quinta-feira, 21 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8147: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (12): Quero felicitar todos os 490 amigos desta cadeia, ligados por um denominador comum, a Guerra da Guiné (Felismina Costa)

1. Mensagem do dia 20 de Abril de 2011 da nossa amiga tertuliana Felismina Costa, que no seu tempo de juventude foi madrinha de guerra de um combatente da Guiné e está connosco desde 16 de Julho de 2010:

Com os meus agradecimentos a todos que tornam possível a existência deste espaço.
Felismina Costa



7º ANIVERSÁRIO DO BLOGUE “LUÍS GRAÇA E CAMARADAS DA GUINÉ”

Pretendo felicitar em primeiro lugar, o fundador, administrador e editor do blogue, Prof. Luís Graça.
O co-administrador e editor de serviço “permanente” Carlos Vinhal.
O co-editor Magalhães Ribeiro.
O co-editor Virgínio Briote.
O cartógrafo-mor, Humberto Reis.
E os colaboradores permanentes:
Hélder Sousa
Joaquim Mexia Alves
Dr. Jorge Cabral
José Manuel Dinis
José Martins
Miguel Pessoa
Torcato Mendonça

E em seguida, felicitar todos os 490 amigos desta cadeia, ligados por um denominador comum: a Guerra da Guiné!

Foi, porque ela aconteceu, que aqui estamos, revivendo esse tempo, que deixou marcas para sempre na nossa geração.
Para muitos de vós, um tempo de medo, sofrimento e morte.
Para quem ficou à vossa espera, (família, namoradas e amigos) um tempo de medo, de angústia, de incertezas, de frustrações, de desânimo, de dor, que tentamos esquecer com o fim do referido conflito: Sei, que muitos não esqueceram nem as suas famílias, porque infelizmente, não podem esquecer.
E, é aqui, que tem o seu maior mérito este blogue: não deixar esquecer o que cada um viveu e sofreu e sofre, e apesar de, e para além de tudo, vivenciou, cresceu, tornou-se adulto e conhecedor de uma realidade, que muito embora o marcando duramente, lhe permitiu conhecer e avaliar o lugar, as gentes, a terra e a sua beleza, e as suas necessidades.

Criado para falar da Guerra na Guiné, para registar as memórias de cada um nesse conflito, entre os anos de 63/74 do extinto século XX, impõe-se pela amizade que liga de uma forma geral todos os amigos e camaradas desta enorme Tabanca, à sombra da qual se contam as histórias desse tempo.

Entrei aqui um dia, à procura de informação precisa sobre o referido conflito, que vivi no tempo… e permaneço!
Porquê?
Porque a informação chega constantemente, diversa, porque diversos foram os lugares e os acontecimentos, porque cada dia chega mais um tertuliano a este sítio de encontro com a sua própria história, porque vos considero a todos como irmãos que acompanhei naquele tempo, preocupada com o que se passava, vivendo uma guerra do meu tempo, pese, embora, ignorante da realidade, e é por isso mesmo, que a vossa informação precisa me interessa, para um maior conhecimento do que se passou, do que foi realmente esse tempo.

Se de alguma forma a minha presença tem sido uma invasão do vosso domínio, acreditem que não queria ser tal, porque para mim tem sido um prazer.

Que este espaço continue a unir todos os que viveram o referido conflito, encontrando cada um a amizade e o apoio necessário.

Que estes sete anos de vida do blogue, sejam apenas o início de uma enorme
Enciclopédia da História real da Guerra em que participaram.

Parabéns Professor Luís Graça, pela iniciativa!
Parabéns a todos que ajudam a construir esta agradável Tabanca.

Muito obrigada.
Felismina Costa
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Notas de CV:

(*) vd. poste de 12 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8088: (Ex)citações (136): Dois milhões e meio de visitantes, os meus parabéns! (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8142: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (11): Domingo de Ramos (Ernesto Duarte)

Guiné 63/74 - P8146: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (8): 14/12/2009, das 16 às 18h: Visita ao hospital de Cumura: lepra, sida, tuberculose... e compaixão


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 &gt > 18h > Mural com as seguintes inscrições: "Obrigado, Bispo Settimio"; "X Aniversário da Morte de Dom Settimio"; "A Verdade Vos Libertará".

O missionário Settimio Arturo Ferrazzetta, da ordem franciscana, foi o 1º bispo da diocese de Bissau, criada em 1977. "Homem Grande" da Igreja Católica de África, nasceu em Itália, em 8 de Dezembro de 1924, e morreu, com fama de santidade, em Bissau, em 26 de Janeiro de 1999.



Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 > Fazem-se bichas a partir das 5h30, à porta deste hospital privado, ainda recentemente ciatdo neste blogue (vd. poste P8133)

Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Descarregamento de medicamentos, sob a supervisão da madre italiana...

Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Todos dão uma ajuda no descarregamento


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Medicamentos doados pelo Brasil


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Uma farmácia bem recheada e organizada

Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Os missionários também sabem conduzir tractores


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 &gt >O João, com o seu colega Vitor, frade e médico, com duas mulheres que trabalham no hospital: a da esquerda, de óculos, ao lado do João, é a enfermeira Joaquina Sousa que - segundo informações que nos chega da nossa leitora Isabel - já fez várias missões no hospital de Cumura, tendo estado este ano em Janeiro com uma equipa de médicos (os obstetras/ ginecologistas José Furtado e António Silva, os  anestesistas Fernanda Nunes e Filipa Felix, e o cirurgião José Trigueiros)....




Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Um recém-nascido, desnutrido, ao colo de uma das enfermeiras (a da esquerda, em primeiro plano, é a Joaquina de Sousa, natural de Guimarães, segundo informação da nossa amiga Filomena Sampaio)


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Dando o biberão ao recém-nascido... 





Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 &gt > Pátio interior do hospital


Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação das notas do diário de viagem à Guiné, do João Gracça, acompanhadas de um selecção de algumas das centenas fotos que ele  fez, nas duas semanas que lá passou (*)... 

