário do J. Mexia Alves:

Obrigado, Luís

O texto não tem a ver, digamos directamente com a polémica da retirada do Guileje, mas sim com um estado de espírito que me parece se instalou no país e que me incomoda e me parece ainda que nos estamos a deixar embarcar nele.

Não é contra nem a favor do Nuno Rubim, nem do António Matos, nem do Coutinho Lima, nem de ninguém!

É quanto a mim uma constatação do que se vai passando.

Se leres atentamente por exemplo o que já se escreveu sobre a batalha de Gadamael, quase se chega à conclusão que a perdemos, quando foi exactamente o contrário.

É um "grito de alma"!

Não nos atiremos mais para baixo!

Abraço amigo do
Joaquim

4. Resposta do editor L.G.:

Joaquim: Tem calma... Tomei boa nota das tuas correcções ao texto.

Hoje é o pior dia do ano para te chateares comigo... Faço 62 anos e estiva dar aulas toda a amanhã, com putos maravilhosos, incluindo filhas da Guiné, russas, portuguesas de Paris, filhos de Freixo de Espada a Cinta, de Vinhais, de Reguengos de Monsaraz, de Leiria, de Lisboa, do Porto, filhos/as do mundo, nossos/as filhos/as da diáspora (portuguesa), filhos/as de fora e de dentro....

E depois não me chateio facilmente com os amigos que considero do peito. Tu já és um eles, um amigo do pós-Guiné, com raízes na Guiné, no Mato Cão, no Geba, no Udunduma, no Xitole... Mesmo que digas que não, contarei sempre contigo. Tentarei ser imparcial com os amigos. Nem sempre é fácil. Mas diz-me se já alguma vez me recusei a publicar-te alguma coisa ?

Vá, fica bem. Luís


5. Rápida resposta do J. Mexia Alves, na volta do correio:


Ó meu caro Luís! Parabéns, homem, que tenhas um dia maravilhoso é o que te desejo!

Conheces-me, mas ainda não me conheces! Não estou nem um bocadinho chateado contigo, nem com ninguém!

Por isso lhe chamei um desabafo, ou seja, não tem nada a ver com actos específicos mas sim com uma maneira de estar dos portugueses, comigo incluído, que nos puxa para baixo em vez de ser para cima.

Lógico que sei que tu publicas o que escrevo e que todos escrevem, mas quis colocar-te perfeitamente à vontade.

Quando eu digo que não contam comigo, é para continuar a falar de "derrotas", etc. Agora podes ter a certeza que não se "livram de mim" com facilidade...eheheheh

Que fique bem claro que não estou chateado com ninguém e muito menos contigo.


6. Finalmente... o texto do Joaquim Mexia Alves, que funcionou como caixinha de Pandora (e é por isso que temos esta série chamada Blogoterapia): [Negritos do editor] (*)

Meus caros camarigos:

Li com atenção a resposta do Nuno Rubim (**) ao António Martins de Matos e não faço comentários.

Digo apenas, que para mim, não confio grandemente nas informações vindas do lado do PAIGC, nem nos seus documentos, porque me parece que ainda vivem um pouco na propaganda.
Se não, vejamos.

Nós expomo-nos aqui permanentemente, mostrando as nossas fraquezas e as nossas forças, os nossos medos e as nossas coragens, os nossos mortos e os nossos feridos, e do outro lado, pelo menos pelo que tenho visto, só chegam auto-elogios, declarações vitoriosas, e nem uma só assunção de dificuldades causadas por nós, claro, de baixas, de retiradas estratégicas ou não, enfim, no fundo a verdade das coisas.

E isto leva-me a pensar, e é essa a primeira razão deste meu escrito, que é mais um desabafo, do que uma teoria, ou tese, na forma como nós Portugueses encaramos a nossa história.

Sirvo-me do texto do Nuno Rubim, com todo o respeito e consideração, que aliás tenho por todos, (faço questão de não distinguir ninguém), para perguntar porque é que raio, nós, os Portugueses, temos tendência para procurarmos aquilo que não nos é favorável, em detrimento do que nos exalta, do que faz de nós a Nação mais antiga da Europa com fronteiras definidas e uma História que nos devia orgulhar?

