terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P17006: Postais ilustrados (20): Postais antigos da Guiné Portuguesa (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Janeiro de 2017: 

Queridos amigos,
É uma oportunidade ímpar visitar a Guiné do princípio do século XX, as grandes transformações virão a partir de Sarmento Rodrigues. Repare-se as preocupações francesas, a sua presença na Guiné Portuguesa é enorme, tanto a partir do Senegal como da sua colónia da Guiné, vinham buscar matérias-primas, e eram grandes fornecedores, a par de alemães e até belgas.
Os historiadores elogiam esta prodigiosa e única coleção que João Loureiro fez em tempo recorde, assegurando um património cultural incontornável, fê-lo com enorme discrição, sem prebendas nem condecorações.

Um abraço do
Mário


Uma espantosíssima coleção de 10 mil postais ilustrados

Beja Santos

O Dr. João Loureiro goza de uma situação particularíssima no nosso país: dispõe, por iniciativa própria, do maior acervo de bilhetes-postais das antigas províncias ultramarinas. Em 2015, numa edição do Arquivo Histórico de Macau, ficou-se com uma ideia do valor histórico desta coleção iconográfica de postais fotográficos. O autor explica as suas motivações na introdução deste precioso álbum: “Se excluir algumas dezenas de postais ilustrados que adquiri em diversas viagens aos antigos territórios ultramarinos, e sobretudo nas minhas colocações profissionais em Malange e no Uíge nos primórdios dos anos 70 do século XX, posso considerar como ponto de partida de uma recolha sistemática o Verão de 1992, imediatamente após o regresso de uma visita a Macau. Apercebi-me – e rapidamente o confirmei com pessoas altamente credenciadas nestas matérias – que eram muito escassas as fontes iconográficas sobre os territórios de África e do Oriente marcados pelo presença humana e cultural portuguesa, designadamente em bibliotecas, arquivo históricos e instituições similares”. Pesquisou e apurou que as coleções de bilhetes-postais das antigas províncias africanas eram modestíssimas tanto no Arquivo Histórico Ultramarino como na Biblioteca Nacional de Lisboa. Mais adiante recorda-nos que o período de lançamento e expansão do bilhete-postal ilustrado – finais do século XIX a primeiros três ou quatro decénios do século XX – coincide precisamente com a fase da ocupação e colonização efetiva de África e de uma maior atenção e interesse dedicados pelos governos da monarquia liberal e das duas primeiras repúblicas às causas ultramarinas.

Distintas personalidades do mundo científico aplaudem o acervo organizado pelo Dr. João Loureiro. Francisco Bettencourt, do King’s College de Londres e então diretor do Centro Cultural da Fundação Gulbenkian em Paris, considera que se trata de “… uma coleção única cuja consulta João Loureiro tem tido a generosidade de facultar aos investigadores. Na nossa opinião é impossível trabalhar sobre as antigas colónias portuguesas dos séculos XIX e XX sem utilizar este acervo de imagens”. René Pélissier, um dos maiores especialistas sobre a história da África de expressão portuguesa, declarou esta coleção como “monumento único”. António Barreto escreveu: “… ao tornar pública e acessível a sua coleção, João Loureiro presta um serviço ao seu país e aos novos Estados africanos, assim como contribui para o conhecimento da sua história”.

Esta edição contempla pois uma síntese da sua preciosa coleção. Falando agora da Guiné, João Loureiro diz que os mais antigos postais fotográficos foram publicados por casas francesas em 1903, 1912 e 1915. Até os numerosos clichés da União Postal Universal, que se reportam a 1908, ano em que ainda decorriam as chamadas campanhas de pacificação, revelam nos indicativos impressos aquela proveniência. Um outro editor francês, cerca de 1920, emite uma notável série de 90 postais numerados que permite revisitar os primórdios de Bissau, Bolama, Farim e Bafatá, e ainda reter interessantes imagens da vida rural, das festividades religiosas e do folclore tradicional. A situação irá mudar substancialmente com as coleções organizadas para as Exposições Coloniais, ou no âmbito das celebrações do V Centenário da Descoberta da Guiné, vão aparecendo diversos editores locais com destaque para Foto Serra, Casa Mendes, Confeitaria Império, Galerias JM e a Foto Íris, todas sediadas em Bissau. Para além destas firmas comerciais, surgem nos inícios dos anos 60 edições da responsabilidade de entidades oficiais – a Agência-Geral do Ultramar e o Centro de Informação e Turismo da Guiné. Na sua recolha, João Loureiro faz uma síntese dos editores e o respetivo inventário, trabalho de extraordinária importância. Vejamos agora alguns desses bilhetes-postais que se constituem documentos históricos:







O Dr. João Loureiro teve a gentileza, em 2009, de me oferecer um álbum esgotadíssimo sobre postais da Guiné, insisto que merecia reedição, tenho o palpite que se esgotaria rapidamente. Foi publicado no blogue a respetiva recensão e que consta do poste seguinte: https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2009/12/guine-6374-p5390-postais-ilustrados-15.html
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10916: Postais ilustrados (19): O menino que fumava cigarros White Horse (Beja Santos)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P17005: Manuscrito(s) (Luís Graça) (111): O editor do blogue, artesão da palavra e da imagem, autor desta série, jubilou-se no dia 29 de janeiro de 2017, de tudo, exceto da vida, do amor, da amizade, da camaradagem... (Parte I)



O editor do blogue, fotógrafo e autor da série "Manuscrito(s)"... Uma "selfie" tirada na Tabanca de Candoz, no já longínquo ano de 2008 , para  mais tarde recordar... Ah!, jubilou-se ontem, dia 29 de janeiro de 2017...  Declaração de conflito de interesses, para os efeitos que forem devidos: jubilou-se de tudo,  exceto da vida, do amor, da amizade, da camaradagem...    "Retirement", dizem os anglo-saxónicos, leia-se "ato de sair de cena"... 


Foto e legenda): © Luís Graça  (2008). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Foi um segredo  guardado a sete chaves, esta  minha festinha dos 70 anos... Um "partida" que a Alice e a Joana me pregaram... Estava eu a imaginar (e a antecipar)  um discreto almoço em família, à beira-mar, embora em dia tristonho, "com o céu cinzento e o astro mudo",  tempo de resto propício para um homem se jubilar...

Quando cheguei ao hotel com a Alice e a Joana, começaram aparecer  caras conhecidas e amigas de todos os lados: (i) o meu filho João e a sua companheira; (ii) as minhas manas (Graciete e Zairinha) e os meus cunhados da Lourinhã (Calado e Mário): (iii)  a minha irmã Béu, mais nova 18 anos do que eu,  e o meu cunhado António, casal   que vive no Fundão (mais os respetivos filhos, meus sobrinhos, Pedro e Diogo)...

Surpresa das surpresas, lança-se nos meus braços,no "hall" do hotel,  o meu amigo, camarada  e mano de Bambadinca Tony Levezinho (mais a sua querida Isabel), para não falar já dos  amigos de uma vida, e visita habitual da minha casa,  Zé António Paradela e Matilde (e o filho Jorge,  que o  mais velho, o Marco,  esse, anda agora a trabucar na Terra Nova, a pescar bacalhau para a gente...). E, como se não bastasse para se fazer a festa com uma mesa grande, ruidosa e alegre, eis que apareceram de supetão os manos mais novos da Alice, e meus queridos cunhados do Norte, a Nitas e o Gusto, o Zé e a Teresa (e a mãe)...

Enfim, uma mesa comprida de 23 pessoas, "em cima do mar"...Que poderia eu desejar mais, neste dia  dia 29 de janeiro de 2017, ao km 70 da picada da vida, com tantas provas de amor e amizade ?!

Hotel Golfo Mar, 29/1/2017 > Um dos amigos que fiz "para sempre", na Guiné,
o Tony Levezinho, aqui com a sua (e)terna Isabel... Os convites foram
feitos pela Alice, "uma mulher do Norte", diz o Tony... Foto de LG
Tinha preparado um discurso para 5 pessoas, tive que esticar o "lençol" (, originalmente , de 5 páginas...)  e ter, para os restantes convivas. uma palavrinha de agradecimento e de apreço...

Quando cheguei a casa, à noite, e abri o computador, havia mais uma "companhia" de camaradas e amigos que não se esqueceram de mim neste dia, e para quem tenho a obrigação também de agradecer de todo o coração os votos de parabéns.

Uns telefonaram, outros deixaram mensagens no blogue e na página do Facebook da Tabaanca Grande. Não poderei mencionar os nomes de todos, aqui neste espaço... mas dir-lhes-ei, enfim, que nestas ocasiões especiais nada como ter ao nosso lado, ou ao alcance de um clique, as pessoas que gostam de nós, da família aos amigos que fomos fazendo ao longo da vida, incluindo os amigos e camaradas da Guiné que se reúnem à volta do poilão da Tabanca Grande...

2. Mas esta tarde quero aqui começar por reproduzir as palavras (escritas) que tive  de pessoas, que são muito especiais para mim:

(i) uma, deixada logo de manhã, ontem,  no Facebook da Tabanca Grande, e que é da Alice, a mulher da minha vida; (ii) duas outras, dos  meus cunhados Nitas e Gustos (com quem tenho, desde há 40 anos, passado muitos dos bons e menos bons momentos que marcam a história das nossas famílias); e  (iii) ainda duas "épicas estrofes camonianas" escritas pelo meu amigo arquiteto Zé António. em seu nome e da restante família Paradela...

Last but the least, por fim mas não menos importante (, embora correndo o risco de isto descambar para o indesejável  "culto da personalidade"...), não quero (nem posso) deixar de reproduzir aqui, desvanecido, as cinco quadras populares de outro homem do Norte, um dos régulos da Tabanca de Matosinhos, o Zé Teixeira (**): aceito-as como uma singela mas original homenagem, dele e dos demais grã-tabanqueiros que se sentam comigo à volta do nosso mágico e fraterno poilão...


Maria Alice Carneiro, Hotel Golfo Mar, 29/1/2017,
foto de Zé António Paradela

(i) Maria Alice Carneiro ("Chita")

Estou a pensar que o homem da minha vida chegou à idade... adulta (70 anos) e por isso não podia deixar de recordar o primeiro poema de amor que tu me leste e eu sem perceber onde é que isto iria parar!!! 

Já lá vão 42 anos!!!...

Agora já podes publicar todos os poemas que me foste escrevendo ao longo desta vida. Parabéns por tudo o que fizeste e pelo que não fizeste. Não importa o deve e o haver. ,o que importa é que continuemos a caminhar juntos pela estrada da vida fora!


"Les enfants qui s’aiment" 

por Jacques Prévert

Les enfants qui s’aiment s’embrassent debout
Contre les portes de la nuit
Et les passants qui passent les désignent du doigt
Mais les enfants qui s’aiment
Ne sont là pour personne
Et c’est seulement leur ombre
Qui tremble dans la nuit
Excitant la rage des passants
Leur rage leur mépris leurs rires et leur envie
Les enfants qui s’aiment ne sont là pour personne
Ils sont ailleurs bien plus loin que la nuit
Bien plus haut que le jour
Dans l’éblouissante clarté de leur premier amour.


Jacques Prévert (1900-1977) | Spectacle, 1951


As crianças que se amam, beijam-se de pé
Contra as portas da noite,
E os que passam na rua apontam-nas a dedo,
Mas as crianças que se se amam,
Não estão lá para ninguém,
E é apenas a sua sombra
Que treme na noite,
Provocando  a raiva dos que passam,
A sua raiva, o seu desprezo, os seus risos, a sua inveja.
As crianças que se amam, não estão lá para ninguém,
Estão algures, bem mais longe do que a noite,
Bem mais alto que o dia,
Na deslumbrante claridade do seu primeiro amor.

Tradução de L.G.:


Zé António Paradela, Costa Nova, 25/8/2008.
Foto de LG
(ii) José António Paradela,  ex-marinheiro, ilhavense, arquiteto, escritor ("Ábio de Lápara"), amigo do peito, amigo do blogue, que só por lapso meu ainda não entrou para a Tabanca Grande ( e agora autor de mais duas estrofes dos "Lusíadas", lidas no Hotel Golfo Mar, pelo homenageado, em 29/1/2017)








A Nitas, a priomeira à direira, com 4 dos seus 5 irmãos, no
Hotel Ipanema Park, em 15/1/2017,
no dia do seu 70º aniversário. Foto de LG
(iii)  Ana Carneiro Soares ("Nitas), cunhada, técnica superior de laboratório do ISEP, reformada (palavras lidas no   Hotel Golfo Mar, 29/1/2017, pela própria)


Querido cunhado e amigo Luís

Só gratidão é pouco… muito pouco!


Aproveitamos este lindo dia, para toda a família lá do Norte te dizer: Obrigada!!!

Obrigada,
por teres sempre posto tanta cuidada sabedoria (porque todos reconhecemos que a tens), imaginação e amor na nossa amizade, por compartilhares tantas coisas boas e marcar tantas lembranças ao longo destes 42 anos, em que já fazes parte desta família que é linda… Ferreira e Carneiro.


Obrigada,
pela tua sempre excelente companhia, com ótimas lições de História, nas muitas e muitas viagens que fizemos juntos, com os nossos filhos… (enquanto eles eram pequenos e viajavam connosco)!


Obrigada, por seres um ser humano maravilhoso, honesto connosco, gentil, e estar sempre presente e disponível, quando precisamos do teu trabalho de fotografia, exemplar… de tudo quanto mexe no nosso cantinho comum, que é a “A Nossa Quinta de Candoz”.

Obrigada, pelo trabalho no blog “A Nossa Quinta de Candoz”que diriges, mas que também é nosso, por todos os versos, frases e cantilenas que, graciosamente redigiste ao longo destes anos, em diferentes situações, para toda a nossa família, (mas eu neste aspeto sinto-me a mais sortuda… a mais privilegiada é verdade…) porque só para mim fizeste muitos, muitos versinhos!

Obrigada, por seres um cunhado, que representa tanto para todos nós, de tantas, diferentes e significativas formas, por seres esse cunhado e amigo tão especial!

Por tudo isto que ficou dito, e muito mais que tu merecias, neste dia do Aniversário dos teus 70 anos de vida, nós, mesmo sem ser convidados, quisemos surpreender-te com a nossa presença, para te dar um abraço, bem apertado, de toda a Família Ferreira e Carneiro, e partilhar com todos o cântico “PARABÉNS A VOCÊ”

A cunhada que muito te admira e estima,

Anita (Hotel Golfo Mar. Vimeiro, 2017-01-29)


O Gusto (à direita) com o nosso Zé Manel Lopes »("Josema"),
na Quinta da Senhora da Graça, em 28/8/2008. Foto de LG
(iv) Augusto Pinto Soares ("Gusto") [, dedi-catória, escrita no livro "Silêncio", do escritor japonês Shusaku Endo (Lisboa, Dom Quixote, 3ª edição, 2017)]:








(v)  Cinco saborosas e fraternas quadras populares do Zé Teixeira, que o homenageado aceita, com vénia e tudo, na condição de serem também e  sobretudo uma homenagem à Tabanca Grande, obra coletiva, orgulho de todos nós:


Luís Graça, grande amigo,
Companheiro e camarada,
Eu quero estar contigo
Em mais uma caminhada.

O tempo passa a correr,
E isto não é miragem,
Tu acabas de meter
Mais' ma roda na engrenagem.

Neste dia especial,
Penso em ti com muito afeto,
L'vanta-me bem esse astral,
Meu amigo predileto.

Um abraço muito estreito
Te envia este “morcão”,
Sai de dentro de um peito,
Escoltado por uma oração.

Que a saúde não te escasseie
Desejo-te, irmão, com carinho,
E, por ti, eu beberei
Um saboroso copo de vinho.


Zé Teixeira

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 15 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16955: Manuscrito(s) (Luís Graça) (110): Relembrando os nomes de dois portugueses para quem tenho uma palavra de apreço cívico e de gratidão, Mário Soares (1924-2017) e Catanho de Menezes (1926-1985)... bem como as eleições legislativas de 26/10/1969 e o meu voto em branco, em Bambadinca...

(ª*)  Vd. 29 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16999: Parabéns a você (1202): Luís Graça, ex-Fur Mil Armas Pesadas de Infantaria da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)

Guiné 61/74 - P17004: Notas de leitura (925): "Os Alferes", por Mário de Carvalho, Editorial Caminho, 1989; e Editores Reunidos, 1994 (Mário Beja Santos)

Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Novembro de 2015:

Queridos amigos,
Trata-se de um grande escritor que não tendo feito a guerra colonial explora, com imenso talento, o jargão da caserna, arquiteta non-senses apimentados com humor e desvario.
Três alferes para três contos. O primeiro levava uma vida farniente até que foi incumbido, porque era engenheiro, de discutir com um coronel de cavalaria, lá nos confins do mato, o traçado de uma cavalariça. História impagável.
O segundo alferes vai para Timor e fica esfacelado com uma granada de instrução, num voo para Baucau conhece um major das arábias que lhe narra uma história de vingança com muitos aromas timorenses.
A terceira história, largamente conhecida, intitula-se "Era uma vez um alferes", um simples equívoco numa atmosfera surreal e um capitão de antologia fazem com que esta peça literária não tenha rival.
Quem não conhece Mário de Carvalho perde muito do que há de melhor na literatura contemporânea.

Um abraço do
Mário


Os Alferes, de Mário de Carvalho

Beja Santos

É do senso-comum que de um grande escritor tudo se pode esperar: um tema eivado de classicismo; uma novela irónica; um revivalismo sobre uma obra-prima; um drama sangrento ou lírico, enfim, todas as hipóteses são admissíveis. Em 1989, Mário de Carvalho já dispunha, como é costume dizer-se, de um amplo palmarés. Não esteve na guerra colonial mas compôs um livro de contos em que as narrativas se situam nos antigos territórios coloniais portugueses, não estão bem identificados, mas para o caso tanto faz. Em "Os Alferes", publicado pela Editorial Caminho em 1989, e por Editores Reunidos em 1994, temos três histórias cujos protagonistas são sempre alferes.

Em “A última cavalgada”, temos um alferes de Engenharia que leva uma vida farniente no batalhão, até ao dia em que o major o mandou a Quilabango, tudo por causa de uma cavalariça, ele que nada sabia de cavalos. Chegado ao objetivo, deparou-se com um coronel e uma missão excêntricos. Tudo começa com as advertências desse coronel cavaleiro: “Se acontece alguma coisa aos meus cavalos por causo do vosso desleixo, armo para aí um sarrabulho que até manda ventarolas. Isto é impensável… Cavalos argentinos, animais nobres, sensíveis, um despesão, arrumados em casebres, em pocilgas…”. E prosseguiu o aranzel. Lá foram até um barracão ver os equídeos, e uma sombra se intromete, uma referência ao nosso tenente, o que para a história tem grande importância. Quando o alferes engenheiro lhe mostra os projetos, o coronel protesta: “Sacanas! Refinadíssimos sacanas!”. O alferes está aturdido, o coronel prossegue furibundo: “As frestas têm de estar na horizontal, ao nível do teto, e não a meio da parede. Vem a puta da chuva, salpica os estábulos, salpica as forragens, salpica as garupas. Isto dá pneumonia! Querem matar-me os animais. É sabotagem, pá”. Regressam ao batalhão, o alferes é apresentado ao capelão e ao médico. Está o alferes a sair do banho e vê à distância uma figura de mulher, trata-se de a mulher do coronel. A descrição da refeição na messe de oficiais é uma obra-prima, os comentários, os dichotes, a zaragata verbal entre o coronel e o tenente é delirante. Como delirante é a história de umas morteiradas sobre o quartel. É então que o alferes sabe da história de que coronel quer matar o tenente, é tudo uma questão de triângulo amoroso, está envolvida, claro está, a mulher do coronel. Coronel e tenente irão dar uma passeata a cavalo. O coronel aparece morto, o episódio tem a marca do rocambolesco, correr na unidade a versão de que tinha sido um acidente: “O coronel tinha-se afastado do esquadrão, a galope desenfreado, e depois ouvira-se uma rajada. Teria feito qualquer movimento em falso, a patilha de segurança da arma estaria gasta, os disparos traçaram-no a meio-corpo. O tenente apareceu logo a pedir ajuda, mas já não havia nada a fazer…”. O médico confidenciou ao alferes engenheiro à despedida: “Afinal foi o tenente que matou o coronel. Eu estive a ver o corpo. O major dispensa a autópsia. Quero lá saber…”.

Finda esta história com a cavalaria, entramos noutra, passada em Timor e intitulada “Há bens que vêm por mal”. O nosso alferes, mal chega, sobreveio um estúpido acidente com uma granada de instrução, ficou paralisado da cintura para baixo. Procuraram animá-lo: que a recuperação, pelo menos parcial, se vislumbrava, que não estava condenado à imobilidade eterna. Durante um mês abrasou em febres malignas no Hospital de Dili. É encaminhado para Baucau, escala em Darwin, rumo à Europa. Aqui começa uma história que podia ter sido contada por Somerset Maugham. O piloto é tratado por alguém como o meu major. O doente está intrigado: "Major? O homem trajava a civil: casaco de alpaca, esbranquiçado, sobre uma sumptuosa camisa de entrançados floridos mais complicados de descrever que as volutas do escudo de Aquiles. A cara mostrava-se rugosa, de pele áspera, crestada do clima. Ao fundo do pescoço, pela largueza do colarinho, podia eu distinguir o brusco remate da zona do sol, trocada pela zona de sombra, raia bem demarcada entre a epiderme encarquilhada e escurecida dos trópicos e a pele clara e Lisa da Europa”. Puxando pela cabeça, o alferes lá foi reconhecendo. E depois o major conta-lhe a história, como chegou, como se afeiçoou à ilha, como resolveu ficar, metido na exportação de sândalo branco, veio a invasão japonesa, entra em cena uma fuga em que a certa altura houve entendimento que era preciso desembaraçarem-se de uma criança, o pai apostou vingança, envolveu-se num serial killer, a história termina abruptamente, chegaram a Baucau, chegaram em boa hora, o piloto e o mecânico, após a aterragem descobriram por é que o motor estava a responder mal, tinham-se safado de boa.

A terceira história, “Era uma vez um alferes” tem sido derramada em várias antologias, são múltiplas as citações, conta a história de uma alferes que pensa ter pisado uma mina, ali fica hirto, os soldados e furriéis vão dando palpites, o alferes só pede que venham os especialistas das minas e armadilhas, mas quem sai do helicóptero é o capitão, assim descrito: “Era um homem ainda jovem, magro, seco, muito direito, precocemente promovido pelas necessidades da guerra. Cultivava uma impassibilidade afetada, longamente estudada. Nunca bebia mais do que a conta nem dizia um palavrão. Vestia sempre a farda ver-azeitona, com a boina castanha, e nunca ninguém o tinha visto de camuflado”. Tudo quanto se vai passar a seguir é do melhor que há em literatura de guerra, as intervenções do capitão e o sofrimento do alferes, que revive o sadismo do capitão quando era tenente, e instrutor de tática no segundo ciclo, em Mafra. O alferes, transido, só grita pelo pessoal das minas e armadilhas, assistimos a uma conversa macabra entre o capitão e o alferes que não pode mexer-se um milímetro, falam das movimentações estudantis, e ouvimos o alferes, a protestar no íntimo: “Mas por que é que este capitão não o deixava sozinho morrer para ali? Se se atirasse para diante devia ser apanhado pelas costas. Morte instantânea. Talvez não sofresse nada, talvez nem ouvisse o rebentamento. Mas, e se a explosão lhe quebrasse a coluna, se ficasse paralisado para a vida inteira? Vai-lhe um enorme peso sobre os ombros, do peso se lhe dobram ligeiramente as pernas. Cansou-se-lhe o braço com que se apoia a G3, fortemente fincada na areia. Estremece. Vê, entre névoas, a cara do capitão, ondulante, prelada de gradas bagas de suor”. Situação insustentável, chora, brada pela mãe, o capitão proíbe-o de chorar, incita os soldados a cantar em coro. “Nisto, o alferes teve um estremeção, oscilou, tombou desamparado”. Vimos a saber que teve um ataque cardíaco, não havia mina nenhuma, só uma pequena mola metálica, das usadas nos batuques. O médico embriagou-se, vociferava contra o capitão, chamava-lhe sádico. “O médico acabou por se cansar e lá foi deitar-se, chorando, amparado por outros oficiais. Nessa altura, já se sabia que o capitão não tinha enviado qualquer mensagem a requisitar os especialistas das minas e armadilhas”.
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16995: Notas de leitura (924): Os primeiros documentos de Amílcar Cabral na Guiné, 1952 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17003: Agenda cultural (538): Lançamento do livro "Ditadura ou Revolução?", da autoria de José Luís Andrade, dia 2 de Fevereiro de 2017, pelas 18h30, nas Caves Manuelinas do Museu Militar de Lisboa, junto à Estação de Santa Apolónia



C O N V I T E

LANÇAMENTO DO LIVRO "DITADURA OU REVOLUÇÃO?", DA AUTORIA DE JOSÉ LUÍS ANDRADE, DIA 2 DE FEVEREIRO DE 2017, PELAS 18H30 NAS CAVES MANUELINAS DO MUSEU MILITAR DE LISBOA

UM LIVRO QUE É RESULTADO DE ALGUNS ANOS DE INVESTIGAÇÃO

No próximo dia 2 de Fevereiro é lançado o livro "DITADURA OU REVOLUÇÃO?" do meu amigo José Luís Andrade, com prefácio de Jaime Nogueira Pinto e apresentação pelo Embaixador A. Martins da Cruz. Será no Museu Militar, às 18h30.

"Este trabalho é a segunda parte de uma trilogia que aborda a história paralela de Portugal e de Espanha (um projecto designado Ventos de Espanha, areias de Portugal) que iniciei há já alguns anos. Trata o aparecimento das facções «jacobinas» e «vermelhas» após a revolução liberal, de 1870 a 1926, (I Parte), o confronto dessas correntes com os movimentos contra-revolucionários por elas gerados até ao início da última Guerra Civil de Espanha (II Parte) e a participação portuguesa naquele conflito, bem como o seu impacto na vida política portuguesa (III Parte). 
O facto de em 2016 se terem comemorado 80 anos sobre o início da Guerra Civil de Espanha levou-me, por oportunidade, a procurar publicar a segunda parte antes da primeira.

J. Luís Andrade"
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16975: Agenda cultural (537): "Um mergulho no Muxito", primeiro romance de Jorge Paulino, médico cirurgião; prefácio e apresentação do jornalista Mário Crespo, dia 10 de março de 2017, 6ª feira, às 18h30, no Clube Literário Chiado, Fórum Tivoli, Av Liberdade, 180, Lisboa

Guiné 61/74 - P17002: Meu pai, meu velho, meu camarada (51): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte II: "Colá San Jon", na Ribeira de Julião, ilha de São Vicente, 1943



Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Tambores, colá San Jon  [Foto nº 30A]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Tambores, colá San Jon  [Foto nº 30B]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Tambores, colá San Jon  [Foto nº 30]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Colá San Jon  [Foto nº 32A]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Colá San Jon  [Foto nº 32]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Colá San Jon  [Foto nº 31A]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Colá San Jon  [Foto nº 31]

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Ribeira de Julião > 1943 >  Festa de São João. Fotos do álbum, do então 1º cabo Feliciano Delfim Santos, da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11 (Ilha do Sal, 1941-1943)


Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Feliciano Delfim Santos (1922-1989)
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro  Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada  e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73). 

 O Augusto disponibilizou-nos 33 fotos, digitalizadas, do seu pai, Feliciano Delfim Santos, e dos seus camaradas da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11, que esteve na ilha do Sal, entre junho de 1941 e dezembro de 1943 (*) [, foto à direita].

Os "expedicionários do Onze" partiram do Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, no vapor "João Belo", a 16 de junho de 1941, com desembarque na Praia, ilha de Santiago, a 23 do mesmo mês. Estiberam prartocamente todo o tempo na então inóspita e pouca habitada ilha do sal, em missão de soberania. No final, ainda passram pelas ilhas de Santo Antõe de São Vicentem ressando a casa em dezembro de 1943. Duas dezenas de camaradas do batalhão morreram na ilha por doença e lá ficaram sepultados.

As fotos que  publicamos hoje trazem as seguintes (lacónicas) legendas:

(i) Foto 30 – Ilha de S. Vicente / 1943. Tambores, festa de S. João.

(ii) Foto 31 – Ilha de S. Vicente / 1943. Dança, festa de S. João.

(iii) Foto 32 – Ilha de S. Vicente / 1943. Dança, festa de S. João.

Podia pensar-se que eram do Mindelo, mas não. A festa de S. João celebra-se no interior da ilha, ma povoação da Ribeira de Julião. E são "postais ilustrados" comprados pelos expedicionários, como "recuerdo" de Cabo Verde...

No ábum de Cabo Verde, do meu pai, Luís Henriques (1920-2012) há uma foto extamente igual à da foto 31 do álbum do pai do Augusto, já qui publicada, e que tem a seguinte legenda:


Cabo Verde > S. Vicente > 1943 > Postal da época, "Coladeira do S. João" [ou cola San Jon] > Legenda no verso da foto (a tinta verde, já quase ilegível): "Dançando o batuque (sic) na Ribeira de Julião, no dia de São João , no interior ilha de São Vicente. Luís Henriques. 24/6/1943".

Foto: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados [Legendas de Luís Henriques e de L.G.]

A qualidade  das imagens que o Augusto me mandou é superior.  Um delas já tinha sido publicada em tempos, mas erradamente foi legendada como sendo da festa da "Cola San Jon" da ilha de Santo Antão (**). O Augusto pediu-nos para fazer a correção, aqui fica feita.

Estas fotos, dos nossos pais, que foram expedicionários em Cabo Verde na II Guerra Mundial, infelizmente  já são muito raras e merecem ser salvas do "caixote do lixo", publicadas, divulgadas e estudadas. Por todas as razões, pelo seu interesse documental,  e sobretudo pelos laços históricos, culturais, linguísticos e afetivos que nos unem, portugueses e cabo-verdianos.

Tudo indica que as fotos (, na realidade, "postais ilustrados"), que aqui publicados, sejam da célebre casa "Foto Melo":

(...) "Foi a única casa fotográfica no Mindelo desde a sua fundação no séc. XIX e durante grande parte do século XX e retratou sistematicamente as chegadas de governadores, a elite intelectual local, almoços e jantares de gente ilustre, grupos de ingleses, eventos oficiais, sociais e religiosos, bailes carnavalescos, costumes populares, os navios no Porto Grande, vistas de cidades e paisagens de todas as ilhas de Cabo Verde. " (,,,)



2. Segundo Manuel Brito-Semedo, autor do blogue "Esquinha do Tempo"  (... "magazine cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010"), a festa de S. João Baptista, ou do "colá San Jon" celebra-se em 24 de junho, em Cabo Verde [mas também na diáspora cabo-verdianaa como no bairro da Cova da Moura, na Amadora] no dia 24 de junho: (...) "integrada nas Festas Juninas,  é uma das principais festas populares nas ilhas de Barlavento – Santo Antão, S. Vicente, S. Nicolau e Boa Vista – e na Brava. Nas ilhas de Barlavento, a festa tem as mesmas características. Na Brava, a festa já possui características distintas e originais" (...).

Brito-Semedo, que é autor do estudo "A Construção da Identidade Nacional – Análise da Imprensa Entre 1877 e 1975" ( Praia, 2006),  resume aqui o que e esta festa na ilha de S. Vicente, onde no tempo da II Guerra Mundial estiver5am os pais de alguns de nós:

(...) "Em S. Vicente a festa decorre na Ribeira de Julião, localidade que dista poucos quilómetros da cidade do Mindelo. Mesquitela Lima (1992) descreve-a como uma espécie de romaria onde há de tudo: missa, comeres, beberes e dança, acompanhada de tambores e de apitos. A dança é a umbigada (movimento ritmado em que os pares chocam os umbigos), denominada colá San Jon, sobretudo praticada entre mulheres mas também entre homem e mulher. Os tambores, cuja forma são de origem portuguesa, são tocados com baguetes, produzindo um ritmo sincopado nitidamente africano. Tambores e apitos dirigem as dançarinas, que aceleram as umbigadas consoante o toque."

Mas há elementos de natureza socioantropológica que importa conhecer e divulgar. Seguimos a descrição do antropólogo Mesquitela Lima, citado  por Brito-Semedo:

(..) "Um navio à vela é outro elemento castiço da festa. Construído numa escala reduzida, com uma grande abertura no centro, permite a um homem entrar nele e segurar o navio com as duas mãos por intermédio de correias estrategicamente colocadas para que fique à altura da cintura. Este homem, chamado capitão e usando um boné, por vezes a farda completa, de oficial da marinha, maneja o navio em consonância com os apitos e tambores, praticando bolina, bordejando, vento em popa, tal como se estivesse no mar.

"É igualmente sacramental toda a gente usar colares de pipocas ("milho aliado") que se vende no local, sinal de que esteve presente na festa, ou seja, que era romeiro"  (Mesquitela Lima, op. cit.). (...)

E ao voltando ao amável autor do blogue "Esquina do Tempo", ficamos a saber que "a anteceder o dia de S. João Baptista, coincidindo com a festa pagã do solstício de Junho, há o tradicional saltar da fogueira (as “lumenaras”), eventualmente recordando o imemorial culto do fogo, e os fogos de artifício, prática também em Portugal associada à celebração do dia do Santo, na noite de véspera". (In; blogue "Esquina do Tempo" > 24 de junho de 2015 > Colá san Jon – Festa tradicional ).

domingo, 29 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P17001: Blogpoesia (491): "Horas pacíficas..."; "Me embalo no sonho..." e "Pedras adormecidas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros durante a semana ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Horas pacíficas

Miríficas ramagens caem pendentes
Das varandas solitárias.
Brotam das fontes os caudais inesgotáveis
Que saciam das gentes a sede insuportável.

É na hora ascéptica que ela ataca traiçoeira.
Ai de quem não a tem no seu bornal.
De nada valem os montões opíparos da riqueza
Se nos falta aquele milagre puro da natureza.

Luzem nos céus os raios da fertilidade.
Geram o calor indispensável à manutenção da vida.

Quem dera ao mundo que nunca acabe
Esta bênção de paz e fraternidade.

Berlim, 29 de Janeiro de 2017
11h24m
JLMG

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Me embalo no sonho…

Me embalo no sonho de, um dia,
Encontrar o tema
E escrever aquele poema de oiro e madrepérolas
Que de amor embriague o mundo.

Para sempre, desapareça o infortúnio
E reine a paz na Terra.
Que a fraternidade seja o lema
E a bandeira seja a alegria de estar vivo.

Não mais caos,
Não mais guerra.
Que o chão se cubra de justiça.
Nunca mais a opressão dos fracos.
Para sempre seque o caudal infame
Da ignominiosa exploração.

E cada homem seja o rei de si
Em plena liberdade…

Ouvindo “concerto nº 1 para piano e orquestra” com Khatia Buniatishvili

Berlim, 26 de Janeiro de 2017
10h00m
Jlmg

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Pedras adormecidas…

Mesmo tórridas ou enregeladas,
Ali jazem presas, encravadas,
Sobre o chão.
São tapete.
São toalha.

Fazem de veias.
São o caminho
Que encurta o espaço
E aperta o tempo
Entre as aldeias.

Vem a noite
E nasce o dia.

Ora acima,
Ora abaixo.
Passa o pobre
E passa o cura.
A todos serve,
Ninguém repara.

Brilha ao sol
E escorre à chuva.
Com valeta
Ou sem valeta.
A guerra à lama.

Ali dormem.
Sono eterno.
Rica mesa
E boa cama.

Berlim, 24 de Janeiro de 2017
17h37m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16978: Blogpoesia (490): "A suavidade..."; "À minha frente..." e "Saída do nada...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17000: Meu pai, meu velho, meu camarada (50): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte I: A caminho da ilha do Sal, com chegada, a 23/6/1941 à Ilha de Santiago, no vapor "João Belo"...


Cabo Verde > Ilha de S. Tiago > Praia > Junho de 1941 > O 1º cabo Feliciano Delfim Santos, da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11, na linha da frente, é o terceiro a contar da direita para a esquerda. [Foto nº 1]


Cabo Verde > Ilha de S. Tiago > Praia > Junho de 1941 >  De pé à esquerda. [Foto nº 2]


Cabo Verde > Ilha de S. Tiago > Praia > Junho de 1941 > Primeiro à direita. [Foto nº 3]


Cabo Verde > Ilha de S. Tiago > Praia > Junho de 1941 > Junto a um estaleiro de construção e reparação de embarcações. O Feliciano é o primeiro à direita.[Foto 4]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942. Junto a uma velha peça de artilharia. O Feliciano esta na fila de trás, de pé, a apontar. [Foto 5]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942. O Feliciano é o segundo, de pé, à esquerda. [Foto 6]



Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942. O Feliciano é o primeira, da direita [Foto 7]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1942. O Feliciano é o primeira, da direita [Foto 8]


Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Fotos do álbum do pai do Augusto Silva dos Santos [, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73].  O nosso camarada disponibilizou-nos 33 fotos, digitalizadas, do seu pai, Feliciano Delfim Santos, e dos seus camaradas da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11, que esteve na ilha do Sal (e depois na Ilha de Santo Antão), entre junho de 1941 e dezembro de 1943 (*).

Os "expedicionários do Onze" partiram do Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, no vapor "João Belo", a 16 de junho de 1941, com desembarque na Praia, ilha de Santiago, a 23 do mesmo mês. O navio transportava igualmente os materiais de construção indispensáveis para a edificação das instalações para o  pessoal de dois batalhões e de mais uma companhia, além de serviços de saúde e intendência, num total de 2244 homens. 

A ilha do sal era escassamente povoada ("meia dúzia de casas"...), vivendo da exploração do sal e de um fábrica de consersa de peixe (atum). Tiveram que recrutar  lavadeiras de outras ilhas  (Boavista, São Vicente e Santiago), que não as havia na ilha do Sal. Nem sequer havia padre, apenas uma professora, na vila de Santa Maria, a "capital". O aquartelamento era em Pedra [de] Lume. A água potável era racionada, tomava-se banho com água salgada. Cerca de dezenas de homens do 1º batalhão morreram de doença.

O Feliciano Delfim Santos deixou, sepultados nesta  ilha (ou em Santo Antão ?), a sua companheira e um filho, vítimas de doença. De regresso à metrópole, exerceu a profissão de serralheiro, tendo mais tarde concorrido aos quadros do pessoal civil da Marinha de Guerra, onde exerceu a profissão de maquinista em diversas embarcações  (rebocadores e vedetas de transporte de pessoal), inicialmente no antigo Arsenal de Marinha em Lisboa e posteriormente na Base Naval do Alfeite. 

Reformou-se aos 56 ansos  com a categoria equivalente a sargento ajudante. E dez anos depois morreu, precocemente. Ainda em vida, assistiu à partida, para a Guiné, com um ano de diferença,  dos seus  dois filhos,  um deles o nosso grã-tabanqueiro Augusto Silva Santos.

Estas fotos e notas serão complementadas com a reprodução do livro sobre os "expedicionários do onze", do capitão José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp.).

(Continua)
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Guiné 61/74 - P16999: Parabéns a você (1202): O fundador e editor do nosso Blogue, Luís Graça, ex-Fur Mil Armas Pesadas de Infantaria da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16989: Parabéns a você (1201): Fernando Macedo, ex-1.º Cabo Apont Art.ª do 5.º Pel Art (Guiné, 1971/72)

sábado, 28 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16998: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (5): O I Congresso do PAIGC em fevereiro de 1964, em Cassacá, a sul de Cacine, e a importância social da saúde e da instrução literária, analisada na base central do Morés em março de 1964 - Parte II







O nosso colaborador assíduo do blogue, Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494. Xime e Mansambo, 1971/74): tem já mais de 110 referência no nosso blogue; ainda está no ativo, é professor universitário, doutorado em ciências do desporto. Este texto, a publicar em duas partes, foi submetido ao blogue em 4 de janeiro de 2017]



O I CONGRESSO DO PAIGC EM FEVEREIRO DE 1964 NO SUL E A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA SAÚDE E DA INSTRUÇÃO LITERÁRIA, ANALISADA NA BASE CENTRAL (MORÉS) EM MARÇO DE 1964


II (e última) Parte


Um mês após a conclusão do I Congresso de Cassacá, na Frente Sul, os responsáveis da Frente Norte, Ambrósio Djassi [nome de guerra de Osvaldo Vieira; 1938-1974] e Chico Té [nome de guerra de Francisco Mendes; 1939-1978] tomaram a iniciativa de convocar uma reunião para o dia 21 de março de 1964, sábado, a realizar na Base Central [Morés] entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários [políticos] com o objectivo de estudar e discutir as novas fases do desenvolvimento da luta, e ao mesmo tempo para pôr todos os camaradas ao corrente das resoluções aprovadas na reunião de Cassacá.

No final da reunião do Morés foi elaborado o respectivo relatório, que foi remetido ao Secretário-Geral, e por este recebido em 4 de abril de 1964, onde se fez referência aos temas tratados, ao conteúdo de cada intervenção e ao nome de todos os responsáveis que nela tomaram parte, num total de cinquenta e seis elementos.

Eis os dez pontos da Ordem do Dia [dos Trabalhos]:



1. - Mudança de Táctica

2. - Criação de novas bases
3. - Recrutamento e treinos
4. - Política
5. - Disciplina Militar
6. - Alimentação
7. - Saúde
8. - Instrução literária
9. - Segurança e controle
10. - Ligação.



Como ponto extra foi abordado o “ataque ao Enxalé” e analisada a sua necessidade.

Considerando a extensão do documento, constituído por doze páginas A4 manuscritas, iremos abordar neste texto somente os pontos 7 e 8, relacionados com os assuntos sociais – saúde e educação –, aliás em conformidade com o exposto na introdução.

Esta opção é justificada pelo facto de termos vindo a tratar o tema da saúde utilizando as memórias e experiências vividas por médicos cubanos no apoio à guerrilha, cujos relatos são posteriores a este evento (dois anos; com início em junho de 1966).

Já reproduzimos ao altop deste poste a folha de rosto, ou 1.ª página, onde consta o que acima foi referido.


Ponto 7 - SAÚDE


{Ambrósio] Djassi
– Tudo o que já fizemos e pensamos fazer é devido ao estado normal da nossa saúde. Passo a palavra ao nosso camarada Simão Mendes [enfermeiro] para nos apresentar o relatório elaborado em colaboração com os outros camaradas da saúde.


Simão Mendes
– Digo aos camaradas que vou relatar 10 pontos principais conforme o relatório que fizemos:

1 – Medicamentos: - os medicamentos passarão a ser requisitados trimestralmente, requisitando só os medicamentos de maior consumo na Guiné, dando uma regalia aos guerrilheiros como ao povo. Requisitar materiais de pequena cirurgia o mais breve possível.

2 – Doentes para a fronteira: - mandar urgente para a fronteira todos os feridos ocasionados por ferimento de balas uma vez que não há já recursos locais para a sua extracção. Formar um grupo de transporte de doentes ou feridos graves para a fronteira. Esse grupo será nomeado pelo responsável pela Zona Norte.





3 – Preparação de Ajudantes de enfermagem para outras bases: - serão escolhidas meninas e rapazes para receberem noções de socorros urgentes e de enfermagem.

4 – Escala de Serviço e sua conveniência: - far-se-á uma escala de serviço nomeando cada enfermeiro para a sua responsabilidade diária.

5 – Ginástica, sua necessidade e inconveniência: - a ginástica continuará a ser feita como dantes, isto é, todos os dias principalmente para os recém-chegados.

6 – Visitas guiadas às bases: - deslocação quinzenalmente às bases; nesta visita o enfermeiro escolhido procurará colaborar com o povo estudando assim as doenças de 1.ª instância. Serão construídas duas barracas para consultas.

7 – Noções ligeiras de primeiros socorros aos guerrilheiros: - fazendo parte da guerrilha é lícito que todos os guerrilheiros tenham noções de primeiros socorros. Oferecemos a nossa boa vontade neste momento.

8 – Higiene e sua conveniência: - fazendo parte da saúde, para evitar certas doenças, devem todos os guerrilheiros seguir os princípios da higiene do vestuário e limpeza de barracas.

9 – Escala de serviço e sua conveniência: - far-se-á uma escala de serviço, nomeando cada enfermeiro para a sua responsabilidade diária. (Este ponto é igual ao 4).

10 – Colaboração mútua em tudo que diga respeito ao nosso movimento com o povo e guerrilhas: - colaborar com a nossa população explicando a todos as inconveniências que o abuso excessivo dos medicamentos pode ocasionar. Paciência absoluta, dando ao povo explicações do emprego de medicamentos.




Resolução:


Todos os camaradas estiveram de acordo com as proposições dos camaradas da saúde e resolveram criar forças para garantir a execução do que está acima indicado.



Ponto 8 - INSTRUÇÃO LITERÁRIA



Djassi
– Depois de tudo devemos começar a pensar na instrução dos guerrilheiros e do povo. Hoje podemos dispor de alguns livros apanhados e que já empregamos para o mesmo fim. Os camaradas que vieram de Bissau vão ser distribuídos nas bases para começarem a instrução literária.

Chico Té
– Devemos fazer esforços para pôr isso em prática o mais breve possível apesar de poucos meios do que nos dispomos actualmente.


Luís Gomes – Neste ponto posso dizer que é muito importante para a nossa vida e o desenvolvimento da nossa terra. A instrução não é só para crianças mas sim também para adultos.






Resolução:


Todos os camaradas estiveram de acordo neste ponto, e os camaradas que vieram de Bissau vão ser distribuídos nas bases a fim de começar com a instrução literária. Devido à falta de material escolar solicitamos aos dirigentes superiores do Partido o envio de algum material neste campo.


Citação:
(1964), "Relatório da reunião entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários da Base Central", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40112 (2016-12-28)


Fonte (,com a devida vénia...):

Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 04613.065.157
Título: Relatório da reunião entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários da Base Central.
Assunto: Relatório da reunião entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários da Base Central, assinado por Chico Té (Francisco Mendes) e Ambrósio Djassi (Osvaldo Vieira). Ordem do dia: mudança de táctica, criação de novas bases, recrutamento e treinos, política, disciplina militar, alimentação, saúde, instrução literária, segurança e controlo e ligação. Ataque de Enxalé.
Data: Sábado, 21 de Março de 1964.
Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul e Leste).
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental: Documentos


Em função do exposto, e em jeito de conclusão, podemos dizer que a organização do PAIGC, passados quinze meses do início da sua luta armada, ainda era excessivamente precária, onde os adjectivos: instável, delicada, insegura, débil e pobre, enquanto sinónimos, completam o seu quadro mais global.

Mas poderia ser diferente para melhor? Não creio… pois tudo na vida é processo e projecto.

Obrigado pela atenção.
Um forte abraço de amizade e votos de boa saúde.
Jorge Araújo.
4jan2017.

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Nota do editor:

Último poste da série 26  de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16991: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (4): O I Congresso do PAIGC em fevereiro de 1964, em Cassacá, a sul de Cacine, e a importância social da saúde e da instrução literária, analisada na base central do Morés em março de 1964 - Parte I

Guiné 61/74 - P16997: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493) (13): O dia mais triste...

Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CART 2339 (1968/69) > 1969 > Mansambo

Foto: © Carlos Marques Santos (2006)


1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74) com data de 20 de Novembro de 2016:

Amigo Carlos
Antes de mais, faço votos para que te encontres de boa saúde assim com os que te são queridos.
Acabo de escrever e vou enviar-te um pequeno texto recordando aquele que foi o dia mais triste do meu tempo de Guiné.
Recebe um abraço


PEDAÇOS DE UM TEMPO

13 - O DIA MAIS TRISTE...
 
Quando “tropeçamos” no passado mesmo que tal tenha acontecido há já muito tempo, a mente leva-nos a viver situações que podem ser boas ou más, mas não há como fugir. Foi o que aconteceu comigo há dias ao ler um dos postes publicado sobre a construção das instalações de Mansambo.

Cheguei aquele local uns dias mais tarde que a minha companhia, e no dia que os “velhinhos” nos deixaram fiz o meu primeiro serviço, acompanhado pela G3 que era para mim quase desconhecida, fui um dos que foram fazer segurança ao pessoal que andava a transportar a água para as nossas instalações, chuveiros, cozinha e abrigos.

Éramos oito os homens da companhia incluindo o motorista do unimog e o ajudante, mais os picadores que eram três. A distância entre as nossas instalações e fonte era de poucas centenas de metros mas pela manhã o trajeto era sempre picado para que o unimog 411 e acompanhantes pudessem passar em segurança não fosse estar por lá alguma mina colocada durante a noite.

Quando lá chegámos fomo-nos distribuindo para junto de algumas das árvores que lá existiam, só regressámos às instalações próximo da hora de almoço. Foi à sombra de uma de maior porte que me “instalei”. Enquanto lá estivemos não me lembro de ter falado com algum dos camaradas ali em serviço mas sei que o cérebro não parou de pensar, em quase tudo, só que em nada de bom.
Ver os velhinhos partir com a alegria natural de quem conseguiu chegar ao fim da comissão e vai regressar a casa, e pensar no tempo que nos faltava para que também nós pudéssemos viver um dia assim… na altura, falava-se que seria vinte e dois meses depois foram quase vinte e sete.
Preparação para a guerra na Metrópole eu não tive, apenas tinha utilizado a arma duas vezes onde disparei cinco tiros de uma vez e vinte de outra.

A minha recruta e especialidade foram feitas em apenas três meses, no Trem Auto, dos quais três semanas foram passadas no hospital, HMDIC em Lisboa, depois oito meses no RAP3 Figueira da Foz com a especialidade de monitor auto. De guerra e armas nada conhecia, daí a minha falta de preparação, tive que me habituar à situação que todos vivemos, mas fui sempre um fraco guerreiro.

Era já perto de meio-dia quando regressámos da fonte, estava psicologicamente arrasado, foi então que antes do regresso me ocorreu uma frase que escrevi num papel que tinha comigo e que me acompanhou durante todo o tempo de comissão que simplesmente dizia: tem calma, ainda és jovem e o tempo há-de passar.

Foram várias as vezes que li essa frase assim como outras que entretanto fui escrevendo. Algumas vezes ajudou mesmo… Mas aquele dia foi de todos o mais triste… ainda hoje está presente na minha mente como se fosse ontem. Mais tarde em Cobumba passei por momentos bastante mais difíceis, mas aí, a tristeza não raramente passou a dar lugar à raiva…

António Eduardo Ferreira.



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > 1996 > O Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1968/69), contemporâneo da CART 2339 (Mansambo, 1968/69). posando junto ao único memorial que ainda restava, de pé, o da CART 2714 (1970/72)... Dos fundadores, "Os Viriatos", a CART 2339, bem como do quartel que eles erigiram e inauguraram, restavam apenas alguns fragmentos e vestígios... Foto de Humberto Reis (2006)
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16773: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira) (12): Memórias que me acompanham