domingo, 17 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4366: Tabanca Grande (144): João Lourenço, ex-Alf Mil, PINT 9288, Cufar (1973/74)

Guiné > Região de Tombali > Cufar > Foto (obtida por Luís Graça) de um slide do António Graça de Abreu, apresentado no dia 2 de Outubro de 2008, na Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella, por ocasião da conferência do nosso amigo e camarada sobre o seu livro Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (2007), no âmbito do ciclo de conferências "Memórias literárias da guerra colonial" (I Série, 2008)...

Essa foto, carregada de luto, impotência e dramatismo, foi reproduzida no seu livro, página 201, com a seguinte legenda: "Buraco de mina-anticarro, na picada de Cufar para o porto interior"... Foi no dia 2 de Março de 1974, sábado, um "dia do diabo" (sic)...

Entre Cufar e o porto do rio Manterunga, numa picada que não teria mais de cem metros, batida milhares de vezes pelos jipes e demais viaturas militares, os guerrilheiros do PAIGC lembraram-se de lá deixar uma brinquedo de morte: uma vulgar mina anti-carro, reforçada por uma bomba de um Fiat (!) que não tinha explodido... Um jipe do pelotão da Intendência, o PINT 9288, comandado pelo Alf Mil Lourenço, accionou o engenho.

Os cinco ocupantes, dois militares, brancos (O Fur Mil Pina e o Sold Jeová), e três civis, estivadores, guineenses, encontraram aqui a morte (*)...

Mais à frente, outra mina, enterrada no lodo do rio, provocou a explosão, em cadeia, de batelões atracados ao cais e carregados de bidões de gasolina... Cerca de duas dezenas de estivadores perderam a vida... Um espectáculo dantesco, escreveu o António..."Vi coisas nunca vistas e que nunca mais quero ver"...

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.


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1. Mensagem, de hoje, de João Lourenço:

Meu caro Luís,
"Tropecei" no teu blogue e gostava não só de me encontrar com o pessoal das nossas "férias tropicais" como de pertencer ao grupo e ir ao almoço de dia 20.

Fui o 1º Comandante do PINT 9288, estive lá em Cufar até ao terrível dia da morte do meu Furriel Pita e do Jeová no mesmo Jipe que eu próprio tinha conduzido na estrada para o porto interior nesse dia de manhã cedo, antes de ir em serviço a Bissau chamado pelo Cap Manuel Duran Clemente, meu 2º Comandante.

Estive no Hospital com o Pita o pouco tempo em que o coração dele resistiu ao destino que era inevitável. Hoje resta apenas a memória gravada no monumento em Belém de homenagem a todos os que deram a vida. Tal como a maioria, nunca soube o nome do Jeová, penso que estará homenageado no mesmo monumento.

Convivi com a CCaç 4740, o CAOP 1, ainda me lembro de alguns, poucos, bons momentos, como a célebre recepção aos piras em que lhes demos arroz com marmelada..., antes de vir a nossa janta reforçada, etc.

Lembro-me bem do Baía e de mais alguns, havia o Furriel Cardoso, um moço do Norte que era Bate-chapas... um 1º Cabo que ficou no BINT de Bissau, que era aqui da Figueira onde habito agora e que gostava de voltar a encontrar,etc.

Não percebo muito de informática mas tenho ajuda em casa, contacta-me logo que possível. 

Um abraço
Cumprimentos
João Lourenço
(Ex Alferes Miliciano Lourenço)

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2. Comentário de L.G.:

João: 
Sê bem vindo. Sabes que a "malta da bianda" nos era muito querida... Além disso vejo que és da Figueira: Temos vários camaradas daí, que já pertencem à nossa Tabanca Grande (António Pimentel, Vasco da Gama, Artur Soares, etc. - cito de cor). Vou tomar boa nota do teu pedido, incluindo a a inscrição no nosso encontro, a 20 de Junho. Vou publicar a tua mensagem, na série Tabanca Grande... Do CAOP 1, do teu tempo de Cufar, tens cá o António Graça de Abreu. E do BINT, o Baía (aqui na foto, à direita) bem como o Franco (que estava em Bissau).

Se tiveres, duas fotos digitalizadas (uma antiga e outra actual), seria óptimo. Se não, mandas mais tarde. Boa saúde para ti.

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3. Eis como o António Graça de Abreu saudou a entrada do novo membro da nossa Tabanca Grande:

Meu caro Luís:
Tu mereces uma estátua! Agora, graças a ti, descubro o Lourenço.
Junto cópia do mail que lhe enviei para teu conhecimento.

Vou para Macau 6º. feira, dia 22 de Maio. Regresso de Macau dia 5 de Junho. Lá vai ser lançado o meu último livro, Poemas de Han Shan. Han Shan é um homem fabuloso, meio budismo zen, meio quase tudo.

Claro que estarei no nosso encontro na Ortigosa, dia 20. Dia 3 de Julho parto para Xangai com os meus filhos (a minha mulher já lá estará) e só regresso de Xangai no dia 3 de Setembro. Não viajo para a China há quatro anos, vou-me reciclar.

Estarei sempre atento ao blogue e tenho quase toda escrita uma longa Carta Aberta a Salazar e a Marcelo Caetano que depois peço para tu publicares.

