sábado, 22 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19315: Os 26 capitães que tombaram no CTIG (1953-1974), por combate, acidente e doença: lista corrigida e aumentada (Jorge Araújo)








Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue


OS 26 CAPITÃES QUE TOMBARAM NO CTIG [1963-1974]
- LISTA CORRIGIDA E AUMENTADA -
(ACIDENTE, COMBATE E DOENÇA)


1.  INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao projecto de actualização das listas dos camaradas que tombaram no CTIGuiné durante a «Guerra do Ultramar» ou «Guerra Colonial» (1961-1974), estruturado por patentes segundo a tríade em que foram agrupadas as causas das suas mortes – acidente, combate e doença – apresento-vos, hoje, a lista dos camaradas «Capitães», corrigida e aumentada em relação à já publicada no nosso blogue [P6638] por iniciativa do camarada Carlos Cordeiro (1946.08.22-2018), falecido no passado dia 18 de Setembro em Ponta Delgada, sua terra natal, a quem prestamos a nossa sentida homenagem.

Como fonte privilegiada de consulta, recorremos à base de dados da «Academia Militar» - sítio: https://academiamilitar.pt/filhos-da-escola-do-exercito-e-da-academia-militar.html, com a devida vénia - retirando da bibliografia de cada um dos «Capitães» mortos em combate [exclusivamente, os do Quadro Permanente (nove)], os elementos necessários para a elaboração deste trabalho. Na lista abaixo fazem parte mais três nomes, sendo um Miliciano [Cap Dinis Corte Real] e dois de Recrutamento Local [Abna Na Onta e João Bacar Djaló].

Organizado segundo a metodologia anterior, onde os quadros de categorias são apresentados por ordem cronológica em relação a cada ocorrência, dou conta ao Fórum da lista dos camaradas «Capitães» dos três ramos das Forças Armadas, que tombaram no CTIGuiné. No quadro referente às "mortes em combate", para além dos elementos individuais, tomámos a liberdade de adicionar uma foto de cada um deles.

O capitão Corte Real (o 2.º da direita), na companhia de elementos da sua CCAÇ 1422, foi o único capitão miliciano a morrer em combate no CTIG [foto do camarada Veríssimo Ferreira, fur mil CCAÇ 1422 – P12453, com a devida vénia].


Entretanto, merece especial referência, pela macabra coincidência, a morte do Capitão José Jerónimo da Silva Cravidão, natural de Arraiolos, ocorrida na data do seu 25.º aniversário [4 de Junho, (1942-1967)], durante a «Op. Cacau», realizada pela sua CCAÇ 1585 na região de Bricama - Farim (vidé: P11688 e P11689).

Para que não fiquem na "vala comum do esquecimento", como costumamos afirmar, eis, então, os quadros estatísticos dos 26 (vinte e seis) capitães, nossos camaradas, que tombaram durante as suas Comissões de Serviço na Guiné.


2. QUADROS POR CATEGORIAS E ORDEM CRONOLÓGICA









Outras fontes consultadas [com cruzamento]:

http://www.apvg.pt/

http://ultramar.terreweb.biz/index_MortosGuerraUltramar.htm (com a devida vénia)

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

26NOV2018.

Guiné 61/74 - P13914: Parabéns a você (1545): Miguel Vareta, ex-Fur Mil Comando da 38.ª CCom (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19308: Parabéns a você (1544): José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp das CCAV 8350 e CCAÇ 11 (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19313: Notas de leitura (1133): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (65) (Mário Beja Santos)

Depósito de água, em Bolama, recorre a uma tipologia comum noutras regiões da Guiné-Bissau.
Fotografia de Francisco Nogueira, retirada do livro “Bijagós Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia.


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Abril de 2018:

Queridos amigos,

Permitam-me uma nota pessoal. Aí por novembro de 1968, numa das minhas continuadas idas de Missirá a Mato de Cão, já na estrada de terra batida, que dista cerca de 5 quilómetros do local onde montávamos segurança, em Mato de Cão, o soldado Queta Baldé, natural de Amedalai, observou-me que logo no início da guerra tinha havido um massacre em Finete, toda a região vivia em barafunda, Bambadinca dividia-se entre quem partia para o mato e quem se matinha fiel aos portugueses. Nunca encontrei qualquer documento de valor histórico que asseverasse a observação de Queta. Ela aqui está, numa carta do gerente do BNU, revela que enquanto o Sul entrara imediatamente em ebulição, também o Leste, com Domingos Ramos à frente das operações, era a segunda frente do PAIGC.
Fica posta em causa a mitologia de que tudo começou no Sul e a seguir no Morés.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (65)

Beja Santos

A 13 de fevereiro de 1963, qual repórter de guerra, o gerente traz novas informações:

“Os assaltos a objectivos militares, já revelados a V. Exas, em correspondência anterior, vieram nos últimos dias a intensificarem-se de uma forma que não pode deixar de dar preocupações muito sérias mesmo aos responsáveis pela defesa militar da Província.

Os constantes e sucessivos acontecimentos que chegam ao nosso conhecimento através de fontes oficiais ou por simples notícias particulares não confirmadas, indicam claramente que se não houver uma acção enérgica de repressão estaremos muito próximos dos casos que tiveram lugar em Angola.
Toda a parte Sul da Província encontra-se infestada de grupos armados terroristas que à luz do dia circulam com a maior das liberdades, sem depararem com oposição.

Camiões carregados de arroz chegam a ser interceptados por bandos, para depois voltarem a circular sem que nada lhes suceda.

Até quando esta atitude de passividade para com os sectores económicos se irá manter, não sabemos. Um dia, certamente, ela se modificará, com graves e tremendas consequências para a economia e para a vida das populações.

Diz-se que são insuficientes os efectivos militares que operam no Sul, e deficiente o material que utilizam.

