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quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22792: O meu sapatinho de Natal (7): O LP, em vinill, editado e distribuído pelo Movimento Nacional Feminino, "Natal 73 - Operação Presença", com arranjos e orquestração do maestro Joaquim Luís Gomes (1914-2009) e dedicatórias de artistas famosos na época, da área do fado (Amália...), do teatro (Raul Solnado...), da tauromaquia (Diamantino Vizeu...) e do futebol (Eusébio...)





Disco (LP em vinil) "Natal73 - Operação Presença", editado pelo Movimento Nacional Feminino. Oferta aos soldados portugueses mobilizados no Ultramar. 



No verso, podiam ler-se  as dedicatórias de vários artistas conhecidos na época, do fado (Amália...), do teatro (Raul Solnado...), da tauromaquia (Diamantino Vizeu...) e do futebol (Eusébio..). Era frases mais ou menos estereotipadas, sem segundas leituras nas entrelinhas... Para quem não tinha chaminé nem sapatinho  nem Natal, nem muito menos gira-discos, podiam soar a falso.  

Aqui vão reproduzidas, com a identificação dos seus autores.


1. Que o Menino Jesus vos ponha no sapatinho uma menina muito bonita. Amália.

2. Com as saudações de simpatia do Jorge Alves

3. Um abração do amigo que nunca vos esquece. Camilo Oliveira

4. Do coração um beijinho muito sincero da amiguinha.  Hermínia Silva

5. Com um abraço e até o mais breve possível.  Raúl Solnado
 
6.  Para os soldados portugueses com abraço e afecto do amigo Ricardo Chibanga

7. Com um abraço de muita aficción do Diamantino Vizeu.

8.  Também quero jogar nesta equipa da amizade do Movimento Nacional Feminino. Por isso chuto daqui um grande abraço para a malta toda. Eusébio.





9. Com admiração e respeito por todos vós. Um regresso muito breve. Fernanda Maria

10. Por maiores que sejam os oceanos que nos separam, nada consegue vencer o amor que me liga a todos vós, meus irmãos. Florbela Queiroz


Natal 73 - Operação Presença


Lista das faixas / arranjos e orquestração do Joaquim Luís Gomes (Santarém, 1914- Lisboa, 2009) , arranjador, compositor e diretor de orquestra:

A1 Lisboa (Abertura)
A2 Trás-os-Montes
A3 Moçambique
A4 Ribatejo
A5 Madeira
A6 Beiras
A7 Timor
A8 Açores
B1 Alentejo
B2 São Tomé e Príncipe
B3 Minho
B4 Cabo verde
B5 Coimbra
B6 Macau
B7 Porto
B8 Guiné
B9 Algarve
B10 Angola
B11 MNF (Fecho)

Foto (e legenda): © Álvaro Basto (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. Há quem guarde estas "velharias"... E ainda bem. Foi o caso do nosso camarada Álvaro Basto (ex-Fur Mil Enf, CART 3492/BART 3873, Xitole, 1971/74), dirigente da Tabanca Pequena, ONGD, membro da Tabanca de Matosinhos, integrando aTabanca Grande desde 26 de junho de 2007...

Foi o nosso coeditor Carlos Vinhal quem, em conversa com o Álvaro Basto, se apercebeu da importância que podia ter, para os nossos leitores, este "recuerdo" do Movimento Nacional Feminino...E escreveu o seguinte:

(...) "Achei que tal objecto  [, ou pelo menos a capa, frente e verso, do disco,] seria interessante mostrar aos visitantes da nossa Página, porque significava muito do que na época se fazia para levantar (?) o moral das nossas tropas. Quem não se lembra das coisas mais desinteressantes, disparatadas e pouco úteis que nos ofereciam então ?! Desde medalhinhas de santos, em alumínio, maços de tabaco (de marcas que nós apelidavamos de mata-ratos), isqueiros (tipo petromax) e quejandos. 

"Confesso que não considero assim o caso vertente, pois ainda se pode reproduzir este vinil nos velhos gira-discos. Além disso, contém, no verso da capa, dedicatórias de figuras públicas da época, algumas das quais já falecidas, o que lhe confere um estatuto de raridade." (...) (*=

E decidiu bem, o nosso coeditor, com a pronta colaboração do Álvaro Basto que nos repoduziu a capa do disco, hoje seguramente um raridade...

A biógrafa de Cecília Supico Pinto refere-se, apenas ao correr da pena, a esta iniciativa que sucedeu a uma outra anterior, mais controversa e menos bem sucedida (,. o lançamento do disco Natal 71, a que chama "o disco da discórdia) (Sofia Espirito Santo . Cecília Supico Pinto. Lisboa, A Esfera do Livro, 2008, pág. 141). Dedicaremos um outro poste a esta história...

Para já, gostávamos de saber se estas "prendas de Natal" da Cilinha chegavam ao mato (, da região do Cacheu à região de Tombali, da região de Quínara à região do Gabu...) e como é que a mala reagia... Havia os que ficavam ofendidos,  outros agradecidos, e se calhar a maior parte indiferentes....

Estamos, em todo o caso,  a falar do último Natal que as nossas tropas passaram no TO da Guiné, a escassos meses do 25 de Abril de 1974 (**).

Lembro-me bem, por que era fã,  de um programa de rádio, muito anterior ao 25 de Abril que dava pelo título "Os Intocáveis"... E nunca mais esqueci a frase, deliciosa: "Este disco é intocável, mas felizmente não inquebrável"... 

Sobre "Os Intocáveis" descobri mais informação, na Net, que partilho com os nossos leitores:

(...) "Paulo Fernando e Orlando Dias Agudo foram os responsáveis da rubrica "Os Intocáveis" em Rádio Clube Português: “apesar de feita em tom ligeiro, ainda que sério, tem suscitado todo um mundo de controvérsia”, lia-se na legenda que anunciava o programa (Nova Antena, 14 de fevereiro de 1969).

Logo depois, Orlando Dias Agudo explicaria a razão da rubrica, surgida ainda em 1967: “apontar aquilo que de mau ia surgindo no panorama musical português” (Nova Antena, 14 de março de 1969). O alvo era somente a música portuguesa e em especial as letras das canções. Com apenas dez minutos de emissão semanal, o programa constituiu um grande êxito.

"O grande impacto do pequeno programa era o som de um disco a partir-se. Os autores tinham gravado o ruído de um disco a quebrar-se no chão e acompanhavam a sua crítica de intocável com essa passagem sonora “catrapum, zás, catrapaz”, a conceder mais realismo. À facilidade de gravar um disco – como escrevia o jornalista: “hoje, qualquer bicho careta pode gravar um disco” – os autores da rubrica propunham qualidade.

"Claro que a iniciativa causaria aborrecimentos aos autores, mas, ao mesmo tempo, teria havido editoras que pediam para eles tocarem os discos por si editados. As frases-chave do programa eram “falem de mim nem que seja a dizer bem” e “este disco é intocável mas felizmente não inquebrável, por isso vamos parti-lo”. São duas frases tão criativas como é a rádio. "(...)


Não creio que este programa, "Os Intocáveis", tenha chegado ao Natal de 1973... De qualquer modo, pode perguntar-se  o disco do MNF "Natal de 73 - Operação Presença" era também "intocável"...

Eu, pessoalmente, não seu responder porque nunca o ouvi (nem nunca o vi, em 1973 já estava na "peluda"). Além disso, o arranjador e orquestrador, o maestro Joaquim Luís Gomes, era homem com méritos profissionais, e que a Sociedade Portuguesa de Autores homenageou, por duas vezes, considerando-o "uma das figuras mais marcantes" da nossa música no séc. XX. 

Em 2004, cinco anos antes de morrer, o maestro foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito pelo Presidente da República Jorge Sampaio)... Mas o disco "Natal de 73 - Operação Presença" não deixava de ser "propagandístico": pelos temas das duas faixas, A e B, via-se que era uma compilação da música folclórica do "Portugal Metropolitano e Ultramarino", que ia do Minho a Timor...

Enfim, seria injusto parti-lo, ao disco, sem o ouvir... O Álvaro Basto, que é um homem de bom gosto, guardou-o. Deve tê-lo ouvido, não no Xitole (onde não devia haver gira-discos) mas quando voltou a casa, em Leça do Balio, Matosinhos... Será que alguém mais tem o disco e acha que é tocável ?

É, em todo o caso, um documento relevante para a nossa história, a grande e a pequena... Para mais, não somos um blogue de "icnoclastas"... Pelo contrário, damos valor o tudo que "fala" de (ou "diz respeito" a) este período das nossas vidas... Parabéns ao Álvaro Basto por o ter guardado, podendo um dia oferecer a um museu que se ocupe das nossas "velharias"... E, com a sua licença, vai este ano para o nosso sapatinho de Natal... À falta de melhor... (**)

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terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22787: O meu sapatinho de Natal (6): o aerograma muito pouco "católico", e muito menos "patriótico", enviado pelo A. Marques Lopes (ex-alf mil, CART 1690, Geba, e CCAÇ 3, Barro, 1968) com sarcasmo e raiva, em dezembro de 1968, à sua mana e cunhado


Guiné > Região de  Cacheu > Barro > CCAÇ 3 > 1968 > Aerograma, edição de Natal, distribuído pelo Movimento Nacional Feminino >  "...Uma ginginha!... Para dar de beber à dor é o melhor"... O alf mil at inf, comandante do Gr Comb "Os Jagudis", pegou no aerograma de Natal do Movimento Feminino, cujo "boneco" já vinha da 1º ( e unica) edição, dezemro de 1961 (!), e "canibalizou-o":  põs um chapéu alto, azul, na cabeça do São José, tipo "porteiro de hotel" (, para não dizer "palhaço de circo"); tingiu de vermelho (sangue) o caqui amarelo do "maçarico" que foi para Angola (em abril de 1961, "rapidamente e em força"); "incendiou" as tabancas... Enfim, mandou um postal de "boas festas", muito pouco "católico" e muito menos "patriótico",  à sua mana e ao seu cunhado... 


Foto (e legenda): © A. Marques Lopes  (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



A. Marques Lopes é um dos "históricos" da Tabanca Grande: é
 o nosso quarto grã-tabanqueiro mais antigo, depois do fundador, Luís Graça, do Sousa de Castro e do Humberto Reis; entrou para a nossa tertúlia em 14/5/2005coronel inf, DFA, na situção de reforma, foi alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/1968) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968), era membro, em 2005, da direção da delegação do norte da Associação 25 de Abril (A25A),  é autor de "Cabra-Cega: do seminário para a guerra colonial" (Lisboa, Chiado Editora, 2015), autobiografia escrita sob o pseudónimo João Gaspar Carrasqueira, que conta a história de António Aiveca. E que já chegou ao Brasil...
 

1. Nesta quadra festiva, lembremo-nos do nosso camarada A. Marques Lopes, de 77 anos de idade, que vive em Matosinhos, e que está hospitalizado. Ele pede que lhe escrevam para o email: a.marques.lopes@hotmail.com 

Fomos "desencantar" um dos seus inúmeros postes (ele tem mais de 250 referências no nosso blogue), e mais concretamente o poste P369, de 18 de dezembro de 2005 (*), recordando o seu já longínquo Natal de 1968, passado em Barro, na CCAÇ 3, onde completou a sua comissão, depois de ter sido gravemente ferido (e evacuado para a metrópole) ao serviço da CART 1690 (Geba, 1967). 

Escreveu ele nesse poste, que vinha acompanhado do aerograma que reproduzimos acima, reeditado entretanto por nós para chamar a atenção do leitor para as modificações por ele introduzidas, com sarcasmo e raiva:

"Este é mais outro aerograma que descobri. 

Mandei-o, pelo Natal, em 1968. 

O que eu quis transmitir é que eram natais de morte
 e que o que procurava era esquecer, 
dando de beber à dor".

Aerograma:

"Querida irmã e cunhado, um Natal feliz 
e que o Ano Novo seja sempre melhor que o anterior. 
António Manuel... 
Uma ginjinha!.. Pois dar de beber à dor é o melhor"...




O nosso camarada Alberto Nascimento,  outro veterano da Guiné e do blogue  (, foi soldado condutor auto,. CCAÇ 84, Bambadinca, 1961/63), teve a ideia (original) de nos mandar,  em 2010,  as boas festas, utilizando este aerograma com impressão de Natal, que era distribuido pelo Movimento Nacional Feminino. (Vd. poste P7445, de 17 de dezembro de 2010).


Foto: © Alberto Nascimento (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]







Guiné > Região do Oio  > Farim  > CART 1802 > Dezembro de 1967 > Um poema de Natal   pelo 2º srgt art Silvério Dias, da CART 1802, mais tarde radialista no PIFAS (de 1969 a 1974) (**).

O aerograma (edição especial de Natal do MNF) era endereçado à D. Maria Eugénia Valente dos Santos Dias, que morava em Carnide, Lisboa. Já na altura era um "poeta de todos os dias", o nosso camarada e grã-tabanqueiro Silvério Dias, um jovem de 80 e muitos  anos... [Vd. aqui o seu blogue].

Foto (e legenda): © Silvério Dias (2014). Todos os direitos reservados.   [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.




MNF - Movimento Nacional Feminino > Dezembro de 1961. Aerograma com impressão de Natal, encomendado   à Tipografia ORBIS.. Repare-se que a figura do militar, de caqui amarelo, capacete de aço e mauser com baioneta, manteve-se  ao longo dos  13 (!) Natais que durou a guerra, a que o 25 de Abril pôs cobro...Desconhece-se o nome do autor da ilustração. 
2. Estamos de acordo que o SPM - Serviço Postal Militar (***)  foi um dos melhores serviços que a tropa criou em tempo de guerra. E quem dizia SPM, dizia aerograma, uma criação, tanmbém meritória, do Movimento Nacional Feminino: era isento de franquia postal (porte e sobretaxa aérea), e o seu transporte (entre Lisboa e Bissau, no caso da Guiné) era assegurado, em geral, pela TAP, de borla...

Sabemos, por outro lado, que o aerograma era "seguro e rápido"...  Alguns de nós (e as nossas namoradas, esposas, amigos, familiares, etc.), achavam o aerograma mais "impessoal", preferindo a carta, devidamente estampilhada, expedida "por avião" (, de resto, como o aerograma)... Mas como a carta era paga (porte mais sobretaxa aérea), achávamos que tinha tratamento especial, diferente do aerograma... Seria o equivalente hoje ao "correio azul"...

Além disso, achávamos, alguns de nós,  que a carta era mais "íntima", prestando-se melhor ás confidências (vivenciais, amorosas, políticas, filosóficas, etc.), podendo inclusive enviar no envelope uma fotografia (ou mais folhas de papel de carta), o que era taxativamente proibido no aerograma...

Todavia, a maioria dos militares , e sobretudo as praças, destacados nos diferentes teatros de operações e demais "províncias ultramarinas", não se podiam dar ao luxo de pôr no correio (SPM) muitas cartas, por causa da "guita", daí a opção pelo aerograma, de distribuição gratuita pelo Movimento Nacional Feminino e com expedição sem encargos... 

Para o ano de 1974, o MNE fez uma encomenda de 32 milhões de aerogramas, nunca pensando que esse ano seria também o  seu último ano de vida, e que milhões de aerogramas iriam para o lixo. (Ao longo da guerra, ter-se-ão distribuído 3 centenas de milhões de aerogramas.)

Curiosamente, o "boneco" do aerograma com impressão de Natal datava de dezembro de 1961... e não teve alterações ao longo dos anos... E provavelmente não teria conhecido alterações de monta,  mesmo se a guerra durasse... cem anos, (!), o que vem confirmar a gestão "amadorística", e muito centrada na líder do MNF, a Cecília Supico Pinto. 

Daí talvez, de entre outras, a razão do "mau humor" do A. Marques Lopes que literalmente canibalizou o aerograma que expediu, de Barro, para a mana e o cunhado. (Será que os destinatários acharam "piada" ao seu humor negro ?)

Sabemos que o aerograma chegou, pelo menos,  ao seu destino, o que também vem confirmar a ideia que o correio, expedido pelo SPM, não era, em princípio, violado pelas autoridades militares ou pela PIDE/DGS... Pela simples razão de que não era praticável o seu controlo sistemático nem sequer aleatório: durante os anos de guerra a expedição média diária foi de 10 toneladas de correio (!!!) para um total transportado de 21 mil toneladas (incluindo aerogramas, cartas, encomendas postais, valores declarados...).(***)

Para os três camaradas que contribuem com os seus "recuerdos" para este poste, vai uma especial saudação natalícia. Do Alberto Nascimento e do Silvério Dias não tenho tido notícias. Do A. Marques Lopes, tenho, mas não são tão boas quanto gostaríamos. Desejo-lhe rápidas melhoras de modo a poder passar o Natal de 2021 em casa, no "quentinho", e "sem ginjinha para dar de beber à dor"... Ou melhor, um Natal com ginjinha mas sem dor, António! 
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de dezembro de 2005 > Guíné 63/74 - P369: O meu Natal de 1968 em Barro (A. Marques Lopes)(2005)

(**) Vd. poste de 5 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15449: O PIFAS de saudosa memória (19): O Armando Carvalhêda no programa "Canções da Guerra", do Luís Marinho, na Antena Um: "O PIFAS, o Programa das Forças Armadas, era mais liberal do que a Emissora Nacional"...

(***) Vd. poste de 27 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17518: Antologia (76): "O Correio durante a guerra colonial", por José Aparício (cor inf ref, ex-cmdt da CART 1790, Madina do Boé, 1967/69)... Homenagem ao SPM - Serviço Postal Militar, criado em 1961 e extinto em 1981.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22762: Notas de leitura (1396): "Cartas de Amor e de Dor", por Marta Martins da Silva; Saída de Emergência, 2021, com prefácio do general Pezarat Correia (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
As toneladas de correio que ligavam diariamente os militares às suas famílias é material que pouco pesa na historiografia das guerras que travámos em África. Eram predominantemente aerogramas, mas não faltavam cartas e bilhetes-postais, eram uma âncora afetiva tão poderosa que alguns escritores registaram e ainda nos tocam profundamente as descrições da chegada do correio. Marta Martins Silva desvela o papel desta correspondência através de uma significativa reportagem de investigação que começara pela narrativa das madrinhas de guerra e que ela agora prolonga com talento com o recurso a livros, documentos avulsos e muitas entrevistas. Foi hábil quando nos dá uma sinopse das cartas na I Guerra Mundial, para termos um termo de comparação com tudo o que se seguiu a partir de 1961, é óbvio que a narrativa afetiva alcançou outra dimensão mas a jornalista primou pelo cuidado de demarcar eflúvios amorosos, estados de saudade, dissimulações para não dar à família preocupações sobre as hostilidades da guerra, das cartas de dor, porque quem combatia também iria ser confrontado com anúncios de mortes, houve mentes perversas que endereçaram cartas anónimas e houve quem, por carta, soubesse que tinha perdido familiares ou o seu maior amigo. O mínimo que se pode pedir a Marta Martins Silva é que continue a explorar este lado obscuro da vida íntima dos antigos combatentes enquanto é tempo, para que a historiografia não fique meramente confinada a factos documentais irrefutáveis (e refutáveis) e se sinta o pulsar e o estado de ânimo de quem escreveu aquelas toneladas de correspondência que enchiam a vida daqueles jovens de camuflado de promessas de esperança.

Um abraço do
Mário



Cartas de Amor e de Dor, por Marta Martins Silva (1)

Mário Beja Santos

Descobriu na sua atividade jornalística na revista Domingo do Correio da Manhã, através de desabafos de antigos combatentes, que há uma vertente de guerras gradualmente sumidas na memória dos portugueses que merece ser revitalizada, é constituída por aerogramas, cartas, bilhetes-postais, folhas de apontamentos, fotografias, é um acervo de consulta marginal pelos historiadores e investigadores dos diferentes países envolvidos. No entanto, são documentos onde podemos aquilatar a vida emocional desses jovens, abruptamente retirados de um ambiente familiar, de uma profissão ou dos estudos, e que vazam na escrita o que descobrem em novas paragens, nem sempre contidos nas saudades, por vezes discretos na narrativa da hostilidade permanente, perguntando pela família e pelos amigos, disfarçando os estados de alma com descrições pacíficas sobre a comida, a vida do quartel, omitindo, tanto quanto possível, quem morre e quem se sinistra. Marta Martins Silva procura veios novos para interpretar o universo psicológico destes jovens vestidos de camuflado. Começou por os pôr a conversar com as madrinhas de guerra, e agora, em "Cartas de Amor e de Dor", Desassossego, chancela do grupo Saída de Emergência, 2021, parte de cartas da I Guerra Mundial, fala-nos do ano de 1961 em Portugal, explica a não-iniciados os dados fulcrais do Serviço Postal Militar e então entramos numa grande torrente, primeiro a do amor, os parentes mais próximos, as namoradas e as mulheres e todo este ímpeto epistológrafo desagua numa dor que não se pode esquecer, os pais que reclamam o corpo do filho, a carta que anuncia a morte de um amigo muito querido num outro teatro de guerra, as cartas anónimas infamantes. Uma verdadeira surpresa, esta reportagem com investigação descobre algumas pepitas de ouro e seguramente que contribuirá para que o olhar dos historiadores e investigadores deixe de ficar indiferente a estas toneladas de correspondência.

O General Pezarat Correia logo chama a atenção no prefácio de que o foco da obra é o drama humano da guerra na forma de correspondência, exalta o modo como a autora contextualiza a época e o ambiente, ela tem uma preocupação maior, a lembrar ao leitor, sobretudo das novas gerações, que aqueles soldados que regressavam não eram os mesmos homens que tinham partido. A importância para o estudo da História também não escapa ao prefaciador, logo a evolução do estado de espírito, as formas patrioteiras de 1961 vão-se apagando com a guerra prolongada. Direi da minha parte que há um outro ângulo da correspondência militar que merece a melhor atenção de quem investiga: a evolução do estado de espírito ao longo dos dois anos de comissão e que bem se espelha na quantidade do que se escreve à chegada ao teatro de operações, como o cansaço se torna indisfarçável, quase intolerável a atitude de inquietação nos últimos meses, é uma escrita agitada, um tanto sintética, o correspondente paira entre dois mundos, mesmo inconscientemente sabe que quando chegar ao lugar onde tão ansiosamente o esperam ele é outro.

Estamos na I Guerra Mundial, a primeira carta da Maria para o António é escrita num Portugal ceifado pela gripe pneumónica, já houvera a cena apocalítica de La Lys, a autora fala-nos de África, onde igualmente combatemos, do Serviço Postal, temos um padre jornalista, José Ferreira de Lacerda, fundou o jornal "O Mensageiro", em Leiria, em 14 de julho escreve ao amigo: “Agora estão as granadas a rebentar a uns 500 metros de onde estou. Não vejo o efeito porque não tenho tempo a perder, mas sinto os franceses a passar debaixo da janela do meu quarto a retirarem das proximidades dos rebentamentos. Os alemães, com os tiros que fazem neste momento, não matam a milésima parte. Tenho três feridos da minha freguesia, um gravemente, mas todos por desastre. Se quiser amanhã de manhã ver os efeitos das granadas, venha daí. Agora não, que é perigoso!”. Cumprimenta o padre José Ferreira de Lacerda, alferes capelão-militar da 3ª Brigada de Infantaria. E ficamos conhecedores de quem foram as primeiras madrinhas, tem a palavra um prestigiado arqueólogo, Afonso do Paço, é uma correspondência que acompanha quem ficou prisioneiro dos alemães e há um alferes de infantaria, João Valadares Costa, prisioneiro na Alemanha que pede à sua boa mamã conservas, manteiga, marmelada, chocolate, bolacha, mas também bacalhau grosso, alho, cebola, pimenta e muito mais, tudo que deve ser remetido bem-acondicionado e fechado. “Peço que também me mandem umas alparcatas, uma escova de dentes boa, e duas pastas Couraça, sabonetes e sabão”. Há quem escreva aos maridos com a euforia de o saber vivo, aproveitando a circunstância para falar dos palavrões que o sogro profere, já supunham que o seu querido homem tinha batido a bota: “Porque o teu pai já te andava a fazer os funerais do que tu tinhas em nossa casa, era a tua roupa que queria ir buscar a nossa casa. Quer com respeito aos dois relógios ele assenhorou-se de ambos, diz ele que não me dá nenhum”. Há quem foi combater a França e por lá ficou constituindo família, a autora fala mesmo em histórias edificantes. E temos o Armistício e o Comité de Socorros aos Militares. E assim chegamos a 1961, um dos primeiros que parte para Angola, Etelvino da Silva Baptista escreveu no seu diário: “Embarco ao meio-dia. Não posso descrever o que me custou a partida. Ainda muito depois de perdermos a costa de vista havia muitos camaradas que choravam. A bordo havia música por todos os lados para nos distrairmos. Andei a percorrer todos os cantos do navio. São 10,20 vou-me deitar. Estou a lembrar-me muito especialmente da Isabel e apetece-me chorar, mas não posso”.

A autora contextualiza os acontecimentos que preludiam o início da guerra de Angola, para o Estado Novo 1961 foi um ano horrível. Sufocada a tentativa de mudança de regime, Salazar manda partir para Angola, rapidamente e em força, dá-nos troços de cartas de mães e mulheres a pedir cautelas, temos aqui cartas deles com arroubos patrióticos, o esforço de recuperação das povoações abandonadas e ocupadas pela UPA, era a reconquista do Norte de Angola. Desta feita, temos um novo modelo de Serviço Postal Militar, cuja génese aparece filiada ao Movimento Nacional Feminino, esta instituição procura zelar pela situação de militares doentes ou pão de família, é inevitável a referência a Cecília Supico Pinto para se entender a criação do aerograma e como este foi peça fundamental na correspondência dos militares durante a guerra. Marta Martins Silva fala-nos do apelo que este Movimento lançou para o apoio aos militares através da figura da Madrinha de Guerra. Algum desse correio tornar-se-á conhecido, como aquele que o escritor António Lobo Antunes enviou à sua mulher Joana, deu origem ao livro D’este viver aqui neste papel descripto: “Nesta terra tenho enterrado os melhores meses da minha vida e, se calhar, também, a maior parte dos anos da minha velhice. Isto gasta por dentro como um cancro. E o que mais me custa é o coeficiente do absurdo desta aventura. É um preço caro o que estou a pagar para poder um dia viver aí. E tu, então, casada com uma espécie de fantasma! Pai de uma criança que não conheço, marido de uma mulher com quem não posso falar e a quem não posso tocar. Condenado a uma horrível solidão. Condenados os dois a uma horrível solidão”.

E agora, sim, vão começar a jorrar as cartas de amor.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22743: Notas de leitura (1395): "Nunca digas adeus às armas: os primeiros anos da guerra da Guiné", de António dos Santos Alberto Andrade e Mário Beja Santos, Lisboa, Edições Húmus, 2020: um livro escrito com autoridade (João Crisóstomo, Nova Iorque)

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22740: Notas de leitura (1394): "Madrinhas de guerra, A correspondência dos soldados portugueses durante a Guerra do Ultramar", de Marta Martins Silva, prefácio de Carlos de Matos Gomes; Edições Desassossego, 2020 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,

É uma terna surpresa, esta investigação de Marta Martins da Silva, uma viagem circundante pelas guerras do Império, as madrinhas de guerra vinham procurar aplacar a solidão daqueles jovens que procuravam amarras na comunicação com o mundo de onde provinham, alguém fora dos contatos estabelecidos pelos vínculos familiares ou um quadro afetivo de onde se sabia de antemão que vinham abraços de coragem, família e amigos situavam uma atmosfera de identidade, as madrinhas de guerra era outra coisa, propiciavam oportunidade de abrir portas a um mundo desconhecido, quem escrevia ignorava a vida do outro e numa espiral podia crescer a intimidade, a madrinha enviava dados da sua vida e prometia companhia a quem combatia lá longe. 

Marta Martins da Silva vai ao passado da I Guerra Mundial, exatamente como faz agora com livro recém-publicado e intitulado Cartas de Amor e de Dor, recordações íntimas e poderosas do Ultramar, Edições Saída de Emergência, 2021, de que mais tarde falaremos. Posso estar equivocado, mas não há relato tão belo sobre o desempenho destas mulheres anónimas como este livro que se revela um verdadeiro prodígio de História Oral.

Um abraço do
Mário



A madrinha de guerra sabe que é importante distrair o seu afilhado

Mário Beja Santos

"Madrinhas de guerra, A correspondência dos soldados portugueses durante a Guerra do Ultramar", de Marta Martins Silva, prefácio de Carlos de Matos Gomes, Edições Desassossego, 2020, é um livro surpreendente, pela inovação da pesquisa, pela abrangência do tratamento da temática, pelas questões sociológicas que ousa levantar. E Carlos de Matos Gomes abre as hostilidades com um magnífico prefácio:

“É uma obra sobre as estratégias pessoais dos jovens portugueses feitos soldados para preservarem a corrente que os liga à origem, para resistirem às várias mortes, a física e a emocional. As madrinhas de guerra constituíram uma das amarras que permitiram ao mobilizado continuar a fazer parte da sua comunidade, enquanto ser social (…)

A correspondência trocada entre os militares portugueses e as suas madrinhas de guerra revela que aquela não era uma guerra que pudesse ser ganha por aqueles soldados. As primeiras cartas falam do cumprimento de um dever, de um tributo a pagar, mas, logo de seguida, do regresso, do vazio da missão que cumprem. Não se vislumbra nenhum sentimento de orgulho por estarem os militares mobilizados a contribuir para uma vitória ou para uma grande causa. As cartas manifestam, isso sim, preocupações com a sobrevivência, com o desejo que o tempo passe sem deixar grandes marcas (…) 

Da leitura das cartas subentendemos que a guerra também foi o pretexto para procurar uma companhia, um destino, um futuro. Umas vezes o resultado foi feliz, noutras nem tanto. Em muitos casos, os correspondentes e as madrinhas perderam o rasto um dos outros. Quando as promessas trocadas nos aerogramas não se concretizavam na chegada dos militares à metrópole, muitas madrinhas e muitos dos mobilizados acabaram por queimá-los e a outras recordações da guerra, como um adeus ao passado. Marta Martins Silva reconstrói com emoção parte dele”.

A primeira surpresa que a autora nos proporciona é falar-nos de um livro de um pioneiro da arqueologia, Coronel Afonso do Paço que escreveu o livro "Cartas às madrinhas de guerra", com data de 1929, e nos fala da guerra das trincheiras. E temos a história de um grupo de mulheres que incentivou esta forma de comunicação, os extratos que a autora nos oferece dão conta da evolução do estado de espírito do combatente Afonso do Paço, basta o extrato de uma carta de fevereiro de 1918:

“Se a madrinha soubesse o quanto nós sofremos nesta vida de trincheira!? Se pudesse imaginá-lo!? Diria que era uma vida inteira votada à dor e ao sofrimento, porque só de dor e sofrimento é feita a nossa vida na trincheira. Sofre-se de metralha que nos corta as carnes em paroxismo de dor. Sofre-se de gases que nos queimam o corpo, que secam as goelas, fazem espirrar como cabritos ou chorar como Madalenas. Sofre-se de frio, os pés na lama, a roupa pegada ao corpo, as articulações emperradas de reumatismo. Sofre-se de piolhos que nos roem a pele. Sofre-se na terra de ninguém rastejando sobre a lama ou cadáveres em putrefação”.

E daqui partimos para os aerogramas, em Jumbembém Manuel de Sousa vai contando o seu fadário, e vem logo a propósito conhecer a popularidade do chamado bate-estradas, grátis para um militar, a preço insignificante para as famílias, envolveu o Movimento Nacional Feminino (MNF), o Serviço Postal Militar, a TAP, os transportes marítimos. 

A dirigente do MNF, Cecília Supico Pinto, define a competência da madrinha: escreve ao afilhado pelo menos todas as semanas, procura ser sempre agradável, versando os assuntos que mais possam interessá-lo, escreve para o distrair. Porque, como nos recordou Carlos Matos Gomes, quem partiu para aqueles teatros de guerra a tudo quer resistir quando sentiu que quebrava uma ligação ao que lhe era matricial à sua terra, à sua família, à sua comunidade, aos seus projetos de vida. E a autora desenvolve habilmente a origem e o sucesso deste meio de comunicação, dá-nos o essencial do que foi o papel do MNF, como se chegava à madrinha de guerra, muitas vezes era graças às revistas mais populares da época, caso da Crónica Feminina, talvez o maior sucesso de todos os tempos em Portugal de uma revista de entretenimento. Um meio que permitiu enredos, aproximações que levaram à descoberta do amor ou que respeitaram à mera formalidade da ajuda que era pedida para distrair um militar.

E temos uma correspondência que permite conhecer o perfil de quem escreve, como vive, do que gosta, como ocupa o tempo, como trabalha. O militar responde, começa então respeitoso e vai-se desprendendo, pergunta se há namorado na costa, pede fotografia, umas vezes é comedido a descrever os horrores da guerra, outras vezes não tanto, trabalha na padaria, na manutenção de viaturas ou na secretaria, e não quer dar parte de fraco. 

Essa riqueza epistolar é-nos dada pela autora através de uma transcrição muito bem escolhida que intitula “Amor em tempo de guerra”, no fundo o triunfo dos aerogramas, tudo vai acabar bem, no altar ou na conservatória, com o copo-de-água possível. O primeiro contacto é sempre tocante, caso de Mário Silva para a menina Rosa Maria:

“Menina, você dizia-me que gostava de saber de onde eu era, pois eu sou de aí de perto, tão perto que pertenço à mesma freguesia. Sou natural de Vilarinho, mas já vivo fora da terra natal há 10 anos, estando os últimos anos como padeiro em Lisboa. Menina, quando me escrever, não se importava de me mandar dizer se é natural de Cacia e ao mesmo tempo agradecia que me trates por tu. Se por acaso a menina não se importasse podíamos escrever como madrinha e afilhado? Agradeço uma vez mais a atenção dispensada".

Nem todos os casamentos irão ocorrer pouco depois da chegada do jovem, a autora deixa-nos para o fim um amor de longa espera entre Maria do Céu Cadima e Fernando Paredes. A Maria do Céu nunca deu ao Fernando qualquer sinal de que queria ser mais do que a sua madrinha de guerra, nunca se ultrapassava a linha da amizade, o Fernando queria mais. A vida trocou-lhes as voltas, Fernando casou com Maria Olinda, sem nunca deixar de pensar na sua Céu. A mulher de Fernando adoeceu e morrer em 2010, pouco depois Fernando também adoeceu com linfoma nos ossos, chegou a ir viver para um lar, onde contava a sua antiga história de amor, os moradores, comovidos, encorajaram-no a encontrar-se com a amada. E como no romance de Gabriel García Márquez, "O Amor nos Tempos de Cólera", cinquenta anos depois, Fernando plantou-se à porta da Céu, ela disse que não mas aceitou reatar a amizade. O resto merece ser transcrito:

“Casaram a 13 de maio de 2015 pelo civil e a 1 de agosto passaram a morar os dois em Alfarelos, a terra do noivo. O casamento pela igreja fez-se a 7 de novembro, na Igreja de S. Martinho, em Montemor-O-Velho, a terra da noiva. A cerimónia teve guarda de honra dos Bombeiros Voluntários. Mas a felicidade que tardou a chegar para o casal não ficou durante muito tempo e por isso Céu não pôde ajudar Fernando a contar esta história, a história de um amor que venceu passado 50 anos com uma guerra pelo meio e muitas adversidades. ‘Só estivemos juntos um ano e meio, a Céu teve uma pneumonia e como tinha as defesas em baixo não resistiu a uma bactéria hospitalar. Foi um golpe duro depois de tanto lutarmos por este amor’, conta Fernando comovido. Céu, a fininha de voz doce que lhe disse naquele primeiro baile que não sabia dançar, morreu no dia 8 de janeiro de 2016. ‘Céu, eu nunca te vou esquecer’."

E com este ponto culminante finda um itinerário que é mar ignoto para as novas gerações, tudo parece inacreditável ter havido mulheres que escreviam a um desconhecido, por sugestão do Movimento Nacional Feminino, dando alento e por vezes lugar a declarações apaixonadas, algumas que chegaram ao altar.

É uma dádiva maravilhosa, a de Marta Martins Silva, pôr estas mulheres esquecidas em cena pela voz das próprias, acabaram por ser protagonistas de uma guerra que seguramente nada lhes dizia, cumpriram o seu dever e até por vezes encontraram amor para toda a vida.

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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22721: Notas de leitura (1393): "História da África Contemporânea, da Segunda Guerra Mundial aos nossos dias", por Marianne Cornevin, I Volume; Edições Sociais, 1979 (2) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22603: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (91): Agradecimento da investigadora Sílvia Espírito-Santo pela colaboração dos nossos camaradas em projecto sobre o Movimeno Nacional Feminino


Cartaz do evento


1. Mensagem a investigadora Sílvia Espírito-Santo, autora do livro “Cecília Supico Pinto: o rosto do movimento nacional feminino” (Lisboa: A Esfera do Livro, 2008, 222 pp.), doutoranda em História Contemporânea na Universidade do Minho, mestre em Estudos sobre as Mulheres na Universidade Aberta, licenciada em História na Faculdade de Letras -Universidade de Coimbra;


Data - 03/10/2021, 10:29 (há 3 dias)



Assunto . Agradecimento


Caro Luís Graça,

Em primeiro lugar os meus cumprimentos. Deve ter estranhado o meu silêncio, mas tenho estado a escrever o artigo sobre o MNF e a preparar a sua apresentação no âmbito da Conferência realizada dia 1 de Outubro e cujo «cartaz» envio junto. (Peço desculpa pela qualidade da imagem).

Como foi gravada, logo que seja possível enviarei a minha comunicação em que agradeci genericamente a colaboração dos ex-combatentes. (*)

Porém, não queria deixar de lhe pedir que fizesse chegar a todos, e a cada um, a minha gratidão pela forma generosa com que acederam ao meu pedido, mesmo aos que o Covid adiou um encontro pessoal.  (**)

Ao v/ dispor
Sílvia Espírito-Santo
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Notas do editor:

(*) Vd. poste e 3 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22062: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (84): Pedido de colaboração aos nossos leitores para resposta a algumas questões sobre o Movimento Nacional Feminino ( Sílvia Espírito-Santo, doutoranda pela Universidade do Minho, biógrafa de Cecília Supico Pinto)

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22323: Notas de leitura (1363): “As Voltas do Passado, a Guerra Colonial e as Lutas de Libertação”, organização de Manuel Cardina e de Bruno Sena Martins; Edições Tinta-da-China, 2018 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Setembro de 2018:

Queridos amigos,
Trata-se de um projeto científico pertinente e não hesito em dizê-lo original, pelas opções temáticas que foram tidas em conta: a partir das datas marcantes da luta anticolonial, dezenas de autores de diferentes áreas de conhecimento puseram-se a questionar a História e o legado desses tempos de mudança. Denunciam-se mitologias e o mais importante é que aqui se esboça um outro modo de contar a memória de uma guerra que se viveu em muitos teatros e que ainda hoje nos contagia pelo cotejo de críticas ideológicas. É por isso uma leitura a que não nos devemos furtar.

Um abraço do
Mário



As voltas do passado, a guerra colonial e as lutas de libertação

Beja Santos


“As Voltas do Passado, a Guerra Colonial e as Lutas de Libertação”, organização de Manuel Cardina e de Bruno Sena Martins, Edições Tinta-da-China, 2018, é uma detalhada evocação, em voz plural, de acontecimentos influentes, eventos selecionados que, como justificam os coordenadores, “têm em comum o facto de terem produzido um lastro memorial presente em discursos e monumentos públicos, em mobilizações sociais, em apropriações políticas. Escolhemos 47 eventos que, tomados em conjunto, podem ser vistos como partes de um caleidoscópio ainda vivo”

É uma tentativa historiográfica para ler um outro modo de contar Portugal e as diferentes nações africanas emergentes da luta anticolonial. Daí o leitor ter oportunidade de recordar em sequência cronológica eventos como o Massacre de Batepá, em São Tomé e Príncipe (1953), o início da vaga de prisões de militantes nacionalistas em Angola e o Massacre do Pidjiquiti, em Bissau (1959), o Massacre do Mueda, Moçambique (1960), a revolta camponesa na baixa de Kasanje, Angola (1961), até ao 25 de Abril, onde terão peso acontecimentos como a libertação dos presos políticos do Tarrafal, a fundação da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, o fim do exercício Alcora, as independências de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Angola e a ponte aérea da TAP, em 1975. 

Obviamente que há textos de bom quilate e outros que não deixarão memória, escritos em água chilra, acontece. Michel Cahen deixa-nos um texto muitíssimo bem elaborado sobre o Massacre do Mueda, em 16 de junho de 1960. É cortante e denunciador da muita mistificação sobre a propaganda de Mueda. O governador de Cabo Delgado não atinou com as razões de fundo que traziam de volta os Macondes à região, eles voltavam para Moçambique porque a independência do Tanganhica os inquietava, na medida em que os fazendeiros europeus do sisal, sob pressão dos sindicatos, tinham aumentado os salários e já não necessitavam de mão-de-obra estrangeira. E escreve Michel Cahen: 

“Não vinham para pedir com clareza a independência, e ainda menos a independência de Moçambique, mas a liberdade para voltarem livremente à sua terra. Pode-se perfeitamente chamar a isto nacionalismo, mas não era nacionalismo moçambicano”

Referindo-se à tese de outra investigação baseada na memória oral, ele trabalhou principalmente com fontes arquivistas coloniais e fontes orais portuguesas. E termina o seu texto de forma primorosa, lembrando que há equívocos que bem retorcidos ganham foro de lenda ao serviço dos poderes do dia:

“Os arquivos coloniais veiculam a narrativa do colonizador. Mas têm uma vantagem: não mudam. Além disso, os atores coloniais que entrevistei nos anos 1980, um após outro, nunca mais tinham vivido em Mueda. Encontrei obviamente várias contradições nas suas narrativas, mas pude confrontá-las. E também utilizei fontes orais africanas.

Não é uma questão de saber ‘quem tem razão’. Este debate é muitíssimo interessante e deverá ser aprofundado. Trata-se, no fundo, de conhecer as condições de produção da memória. Condensarei essas linhas citando este pequeno debate que tive, em 2000, com uma testemunha africana da tragédia de 16 de junho de 1960:
- Houve muitos mortos?
- Sim, muitos! Foram 16!
- Ah! Pensava que eram 600…
- Sim, depois recebemos a orientação de que eram 600.


Marcelo Bittencourt, relativamente aos ataques em Luanda, em 4 de fevereiro de 1961, também adota uma versão que procura remover a poalha da propaganda e a apropriação da aura dourada de quem vem invocar que é o personificador do evento:

“O fator mais importante na vinculação do 4 de fevereiro ao MPLA é o ingresso dos principais protagonistas da ação na legenda, após a detenção destes, como consequência da contraofensiva colonial que se instala em Luanda. Não tiveram de fazê-lo antes da ação que inaugura a luta de libertação angolana. O MPLA havia começado o processo de estruturação da sua rede clandestina em Luanda, no início do ano de 1960, mas passados alguns meses uma nova onda de prisões iria encarcerar seus líderes, como Agostinho Neto e Joaquim Pinto de Andrade.

Desta forma, o 4 de fevereiro é o primeiro e último ato insurrecional, violento e anticolonial a refletir essa constelação de organizações clandestinas ainda muito ligadas aos seus vínculos elementares de solidariedade, fossem eles o bairro, a profissão, a família, a escola ou a associação cultural aos quais estavam ligados. Ou seja, a luta no terreno da história e da memória entre as duas principais forças políticas do nacionalismo angolano nos anos de 1960 parece ser o melhor caminho para entender a gestação e o posterior embate pela paternidade do 4 de fevereiro”
.

O leitor passa a dispor de um conjunto de referências sequencialmente cronológicas, conhecer a criação do Movimento Nacional Feminino, a fuga de cem estudantes das colónias, a revogação do Estatuto do Indigenato, a criação dos Comandos, a Operação Tridente, o início da luta armada em Moçambique, o encerramento em Lisboa da Casa dos Estudantes do Império, Cabral na Conferência da Tricontinental em Havana, em janeiro de 1966, o I Congresso da UNITA, a criação em Cuba das Forças Armadas de Cabo-Verde, que acabarão por ser desviadas para a luta armada na Guiné, o assassinato de Eduardo Mondlane, a Operação Mar Verde, a morte de Josina Machel, o Massacre de Wiriamu, o assassinato de Amílcar Cabral (que o autor erradamente fixa pelas 20h30 de 20 de janeiro), a tomada do quartel de Guilege, a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau, o fim do exercício Alcora, a independência de Moçambique, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe e depois de Angola.

De leitura obrigatória para quem pretenda aprofundar o conhecimento do período correspondente à guerra colonial. Haverá textos que vão ficar como referência.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22303: Notas de leitura (1362): “Itinerários de Amílcar Cabral”, organização de Ana Maria Cabral, Filinto Elísio e Márcia Souto; Rosa de Porcelana Editora, 2018 (Mário Beja Santos)

domingo, 30 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22236: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (6): Cecília Supico Pinto (30/05/1921-25/05/2011), uma portadora de afectos - No dia do centenário do nascimento da fundadora do Movimento Nacional Feminino

Sexta crónica do nosso camarada Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70):


MEMÓRIAS AO ACASO

06 - PORTADORA DE AFECTOS


Conheci a elegante Senhora D. CECÍLIA SUPICO PINTO a 02 de Maio de 1969, aquando da sua visita, por duas ou três horas, ao aquartelamento de CÓ, que à época transbordava de militares oriundos das mais diversas Armas do Ramo do Exército, empenhados na construção da estrada "CÓ-PELUNDO".

Havia tropas de infantaria, cavalaria, armas pesadas, artilharia, engenharia e eventualmente outras, que a memória de há 52 anos poderá deixar escapar.

O Comando da minha Companhia estava a meu cargo, e é nessa circunstância que o CMDT do aquartelamento me indigita para assumir a acção protocolar de receber a ilustre Presidente do MNF, missão assaz facilitada pela sua natural simpatia, sublime educação, determinação, inteligência, coragem, conhecimento dos teatros de guerra, do carinho quase maternal com que "A CILINHA" se dirigia aos seus"meninos", falando-lhes, é certo, com alguma exultação patriótica, mas sobretudo do amor e da saudade de suas MÃES, que curiosamente eram da sua geração e que lá longe, na Metrópole, viviam em permanente ansiedade cientes da dureza da guerra por terras da Guiné.

Num dos momentos mais informais, e num cordial diálogo que mantivemos, enalteci-lhe, e agradeci-lhe, a criação do espectacular "AEROGRAMA" de que eu próprio era assíduo utilizador, e a importância sentimental que ele tinha para os militares e suas famílias, sem por sombras imaginar, à época, os números astronómicos diariamente assumidos no movimento postal só pelo uso do "BATE-ESTRADAS", como era conhecido na gíria militar.

E saudei na sua pessoa a intervenção bem notória do MNF na agilização das burocracias duma retaguarda inundada de emperrantes "pequenos poderes", que se quedavam numa abjeta inércia sem o mínimo respeito pelos combatentes, ou sua memória, e suas doídas e quase sempre carenciadas famílias.

Estamos no ano do I Centenário do Nascimento (30/05/1921) de CECÍLIA S. PINTO. Em sua memória, e com profundo respeito e admiração pela sua pessoa e sua obra, não esquecendo todas as outras Senhoras do MNF, muitas delas Mães de jovens mobilizados para as frentes de combate, venho aqui deixar meu testemunho de eterna gratidão pelo apoio dado aos combatentes na sua inegável qualidade de "portadora de afectos".

Foto 1 - Có - Cecília Supico Pinto no uso da palavra, na parada de Có, acompanhada do CMDT Major Ferreira da Silva e do Alf Mil Miguel Rocha.
Foto 2 - Có - A boa disposição de Cecília a contagiar todas as patentes.
Foto 3 - Có - Já na messe, combatendo o calor com uma bebida refrescante, depois do discurso e da distribuição das habituais "lembranças do MNF" aos rapazes reunidos na parada.
Foto 4 - Có - Cecilia Supico Pinto, perante o ar divertido do Major Ferreira da Silva, surpreende o Alf. Mil. Miguel Rocha com uma especial “lembrança”.
Foto 5 - Có - O Alf. Mil. Miguel Rocha indaga da possibilidade de obter mais uns maços de tabaco para os rapazes da sua Companhia.
Foto 6 - Có - Missão impossível! A caixa dos cigarros está quase vazia e o que resta tem destino marcado.
Foto 7 - Có - Uma cordial despedida de uma visita vivida com muita simpatia e permanente boa disposição
Foto 8 – Assinando como “Alferes” Cilinha, o cartão dirigido pela Presidente do MNF ao alf. mil. Miguel Rocha, a acompanhar a carta oficial de agradecimento pelo acolhimento que recebeu no aquartelamento em Có.
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE MARÇO DE 2020 > Guiné 61/74 - P20767: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (5): Volkswagen "Pão de forma"

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22087: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (85): respondendo ao pedido de colaboração da doutoranda Sílva Espírito-Santo, biógrafa de Cecília Supico Pinto (João Crisóstomo, Nova Iorque)


Foto nº 1 > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > O João Crisóstomo  e o Henrique Matos,o primeiro  comandante do Pel Caç Nat 52 (1966/68),  junto ao monumento comemoratvo dos 500 anos da chegada de Diogo Gomes ao Rio Geba


Foto nº 2 > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > 1966 > Visita da Cecília Supico Pinto


Foto nº 3 > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > 1966 >  Local de convívio da companhia: sentada, em segundo plano, a Cecília Supico Pinto; o capelão, de costas, dá-lhe as boas vindas; a sua secretária aparece èm primeiro plano, à esquerda.

 


Foto nº 4A  > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) >  Aerograma  > Resposta do Movimento Nacional Feminino a um pedido do João Crisóstomo. Tem a data do correio de Lisboa, 18 de novembro de 1965 [?]
 

Foto nº 4B  > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) >  Excerto do aerograma com resposta a um pedido do João Crisóstimi. Termina assim: "Com as nossas saudações académicas, Pela Secção de Apoio aos Milicianosm Maria do Rosário Domingues".


Foto nº 5 > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > Conteúdo do aerograma do MNF, datado de Lisboa, 17 de novembro de 1965



Foto nº 5A> Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > Conteúdo do aerograma do MNF, datado de Lisboa, 17 de novembro de 1965. Excerto.



Foto nº 5B > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > Excerto aerograma do MNF, datado de Lisboa, 17 de novembro de 1965 e assinado por Maria Adelaide Sousa Secção de pedidos individuais.

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mensagem de João Crisóstomo [, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67); é um luso-americano, natural de Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras; vive em Nova Iorque; e é um conhecido ativista de causas que muito nos dizem, a nós, portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes],


Date: domingo, 4/04/2021 à(s) 12:08
Subject: resposta ao pedido da Sílvia Espírito-Santis  a Luís Graça( blogue)
 

Prezada Sílvia,
 
Vi o seu pedido no blogue  e a resposta do Luís Graça (*).

Por razões evidentes  acredito que vai receber mais  respostas do que alguma vez imaginou. Aqui está a minha pequena colaboração. Limito-me a enviar alguma informação, 3 fotos e um documento que, pela suas perguntas,  acho mais pertinentes. 

Quanto às suas perguntas  "o que pensava", "o que sabia",   " como encarou as visitas", "efeitos nos ânimos" etc., deixarei que  outros, com mais facilidade  de expressão,  falem sobre isso, que o poderão fazer bem melhor do que eu.  
 
Eis aqui a minha resposta a algumas das suas questões:

(i) João Crisóstomo, residente em Nova Iorque, desde 1975;

(ii) Idade etc:  76 anos; nasci em Torres Vedras em Junho de 1944.

(iii) Serviço militar  como alferes miliciano. Entrada  em Mafra em 26 de Janeiro de 1964. Graduado  como  aspirante,  fui para  Beja onde preparei um pelotão; depois  fui para Lamego onde frequentei o curso de operações especiais (,tipo "Ranger") ; e daí fui para a Madeira em preparação para o Ultramar. Na ausência temporária do capitão da companhia,  fui eu que em 2 de Agosto de 1965  comandei esta companhia de madeirenses (CCaç 1439 ) na viagem para a Guiné,   aonde chegámos a 6 de Agosto de 1965. Regressámos a 18 de Abril de 1967.

(iv) Chegados a Bissau, fomos directamente para o Xime (agosto de 1965) ; um mês  depois, em Setembro, omos para Bambadinca e logo a seguir em Outubro fomos para Enxalé com os seus   destacamentos de Missirá  e Porto Gole.
 
(v) Em Porto Gole (, local onde os primeiros portugueses chegaram subindo o Rio Geba e onde se encontra um padrão alusivo, na data dos 500 anos da sua chegada, foto nº 1)  e onde estive várias vezes como comandante do destacamento, recebi a visita  [, em 1966,]  de Cecília Supico Pinto e sua assistente, trazida pelos fuzileiros devidamente acompanhada e protegida. Evidentemente que a visita, anunciada com antecedência,  trouxe aí nesse dia o comandante da Companhia, capelão e   médico do batalhão de Bafatá a que pertencíamos  e outros militares conforme foto que junto [, Foto nº 2].

(vi) As fotos nºs 2 e 3 foram dois dos momentos dessa visita. A 3ª foto (uma árvore frondosa, algumas mesas improvisadas, bancos feitos de troncos de cites, as paredes com fotos, recortes de jornais etc.) mostra o nosso local de lazer e diversão habitual ( e por este pode compreender o meu pedido ao movimento , conforme mencionado na resposta recebida, vd. Foto nº 5)  e foi neste local que demos as boas vindas à Supio Pinto( sentada num banco/cibe); a secretária  é a senhora de costas, no lado esquerdo da foto e comitiva.   O Capelão, de pé,  mesmo junto da Supico Pinto,  faz o seu discurso...  
 
 (vii) Consciente do papel  do Movimento,  cheguei mesmo a contactá-lo, pedindo suporte e apoio, na forma de presentes de Natal,  letras e músicas populares para ajudar com os nossos momentos de lazer  (quando os havia!), pois conhecidas canções populares  eram um meio que eu achava eficiente e usei várias vezes para  animar os meus soldados.
 
 Não sei se isto ajuda para o que pretende; espero não seja de todo irrelevante . Muitos outros lhe mandarão muito mais e melhor.

sábado, 3 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22062: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (84): Pedido de colaboração aos nossos leitores para resposta a algumas questões sobre o Movimento Nacional Feminino ( Sílvia Espírito-Santo, doutoranda pela Universidade do Minho, biógrafa de Cecília Supico Pinto)


Capa do livro de Sílvia Espírito-Santo, “Cecília Supico Pinto: o rosto do movimento nacional feminino”. Lisboa: A Esfera do Livro, 2008, 222 pp.


1. Mensagem de Sílvia Espírito-Santo, investigadora:


Date: quinta, 1/04/2021 à(s) 16:43
Subject:  Informações sobre o MNF - Movimento Nacional Feminino
 

Caro Luís Graça,

Agradeço-lhe a rápida resposta ao meu pedido e o envio dos links que têm óptima informação.

Fico-lhe muito grata pela disponibilidade em publicar o meu pedido de colaboração aos ex-combatentes que seguem o seu blogue.

No âmbito do trabalho académico que estou a desenvolver sobre o Movimento Nacional Feminino (MNF), venho solicitar o favor da colaboração através de uma revisitação de memórias.

Para facilitar o encadeamento de ideias segue um conjunto de questões (a título meramente indicativo), oara ser rspondido poe email:

  • anos em que o militar fez a comissão de serviço, teatro de operações e local(ais) por onde andou;
  • idade e zona de origem do militar;
  • se teve algun contacto directo com o MNF, quer com as "senhoras" do Movimento, quer com a presidente da Organização, Cecília Supico Pinto, e em que consistiu;
  • se durante a comissão,  a unidade ou subunidade  a que pertencia, foi visitada por alguma pessoa da Organização;
  • se sim, como encarou  essas visitas e qual o seu efeito no seu ânimo e no ânimos dos seus camaradas:
  • o que sabia na época,  do Movimento e das frentes em que este actuava nas colónias e na metrópole;
  • alguma vez  se dirigiu directamente ao MNF para pedir alguma coisa e qual a resposta;
  • o que pensava  nessa altura sobre o Movimento  e a sua líder.

Texto a enviar para:

Sílvia Espírito-Santo >  smves@hotmail.com

Cordialmente
Sílvia Espírito-Santo

P.S. - Luís Graça, será que era possível saber a data e o jornal em que foi publicado o anúncio dos aerogramas que vem num dos links que me enviou?


2. Sobre a investigadora, a doutoranda Sílvia Espírito-Santo:

(i) Doutoranda em História Contemporânea na Universidade do Minho, mestre em Estudos sobre as Mulheres na Universidade Aberta, licenciada em História na Faculdade de Letras -Universidade de Coimbra;

(ii) Investigadora integrada do Lab2PT (Laboratório de Paisagens, Património e Território) na Universidade do Minho e membro do projecto WOMASS – Women and Associativism in Portugal, 1914-1974, Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa, financiado pela FCT no âmbito do projeto PTDC/HAR-HIS/29376/2017;

(iii) Publicou os livros:

Cecília Supico Pinto – O rosto do Movimento Nacional Feminino (Biografia), Esfera dos Livros, Lisboa, Fev.2008;

Adeus até ao teu Regresso, O Movimento Nacional Feminino na Guerra Colonial, 1961-1974, Livros Horizonte, Lisboa, 2003.

(iv) Publicou ainda capítulos de livros e artigos em revistas e participou em Conferências nacionais e internacionais.


 3. Resposta do editor LG:
 
Sílvia, obrigado pelo seu contacto. Temos no nosso blogue umas dezenas de referências quer ao Movimento Nacional Feminino (45) quer à sua fundadora, mentora e líder, a Cecília Supico Pinto (37)... 

Num blogue aberto e plural como o nosso,  há diferentes atitudes e opiniões sobre o papel que desempenho na época esta organização. Mas, de um modo geral, uam boa parte dos militares tinham apreço e até carinho pela Cecília, mesmo quando discordavam politica e ideologicamente dela e do MNF... 

Posso enviar-lhe depois uma lista completa de todos os nossos postes (de um total de mais de 22 mil) que publicámos com estes  dois descritores acima referidos... E vou tentar responder à questão que põe no "post scriptum".
 
Como combinado,  publicamos hoje sua mensagem, com indicação do  endereço de email para os membros da nossa Tabanca Grande (tertúlia)  poderem responder às suas questões e contactá-la para uma eventual entrevista... 

Haverá por certo camaradas nossos mais próximos do MNF, até por razões familiares ou porque estavam em aquartelamentso que foram vitados pela Cecília Supico Pinto. Creio que ela foi à Guiné, quatro  vezes, durante a guerra, 

Espero que a leitura dos postes (e dos comentários) também lhe dê informações preciosas, fotos, contactos, etc. E faço votos para que os nossos leitores mostrem o seu interesse e disponibilidade em responder-lhe. Todos ganhamos com o aumento e o aprofundamento do conhecimento sobre esse período da nossa História, que foi a guerra colonial / guerra do ultramar.

 Saudações / Mantenhas (em crioulo). Boa saúde, bom trabalho. Luís Graça

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Nota do editor: