quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22433: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte V: A lenda de Sundiata Keita



A lenda de Sundiata Keita  (pp. 28-41). Ilustracão: mestre Augusto Trigo, pág. 29



1. Transcrição das págs. 28 a 41 do livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau", com a devida autorização do autor (*)

J. Carlos M. Fortunato > Lendas e contos
da Guiné-Bissau


[Foto abaixo: o autor, Carlos Fortunato, foi fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, é o presidente da direcção da ONGD Ajuda Amiga]



CarçpsFotunato


A lenda de Sundiata Keita


Estava certo dia o Mansa(Rei) (15) do Mali, Naré Maghan Kon, também chamado “leão do Mali”, a descansar na sua tenda, quando dois caçadores, acompanhados de uma jovem corcunda e feia, se aproximaram e pediram autorização para lhe entregar uma prenda.

Grande Mansa, vimos de uma terra onde um búfalo terrível devastava udo. Nós matamo-lo, mas o seu espírito encarnou nesta mulher, que é feia, mas forte e corajosa, por isso a trouxemos para você casar com ela, pois o filho que ela lhe der tornará grande o Mali. O nome dela é Sagolom  disse um dos caçadores.

 O filho de um leão e de um búfalo serão poderosos de verdade - sussurrou o djali bá  (conselheiro) (16) ao Mansa Maghan.

O Mansa casou-se com Sagolom, e no ano seguinte, ela deu à luz um menino. Todos se alegraram, menos Sassouma Bérété, a primeira esposa do Mansa.

 Maghan já tem o meu filho como seu herdeiro. Que necessidade tem ele de outro? Porque foi casar com aquela mulher horrível? Porque o meu filho não pode ser o Rei? O que vai ser de mim e do meu filho?   Sassouma, amargamente, pelos corredores do palácio.



Ilustracão: mestre Augusto Trigo, pág. 30


Mas o novo príncipe, Sundiata, embora tendo o espírito do búfalo e do leão, não conseguia andar.

Durante anos Sagolom tentou em vão curar o seu filho com mésinhos (17), mas Sundiata arrastava-se de gatas pelo palácio, ignorado por uns, ridicularizado or outros, deixando a sua mãe desolada e o seu pai desesperado, apenas o djali bá do Mansa lhes dava esperança.

Doente e sentindo que a morte se aproximava, o Mansa Maghan ordenou que Sundiata fosse trazido à sua presença:

  Meu filho,  já estou velho e os meus dias estão a terminar. Está na altura de tu, como futuro Mansa teres o teu djali bá. Este é Bala Fasséké, o seu pai foi meu djali bá, e ele será o teu. Ele irá ajudar-te no teu reinado  –disse o Mansa.

Quando o Mansa Maghan morreu, o Conselho dos Homens Grandes não respeitou a decisão do Mansa de nomear Sundiata como seu sucessor, e nomeou o filho de Sassouma , como novo Mansa.

Cheia de orgulho, a agora poderosa Sassouma insultou a mãe de Sundiata e expulsou-a do palácio, bem como a Sundiata e aos seus irmãos.

Sundiata, vendo a sua mãe em lágrimas, ordenou a Bala que lhe fosse buscar uma vara de ferro. Quando Bala voltou, Sundiata, apoiando-se na vara com ambas as mãos, levantou-se e ficou de pé, sem qualquer apoio, ficando a vara vergada com a força que Sundiata fez.

Uma multidão reuniu-se espantada quando Sundiata deu um passo, depois outro, e outro, e Bala gritou: 

 
– Abram caminho! Abram caminho! O leão está a andar!

Aos sete anos, Sundiata começava finalmente a andar, o que encheu de alegria a sua mãe.

Quando Sassouma ouviu as notícias sobre a caminhada e a força de Sundiata, ela temeu que ele agora fosse desafiar o seu filho pelo lugar no trono, e decidiu matá-lo. Depois pensou melhor e decidiu aguardar, pois Sundiata não tinha quem o apoiasse na conquista do trono, e com o tempo o seu jovem filho ganharia cada vez mais poder, e seria mais fácil destruir Sundiata.

Quando Sundiata fez dez anos, Sassouma achou que era a altura de se vingar de Sundiata e da sua família. Assim enviou primeiro Bala para a corte do terrível Mansa Sosso, Sumanguru, para Sundiata não ter ajuda do seu djali bá.


Ilustracão: mestre Augusto Trigo, pág. 32

Sumanguru era um poderoso feiticeiro, conhecido pela sua maldade e magia, cujo grande exército era muito temido. Sumanguru ficou impressionado com a inteligência e habilidade do jovem Bala, e resolveu mantê-lo ao seu serviço para sempre.

Sundiata ficou zangado e triste com o destino do seu amigo e conselheiro, mas seguiu as sábias palavras de sua mãe:

 Meu filho, temos que deixar o Mali. Aqui corremos muito perigo, porque Sassouma agora é muito poderosa, e vai matar-nos a nós e à nossa família. Temos que fugir. Um dia voltarás para o lugar que te pertence.

Naquela noite, Sagolom e os seus filhos deixaram tudo, e partiram à rocura de um reino que lhes desse abrigo. Durante sete anos, a família viajou, indo de reino em reino, a pedir ajuda.

Alguns dos governantes dos lugares por onde Sundiata passava negavam-hes abrigo e as portas eram fechadas, pois tinham medo das represálias de Sassouma.

A juventude de Sundiata foi uma permanente viagem, mas isso deu-lhe muitos conhecimentos e muitos amigos, e com o tempo o seu corpo tornou-se também forte, transformando-se num guerreiro poderoso.

Em todos os reinos e caravanas, Sundiata ouvia falar do poder crescente de Sumanguru, da sua crueldade e do povo que vivia infeliz nas terras sob seu poder.

Por fim, a família de Sundiata encontrou um lugar para ficar, junto ao rio Níger, na cidade de Mema, e a sua mãe cansada e doente, pôde finalmente  descansar.

Sundiata colocou-se ao serviço do Mansa de Mema, distinguindo-se logo nos combates que este travou contra os inimigos do Reino, o que lhe granjeou os favores do Mansa.

O Mansa de Mema, observando a coragem e a capacidade de liderança de Sundiata, foi-lhe dando cargos militares cada vez mais importantes, e impressionado com a sua capacidade, decidiu fazer dele o seu herdeiro, dando-lhe a sua filha para casar, e ensinando-lhe a arte da guerra e da governação.

Um dia, chegou inesperadamente um grupo de homens a Mema, e entre eles vinham os homens grandes do Mali, que antes não tinham querido Sundiata como seu Mansa, e pediram-lhe uma audiência urgente.
 


Ilustracão: mestre Augusto Trigo, pág. 33

- Filho do leão e do búfalo, volta para a tua terra, a tua gente precisa de ti - imploraram os homens grandes.

- O que aconteceu? - perguntou Sundiata.

- Sumanguru invadiu o Mali, matou a família real, e continua a matar e a escravizar muita gente. O povo quer lutar, mas não temos um líder para nos guiar. Os marabus dizem que só tu podes salvar o Mali - responderam eles.

- Irei partir já! Vamos destruir Sumanguru, e o seu reino de terror! - exclamou Sundiata.

Sundiata não perdeu tempo e foi falar com o Mansa de Mema, pedindo-lhe autorização para partir imediatamente. O Mansa de Mema deu-lhe metade do seu exército, e disse-lhe:

- Vai, o teu Reino está à tua espera, leva metade do meu exército e salvao teu povo.

- Obrigado. Nunca vou esquecer toda a ajuda que me deu. Eu voltarei para casar com a sua filha - disse Sundiata agradecido.

Sundiata com a cavalaria formou o seu esquadrão de ferro, e ele próprio assumiu o seu comando.

A cavalaria de Mema era constituída por cavaleiros com grandes lanças de ferro. Cavalgando à cabeça desta coluna, Sundiata planeou reunir um poderoso exército, indo a cada reino que o tinha ajudado durante o seu longo exílio, e aos reinos que combatiam contra Sumanguru.

Quando Sundiata se dirigiu para a cidade de Tabom, para se encontrar com o seu amigo Tabom Uana, o qual era agora Mansa de Tabom, Sumanguru enviou o seu filho Sosso Bala, que tinha aproximadamente a idade de Sundiata para lhe barrar o caminho.

Sosso Bala colocou os seus guerreiros no vale, à entrada das montanhas, que davam acesso ao caminho para Tabom. Sosso Bala estava confiante, pois o seu exército era muito mais numeroso que o pequeno exército sob o comando de Sundiata, e só as setas dos seus numerosos arqueiros, quando estes as disparassem, tapariam a luz do sol, e seriam suficientes para destruir Sundiata e o todo o seu exército,
antes de ele chegar perto dos seus guerreiros.

Quando Sundiata chegou ao vale, depois de um longo dia de marcha, o vale estava negro com a infantaria de Sosso Bala. Todos os chefes de guerra foram da opinião de que os guerreiros deviam descansar e combater no dia seguinte.


- Sundiata, deixe os seus homens descansarem, amanhã combateremos.

Sundiata sabia que todos estavam cansados da caminhada, mas acreditou que poderia transformar aquela fraqueza em força, e contra tudo o que todos pensavam disse:

- Não vamos descansar. Vamos atacar já!

Sundiata colocou-se à frente da sua cavalaria e deu ordem de ataque.




Ilustracão: mestre Augusto Trigo, pág. 35

Os espiões Sossos tinham informado Sosso Bala que o exército de Sundiata tinha feito uma longa marcha e que estava demasiado cansado para combater, pelo que os guerreiros poderiam descansar, pois a batalha só seria no dia seguinte.

Sosso Bala apesar de saber que Sundiata estava perto, acreditando na informação dos espiões, não achou necessário colocar o seu exército em formação de batalha, e o ataque de Sundiata apanhou todos de surpresa e lançou a confusão total.

- Alerta, alerta! Ataque de Sundiata! - gritaram as sentinelas, mas já era tarde, pois a cavalaria de Sundiata, lançada num galope desenfreado, entrou pelo acampamento de Sosso Bala.

Os arqueiros Sossos nem tiveram tempo de disparar as flechas para deter a onda atacante, e num instante Sundiata e o seu exército estavam no meio deles, fazendo um massacre terrível.

Sundiata viu Sosso Bala e avançou para ele, mas um guerreiro Sosso colocou-se no caminho, e enquanto Sundiata lutava, Sosso Bala aproveitou a oportunidade para fugir, temendo pela sua vida.

Ao verem Sosso Bala fugir, os guerreiros Sossos fugiram também. Antes do fim do dia, já só havia homens de Sundiata no vale, e os seus cavaleiros perseguiam e aprisionavam guerreiros Sossos.

Ao entardecer, o Mansa Tabom Uana veio ao encontro do seu amigo Sundiata, trazendo mantimentos e mais guerreiros, reforçando assim o exército de Sundiata.






Ilustracão: mestre Augusto Trigo, pág. 36



Ilustracão: mestre Augusto Trigo, pág. 37



A notícia da derrota do invencível exército de Sumanguru espalhou-se rapidamente, e todos os que tinham sofrido às mãos de Sumanguru, corriam agora a juntar-se a Sundiata.

Em breve, um numeroso exército se estendia pela planície, e os cascos dos seus cavalos eram ouvidos a muitos quilómetros de distância. Agora Sundiata podia passar à ofensiva, e decidiu ir ao encontro de Sumanguru no vale de Neguéboria, em Boure.

Os dois exércitos encontraram-se no estreito vale de Neguéboria. Sundiata optou por uma formação em quadrado, com a cavalaria à frente e os arqueiros na retaguarda.

Sumanguru com o seu capacete com chifres, bem visível no alto de uma das colinas que dominavam o vale, dava ordens ao seu exército. Sundiata deu ordem de ataque, soaram tambores e trompetas, e os cascos dos cavalos da sua cavalaria levantaram uma nuvem de pó vermelho e ecoaram nas paredes do vale, como um enorme trovão, fazendo tremer de medo as forças de Sumanguru.

Sundiata comandou a carga de cavalaria, e o seu manto branco esvoaçava no ar como uma bandeira, que os seus homens seguiam.

As forças de Sundiata atacaram o centro do exército de Sumanguru e logo este começou a ceder. Sumanguru deu ordem aos guerreiros que tinha escondido para atacarem as forças de Sundiata pelos lados, numa estratégia conhecida como chifres de búfalo, mas Sundiata já tinha previsto essa manobra e o seu exército estendeu-se rapidamente por toda a largura do vale, bloqueando a sua passagem.

Sumanguru tentou conter a queda do centro do seu exército, juntando- se aos seus guerreiros, para lhes dar coragem, mas isso colocou-o ao alcance da lança de Sundiata.


Ilustracão: mestre Augusto Trigo,  pág. 38

Sundiata não perdeu a oportunidade e atirou a sua lança, a qual atingiu o peito de Sumanguru, mas fez ricochete. Sundiata não desistiu e com o seu arco lançou uma flecha contra Sumanguru, mas esta também fez ricochete no peito de Sumanguru.

- Ninguém me pode matar! - gritou Sumanguru.

- Isso é o que vamos ver - respondeu Sundiata.

Furioso, Sundiata pegou noutra lança e avançou para onde estava Sumanguru, mas quando o procurou novamente, já ele estava no alto da colina.

Espantado, Sundiata parou de lutar e ficou a olhar para Sumanguru, vendo-o desaparecer.

O exército de Sumanguru, ao vê-lo fugir, fugiu também. Sundiata ficou a pensar como poderia derrotar Sumanguru, se ele tinha uma magia tão poderosa que podia desaparecer e era invulnerável ao ferro.

Sundiata continuou a sua marcha, desta vez para a Sibi, de onde lhe chegaram boas notícias, pois o seu amigo e conselheiro Bala tinha conseguido fugir da corte de Sumanguru e vinha ao seu encontro.

O encontro entre Sundiata e Bala foi de grande alegria, e a partir dele Sundiata ficou a saber que o animal sagrado de Sumanguru era o galo, e era dele que provinham os seus poderes e feitiços.

Bala tirou do seu saco uma seta, que tinha na ponta um esporão de galo, e disse:

- Esta seta irá acabar com o poder de Sumanguru, pois este esporão de galo irá destruir toda a sua magia. Basta feri-lo para ele ser vencido!

- Como poderei feri-lo, se as lanças e as setas fazem ricochete nele? - perguntou Sundiata.

- Sumanguru tem um escudo de ferro, escondido debaixo da roupa, atingi-o onde não tiver roupa.

- Obrigado Bala! Vamos fazer Sumanguru provar o seu próprio feitiço!

Os dois exércitos enfrentaram-se na planície de Kirina. Durante todo o dia, uma furiosa batalha foi travada entre os dois exércitos, e Sundiata, montado no seu cavalo, procurou Sumanguru.

No meio da poeira vermelha e da confusão da batalha, Bala descobriu o feiticeiro e gritou para Sundiata, ao mesmo tempo que apontava:

- Sumanguru está ali!

Sundiata olhou, e viu Sumanguru no alto de um morro perto de si, e, antes que ele o visse, pegou no seu poderoso arco e puxando a corda ao máximo disparou a seta com o feitiço.

A flecha voou como um raio, espetando-se no braço de Sumanguru. Somanguru ao sentir-se ferido e vendo que a seta tinha o feitiço do galo, soltou um grito de pânico e fugiu a galope do campo de batalha.

-Ahaaa! Estou perdido! - gritou Sumanguru.

Desorientado com a fuga de Sumanguru, o exército do feiticeiro fugiu também. Sumanguru, perseguido por Sundiata, fugiu para a encosta do Monte Koulikoro e entrou cambaleando numa caverna escura, mas por mais que o procurassem nunca mais foi visto.

Diz-se que Sumanguru foi transformado na pedra da caverna, pelos poderes do mal que ele servia.

Sundiata voltou em glória para Mali. Durante toda a sua viagem, as pessoas corriam aos caminhos e estradas por onde passava, gritando vivas e louvores.




Ilustracão: mestre Augusto Trigo,  pág. 40

- Sundiata! Sundiata! Viva Sundiata! - gritavam à sua passagem.

Os Mansas que tinham ajudado Sundiata no exílio e nas suas batalhas, juraram-lhe fidelidade, e o Mansa do Mali, filho do leão e do búfalo, transformou assim o Reino do Mali num Império, constituído por todos esses Reinos.

Sundiata foi o primeiro Mansa Bá (Imperador) (18) do grande Império do Mali, sendo este o maior Império da África Ocidental.

Esta é uma das muitas versões da lenda de Sundiata.

[Adaptação, revisão/fixação de texto e inserção de fotos e links para efeitos de edição deste poste no blogue: LG]

_________

Notas do autor:

(15)  Mansa - designação dada pelos mandingas aos seus reis. Os portugueses chamaram-lhes “Régulos”, que significa pequenos reis.

(16) Djali bá - os djali bá já não existem, hoje são apenas artistas tocadores de corá, que contam as histórias ao som da música do corá, mas os djali bá tiveram no passado um papel importante junto dos Mansas (Reis), pois além de tocadores de corá eram seus conselheiros;
eram eles que transmitiam oralmente a história e as leis do Reino, e aconselhavam o Rei nas mais diversas decisões. A palavra significa grande em mandinga, isto significa que não eram um simples artistas de corá, porque para esses, o termo em mandinga é corá djaló, ou seja artista do corá ou tocador de corá. Além do termo artista, corá djaló e djali bá, são várias as denominações que lhe são atribuídas, desde o termo judeu em português, djidiu do crioulo, até ao griote do francês.

O termo judeu aparece pela primeira vez no “Tratado Breve dos Rios da Guiné do Cabo Verde” de 1594, do capitão André Alvares d´Almeida, o qual os descreve no capítulo dedicado ao Reino de Borçalo. O crioulo adaptou o termo judeu, para jideu ou djideu, hoje em dia pronuncia-se djidiu.

(17) Mésinhos - palavra do crioulo que significa medicamento, remédio, mas também é usada para se referir a coisas com poderes mágicos.

(18) Mansa Bá - era o título dado pelos mandingas aos Mansas que possuíam nos seus domínios poder sobre outros Mansas (Reis), a palavra  em mandinga significa grande, dai o significado de Grande Rei ou Imperador, por vezes, por lisonja os súbditos chamavam ao
Rei, de Grande Rei, apesar de não o serem. Também existem referências a Imperadores chamando-lhes apenas de Mansa, o que é usual. Os portugueses chamavam a todos eles de “Régulos”, o que significa pequenos reis.
 


2. Como ajudar a "Ajuda Amiga" ?

Caro/a leitor/a, podes ajudar a "Ajuda Amiga" (e mais concretamente o Projecto da Escola de Nhenque), fazendo uma transferência, em dinheiro, para a Conta da Ajuda Amiga:

NIB 0036 0133 99100025138 26

IBAN PT50 0036 0133 99100025138 26

BIC MPIOPTP


Para saber mais, vê aqui o sítio da ONGD Ajuda Amiga:

http://www.ajudaamiga.com

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 26 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22405: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte IV: Lendas mancanhas

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22432: Historiografia da presença portuguesa em África (274): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (11) (Mário Beja Santos)

Durante anos, era este o aspeto do vestíbulo da Sociedade de Geografia, o quadro de Veloso Salgado estava à altura dos nossos olhos


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Novembro de 2020:

Queridos amigos,
Este trabalho de Ângela Guimarães aparece temporalmente datado, circunscrito aos primeiros vinte anos da Sociedade de Geografia, o porquê da sua criação, surge um tanto tarde e a más horas, a cobiça de velhas e novas potências coloniais ronda espaço que os portugueses reivindicam mas não ocupam. Um tanto à moda nacional, cria-se a Sociedade enquanto o governo de Andrade Corvo cria estrutura semelhante nos quadros da administração, inevitavelmente surgiram conflitos e rivalidades. A capacidade científica da Sociedade prevaleceu, o escol científico e económico posicionou-se na Sociedade, basta recordar Chamiço, o detentor do Banco Nacional Ultramarino, e o industrial Alfredo da Silva, eles têm os seus interesses e a Sociedade não deixa de cultivar os seus heróis, primeiro os exploradores e depois os militares que triunfam nas campanhas de pacificação e ocupação. Os monarcas portugueses tinham que alinhar com este culto de heróis e socorrer-se dos diferentes estudos que a Sociedade carreava para apoiar as manobras diplomáticas do governo tanto na definição de fronteiras como no seguimento de políticas de apaziguamento e tratados de comércio com outras potências colonizadoras. Passada a pente fino esta obra de Ângela Guimarães, que a todos os títulos se recomenda, vamos continuar as leituras.

Um abraço do
Mário


O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (11)

Mário Beja Santos

A
primeira obra que aqui se recenseia intitula-se "Uma Corrente do Colonialismo Português", Ângela Guimarães, Livros Horizonte, 1984, trabalho realizado entre 1969 e 1972, partiu de um conjunto apreciável de interrogações sobre a criação do colonialismo, a sua natureza dependente e incapacidade de conversão e apurar o comportamento das diversas classes e grupos sociais face à questão colonial, ou seja, como se elaborou a ideologia colonialista e saber se esta se revestiu da mesma feição todo o tempo. Dada a vastidão de questões a autora escolheu o conhecimento da Sociedade de Geografia, um grupo de pressão de grande influência, estudou-o no período de 1875 a 1895, dizendo tratar-se do período crucial para o estabelecimento do colonialismo moderno na África Austral.

Começa por dizer que a fundação da Sociedade aparece em novembro de 1875, por decreto de Andrade Corvo, isto quando simultaneamente se cria no Ministério dos Negócios da Marinha e do Ultramar uma comissão permanente incumbida de coligir, ordenar e aproveitar todos os documentos que pudessem esclarecer a Geografia, a História Etnológica, a Arqueologia, a Antropologia e as Ciências Naturais em relação ao território português e muito especialmente às províncias ultramarinas – era a Comissão Central Permanente da Geografia, com tantas afinidades, estando a Sociedade sem subsídios nem lhe tendo facilitado o Governo uma sede condigna, ambas as entidades viveram num quadro de rivalidade e desgaste. A inversão desta situação deu-se em 1880 quando o Visconde de S. Januário, sócio fundador da Sociedade recebeu também como seu pelouro esta Comissão Central Permanente de Geografia. Atenda-se que quando foi criada a sociedade já existiam, um pouco por toda a parte, 40 sociedades do mesmo tipo.

A autora faz referência ao folgado conjunto de diligências para ligar Angola a Moçambique, destaca a travessia que Silva Porto efetuou em 1853-54, encontrou-se com Livingston, mas esta exploração não foi reconhecida pelo governo português. Estávamos em corrida para legalizar o território do III Império. Quando apareceu a Sociedade já Livingston tinha realizado a sua segunda viagem, Cameron já tinha regressado da sua travessia, Stanley e Savorgnan de Brazza também já tinham partido para as suas viagens estratégicas na África Central. Observa a autora que uma análise das atas e dos boletins da Sociedade, de 1876 a 1896, leva-nos a considerar três fases fundamentais de atividade: de 1876 a 1880, a Sociedade concentra todos os esforços em garantir o lugar de Portugal no movimento expansionista; de 1880 a 1882, a Sociedade esforça-se sobretudo para fazer um balanço das forças nacionais disponíveis para investir na competição; de 1882 a 1889, a Sociedade dedica os seus esforços a orientar a política e a gestão coloniais sobre o conjunto do Império, no entanto, o centro da sua atenção era Moçambique. Era uma corrida contra o tempo, recorde-se a citação de Luciano Cordeiro que consta da ata de 7 de julho de 1876, onde ele diz que umas das ideias principais que haviam presidido à fundação da Sociedade fora o reconhecimento da urgente necessidade e do imperioso dever imposto a Portugal pelas suas tradições e pela sua situação de segunda potência colonial na Europa.

Outra manifestação de rivalidade com a Comissão Central Permanente de Geografia e a Sociedade teve a ver com o envio de uma exploração científica à África Central, cada uma das entidades dava palpites sobre o sentido da viagem. Na opinião de Luciano Cordeiro e da própria sociedade, a expedição devia concentrar-se no reconhecimento das bacias do Zaire e suas relações com o Zambeze e os grandes lagos. Um outro protagonista entrava em cena, na corrida em África, Leopoldo da Bélgica. Para legitimar posições, o monarca belga promoveu em Bruxelas a Conferência Internacional de Geografia, Portugal não foi convidado. Em Bruxelas cria-se a Associação Internacional Africana e Portugal adere. Entretanto, a Sociedade cria a Comissão Nacional Portuguesa de Exploração e Civilização da África, que vemos tratada nas atas pelo nome de Comissão Africana. Nesta corrida de competição as velhas e novas potências colonizadoras andam no afã de criarem estações civilizadoras, isto é, pontos de fixação de colonos, missionários e comerciantes. Vendo-se cercado por estes competidores, Portugal agarra-se ao Direito Tradicional, que estava em vias de ficar ultrapassado, mas foi esta base histórica que permitiu manter a posse de Lourenço Marques por arbitragem internacional e é também nessa base que vai conseguir conservar tão vastos domínios reais e potências na Conferência de Berlim.

Vê-se claramente nas atas que a Sociedade fez um esforço enorme para se impor no estrangeiro, permutando publicações, angariando sócios, trazendo conferencistas, apresentando trabalhos em conferências internacionais e muito cedo o Museu da Sociedade passou a ser alvo da curiosidade científica. Passando em revista os grandes temas, a autora lembra-nos a questão das missões. Todos estavam de acordo sobre a utilidade das missões, mesmo os que pensavam que o Africano ainda não estava à altura de aceitar o verdadeiro cristianismo, e havia também uma corrente que considerava a religião como inútil ou prejudicial, no termo deste amplo debate fez-se apelo à reforma do ensino no seminário de Cernache do Bonjardim.

Questionando a ideologia imanente a este grupo, diz a autora:
“A fração da burguesia que constitui a corrente dominante da Sociedade de Geografia é extremamente criativa. Mas não detém o poder político nem possui força económica para, por si só, executar o grandioso projeto a que lançou mãos. Conta com um bom número de distintos intelectuais bem informados e lúcidos. Tem uma forte componente nacionalista. Sente-se nela um complexo de abafamento e uma enorme vontade de rebentar as cadeias. Para alcançar o seu objetivo, vai lançar mão dos meios de que dispõe para elaborar uma ideologia que por um lado a sustente e lhe dê o alento para que os grandes cometimentos e faz uma grande divulgação para as realizações”.
E escreve mais adiante:
“Na Sociedade de Geografia dos anos 1870, e mesmo 1880, discute-se muito. Fazem-se exposições sobre os mais diversos temas, seguem-se propostas, discutem-se, apoiam-se, mandam-se à respetiva comissão, redigem-se relatórios”.

Exaltam-se os caminhos-de-ferro, é premente levar a civilização aos lugares mais remotos. Reconhece-se um papel crucial às explorações, é preciso definir os limites do território português. O governo diz que sim às estações civilizadoras, falta o dinheiro essencial para as criar. Teima-se em formar quadros administrativos capazes, daí o curso colonial português, Teixeira de Vasconcelos irá sugerir a criação de um instituto em que se ensinariam as línguas africanas, os alunos de Cernache do Bonjardim também deveriam ter acesso a tais disciplinas. Uma proposta que deu grande polémica, se deveríamos impor a nossa língua, se se deveria apoiar uma espécie de língua crioula destinada a ser a língua comercial da África Austral. Barbosa do Bocage introduz um outro elemento nesta discussão, a sua interpretação da colonização, é cru e diz verdades com punhos:
“Na África servimo-nos dos negros como auxiliares para o trabalho. Temos gasto uns poucos séculos a não fazer nada, deixando as hordas africanas entregues a si e aos seus bárbaros usos, contentando-nos apenas com uma mudança exterior nas suas crenças religiosas, tratando-se de espoliar os povos e enviando-lhes o refugo da nossa população como elemento civilizador”.

Este importante livro aqui invocado para ajudar a conhecer melhor o pensamento dos homens que fundaram e viveram intensamente os ideais do III Império vai finalizar com o capítulo dedicado à crise do Ultimatum. Deixa-se claro que nas atividades da Sociedade participaram personalidades dedicadas de diversos modos à colonização. Temporalmente a obra termina quando Moçambique já está no olho do furacão das rivalidades imperialistas. E vamos continuar com outra bibliografia.

(continua)
Vitral (1922), representando Pedro Álvares Cabral (descoberta do Brasil, 1500) e Gago Coutinho e Sacadura Cabral (primeira travessia aérea do Atlântico Sul, 1922). Sociedade de Geografia de Lisboa.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 28 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22412: Historiografia da presença portuguesa em África (273): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (10) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22431: O nosso livro de estilo (13): Cumprir e fazer cumprir as nossas regras editoriais, prevenindo o risco do nosso blogue, respeitável e velhinho, com mais de 17 anos, ser bloqueado ou até banido do Blogger, como aconteceu ontem com o "apagão" de 3 horas (Os editores)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1  (Bambadinca) >  c. 1970 > 2.º Grupo de Combate da CCAÇ 12, deslocando-se numa lala ou bolanha abandonada,  "em terra de ninguém", no subsetor do Xime ou do Xitole... 

Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). Uma das nossas fotos icónicas, que já temos visto reproduzida em "sites" e livros sem a devida autorização do blogue e do autor.

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Para evitar que isto nos aconteça pela terceira vez (, a primeira foi há uns anos, com um "apagão" de vários dias, por causa de reprodução, indevida,  de uma foto de uma pintura célebre de um grande museu americano, e que pensávamos que era do domínio público: os americanos defendem com unhas e dentes a sua "propriedade intelectual", contrariamente aos palermas dos portugueses que nem sequer saibem a defender a sua bandeira, vítima de contrafacção...)

Mensagem do Blogger

3 de agosto de 2021 11:13 

Olá, como deve saber, as nossas regras da comunidade (https://blogger.com/go/contentpolicy) descrevem os limites daquilo que permitimos – e não permitimos – no Blogger. 

O seu blogue com o título "http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/" foi sinalizado para análise. Determinámos que viola as nossas regras e anulámos a disponibilidade do URL http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/ para os leitores do blogue.
 
Porque é que o seu blogue foi removido? O seu conteúdo violou a nossa Política de PHISHING. Para saber mais, visite a página das regras da comunidade cujo link se encontra neste email. Quando consideramos que o conteúdo de um blogue não se adapta às expetativas da nossa Política, não permitimos que continue disponível publicamente.
 
Se considera que cometemos um erro, pode pedir uma análise em https://www.blogger.com/unlock-blog.g?lockedBlogID=29087476 para que façamos uma nova verificação. 

Atentamente, - A Equipa do Blogger

Na altura deixámos a seguinte mensagem da nossa página do Facebook (Tabanca Grande Luís Graça):

(...) O blogue foi bloqueado pelos robôs do Blogger onde está alojado há 17 anos. É a segunda vez que isto nos acontece ao longo destes anos todos. Alegam violação das regras da comunidade Blogger. Não sei pormenores. Pode ter sido alguma denúncia de má fé... Somos um blogue de gente respeitável, antigos combatentes cheios de mazelas, bons seres humanos e melhores portugueses, que não fazem incitações ao ódio, não perseguem ninguém, não são racistas nem sexistas, nem exibem pornografia, etc. Aguardamos resposta do Blogger, o nosso Big Brother, ao nosso pedido de análise. Luís Graça, administrador. (...)

2. Três horas depois, e para alívio nosso e dos nossos leitores (Sousa de Castro, José Colaço, Valdemar Queiroz, António J. Pereira, João Rodrigues Lobo e outros... que deram logo conta do  "apagão" matinal),  o blogue foi reposto, conforme mensagem recebida às 14h09:

Olá, Reavaliámos o seu blogue com base nas Regras da comunidade do Blogger https://blogger.com/go/contentpolicy

Na sequência desta análise, o blogue foi reposto. 


Gratos pela compreensão. 

Atentamente, A Equipa do Blogger

Qual terá sido a "asneira" que cometemos desta vez para explicar este "apagão" de três horas? Parece que os robôs do Blogger detetaram um caso suspeito de "phishing"... Que raio quer dizer isto, esta "buzzword"? "Phishing"... é o nome dado a um "crime cibernético" para obter de forma fraudulenta ou enganosa dados confidenciais para utilizações ilícitas...

Não nos ocorre ter podido cometer o crime de "phishing"... Tendo em conta as regras de utilização do Blogger, estamos mais inclinados para o risco de violação de direitos de autor, ao reproduzir, embora citando a fonte, 1 gráfico e 2 quadros de um artigo em inglês sobre desertores, refractários e faltosos das Forças Armadas Portuguesas (1961/74), publicado numa revista científica norte-americana... O poste P22423, de 2 de agosto de 2021, com 47 visualizações e 4 comentários, foi provisoriamente removido, à cautela, para posterior autoavalição e reedição.

Aproveitamos para divulgar, mais amplamente, as regras de utilização do Blogger, tendo aos editores, colaboradores permanentes, autores, comentadores e demais leitores, para nos ajudar a cumprir e a fazer cumprir estas regras que fazem parte integrante, além das nossas regras específicas, do nosso "livro de estilo".


Regras da comunidade (Blogger)

As nossas regras da comunidade desempenham uma função importante para manter um bom ambiente de criação na Web aberta. Respeite estas diretrizes. Por vezes, é possível que as nossas políticas sejam alteradas, pelo que deverá verificá-las de vez em quando nesta secção. 

Tenha também em atenção que, ao aplicar as políticas abaixo, poderão existir exceções baseadas em considerações artísticas, documentais ou científicas, ou onde a não ação sobre o conteúdo possa beneficiar substancialmente o público.


Conteúdo para adultos: 

Os conteúdos para adultos são permitidos no Blogger, incluindo imagens ou vídeos que contenham nudez ou atos sexuais. Caso o seu blogue contenha conteúdo para adultos, marque-o como "para adultos" nas definições do Blogger. Também poderemos marcar blogues com conteúdo para adultos quando os proprietários não o fizerem. Todos os blogues marcados como "para adultos" serão colocados num anúncio intercalar de "conteúdo para adultos". Se o seu blogue tiver um anúncio intercalar, não tente contornar ou desativar o anúncio intercalar, pois serve para proteger todas as pessoas.

Existem algumas excepções à nossa Política de Conteúdos para adultos: Não utilize o Blogger como fonte de rendimento proveniente de conteúdos para adultos. Por exemplo, não crie blogues que contenham anúncios ou links para sites pornográficos comerciais.

Não são permitidos conteúdos ilegais de natureza sexual, incluindo conteúdos de imagens, vídeos ou texto que retratem ou incentivem a violação, o incesto, a bestialidade ou a necrofilia.

Não publique ou distribua imagens ou vídeos privados com nudez, sexualmente explícitos ou de natureza íntima e sexual não explícita sem o consentimento da pessoa em questão. Se alguém tiver publicado uma imagem ou vídeo privado de si com nudez, sexualmente explícito ou de natureza íntima e sexual, denuncie-o aqui.


Abuso sexual e exploração infantil: 

Não crie, carregue nem distribua conteúdos que constituam exploração ou abuso de menores. Tal abrange todos os materiais relativos a abuso sexual infantil. Para denunciar conteúdos num produto Google que possam explorar uma criança, clique em Denunciar abuso. Se encontrar conteúdos noutro local da Internet, contacte diretamente as autoridades competentes do seu país.

De forma mais abrangente, a Google proíbe a utilização dos respetivos produtos de maneira a que possam colocar crianças em perigo. Isto inclui, entre outros, o comportamento predatório direcionado a crianças, nomeadamente:
  • ‘Aliciamento e sedução de menores’ (por exemplo, estabelecer uma relação de amizade online com uma criança para estabelecer contactos sexuais, tanto online como offline, e/ou trocar imagens sexuais com essa criança);
  • ‘Extorsão sexual’ (por exemplo, ameaçar ou chantagear uma criança através de um acesso real ou alegado a imagens íntimas de uma criança);
  • Sexualização de um menor (por exemplo, imagens que ilustrem, incentivem ou promovam o abuso sexual de uma criança ou retratem crianças de forma que possa resultar na exploração sexual de crianças); e
  • Tráfico de um menor (por exemplo, publicidade ou solicitação de uma criança para exploração sexual comercial).

Removeremos esses conteúdos e tomaremos as medidas necessárias, que podem incluir a denúncia ao National Center for Missing & Exploited Children, a limitação do acesso a funcionalidades do produto e a desativação de contas. Se suspeitar que uma criança se encontra em risco ou que foi submetida a abuso, exploração ou tráfico, contacte imediatamente a polícia.


Atividades perigosas e ilegais: 

Não utilize este produto para participar em atividades ilegais ou para promover atividades, bens, serviços ou informações que causem danos graves e imediatos a pessoas ou animais. 

Embora permitamos informações gerais para fins educativos, documentais, científicos ou artísticos sobre este conteúdo, estabelecemos um limite quando o conteúdo apela diretamente à violência ou promove atividades ilegais. Tomaremos as medidas necessárias se formos notificados sobre a prática de atividades ilegais, nomeadamente a denúncia do utilizador às autoridades pertinentes.


Assédio, cyberbullying e ameaças: 

Não assedie, intimide ou ameace outras pessoas. 

Também não permitimos a utilização deste produto para participar ou incentivar outros a participar nestas atividades. Isto inclui isolar alguém com ofensas maliciosas, ameaçar alguém com ofensas graves, sexualizar uma pessoa de uma forma indesejada, expor informações privadas de outra pessoa que possam ser utilizadas para fazer ameaças, menosprezar ou denegrir alvos de violência ou tragédia, incitar outros a levar a cabo estas atividades ou assediar alguém de outras formas. 

Tenha em atenção que o assédio online é ilegal em muitos locais e pode ter consequências graves para o assediador e para a vítima. Se formos notificados sobre ameaças de violência ou outras situações perigosas, poderemos tomar as medidas adequadas, nomeadamente a denúncia do utilizador às autoridades pertinentes.


Incitação ao ódio: 

A incitação ao ódio é proibida. 

A incitação ao ódio é conteúdo que promove ou aprova a violência contra ou que tenha como principal objetivo incitar ao ódio contra um indivíduo ou um grupo de pessoas com base na sua raça ou etnia, religião, deficiência, idade, nacionalidade, situação militar, orientação sexual, género, identidade sexual ou outra caraterística associada a discriminação ou marginalização sistémica.

Roubo de identidade e representação fraudulenta da identidade: 

Não pode roubar a identidade de terceiros ou organizações nem representar a sua própria identidade de modo fraudulento. 

Isso inclui;

(i)  fazer-se passar por qualquer pessoa ou organizações que você não representa;

(ii)  ou fornecer informações enganosas sobre a identidade, qualificações, propriedade, finalidade, produtos, serviços ou negócios de um utilizador / site.
 
Isto também inclui;

(iii)  o conteúdo ou as contas que deturpam ou ocultam a respetiva propriedade ou finalidade principal, como a deturpação ou ocultação intencional do país de origem ou outros detalhes importantes sobre o Utilizador ao dirigir conteúdo sobre política, problemas sociais ou questões de interesse público aos utilizadores de um país diferente do país do Utilizador. 

Pode publicar paródia e sátira e utilizar pseudónimos, mas evite conteúdos que possam induzir o público em erro acerca da sua verdadeira identidade.


Software malicioso e conteúdo malicioso semelhante:

Não transmita software malicioso nem qualquer conteúdo que danifique ou interfira com a operação de redes, servidores, dispositivos de utilizador final ou outras infraestruturas. 

Tal conteúdo inclui o alojamento direto, a incorporação ou a transmissão de software malicioso, vírus, código destrutivo ou outro software indesejável ou prejudicial ou conteúdo semelhante. 

Também inclui conteúdo que transmita vírus, acione pop-ups, tente instalar software sem o consentimento do utilizador ou que, de qualquer outra forma, prejudique os utilizadores através de código malicioso. Consulte as nossas Políticas de Navegação segura para obter mais informações.

Conteúdo enganoso: 

Não distribua conteúdo que engane, induza em erro ou confunda os utilizadores. Isto inclui:

  • Conteúdo enganoso relacionado com processos civis e democráticos: conteúdo manifestamente falso e que possa prejudicar significativamente a participação ou a confiança em processos civis ou democráticos. Isto inclui: (i) informações sobre procedimentos de votação pública, elegibilidade de candidatos políticos com base na idade/local de nascimento, resultados de eleições ou participação em censos que contraria os registos oficiais do governo; (ii)  yambém inclui afirmações incorretas de que uma figura política ou um funcionário do governo morreu, esteve envolvido num acidente ou está a sofrer de uma doença grave.
  • Conteúdo enganoso relacionado com práticas de saúde prejudiciais: conteúdo de saúde ou médico enganoso que promova ou incentive à participação em práticas que possam ser física ou emocionalmente nocivas para terceiros ou gravemente nocivas para a saúde pública.
  • Conteúdos multimédia manipulados: conteúdos multimédia tecnicamente manipulados ou alterados de forma a enganar os utilizadores e que podem representar um risco grave de danos significativos.

Podem ser permitidos conteúdos enganadores num contexto educativo, documental, científico ou artístico, mas lembre-se de fornecer informações suficientes para ajudar as pessoas a compreender este contexto. Em determinados casos, este conteúdo terá de ser removido das plataformas da Google independentemente do contexto.


Imagens explícitas não consensuais (IENC): 

Não armazene nem distribua imagens ou vídeos privados com nudez, sexualmente explícitos ou de natureza íntima e sexual não explícita sem o consentimento da pessoa em questão. Se alguém tiver enviado imagens ou vídeos íntimos e sexuais privados de si, sexualmente explícitos ou não explícitos com nudez, denuncie esta situação aqui.


Informações pessoais e confidenciais: 

Não armazene nem distribua informações pessoais ou confidenciais de outras pessoas sem autorização. 

Entre tais informações, incluem-se as informações confidenciais, como: 

(i) os números da segurança social;
(ii) números de contas bancárias;
(iii) números de cartões de crédito;
(iv)  imagens de assinaturas;
(v) e documentos pessoais de saúde. 

Na maioria dos casos em que estas informações se encontram amplamente disponíveis na Internet ou em registos públicos, como números de identificação nacional indicados num Website governamental, normalmente não aplicamos medidas coercivas.


Phishing: 

Não utilize este produto para phishing

Esta proibição inclui pedir ou recolher dados confidenciais, como palavras-passe, dados bancários e números da segurança social.


Bens e serviços regulamentados:

 Não venda, publicite nem promova a venda de bens e serviços regulamentados. 

Tais bens e serviços incluem álcool, jogos de azar, medicamentos, produtos farmacêuticos, suplementos não aprovados, tabaco, fogo-de-artifício, armas ou dispositivos de saúde/médicos.


Spam: 

Não crie spam

O spam pode incluir conteúdo promocional ou comercial indesejado, conteúdo indesejado criado por um programa automatizado, conteúdo repetitivo indesejado, conteúdo sem sentido ou qualquer conteúdo que aparente representar solicitação em massa.


Atividades terroristas: 

As organizações terroristas estão proibidas de utilizar este produto para qualquer finalidade, incluindo o recrutamento. Também tomaremos medidas contra o utilizador por conteúdos relacionados com terrorismo, como a promoção de atos terroristas, incitação à violência ou celebração de ataques terroristas. 

Se armazenar ou distribuir conteúdo relacionado com terrorismo para um objetivo educativo, documental, científico ou artístico, tenha o cuidado de fornecer informações suficientes para que os visitantes compreendam o contexto.


Imagens não autorizadas de menores: 

Não armazene nem distribua imagens de menores sem consentimento explícito dos pais, do tutor ou do representante legal da criança. 

Se alguém tiver armazenado ou distribuído uma imagem de um menor sem o consentimento necessário, faça uma denúncia.


Violência e conteúdo sangrento: 

Não armazene nem distribua conteúdo violento ou sangrento que inclua pessoas ou animais e cujo objetivo principal seja ser chocante, sensacionalista ou gratuito. 

Tal conteúdo inclui materiais extremamente gráficos, como desmembramento ou imagens aproximadas de cadáveres mutilados e material gráfico, como conteúdo com quantidades significativas de sangue. 

Podem ser permitidos conteúdos num contexto pedagógico, documental, científico ou artístico, mas lembre-se de fornecer informações suficientes para ajudar as pessoas a compreender o contexto. Em determinados casos e independentemente do contexto exaustivo fornecido, o conteúdo pode ser tão violento que terá de ser removido das plataformas da Google. 

Por fim, não incentive outras pessoas a cometer atos de violência específicos.


Direitos de autor: 

A resposta a claros avisos de violação de direitos de autor faz parte da nossa política. 

Pode encontrar aqui mais informações acerca dos nossos procedimentos quanto a Direitos de Autor. Para além disso, não forneça links para sites onde os seus leitores possam obter transferências não autorizadas dos conteúdos de outras pessoas.


Aplicação da Política de Conteúdos do Blogger

Denuncie as suspeitas de violação das regras da comunidade através do link 'Denunciar' situado na navegação da maioria dos blogues ou com um clique aqui.

Quando um conteúdo é denunciado, não é removido automaticamente. O conteúdo denunciado é analisado pela nossa equipa, que verifica se o mesmo representa uma violação dessas regras da comunidade. Se o blogue não violar as nossas políticas, não tomaremos qualquer medida contra o blogue ou o proprietário do blogue. 

Se apurarmos que um blogue viola as nossas regras da comunidade, poderemos tomar uma ou mais das seguintes medidas com base na gravidade da violação:
  • Colocar um anúncio intercalar de conteúdo sensível sobre o blogue ou mensagem
  • Anular a publicação da mensagem, que ficará disponível apenas para o autor do blogue
  • Eliminar o conteúdo, mensagem ou blogue infrator
  • Desativar o acesso do autor à respetiva conta do Blogger
  • Desativar o acesso do autor à respetiva Conta Google
  • Denunciar o utilizador às autoridades competentes

Também podemos tomar qualquer uma das ações descritas acima se descobrirmos que um utilizador criou vários blogues com o intuito de participar em comportamento abusivo persistente. 

Se o seu blogue tiver sido desativado, não crie um blogue de substituição com atividades semelhantes.


[ Revisão / fixação de texto para efeitos de edição deste poste: L.G. 

Estas normas aplicam-se tanto ao nosso Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  como à página no Facebook Tabanca Grande Luís Graça
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 8 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19657: O nosso livro de estilo (12): Atingimos os 11 milhões de visualizações na passada sexta-feira, dia 5... E comentar continua a ser fácil e necessário!... E mais tabancas e tabanqueiros são precisos!

Guiné 61/74 - P22430: Parabéns a você (1982): TCor Inf Ref Rui Alexandrino Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857 (Fulacunda, Bissorã e Mansoa, 1965/67); ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, 1970/72)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 30 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22415: Parabéns a você (1981): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico da CCS/BCAÇ 2930 e CCAÇ 6 (Catió e Bedanda, 1970/72); Júlio Costa Abreu, ex-1.º Cabo Comando do Grupo Centuriões (Guiné, 1964/66) e Victor Tavares, ex-1.º Cabo Caçador Paraquedista da CCP 121/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22429: In Memoriam (402): 1.º Cabo Miliciano Fernando Pacheco dos Santos, da CART 2673, caído em combate, em Empada, no dia 7 de Julho de 1970 (Juvenal Danado, ex-Fur Mil Sapador Inf)

1. O nosso camarada e novo tertuliano Juvenal Danado[*], ex-Fur Mil Sapador Inf da CCS/BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1970/71) presta aqui homenagem ao seu amigo Fernando Pacheco dos Santos, ex-1.º Cabo Miliciano da CART 2673[**] (Empada e Brá, 1970/71), morto em combate no dia 7 de Julho de 1970.


Um herói de Troino

Venho falar de juventude sacrificada na Guerra Colonial, de heróis que pagaram o cumprimento de deveres a que foram obrigados ou para que se ofereceram, com o mais elevado dos sacrifícios, o sacrifício da vida. Fernando Pacheco dos Santos, setubalense de Troino (bairro de Setúbal) morto em combate na Guiné-Bissau, é um desses lídimos heróis.

Encontrei-o em Nhala, sul da Guiné, uma aldeia onde estava sediada uma companhia do meu batalhão. Por se situar numa zona difícil, a unidade era reforçada com pelotões que vinham de outras companhias do setor. Cada grupo de combate permanecia ali umas semanas, ocupando-se em patrulhas e emboscadas, sendo depois rendido por outro.

Fui pra lá com quatro rapazes do meu pelotão, para construirmos a rede de arame farpado em torno da aldeia – os postes, a rede e os cavalos de frisa estavam a desfazer-se, e havia o perigo de um assalto do inimigo, o que acontecera numa comissão anterior. O Fernando era 1.º Cabo-Miliciano (estranho, dado que todos os cabos milicianos eram promovidos a furriéis quando eram mobilizados – não me recordo se chegámos a falar sobre o assunto) de um grupo de combate de Empada, povoação a cerca de trinta quilómetros. Conhecíamo-nos da Escola Industrial e Comercial, mas a lidação era pouca. No entanto foi quanto bastou para nos abraçarmos como grandes amigos e confraternizarmos quando foi possível, falando das "nossas guerras" e, inevitavelmente, de Setúbal, da Escola e do Vitória, das praias e da sardinha assada, da família e dos amores, dos medos, das saudades que amargavam tanto.

A guerra dele decorrera até então sem grandes sobressaltos. Além disso, a região de Empada era farta em animais de abate, caça, peixe (do Rio Grande de Buba, ali à mão), hortícolas, uma abundância contrastante com as penúrias da Guiné, o que permitia comerem bem no quartel – coisa que não acontecia em Nhala. Era em Empada que o Fernando se sentia bem, e estava desejando de abalar – considerava Nhala um sítio muito perigoso, e era, de facto, além de detestar as misérias do rancho.

Na manhã em que o Pacheco regressou à sua unidade, desejámos um ao outro as maiores felicidades para o tempo que faltava cumprir, e que não era pouco, nos dois casos. E ele, meio a brincar, meio a sério, incitou-me a acabar a rede de arame farpado o mais breve possível, para me "raspar dali" com os meus homens.

Pouco tempo após o regresso a Empada, o pelotão do Pacheco saiu uma vez mais para o mato. Passo a descrever o que me foi relatado pelo comandante do pelotão, o aspirante a oficial miliciano (também não sei dizer porquê, uma vez que deveria ser alferes) Agostinho Correia Silva, numa viagem de avioneta que fizemos de Aldeia Formosa, o meu aquartelamento, até Bissau.
Itinerário onde ocorreu o encontro entre os nossos militares e o PAIGC que levou à morte o 1º Cabo Mil Fernando Pacheco dos Santos entre outros nossos camaradas.

Infografia Luís Graça & Camaradas da Guiné - Carta de Empada, 1:50.000

Emboscados, viram surgir um numeroso grupo inimigo. Travou-se o combate, com muitas baixas do nosso lado, logo aos primeiros disparos e rebentamentos. Capazes de combater, restaram uns poucos, entre eles o aspirante, com ferimento ligeiro. Aguentaram sucessivas investidas dos guerrilheiros. Valeu-lhes não terem sido todos mortos ou levados, o socorro que entretanto chegou do quartel. No final, os nossos sofreram 7 mortos[***], 8 feridos graves e três ligeiros. O comandante de pelotão, apercebendo-se de que o Pacheco estava ferido, ordenou ao enfermeiro que o socorresse.

O meu amigo, ferido por um estilhaço numa virilha, rejeitou tratamento, garantindo que aguentava e que outros estavam mais necessitados de ajuda do que ele. Pouco tempo passado, porém, chamou o aspirante e, numa grande aflição, pôs-se a dizer-lhe: "Eh, pá, vou morrer! Vou morrer!". O oficial desviou-lhe a mão que ele tinha sobre o ferimento e viu como o sangue brotava da artéria. Daí a nada, o Pacheco morria-lhe nos braços. Aos 22 anos, caía a tarde de 7 de julho de 1970.

Fiquei deveras consternado quando soube. Parecia-me mentira que aquilo tivesse acontecido ao Fernando Pacheco, a ele, que me confessara, há duas ou três semanas, ter medo de estar em Nhala e desejar o regresso "ao céu", como chamava a Empada.

Aqui lhe presto a minha singela, mas muito magoada homenagem, alargando-a aos outros 8 rapazes que frequentaram a Escola Industrial e Comercial de Setúbal, aos 38 do concelho, aos 199 do distrito e aos quase 9000 que perderam a vida na Guerra Colonial.

Até sempre, amigo Fernando Pacheco! Repousem em paz, companheiros!

Memorial existente no átrio da entrada principal da antiga Escola Industrial e Comercial de Setúbal. O Fernando Pacheco dos Santos é referido como furriel miliciano, posto a que terá sido promovido postumamente.

Brasão da Companhia de Artilharia 2673, unidade do Fernando Pacheco dos Santos
____________

Fontes utilizadas, com os devidos agradecimentos:
- Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné – publicações do ex-furriel miliciano e ex-combatente José Marcelino Martins;
- Portal UTW Dos Veteranos da Guerra do Ultramar;
- Núcleo da Liga dos Combatentes de Setúbal;
- Caderno da edição do jornal «Expresso» de 30/04/1994.
____________

Notas do editor:

[*] - Vd. poste de 2 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22428: Tabanca Grande (524): Juvenal José Cordeiro Danado, ex-Fur Mil Sapador de Inf da CCS/BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1970/71), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 847

[**] - Vd poste de 12 DE JUNHO DE 2010 > Guiné 63/74 – P6581: Fichas de Unidades (7): Companhia de Artilharia 2673 - CART 2673 (José Martins)

[***] - Foram estes os militares mortos na emboscada de 7 de Julho de 1970:
- 1º Cabo At Agostinho do Vale Almeida (Seia)
- Sold Mil Ansumane Jaló (Cacheu)
- Sold Mil Ansumane Mané (Fulacunda)
- Sold At Ercílio da Silva Medeiros (Odemira)
- 1º Cabo Mil Fernando Pacheco dos Santos (Setúbal)
- Sold At José Constantino Gonçalo (Caldas da Rainha)
- CMDT Sec Mil Malan Cassamá (Fulacunda)

Último poste da série de 27 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22409: In Memoriam (401): Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho (1936-2021), com quem trabalhei lado a jado e fiz amizade, em 1971, na Rep ACAP, no QG/CCFAG, na Fortaleza da Amura (Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, e hoje médico)

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22428: Tabanca Grande (524): Juvenal José Cordeiro Danado, ex-Fur Mil Sapador de Inf da CCS/BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1970/71), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 847

1. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 31 de Julho de 2021:


Caros amigos Editores,

Tenho o grato prazer de vos enviar o "pedido de adesão" ao Blogue por parte do nosso camarada da Guiné, Juvenal José Cordeiro Danado. Pediu-me para "apadrinhar" o pedido (quando chegar a Páscoa não sei se terei capacidade para fazer o que o Vinhal disse ser a minha obrigação de padrinho...) e para tal enviou-me o texto de apresentação, com as duas fotos da praxe, onde de forma breve dá conta do seu percurso militar.

Acrescenta também um texto, em jeito de "jóia", que penso que pode muito bem ser publicado, no seguimento da apresentação, ou em "post" próprio, como melhor entenderem, já que se trata de uma homenagem póstuma a um camarada falecido em consequência de ferimento em combate.

O Juvenal, para além da actividade que desenvolveu, inicialmente na indústria e posteriormente no ensino, do qual se reformou recentemente, tem desenvolvido interessante e valiosa actividade de colaboração no jornal "O Setubalense", com artigos variados, desde o recordar episódios da sua passagem pela Guiné até assuntos do quotidiano, sempre com elevado sentido humanista e de preocupação social.

Mais recentemente, porque passou a ter mais tempo, também intervém num grupo do Facebook dedicado a "Coisas de Setúbal", onde fez publicar o texto de homenagem que se anexa.

Saudações
Hélder Sousa


********************
Juvenal Danado, Fur Mil Sapador de Infantaria,
CCS/BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1970/1971)

Sou Juvenal José Cordeiro Danado, natural de Aires (uma aldeia do concelho de Palmela), onde nasci a 19 de maio de 1948, e em cuja escola fiz o ensino primário.
Frequentei depois a Escola Industrial e Comercial de Setúbal, onde tirei o curso de Formação de Serralheiro. Foi como serralheiro que trabalhei até à tropa.

Fui Furriel Miliciano Sapador de Infantaria na Guiné, de janeiro de 1970 a setembro de 1971.

Fiz a minha recruta no Destacamento da Escola Prática de Cavalaria (Santarém, 2º turno de 1969). A especialidade decorreu no CISMI de Tavira. A seguir fui colocado no RI 16 (Évora), como Cabo Miliciano, e aí fui mobilizado para a Guiné, para a CCS do BCaç 2892, sede em Aldeia Formosa - Quebo.

Juvenal José Cordeiro Danado, "hoje"

Quando regressei, vim viver para Setúbal, onde resido, no gozo (e nas mágoas) da aposentadoria, após uma carreira profissional e contributiva repartida pela indústria e pelo ensino.

Sou seguidor do blogue e decidi solicitar a adesão. Para tanto, envio uma foto dos tempos da Guiné e a mais atual que possuo.

Segue também um texto que fiz publicar recentemente no grupo «Coisas de Setúbal» (facebook), em que procuro homenagear um amigo e colega da EICSetúbal e, por seu intermédio, os restantes alunos da EICS e todos os nossos camaradas que perderam a vida na Guerra Colonial. Se lhe acharem algum interesse para publicação no blogue, façam o favor.


********************

2. Comentário do editor:

Caro Juvenal

Deixa-me dar-te os parabéns pelo padrinho que escolheste, o Hélder Valério de Sousa, é uma pessoa muito estimada entre nós, não desmerecendo os restantes camaradas que compõem a nossa tertúlia, porque é alguém que procura o equilíbrio entre posições e discussões, às vezes acaloradas, na defesa de pontos de vista nem sempre concensuais. Não é por acaso que se disponibilizou para a função de colaborador permanente, que o faz manter atento ao que por aqui se passa, principalmente aos ataques de alguns "penetras" que tentam a todo o custo deixar o seu "veneno" a coberto do anonimato mais ou menos camuflado.

Mas hoje é o teu dia. Aqui não temos praxes nem cerimónias de iniciação, só a alegria de ver juntar-se a nós mais um camarada de armas, daqueles que como os que já cá estão, palmilhou aquele pequeno território de África, tão estranho, em todos os sentidos, a quem tinha deixado a sua família, o seu emprego e os seus estudos.

É já um lugar-comum a afirmação de que fomos fazer uma guerra que não queríamos e para a qual nada tínhamos contribuído até então. Muitas vidas em vão se perderam e muitas das mazelas que trouxemos só a terra as vai curando.

Fica o convite/pedido para o teu contributo no espólio do nosso Blogue, até porque terás, agora, mais um pouco de tempo disponível. Aceitamos fotos, acompanhadas das respectivas legendas, e textos das memórias dos tempos passados na Guiné.

Amanhã sairá a tua primeira colaboração, a homenagem que fizeste ao teu (nosso) camarada Fernando Pacheco dos Santos.

Deixo-te-te um abraço de boas-vindas em nome dos editores e da tertúlia, que somos nós todos afinal. Vais sentar-te no lugar 847, como todos, à boa sombra do nosso "poilão sagrado".

Ao teu dispor, o camarada e novo amigo
Carlos Vinhal

____________

Nota do editor

Último poste da série de 2 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22426: Tabanca Grande (523): O cap art Otelo Saraiva de Caravalho, com quem trabalhei na Rep ACAP, QG/CCFAF, em 1971, ao tempo do major inf Ramalho Eanes e do ten cor inf Mário Lemos Pires (Ernestino Caniço)... Em sua memória,.é reservado o lugar nº 846, à sombra do nosso poilão

Guiné 61/74 - P22427: Blogoterapia (299): Ter muita gente por perto não significa sempre estar-se acompanhado (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493)

1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74) com data de 21 de Julho de 2021:

Amigo Carlos
Faço votos para que te encontres de boa saúde.
Hoje, vai mais um pequeno texto que não tendo nada a ver com a guerra, tem a ver com a vida de muitos que lá foram. Vou publicar no facebook. Se entenderes que merece ser publicado, pública.

Recebe um abraço

António Eduardo Ferreira

********************

Ter muita gente por perto não significa!...

Não é novidade para ninguém que existem algumas pessoas que se aproximam de nós quando delas não precisamos e se afastam quando necessitamos da sua ajuda.
Para que essas situações possam ser evitadas, é necessário procurar saber de onde vêm e o porquê dessas aproximações!... Nem sempre é fácil agir assim, mas é a única forma de evitar acontecimentos, por vezes bastante desagradáveis.
Existem pessoas que sem saber muito bem porquê, gostam de ter sempre muita gente por perto. Outras, mesmo no meio de muita gente, chegam a sentir-se sós.
Já aconteceu a alguns que estando sozinhos, a sentirem-se confortáveis à sombra fresca de uma árvore, aparecerem junto deles várias pessoas. Assim que o sol encobriu… eles voltaram a ficar como antes!... Quando tal acontece, antes de se afastarem, alguns ainda dizem que têm de ir embora... Outros, vão e nada dizem.

Afinal, mesmo com muita gente por perto… nem sempre significa estar-se acompanhado.

António Eduardo Ferreira

____________

Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22387: Blogoterapia (298): "Safety, first"?... Então eu não posso partilhar os meus "contactos pessoais" com aquele ou aqueles camaradas que deles precisam? (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Guiné 61/74 - P22426: Tabanca Grande (523): O cap art Otelo Saraiva de Carvalho, com quem trabalhei na Rep ACAP, QG/CCFAF, em 1971, ao tempo do major inf Ramalho Eanes e do ten cor inf Mário Lemos Pires (Ernestino Caniço)... Em sua memória,.é reserado o lugar nº 846, à sombra do nosso poilão


Foto 1 > Guiné > Bissau > Amura > QG / CC FAG > Rep ACAP (Assuntos Civis e Acção Piscológica) > 1971 > Uma foto histórica: o  Major Ramalho Eanes (Diretor da Secção de Radiodifusão e Imprensa). à ponta esquerda; o ten cor Lemos Pires (chefe da repartição), na ponta direita;  o alf m,il Ernestino Caniço está ao centro, na segunda fila.



Foto 1A > Guiné > Bissau > Amura > QG / CC FAG > Rep ACAP (Assuntos Civis e Acção Piscológica) > 1971 > Uma foto histórica: o  Major Ramalho Eanes, de óculos de sol  (Diretor da Secção de Radiodifusão e Imprensa). à ponta esquerda; o ten cor Lemos Pires (chefe da repartição), na ponta direita;  o alf mil Ernestino Caniço está ao centro, na segunda fila.



Foto 1B > Guiné > Bissau > Amura > QG / CC FAG > Rep ACAP (Assuntos Civis e Acção Piscológica) > 1971 > Uma foto histórica:   na segunda fila, o  então capitão de artilharia Otelo Saraiva de Carvalho, na ponta esquerda, na segunda fila; ao centro, o terceiro a contar da direita deve ser o então já ten cor Luz Almeida (, será comandante da Polícia Militar em 1973).


Foto 2 > Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > QG/CCFAG > 1971 > Rep ACAP (Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica)  > Departamento de Fotocine > Ao centro, o Cap Art Otelo Saraiva de Carvalho e à sua esquerda o Alf Mil Cav Ernestino Caniço, seu colaborador.


Fotos (e legendas): © Ernestino Caniço (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 
-

1. Mensagem do nosso camarada Ernestino Caniço (ex-Alf Mil Cav, Comandante do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, Fev 1970/DEZ 1971, hoje médico, e que aos  77 anos teima em continuar ao serviço dos outros de acordo com o seu juramento hipocrático; vive em Tomar, estando reformado do SNS):


Date: sexta, 30/07/2021 à(s) 17:59
Subject: Otelo

Amigo Luís Graça:

Perante o teu convite para umas referências à Rep ACAP, a propósito do Coronel Otelo Saraiva de Carvalho, pela sua empatia, munificência e humanismo, vou espichar algumas linhas, tentando que, após meio século, não seja atraiçoado pela memória.

Como já tinha referido,  fiz parte da Rep ACAP, no QG/CCFAG, na Fortaleza da Amura -Bissau no ano de 1971. À data era chefe da repartição o Major Lemos Pires (posteriormente promovido a Tenente Coronel).

Faziam parte, com funções de relevo, o Major Ramalho Eanes, o Major Luz Almeida, o Capitão Otelo Saraiva de Carvalho, o Alferes Arlindo Carvalho e o 1º Cabo João Paulo Dinis.

O Major Ramalho Eanes era o Diretor da Secção de Radiodifusão e Imprensa do Comando-Chefe. Com ele partilhei a responsabilidade da biblioteca, além de outros contactos nas nossas funções.

Na manobra psicológica em curso no T.O.  o Capitão Otelo era Relações Públicas por mim coadjuvado e dentro da missão da Rep ACAP, com enfoque nos contactos internacionais, acompanhando figuras proeminentes, nomeadamente jornalistas, atores, senadores, etc., instalando-os e preparando programas, que o Tenente Coronel Lemos Pires apresentava ao General Spínola.

O louvor que me foi atribuído pelo Agrupamento de Bissau, foi redigido pelo Capitão Otelo por indicação do Tenente Coronel Lemos Pires.

Para a entrada na ACAP (após a desativação do meu pelotão Daimler) tinha-me sido destinado a Secção de Assuntos Civis. À minha chegada e pelos contactos anteriores, entendeu o Major Lemos Pires que eu tinha perfil para a Ação Psicológica, pelo que me colocou na Secção de Operações Psicológicas, dirigida pelo Major Luz Almeida

Competia-me então (entre outros) dar apoio logístico ao General Spínola, Governador e Comandante Chefe,  nas suas intervenções nas populações, bem como a feitura de ofícios para as entidades civis e militares por determinação do chefe da repartição. 

Numa outra área intervinha na sensibilização das populações, nomeadamente através de
obras e estruturas efetuadas pelas nossas tropas. A gestão e fruição destas informações estavam a cargo do Alf mil Arlindo Carvalho, de acordo com as normas emanadas superiormente e com a supervisão do Major Ramalho Eanes.

O 1º Cabo João Paulo Diniz animava a rádio das Forças Armadas na Guiné-Bissau, sendo locutor no Pifas (Programa de Informação para as Forças Armadas).

Espero ter correspondido ao solicitado.

Um abraço, Ernestino Caniço

Médico – Chefe Serviço MGF
Gestor Serviços Saúde – Ordem Médicos
Pós Graduação em Direito da Medicina – Faculdade Direito Universidade de Coimbra

2. Comentário do editor L.G.:

Dois camaradas, o José Belo e o Ernestino Caniço, já aqui fizeram o elogio fúnebre do cor art Otelo Saraiva de Carvalho (1936-2021), que fez duas comissões de serviço em Angola e a última na Guiné (1970/73). (*)

Independentemente do seu lugar na nossa História, ele aqui é tratado como qualquer outro "camarada da Guiné", desde que tenha referências no nosso blogue. E o Otelo tem quase duas dezenas

O Ernerstino Caniço, que trabalhou com o Otelo, em 1971, já tinha feito questão de "o ver aqui sentado, à sombra do poilão da Tabanca Grande, embora infelizmente a título póstumo."

E aqui vai o nº que lhe coube, à sombra do nosso poilão, o lugar nº 846 (**). Obrigado ao Ermestino Caniço pela sua resposta à nossa sugestão para escrever alguns linhas sobre a ACAP e o Otelo, bem como pelas preciosas fotos que partilhou connosco.

No seu "site", "Poeta Todos os Dias", outro camarada que  trabalhou com o Otelo (e com o Eanes), o Silvério Dias, o 1º srgt ref, radialista do PIFAS, escreveu os seguintes versinhos sobre o Otelo, na passada quarta-feira, 28 de julho:

O Otelo faleceu

Segundo li no jornal
não haverá luto nacional
para o mentor da Revolução.
Dele ficará, pois, "enfermo".

Este, será, um termo
que indico como senão.
Mas já consta da História,
à margem da reles escória.

O povo não o esqueceu.
À despedida, acorreu.

____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


25 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22404: In Memoriam (400): O Otelo Saraiva de Carvalho (1936-2021) que eu conheci... Ou "As armas e as mãos - Carta ao Otelo amigo" (José Belo, cap inf ref, Lapónia, Suécia)

25 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22402: In Memoriam (399): Coronel Otelo Saraiva de Carvalho (1936 - 2021), autor do Plano de Operações do 25 de Abril de 1974 e que cumpriu uma comissão de serviço na Guiné entre 1970 e 1973

(**) Último poste da série > 22 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22394: Tabanca Grande (522): Ildeberto Medeiros ex-1º cabo condutor auto, CCAÇ 2753, "Os Barões" (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim/K3 e Mansabá, 1970/72): açoriano de Ginetes, Ponta Delgada, a viver em New Bedford, senta-se no lugar nº 845, à sombra do nosso fraterno e sagrado poilão

Guiné 61/74 - P22425: Notas de leitura (1368): “Repórter de Guerra”, por Luís Castro; Oficina do Livro, 2007 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Setembro de 2018:

Queridos amigos,
Começo com uma declaração de interesses quanto a Luís de Castro. Conheci-o pessoalmente em setembro de 2018, fora convidado a participar no programa intitulado "Sociedade Civil". Enquanto conversava com um antigo aluno da Escola Superior de Comunicação Social, Castro rodopiava pelo estúdio e apanhou o tema da conversa que eu travava com o antigo aluno, falava-se da Guiné. E mal iniciado o programa, num aparente desconcerto com a conversa prevista, Castro dispara-me perguntas sobre a Guiné, a guerra, a experiência da cooperação, a despedida dos antigos camaradas, em 2010, os livros, a omnipresença da Guiné. Tudo espontâneo, sem rede, conversa mais improvável não podia haver. E não escondemos como aquele território cava fundo no nosso coração. Li depois este trabalho, do melhor que há ao nível da reportagem. Impossível não partilhar convosco textos tão luminosos, aceita-se que é clara certidão da verdade que o repórter experimentou e passou a escrito.

Um abraço do
Mário


Repórter de guerra: Luís Castro três vezes nas convulsões da Guiné (2)

Beja Santos

Luís Castro é um jornalista de quem os outros profissionais não regateiam elogios: que é inspirador, sabe enfrentar os cenários mais difíceis, assumindo riscos, que tem a fibra dos grandes repórteres, que tem o salto de tigre sobre tudo quanto seja matéria de notícia ou de reportagem, por exemplo. Neste livro “Repórter de Guerra”, Oficina do Livro, 2007, onde o autor colige trabalhos que efetuou em Angola, Cabinda, Guiné-Bissau, Timor-Leste, Afeganistão e Iraque, escolheu-se, como é óbvio, o seu trabalho na Guiné, já ocorreu o período mais dramático da guerra civil, estamos agora no termo dessa guerra, em 1999. Aterra no Senegal onde tem a cabeça a prémio, passa ignorado pelos serviços de fiscalização e daqui parte para Bissau num bimotor. Chegou mesmo a tempo de apanhar o tiroteio do último ato do conflito político-militar: “Fiquei parado mesmo atrás de uma antiaérea que é rebocada por um camião e que vai ser usada para disparar sobre as linhas inimigas. Os dois canos estão voltados para mim, a não mais de dois palmos do outro lado do vidro. Há soldados que correm de um lado para o outro, tiros que não se sabe de onde vêm e rajadas disparadas sem nexo. É a confusão total.”. Nino Vieira já está na Embaixada Portuguesa. Luís Castro considera que a peça ficou fantástica, dá a visão dos dois lados. “Nas ruas, o povo festeja aquilo que chama a terceira independência e o pessoal da Junta Militar leva-nos a visitar os prisioneiros de guerra que estão dentro do aeroporto, na base aérea. Há desde ministros, membros do Governo, colaboradores de Nino, comandantes militares, oficiais superiores e cinco soldados. Amontoam-se vinte e tal em pouco mais de dez metros quadrados. Os que não têm espaço cá em baixo penduram-se nas grades das janelas. O cheiro é nauseabundo e os prisioneiros escondem a cara quando se abrem as portas das celas e nos vêm. Seguimos à procura do líder da Junta Militar, que, quando me vê, apressa o passo na minha direção, eu estendo-lhe a mão mas ele puxa-me e abraça-me durante vários segundos. Mais parece o abraço de um pai ao filho. ‘Você foi o primeiro jornalista a vir ter connosco quando começou a guerra e voltou a ser o primeiro agora que a guerra acabou’. É um homem feliz. Venceu. Nino Vieira acabara de assinar a rendição incondicional.”

Nos dias seguintes, o repórter dá conta do drama dos hospitais e da gravidade das minas. “No Hospital Simão Mendes vou encontrar pessoas com queimaduras gravíssimas, crianças mutiladas, mulheres baleadas ou perfuradas por estilhaços de bombas, homens com os membros gangrenados e gemidos de quem já não tem forças para gritar. Falta tudo. Visito a seguir um local de reabilitação para crianças amputadas e dedico uma das reportagens ao Nilton, um menino de sete anos. Há três meses, um estilhaço arrancou-lhe a perna abaixo do joelho. Hoje, o pai levou-o pela primeira vez ao centro. A prótese custar-lhe-á o equivalente a 190 euros. Não sabe como vai pagar. Ajudo-o com 35 euros. Quando a reportagem foi para o ar choveram dezenas de telefonemas na RTP de pessoas de Portugal a oferecer-se para lhe pagar a prótese. Aconselho os interessados a fazê-lo através da Embaixada em Bissau para que os donativos não se percam à chegada”. E lembra o terror que é a herança das minas deixadas pela guerra, quer sejam antipessoal ou anticarro: “Deixadas pelas duas partes envolvidas no conflito, há que desativá-las antes que causem mais mortos entre os civis. Decidimos acompanhar uma dessas equipas de desminagem dos homens da junta militar. Ao todo, garantem, já encontraram e recolheram mais de duas mil minas anteriormente colocadas no meio das tabancas”.

Em 2003, Luís Castro regressa à Guiné para presenciar em direto algo como uma trágica comédia, a destituição de Kumba Ialá, será mesmo convidado a assistir às reuniões que antecedem o golpe de Estado que retirou os plenos poderes ao homem do barrete vermelho. Ao aterrar em Bissalanca, o repórter apercebe-se que o golpe é praticamente conhecido por todos. “Só mesmo na Guiné é que isto podia acontecer. Até no Governo sabem. E a nossa chegada trouxe ainda mais as suspeitas quanto à proximidade do levantamento militar”. Luís Castro entrevista o general de quatro estrelas, Veríssimo Correia Seabra, o autor do golpe de Estado, o general, que foi o número dois de Ansumane Mané, entretanto assassinado, é acusado de desrespeito pela Constituição, abuso de poder, prisões arbitrárias e muito mais. Kumba iria ser destituído, podia ficar a viver tranquilamente no país ou sair. Kumba irá num táxi para o Quartel-general, será filmado em conversa amena com os autores do golpe, à noite perguntaram-lhe se queria ficar ali ou ir para casa, preferiu a segunda hipótese, e é nesse entretanto que ele conversa com um oficial, sabe que já não é Presidente, que houve um golpe de Estado, lança impropério, foi preciso metê-lo à força dentro de casa. Alguém comenta para o repórter: “Da próxima vez que cá vieres, tu chegas e os guineenses fogem de Bissau. Já se habituaram que quando apareces cá é porque vai haver caldeirada! Não te livras da fama.”

E assim termina a reportagem: “A 6 de outubro de 2004, militares com patentes inferiores a major cumpriram a ameaça e assassinaram o líder do golpe de 14 de setembro, o general Veríssimo Correia Seabra. Só não conseguiram eliminar todo o Estado-Maior porque os restantes se esconderam na Embaixada Portuguesa. Pelo meio ficaram acusações de desvio de dinheiro e corrupção generalizada. Ansumane e Veríssimo lideraram golpes de Estado e acabaram da mesma forma: com vários tiros na cabeça. Desta vez não fui avisado”.
Luís Castro (à direita) no Afeganistão
____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22406: Notas de leitura (1367): “Repórter de Guerra”, por Luís Castro; Oficina do Livro, 2007 (1) (Mário Beja Santos)