sexta-feira, 25 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13436: Monumento aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Loures - Actualização de dados (José Martins)

1. Mensagem de José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 20 de Julho de 2014:


Boa tarde
A partir do post Guiné 63/74 - P7897: Monumento aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Loures (José Martins), desenvolvemos um trabalho de validação dos dados constantes na lápide do Monumento ao Mortos da Grande Guerra do Concelho de Loures.

Não só recolhemos mais informação sobre os nomes inscritos no mesmo, mas obtivemos "novos" nomes que inicialmente não foram inscritos. Ceio que a cause se deve, fundamentalmente, à saida desses cidadãos para outras localidades, deixando de estar presentes na vida do concelho, e cujos nomes só vieram á colação face ao terem Tombado ao Serviço de Portugal.

Aproveitamos para convidar todos os COMBATENTES a estarem presentes na Homenagem que vai ser prestada pelo municipio de Loures, após ter efectuado obras de restauro, obras essas que já se tornavem necessárias há lomgos anos. (Noticia/Convite anexa).

Abraço
José Martins





Guiné 63/74 - P13435: Notas de leitura (616): “Pluralismo Político na Guiné-Bissau", coordenação de Fafali Koudawao e Peter Karibe Mendy (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Janeiro de 2014:

Queridos amigos,
Este livro é uma auscultação a diferentes níveis do que foi a atuação política do PAIGC, a crise económica, a alvorada da liberalização política, o comportamento de múltiplos atores, desde os chefes tradicionais até às ONG.
Com o pluripartidarismo, a sociedade civil reorganizou-se e deu sinais de uma vontade participativa que tinha definhado nos tempos do monolitismo do PAIGC.
É neste contexto que se deve ler com interesse o trabalho de Mamadu Jao acerca das relações entre os poderes oficiais e tradicionais na Guiné-Bissau ao longo dos tempos e detetar, como propõe Carlos Cardoso, o enfrentamento entre as elites dos históricos do PAIGC e os jovens ambiciosos formados sobretudo nas universidades da Europa de Leste.

Um abraço do
Mário


Pluralismo Político na Guiné-Bissau: Para a história da transição para um multipartidarismo, desde 1992 (2)

Beja Santos

“Pluralismo Político na Guiné-Bissau”, coordenação de Fafali Koudawao e Peter Karibe Mendy, INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Bissau, 1996, é um precioso volume de ensaios em que quatro investigadores com pergaminhos procedem, em diferentes angulares, ao estudo da emergência do pluralismo político na Guiné-Bissau, no período que preludiou e acompanhou as eleições de 1994. Já aqui se fez referência aos importantes trabalhos de Peter Karibe Mendy e Fafali Koudawao. No primeiro, vimos estabelecido o arco temporal entre a assunção do PAIGC desde a luta pela independência, passando pela chegada ao poder, fomos confrontados pelos porquês do autoritarismo e pelas razões que desaguaram no pluralismo. No segundo, foi-nos dado apreciar o desabrochamento das ONG e o seu comportamento no período eleitoral, fica-se com uma ideia como se deu a transição na sociedade civil entre o Partido-Estado e as novas manifestações de participação dos cidadãos.

No terceiro ensaio, Mamadu Jao debruça-se sobre os poderes “tradicionais” no período de transição. Ele estabelece uma grelha para as grandes reviravoltas da política das últimas quatro décadas, entre 1956 e 1994. Teria havido uma fase de concentração humana entre 1956 e 1959, período em que se encarou a possibilidade de conquistar a independência apenas por via da luta política, mas os acontecimentos de 3 de agosto de 1959 revelaram que se impunha uma estratégia assente na captação e mobilização das populações agrícolas. A fase seguinte (1959-1964) permitiu uma primeira aproximação ao mundo rural. Deram-se choques tremendos entre os guerrilheiros e as populações, a coabitação só foi bem-sucedida na região Sul, mas mesmo assim deu azo a que certos caciques tivessem manifestações de despotismo e por isso foram sancionados no Congresso de Cassacá, em Fevereiro de 1964, evento onde se confirmou o combate ao espírito de régulo e dos chefes tradicionais entre os responsáveis do partido.

Mamadu Jao refere que teria sido montada uma espécie de teoria que dividia os habitantes do país em duas categorias: os “nosso povo” e os “nossa população”. Nessa aceção política, o povo da Guiné e Cabo Verde eram só os que queriam correr com os colonialistas, tudo mais era população mas não era do povo. No período de 1964 a 1974 ter-se-ia dado uma neutralização das instituições do poder dito tradicional nos terrenos da luta de libertação. Os chefes tradicionais foram banidos e humilhados, apodados de retrógrados, e como alternativa foram criadas novas instâncias. Logo a seguir, entre 1974 e 1980 entrou-se na fase do ajuste de contas, tempos de violência legal sancionada pelo Tribunal Popular, vários chefes tradicionais foram julgados e condenados à morte. Depois do 14 de Novembro de 1980, teve lugar uma fase de segunda tentativa de aproximação, deram-se passos que permitiram aos chefes tradicionais começarem a sentir que lhes estavam a ser restituídos os seus antigos valores. E, por último, e o período entre 1991 e 1994, abertas as portas às forças políticas opositoras, todos se lançaram no processo de recuperação e capitalização do poder tradicional. O PAIGC partia com vantagem, já tinha uma boa implantação das boas estruturas de base.

O investigador Carlos Cardoso assina o ensaio sobre a classe política e transição democrática na Guiné-Bissau, recorda a mobilidade ocorrida com o advento da nova classe política depois da independência e com o reajustamento operado pelas classes sociais associadas à burguesia do partido e dos negócios, autênticas elites urbanas que, no plano dos princípios, Amílcar Cabral tinha profetizado como uma burguesia que se iria instalar num certo cosmopolitismo e desembaraçar-se das atividades inerentes à consolidação de uma democracia revolucionária. O autor lembra que a classe política guineense é relativamente jovem, as razões devem-se à natureza da colonização do território. O domínio colonial português, após as campanhas de pacificação, levaram à prática de uma política de integração dos chefes tradicionais de cada grupo étnico e Spínola com a sua política da “Guiné melhor” e das assembleias conhecidas por Congressos do Povo, tudo fez para prestigiar os chefes africanos e desvalorizar e elite cabo-verdiana. Sucede que a elite política possuía pouca ou nenhuma formação, os chefes tinham vindo diretamente para a luta armada passando por pequenas ações de treino em países como a China ou a URSS, isto enquanto os mais jovens iam adquirindo formação superior sobretudo em universidade da Europa de Leste.

Vale a pena reter algumas das observações de Carlos Cardoso: “A classe política faz recurso a uma estratégia para esconder a sua falta de superação. Nos anos 1970 proclamam-se intocáveis os que estiveram na luta e escondem-se cada vez mais atrás de uma legitimidade histórica conquistada com a luta de libertação. Mas a fase pós-independência foi igualmente a de constituição de uma elite política e de um poder altamente elitista”. O partido de Estado passou a estar estruturado para ser regido como um poder absoluto por Nino, Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, dominando igualmente o Conselho de Estado e o Conselho de Ministros. Dava-se a assim a concentração de poderes e a sublimação do poder despótico.