Obrigado pelo teu infatigável labor por todos nós.
Um abraço,
António Graça de Abreu

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4. Mail enviado pelo Graça de Abreu ao João:

Lourenço, caríssimo:
És um dos que faltava na minha lista de gente importante de Cufar. A companhia 4740 (os açorianos, o cap, Dias da Silva, etc.) já está, fui a dois convívios desses homens que foram nossos companheiros em Cufar.

Sou o alf mil António Abreu do CAOP 1. Vivemos no mesmo quarto durante uns meses, Junho a Novembro de 1973, creio. Fazíamos lá uns jantares meio-escondidos com frangos assados roubados do teu pelotão de intendência. Conto tudo isso no meu Diário da Guiné que quero que leias.

Depois de Cufar, foste para Bambadinca e Bissau.

Na altura eu escrevi um diário de guerra. Foi publicado em 2007, com o título Diário da Guiné. Lama, sangue e água pura [vd. capa, foto à esquerda].

Tu, Lourenço, entras no livro, até transcrevo na íntegra um aerograma que me enviaste de Bambadinca. Há dois anos não te pedi autorização para o publicar porque ignorava por completo o teu paradeiro.

Vou mandar-te o livro pelo correio, dá-me-me a tua morada e, se vais ao encontro do blogue Luís Graça e Amigos na Ortigosa, dia 20 de Junho, encontramo-nos lá. Faremos contas do livro e um esfuziante balanço das nossas vidas. Podes também telefonar-me.

Um abraço e até breve.
António Graça de Abreu

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5. Resposta do L.G. ao António:

António:
A estátua, não, muito obrigado. Mas a tua amizade, sim, acho que a mereço... Ainda bem que o 'puzzle' vai-se completando, ainda bem que tu encontraste mais um camarada de Cufar...Tens alguma foto do Lourenço? Podes mandar-me o aerograma digitalizada, que ele te mandou de Bambadinca?... Vou ver, agora com outros olhos, o teu Diário...

Quanto à viagem à China... Sabes o que se passou em Macau durante a Revolução Cultural? Se souberes algo sobre isso, escreve... Teve, de certo, influência na 'nossa' guerra... Que seja uma bela jornada para todos vós, a viagem à China... 
Luís

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6. Segunda mensagem do dia, enviada pelo João Lourenço:

Meu caro Luís, 
Vou precisar de mais informações, morada, para ir ter com o pessoal da "bianda" no dia 20 [de Junho, à Ortigosa]. Já entrei em contacto com o Abreu... um espectáculo. Sabes alguma coisa do pessoal dos outros PINT, o 9286, 9287 e 9285?

A única notícia que tive em muitos anos foi o falecimento precoce, por doença, do meu colega do PINT de Farim, que era do Porto, o Alferes Lima. Nada sei do Luís Beiroco, de Buba, nem do Carlos Mota, de Bambadinca.

Tinhamos no Pint 9288 um rapaz aqui da Figueira que era o nosso Cabo cortador/magarefe, ficou em Bissau sempre, talvez o Franco ou o Martins se lembrem e saibam dele. Se souberem avisem.

Um abraço
João Lourenço
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Nota de L.G.:

(*) Sobre a Intendência e sobre este dia negro para o BINT, em Cufar, vd. postes de:

23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3229: História resumida da Companhia de Terminal e do Batalhão de Intendência (José Martins)

12 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3196: Em busca de...(39): Companhia Terminal (Bissau, 1973/74) (Daniel Vieira)

20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2462: Convívios (38): Minitertúlia da Intendência / Administração Militar, Belém, Lisboa, 18 de Janeiro de 2008 (Fernando Franco)

16 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1284: A Intendência também foi à guerra (Fernando Franco / António Baia)

20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1195: Ameira: O nosso encontro fez-me bem à alma (Fernando Franco)

Guiné 63/74 - P4365: O Nosso IV Encontro Nacional, Ortigosa, Monte Real, 20 de Junho de 2009 (5): As inscrições continuam a bom ritmo (A Organização)

IV ENCONTRO NACIONAL DA TERTÚLIA DO BLOGUE LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ, DIA 20 DE JUNHO DE 2009, QUINTA DO PAÚL, ORTIGOSA, MONTE REAL, LEIRIA




Caros camaradas e amigos Terulianos

As inscrições para o nosso IV Encontro vão avançando, mas sabemos que ainda há muita gente que vai participar, e estamo-nos a referir aos suspeitos do costume, que ainda não se inscreveram.

Lembramos que as inscrições atempadas evitam trabalho de última hora ao organizador no terreno, camarada Mexia Alves.

Lembramos que o preço do Almoço com Lanche incluído é de 30,50 €uros e que a dormida para quem dela necessitar é de, na Pensão Santa Rita, 35 e 45 €uros, respectivamente para single e duplo.

Vamos fechar as inscrições no dia 15 de Junho, para que o Restaurante possa fazer o aprovisionamento necessário à prestação de um bom serviço.

O nosso camarada Miguel Pessoa assumiu este ano a feitura dos crachás, que serão enviados oportunamente aos participantes.

Embora afixada ao lado esquerdo da nossa página, aqui fica a lista actualizada há poucos minutos.