Diz-se que, para grupos numerosos e bem municiados em armas de recente fabrico e material explosivo como bombas, granadas, petardos, etc. etc, se antepõe a tropa com armas de inferior poder de fogo e com bombas que, por vezes, não chegam a deflagrar. Contam que uma patrulha militar, numa operação de limpeza, de cinco granadas de mão que lançou só uma deflagrou.

Só uma entidade comercial da Província, a Sociedade Comercial Ultramarina, tem sido compreendida nos ataques feitos pelos terroristas, que alguns estragos já registaram em haveres e vidas.

Além do incidente de Brandão já referido na nossa carta de 30 de Janeiro, as propriedades exploradas pela Sociedade de Bantael Sila, Chacoal e Unal, foram assaltadas, registando-se a morte de um empregado europeu em Chacoal.

No centro comercial de Salancaur, foi também assaltada a sucursal da Sociedade, e um pequeno pelotão militar que se aquartelava num dos anexos foi atacado, havendo a registar a morte de um furriel e um soldado, e três feridos de certa gravidade.

Às 8,30 horas do dia 11, a povoação de S. João, fronteira de Bolama, foi assaltada, sendo incendiadas algumas palhotas de nativos, sofrendo estragos as instalações da Sociedade.
Digno de nota, o facto de no centro comercial de Salancaur, além da Sociedade estarem representadas, também, a Casa Gouveia e Mário Lima, que nada sofreram com o assalto.

Atribuem-se os assaltos às instalações da Sociedade à circunstância de ser esta empresa aquela que mais estreitamente vem colaborando com as autoridades militares, facultando aquartelamentos para os seus efectivos, e proporcionando-lhes transportes terrestres e fluviais para munições e tropas.
Há, ainda, quem atribua os ataques a meros actos de vingança exercidos sobre os encarregados das sucursais, em consequência da exploração a que esteve sujeito durante longos anos o indígena das referidas propriedades.

Devemos informar que se trata de uma exploração em proveito do próprio encarregado, nunca autorizada nem aproveitada pela Sociedade Comercial Ultramarina.

Espera-se, para breve, a chegada à Província de dois batalhões, em reforço aos já existentes.
Bem necessários são, para que seja impedida, o mais rápido possível, qualquer infiltração às restantes zonas da Província, que felizmente continua alheia aos acontecimentos que se vão sucedendo no Sul".

O ofício de 1 de março de 1963 é de uma grande importância histórica, tenho para mim que é o primeiro documento em que refere que o Leste começa a ser subvertido, como se pode ser:

“Dando continuidade à transmissão a V. Exas. de informes até nós chegados e apelativos aos acontecimentos anormais de que esta Província vem sendo teatro, cumpre-nos informar o seguinte:
No setor Leste (Bafatá) tem havido certa actividade nas nossas tropas contra elementos terroristas radicados na área de Xime, posto de Bambadinca, cujas populações aderiram ao movimento, em quase todas as tabancas.

Na referida área actua um tal Domingos Gomes Ramos, estagiou numa escola militar de Pequim, na especialidade de guerra subversiva, que a despeito de intensas diligências levadas a cabo não foi ainda capturado, não obstante por diversas vezes ter sido localizado, pois o serviço de alerta de que dispõe facilita-lhe a fuga à aproximação dos nossos soldados.

No sector Sul (Catió e Fulacunda) tem-se verificado intensa actividade dos elementos terroristas nas regiões de Quínara e Tombali, onde estão presentemente em curso várias acções militares em grande escala, com a participação de fuzileiros navais e das forças aéreas e navais, com vista à eliminação de numerosos focos infecciosos conhecidos pelas nossas autoridades.

No sector Oeste (Fronteira Norte) tem havido por vezes pequenas incursões de elementos fixados ao longo da nossa fronteira e em território senegalês, têm sido reprimidas.

Consta-nos que as autoridades do Senegal, nomeadamente as do distrito de Casamansa, têm agido contra os chamados nacionalistas, não permitindo que o seu território sirva de base para ataques a esta Província.”

A 18 de março, o gerente de Bissau relata as operações militares no setor Sul, diz que são notícias que lhe chegaram através de fonte de origem oficial:

“A situação na referida situação da Província não é, de certo modo, tranquilizadora.
Os comerciantes estabelecidos no mato, de todas as raças, estão a abandonar as suas actividades procurando refúgio nas localidades onde se encontram sediadas as tropas que fazem a cobertura militar das suas áreas. De noite, dado que os nossos soldados recolhem aos aquartelamentos para organizarem a sua defesa, os terroristas têm campo livre para o desenvolvimento das suas nefastas actividades.

Ajudados pela configuração do terreno, conhecimento dos cursos de água e ocultos em densas, diríamos até impenetráveis florestas, de arriscado acesso e propícias a emboscadas, são inimigos invisíveis que só muito dificilmente e a troco de elevadas perdas, poderão ser desalojados dos seus esconderijos, mesmo, como ultimamente tem sucedido, com emprego de aviação militar em apoio das forças de terra, uma vez que sistematicamente se exime ao combate em campo aberto, onde certamente seriam desbaratados pelos elementos do nosso exército, inferiores em número ao que se diz.

Todavia, sempre que se lhes depara oportunidade, os nossos soldados dão-lhe caça e, como tal, em pequenos recontros têm infligido severas baixas.

Assim, damos nota de algumas acções do nosso exército:

28/2 – Abatidos 72 terroristas na região de Bambadinca – Bafatá, por tentativa de fuga à aproximação das nossas tropas;

3/3 – Um ataque conjunto das 3 armas encurralou um numeroso grupo de terroristas nas tabancas Gantongo e Ganfodé Mussa, tendo sido liquidados 160 nessa operação de limpeza;

9/3 – Em Finete – Bambadinca foram mortos 20 terroristas.

Infelizmente, noutras operações realizadas, houve perdas, ainda que ligeiras, do nosso lado.
Com efeito, em 1 de Março uma patrulha nossa da guarnição de Cabedu foi atacada entre Cafine e Cafal Balanta, resultando 1 morto e 1 ferido.

Também em 14 do corrente um grupo de terroristas atacou a camioneta da carreira Ziguinchor – S. Domingos, acerca de 1 km da nossa fronteira Norte. As nossas forças aquarteladas naquela localidade atacaram os assaltantes que atingiram mortalmente o Capitão António Lopo Machado Carmo, comandante da coluna, e ferindo 4 soldados sem gravidade.

A terminar, informamos que em 10 de Março, um pelotão sofreu uma emboscada perto de Empada. Não houve baixas da nossa parte, tendo infligido bastantes aos nossos adversários. Foi apreendida uma pistola-metralhadora russa.”

No acervo do Arquivo Histórico do BNU aparece um documento confidencial correspondente à deslocação do adjunto da administração da Sociedade Comercial Ultramarina à Guiné, entre 1 e 13 de abril de 1963, é uma preciosidade, como iremos ver.

(Continua)

Obras do Palácio do Governo, ainda numa fase inicial.
Imagem inserida no livro “Guiné, Início de um Governo”, 1954, obra hagiográfica dedicada ao Governador Mello e Alvim.

Máscara LUMBE.
Inserida no livro “Esculturas e Objetos Decorados da Guiné Portuguesa”, por Fernando Galhano, Junta de Investigações do Ultramar, 1971.
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Notas do editor

Poste anterior de 14 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19291: Notas de leitura (1131): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (64) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 17 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19300: Notas de leitura (1132): “O Homem do Cinema, A la Manel Djoquim i na bim”, por Lucinda Aranha Antunes; edição da Alfarroba, 2018 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19312: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (7): Dois heróis da FAP, que por acaso são também o casal mais... 'strelado' do mundo: Miguel e Giselda Pessoa (BA 12, Bissalanca, 1972/74)


Cartoon: © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados.


Miguel e Giselda Pessoa, 2018. Foto: LG
1. Mensagem do casal mais 'strelado' do mundo, o Miguel Pessoa,  ex-ten pilav, BA 12 ( Bissalanca, HM 241 (Lisboa) e  Bissalanca, 1972/74), hoje cor ref, e a ex-anfermeira srgt paraquedista , hoje ref,  Giselda Pessoa (BA 12, Bissalanca, 1972/74)


Olá, pessoal

Pensei duas vezes antes de enviar esta mensagem pois, com as mazelas que fui arranjando, o esqueleto já dá sinal pelo que não sei se estou bem vivo. Pelo menos estou mal morto...

E já não se pode confiar na árvore de Natal!...

Abraço a todos... e um 2019 com saúde .

Miguel Pessoa

PS - E a Giselda, que vai tratando de mim, também manda um beijinho.
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Nota do editor:

Ultimo poste ds série > 21 dezembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19311: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (6): António Sousa de Castro, o nosso histórico tertuliano nº 2, ex-1º cabo radiotelegrafista, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74)

Guiné 61/74 - P19311: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (6): António Sousa de Castro, o nosso histórico tertuliano nº 2, ex-1º cabo radiotelegrafista, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74)


Cartão de boas festas 2018



Guiné > Região de Bafatá > Setor L1  (Bambadinca) > CATT 3494 (1971/74) > Xime > 1972: Feliz Natal e Próspero Novo... O postal de Natal da praxe, que se mandava aos familiares e amigos. O pessoal da CART 3494 e do respetivo batalhão (BART 3873) passou 3 Natais for de casa (um no N/M Niassa, o 1972 no Xime e o 1973 em Mansambo).

Fotos (e legendas): © Sousa de Castro (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar]


Está vivo e recomenda-se o nosso tertuliano nº 2, um histórico do nosso blogue, [António Sousa de Castro, foto à esquerda, 15 anis mais novo, em 2003]:

(i) ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, 1971/74;

(ii) esteve no leste, no setor L1 (Xime e Mansambo);

(iii)  está reformado como trabalhador  dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo

(iv) vive em Vila Fria, Viana Do Castelo, Portugal

(v)  é natural de  Caminha; e faz anos a 15 de dezembro;

(vii) tem mais de 150 referências no nosso blogue; o seu primeiro poste foi pubicado em 22/4/2005;

(viii) tem página no Facebook desde dezembro de 1971;

(ix) foi  p fundadior, em maio de 2008, e é o  administrador e edita do sítio CART 3494 & Camaradas da Guiné;

A CART 3494, colocada no setor L1 (Bambadinca), no subsecor do Xime, foi transferida em Março/73 para Mansambo; fez parte do BART 3873, que veio render o BART 2917; era omposto pelas unidades da CCS  (Bambadinca), CART 3492  (Xitole9 e CART 3493 (Mansambo, transferida em 1 de abril de 1973 para Cobumba, ficando operacionalmente subordinada ao COP 4; unidade mobilizadora: Regimento de Artilharia Pesada 2 (RAP 2) Vila Nova de Gaia; embarque  a 22/12/1971no  N/M Niassa, regresso 3/4/1974 (por via aérea).

Teve 3 comandantes: Cap Art Victor Manuel da Ponte Silva Marques; Cap Art António José Pereira da Costa (Agosto de 1972); Cap Mil Luciano Carvalho da Costa (Novembro de 1972).

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de dezemrbo de 2018 > Guiné 61/74 - P19310: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (5): Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); entrou para o nosso blogue há um ano.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19310: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (5): Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); entrou para o nosso blogue há um ano.



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >  Dezembro de 1967 >  "Feliz Natal: Noite de Natal, Noite Fria, tão gelada / Tocam os sinos / É noite de Consoada... Guiné 67".

[Cartaz com uma mensagem de Natal, obra produzida e realizada pelo furriel miliciano Rocha, ‘o "Algarvio" . Fez várias de outros formatos, ele desenhava, escrevia o poema, depois arranjava os cenários. Da minha parte fiz pelo menos uma centena de fotos destas, e de outros formatos, mudava apenas o personagem o resto era igual. Depois cada um mandou para as suas famílias um postal ilustrado. Coloquei esta, mas há muitas mais. O fotógrafo era eu.Foto captada em Nova Lamego, provavelmente na primeira ou segunda semana do Dezembro 67].

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira  (2018). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de 14 de dezembro de 2018, do nosso camarada Virgílio Teixeira, 

(i) ex-alf mil, SAM - Serviço de Administração Militar;

(ii) fez parte da CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69);

(iii) tem mais de um centena de referências no nosso blogue:

(iv) é economista e gestor de empresas, reformado;

(v) natural do Porto, vive em Vila do Conde;

(vi) entrou para o nosso blogue em 19/12/2017, é o nosso grã-tabanqueiro nº 763 (*);
 
(vii) foto acima, à esquerda, com a esposa, Manuela, na Tabanca de Matosinhos, Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei), 5 de setembro de 2018 (Foto: LG).


"Camaradas, estou vivo!...
Aqui vai a minha prova de vida!"

Mensagem de Natal 2018

GUINÉ 1968/2018 – Aniversário dos 50 anos
GUINÉ 1967/2018 – Aniversário dos 51 anos

A toda a minha família, por ainda me conseguirem aturar ao longo de 51 anos;

Aos ex-militares do meu batalhão (BCAÇ 1933) que ainda estão vivos, e aos familiares daqueles que já partiram para a sua derradeira comissão de serviço;


A todos os militares e famílias daqueles que passaram pelo terrível  cenário da Guiné, em particular para aqueles 47 homens que morreram na travessia da jangada do Rio Corubal, nas margens de Cheche, em 6 de fevereiro de 1969, da CCAÇ 1790, do meu batalhão (e da CCAÇ 2405, do BCAÇ 2852);

A todos os militares e famílias daqueles que de algum modo participaram na nossa 'Grande Guerra' de África;

A todos os camaradas e famílias do Blogue  que é a nossa história que nunca vamos esquecer;

Ao povo da Guiné que também sofreu por causa desta guerra;

A todos quero expressar, sincera e humildemente, a minha solidariedade desinteressada, pelo sofrimento de que ainda somos vítimas, com desejos de muita saúde, felicidade e amor, e que Deus nos recompense a todos, já que o Homem e o Estado não são capazes de o fazer.


Bom Natal de 2018
Feliz Ano Novo de 2019 (**)


Virgílio Teixeira
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de dezembro de  2017 > Guiné 61/74 - P18107: Tabanca Grande (454): Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); economista reformado, vive entre Vila do Conde e o Porto; grã-tabanqueiro nº 763

(**) Último poste da série > 19 de dezembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19306: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (4): Jorge Picado (ex-cap mil, CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá, e o CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72)

Guiné 61/74 - P19309: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (2): 2 - Os Pelotões de Reconhecimento que estiveram em Gadamael (continuação)




1. Segunda parte do trabalho sobre os Pelotões Independentes que estacionaram em Gadamael, da autoria do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67).











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Nota do editor

Poste anterior de 6 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19261: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (1): 1 - O contexto operacional e 2 - Os Pelotões de Reconhecimento que estiveram em Gadamael

Guiné 61/74 - P19308: Parabéns a você (1544): José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp das CCAV 8350 e CCAÇ 11 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19304: Parabéns a você (1543): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e João Melo, ex-1.º Op Cripto da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19307: Historiografia da presença portuguesa em África (141): As tribos da Guiné Portuguesa na História, pelo Padre A. Dias Dinis (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
Naqueles anos de 1946 e 1947 falava-se fluentemente em tribos, em gentio, em incivilizados, em raças. O conhecimento histórico era nebuloso, a historiografia sobre África, e sob impulso das escolas francesas, inglesas e alemã, está a dar os seus primeiros passos firmes. O que se conhece é a literatura de viagens, ao recurso a relatórios, alguns trabalhos de campo como os que foram assinados pelo Padre Marcelino Marques de Barros.
A Agência Geral das Colónias e a Sociedade de Geografia de Lisboa procuram suprir lacunas. O Padre Dinis Dias, diga-se em abono da verdade, trabalhou que se fartou, leu Zurara, André Álvares de Almada, Valentim Fernandes, a obra do antigo governador Carvalho de Viegas, não podemos acusá-lo de que trabalhou às três pancadas, inclusivamente leu uma importante obra do seu tempo, Histoire de l'Afrique Occidentale Française, de J. L. Monod, de 1937. Depois dele, tudo seria mais fácil, quando o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa passou a produzir obras que ainda hoje são de referência na historiografia guineense.

Um abraço do
Mário


As tribos da Guiné Portuguesa na História, pelo Padre A. Dias Dinis (3)

Beja Santos

O padre franciscano A. Dias Dinis viveu cerca de seis anos na Guiné e empolgou-se com as questões do mosaico étnico, em 1946 produziu um trabalho que iria ser publicado em quatro números de “Portugal em África, Revista de Cultura Missionária”. É bem percetível que procurou estudar e conhecer o que de mais recente fora publicado nos domínios da História, da Antropologia, Etnologia e Etnografia. Neste último texto far-se-á referência ao que ele observou e estudou dos Bijagós, Nalus, Fulas e Futa-Fulas.

Diz que o nome de Bijagós é relativamente tardio, remontavam a 1462 as primeiras notícias dos portugueses sobre aqueles indígenas, então observados pelo navegador Pedro de Sintra. Cadamosto também escreveu sobre os Bijagós dizendo que numa das ilhas “tinham desembarcado e falado com os seus negros, mas que não puderam ser entendidos; e que andaram algum tanto pela terra dentro, até às suas habitações, que eram choupanas de palha pobríssimas, em algumas das quais acharam estátuas de ídolos de madeira; pelo que deles puderam compreender, estes negros são idólatras e adoram aquelas estátuas; e, não podendo ter nem entender outra coisa deles, seguiram a sua viagem pela costa mais avante, e tanto caminharam que chegaram à boca de um grande rio largo…”. Nos mapas primitivos, o arquipélago dos Bijagós tinha o nome de «Ilhas de Buam». Valentim Fernandes refere-se a estas mesmas ilhas com tal nome dizendo que eram povoadas e abastadas de mantimentos. Para este autor missionário, Mármol seria o primeiro autor a usar a palavra Bijagós na forma de Bigiohos. André Alvares de Almada dedica um capítulo aos Bijagós, diz que eram muito guerreiros, que andavam continuamente em luta, assaltando as terras dos Brames e dos Biafadas. Almada informa não haver rei entre os Bijagós. Os homens ocupavam-se em três coisas: guerra, fazer embarcações e tirar vinho das palmeiras e diz que “As mulheres fazem as casas e as searas, pescam e mariscam e fazem todo o mais serviço que fazem os homens em outras partes”. Descreve a indumentária, faz alusão à facilidade com que o Bijagó se suicida, descreve os seus produtos. Mantem-se em aberto a questão posta pelo autor: De onde terão vindo os ascendentes dos Bijagós atuais?

Os Nalus habitam as regiões de Tombali e de Cacine, Valentim Fernandes, Duarte Pacheco Pereira e Almada fazem deles esparsas referências. Almada diz que os Nalus na linguagem e no traje eram muito diferentes dos vizinhos Biafadas. Há referências aos escravos Nalus que chegavam por intermédio dos Biafadas de Cubisseco e de Bolola e que recebiam o chumbo como a mais apreciada das mercadorias. Ainda segundo Almada, os Nalus acreditavam que as suas almas andavam metidas em animais ferozes e que morrendo o animal também morriam as suas almas. Os Nalus teriam vindo a ser progressivamente rechaçados primeiro pelos Biafadas e depois pelos Balantas, acomodando-se na apertada região onde hoje habitam.

Estranhamente, o Padre Dias Dinis é muito lacónico acerca dos Fulas e Futa-Fulas. Diz que são os Peuls do território francês. Diz que entraram para a nossa colónia em data incerta, mas relativamente recente. Terão feito parte do grande Império Fula, um império que principiava no rio Senegal e se estendia para o Sudão, em concorrência com o império dos Mandingas. Nos primeiros anos do século XVI, segundo conta Almada, os Fulas atacaram os Mandingas da Gâmbia e desceram até ao rio Geba onde foram destroçados. Os Fulas são gente fortemente mestiçada, acobreados e de feições corretas, geralmente.

E faz a seguinte referência aos Futa-Fulas, diz que são provenientes do Futa-Djalon, enviados outrora ao Forreá pelos almanis, para extensão da sua supremacia política pela nossa Colónia, são os indígenas de feições mais corretas que topámos na Guiné Portuguesa. Representam o tipo mais aproximado do Fula clássico.

E procede às seguintes conclusões:

1. Os autores propriamente Quatrocentistas, como Zurara, Cadamosto, Martinho da Boémia e Jerónimo Münzer não aludem ainda às etnias da Guiné Portuguesa;

2. Roteiros do século XV, recolhidos nos primeiros anos do século XVI por Valentim Fernandes Alemão e ainda a obra de Duarte Pacheco Pereira inserem referências, por vezes minuciosas às etnias Mandinga, Felupe, Balanta, Banhum, Biafada e Nalu;

3. Nos fins do mesmo século XVI, André Alvares de Almada refere-se já à situação geográfica, usos e costumes dos Mandingas, dos Arriatas, dos Felupes, dos Jabundos, dos Cassangas, dos Brames, dos Fulas, dos Sapes, dos Balantas, dos Biafadas, dos Bijagós, dos Nalus, dos Bagas e Cocolis;

4. Algumas destas etnias desapareceram do território português atual, fundiram-se com outras ali existentes ou mudaram simplesmente de nome, caso dos Arriatas, dos Jabundos, dos Bagas e dos Cocolis;

5. Os dados históricos, geográficos e etnográficos parecem permitir a identificação dos atuais Papéis com os antigos Sapes, oriundos da Serra Leoa e entrados na Guiné no século XVI;

6. Parece ter havido, no mesmo século, uma grande invasão Mandinga para dentro da Guiné, impelida por uma maior invasão Fula, partida da Gâmbia e que atingiu o rio Geba, não ficando porém no território os invasores Fulas; a mancha geográfica e a influência político-religiosa dos aguerridos Mandingas alastrou, desde o século XVI, por todo o Norte e Centro do colónia, descendo até às regiões do Quínara e do Cubisseco, mancha e influência a pouco e pouco reduzidas aos retalhos atuais, sobre a pressão da recente invasão Futa-Fula.

7. São de formação ou de aparecimento muito recente na colónia, as tribos dos Baiotes e dos Manjacos, devendo constituir os primeiros uma subdivisão dos Felupes e mostrando-se aparentados os segundos com os Brames e Papéis.

8. As presentes notas provam que é possível reconstituir, em boa parte ao menos, a evolução histórica e etnográfica das principais etnias da atual Guiné, com base nos autores nacionais e estrangeiros dos séculos passados, especialmente nos relatos de viagens à costa da Guiné.

9. Documentam ainda terem sido poucas as deslocações das etnias da colónia, entre os séculos XV e XX, assim como o facto de elas haverem mantido sensivelmente os mesmos usos e costumes, ou seja, o mesmo nível de civilização primitiva.

E assim termina o trabalho deste franciscano que devotou alguns anos da sua vida nas missões da Guiné.

 A Senhora de África

Imagem retirada do jornal “O Comércio da Guiné”, abril de 1931.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19281: Historiografia da presença portuguesa em África (139): As tribos da Guiné Portuguesa na História, pelo Padre A. Dias Dinis (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19306: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (4): Jorge Picado (ex-cap mil, CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá, e o CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72)



Ílhavo > Costa Nova > 21 de agosto de 2012 > De costas, o nosso grã-tabanqueiro Jorge Picado, nosso comum amigo, meu e do Zé António Paradela... Ultimamente tenho falhado: por exemplo, este verão não fui "partir mantenhas" com os meus amigos da Costa Nova: o Jorge Picado, o João Vizinho, o Tibério Paradela, o Zé António Paradela & família...


Ílhavo > Costa Nova > 21 de agosto de 2012 > Ao centro, eu e o Zé António Paradela, arquiteto; e à nossa esquerda, a Alice Carneiro e a Matilde Henriques (esposa do Zé António); à nossa direita, o Jorge Picado e o Jorge Paradela, o caçula do casal Zé António & Matilde. A foto foi tirada pelo filho mais velho, o Marco Henriques Paradela, que anda agora na "tropa do bacalhau"...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem, com data de ontem, 18 de dezembro de 2018, às 22:09, de Jorge Picado:

(i) ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72; 

(ii) tem mais de uma centena de referências no nosso blogue; 

(iii) entrou formalmente para a nossa Tabanca Grande há 10 anos; 

(iv) nasceu em 1937, em Ílhavo, e foi dos poucos que não fez a "tropa do bacalhau";

(v) engenheiro agrónomo reformado; avô babado; no verão a sua tabanca é a Costa Nova (*)


Aproveito para fazer a minha Prova de Vida (**), pois que, apesar de pouco "falador", por aqui vou passando quase diariamente e, quanto ao meu "estado", lá me vou aguentando e tenho mesmo de me dar por feliz, já que a saúde vai sendo bastante razoável para "as luas" que carrego.

Por isso, para todos vós, companheiros, amigos e camaradas, os meus Votos de Um Bom Natal, Feliz Ano de 2019, na companhia de todas as vossas Gentes e sobretudo com muita Saúde, Alegria e Poucos Roubos daqueles que parece que só vivem para isso. Vocês entendem.

Jorge Picado
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 9 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2736: Tabanca Grande (60): Apresenta-se o Jorge Picado, ilhavense, ex- Cap Mil, CCAÇ 2589, CART 2732 e CAOP 1 (1970/72)

Vd. também postes de:

28 de setembro de  2008 > Guiné 63/74 - P3248: Eu, capitão miliciano, me confesso (1): Engenheiro agrónomo, ilhavense, 32 anos, casado, pai de 4 filhos... (Jorge Picado)

30 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10596: Memória dos lugares (194): Ilhavo, Costa Nova... a terra do meu amigo e irmão mais velho e, porque não ?, meu camarada, o arquitecto Zé António Paradela, que hoje celebra 3/4 de século de existência, antigo marinheiro da pesca do bacalhau, último representante de um povo que tem o mar no ADN!... (Luís Graça)

(**) Último poste da série > 17 de dezembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19301: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (3): Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 (Xime, Pte R Udunduma e Mansambo, 1972/74)

Guiné 61/74 - P19305: Tabanca Grande (472): Carlos Silvério, natural de Ribamar, Lourinhã, ex-fur mil at cav, CCAV 3378 (Olossato e Brá, 1971/73)... Senta-se finalmente à sombra do nosso poilão no lugar nº 783, o número (azarento) do seu tempo de recruta na EPC, em Santarém...


Oeiras > Algés > 35.º almoço-convívio da Tabanca da Linha > 18 de janeiro de 2018 > "O Carlos Silvério, meu amigo, camarada, vizinho e conterrâneo... Veio com a prima Zita. O casal é lourinhanense, vive em Ribamar... 'Periquitos', na Tabanca da Linha. Ele, furriel miliciano, da CCAV 3378, andou pelo Olossato e por Brá (Bissau), entre abril de 1971 e março de 1973. A Zita viveu com ele em Bissau, de agotso de 1972 a março de 1973.

Foto: © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Carlos Silvério Silva, que passa a ser o grã-tabanqueiro nº 783 :

Data: 14/12/2018, 17:22

Assunto - Formalização do pedido de entrada para a Tabanca Grande

Camarada e amigo Luís Graça, aqui vai o texto prometido.

Tendo vindo a participar em alguns "Encontros Tabanqueiros", nomeadamente o último da Tabanca Grande em Monte Real e vários outros da Tabanca da Linha, chegou a hora de solicitar ao Tabanqueiro-Mor a minha adesão formal.

Sou o ex-fur mil Carlos Silvério Silva, com o seguinte percurso militar:

(i) EPC, Santarém (destacamento): Recruta do CSM. Abril - junho/70;

(ii)  CISMI, Tavira: Especialidade de atirador. Junho - setembro/70;

(iii) RI 5, Caldas da Rainha: Monitor de recruta do CSM.  Setembro - dezembro /70;

(iv) RC 3,  Estremoz: Monitor de especialidade de atirador. Janeiro - fevereiro/71;

(v) BCAÇ, Portalegre: Formação da Companhia de Cavalaria 3378 [, CCAV 3378,]  com destino à Guiné;

(vi) Embarque no Paquete Angra do Heroísmo em 3  de abril de 71 , [viajando com o  BCAV 3846, composto pela CCAC 3366 (Susana, Cumeré), CCAV 3364 (Ingoré, Cumeré) e CCAV 3365 (S. Domingos, Cumeré); a  unidade mobilizadora era também  o RC 3; o Comando e a CCS ficarm em Ingoré. Cmdt do batalhão: ten cor cav António Lobato de Oliveira Guimarães]; 

(vii) Desembarque em Bissau a 9 de abril de 71;

(viii) Estadia no Cumeré de 9 de abril a 13 de maio 71 a cumprir o IAO;

(ix) Chegada ao Olossato em 13 de maio de 71;

(x) Saída do Olossato para Safim, João Landim e Brá (Combis) em 26 de maio de 72;

(xi) Embarque no Uíge em 24 de março de 73 de regresso a Lisboa;

(xii) A CCAV 3378, mobilizada pelo RC 3,  teve 2 Eugénio Manuel Bilstein de Meneses Sequeira; e Cap QEO Carlos Alberto de Araújo Rollin e Duarte.



Guiné > Região do Oio > Olossato [?] > c.  1971/73 >  CCAV 3378 >  O fur mil at cav Carlos Silvério.

Fotos: ©  Carlos Silvério (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

As primeiras semanas na Guiné não foram fáceis. Apesar de alertados para algumas dificuldades climatéricas, aquela temperatura, e principalmente aquela humidade, que quase não nos deixava respirar, foi um choque brutal.

Psicologicamente fomos marcados por dois episódios:

1º - A morte do capitão graduado 'comando' João Bacar Jaló, comandante da 1ª companhia de comandos africanos, ocorrida precisamente uma semana após a nossa chegada. Não se falava noutra coisa em Bissau. Toda a gente queria saber as circunstâncias e as consequências desta perda.

2º - Mais dramático que o anterior, pois tocava-nos directamente. Tínhamos dezanove dias de Guiné. Estávamos em pleno IAO, estacionados em círculo numa clareira duma mata próxima de Nhacra. Cada homem da companhia tinha cavado o seu abrigo. Após o jantar muitos de nós ficámos a conversar com o vizinho do lado ou em pequenos grupos no interior do estacionamento.

Por volta das 22 horas [, do dia 28 de abril de 1971,] alguém abriu fogo e só parou depois de disparar a última bala do carregador. Gerou-se uma grande confusão porque ninguém entendeu o que se estava a passar. Deste incidente resultou a morte do nosso camarada alf mil cav João Francisco Synarle de Serpa Soares (filho de um antigo comandante da EPC, coronel Serpa Soares). Quando a situação acalmou, chegámos à conclusão que o alferes Serpa Soares tinha resolvido fazer uma ronda pela periferia do estacionamento levando a G3 nos braços como se de um bebé se tratasse.

Um dos soldados que estava de sentinela viu aparecer um vulto e sem tentar perceber de quem se tratava, crivou a G3, o tórax e o abdómen do alf Soares provocando-lha a morte imediata. Digamos que não foi um começo auspicioso.

Oportunamente enviarei mais alguns episódios não tão dramáticos como este.

Abraço,
Carlos Silvério.

PS - Seguem três fotos do tempo da tropa e da Guiné


Lisboa > Hotel Travel Park > 11 de novembro de 2018 > Sessão de apresentação do livro "Voando sobre um ninho de Strelas", do ten gen ref António Martins de Matos > Dois representantes da Tabanca do Porto Dinheiro, Lourinhã, à direita o régulo, o Eduardo Jorge Ferreira (ex-alf mil da Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, de 20 de janeiro de 1973 a 2 de setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre); e à esquerda o Carlos Silvério, já na altura assinalado como "o nosso próximo grã-tabanqueiro nº 783"...

Fotos: © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentário de LG:

Carlos, meu amigo, camarada,  conterrâneo e... primo:

Tenho um triplo ou quádruplo prazer em te acolher na Tabanca Grande. Há muito que esperava por este gesto. Respeitei o teu "timing", imposto por razões que já antes havias partilhado com o Carlos Vinhal e comigo: querias sentar-te à sombra do nosso poilão no lugar nº... 783 (*).

Custou mas foi. O lugar é bem merecido (**). E este blogue é teu, é nosso. Sei que és um leitor fiel. E nós ficamos à espera das prometidas histórias que ainda tens na tua memória.

Ficas a saber que és o primeiro representante da tua companhia a integrar formalmente a Tabanca Grande. Tens a responsabilidade, acrescida, de divulgar o blogue e de trazer mais camaradas para se sentarem contigo e connosco debaixo do nosso poilão, mágico, fraterno e protetor.

Sobre a tua CCAV 3378 sabemos pouco, temos poucas referências no nosso blogue. Mais uma razão para continuares a escrever sobre ti e os teus camaradas.

Quanto ao nosso parentesco (por afinidade)... Estás casado com a Zita, e a Zita e eu temos em comum dois bisavós, que eram irmãos, nascidos na década de 1860, em Ribamar, Lourinhã, pertencentes ao "clã Maçarico":

(i)  o bisavô dela chamava-se  Joaquim Filipe Maçarico, casado com Maria Feliz, que tiveram quatro filhos, incluindo a Iria da Conceição, que será avó paterna da Zita;

(ii) a minha bisavó paterna, irmã do Maçarico (só os rapazes é que tinham o apelido Maçarico) chamava-se Maria Augusta (1864-1920), que foi casar na Lourinhã com Francisco José de Sousa (1864-1939): o casal teve 7 filhos, incluindo a minha avó, paterna, Alvarina de Sousa [que morreu de tuberculose em 1922, tinha o meu pai, Luís Henriques (1920-2012),  dois anos].

Portanto, as nossas avós (paternas) eram primas direitas, a Iria  e a Alvarina.. Não vale a pena ir mais longe, mas sabemos pelo menos os nomes dos pais e dos avós dos nossos bisavós, ou sejam, os nossos trisavós (nascidos por volta de 1830) e os nossos tetravós (nascidos por volta de 1800)...

Um alfabravo fraterno, um beijinho para a Zita.  Feliz e Santo Natal para toda a família. LG
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18904: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (108): O Carlos Silvério, nosso futuro grã-tabanqueiro... n.º 783... Encontrei-o na Lourinhã e ele contou-me o seu... "segredo" ... Também me disse que morou em Bissau, na rua do "Chez Toi", quando lá esteve, casado, com a Zita, em 1972/73...

(...) O 783 era o seu número de soldado-instruendo na recruta, em Santarém. Acabada a recruta, e quando ele se preparava para ir uns dias de férias, andava a passear com a sua Zita nas ruas de Santarém, quando passa rente a um major de cavalaria... Distraído com a namorada, mal deu conta dos galões amarelos do oficial superior que lhe fez a tangente... Mas ainda foi a tempo de se virar e de lhe bater a pala... O major continuou o seu caminho, mas, matreiro ou sacana, foi dar uma volta e, logo mais à frente, virou em sentido contrário para o apanhar de frente. O Carlos desta vez não foi apanhado desprevenido e fez-lhe, corretamente, a devida continência... Mas o senhor oficial estava mesmo determinado em lixá-lo. Tirou-lhe o número (o 783) por causa da desatenção anterior.

Resultado: quando o Carlos Silvério chegou ao quartel, já tinha a participação do major... Enquanto o resto do pessoal (cerca de 400) foi gozar uns merecidos dias de licença em casa, o Carlos ficou de castigo no quartel... Seguindo depois diretamente, de Santarém para Tavira, para o CISMI, numa penosa viagem de comboio que levou toda a noite, ...

Compreensivelmente, o Carlos Silvério "ficou com um pó" aos oficiais de cavalaria, em geral, e aos majores, em particular, nunca mais se esquecendo do seu azarento n.º 783 da recruta em Santarém. Ele é primo do tenente general reformado Jorge Manuel Silvério, nascido em Ribamar, em 1945, e já lhe contou em tempos esta peripécia que o deixou desgostoso em relação à instituição militar. (...)


Guiné 61/74 - P19304: Parabéns a você (1543): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e João Melo, ex-1.º Op Cripto da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 17 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19298: Parabéns a vocês (1542): Francisco Henriques da Silva, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19303: Memórias de Gabú (José Saúde) (74): Na Messe de Sargentos em Quadra Natalícia. Natal de 1973 (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.
Gabu em memórias 

Na Messe de Sargentos em Quadra Natalícia Natal de 1973

Uf, como o tempo passa! Nada a contrapor. A lei da vida assim o declara. 45 anos volvidos e relembro o Natal de 1973 em Gabu. Confesso que a Quadra Natalícia sempre me preencheu a alma. Aquela, porém, teve contornos literalmente desiguais.

A noite da consoada deixou-me eternas recordações. Lá longe, num outro ambiente, a família juntava-se à volta de um lume no chão e cumpria a tradição. Era a noite do Menino. Ali a festa era outra. A malta não se deliciava com as filhoses da avó, não comia o ensopado do galo à meia-noite, não sujava os lábios com os finos e doces de chocolates e nem tão-pouco contemplava as prendas deixados no sapatinho pelo Menino Jesus a um canto da chaminé. Ah, naquele tempo, o meu, pouco se falava do “Pai de Natal” montado num trenó puxado por renas.

O Natal desse ano em Gabu, foi, para nós, inteiramente adverso àquele que marcou a minha/nossa infância. Recordo que os momentos de festa nos palcos de guerra deixavam antever preocupações acrescidas, logo, havia que respeitar e estar atento a qualquer sinal de alerta. 

Tanto mais que o IN, nos períodos em que o pessoal se acomodava, tendo em linha de conta ao momento festejado, colocava em ação manobras ofensivas que visavam somente privilegiar o fator surpresa. Os ataques noturnos aos aquartelamentos eram frequentes. 

O certo é que a noite de 24 para 25 de dezembro esteve ao rubro. Saboreou-se o fiel amigo, regado magistralmente com o famoso líquido dos deuses e houve um ataque de
“mão armada” às garrafas de whisky que se perfilhavam na prateleira do bar em posição de autodefesa. Algumas tombaram, outras pediram clemência. 

Nos ardis da noitada lá se foi distribuindo o precioso fluido em copos finos fornecidos pelo camarada que entretanto assumia a tarefa por detrás do balcão. Uma Ballantines velha – 12 anos – custava, naquela época, qualquer coisa como 60 escudos, se a memória não me falha. O seu beber era divinal. Aliás, a destilação era feita em pleno coração da Escócia, logo tinha o selo garantido. 

No dia 25, data do miraculoso Natal, o 2º Sargento da nossa messe, de nome Martins, um alentejano de Elvas, brindou-nos com um almoço reforçado e a malta divertiu-se à brava. Momentos imperdíveis que jamais esqueceremos e ocorridos em pleno palco de guerra. 

Uma mesa bem recheada, refeição reforçada com comes e bebes à farta. Nada falhou. 

Aliás, aquela messe, depois do 2º sargento Martins assumir o seu comando, iniciou uma outra fase em que o pessoal não teve nenhuma razão de queixa. 

Reconheço que o “Natal é sempre quando um homem quiser”, mas aquele passado em Gabu no ano de 1973 foi diferente. Razão que me levou à elaboração de um pequeno texto que visa o recordar o quão diferente foi aquele passado sob um calor intenso e num clima de guerra. 

Camaradas, Bom Natal e um Feliz Ano Novo!...

O almoço recomendava-se.




Messe de Sargentos em dia de almoço natalício reforçado. Em pé o então 2º sargento Martins, o homem que geria a messe. 

Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.

Vd. último poste desta série em:

12 DE DEZEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P19283: Memórias de Gabú (José Saúde) (73): Ambulância apanhada ao PAIGC (José Saúde)