Porque é que raio, em tantos anos de guerra da Guiné, em tantas acções de guerra, em tantas batalhas que nos foram favoráveis, se escolhe a retirada do Guileje para estudo, (o que não quer dizer que não se estude), se deslocam ex-combatentes das Forças Armadas Portuguesas à Guiné para um simpósio feito no local que o PAIGC erigiu como sua vitória, dando-lhe até uma conotação de vitória final, como se tivesse sido esse acontecimento que tivesse levado ao fim a guerra da Guiné?

Sejamos claros, a guerra acabou, felizmente e ainda bem, porque em Portugal houve uma revolução, golpe de estado, chamem-lhe o que quiserem, que colocou fim a um regime que defendia a guerra como solução.

Claro que a guerra, ou melhor o cansaço da guerra, contribuiu para essa revolução, mas não foi motivo único e talvez nem o principal, e aqui refiro-me à adesão do povo português ao 25 de Abril.

Já vimos o Manoel de Oliveira fazer um filme, que afinal praticamente apenas mostra ou tenta mostrar derrotas portuguesas e que em certa medida ridiculariza os soldados portugueses na guerra de África.

Temos historiadores procurando denodadamente falhas na nossa história, para tentar provar que afinal não fomos esse povo tão cheio de visão estratégica que “deu novos mundos ao mundo”.

Parece-me até que, se Luís de Camões vivesse hoje, os Lusíadas relatariam em verso as desgraças portuguesas, como por exemplo:

“As armas e os brazões já desbotados

Que da ocidental praia lusidia

Não se atreveram nos mares já navegados

Nunca passaram além da Trafaria.”


Nada do que é nosso presta, só julgamos bom o que vem de fora.

Votamos mentalmente nos Obamas, vamo-nos queixando do estado do país, mas nada fazemos para verdadeiramente mudarmos as coisas.

Comprazamo-nos até, quando os relatórios estrangeiros dizem que o país cai a pique, olhando para quem está ao nosso lado e muito ufanos dizemos: «Vês como eu tinha razão. Eu não te disse!»

Parecemos cães feridos e abandonados na rua, a lamberem as feridas uns aos outros.

Claro que devemos e temos de fazer a história da guerra da Guiné, pois fomos nós que lá estivemos, mas caramba, temos sempre de falar das nossas derrotas.

Já uma vez o disse e volto a repetir: São milhares de portugueses que naqueles anos, mesmo que sem ser por vontade própria, deram parte das suas vidas, quando não foi mesmo a sua vida inteira, e agora nós procuramos dizer-lhes que os outros é que eram bons, é que sabiam tudo, e que afinal o que eles andaram a fazer não tinha valor nenhum?

A reconciliação só se faz verdadeiramente quando os antigos oponentes se aceitam mutuamente, com todas as suas virtudes e defeitos, e não uns alcandorarem-se a uma atitude vitoriosa e os outros ajudarem-nos nessa intenção. Quando ambos contam a verdade, mesmo a verdade, e não apenas e só um dos lados a conta e a analisa.
Sei que este texto é polémico e, se calhar, sai do âmbito da nossa Tabanca Grande, mas a verdade, pelo menos para mim, é que Portugal se afunda numa teia de política, (não me refiro ao governo, mas à política em geral), se esbate num “politicamente correcto”, se esgota em discussões intermináveis, sobretudo sobre o que nos amargura e não sobre o que nos ajuda a levantar a cabeça e nos dá forças e orgulho para voltarmos a ser a Nação que “deu novos mundos ao mundo”.

Para isso, e a partir de agora, não contam comigo.

Meus caros editores façam deste texto o que entenderem, mesmo que seja “arquivarem-no” no lixo!

Sempre com todos, num forte abraço camarigo o

Joaquim Mexia Alves

7. Comentário do Nuno Rubim, a meu pedido:

Luís: A pergunta, ou melhor, o desabafo do camarada Joaquim Alves tem realmente alguma razão de ser.

Mas, abreviando (porque a resposta seria longa ) apenas vou dizer o seguinte:

Nestes anos todos que tenho investigado sobre a nossa história militar, tenho-me, como é perfeitamente natural, confrontado com situações em que constato (isto é, faço um juízo de valor) acontecimentos que me causam um certo orgulho de ser português, outros não. Mas isso não interessará a ninguém.

O que eu pretendo é obter dados que me permitam analisar factualmente determinadas situações e expô-las sem tecer comentários ou um mínimo possível. Os recipientes dessa informação é que poderão, ou não, tirar conclusões.

De resto, estou sempre disponível, e bem sabes disso, a trocar impressões
directamente com qualquer camarada que o deseje. Mas num fórum como o blogue limito-me a expor o resultado do meu trabalho e porventura explicitar mais aprofundadamente qualquer dúvida surgida na minha exposição.

Ou, como foi um caso recente, responder a uma intervenção que se referia
a mim, destituída de qualquer fundamento histórico e portanto obrigando-me,
a contra-gosto, a reagir.

Espero, sinceramente, que situações destas não se voltem a repetir.

Para terminar direi (e isto é um juízo de valor !) que a intervenção do BCP 12 em Gadamael foi um importante e notável feito de armas que, associado também a limitações já averiguadas por parte do PAIGC, impediu a sua queda.

Nuno Rubim


7. Comentário final de J. Mexia Alves:

Hoje temos tido correspondência aturada!

Peço-te que transmitas ao Nuno Rubim que nem de longo nem de perto quis criticar o seu trabalho, que entendo.

Mas foi como que a "gota de água" que encheu o copo que já estava a transbordar.

Temos de deixar de procurar razões para no entristecermos, ou então, por cada uma que encontrarmos, encontremos duas para nos alegrarmos.

Ainda por cima com a "tristeza", (para não dizer pior), que anda a nossa política!

Nunca em momento algum da minha vida, tive vergonha de ser Português, e ainda continuo a ter orgulho em sê-lo, mas que andam a "tentar" lá isso andam.

Uma abraço camarigo para o Nuno Rubim e outro mais uma vez cheio de parabéns para ti do Joaquim


__________

Notas de L.G.

(*) Vd. os últimos dez postes desta série, Blogoterapia:

21 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3771: Blogoterapia (86): Recordações da Guiné, nem sempre as melhores (António Carvalho)

21 de Janeiro de 2009 Guiné 63/74 - P3766: Blogoterapia (85): Para que a História seja verídica (José Martins)

22 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3661: Blogoterapia (84): Vai-te embora, tuga dum carago! (José Teixeira)

19 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3652: Blogoterapia (83): Voltamos a pôr a Ana (e o José...) a sorrir, na nossa fotogaleria (Luís Graça)


18 de Dezembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3648: Blogoterapia (82): Pensar em voz alta: Guileje ainda é cedo, Saiegh 18/12/78: foi há trinta anos...(Torcato Mendonça)

11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3605: Blogoterapia (81): Sempre gostei do meu país mas nem de todos os que cá vivem (António Santos)

5 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3566: Blogoterapia (80): Um elogio vindo da Bélgica (Soldado Carvalho / Santos Oliveira)

26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3525: Blogoterapia (79): Gabriel, Cruz de Guerra na Guiné, coveiro na freguesia...(V. Briote)

26 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3522: Blogoterapia (78): Abrir uma mala de pano...(António Matos)

25 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3517: Blogoterapia (77): Pensar em voz alta (Torcato Mendonça)

(**) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos

Guiné 63/74 - P3819: Em busca de... (63): Camaradas e cadastro da CART 676 (Liberal Correia/José Martins)

1. Mensagem de Liberal Correia, ex-Fur Mil da CART 676, com data de 4 de Dezembro de 2008:

Camaradas, as minhas saudações a todos da grande tabanca.

Fiz parte da Cart 676 com a patente (esta é forte) de Furriel Miliciano.
Estive em intervenção adestrito ao BCAÇ 600 de Abril a Setembro de 1964. Depois fomos colocados em Pirada, Bajocunda e Paunca.

Neste momento estou no estrangeiro e não tenho o meu arquivo comigo. Não poderei enviar fotos. Gostaria que me ajudassem a encontrar algum camarada da minha Unidade.
Como a malta foi mobilizada pelo RAP2 -Serra do Pilar - Gaia, a maioria é do Norte. Há uns anos encontrei o Primeiro Sargento Machado que era de Vila Real e três soldados mais o Vilaça da Póvoa de Varzim. Depois perdi o rasto. Procurei por duas vezes o Capitão (hoje Coronel) Álvaro Seco em Coimbra, mas nunca o consegui encontrar. Procurei também o Alferes Geraldes em Viana do Castelo e não consegui nada de concreto.

Já agora, uma pergunta. É possível consultar o cadastro da CART 676 nos Serviços do Exército? Quando regressar aos Açores contarei algumas histórias. Se tiver arte e engenho.

No UIGE também embarcam um ou mais Pelotões de Morteiros. Será que era o 916 do Sargento Oliveira?

Por hoje com abraço de camardagem do
Furriel Miliciano
CART 676
Liberal Correia


2. Companhia de Artilharia n.º 676
José Martins

Mobilizada no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2, em Vila Nova de Gaia, embarcou em Lisboa em 08 de Maio de 1964. Era comandada pelo Capitão de Artilharia Álvaro dos Santos Carvalho Seco e ostentava como divisa “A Força do Nosso Pelotão é Bem a Razão da Nossa Força”.

Tendo desembarcado em Bissau no dia 13 de Maio de 1964, ficou integrada no dispositivo de manobra do BCAÇ 600. Foi atribuída a outros Batalhões para a execução de operações em várias regiões da zona Sul, contando-se entre eles o BArt 619, entre 05 e 15 de Agosto de 1964 na região de Cufar-Cobumba; BCaç 599, entre 17 e 19 de Agosto de 1964, na região de Jabadá e Gampará; CDMG (Comando da Defesa Marítima da Guiné) entre 19 e 21 de Setembro de 1964, na região do Cantanhez.

Cedeu dois Pelotões ao BCaç 506 para reforçar o sector de Bafatá, tendo sido instalado em Pirada e Paúnca, sendo substituída em Bissau pela CCaç 726 em 14 de Outubro de 1964.

Em 29 de Outubro de 1964 foi transferida para Pirada, tendo ocupado o destacamento de Bajocunda com um Pelotão, substituindo a 3.ª CCaç que ali se encontrava instalada. O Pelotão ali instalado foi rendido pela CCav704, ali colocada aquando da criação do subsector de Bajocunda em 11 de Março de 1965.

Rendida no subsector de Pirada pela CCaç 1496, em 11 de Abril de 1966, recolheu a Bissau a fim de aguardar embarque, o que aconteceu em 27 de Abril de 1967.

Os mortos da subunidade:

DAVID NEVES DA SILVA, Soldado Atirador n.º 286/63, integrado na Companhia de Artilharia n.º 676, mobilizado no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 em Vila Nova de Gaia, natural da freguesia de Silvalde, concelho de Espinho, casado com Maria Madalena Mais dos Reis, filho de Manuel Fernando da Silva e Laurinda de Oliveira Neves, faleceu em Pirada em 14 de Fevereiro de 1965, vítima de ferimentos em combate. Foi inumado no Cemitério Municipal de Espinho.

ANTÓNIO DOS SANTOS LUNA, Soldado Atirador n.º 2399/64, integrado na Companhia de Artilharia n.º 676, mobilizado no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 em Vila Nova de Gaia, natural da freguesia de Horta, concelho de Vila Nova de Foz Côa, solteiro, filho de Manuel Joaquim Luna e Laura dos Prazeres Graça, faleceu na povoação de Fasse em 02 de Maio de 1965, vítima de acidente, por afogamento no Rio Geba. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3813: Em busca de... (62): Referências à CCAÇ 1788/BCAÇ 1932, Guiné, 1967/69 e à morte do Cap Artur Nunes (José Martins)