Eis os nomes dos 90 magníficos:

Agostinho Carreira Gaspar (Leiria)
Álvaro Basto e Fernanda (Leça do Balio / Matosinhos)
Amadu Bailo Djaló (Lisboa)
António Fernando R. Marques e esposa (Cascais)
António Graça de Abreu (Cascais)
António J. Pereira da Costa e Isabel (Mem Martins / Sintra)
António M. Sucena Rodrigues (Oliveira do Hospital)
António Martins de Matos (Lisboa)
António Paiva (Lisboa)
António Pimentel (Porto)
António Santos e Graciela (Loures)
Artur Soares (Figueira da Foz)
Belarmino Sardinha e Antonieta (Odivelas)
Benjamim Durães (Palmela)
Carlos Marques Santos (Coimbra)
Carlos Silva e Germana (Lisboa)
Carlos Valentim e Margarida (Proença-a-Nova)
Carlos Vinhal e Dina (Leça da Palmeira / Matosinhos)
Constantino Neves e Judite (Almada)
Coutinho e Lima (Lisboa)
David Guimarães e Lígia (Espinho)
Delfim Rodrigues (Coimbra)
Eduardo Magalhães Ribeiro e Fernanda (Porto)
Fernando Calado (Lisboa)
Fernando Oliveira e Maria Manuela (Porto)
Henrique Matos (Olhão)
Hernâni Acácio Figueiredo (Ovar)
Idálio Reis (Cantanhede)
Jaime Machado e Maria de Fátima (Lavra / Matosinhos)
Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria)
Jorge Cabral (Lisboa)
Jorge Canhão (Oeiras)
Jorge Picado (Ílhavo)
José Brás (Montemor-o-Novo)
José Carlos Neves (Leça da Palmeira / Matosinhos)
José Casimiro Carvalho e Ana (Maia)
José Eduardo Alves e Maria da Conceição (Leça da Palmeira / Matosinhos)
José Fernando Almeida e Suzel (Óbidos)
José Manuel Lopes e Luísa (Régua)
José Manuel M. Dinis (Cascais)
José Marcelino Martins e Maria Manuela (Odivelas)
José Pedro Neves e Ana Maria (Lisboa)
José Zeferino (Loures)
João Carlos Silva (Almada)
João Lourenço (Figueira da Foz)
João Seabra (Lisboa)
Juvenal Amado (Fátima)
Luís Graça e Alice Carneiro (Alfragide / Amadora)
Luís R. Moreira (Lisboa)
Luís Rainha (Figueira da Foz)
Manuel Amaro (Amadora)
Manuel António Rodrigues (Mortágua)
Manuel Augusto Reis (Aveiro)
Miguel e Giselda Pessoa (Lisboa)
Pedro Lauret (Lisboa)
Raul Albino e Rolina (Vila Nova de Azeitão / Setúbal)
Ribeiro Agostinho e Elisabete (Leça da Palmeira / Matosinhos)
Rui Alexandrino Ferreira (Viseu)
Santos Oliveira (V. N. de Gaia)
Semião Ferreira (Monte Real)
Valentim Oliveira e Maria (Viseu)
Vasco da Gama (Figueira da Foz)
Vasco Ferreira e Margarida (V. N. de Gaia)
Victor Barata (Vouzela)
Virgínio Briote (Lisboa)

No acto da inscrição devem indicar o nome da(o) acompanhante, se for o caso, e da indicação de que querem pernoitar em Monte Real. Devem também dizer de onde se deslocam.

Voltaremos ao vosso contacto.

Pela Organização
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. poste de 6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4289: O Nosso IV Encontro Nacional, Ortigosa, Monte Real, 20 de Junho de 2009 (4): Preços da ementa e dormidas (J. Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P4364: Memória dos lugares (22): Fortim e Ponte Alferes Nunes, sobre o Rio Costa, entre Canchungo e Bachile (Jorge Picado)

Guiné> Fortim e Ponte Alferes Nunes entre Teixeira Pinto e Bachile, sobre o Rio Costa (Pelundo). c. 1968/69.

Foto do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro, CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, Jolmete, Olossato, Bissorã,1968/70).

Foto: © Albino Silva (2007). Direitos reservados.

Comentário do Jorge Picado ao poste P4350 (*):

Cheguei atrasado, mas ainda vou a tempo, para te [, a ti, José Câmara, ] felicitar por teres metido mãos à obra e dar-nos a conhecer as tuas lembranças daqueles tempos na Guiné.

Fico contente se tiver contribuido para que tivesses arrancado com esta fase e cá estarei a reler, enquanto puder, as tuas histórias por locais que me possam avivar a minha memória.

E já agora, a propósito de memória, aproveito para lembrar uma interrogação que o Luís Graça colocou na legenda da foto da Ponte Alferes Nunes, no Postado sobre o Cap Martins da CCaç 16 (**).

Perguntava o Luís se a Ponte se mantinha assim depois da data dessa foto. Muito sinceramente, eu que lá passei algumas vezes, que andei apeado pelo "areal" até à célebre, e verdadeira, Ponte Alferes Nunes, em cimento,de um só arco, "plantada" em seco, por baixo da qual não corria uma gota de água, a não ser talvez quando chovia...não me lembro...da Torre!!! (***)

E "esta, hem?!", como dizia o falecido locutor Fernando Pessa, aveirense da beira mar.

Abraços
Jorge Picado

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Notas de L.G.

(*) 15 de Maio de 2009 >Guiné 63/74 - P4350: Tabanca Grande (141): José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73)

(**) Vd. poste de 13 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4334: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (8): Da China, em busca do Jorge Picado (José Martins, CCAÇ 16, Bachile, 1971)

(**)Vd. último poste da série Memória dosLuagres > 26 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4083: Memória dos lugares (21): Hospital Militar 241 de Bissau (Carlos Cardoso)

Guiné 63/74 - P4363: Convívios (132): Pessoal da CCAÇ 3520, no dia 2 de Maio de 2009 no Funchal, Ilha da Madeira (Juvenal Candeias)

1. Mensagem de Juvenal Candeias, com data de 15 de Maio de 2009:

Olá Carlos, espero que estejas bem!

Envio-te uma pequena reportagem sobre o 35.º Encontro da nossa Companhia e algumas fotografias do acontecimento!

Que tenhas um bom fim de semana!

Um grande abraço.
Juvenal Candeias


35.º ENCONTRO DA CCAÇ 3520

A Companhia de Caçadores 3520 era uma Companhia independente, com origem no Batalhão Independente de Infantaria 19, actual Regimento de Infantaria n.º 3, do Funchal, que prestou serviço na Guiné, de Dezembro de 1971 a Março de 1974.

Denominados os “Homeopáticos de Cacine” passaram sucessivamente pelo Cumeré, Cacine/Cameconde e Quinhamel/Biombo. Um dos seus GCOMB esteve também em Guileje.

Celebram, desde sempre, o seu Encontro Anual, normalmente no Continente, donde eram oriundos os Oficiais, Sargentos e Praças Especialistas, e raras vezes na Madeira, onde pertencia a generalidade dos operacionais.

Em 2009, o 35.º Encontro ocorreu no Funchal, no passado dia 2 de Maio!

As celebrações, que, entre antigos militares e familiares, mobilizaram quase uma centena de pessoas, começaram cedo, com os habituais abraços à porta do quartel, hoje integrado em zona residencial, bem diferente dos bananais que o envolviam há 38 anos!

Seguiu-se uma visita ao Museu da Unidade, onde, naturalmente, as peças em destaque só poderiam ser… o Guião da CCAÇ 3520 e a imagem de Nossa Senhora – a "Senhora" como a tratavam os madeirenses – que nos acompanhou nos vinte e oito meses de viagem à Guiné!

Imagine-se o número de fotografias captadas!

De seguida celebrou-se uma missa em memória dos camaradas já falecidos, na vizinha Igreja do Rosário, para onde tinha sido deslocada a imagem de Nossa Senhora da CCAÇ 3520, que recebeu uma coroa, oferecida pelo camarada Pestana e benzida pelo Padre.

Da celebração constou ainda uma homenagem aos mortos em combate da Unidade, com deposição de flores e uma visita às instalações do quartel, onde verificámos as benfeitorias ali realizadas!

Finalmente dirigimo-nos para o rancho, que era hora de atacar o almoço melhorado, que o 2.º Comandante da Unidade teve a gentileza e simpatia de nos proporcionar e a bonita 1.º Sargento Vagomestre de nos preparar – como são diferentes os tempos!...

As fortes emoções continuaram! Histórias imensas! Uma mistura de riso - lágrimas pairava no ar!


O pior e o melhor!

Os ataques aos aquartelamentos com RPG7 e mísseis ou as futeboladas dominicais;

as frequentes minas nas picadas e nos trilhos ou os mergulhos no Rio Cacine;

o arroz com cavala de conserva (experimentem, é nouvelle cuisine!) ou o guisado de porco – espinho;

a evacuação dos mortos e feridos de Gadamael e Guileje ou a sorte de termos um grupo de combate na retirada de Guileje e não termos baixas…

Gente que não se via há 35 anos! O Pestana, o outro Pestana (a velhinha) o Spínola (que não é o Caco), o Santos, o Nunes, o Faria, o Canastra, o Vicente, o Viveiros, o Saturnino, o Max, o Jesus, o Fernandes, o outro Fernandes (o cozinheiro)… grandes madeirenses, grandes homens…

Falava-se dos vivos, dos mortos, dos que emigraram! Alguns vieram de propósito do estrangeiro! Do Brasil, de Inglaterra…

O Margarido, Capitão da Companhia, fez o habitual discurso à Castro – desta vez mais Raul e menos Fidel – com a eloquência e o sentimento habituais!

Outros discursaram também, era dia para todos falarem e serem ouvidos com interesse e aplauso!

A tarde já ia avançada e a festa terminou com o bolo enfeitado com o crachat da 3520 e o vinho Madeira.

As despedidas foram difíceis! Houve mesmo quem saísse sorrateiramente, sem coragem para despedidas!

Para o ano há mais… desta vez no Continente!

Alguns dos participantes

Museu do RI3 - Funchal > Estandarte da CCAÇ 3520 em primeiro plano

Bolo comemorativo do 35.º Encontro da madeirense CCAÇ 3520


2. Comentário de CV:

Aproveitando o facto de ter publicado a notícia deste Convívo e, em nome dos Editores, deixo esta pequena achega.

Esta época, coincidente com um elevado número de Convívios, causa um enorme afluxo de correspondência ao Blogue. Os camaradas, e muito bem, querem dar notícia dos Encontros das suas Unidades e enviam muitas fotografias dos eventos, muitas vezes sem o acompanhamento de qualquer texto.

Assim, vamos combinar o seguinte:

- A partir de agora só anunciaremos e publicaremos Encontros de Unidades a pedido a dos nossos Tertulianos, desde que a elas pertençam.
- Todas as notícias devrão trazer um texto contando o essencial do Encontro.
- Publicaremos no máximo 3 ou 4 fotos (devidamente legendadas) do acontecimento (como neste poste) que serão seleccionadas pelo próprio e não por nós.
- Sempre que possível mandem o emblema, crachá, brasão, etc. da Unidade para encimar a notícia.

Agradecendo a vossa compreensão, continuamos ao dispôr.

Pelos Editores
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4349: Convívios (129): Pessoal do BCAÇ 2884, em S. Pedro do Sul, no dia 9 de Maio de 2009 (José R. Firmino)

sábado, 16 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4362: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (19): Não nos remetamos ao silêncio... (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74), com data de 15 de Maio de 2009:

Assunto: Não nos remetamos ao silêncio... ainda e sempre, até que a voz me doa...

Estou certo que o Mário Fitas nunca conseguirá obter uma resposta à questão colocada a Almeida Bruno nos comentários ao meu poste anterior, no entanto devemos alimentar a esperança de que um pingo de vergonha possa, quem sabe, tocar ao de leve no homem e levá-lo a uma postura mais digna.


Buscando a semelhança no rei Huno,
qual Átila moderno, Almeida Bruno,
a ferro e fogo pôs Guiné-Bissau...
Montagem fez da guerra numas salas,
com mapas, pionais e mesmo balas,
soldados, uns de chumbo outros de pau...

Seus pretos vão p´ro mato, onde elas cantam
ganhar batalhas que a todos espantam,
a fonte das medalhas da trapaça...
Com dólmen reforçado, a criatura,
no peito/passerelle,toda a largura,
expõe a lataria p´ra quem passa...


Manuel Maia
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Vd. último poste da série de 14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4342: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (18): Devemos manter o dedo no gatilho (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P4361: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (14): Um mês complicado (3) O osso

1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 14 de Maio de 2009:

Caro Vinhal

Com um abraço extensivo ao Luís, Briote e pira M. Ribeiro, envio-te um novo bilhete de Viagem… que ficou no estaleiro da vontade à espera de transporte no escaler da disponibilidade para transbordo no grande Paquete das Recordações que nos leva num cruzeiro ao Passado, com a vossa ajuda como
Timoneiros.

Um abraço também aos Passageiros das Recordações
Luís Faria


Bula – Um mês complicado (3)
O "osso"


Conforme já tinha referido, o mês de Fevereiro de 1971 foi complicado. Para além do trabalho do 2.º GCOMB, de ter assumido durante uns dias o comando do 1.º GCOMB por o Alf Mil Op Esp Quintas ter saído da Companhia e o novo Alf Mil Freitas Pereira ainda não se ter apresentado, também me calhou, a par com operações, serviço rotineiro de emboscadas e patrulhamentos, participar na montagem de armadilhas e minas ao longo da estrada Bula –S. Vicente, aumentando o campo instalado. Só serviço ao quartel é que o meu grupo, ao que recordo não fez. Andávamos um bocado estourados e perguntávamo-nos porque éramos quase sempre os mesmos a chuchar os ossos em vez de também comer carne!!

Assim, a 26 do mês fomos de novo chuchar ossos à zona de P. Matar, só que desta vez, a chucha foi-nos mais madrasta e o osso comeu-nos carne e bebeu-nos sangue !

Talvez devido a informação que desconheço, tomaram parte os 1.º e 2.º GCOMB da Força e um Grupo de Milícias, dando a perceber que o osso podia ser duro para chuchar. O 3.º GCOMB estava na emboscada rotineira à estrada de S. Vicente, na que chamávamos curva do café (não faço ideia da origem do apelido) lá pelo Km 10, sob o comando do Alf Gomes (indiano) e dos Furs Almeida e Ferreira.

O amanhecer não tardaria muito quando deixámos a estrada e entrámos no desmatado, avançando em longa bicha de Pirilau para a mata e continuando numa progressão atenta, ziguezagueante e tanto quanto possível silenciosa, atendendo ao número de elementos, com o objectivo de detectar e interceptar um grupo IN presumivelmente numeroso, que por lá se movimentaria.

Não tardou muito que isso viesse a acontecer.

Atravessamento do desmatado da estrada em bicha de pirilau

Foto: © Luís Faria (2009). Direitos reservados


Ao que recordo, ainda cedo da manhã e a relativa pouca distância em linha recta da estrada, rebenta o fogachal danado. O matraquear das Kalash, as chicotadas, as explosões dos RPG e morteiro, sucedem-se. A zona de morte parece extensa e apanha-me(nos) em sítio arborizado alto e de pouca folhagem. A potencialidade dos RPG acentua-se e mete medo, tal a quantidade de explosões, denotando que havia de certeza mais do que duas dessas armas - para mim temíveis – o que devia significar que o grupo IN seria bastante numeroso.

Respondemos com tudo o que tínhamos e é feito pedido de apoio aéreo. O comandante saíra a dar uma volta na DO que estava estacionada em Bula, deixando-nos sem PC durante uma boa meia hora e consequentemente sem qualquer informação útil à situação. O combate parecia não querer abrandar e muito menos terminar!