Nos cinco primeiros dias (de 6 a 10 de Dezembro de 2009) fomos encontrá-lo, como médico, voluntário, no Centro de Saúde Materno-Infantil de Iemberém.  O fim de semana,  de 11 a 13 (6ª, sábado e domingo) de Dezembro de 2009, foi passado em Bubaque e Rubane, no arquipélago de Bolama-Bijagós, como simples turista.  Dia 13, domingo,  à tarde, regressou  a Bissau, ao bairro do Quelelé, onde se situa casa do Pepitop e da Isabel, que lhe derem guarida. É também aqui a sede da AD - Acção para o Desenvolvimento, cujos trabalhadores tiveram,  na segunda feira de manhã,  exame médico de vigilância...  Viu 18 de manhã (e no dia 17, viu mais 5). À tarde, nesse dia de segunda-feira, o João Graça foi, de carro ao centro de Bissau, e visitou, nos arredores o Hospital de Cumura, gerido por um Missão Católica portuguesa... (LG)



14/12/2009, 2ª feira, Bissau, Cumura


10.1. Consultas na AD (ver ficha clínica), [aos trabalhadores da ONGD, cuja sede é no Bairro do Quelelé]. Consultório improvisado, mesa a fazer de maca.

10.2. Hospital da Cumura. Fui buscar, com o Domingos, a Sara, ao centro de Bissau. Cumura fica na periferia, passando o Quelelé [, a 10km, na estrada de Prábis].

10.3. Encontro com a irmã Ida (brasileira, ternurenta) e com a enfermeira de Guimarães […] nas enfermarias de pediatria e ginecologia de mães com HIV. Criança desnutridíssima, pele repuxada, viam-se os ossos. Há cerca de 30 camas ali.

10.4. Sala de partos em condições, cesarianas [são feitas] no [Hospital Nacional] Simão Mendes.

10.5. Consultas externas com óptimas condições, vários gabinetes. Grávidas fazem fila à porta a partir das 5h30 da manhã.

10.6. Aqui conhecemos o Frei Vitor, médico formado na minha faculdade [, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa]. Terminou o curso em 1986. Depois entrou na Ordem dos Franciscanos: “Quando Deus chama por nós, temos de ir. Não interessa nem quando nem como”. […] Acabou a especialidade de medicina interna em Torres Vedras [,no então Hospital Distrital,] há uns anos,

10.7. [O] Hospital [de Cumura foi] construído nos anos 50 pelos Franciscanos de Veneza, creio que a área foi oferecida pelos portugueses nessa altura. Dedicava-se à Lepra. Hoje também, mas sobretudo à Sida e à Tuberculose.

10.8. Actualmente o financiamento é da associação (de um tipo que foi trabalhar para uma ilha de leprosos e lá morreu e ajudou a sensibilizar para o problema da lepra). [Mais pela] Portuguesa e menos pela Italiana [, provável referência à União Missionária Franciscana, Convento da Portela, Rua dos Mártires, 1, Apartado 1021, 2401-801 Leiria, Tel. 244 839 904/6, que gere a Missão Católica e  e a Leprosaria de Cumura]

10.9. Ajudámos a descarregar um carregamento de 100 mil eurps em medicação. Madre italiana gesticulava e dava ordens: “Soro para aqui… Ecco [, expressão idiomática, em italiana, equivalente ao nosso pronto]… mas está bem”. De óculos graduados [?], grossos.

10.10. Ala da Sida e tuberculose. Ele ]Frei Vitor] não se protege. “Está ali um doente com tuberculose multirresistente. Entrou ali na boa”.

10.11. Doente ala da tuberculose com sintomas de Pancoast – edema do membro superior por compressão venosotorácica.

10.12. Farmácia com imensa medicação, tubos toracocentese.

10.13. Ala da lepra mais interessante. Doente com dedos retraídos, espessamento do cubital, outra com facies leonina (cá fora, forma em L, bacilífera).

10.14. [Frei Vitor] fez um curso de lepra no sul da Índia, muito conhecido. “Lesão hipopigmentada com sensibilidade reduzida=lepra até prova em contrário”.

10.15. Duas crianças com lepra. A mulher que nos tirou a foto de grupo não tinha o indicador da [mão] direita.

10.8. Havia tractores com padres italianos… Havia um cemitério para padres… 



João Graça

(Continua)

[ Revisão / fixação de texto / selecção, edição e legendagem de fotos: L.G.]
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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:



 4 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8043: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (7): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte III, o regresso a Bissau)


28 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8005: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (6): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte II)


 12 de Março de 2011 Guiné 63/74 - P7931: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (5): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte I)


19 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7816: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (4): 10/12/2009, último dia de consultas em Iemberém e viagem de regresso (10 horas!) a Bissau


19 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7816: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (4): 10/12/2009, último dia de consultas em Iemberém e viagem de regresso (10 horas!) a Bissau


5 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7727: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (3): 9 e 10/12/2009, em busca do dari (chimpanzé), em Farim e Madina do Cantanhez...


28 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7686: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (2): 6/12/2009, domingo, 1ª consulta, um baptizo muçulmano, um casório católico, uma visita a uma fábrica de caju... 7/12/2009, 2ª feira: 1º dia de consultas. 42 doentes à porta do C.S. Materno-Infantil de Iemberém


16 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7622: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (1): 5/12/2009, sábado, viagem de carro, de Bissau (13h30) a Iemberém (21h50) 

Guiné 63/74 - P8145: Tabanca Grande (278): Jorge Manuel Magalhães Coutinho, ex-Alf Mil OpEsp/RANGER da CCS/BCAÇ 4610/73 (Piche, Bissau – 1974)




1. É com muita satisfação que acolhemos mais um Camarada que aceitou o convite para se juntar a nós - o Jorge Manuel Magalhães Coutinho -, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CCS/BCAÇ 4610/73 - Piche, Bissau -, 1974.

Conta-nos ele no seu e-mail:

Embarcamos em 11 de Abril de 1974 no navio Niassa e chegamos a Bissau no dia 17, tendo seguido para o Cumeré onde ficamos instalados, com destino à frequência do habitual I.A.O. - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional.

Duas semanas depois, deu-se o 25 de Abril e, após alguns dias, fomos destacados para fazer a segurança em Bissau, tendo aí acampado durante uns 15 dias.

Em seguida, o pessoal do meu batalhão seguiu para o cumprimento das missões para que tinha sido criado, render as companhias do BCAÇ 3883/72, que se encontravam aquarteladas no sector de Piche e que tinham terminado o seu tempo de serviço.

Porque me estavam atribuídas as funções de adjunto do Capitão - Oficial de Operações -, fiquei em Bissau para tentar arranjar transporte para um pelotão da 3ª CCAÇ, pois a situação estava muito complicada devido à grande movimentação de tropa, que se havia gerado com a entrega dos aquartelamentos ao PAIGC e as consequentes retiradas das Unidades para Bissau, a fim de aguardarem embarque para a Metrópole.
Ao fim de quase um mês, conseguimos embarque numa LDG, rumando a Bafatá e, de lá, para Nova Lamego de avião. Daí partimos para Piche em Berliets (quanta miséria e desgraça vimos nós naquele percurso!).
Em Piche, fui designado para adjunto do Comandante da Companhia e Chefe da Contabilidade (a minha especialidade civil), cabendo-me a tarefa de organizar a Cantina, o que me levou um mês, até vir de férias em Julho.
Infelizmente não tive muita oportunidade para estabelecer grande camaradagem e união com os homens do meu pelotão, tendo-se dessa parte encarregado os 3 furriéis RANGERS, já que, mesmo em Évora no RI 16, quase não convivi com eles por ter de preparar as operações de instrução.
Quando regressei ao batalhão, este encontrava-se em Bula e, daí, deslocamo-nos para Bissalanca (nos arredores de Bissau), após o que ficamos instalados nos Adidos.
Finalmente, embarcamos no Uíge em 14 de Outubro de 1974.
Em Lisboa, ainda gramei mais uns 3 ou 4 meses, a ultimar a comissão liquidatária, juntamente o 1º Sargento Afonso e com o Alferes Subhashandra Manishanker Bhatt (refiro o nome, porque achei sempre interessante ele ser de origem indiana - um homem impecável e de quem lamento ter perdido o contacto!)
Um abraço para todos,
Jorge Coutinho
Alf Mil OpEsp/RANGER da CCS/BCAÇ 4610/73
2. O nosso Camarada Jorge Coutinho é o 2º elemento do BCAÇ 4610/73 a aliar-se a esta nossa crescente tertúlia, já que contamos com a presença, desde 25 de Janeiro de 2010, do João Adelino Aves Miranda que foi 1° Cabo Radiotelegrafista da 1ª CCAÇ do BCAÇ 4610/73 e que se encontra actualmente emigrado na Alemanha.
3. Amigo RANGER Coutinho, como é habitual cabe-me a mim oferecer-te aqui, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, demais Camaradas tertulianos desta Tabanca Grande, os nossos melhores votos de boas-vindas e transmitir-te que ficamos a aguardar que nos contes alguns episódios da tua estadia na Guiné, que ainda recordes (dos locais, das pessoas, seus hábitos e costumes, dos combates, dos convívios, etc.) e, se tiveres mais fotografias daquele tempo, que nos as envies, para as publicarmos.

Recebe pois o nosso virtual abraço colectivo de boas vindas.
Guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
Fotografias: © Jorge Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:
18 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8124: Tabanca Grande (277): Manuel Abelha Carvalho, ex-Fur Mil OpEsp / RANGER do Pel Rec, da CCS do BART 6520/72 (Tite, 1972/74)

Guiné 63/74 - P8144: Notas de leitura (231): A Última Missão, por José de Moura Calheiros - Gostei francamente do que li (TCor José Francisco Robalo Borrego)

1. Mensagem de José Borrego (*), Ten Cor na Reserva, que pertenceu ao Grupo de Artilharia n.º 7 de Bissau e ao 9.º Pel Art, Bajocunda (Guiné, 1970/72), com data de 19 de Abril de 2011:

Acabei de ler o livro “ ÚLTIMA MISSÃO “ do Senhor Coronel Pára-quedista José de Moura Calheiros e gostei francamente do que li! É sempre confortável ler a experiência de alguém que esteve na Guiné, mais a mais, de um homem que teve responsabilidades de Comando e Estado-Maior.

Fiquei a “conhecer “ a mítica península do Cantanhez, encravada entre os rios Cumbijã e Cacine e as dolorosas batalhas travadas em Guidage e Gadamael-Porto, entre Maio e Julho de 1973, com a preciosa ajuda dos pára-quedistas.
A minha comissão na Guiné foi repartida por Bissau, Bajocunda, Paúnca e Ganguará na península de Gampará. Pertenci ao Grupo de Artilharia nº 7, estacionado em Bissau (Santa Luzia).

O livro descreve de maneira simples e detalhada o que foi a recuperação do Cantanhez e a actividade do Batalhão de Pára-quedistas n.º 12 na Guiné, através das suas Companhias de Intervenção, em apoio da Manobra Sócio-económica, defendida pelo Comando-Chefe.
Quanto à população, também partilho da ideia de bondade e simplicidade da mesma, aliás, a maioria daqueles que por lá passaram, guardam boas recordações com quem conviveram.
A esmagadora maioria de nós é sensível a tudo o que se passa na Guiné e queremos o bem daquela terra! Ficámos emocionalmente ligados àquele País e à cultura das suas gentes!

Voltando ao Cantanhez, deixo uma pergunta para quem queira responder: Se aquela península era considerada um “ Santuário“ e uma base logística do PAIGC, porque esteve abandonada tanto tempo pelas NT?

No livro, apreciei também o extraordinário trabalho e espírito de sacrifício que foi levado a cabo pelas Equipas Técnica e de Missão na exumação dos restos mortais dos militares pára-quedistas que foram enterrados no cemitério de campanha de Guidage, há trinta e cinco anos, por dificuldades de evacuação, o que revela bem os difíceis dias ali passados!

Senhor coronel Calheiros, muitos parabéns pelo seu testemunho, através do seu magnífico livro que é, na minha opinião, um excelente documento histórico!
Pela minha parte, o meu penhorado muito obrigado.

Aproveito esta oportunidade, para desejar a todos os camaradas e Excelentíssimas famílias uma Feliz e Santa Páscoa.

Um abraço fraterno do
JOSÉ BORREGO
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4685: In Memoriam (27): Recordando o Major Raul Passos Ramos (José Borrego)

Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8141: Notas de leitura (230): O Meu Testemunho, uma luta, um partido, dois países, por Aristides Pereira (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8143: Convívios (314): Reencontro com António Soares em Medas-Gondomar (José Ferreira da Silva)

1. Mensagem José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 18 de Abril de 2011:



António Rodrigues Soares da CART 1689


Reencontro com o ex-camarada
António Rodrigues Soares

Apesar de viver a menos de 20 Km de distância, nunca imaginei que existisse um ex-camarada da guerra da Guiné, da minha Cart 1689, a viver tão perto de mim.

Soube-o através dos irmãos Carvalho, de Medas, Gondomar, quando me desloquei pela primeira vez à Tabanca Pequena, em Matosinhos. Ali ficou logo combinado que um dia, muito brevemente, iria ter com eles, para nos abeirarmos do António Soares. E, recentemente, no almoço de angariação de fundos, ocorrido no Parque Zoológico da Maia, procedeu-se à marcação de uma lampreiada em casa do Manuel Carvalho, por forma a conhecermos o referido companheiro da desventurada guerra.

Na quinta-feira, dia 14, pelas 12h00, lá cheguei a Medas, onde o Mayor local, andava a ver as suas ansiadas obras. Seguimos para casa do seu irmão Manuel que já nos esperava de mesa posta com entradas, para abrir caminho à dita lampreiada, uma especialidade de Medas, primorosamente preparada pelo próprio anfitrião.
Aproveitei e levei o camarada ex-Furriel Valente, de Oliveira de Azeméis, para melhorar o ambiente e proporcionar muita partidura de mantenha.

Logo chegou o António Soares que, por mais que se esforçasse, não se lembrava muito daquela guerra que procurou esquecer. Contou ele que era de Melres e que, ao casar em Medas, logo que chegou da Guiné, ficou sem ligação à malta. Esteve lá fora emigrado e veio para cá arranjar um acidente que lhe valeu a perda das duas pernas. Todavia, deu para perceber que tem levado uma vida honrosa e que é querido pelos seus 4 dos 7 filhos que ajudou a trazer ao mundo (3 já faleceram).

Deu para se reviver muitas histórias e revisitar muitos lugares já que a nossa Cart 1689, denominada (sem autorização) de Os Ciganos, nos proporcionou um mundo de vivências impares, que nos marcaram para toda a vida.


Além dos 4 ex-combatentes, contámos ainda com a companhia de mais dois homens; o genro Rui e o filho Gonçalo, que é a fotocópia do avô Manuel. Foi um excelente almoço e uma maravilhosa tarde já que só saímos da mesa, depois das 17h00.

Ficou assente que eu iria tentar levar o António Soares ao próximo encontro anual da Cart 1689 que terá lugar no dia 30 de Abril, no Quartel da Póvoa de Varzim.

Fiquei muito contente e muito grato aos irmãos Carvalho por terem proporcionado este encontro que, seguramente, irá contribuir para uma melhoria de vida deste nosso camarada Soares.

Desta forma, concretiza-se uma aspiração dos manos Carvalho, manifestada em 1 de Abril de 2009, através do Post P4121** do nosso blogue.

Bem hajam
Silva da Cart 1689


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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8078: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (7): Operação Inquietar II - Manga de Ronco

(**) Vd. poste de 1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4121: Ser solidário (32): O nosso camarada António Rodrigues Soares da CART 1689 precisa dos seus amigos (Jorge Teixeira)

Vd. último poste da série de 17 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8116: Convívios (228): Convívio da Magnífica Tabanca da Linha (José Dinis)

Guiné 63/74 - P8142: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (11): Domingo de Ramos (Ernesto Duarte)

1. Em mensagem do dia 18 de Abril de 2011, o nosso camarada Ernesto Duarte* (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67), enviou-nos estas fotos para o espólio das Memórias de Mansabá.

Um abraço muito grande para ti Carlos e para toda a tua família e igualmente para o Luís e para toda a sua família.


Domingo de Ramos

Nesta semana a que os católicos praticantes chamam de Semana Santa, neste Domingo de Ramos, tradição tão velhinha o trocar de ramos, e hoje há quem chame ramos da paz, eu desejo a todos os Homens Grandes, gigantes mesmo, da Tabanca Gigante, e a todos os homens de todas as tabancas, uma semana de paz, já que por vezes pelas situações mais diversas não se consegue viver as 55 semanas do ano em plena paz.

Esforcemo-nos, ao menos, pondo até os fantasmas no sótão, para que se possa viver esta, em paz na sua totalidade.

Eu desapareço muito, o tempo é pouco, nesta época da minha vida em que eu queria fazer um milhão de coisas, vejo o tempo voar-me e tenho que reconhecer que tem já muito a ver com isso o peso dos anos, pesam e começa a nascer uma saudade muito grande de um milhão de coisas, muitas delas não fazia a mínima ideia que estavam adormecidas no consciente.

A casa do meu pai, a seguir à sua morte,  causava-me arrepios, hoje é um lugar sagrado e passo lá muito tempo.

Eu digo por um lado com alguma indelicadeza, ainda não consegui ler os postes com a atenção que eles merecem a um militar, especialmente que esteve na Guiné e no Oio, mas por outro lado desculpo-me a mim próprio, servindo-me de aquela verdade incontestável, o tamanho que os mesmos atingiram são enormíssimos, tão grandes que os seus criadores já não tem ideia da sua grandeza.

Mas Portugal, isto não é me lamentar, não gosto muito de fazê-lo, teve uma malapata com os seus militares no tempo das campanhas [do Ultramar], há muita gente, muito português e até muitos com responsabilidade na máquina estatal que nunca leram de lá uma página, tudo bem, não gostam, mas não podem ignorar uma parte tão importante do Portugal contemporâneo e uma parte tão importante que já é história no Portugal de Hoje.

Se calhar é por muita gente querer ignorar a história, ou querer que ela seja cor-de-rosa, que há desencontros entre o País e o seu povo.

Eu sou um básico, mas nestas datas em que uma grande parte do mundo comemora algo, eu digo,  com alguma tristeza, como foi possível nestes 2000 anos o homem não ter conseguido acabar com as guerras, até nestes últimos 100 anos, até no dia de hoje. Quantas pessoas terão morrido hoje em guerras estúpidas, afinal como todas elas, de qual a qual a mais estúpida.

Não tenho lido, eu chamo-lhe assim os sites todos como eu gostava, mas sempre tenho lido algumas coisas, e há coisas que eu já descobri e que me encantam, acho lindas, e não resisto a escrevê-las aqui!

Tabanca Grande, as nossas regras de convívio:

4ª - Carinho e amizade pelos nossos dois povos, o povo Guineense e o povo português sem esquecer o povo cabo-verdiano.

5ª - Respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado e as forças armadas portuguesas por outro.

Chamaram-me eu fui, como era meu dever, mas sempre fui consciente e gostei de pensar por mim e como tal, a partir de certa altura, já tinha as minhas opiniões, e determinadas coisas que eu fiz começaram a pesar e continuam a pesar.

Mas também é verdade que em mim e na maioria dos amadores que sustentaram a guerra não havia grandes ódios, a convicção de que não tinha sido feito para aquilo, a convicção que aquela guerra não tinha que existir era muito maior do que o ódio que poderia sentir, especialmente contra aquelas gentes com quem eu convivia todos os dias.

E ao ler a 4ª e a 5ª regras especialmente, não altera passados nem dá absolvições à responsabilidade de cada um, mas confirma dentro de certa medida o que muitos hoje sentimos, foi uma guerra, totalmente inútil, mas diferente em tudo, portanto facilmente evitável, porque havia muita e muita gente que não tinha ódio, não nos absolve mas não nos faz sentir tão sozinhos.

Serei básico, analfabruto mesmo, anarquista, louco, não me importando em nada com as crises dos sistemas, das instituições, reconhecendo que podem levar mais uma vez a sociedade ao zero, mas já há aí tanto homem livre espiritualmente e o de amanhã será ainda muito mais e sempre mais e mais livre e independente espiritualmente, logo blindado à manipulação.

Um grande Abraço
Ernesto Duarte
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7811: Memórias de Mansabá (10): Fotos da bolanha de Mansabá, a nossa praia (Ernesto Duarte)

Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8140: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (10): Obrigado, camaradas, pela chave-mestra do cofre das nossas memórias ! (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P8141: Notas de leitura (230): O Meu Testemunho, uma luta, um partido, dois países, por Aristides Pereira (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Abril de 2011:

Queridos amigos,
O testemunho de Aristides Pereira é irrecusável.
Diferente do de Luís Cabral (este mais intimista e deslumbrado pelo talento inesgotável do irmão), Aristides procura nesta narrativa encontrar os dados irrefutáveis da principal consigna do PAIGC da época (uma luta, um partido, dois países).
Como o tempo veio ensinar a consigna assentava numa vontade indomável de um líder de elevado gabarito que sonhara com uma utopia irrealizável. A história é como a natureza, encarrega-se de pôr tudo no seu lugar, baralha-se e volta-se ao princípio. Pode perceber-se como essa consigna arrastou vagas de azedume e quezília, separando povos e deixando a Guiné sem projecto.

Um abraço do
Mário


O testemunho de Aristides Pereira (1)

Beja Santos

“O Meu Testemunho, uma luta, um partido, dois países”, por Aristides Pereira, Editorial Notícias, 2003, é um dos documentos fundamentais para entender tudo quanto se passou na Guiné, desde a génese da luta armada até aos acontecimentos que conduziram à ruptura entre cabo-verdianos e guineenses, em 1980. Aristides Pereira não precisa de apresentações, ninguém ignora o papel capital que desempenhou desde a fundação do PAIGC até ao topo na hierarquia política. Trabalhou sempre ao lado de Amílcar Cabral, em Conacri, será ele o novo líder do PAIGC na Guiné-Bissau declarada independente, em Setembro de 1973. Foi eleito Presidente da República de Cabo Verde, em 1975, 1981 e1986, a par de ter sido secretário-geral do PAIGV.

Que importância pode ser atribuída a esta obra? Dirigente colocado em posição privilegiada, homem modesto, que não se reconhece nem como escritor nem sequer como escrevinhador, vem testemunhar, como ele escreve como uma forma de pagar a dívida com todos aqueles que se entregaram totalmente à luta. É um livro de cerca de 1000 páginas, o seu testemunho com bastantes adjuvantes de diferentes colaborações, chega às 280, o restante material é composto por entrevistas conduzidas por Leopoldo Amado, muitas delas de inegável importância, tal como o acervo documental com que finaliza o volume, com algumas peças históricas incontornáveis. Dada a natureza de tão farto material, compreensivelmente haverá que seccionar os diferentes conteúdos. Pois vamos começar pelo testemunho de Aristides Pereira e de alguns outros participantes seus convidados.

Primeiro, a apresentação do sistema colonial português. É uma apresentação com claro rigor histórico, ninguém desconhece que a presença dos portugueses na actual Guiné-Bissau, no período que antecede a conferência de Berlim, é tímida e circunscrita a algumas praças-fortes. O sistema administrativo só se irá estruturar na I República, a Guiné, nesse período passa a ser um importante fornecedor de óleos e oleaginosas. Em pinceladas grossas, chega-se ao Acto Colonial de 1930, à Carta Orgânica do Império Colonial Português e à Reforma Administrativa Ultramarina, ambas de 1933. Recorda-se o estatuto do indigenato e a concepção civilizadora do salazarismo, atribuindo-se à fundação da Liga Guineense (1910) uma importância significativa na reivindicação em se melhorarem as condições escolares na região. O que era escusado era o autor recorrer a uma expressão puramente demagógica quando diz “Mas o que importa sublinhar é a coesão e a tenacidade com que os guineenses resistiram a 4 séculos de presença portuguesa e a cerca de 60 anos de colonização efectiva. Esta resistência foi uma espécie de luta de libertação nacional avant la lettre, que demonstrou que o povo da Guiné não se submeteu à dominação estrangeira e que se mobilizou para a luta logo que se reuniram as condições favoráveis para a conquista da independência”. Coesão foi coisa que nunca existiu e qualquer semelhança entre a resistência étnica e a luta de libertação nacional é uma imagem de mau gosto, uma derrisão histórica.

Segundo, socorrendo-se de um contributo alheio (António Correia e Silva e Zelinda Cohen) Aristides Pereira e quem com ele colaborou neste livro nem entendem o que se escreve sobre “a génese do movimento dito protonacionalista em Cabo Verde”. Se alguma dúvida subsistisse quanto ao inconciliável da unidade Guiné e Cabo Verde este texto deixa tudo esclarecido. O Cabo Verde que aqui vem documentado só se aproxima da Guiné através de alguns negócios, caso da Companhia do Comércio de Cacheu e a Companhia Grão-Pará e Maranhão. Cabo Verde possui uma elite colonial, gente culta, jornais, instituições que funcionam, um bispo, uma rede de ensino público, um crioulo autónomo, um funcionalismo público autónomo. É inegável que o fenómeno histórico cabo-verdiano reivindicava a plena cidadania portuguesa, não se encontra um dado sequer de história comum entre a gente “das ilhas” e do continente africano. É facto que a Guiné dependeu até ao último quartel do século XIX de um governador sediado em Cabo Verde; é facto que veio muita população de Cabo Verde para a Guiné e desta para Cabo Verde, mas não se encontra qualquer plausibilidade para o argumento da história comum (nutriente fundamental para o slogan “uma luta, um partido, dois países”). E o documento destes dois colaboradores deixa devidamente esclarecido que a unidade reclamada por Amílcar Cabral e pelo PAIGC da luta (para consumo interno e internacional) não passou de um fantasma. Com as consequências que todos nós conhecemos.

Terceiro, segue-se o testemunho de Aristides Pereira que veio de Cabo Verde para Bissau em 1948, como operador dos CTT. Descreve a cidade da época e a sua vida em Bafatá em cuja estação dos correios foi colocado. De regresso a Bissau, em 1951, estabelece relações com a Dr.ª Sofia Pomba Guerra (uma comunista forçada a viver ali) e com Abílio Duarte, Fernando Fortes e outros pequenos funcionários. O nacionalismo na Guiné é despertado pelas independências das colónias vizinhas. Surgiram logo depois da II Guerra Mundial organizações e grupúsculos de curta vida, alguns estudantes africanos em Portugal criaram em 1951 o Centro de Estudos Africanos como uma alternativa à passividade política em que se vivia na Casa dos Estudantes do Império. Aristides Pereira relata depois a criação de movimentos de contestação e o aparecimento de Amílcar Cabral na Guiné, em 1952. São dados inquestionáveis, aparecem registados em muitas outras publicações, tal como a fundação PAI, o aparecimento do MLG (Movimento de Libertação da Guiné). Saltando para o despertar do nacionalismo em Cabo Verde, a narrativa também nada traz de novo, de há muito que está identificado o Grupo de 3º Ciclo do Liceu de São Vicente de onde sairão quadros para o PAIGC.

Quarto, o autor aborda a problemática da unidade Guiné e Cabo Verde, pede mesmo um texto “científico” a dois estudiosos (Manuel Duarte e Renato Cardoso, é uma prosa entediante onde, sempre numa atmosfera de voluntarismo se procura contestar as diferenças abissais das duas culturas, das duas histórias, dos preconceitos e ressentimentos que, em banho lustral, aparecem limados e transformados em laços especiais e indissolúveis. Aliás, a prosa dos dois colaboradores de Aristides Pereira a este respeito é tortuosa e cabalística, como se exemplifica: “A necessidade histórica da materialização da unidade é condicionada pelo facto, primordial, de que a opção da unidade (no sentido dinâmico de unidade e objectivos) põe-se, justamente, em relação a realidades individualizadas, não idênticas: realidades com semelhanças e também com diferenças. Daí que, se é manifestamente infundado contestar o princípio da unidade dos povos da Guiné e Cabo Verde, com argumentos extraídos de suas (reais ou imaginárias) diferenças, naturais ou culturais, a formação jurídica-política da unidade das duas nações deve ser antecedida do processo de materialização da unidade de existência de ambos os povos. Unidade vivida, em que se atinjam as convergências concretas e formas de superiores de cooperação e comunhão, através de novas relações de complementaridade intercâmbio, através de reestruturação e ajustamento finalístico de semelhanças e diferenças”.

Retira-se este parágrafo de um texto absolutamente esotérico, em como se dá como provado que a unidade era um facto histórico inescapável. Pior do que tudo, Aristides vem seguidamente sentenciar: “Quando ouvimos os detractores do princípio básico do PAIGC, a unidade da Guiné e Cabo Verde, afirmarem que este princípio era utópico e inatingível ficamos atónitos com essas posições, sempre fundadas no racismo e em certos complexos (de superioridade ou inferioridade) criados e fomentados pelo sistema colonial”.

A seguir, destacar-se-á a luta clandestina na Guiné, iremos até à batalha do Como e ao congresso de Cassacá, um percurso onde Aristides Pereira também irá discorrer sobre a luta político-diplomática do PAIGC.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8108: Notas de leitura (229): Visão - África, 30 anos depois, reportagem de Pedro Rosa Mendes (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8140: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (10): Obrigado, camaradas, pela chave-mestra do cofre das nossas memórias ! (Jorge Cabral)

1. Mensagem do nosso querido amigo, camarada  e colaborador Jorge Cabral [, foto à esquerda, em Fá Mandinga, na zona leste, Sector L1 (Bambadinca), em Novembro de 1969, noutra incarnação, muito antes de se tornar um temível penalista da nossa praça],  mensagem essa alusiva ao 7º aniversário do nosso blogue (e Tabanca Grande) (*)



ANIVERSÁRIO. SETE. QUARENTA ANOS



No mais fundo de nós, um Cofre.
Cerrado, guardava memórias.
Mas onde estava a chave?
Muitos a tinham perdido.
Alguns não a queriam encontrar.


Quarenta anos depois.
Amores e desamores,
sucessos e insucessos,
nascimentos e mortes,
alegrias e tristezas,
…a Vida.


Eis que surge o Blogue,
a Chave Mestra
que escancara o difuso
e o transmuta em real.


E porque o hoje é feito de muitos ontens,
celebramos.
Aqui,
tão Diferentes,
tão Iguais,
na Tabanca do Afecto.


Obrigado, Camaradas.


Jorge Cabral


_________________
 
Nota do editor:
 
(*) Vd. poste anterior da série > 19 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8136: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (9): À volta do SETE - O Sétimo Ano do Blogue (José Martins)

Guiné 63/74 - P8139: Contraponto (Alberto Branquinho) (29): Teatro do Regresso - 4.º Acto - Missa de Corpos Presentes

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 17 de Abril de 2011:

Caro Camarigo Carlos Vinhal
Este Acto nº. 4 do Teatro do Regresso não é parte ficção e parte real. Aconteceu.

Durante os dias em que a minha Companhia esteve em Bissau esperando o embarque para regresso, o meu Pelotão foi escalado para esse "serviço". (Habituados a "muita coisa", mesmo assim, ao chegar lá, as urnas pequenas impressionavam-nos).
As palavras que o padre me dirigiu no final é que poderão não ter sido exactamente aquelas.
Tivemos que treinar a salva de tiros (sem bala na câmara) e a posição de "funeral arma" que já estava mais que esquecida.

Um abraço
Alberto Branquinho


Guiné-Bissau > Igreja de Santa Luzia
Foto Google


CONTRAPONTO (29)

TEATRO DO REGRESSO
(Peça em vários actos)

4º. Acto - Missa de Corpos Presentes

Cenário:

Abril de 1969.
Pequena igreja situada do lado direito da estrada Bissau – Santa Luzia/QG.
Pela porta aberta entrevêem-se três urnas grandes e duas pequenas, em frente ao altar; o padre, devidamente paramentado, celebra missa de corpo presente, por alma dos falecidos.
Um alferes assiste à celebração em pé.


Personagens principais:

O padre, paramentado, que celebra a missa.
O alferes miliciano, fardado, que assiste à celebração.


Acção:

A missa está a acabar.
O padre, entre o murmúrio de palavras em surdina, asperge água benta, com o hissope, repetidas vezes, sobre as urnas, fazendo o sinal da cruz.

Fora da igreja, uma viatura militar começa a movimentar-se, em marcha-atrás, no sentido da porta da igreja, mas os movimentos são bruscos e desastrados. O padre precipita-se para junto da porta e, com o hissope, faz-lhe sinais para curvar à esquerda, à direita, corrigindo-lhe os movimentos. Finalmente, a viatura encosta correctamente à porta da igreja.

O padre regressa ao altar para, de seguida, voltar para junto da porta.

As urnas começam a ser carregadas na viatura.
A pequena força no exterior, formada do lado direito da igreja, faz a salva militar, disparando sucessivos tiros para o ar.
Uns quantos garotos espreitam às esquinas e às portas das casas e barracas, entre curiosos e assustados.
O padre, ainda paramentado, assiste, dentro da igreja, ao carregamento das urnas, tendo a seu lado o alferes.
Ouve-se a ordem:

- Funeral – ARMA !!!

Pouco depois a viatura iria iniciar a marcha, acompanhada pela pequena escolta.

O alferes despedia-se do padre, quando este lhe prendeu a mão, sustendo a despedida e disse-lhe, olhando-o nos olhos:

- Estes rapazes regressam a casa como carga aérea e, às vezes, em… pedaços. Mas outros… nem sequer… regressam.

(CAI O PANO)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8083: Contraponto (Alberto Branquinho) (28): Teatro do Regresso - 3.º Acto

Guiné 63/74 - P8138: Memória dos lugares (152): A cidade de Bissau em 1968/70: um roteiro (Carlos Pinheiro)

1. Mensagem de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro* (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 17 de Abril de 2011:


Camarigo Carlos Vinhal
Aqui vai mais um texto para o nosso blogue se entenderes que o mesmo merece ser publicado.

Um abraço
Carlos Pinheiro


A Cidade de Bissau em 68/70

A esta distância no tempo, recordar a cidade de Bissau onde passei mais de 25 meses da minha vida, obrigatoriamente e sem alternativa de escolha, mesmo assim é bom recordar Bissau, para que a memória não esqueça e para que outros possam também recordar e testemunhar.

Bissau era uma cidade simpática onde havia um pouco de tudo e acima de tudo muita tropa, muitos militares em movimento, a chegar, a partir e a estar. Não era uma grande metrópole mas tinha infra-estruturas que uma cidade de província, na Metrópole de então, não tinha, não podia ter e nem tinha que ter. Tinha por exemplo um Aeroporto, na Bissalanca, que é certo se confundia de algum modo com a BA 12, já que as pistas eram as mesmas e, aliás, o Boeing da TAP só lá ia uma ou duas vezes por semana, levar de regresso combatentes que tinham vindo de férias, buscar outros em sentido contrário e acima de tudo levar e trazer correio tão indispensável para o apoio moral das tropas e especialmente dos seus familiares cá na santa terrinha. 

Na maior parte do tempo eram os FIAT G91, os T6 e os DO27, para além de outros meios aéreos, os únicos a utilizar as pistas quando eram lançadas Operações onde o apoio aéreo tinha uma preponderância mais que evidente. E, claro, também era dali que saíam os helicópteros, os Alouette III, para as Operações, mas acima de tudo para fazer as evacuações dos doentes e dos feridos.


Tinha também um porto de mar, que por acaso era no rio Geba onde, por vezes, os barcos maiores, o UIGE ou o NIASSA, não atracavam.

Mas barcos como o Rita Maria, o Ana Mafalda, o Alfredo da Silva, o Manuel Alfredo, todos da Sociedade Geral, da CUF, esses porque eram mais pequenos, atracavam. Também o Carvalho Araújo, penso que dos Carregadores Açorianos, nos seus últimos tempos de vida, também ali atracava. Mas era um porto com poucas condições. Este último barco, porque tinha pouca autonomia, tinha que ir, na viagem de ida, a S. Vicente, Cabo Verde, meter água e nafta e no regresso, era no Funchal que atestava.
Tinha ainda outro porto, este mais de pesca, o Pidjiguiti, tristemente célebre pelos massacres que precederam a guerra da independência.


Mas tinha o Palácio do Governador, tinha a Associação Comercial, tinha algumas casas apalaçadas de arquitectura tipicamente colonial, tinha um cinema, a UDIB (1), tinha dois campos de futebol, o campo da UDIB e o “estádio dos cajueiros” à Ajuda, tinha um comércio florescente, especialmente dominado pelos libaneses, onde tudo se vendia desde o alfinete ao camião, tudo importado, principalmente do Japão, mas também dos States, da Inglaterra, da Escócia, da Itália, da Holanda, da Checoslováquia, da França, etc., e naturalmente da Metrópole.

E Bissau tinha algumas casas que toda a malta conhecia pois era lá que convivia, que matava saudades e acima de tudo matava a fome e a sede. Logo à saída do QG havia o Santos, a que simplesmente, mas com muito carinho, chamávamos o “farta brutos”, onde se comia, talvez a maior febra de Bissau. Parecia que tinha as orelhas de fora do prato, tal era a sua dimensão. Mas as batatas fritas a acompanhar também mereciam respeito. Quanto à cerveja, ela era igual em todo o lado, desde que estivesse bem fresca e isso às vezes conseguia-se e muita até era da Manutenção Militar.

Mas lá em baixo, na cidade, tínhamos outras casas emblemáticas. Tínhamos a Solmar, que não tinha nada a ver com a outra de Lisboa, mas que já era um bom restaurante que também vendia muita cerveja para acompanhar as ostras e o camarão.  

Tínhamos o Solar do 10, casa mais pequena mas mais requintada, onde por vezes à noite se cantava o fado depois de uma jantarada ou ceia.

Tínhamos o Zé da Amura onde se comiam uns chispes que iam para lá enlatados não sei de onde, mas que, à falta de melhor, eram apreciados.

Tínhamos, na Praça Honório Barreto, o Internacional, o Portugal e o Chave de Ouro, tudo cafés/cervejarias mas também onde se comiam umas febras ou uns bifes, quando havia.
Mas na Avenida principal, do porto ao Palácio do Governo, também havia o “Bento”, café e esplanada característica da cidade a que vulgarmente nós, os militares, chamávamos de “5ª Rep.” já que o Quartel-general só tinha 4 Rep’s, 4 Repartições.


Para a malta, ali era portanto a 5ª repartição onde quem chegava do mato se encontrava com os residentes, onde se trocavam informações e onde, se dizia, que essas informações vadiavam ali dum lado para o outro do conflito. Ao lado do “Bento” mais para o interior, era a Bolola, onde esteve o Serviço de Material, depois transferido para Brá, e onde era o Cemitério que ainda guarda os restos mortais de muitos camaradas nossos.

Nessa avenida estavam talvez as maiores casas comerciais. Por exemplo a “Casa Gouveia”, da CUF, que vendia ali de tudo e que tudo comprava o que os naturais produziam, principalmente a mancarra (2), o Banco Nacional Ultramarino, o banco emissor da Província, o Cinema UDIB e ao lado uma boa gelataria, mais acima a Pastelaria, Padaria e Gelataria Império, assim baptizada por estar já na Praça do Império onde se situava o Palácio do Governo e Associação Comercial.

Também era nessa Avenida que estava a Sé Catedral, templo de linhas tão simples quanto austeras.



A caminho de Brá e da “SACOR”, havia um local chamado “Benfica” onde havia um café com o mesmo nome e onde se apanhavam os transportes para os vários quartéis daquela zona como eram o Hospital Militar 241, o Batalhão de Engenharia 447, os Comandos, os Adidos e mais à frente a BA 12 e o BCP 12.

Mas havia outros estabelecimentos dignos de recordação. A casa de fados “Nazareno”, mais tarde rebaptizada de “Chez Toi, a “Meta” com as suas pistas de automóveis eléctricos, e como novidade também apareceu naquela altura “O Pelicano”, café-restaurante construído pelo Governo e explorado por privados, com uma belíssima vista sobre o Geba e avenida marginal.


Na Avenida Arnaldo Shulz, que ligava a Estrada de Santa Luzia à tal SACOR, a caminho de Brá, sempre ao lado do Cupelão [ou Pilão], estava o Comando Chefe das Forças Armadas à esquerda de quem subia, um pouco mais abaixo, os Bombeiros Voluntários de Bissau num grande quartel nessa altura muito bem equipado, a Cruz Vermelha, estes do lado direito e até a Sede local da PIDE, que nessa altura já se chamava DGS, também do lado direito mas já junto ao Largo do Colégio Militar.

Era uma avenida nova, como se fosse uma circular urbana onde as boas vivendas também começaram a aparecer.

No princípio da Avenida que ia para Santa Luzia, antes de se chegar ao Hospital Civil, estava o Grande Hotel, nome pomposo do melhor estabelecimento hoteleiro da cidade. O resto era pensões, algumas de quinta escolha.

Mas o comércio de Bissau não era constituído só por cafés, restaurantes e tascas. Havia de tudo. E há nomes que não se esquecem. Para além da Casa Gouveia, o maior empório daquele então Província Ultramarina, como então se dizia, a Casa Pintosinho, a Taufik Saad, a Costa Pinheiro, e muitas outras vendiam de tudo, são nomes que ficaram para sempre na memória. 

Havia, claro, várias casas de fotografia, como por exemplo a AGFA perto da Amura, que ganhavam muito dinheiro na medida em que era raro o militar que não tivesse comprado a sua FUJICA, PENTAX, NICON, etc., a que davam muito uso. Muitas casas vendiam roupa barata, nessa altura já confeccionada em Macau, especialmente aquelas camisas de meia manga, calças de ganga e sapatos leves.
Era assim Bissau naquela época.


(1) UDIB - União Desportiva e Internacional de Bissau
(2) Mancarra - Amendoim

Carlos Pinheiro
16.04.11

Texto e fotos de Carlos Pinheiro
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8099: Convívios (226): Reencontro ao fim de 41 anos (Carlos Pinheiro)

Vd. último poste da série de 4 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8045: Memória dos lugares (151): Bedanda 1972/73 - O Seis do Cantanhez (António Teixeira)

terça-feira, 19 de abril de 2011

Guiné 63/74 – P8137: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (13): Oficina danada



1. Mensagem do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO), ex-Fur Mil da CCAÇ 675 - Binta -, 1964/66, com data de 19 de Abril.
OFICINA DANADA

Dois homens de cabelos brancos passeiam lentamente aproveitando o fresco da noite que se avizinha.

O mais velho fala, gesticula e de olhos brilhantes aponta para um edifício amarelo, degradado, com muitos anos de tempo. De memórias, de sons de martelos e do fogo de bigornas...
- Ali era a “Oficina danada”!
- Espera aí, José Coelho. Vamos falar desses nossos antepassados com mais calma.
E com a magia de que os mais velhos são capazes aproveita-se a esquina mais próxima para se entrar na” máquina do tempo” e viajar muitos anos para trás.
Na casa amarela, trabalhavam quatro irmãos (o Joaquim, o Zé “Preto”, o Júlio e o António “Russo”), hábeis serralheiros, com oficina na Rua Frei Estêvão Martins, a poucas centenas de metros do Mosteiro. Viveram intensamente os tempos conturbados do assalto ao Quartel em meados de Janeiro de 1919.
Num livro escrito alguns anos mais tarde é referido «… que em 11 de Janeiro de 1919, civis armados, auxiliados por oficiais revoltosos de Regimento de Artilharia 1, aquartelado em Alcobaça, tomaram posse do quartel, prenderam o Comandante e alguns oficiais e seguiram para Santarém, principal núcleo do movimento revoltoso.

"No dia 13 seguinte, encontrando-se Alcobaça desguarnecida, entrou nela tropa de Infantaria 7, fiel ao governo, tendo-se seguido a prisão de largas dezenas de pessoas... e até 24 do mesmo mês viveu-se um regime de terror, com violação de domicílios e atropelos vários.»

Os quatro irmãos da nossa história e a sua oficina estiveram na mira das forças da ordem de então por terem sido denunciados por inimigos políticos. Eram acusados do fabrico de bombas para a revolução.
Foi um elemento da GNR que no final da busca, certamente cansado, enfarruscado e desiludido por nada ter encontrado que proferiu a frase que veio a tornar conhecida a oficina dos 4 irmãos:
- Que oficina danada!


Quanto às bombas elas estavam lá perto, dentro de um cesto que, preso por um arame, estava mergulhado nas águas escuras do Rio Baça, que passava nas traseiras da oficina.
Se têm aberto a janela enferrujada das traseiras e puxado o arame os quatro irmãos teriam ido mesmo presos.

Parafraseando a histórica expressão do soldado da GNR,  tiveram uma sorte danada!  E em tempos passados ou nos de hoje… a sorte de um homem é escapar!  Digo eu… que não sou de intrigas.
FMI, digo, FIM.

JERO
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