Após os desaires económicos, com o sistema financeiro num caos, o Partido-Estado evoluiu para um sistema multipartidário, os dirigentes históricos viram essa evolução como uma ameaça aos privilégios que a elite desfrutava. A transição foi pacífica, mas deram-se clivagens. A classe política prima pela sua heterogeneidade determinada pelo passado político e pessoal dos indivíduos ou grupo de indivíduos que a compõem. Carlos Cardoso faz uma apreciação do comportamento dos líderes históricos, dos quadros jovens dissidentes do PAIGC, estes últimos à data das eleições eram o grupo que era mais entusiasticamente acolhido com as suas propostas de modernização, mas o PAIGC mantinha-se como um pilar, apareciam os verdadeiros herdeiros de Cabral, faziam parte dos “ventos da história”, da vaga de democratização que invadiu África nos inícios da década de 1990. E aqui o autor faz uma apreciação severa: “Do ponto de vista moral, a nova classe política apresenta limitações sérias. Se por um lado, no plano dos discursos, advoga a favor da justiça social e da igualdade dos direitos, na prática e no que diz respeito a uma das suas facões, o seu estilo de vida e a sua conduta em relação aos bens do Estado constitui impedimentos sérios à edificação de um tipo de sociedade assente nesses valores”. Após as eleições de 1994, havia de esperar uma atuação da nova classe política, vê-la batalhar pelo desenvolvimento e mostrar-se generosa, havia de esperar por uma elite que não estivesse ávida em controlar os recursos económicos e aberta à partilha de todos os tipos de poder, a começar pelo político. Como se sabe, estas previsões falharam, o país encaminhou-se para uma guerra civil, no fim do século.
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 21 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13422: Notas de leitura (614): “Pluralismo Político na Guiné-Bissau", coordenação de Fafali Koudawao e Peter Karibe Mendy (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 22 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13430: Notas de leitura (615): "Guiné, Mal Amada, o Inferno da Guerra", por António Ramalho de Almeida (Virgínio Briote)

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13434: Diário da CART 1742 (Mário Alves, 1.º Cabo Corneteiro) (1): Período entre Agosto de 1967 e Janeiro de 1968 (Abel Santos)

1. Enviado pelo nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), começamos hoje a publicar o "Diário da CART 1742" de autoria de Mário dos Anjos Teixeira Alves, 1.º Cabo Corneteiro da mesma Unidade.



Diário da CART 1742

Autoria de Mário dos Anjos Teixeira Alves
1.º Cabo Corneteiro
Guiné, 1967/1969

Este diário foi oferecido aos camaradas presentes no 9.º convívio da Companhia de Artilharia 1742, em Campeã - Vila Real de Trás-os-Montes em 25 de Maio de 2013.

Eis a razão
Dos momentos
Da nossa indisposição,
Mandaram-nos para a guerra
Sem a nossa opinião.
Por isso o Salazar
Não terá o nosso perdão.

Eu, Mário dos Anjos Teixeira Alves, nasci a 13 de Novembro de 1945, e fui incorporado no serviço militar em 24 de Janeiro de 1966, no RI 13, em Vila Real, onde fiz a recruta.
Em 13 de Abril do mesmo ano fui para o BC 10 em Chaves, tirar a especialidade de corneteiro e, conjuntamente, a escola de cabos, que concluí como 1.º cabo em 7 de Agosto de 1966.
No dia 21 do mesmo mês fui transferido para o CIOE - Centro de Operações Especiais - em Lamego.
Aí estive até Maio de 1967, pois quando já pensava em ir para casa, fui mobilizado para a Guiné.

E assim, em 28 de Maio de 1967 juntei-me à CART 1742 no RAL 5 em Penafiel.
Em 22 de Julho, um sábado, partiu o barco Timor em direcção à Guiné e, foi aí que eu me lembrei de fazer um diário, o qual vou aqui relembrar apenas partes mais significativas.

Começo por lembrar que o navio deixava muito a desejar: fracos camarotes, maus cheiros e pouca comida e de má qualidade, enfim, lá foi dando para passados cinco dias, no dia 27, às 7h30, chegarmos à ilha do Sal em Cabo Verde.
Aqui o navio encostou para deixar um pelotão independente e levar outro de regresso a Portugal, já com a missão cumprida. Ainda descarregaram muito cimento entre outras coisas.

Navio Timor

Dia 28 de Julho:
À 1 hora da manhã, continuámos a viagem e às oito voltamos a parar na ilha de Santiago para trocar outro pelotão. E tudo continuava igual, incluindo a alimentação.
Às 17h30 continuámos a viagem, mas era cada vez mais difícil, pois o barco baloiçava mais, por ir mais leve e, também devido a uma tempestade de chuva e vento forte. Eu em particular, e muitos outros íamos muito mal dispostos.
Passados oito dias, às 14h00 do dia 30, chegámos à Guiné e assim terminava uma viagem bastante aborrecida.
Após o desembarque entrou-se nas viaturas e fomos para o quartel 600 em Bissau onde nos esperavam uns colchões de praia poucos cómodos, e o jantar que também ajudou a passarem a primeira noite. Deu para conhecer algo lá por perto, e no dia 1 de Agosto cada um foi levantar uma arma para a Companhia continuar a instrução e preparação física.

Passados oito dias - dia 9:
Foi o primeiro dia que recebemos correio de Portugal. Todos ficámos muito animados até ao dia 14, porque aí na refeição da noite fizemos um pequeno protesto por estarmos a ser mal alimentados, mas não houve problemas.

Dia 19:
Foi a primeira noite que dormimos despidos, pois até aqui não o podíamos fazer derivado aos mosquitos.
Hoje entregaram-nos os mosquiteiros, mas foram pagos por nós.

Dia 22:
Fazia um mês que embarcámos em Lisboa e o furriel Alves e o alferes Pinheiro convidaram-me para os ajudar a dar aulas aos que não tinham nem a terceira, nem a quarta classe.

Dia 23:
Demos início às aulas, estas eram das 14 às 17h30.

Dia 29:
Fomos para aplicação militar das 9 às 11h e no dia 30 fomos fazer uma patrulha das 6 às 11h. Foi bastante chato com a chuva, apesar de quente, pois atravessámos bolanhas em que a água nos dava pelo pescoço. Depois fomos compensados com o correio que veio de Portugal.

Setembro 67
Dia 1 - de manhã:
A mesma aplicação militar e de tarde continuámos a dar aulas.

Dia 12 - terça-feira:
Foi-nos dito que íamos para Nova Lamego no dia 15. Foi-nos entregue mais material: cartucheiras, munições, bornal etc. E assim estávamos preparados para uma nova etapa.

Dia 15:
À 1h da manhã deixou-se o Quartel 600, Santa Luzia, e fomos para o cais.
Às 2h30 entrávamos na lancha e às 3h partimos em direcção a Bambadinca onde chegámos às 11h30.
A comida era a ração de combate e umas cervejas no bar do quartel.
Às 23h30 chegaram as viaturas e partimos para Nova Lamego, onde chegámos às 4h do dia 16, mas não havia onde dormir.
Às 14h a secção do furriel Alves à qual eu pertencia, foi mandada para o destacamento de Canja que fica a 25 quilómetros de Nova Lamego. Eu, como pertencia à secção do furriel Alves, fui também com eles fazer segurança ao destacamento, enquanto a secção que lá estava foi fazer uma operação à área envolvente. A refeição da noite foi ração de combate, e dormir debaixo de um coberto que serve de refeitório. Para beber, água da chuva aparada nuns bidões, que também servia para nos lavarmos, tal como os negros.

Hoje, dia 17 - domingo:
De manhã tomámos o café feito da mesma água e pão feito pelos negros num fraco forno de barro.
Às 8h fui com outro colega render os que estavam a fazer segurança na ponte e lá estivemos até às 12h30. Aí fomos rendidos por outros colegas e viemos almoçar. Só depois da refeição da noite entrei de reforço, das 20 às 22h e foi quando chegaram os que tinham ido fazer a operação ou reconhecimento.
Tivemos de dormir novamente em cima dos bancos do refeitório, e eu dormi em cima das caixas da batata.

Dia 18:
Às 14h partimos para Nova Lamego com bastante apetite, porque só tínhamos tomado o pequeno-almoço com ração de combate.
Às 18h chegámos a Nova Lamego, jantámos e já descansámos razoavelmente.

Dia 19:
O alferes Cruz disse-me que às 14h íamos conferir o material da arrecadação de materiais de guerra, para eu tomar conta até chegar o quarteleiro que ficou em Bissau a entregar outra arrecadação. E assim estivemos até às duas da manhã.

Dia 20:
Continuámos a conferir o material e quando terminámos tomei conta das chaves e assumi a responsabilidade. Passados três dias: Era domingo, dia 24, fui com alguns colegas à missa a uma capela que há aqui em Nova Lamego.

Dia 26-terça feira:
Recebi ordens para entregar os lençóis ao pessoal da companhia.

Dia 27:
Foi a primeira vez que recebemos correio em Nova Lamego.
À noite estive a entregar material para a companhia ir fazer uma operação.

Dia 30:
Faz dois meses que chegámos à Guiné e para nós já parece dois anos.

Outubro 67
Dia 1 - domingo:
Tudo normal, e assim foi até ao dia 5.
Aí, às 8h, vieram-me chamar para ir tocar o clarim para hastear a bandeira nacional no batalhão.
Às 18h, fui arriá-la e às 21h fui fazer o recolher.
Agora continuo a ir fazer apenas os toques mais importantes até que a companhia Periquita se instale e que os clarins percam o medo de tocar.

Dia 6:
Foi dia de correio, que é das coisas mais importantes para todos nós.

Dia 7, às 3h30 da manhã:
Veio cá o furriel Pinto e o Bica chamar-me para preparar o material para os dois pelotões deles irem fazer uma operação.
Eram 6h quando saíram.

Dia 8 - domingo:
Chegou o cabo quarteleiro Oliveira, mas por enquanto ficámos os dois na arrecadação.

Dia 9, às 20h30:
Já estávamos na cama e veio cá o furriel Amaro e o Romão vagomestre com uma mentira: disseram-nos que preparássemos o material, que a companhia ia sair para uma operação e que eu ia também. Fizeram isso porque no dia antes tínhamos estado juntos a comer um cabrito assado e connosco esteve também o sargento Bonito, e daí a boa confiança de amigos.
Daqui até ao dia 20 tudo normal, mas fui atacado pelo paludismo, com uma grande febre e o Oliveira foi chamar o enfermeiro que me deu comprimidos, mas não adiantou, Então deu-me duas injecções e a febre sempre baixou.

Dia 21:
Já me sentia melhor e até consegui comer alguma coisa.

Dia 22 - domingo:
Faz três meses que embarcámos em Lisboa, tanto tempo para nós!

Dia 25:
Mais um dia de correio para nos ajudar a espalhar as saudades, neste caso até ao dia 1 de Novembro, em que recebemos mais correio.

Novembro 67
Dia 2:
Esteve cá o major do serviço de material de guerra e deu-nos para modificar algumas coisas e assim passámos a fazer esse trabalho.

Dia 3:
Está o Oliveira com o paludismo, fui chamar o enfermeiro para o tratar.

Dia 4 - sábado de manhã:
O comandante do Batalhão reuniu aqui duzentos negros civis e deu-lhes armas para irem com um pelotão da minha companhia fazerem uma batida a um determinado sector. Fiquei surpreso com tal ordem.

Dia 7, à noite:
O pessoal da companhia veio levantar material para irem de manhã cedo fazer uma operação.

Dia 8, dia em que faço 22 anos:
Às 23h chamou por nós um colega e disse-me que tinha morrido um soldado nosso e havia dois feridos que tinham acabado de chegar ao posto de socorros do Batalhão, sendo o Neto carpinteiro, o que morreu, e o cabo Correia e outro soldado os feridos, por causa de uma armadilha.

Dia 9, depois do almoço:
Fui à missa de corpo presente pelo falecido Neto, e a seguir fui ao Batalhão ver se conseguia ensinar e treinar a marcha fúnebre com os corneteiros do batalhão, mas eles não conseguiram.

Dia 10 - sexta-feira de manhã:
Fui desempenhar as minhas funções de clarim ao funeral e a seguir tentar viver enquanto fosse possível. E assim, tudo normal até ao dia 18, em que, de manhã esteve cá novamente o major do serviço de material a fazer alguns reparos na arrecadação, mas concordou com as nossas desculpas.

Dia 19 - domingo:
De tarde estive eu e o sargento Bonito a cintar a mala do falecido Neto para ser enviada para a família.

Dia 22:
Faz quatro meses que embarcámos em Lisboa, e tudo continua normalmente.

Dia 24 - sexta-feira:
Mais um dia de correio, e assim esperamos até à próxima sexta-feira.

Dezembro 67 
Dia 1:
Com mais correio e o patacão, que é o dinheiro.

Dia 2, de manhã:
Estivemos a entregar material a dois pelotões que vão fazer uma operação, e só chegaram no dia 4, ás 21h, mas felizmente correu tudo bem.

Dia 8:
Mais um dia de correio.

Dia 10:
Tivemos prendas simbólicas de Natal, oferecidas pelo Movimento Nacional Feminino.

Dia 11, de manhã:
Estivemos a dar material a dois pelotões que saíram e chegaram no dia 12 de tarde, também não houve problemas.

Dia 14, de manhã:
Estivemos a dar material aos pelotões para irem ao encontro de uma coluna que foi atacada no caminho de Canjadude, onde morreu um alferes e um cabo, e ficou um soldado ferido, este pessoal já vinha de regresso a Portugal.
Às 18h chegou a companhia, e estivemos a receber o material, o qual estivemos a limpar no dia 15 de manhã.
Às 21h fui ao Batalhão tocar ao funeral dos dois militares que ontem faleceram.

Dia 16:
Estivemos a preparar material para três pelotões levarem no dia seguinte para uma operação, o qual distribuímos dia 17, domingo de manhã.

Dia 18 à noite:
Veio cá o alferes Figueiredo com o pelotão que é o que cá se encontra, levantar material para irem ao encontro do IN que anda a roubar numas tabancas aqui próximo. E assim distribuímos o material, também aos poucos que cá ficaram para estarem preparados se o IN nos viesse chatear.
Chegou o pelotão que saiu à noite para onde o IN tinha levado dez vacas e algumas coisas mais mas já não os encontraram.
Às 8h voltaram a sair para Caboca e rebentou uma mina debaixo da Fox que ficou um pouco destruída, mas a malta não correu perigo.

Dia 20:
Estávamos a receber correio quando chegou o furriel das transmissões com uma mensagem do Batalhão, a dizer que na operação que andavam a fazer desde domingo, o cabo Sousa morreu.

Dia 21, às 18h:
Estávamos a jantar, e chegou o pessoal da operação na mata do Geba (SINCHÁ JOBEL). Tinham ido também dois pelotões de outra companhia, da qual morreram um alferes e um soldado, e outro tinha desaparecido, ou seja, não sabem se ficou morto ou preso pelo IN. Dos nossos ainda chegaram a andar 15 perdidos ao fazerem a retirada, mas depois apareceram.

Dia 22, de manhã:
Estivemos a limpar o material que ontem chegou e também a conferir o que faltou, para assim dar baixa dele.

Dia 23:
Organizámos um pelotão entre os especializados, e todos os que estão permanentes, para fazermos serviço durante uns dias, porque os quatros pelotões operacionais vão dois por noite dormir ao mato e são rendidos de 24 em 24 horas e por isso, também precisam de descansar.

Dia 24:
A consoada não podia ser lembrada, e por isso fez-se esquecer com uns copos.

Natal de 1967 - O Mário Alves é o 2.º a partir da direita, com os olhos postos no menu

Dia 25, dia de Natal - segunda-feira:
Ao meio-dia improvisaram-se umas mesas no refeitório que se anda a construir, e foi lá o almoço: batatas com bacalhau. O vagomestre por muito o chatearmos, deu mais um copo de vinho, e houve uma mini garrafa de vinho do Porto para cada dois, que foram oferecidas pela manutenção militar, o nosso capitão ofereceu uns doces. O que devia ser ontem, foi hoje, devido à companhia só estar junta na refeição do meio-dia. E assim passado o Natal, continuou tudo normal.

Dia 29:
O sargento Bonito chamou-me à secretaria para cintar a mala do falecido cabo Sousa para mandar para a família. E assim chega o dia 31.

Dia 31- domingo:
Fim do ano de 1967.

ANO 1968
Janeiro - Segunda-feira - dia de Ano Novo:
Só conhecido por ir à missa. Depois tudo normal.
E assim até ao dia 6, em que tivemos correio.

E seguiu-se até ao dia 11 - quinta-feira:
Chegou o nosso capitão a dizer-nos para prepararmos o material, porque iam sair três pelotões às 3h da tarde

Dia 12:
Houve correio para os que estão no destacamento, já os que foram para o mato só o receberão quando chegarem.

Dia 13, ao meio-dia:
Saiu daqui o helicóptero, a avioneta e dois bombardeiros para irem ter com o nosso pessoal que anda a fazer a operação no Siai,
Às 13 horas chegou o helicóptero com quatro feridos, dois brancos e dois africanos. Diziam que ainda havia mais feridos, por isso, às 14h chegou novamente o helicóptero com mais três feridos, e às 16h voltou novamente com mais três feridos, estes por uma mina que rebentou na coluna que ia buscar ao Che-Che o nosso pessoal.
Um dos feridos foi o major do serviço de material que foi levado directamente para Bissau, e os outros foram de avioneta. Também ficou lá um furriel morto e um soldado todos da mesma companhia, e ainda alguns feridos menos graves, que por ser já noite não puderam ir buscá-los.

Dia 14 - domingo, às 7h:
Já o helicóptero tinha chegado com mais feridos, e às 8h chegou ainda com os restantes. Após o almoço chegou um carro da administração com um elemento IN morto, que apanharam em Piche, e a população fez um festival, quanto mais não fosse, para agradar às tropas.
Às 17h chegou a companhia e disseram que, quem tinha sido ferido foi o Aníbal enfermeiro e o Martins das transmissões, que foram para Bissau, e talvez tenham que ir para a metrópole.
Houve mais oito feridos com menor gravidade, um era o alferes Magalhães e o furriel Amaro, sendo os restantes cabos e soldados, um deles era o Damásio Fonseca.
Também chegou a má notícia que o major faleceu ao chegar a Bissau, o furriel que morreu era da engenharia e o soldado era africano.

Dia 15 - segunda-feira:
De manhã estivemos a conferir o material que tinha chegado na noite anterior, e também pensávamos no soldado que estava em Bissau ferido, mas afinal estava desaparecido, foi o Aguiar de Arrifana.

Dia 16 - terça-feira:
De manhã estivemos a limpar o material, e às 16h chegou um pelotão de morteiros que estava em Piche e vai para Madina do Boé e arrumaram aqui o material.
Após o jantar o nosso capitão mandou-nos preparar o material e distribuí-lo ao pelotão que vai fazer a escolta à nova companhia que vai para Madina render os que lá estão, pois vão para a peluda. Também entregámos o material ao pelotão de morteiros que vão juntos para Madina.
Às 22h fui à secretaria ajudar a cintar a mala do Aníbal enfermeiro para mandar para Bissau, pois ele ia ser evacuado para a Metrópole.

Dia 19 - sexta-feira:
Dia de correio.

Dia 21 - domingo:
Às 16h chegou o pelotão que foi fazer a escolta a Madina que felizmente correu bem, contando também com a escolta dos Fiat e de bombardeiros T-6 em toda a viagem.

Dia 22 - segunda-feira:
De manhã estive com o furriel Pontes a conferir todas as munições.
Também faz hoje seis meses que embarcámos em Lisboa.

Dia 2 4 - quarta-feira:
Faz dois anos que assentei praça em Vila Real, e aqui ainda sou periquito.
Às 16h chegaram os furriéis com muito armamento do Batalhão para o preparar que amanhã vão sair.
Após o jantar continuámos a preparar material: munições, etc. O Oliveira ajudou pouco, por estar de reforço.

Dia 25 - quinta-feira, às 4h30:
Veio o pessoal levantar o material e partiram para o serviço que lhes foi destinado.

Dia 26 - sexta-feira, 16h:
Chegou a companhia que afinal foi ao Che-Che buscar as viaturas e os mortos de uma companhia que, na passada quarta-feira ia para lá, e, foi atacada pelo IN. Tiveram seis mortos e muitos feridos, dos quais alguns foram ontem para Bissau. Os mortos vieram hoje com a minha companhia e, estiveram aqui na capela para serem colocados nas urnas. Eram quatro africanos e dois brancos. Era uma calamidade vê-los, por estarem queimados pelas viaturas que arderam, foi difícil distinguir os brancos dos negros.

Dia 27 - sábado:
Estivemos a fazer limpeza ao material que chegou ontem.
Até ao dia 31 tudo correu dentro da normalidade.

(Continua)

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13433: Memória dos lugares (272): Espectáculos em Galomaro no tempo do BCAÇ 2912 (1970/72) (António Tavares)

1. Em mensagem do dia 16 de Julho de 2014, o nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), enviou-nos esta memória de Galomaro:

Espectáculos em Galomaro – 1970/72

A maioria dos cerca de 150 jovens que formavam a CCS/BCAÇ 2912 eram muito alegres. As suas comicidades contagiavam o mais sisudo dos camaradas. O contentamento destes jovens, por vezes, fazia esquecer o teatro de operações do CTIGuiné. Seria possível? Em Galomaro (COSSÉ) não faltaram as mais diversas festas cujos actores eram prata da casa.

Tínhamos um palhaço profissional, dono de um circo, que era muito estimado pelos guinéus. Fazia parte do grupo teatral da CCS que actuava em Galomaro e no Cinema de Bafatá, sempre com casa cheia de civis e militares.

Piadas da época nunca era problema quer para ele quer para os outros comediantes. OS MANGAS DO COSSÉ (CCS/BCaç 2912) onde actuassem tinham sucesso.

No futebol de cinco também eram bons. Nos torneios de Bafatá ficavam sempre classificados nos dois primeiros lugares.

O pessoal do COSSÉ, quer OS GALOS, nossos velhinhos, da CCS/BCaç 2851, quer OS MANGAS, eram populares e estimados pelas gentes de Bafatá.
Os GALOS eram famosos no futebol.

Volta e meia recebíamos a visita de um furriel miliciano do Destacamento de Fotografia e Cinema dos Serviços de Transmissões do Exército que acarretava os instrumentos necessários para a exibição de um ou dois filmes no quartel de Galomaro.
O civil Manuel Joaquim com a sua célebre camioneta e apetrechos para projecção cinematográfica também visitava a população de Galomaro e as tropas. Estas vestiam-se à civil para pagar o preço mais barato do bilhete de entrada no recinto de exibição do filme. Os militares pagavam segundo as classes.

Algumas imagens:

Com 59 dias no CTIGuiné ainda havia folia para recordar as marchas dos Santos Populares.

No pelado de Galomaro algumas das “vedetas” em jogo treino

“OS MANGAS DO COSSÉ” em palco.

Na imagem vemos, da esquerda para a direita: Isabel, Tino Costa, Eva Maria e Fernando Correia que, em 31/03/1971, visitaram Galomaro. O CMDT do batalhão agradece a visita.

No palco improvisado vemos o Tino Costa, Eva Maria e Fernando Correia em actuação.

Na parada do quartel a maioria da plateia da CCAÇ 2699 e da CCS do BCAÇ 2912 está a viver e a gostar do espectáculo de quarta-feira 31 de Março de 1971. Espectáculo que ajudava a manter o moral das tropas.

Em 1971 a Páscoa Cristã foi no dia 11 de Abril desde logo este espectáculo esteve incluído nessa festa. No verso das medalhas recebidas fica-nos, nestas fotos, a recordação, que é o mais relevante, de alguns dos camaradas feridos e mortos em combate de Maio de 1970 a Março de 1972.
Espectáculos associados a “UMA GUINÉ MELHOR”, a PSICO do COMCHEFE do Comando Territorial Independente da Guiné, nos anos de 1963 a 1974.

(Escrito de acordo com a antiga ortografia)

António Tavares
Foz do Douro, quarta-feira 16 de Julho de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13431: Memória dos lugares (271): Candamã, 19-9-69... Subsetor de Mansambo, setor L1 (Bambadinca): por lá passaram a CART 2339, a CCAÇ 2404, a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, etc.

Guiné 63/74 - P13432: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte III: Início da atividade operacional: fevereiro a abril de 1972


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > BART 3873 (1972/74)



Actividade Operacional - Fev/mar/abr 1972



Brasão do BART 3873

















António Duarte
1. Continuação da publicação da história da unidade - BART 3873 (Bambadinca, 1972/74). Cópia digitalizada gentilmente disponibilisada pelo António Duarte.

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493 / BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; esteve também na CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado,  foto atual à esquerda].

O excerto aqui reproduzido corresponde às pp. 8-14,. Cap II - Atividade operacional nos meses de fevereiro a abril de 1972, ou seja, em plena época seca, no setor L1, incluindo os subsetores de Bambadinca, Xime, Mansambo e Xitole.

Destaque para a grande operação Trampolim Mágico, de 24 a 26 de fevereiro de 1972. Há crescentes  indícios do (i) enfraquecimento do PAIGC na região, com problemas entre a guerrilha e a população sob o seu controlo; (ii) melhoria da pista de aviação de Bambadinca que passa a poder receber caças-bombardeiros T-6; (iii) projetada a reocupação da antiga tabanca de Samba Silate; (iv) mudança de atitude das NT em relação às populações que vivem no mato, sob controlo do PAIGC; (v) prosseguimento das colunas logístcias para Mansambo, Xitole e Saltinho; (vi) continuação da colocação de engenhos explosivos nas picadas utilizadas pelas NT; (vii) visita do Com.Chefe de Centro de Instrução de Milícias de Bambadinca; (viii) reduzida atividade IN no subsetor de Mansambo; (ix) e, já em maio de 1972, a morte de Mário Mendes, comandante de bigrupo... (LG)

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Nota do editor:

Postes anteriores  da série >


5 de julhio de 2014 > Guiné 63/74 - P13367: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte I: Distribuição da população e dispositivo das NT e do IN no setor L1

terça-feira, 22 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13431: Memória dos lugares (271): Candamã, 19-9-69... Subsetor de Mansambo, setor L1 (Bambadinca): por lá passaram a CART 2339, a CCAÇ 2404, a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, etc.



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > BCAÇ 2852 (1968/70) > Subsetor de Mansambo > Candamã, tabanca fula em autodefesa, do regulado do Corubal > Marcas da passagem das NT pela povoção, em reforço do sistema defensivo:

 (i) CART 2339, Viriatos [, Mansambo, 1968/69];
(ii) Candamã, 19-9-.69;
(iii) CCAÇ 2404 [Mansambo, 1968/70];
(iv) 3º Pelotão "Comandos", Audaces Gloria Juvat; [O lema deve estar errado: o original é Audaces Fortuna Juvat, a sorte protege (ou sorri a) os audazes];
(v) 4º Pelotão, (?) Diferentes;
(vi) Guiné 68-70, CCAÇ 2404, Alf mil Barbosa, 1º Pelotão, Sempre Unidos...

Dois anos e meio depois, no 1º trimestre de 1972, ao tempo do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), Candamã era um destacamento, guarnecido por 1 secção da CART 3493 (Mansambo) +  Companhia de Milícias do Corubal (-). Duas secções da CMIL Corubal estavam a reforçar Afiá, juntamente com mais uma seção da CART 2339... Se não erro, o regulado do Corubal estava então  reduzido, já em 1969,  a estas duas tabancas, Candamã e Afiá. O nosso camarada Torcato Mendonça, da CART 2339, pode  confirmar...

Na foto acima,. o fur mil at inf Arlindo Roda, 3º Gr Comb, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71). Foto presumivelmente do 2º sesmestre de 1969.

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

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Guiné 63/74 - P13430: Notas de leitura (615): "Guiné, Mal Amada, o Inferno da Guerra", por António Ramalho de Almeida (Virgínio Briote)




1. Em mensagem do dia 15 de Julho de 2014, o nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489 (Cuntima), e Comando do 2.º curso de Comandos do CTIG (Brá), CMDT do Grupo Diabólicos (1965/67), enviou-nos este apontamento sobre o livro de António Ramalho de Almeida, "Guiné Mal Amada - O Inferno da Guerra":




Guiné, Mal Amada, o Inferno da Guerra
António Ramalho de Almeida

António Ramalho de Almeida, estudante de medicina em 1963, foi mandado apresentar-se em Mafra para efectuar a recruta, após a qual foi destacado para a EPC em Santarém, onde tirou a especialidade de autometralhadoras Panhard. Logo a seguir, que o tempo urgia, foi mobilizado para a Guiné como alferes miliciano, recebendo como missão dar instrução a naturais da então Província, organizando-os em companhias de milícias.
Neste livro, António Ramalho de Almeida aproveita para nos descrever os contrastes a que assistiu. A guerra, ainda no princípio mas já na brutalidade em mortos e estropiados pelas minas, armadilhas, emboscadas e flagelações, os olhos a perderem-se nas maravilhosas paisagens, a presença de Portugal de mais de 400 anos praticamente ausente no interior da Província, de tal forma que, em certos locais, se julgava o primeiro branco a pisá-los e a vê-los.
Um testemunho interessante, este, escrito quase 50 anos depois de o ter vivido.
Fui contemporâneo do António Ramalho, conhecido, entre nós, por Toni Ramalho. Éramos companheiros assíduos, sempre que coincidia estarmos presentes em Bissau, na esplanada do Bento e nos jantares à mesma mesa do hotel. Muito do que aqui conta, regressou-me, vi, ouvi e vivi naqueles anos. Quanto mais não fosse estou-lhe grato por isso.

Começa por dedicar o livro, aos Netos, aos Filhos e à Mulher.
Depois não esquece “a minha geração…sacrificada! A todos dedico este livro, que não conta nada que se não saiba já, mas cuja narrativa biográfica, vai relembrar o que de bom e de mau se fazia naqueles anos 60, do início do conflito na Guiné”. Era assim a Guerra!

António Ramalho prometera à Mãe, antes de a ver morrer, que havia de ser médico. Fiel à promessa e ao desejo pessoal preparou-se para o ser e convenceu-se de que iria beneficiar do estatuto de adiamento de incorporação que o Exército então facultava, dada a escassez de médicos.
Houve, porém, um acontecimento, que lhe alterou a vida. Em Maio de 1963, comemorou-se em Lisboa o Dia do Estudante e esse dia trouxe-lhe consequências. Quando deu por si estava em Mafra a fazer o COM. Depois seguiu-se Santarém, o RC6 (Porto), o RC8 em Sta. Margarida e o embarque, em 12 de Outubro de 1964, no Niassa, rumo à Guiné.

Depois é a chegada a Bissau, as primeiras impressões da cidade, a entrada no QG. Seguem-se as peripécias típicas da tropa e dos princípios do conflito. Comunicaram-lhe que passaria a receber ordens directamente do QG. E não tardaram a dar-lhe notícias. Cerca de dez dias depois, um major do QG comunicou-lhe que, em virtude dos reduzidos efectivos militares havia que mobilizar e preparar os próprios naturais da província, conhecedores do terreno e dos hábitos das diferentes etnias. O objectivo era criar vinte companhias, com 120 homens cada, estrategicamente distribuídas por todo o território. E a missão do alferes Ramalho e do reduzido grupo de assessores era, em cerca de um mês, preparar militarmente essa gente.

Começou por Empada e por lá se manteve até quase ao Natal de 1964. Ele e o seu grupo, constituído por um sargento, um Furriel, três Cabos Atiradores e três Cabos Enfermeiros comemoraram o fim do primeiro trabalho no “Solar dos 10” a comer omeletes de camarão acompanhadas das inevitáveis cervejas.

No livro, o boato está sempre presente, às claras ou às escuras, e encontra-se frequentemente com o e no Bento. E a certa altura quase se pode afirmar que se não foi verdade andou por lá perto ou ainda vai ser.
O QG é passado a pente fino. Passa a trabalhar directamente com o capitão Passos Ramos, “uma figura notável, de presença, de calma, de ponderação, de saber...” Um dia atreveu-se e atirou-lhe: “Meu capitão, o senhor é mal empregue na tropa!”
“Ramalho, vamos fazer o nosso melhor, já que cá estamos vamos fazer o melhor, sem loucuras”, respondeu-lhe o capitão.

A tarefa seguinte foi em Nhacra e aqui o alferes Ramalho dedica uma especial atenção dadas as características da povoação, da etnia dominante, da proximidade estratégica com Bissau e de constituir um excelente local para recolher e trabalhar informações.
Seguiram-se Nova Lamego, as conversas com o Dr. Torres, médico da “Doença do Sono”, muito estimado pela população e, naturalmente pela guerrilha que começava a fazer o seu trabalho nessa zona, o martírio do calor, um episódio que ele ironicamente chama a “conquista de Bambadinca” e a visita a Piche.
“Eh pá, vocês meteram-se à estrada só para ouvir a minha voz?”, recebeu-os, surpreendido o famoso fadista coimbrão, Dr. Luís Goes!

Nova Lamego foi um marco na passagem do alferes Ramalho pela Guiné, afiram. As paisagens, as gentes tão simples, tão amáveis, prontas para ajudar, aquele mercado onde se vendiam as coisas mais simples do mundo como o mel bravio, o vinho de palma, o tamarindo, a papaia, nunca mais vai esquecer.

Depois de um intervalo em Bissau, o QG do “ar condicionado” volta a ser assunto e encarregam-no de tratar dos processos de condecoração. Sobre este assunto é ele que escreve e eu por aqui me fico.

São muitos acontecimentos, alguns trágicos, não é justo este recensor acidental pôr-se para aqui a plagiar um Camarada e Amigo. Limito-me a terminar, dizendo-vos que ainda não estamos a meio do livro, falta ainda muito para contar, desde as férias e do adeus de coração apertado à Família, ao regresso ao inferno da guerra, de novo na Guiné.

VB
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Nota do editor

(*) Vd. postes de:

16 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12048: Notas de leitura (520): "Guiné Mal Amada - O Inferno da Guerra", por António Ramalho de Almeida (Mário Beja Santos)
e
1 DE JULHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13352: Notas de leitura (607): Livro de memórias de guerra, de António Ramalho de Almeida, médico pneumologista, do Porto, ex-alf mil, GG, Bissau, 1964/66

Último poste da série de 21 DE JULHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13422: Notas de leitura (614): “Pluralismo Político na Guiné-Bissau", coordenação de Fafali Koudawao e Peter Karibe Mendy (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13429: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (20): Imagens de braços tatuados, do tempo da guerra colonial, precisam-se para trabalho jornalístico sobre a história da tatuagem em Portugal...



Guiné > Tatuagem de braço direito com os dizeres "Guiné 69-71". Foto de Luís Nascimento, natural de Lisboa, a viver em Viseu, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71 (*)

 Foto: © Luís Nascimento (2014). Todos os direitos reservados




Guiné > Tattagem de braço direito com os dizeres "Guiné 15-11-69". Foto de Constantiino Neves (ou Tino Neves , ex-1º  cabo escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego (Gabu), 1969/71. Vive na Civa da Pieddae, Almada (*)
Foto: © Constantino Neves (2014). Todos os direitos reservados


1. Recentemente fomos contactados, pelo jornalista Bernardo Mendonça que está a fazer uma trabalho, para a Revista do Expresso, sobre a história da tatuagem em Portugal. A resposta que se segue foi dada pelo nosso editor LG a 3 do correnjte:

Caro Bernardo:

A foto em causa (e que anexo) foi-me enviada em 2007 pelo meu camarada Constantino (ou Tino) Neves, que mora na Cova da Piedade, e a quem dou conhecimento deste mail. Devo ter o "original" algures num disco externo, mas não creio que tenha melhor resolução do que a imagem que foi publicada no blogue... Sugiro que o contacte através do mail dele... Pode ser que consiga uma digitalização com melhor resolução.

Tenho mais uma foto, do Luís Nascimento (Viseu), com uma tatuagem no braço (Guiné 69/71). Terá que pedir-lhe autorizaçãio, através do endereço de email da neta, Jessica Nascimento.

Por fim, envio-lhe um pequeno texto de José Corceiro... que reforça a ideia que, no nosso tempo, na Guiné, havia camaradas (sobretudo praças) que usavam tatuagens no braço ou no peito: Guiné 69/71, Amor de mãe, Amor de esposa... Pode também tentar contactá-lo, por sugestão minha.

Estes três camaradas meus são membros (registados) do nosso blogue que, como sabe, tem um a política de respeito pela propriedade intelectual. Mas,  à partida, estes camaradas irão colaborar consigo. (*)

Pode procurar também no blogue por "tatuagem" e "tatuagens"... Em mais de 3 mil, não tenho essa palavra-.chave ou marcador... Não me têm aparecido mais histórias e fotos com tatuagens... Mas podemos fazer um apelo... Para quando é que quer ter o material pronto ?...

Desejo-lhe bom trabalho. Não se esqueça mencionar o autor da foto e o blogue Luís Graça & Camaradas d Guiné (que é, e pretende ser, também, "fonte de informação e conhecimento") (**). 


Um alfabravo (Abraço). Luís Graça

2. Mail que o Tino Neves mandou ao jornalista, na mesma data:

Sr. Bernardo Mendonça;

Serve este email, para lhe dar a minha autorização para utilizar a minha imagem do meu braço tatuado, mais informo que a imagem está na resolução original, a razão de se ver um pouco mal, é pelo facto de já ter mais de 40 anos e como disse no blogue, a tatuagem foi feita com poucas picadelas daí já estar um pouco sumida.

Só mais um reparo, ao tornar a ler o meu comentário no blogue, reparei numa gafe, à qual ainda não tinha reparado, que a data de 15-11-1969 não era a data da minha chegada à Guiné, mas sim doembarque no paquete Uíge em Lisboa.

Sem mais agradecer-lhe o trabalho que vai fazer, pois os jovens da nossa geração e em especial os antigos combatentes, merecem que sejamos sempre lembrados, não só os que já partiram mas também os que ainda cá estão, pois os nossos governantes julgam que já não existimos, ou sonham que assim seja!!!!

Bem haja, um alfabravo

Tino Neves

_____________________

Notas do editor:


(*) Vd, postes de:

4 de julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1922: Tatuagens (1): Sangue, suor e lágrimas (Tino Neves)

(..:) Para além de actualmente estar muito na moda fazer, ter e mostrar o seu corpo tatuado, nos anos 60 e 70, também, e principalmente os ex-Combatentes, se tinha por hábito/costume, fazer tatuagens. Julgo eu que a razão principal não era só por moda. A tatuagem, para os nossos camaradas que fizeram a guerra do Ultramar, era assim como uma espécie de selo, uma marca do seu estado de espírito na altura (... mas também um sinal da sua passagem por África e pela guerra, para que mais tarde todos vissem, na Metrópole, por onde eles passaram e o que passaram).

Achei, portanto, que seria um tema interessante para o nosso blogue, não só para que comentem as minhas afirmações anteriores, se estarão correctas ou não, ou se haverá outras razões [para explicar o fenómeno], que julgo que sim.

Desde 1970 até aos nossos dias, tenho visto tatuagens lindas e bem feitas, outras não tanto (estou a referir-me somente a tatuagens feitas durante 1963 /74, relacionadas ao que normalmente se fazia na altura em comissão de serviço no Ultramar).

Daí eu fazer o desafio/pedido para que enviem as imagens das vossas tatuagens, e comentá-las se possível, pois tenho a certeza que vamos ter uma grande colecção delas e com comentários interessantes. (..:)

7 de abril de  2010 > Guiné 63/74 - P6122: (Ex)citações (64): Guerras feitas, amores desfeitos (José Corceiro)

 6 de novembro de  2013 >  Guiné 63/74 - P12258: Álbum fotográfico do Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71 (Parte VI): Farim, em finais de 1970 e princípios de 1971

(**)  Ultimo poste da série >  
21 de julho de  2014 >  Guiné 63/74 - P13427: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (19): Onde adquirir um exemplar (ou uma cópia) do Caderno de Poesias Poilão, editado em 1974, em Bissau


Guiné 63/74 - P13428: Manuscrito(s) (Luís Graça) (37): O outono do nosso descontentamento...

O outono do nosso descontentamento 

Ao Ernesto Duarte (*)

por Luís Graça (**)





Dizem-nos
que estamos a envelhecer, camarada.
Dizem os demógrafos,
que correm, eles próprios, o risco
de ver limitado o objeto de estudo da demografia
aos velhos.
Dizem as máscaras do Entrudo
do nosso descontentamento,
muito pouco chocalheiro.
Diz o safado do cangalheiro:
Eu cá não quero que ninguém morra,
só quero que o meu negócio corra!

Dizem os divertidos caretos de Ousilhão.
Dizem os últimos rapazes da Festa dos Rapazes.
Dizem os médicos, sisudos,
que também estão a encanecer.
Diz o senhor Ministro da Indústria da Doença
que mandou encerrar as maternidades,
por falta de fedelhos
e por falta de crença na lusitana fecundidade.
Tenham santa paciência,
minhas senhoras,
voltemos ao tempo das aparadeiras!

Dizem as abortadeiras do campo e da cidade.
Dizem os hospitéis,
a abarrotar de gente na fila p’ra morrer.
Em Portugal.
Hospitéis, que os hospitais agora
só de campanha,

em caso de catástrofe natural ou social!
Dizem os sociólogos,
em crise tamanha
de paradigma existencial.
Dizem os jornais,
de papel,
que já não vendem mais.
Diz o meu geneticista,
que anda à procura do elexir da eterna juventude.
Hoje com saúde, amanhã no ataúde!

Dizem os futurólogos
que leem nas entrelinhas das camadas de ozono.
Diz a esteticista, pessimista,
quando o verniz estala

e o batom muda de cor,
quando morde os lábios de raiva:
– Vão-se os anéis, 
ficam os dedos!
Diz a vida, malsã.
Diz a palma da mão
e a linha (torta) da vida.
Muita saúde, pouca vida,
que Deus não dá tudo!

Diz a grega pitonisa de Delfos,
a escarnecer
da cultura judaico-cristã.
Diz o safado do comissário, 

muito político e pouco polido,
de Bruxelas,
que não foi eleito,
todos eles e todas elas,
os/as eurocratas,
muito menos eleitos/as pelos eurovelhos.
Diz a medicina,
que a velhice não tem cura!
Diz o Eurostat,
que representa a sacrossanta ciência
do positivismo do século.
Diz o Golden Sachs Sachs Sachs.

Diz o ouro do bandido do banqueiro
que tem a volúpia do dinheiro.
E até a Santa Madre Igreja,
agora sem crianças para batizar
nem selvagens para evangelizar.
Não sei o que diz Ela,
a Santa,
a Madre,
a Igreja.
Não sei o que é que diz Roma
nem Pavia,
que não se fizeram num dia.

Mas dizem as estatísticas,
que, dizem-nos, não mentem,
que estamos a embranquecer,
a encanecer,
a ensurdecer,
a envelhecer,
a ensandecer.
Diz o Censo de 2011.
A morrer, meus irmãos, a morrer.
De solidão.
Estamos a morrer.
De solidão.
Estamos a morrer.
De solidão.
Estamos a morrer.
De solidão
.
Diz o espelho meu,
que o tempo faz o seu trabalho de sapa,
e que o tempo, no final, te mata, 

camarada,
como nos filmes de terror.
Diz o sino da tua aldeia,
quando dobra a finados.
Que te importa, agora,
os teus feitos heróicos de Quinhentos,
ó povo meu,

celtibero, romano, visigótico, berbere, sefardita ?
Dizem as tuas rugas,
dizem as tuas brancas,
as primeiras, não sei onde.
Dizem os teus dias cinzentos,
diz a crueldade dos tempos,
só o Governo esconde
a bomba biológica
que paira sobre a cabeça
dos que hão-de vir.
Dizem-te que o Governo tropeça, trapaça,
mas não cai,
só por mentir
com as medidas da tendências central.
Os cães ladram e a passarola passa!
diz o ministro da educação e da ciência,

trapaceiras.
A média, a moda e a mediana,
mais o desvio padrão
e o erro amostral.
Bem sabes que o Governo está sujeito à erosão
dos ventos e das marés,
mas também à irrisão,
mortal,
das sondagens.
E das pilhagens.
O Governo pode ser sacana,
mas não deve mentir
e muito menos roubar.
O Governo deve ser pessoa de bem,
deve dizer a verdade,
deve dizer a verdade, nua e crua,
com um grau de confiança de noventa e cinco por cento.
Mas nem sempre diz toda a verdade,
ou só a verdade,
pura e dura,
como a flor de sal,
por causa da coesão social,

por causa do clima económico,
por causa da confiança psicológica
do investidor estrangeiro,

por causa do índice de NASDAQ,
por causa da liberdade,
primordial,
do consumidor.

Dizem que estamos a envelhecer, camarada.
Dizem-te que há muito ultrapassaste
a barreira dos quarenta.
Até aos 40 bem eu passo,
dos 40 em diante, ai a minha perna,
ai o meu braço!

Que aos 45 já eras velho,
para além do limiar da esperança ao nascer
quando nasceste

e foste para a guerra.
Dizem-te que somos todos velhos,
o censo.
e a falta de senso.
Um em cada cinco.
Leia-se: velhos, os mais de 65.
Velhos até aos tutanos.
E que agora já começou a caça
aos talentos,
aos rebentos,
na perspetiva da rarefação dos recursos humanos.
Diz o nosso mediático guru,
diz o feio do jagudi,
diz o mau do urubu,
diz o provérbio que na era de 31,
poucos moços, velhos nenhum
.
Dizes tu, camarada,
ex-combatente da guerra colonial:
Antes a morte que tal sorte!

Mas não é envelhecimento,
é senescência,
diz o teu neurologista.
Degenerescência,
dizem os puristas da língua.
Diz a neurociência
que o mais importante
não é perderes 100 mil neurónios
por dia,
nem a paciência,
nem a compostura,
nem o controlo dos esfíncteres,
nem a decência,
nem a cabeça do fémur.
Que a saúde dos velhos é mui remendada!

Deus te livre do Alzheimer 

e do Parkinson
e das demais doenças crónicas degenerativas.
Que Deus te livre da peste, da fome e da guerra,
E do Estado Mínimo a que hás-de chegar.
Deus te livre da ancoartrose
e da esteonecrose.
Mas o que é mais grave é perderes
as redes neuronais
e as tuas redes sociais
e não sei que mais.
Blá, blá, blá.
Mas já diziam os antigos:
Não há cousa tão junta a outra
como a morte à vida.

E mais avisado é o conselho 

do velho para o novo,
à laia de impropério;
Teme a velhice porque ela nunca vem só!...
Ou mais cruel ainda:

  Cabelos brancos, flores de cemitério!

PS - Dizem que estamos a envelhecer, Papi!
Porra, meu pai, meu velho, meu camarada,
eu sei o que a vida fez de ti,
mas tive orgulho 

na maneira como viveste
e como morreste!


Lisboa, 29/1/2008. 
Revisto em 1/7/2014
(v6 1 jul 2014)
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de  1 de julho de 2014> Guiné 63/74 - P13353: Blogoterapia (253): Não é pessimismo, muito menos um lamento, quando muito um recado... (Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67, poeta, algarvio)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13427: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (19): Onde adquirir um exemplar (ou uma cópia) do Caderno de Poesias Poilão, editado em 1974, em Bissau


Guiné > Bissau > 1974 > Capa do documento policopiado do Caderno de Poesia Poilão", editada pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino. Cortesia do nosso camarada Albano Mendes de Matos, ten cor art ref, que vive no Fundão [, ex-ten art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74],

Foto: © Albano Mendes de Matos (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]

1. Mensagem de uma nossa leitora, doutoranda no Reino Unido:

Data: 20 de Julho de 2014 às 19:01
Assunto: Caderno de poesia poilão

Caros senhores Luís Graça e Carlos Vinhal,

Cadernos da poesia "poilão".

Vi o vosso blog na internet com referência ao caderno (*), daí o contacto. Os senhores, por acaso, têm alguma cópia extra que queiram vender? Caso não tenham, teriam a amabilidade de me dizer como é que posso obter uma cópia desse livro o mais rapidamente possível, por favor?

Agradecendo antecipadamente a vossa atenção, apresento os meus cumprimentos.

2. Resposta de L.G.:

Cara leitora: Obrigado pelo seu contacto. A referência ao "Caderno de poesia poilão" vem num poste de 13/4/2014, assinado por Albano Mendes de Matos (*), membro deste blogue coletivo, que vive no Fundão, Portugal. Só ele pode arranjar-lhe um exemplar do livro de poesia em questão.
Vou dar-lhe conhecimento deste mail e do seu pedido.Fique com o contacto dele (...) (**).
 
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12975: Memórias dos últimos soldados do império (2): A aventura do "Caderno de Poesia Poilão", de que se fizeram 700 exemplares, a stencil, em fevereiro de 1974, em edição do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do BNU (Albano Mendes de Matos)

(**) Último poste da série > 29 de janeiro de  2014 >  Guiné 63/74 - P12652: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (18): "A caça no império português", de Henrique Galvão e outros (1943) (Miguel Alves P. Joaquim / Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13426: Fotos à procura... de uma legenda (31): O mosteiro e o quartel da Serra do Pilar (onde esteve, no tempo da guerra colonial, o famoso RAP 2) vistos de um dos melhores (mas menos conhecidos) miradouros do Porto... Adivinhem qual?...O Jorge Portojo sabe mas não vai responder... (Luís Graça)


Foto nº 1 < Mosteiiro da Serra do Pilar, pertenceu aos padres crúzios. É hoje propriedade do exército.
Abriu recentemente ao público. Dias de abertura: de terça-feira a domingo. Horários: 9h30-17h30. Subidas ao zimbório: 10h30, 11h30, 14h30, 15h30, 16h30. Preço: 1 euros ou 3 euros, se incluir subida ao Zimbório. Portadores de Cartão Jovem e maiores de 65 anos têm desconto de 50%. Menores de 12 anos não pagam....


Foto nº 2 > Mosteiro da Serra do Pilar e tabuleiro da ponte D. Maria


Foto nº 3 > Mosteiro da Serra do Pilar e  a ponte de Dom Luís (1881/88)



Foto nº 4 > Casario do centro histórico do Porto, Rio Douro e cais de Gaia


Foto nº 5 > Sé do Porto (cuja origem remonta ao séc- XII)... É de estrutura romano-gótica, é um dos nossos mais antigos e mais importantes monumentos.


Foto nº 6 > Porto: Paço Episcopal , do séx. XVIII (fazer aqui visita virtual a 360º) e igreja de São Lourenço dos Jesuítas  (ou, mais popularmente  igreja e convento dos Grilos, séc. XVI-XVII).


Porto > 20 de julho de 2014 > O "Porto eterno" e o mosteiro e quartel da Serra do Pilar (séc. XVI e XVII) vistos de uma dos melhores (mas menos conhecidos) miradouros da cidade... Adivinhe-se qual é... (O Jorge Portojo sabe, mas não vai dizer... Ele é, de todos nós, o que mais conhece, ama e fotografa o Porto, Gaiia e a o rio que as une e separa...).. Do RAP 2 muitos camaradas nossos seguiram para a guerra colonial. É um património fabuloso, a conhecer e a visitar...

O miradouro em questão está localizado em pleno centro histórico do Porto, património da humanidade, em local nobre mas desprezado... E, imagine-se,  foi recentemente privatizado!... Há 40 anos que venho ao Porto e nunca tinha lá ido exatamente ao sítio onde tirei ontem estas fotos...

Fotos: © Luís Graça  (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]

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