A meu lado está o Cancelo com o seu morteiro e por me aperceber que os turras estão a curta distancia, peço-lhe o morteiro e faço um disparo de ângulo elevado, que, não posso esquecer-me (nos), podia ter sido fatal, já que ao sair, a granada embate lateralmente na ponta de uns galhos secos… mas consegue seguir viagem sem nos cair em cima, graças a Deus.

Os tiros e rebentamentos continuam, temos feridos, os Enfermeiros acorrem, a DO não aparece nem outro apoio aéreo.

Diz-me mais tarde o Fur Almeida que era tal e tão próximo o foguetório, que quis vir em nosso auxílio com o 3.º GCOMB, mas não teve autorização. Posteriormente pensei se o objectivo IN não teria sido o 3.º GCOMB ?!!

Lá nos aguentámos. À minha beira e do Cancelo, cai ferido com gravidade um dos meus Homens que me pede para dizer aos Pais… ao que respondi, (apostando uma grade de cerveja) não ser preciso porque se iria safar! O 1.º Cabo Lopes, um pouco mais afastado, fica ferido e acaba por morrer, infelizmente. Há mais quatro feridos para além dos da Milícia, um destes com um estilhaços na cabeça.

O Alf Barros (guineense), no comando do meu 2.º GCOMB, perde momentaneamente o controlo, atira com a G3 para o chão e corre em direcção aos turras, chamando-lhes algo como f.d.p. e cabrões, sendo preciso correr para o ir buscar e acalmar. Sorte os turras já estarem em debandada! Entretanto o apoio chega, a contenda acaba.

Os Enfermeiros não têm mãos a medir. É feita a segurança para o héli aterrar enquanto o canhão e a DO volteiam sobre a zona.

A minha atenção recai nos feridos e nas evacuações a serem feitas. Uma destas tem uma história (com h) extraordinária que talvez venha a referir um dia mais tarde, não sei se com ou sem nomes. Se bem me recordo, o héli foi por duas vezes buscar feridos, transportando os menos graves para Bula, (a três ou quatro minutos) e os restantes para Bissau.

Não sei se para defesa da nossa estabilidade emocional (talvez o Luís Graça possa dar uma achega), no meio do caos aconteciam por vezes situações que, sem razão aparente, nos captavam a atenção, talvez por parecerem surreais no contexto e no momento, mas que de certo modo nos aliviavam e distraíam, acabando por ficar armazenadas no subconsciente, aflorando por via de um qualquer estímulo.

Recordo o milícia com estilhaços na cabeça a ser tratado pelo seu Enfermeiro que, para o desinfectar (?) lhe esfregava a cabeça com tal sem parcimónia que me fez intervir chamando-lhe a atenção para o facto, ao que me respondeu algo do género, de não doer!!

No meio de todo este cenário sombrio não esqueço o quadro de Esperança pintado pelo João, natural de Braga (dizia ser meu vizinho, por eu morar no Porto!!) que, subindo para um bagabaga, abre os braços em toda a extensão e com a G3 segura na mão, dirige-se em voz bem alta à sua namorada distante dizendo “… (não recordo o nome) Amo-te do fundo do curaçom “ !!! . (A imagem parecia a do Apocalipse now na cena de despedida quase no final).

Lembro a Enfermeira Pára (gostava de saber o nome), que mais me pareceu uma Deusa do Olimpo a descer do héli da Esperança, morena, com calças camufladas e T-shirt branca, começar a fazer a triagem de embarque aos feridos que lhe eram levados, já que dado o número, tinha de haver prioridades no transporte.

Inspeccionada a zona de emboscada que nos indicou termos de certeza comido carne IN e bebido do seu sangue (informações posteriores confirmaram 4 mortos e alguns feridos) e feitas as evacuações, regressámos a Bula, cansados mas não desmoralizados e preparados para a certeza de em breve nos darem mais uns ossos para chuchar!

Para a Tertúlia, um abraço
Luís Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4218: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (13): Um mês complicado (2) Emboscada bem montada

Guiné 63/74 - P4360: História do BCAÇ 4612/72 (Jorge Canhão) (2): Actividade no T.O. do C.T.I.G.


BATALHÃO DE CAÇADORES 4612/72
CAPÍTULO II
ACTIVIDADE NO T. O. DA GUINÉ
Fascículo I
(Período de 28SET72 a 31JAN72)

INSTRUÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO OPERACIONAL
Todos os militares desembarcados ficaram instalados no Campo Militar de Instrução do Cumeré, aguardando o início da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional. Esta instrução com a duração de 04 semanas teve o seu início em 06OUT72 e o seu termo em 02N0v72.
Durante toda a IAO o BCAÇ teve presente em instrução num total de 506 instruendos, distribuídos do seguinte modo:
CCS 1ªCCAÇ CCAÇ CCAÇ TOTAL
Cabos 42 32 32 35 141
Sold. 61 98 97 99 365
Total 103 130 129 134 506
A instrução decorreu segundo os programas em vigor.
Pela inexperiência quer dos instrutores quer dos monitores e ainda pela sua falta pois o Q. O. não vinha completo nem em instrutores nem em monitores, notaram-se muitas deficiências.
A instrução de especialidades decorreu nos locais e nas datas que haviam sido previstas e de modo a satisfazer, embora com o inconvenien­te de muitas vezes essa instrução ser dada fora do CMI.
Todas as Companhias do BCAÇ, executaram o tiro programado e nos quantitativos autorizados, se bem que os condicionamentos provocados pela falta de alvos, falta de um Oficial de tiro e pela existência de uma carreira de tiro, tenham afectado o rendimento desta instrução.
Na instrução de combate, as CCAÇ atingiram um nível que pode considerar-se razoável, conseguindo-se também o necessário contacto com o terreno e clima, com vista a melhor adaptação possível.
Como apreciação final poderá dizer-se que o aproveitamento na IAO por parte do BCAÇ 4612/72, foi bom e fundamental para o cumprimento da missão que lhe cabe desempenhar.
VISITAS IMPORTANTES DURANTE A I.A.O.
GENERAL ANTÓNIO DE SPÍNOLA - Comandante-chefe do C.T.I.G.
Visitou o Cumeré no dia 17OUT72 em cerimónia de boas vindas, que constou de passagem de revista às tropas em parada, seguindo-se discurso no qual exortou todos os militares presentes, ao melhor cumprimento da sua missão, terminando com um desfile das tropas ao qual presidiu, numa tribuna montada para o efeito. Em seguida hou­ve uma reunião com todos os Oficiais e Sargentos do Batalhão, ten­do Sua Ex.ª falado sobre as normas que devem nortear a conduta da­queles que comandam, respondendo depois às perguntas que lhe foram postas.
BRIGADEIRO SILVA BANAZOL - 1° COMANDANTE MILITAR DO G.T.I.G.
Visitou o Cumeré no dia 07OUT72 em cerimónia de boas vindas com programa idêntico ao da visita de Sua Ex.ª o General Comandante-chefe.
CORONEL TIROCINADO GALVÃO DE FIGUEIREDO – 2º COMANDANTE MILITAR E DIRECTOR DE INSTRUÇÃO
Visitou duas vezes o Cumeré. A primeira vez para orientação ge­ral da I.A.O., tendo-se reunido com os Oficiais e Sargentos, a segunda em visita de inspecção.
RENDIÇÃO DO BATALHÃO DE CAÇADORES 3852
Após a última fase da I.A.O., o BCAÇ 4612/72, deslocou-se em 03N0V72 para o Sector 04, a fim de render o BCAÇ 3832. Para o efeito fez deslocar as suas subunidades, segundo as ordens recebidas, para as seguintes localidades:
CMD/BCAÇ4612/72 MANSOA
CCS MANSOA
1ªCCAÇ PORTO GOLE
CCAÇ JUGUDUL
3ªCCAÇ MANSOA
- A rendição processou-se em 2 períodos distintos:
Treino operacional (04 a 17NOV72)
Sobreposição (18 a 28NOV72)
TREINO OPERACIONAL
Decorreu em conformidade com o planeamento e sob a responsabilidade do BCAÇ 3832, tendo constituído complemento valioso da instrução de aperfeiçoamento.
Durante o treino operacional as subunidades foram passando gradualmente do contacto possível ao provável até ao muito provável possibilitando às CCAÇ um razoável conhecimento das respectivas ZA, não tendo havido, porém, qualquer contacto com o IN.
Neste período foi possível intensificar a actividade operacio­nal dentro do Sector, pelo aproveitamento dos meios à disposi­ção do BCAÇ 3832.
Foi feito quando possível um desfasamento para garantir a se­gurança afastada aos trabalhos da estrada Jugudul - Bambadinca.
Foi mantida uma continuidade de esforço e de acção do modo a evitar quebras após o período de rendição.
SOBREPOSIÇÃO
Durante este período de rendição, que se processou da melhor forma, sem problema que não pudessem vir a ser resolvidos, foram alcançados os objectivos seguintes.
Conhecimento específico da ZA tendo sido recebidos todos os elementos de arquivo e instrução.
Conhecimento tanto quanto possível dos terrenos e de quase todas as particularidades relativas à ZA.
O BCAÇ 4612/72 assumiu a responsabilidade do Sector 04 em 280001NOV72, tendo o BCAÇ 3832 deixado o Sector nas seguintes datas:
CMD/BCAÇ, CCS, CCAÇ3304 (JUGUDUL) e a CCAÇ3305 (MANSOA) 28NOV72
CCAÇ 3303 (PORTO GOLE) 29NOV72
SECTOR 04
Ref.ª Carta 1/50.000
BINTA FARIM
MANSOA MAMBONCO BAMBADINCA
TITE FULACUNDA
1. GENERALIDADES
O Sector 04 ocupa actualmente uma área aproximada de 1350 quilómetros quadrados, cuja extensão máxima mede cerca de 50 km no sentido SO - NE e 45 km no sentido E-O (paralelos de ENCHEIA e Foz do R. BARADOULO).
A localização dos núcleos IN na área de responsabilidade do Bata­lhão e a situação dos que se encontram sediados na nossa área de interesse, influenciaram decisivamente a actuação das NT e inclu­sivamente o seu próprio modo de actuar.
A grande dispersão dos efectivos do Batalhão pelos seus 11 aquartelamentos condicionou muito a actividade operacional, requerendo sistematicamente a manobra dos seus meios.
2. DESCRIÇÃO GERAL DA AREA
a. Aspecto geográfico - militar
(1) Condições climáticas e meteorológicas
(a) Durante o ano existem duas estações que se caracterizam pela existência ou não de chuvas, pela temperatura média durante o dia e a noite e ainda pela percentagem de humidade.
Deste modo a época seca, estende-se de meados de OUTUBRO a meados de JUNHO, e a época das chuvas preenche os res­tantes meses. A temperatura média anual é de aproximada­mente 26ºC sendo os meses mais quentes os de MAIO e OUTUBRO e os mais frescos, sobretudo de noite, os de DEZEMBRO e JANEIRO.
A precipitação anual situa-se entre os valores de 1550 e 1850mm. A humidade relativa chega a atingir percentagens que rondam os 100%. A amplitude térmica chega a atingir valores que rondam os 25° C.
O calor afecta extraordinariamente o rendimento das NT em operações, chegando a haver necessidade, muitas das vezes, de se efectuar o reabastecimento de água as for­ças empenhadas, sobretudo no período seco. Do mesmo modo este facto exerce influência sobre o IN e sobre as populações que colhem os seus locais de refúgio em regiões onde a água não chega a desaparecer.
A época das chuvas especialmente nos meses de AGOSTO e SETEMBRO, condiciona os movimentos apeados a algumas regiões do Sector sendo de difícil trânsito a estrada JUGU­DUL - BINDORO. O rio MANSOA e os seus afluentes BRAIA e OLOM, não são vadeáveis durante os meses de AGOSTO a JA­NEIRO. As bolanhas, ficam alagadas entre os meses de AGOSTO e OUTUBRO.
Dificultando e impedindo os movimentos apeados. O destacamento de BISSÁ, rodeado de uma grande bolanha fica isolado durante o período que se estende de JULHO a OUTUBRO, tornando-se necessário efectuar o seu reabastecimento, para aquele período, antes do período das grandes chuvas.
(b) Influência sobre o IN
Época seca
Maior facilidade nos deslocamentos não só porque as bolanhas se encontram secas e os rios ficam com um caudal menor, mas também porque o capim e a vegetação rasteira acabam por secar, podendo ser queimadas.
Maior facilidade na realização de colunas de reabaste­cimentos.
Maior facilidade na obtenção de alimentos, após as co­lheitas, e na recolha da fruta da época.
Maior dificuldade na obtenção de água potável, sobretu­do nos últimos meses da época seca.
Maior possibilidade na obtenção de notícias sobre as NT, em virtude do maior afluxo das populações controladas pelo IN, às povoações onde estão aquarteladas.
Faculta ao IN maior número de bases de fogos, para as suas flagelações às populações e aquartelamentos.
É normalmente nesta época que o IN exerce a sua maior actividade.
Época das chuvas
Maior dificuldade nos deslocamentos, em virtude das bolanhas se encontrarem alagadas, do caudal dos rios aumentar e do aparecimento do capim e da vegetação rasteira.
Maior dificuldade na realização das colunas de reabas­tecimento.
Maior dificuldade na obtenção de alimentos.
Limitação dos campos de tiro e de observação.
Maior rentabilidade na implantação de minas e armadilhas sobre os trilhos e caminhos tradicionais, em virtude dos deslocamentos das NT ficarem mais condicionados a sua utilização.
Bases de fogos limitadas aos terrenos que não ficam alagados.
Maior necessidade de construção de casas de mato para pernoita.
Necessidade de concessões de licenças a diversos elementos combatentes para ajudarem os seus familiares nos trabalhos agrícolas.
É normalmente nesta época que existe uma redução sensível na actividade IN.
(c) Influência sobre o rendimento da nossa missão
De um modo geral a época seca facilita o cumprimento da nossa missão, ao contrário do que acontece na época das chuvas em especial porque:
Condicionam grandemente os nossos deslocamentos apeados, obrigando muitas vezes as NT a utilizarem os trilhos existentes.
Condicionam os deslocamentos auto na estrada JUGUDUL – BINDORO, muito embora se mantenha transitável todo o ano.
Dificulta-nos a travessia da maioria dos rios.
Condiciona e limita o emprego dos meios aéreos devido às más condições atmosféricas.
Dificulta a execução de acções prolongadas.
O clima piora depauperando as NT reduzindo a sua capacidade combativa.
(2) TERRENO
Definição da ZA
A DOP "VONTADE ENÉRGICA" de 15AG072, do CCFAG, fixou os se­guintes limites ao sector 04
MANSOA 6 C6.49-Lim Administrativo - MANSOA 9 E3.66 - BINTA 7 D8.20- BINTA 7 G6.50 BINTA 7 H6.70 bolanha a O de BISSANCAGE- FARIM 2 B4.34- FARIM 2 E2.52 - RMANJAMPOTO-RIONFARIM --FOZ RIONFARIM RCANJABARI - FOZ RCAMBAJU - BANJARA 2 D0.60 Lim Administrativo-RGAMBIEL-BAMBADINCA 3 H2.47 RMANCURRE – Lim. Administrativo - MAMBONCÓ 9 A9 -34- MAMBONCÓ 8 G.45 Lim. Administrativo-MAMBONCÓ 8C2.25- MAMBONCÓ 7 C1.88 - RBARADOULO RGEBA - TITE 6 C5.20 - Lim. Administrativo - RMANSOA-MANSOA 1 H5. 90 - Lim Administrativo - MANSOA 6 C6.49.
(Jorge Canhão – Ex-Fur. Milº da 3ª Cia do BCAÇ 4612/72)
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Nota de M.R.: