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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8219: Agenda cultural (118): Quem vai à guerra, de Marta Pessoa (Portugal, 2011, Documentário, 130' )... A guerra no feminino... Indie Lisboa 11 (8º Festival Internacional de Cinema Independente) - Lisboa, Culturgest, 13 de Maio, 6ª feira, 21h30



Página na Net do  Indie Lisboa 11 -  8º Festival Internacional de Cinema Independente, que começa amanhã em Lisboa e vai até ao dia 15 do corrente. No dia 13, 6ª feira, será a estreia do documentário de 2h e 10' Quem Vai à Guerra, da autoria de Marta Pessoa (Portugal, 2011). A guerra contada no feminino... Entre outras participações, destaque para a nossa camarada Giselda Pessoa e a nossa amiga Maria Alice Carneiro. Ver aqui, no Sapo Notícias,  um vídeo com as declarações da realizadora (filha de um militar de carreira, que também esteve na Guiné). Marta Pessoa é também autora do recente documentário Lisboa Domiciliária ( estreado do LisboaDoc 2010).

Quem Vai à Guerra
Who Goes To War
Marta Pessoa [vd. igualmente página no Facebook: foto de perfil à direita]
Exibições: 13 Maio, 21:30, Culturgest, Grande Auditório
Secções: Sessão Especial
Documentário, Portugal 2011, 130', Documentário

Fotografia: Inês Carvalho 
Som: João Eleutério, Paulo Abelho, Rodolfo Correia 
Montagem: Rita Palma 

Produtor: Rui Simões 
Produção: Real Ficção

Com: Ana Maria Gomes, Anabela Oliveira, Aura Teles, Beatriz Neto, Clementina Rebanda, Conceição Cristino, Conceição Silva, Cristina Silva, Ercília Pedro, Fernanda Cota, Giselda Pessoa, Isilda Alves, Júlia Lemos, Lucília Costa, Manuela Castelo, Manuela Mendes, Margarida Simão, Maria Alice Carneiro, Maria Arminda Santos, Maria Augusta Filipe, Maria De Lourdes Costa 

[Diz-me o Miguel Pessoa o seguinte:

Identifico as seguintes enfermeiras pára-quedistas ali mencionadas:Aura Teles, Cristina Silva, Ercília Pedro, Júlia Lemos e Maria Arminda Santos. Além destas, pelo menos a Natércia e a Rosa Serra também foram contactadas e suponho que deram depoimentos]. 

[A realizadora também confirma, em comentário a este poste:  

Caro Luís Graça,
Obrigada pelo destaque aqui no blog. Por serem muitos os testemunhos, no programa do festival apenas aparecem os nomes (por ordem alfabética) das primeiras senhoras. De fora dessa lista (mas dentro do filme) ficaram, entre outras, as enfermeiras pára-quedistas Maria Cristina Silva, Natércia Neves e Rosa Serra. Até breve, Marta Pessoa]. 

[Ver aqui um excerto, disponível no You Tube, com o depoimento das nossas camaradas enfermeiras pára-quedistas]
Sinopse: Entre 1961 e 1974, milhares de homens foram mobilizados e enviados para Angola, Moçambique e Guiné-Bissau para combater numa longa e mal assumida guerra colonial. Passados 50 anos desde o seu início a guerra é, ainda hoje, um assunto delicado e hermético, apoiado por um discurso exclusivamente masculino, como se a guerra só aos ex-combatentes pertencesse e só a eles afectasse. No entanto, quando um país está em guerra, será que fica alguém de fora? 
Quem vai à Guerra é um filme de guerra de uma geração, contada por quem ficou à espera, por quem quis voluntariamente ir ao lado e por quem foi socorrer os soldados às frentes de batalha. Um discurso feminino sobre a guerra. (Marta Pessoa)

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Nota do editor:

Último poste da série >  2 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8200: Agenda Cultural (117): Início, no próximo dia 6, do ciclo de conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar, 1961-1974: história e memórias(s), organizado pela Universidade dos Açores (Carlos Cordeiro)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8049: Agenda Cultural (114): Eu sou África, um documentário dedicado ao Cantanhez, à AD - Acção para o Desenvolvimento e a um homem especial, o nosso amigo Pepito, na RTP2, 9 de Abril, sábado, 19h00

1. Mensagem do nosso amigo Pepito, com data de hoje

Assunto - Eu sou África, na RTP2

Caro Pessoal
No próximo dia 9 de Abril (sábado) pelas 19h00, a RTP 2 vai passar uma reportagem sobre a AD no sul do país (Parque Nacional de Cantanhez). Dura 30 minutos.

É ocasião para os que já o conhecem, revisitarem este local fabuloso. Para os que ainda não foram lá, comecem a fazer as malas para vir cá.
abraços a todos 
pepito


2. Informação recolhida no sítio da RTP sobre este programa (Eu Sou África, RTP2, 2011)

Género: Documentário
Ficha Técnica: Produção: Vitrimedia: Realização: Maria João Guardão

A história de 10 pessoas contada em episódios

Eu Sou África é uma série documental de 10 episódios, dois por cada um dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. 

Cada um dos filmes desta série retrata a vida e a obra de um(a) africano(a) implicado(a) na história e no desenvolvimento social,  político e cultural do país onde nasceu. Eu Sou África revela dez heróis desconhecidos do grande público e desfaz os lugares comuns depreciativos da realidade dos PALOP. 

Na diversidade das suas experiências e reflexões, o que estes dez africanos dão a ver é a emergência de uma nova África de língua portuguesa – um lugar em que a esperança tem toda a razão de ser. O último episódio é dedicado à Guiné-Bissau e a um dos seus filhos, co-fundador e director executivo da ONG AD- Acção para o Desenvolvimento.

Carlos Schwarz da Silva [Pepito]

Carlos Schwarz da Silva, guineense nascido em [Bissau], em 1949, só exerceu o nome enquanto se fazia engenheiro agrónomo em Lisboa, ao mesmo tempo que se diplomava na luta estudantil contra a ditadura. Na Guiné Bissau, todos o conhecem como Pepito, lutador incansável contra as más práticas de Estado, mas sobretudo contra a fome, pela cidadania e pelo desenvolvimento.

Fundador do pioneiro DEPA (Departamento de Experimentação e Pesquisa Agrícola) e da ONG Ação para o Desenvolvimento (AD), deputado, neto de polacos que sobreviveram ao Gueto de Varsóvia, filho de um jurista nacionalista preso pela PIDE, pai de 3 filhos, avô de 2 netos, Pepito é, nas palavras dos anciãos balantas, um homem grande.

Testemunha o 25 de Abril frente ao quartel do Carmo, com a mulher, Isabel Lévy Ribeiro, e juntos regressam a Bissau, determinados a viver intensamente o tempo histórico que lhes coube. Com 25 anos e um diploma na mão, Pepito sabe principalmente que quer mobilizar as pessoas para a acção, mesmo que isso signifique recomeçar inúmeras vezes do zero. Ele e os seus recomeçaram sempre. 


A viagem que fazemos, de Bissau à Floresta de Cantanhez – dois dos pólos de acção da AD – , é uma travessia pela sabedoria de um país repleto de singularidades. “A Guiné Bissau tem trinta e duas etnias: são trinta e duas maneiras de pensar diferente, de dançar diferente, de fazer cultura diferente, de filosofias de vida diferentes. É uma riqueza extraordinária se todas forem consideradas elementos que potenciam a união”. 

São estes saberes que Pepito privilegia – contrariando leis ou métodos impostos pelo exterior –nas reuniões com os mais velhos, na festa com os mais novos, nas conversas com mulheres e homens de experiências variadas, muitos dos quais ousaram seguir as práticas informais e eficazes que a equipa do engenheiro agrónomo foi pesquisando e testando, um projecto que se declina na agricultura e no eco-turismo, mas também nas Escolas de Verificação Ambiental, nas televisões e rádios comunitárias. Nas tabancas do sul, no antigo quartel de Guiledge – marco crucial da luta pela independência, memória viva -, em Quelélé, o que está em marcha é a luta contínua pela cidadania e por condições de vida dignas para os guineenses. 




(Fonte: Adapt. do sítio Eu Sou África) (Com a devida vénia)

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Nota do editor:

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7217: O Nosso Livro de Visitas (102): Parabéns pelo vosso fantástico projecto (Maria João Rocha)





Guiné > Zona Leste > Geba > CCART 1690 (1967/69): Croqui do monumento erigido, em Geba, aos "mortos que tombaram pela pátria"... Em 1995, a jornalista e realizadora Diana Andringa visitou Geba e escreveu, a propósito deste monumento, semi-destruído, uma peça pungente, no Público,de 10 de Junho de 1995... Terá sido a "pedra de Geba" que motivou a realização do documentário As Duas Faces da Guerra (em co-autoria com o guineense Flora Gomes; filme, em duas partes, disponível no portal A Guerra Colonial).

 A esta martirizada companhia pertenceu o nosso querido amigo e camarada A. Marques Lopes.


Foto: © A. Marques Lopes (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de uma nossa leitora, Maria João Rocha, com data de 29 de Outubro último... É mais uma voz no feminino a fazer-se ouvir no espaço aberto, heterogéneo e plural da nossa Tabanca Grande... Sabemos que muita gente, homens e mulheres, nos lê e nos vê, sem dar (nem ter que dar) a cara... Reconforta-nos, anima-nos e motiva-nos saber que o nosso  blogue também atinge outros segmentos de público, para além da sua população-alvo, natural, que são os antigos combatentes... Gente do teatro, do cinema, da cultura, das artes, das letras, da ciência...Tratando-se de um mail pessoal, enviado ao editor L.G., transcreve-se apenas o excerto que pode interessar aos amigos e camaradas da Guiné que se sentam sob o poilão da Tabanca Grande e, por extensão, a todos os nossos leitores. Muito obrigado, Maria João. Boa sorte também para os seus projectos  (LG) (*)

Caro Luís Graça:

Muitos parabéns pelo seu FANTÁSTICO projecto. Visito-o muitas vezes por curiosidade histórica (sou licenciada em História), por necessidade de relembrar o passado (tenho 60 anos) e também por alguma afinidade com a Guiné, onde estive, em 95, a realizar um documentário da autoria da Diana Andringa. Foi com ela que visitei e filmei o quartel de Geba (já li, neste blog, alguém falar de um texto que ela escreveu sobre isso) e lá me emocionei, não só com o memorial aos mortos mas também com as pinturas murais, com o silêncio que impera no local e com o "peso" da memória colectiva que lá perdura (**).

A passagem por aquele quartel foi um momento impressionante na minha vida. Nunca imaginei que um exército se alojasse em instalações tão pequenas, quase parece uma aldeia com pequenas casinhas. E o estado de degradação é arrepiante... Quantas vidas... Parece um local paradisíaco... (...)

Com os meus melhores cumprimentos.
Maria João Rocha
Lisboa

_____________

Nota de L.G.:

(*) Último poste desta série > ;27 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7043: O Nosso Livro de Visitas (101): "O pobre camarada de Crestuma" (José Campos, presidente da Sociedade Filarmónica de Crestuma, Vila Nova de Gaia)

(**) Vd. poste da I Série do nosso blogue > 23 Junho 2005 > Guiné 69/71 - LXXIII: Antologia (4): 'Homenagem aos mortos que tombaram pela pátria': Geba, 1995 [Diana Andringa]

(...) Mortos. Estes nomes não podem ser senão de mortos. Guimarães, ...ndo Fernandes. Carlos A. Peixoto. ...ul C. Ferreira, ...ostinho Câmara, ...o Alves Aguiar, ...ime M.N. Estevão, ...sé A. V. Sousa, ...tónio D. Gomes.


Tudo em redor, aliás, fala de morte. As paredes em derrocada do que terá sido um quartel português. As viaturas a apodrecer sob o intenso sol africano. Os cacos de garrafas de cerveja. (Bebidas para enganar o medo? Suspensas por arame para, tinindo umas contra as outra, despertar os que dormissem ainda?).

E esta pedra caída, tumular.

Vivos, apenas os meninos que se cutucam, sorrindo, a olhar para nós, estranhos fotógrafos deste cemitério de metal e pedra.

A outra pedra, de pé, tem nomes de cidades, vilas, aldeias: Lisboa. S. Tirso. Moçâmedes. Alcobaça. Madeira. (Nas ilhas não haverá também povoações?) Ponte de Lima. Vila Nova de Ourem. Vila Pouca de Aguiar. Bissau. O tempo, ou a guerra, quebrou-lhe a parte de cima, e agora é uma pirâmide truncada, rasgada do lado direito, onde se inscrevem as primeiras letras dos postos, ou dos nomes, dos naturais dessas terras, que presumimos mortos.

De novo a primeira pedra, a que jaz por terra. A frente dos nomes dos que se presumem ter morrido, inscrevem-se o que supomos serem as datas dessas mortes: 1967, 1968. A última, na pedra, não em tempo, sobressalta-me: 21 de Agosto de 1967. Fiz vinte anos nesse dia. Nesse mesmo dia morreu António D. Gomes. Teria feito, sequer, os vinte anos?

Lembro-me de ter feito vinte anos. Das prendas dos meus pais. E pergunto-me como terão os pais do soldado António D. Gomes suportado a morte do seu filho. Se terão chegado um dia a conhecer este local onde uma pedra caída por terra assinala a data em que o perderam.

"Nós enterramos os nossos mortos nas nossas aldeias, ao lado das nossas casas... Os portugueses deveriam ter, também, um lugar para honrar os seus mortos, os que morreram aqui, durante a guerra", dissera-me, algumas horas antes, um antigo adversário. Aqui. Tão longe de casa, tão longe dos seus. Longe de mais para que possam trazer-lhes flores, arranjar-lhes as campas, preservar-lhes a memória.

Olho de novo as pedras, tentando compreender como se juntavam. Será a que jaz por terra a continuação da outra? Releio as terras e os nomes. Câmara pode ser da Madeira... Será mesmo? Sim. Lá estão em frente de Madeira o posto, sold., e as primeiras letras do seu nome: Ag...-

Agora cada morto tem o posto e a terra onde nasceu, excepto o primeiro, que parece ser de Lisboa, mas cujo posto e nome próprio se perderam, e João Alves Aguiar, de Ponte de Lima, a que o tempo corroeu o posto. Dois alferes, um furriel, sete soldados. Em cima, fragmentado, aquilo que parece a indicação do regimento a que pertenciam: ...RAL-1. ...Combate.

Postas assim as duas pedras em conjunto, apercebo-me de que o soldado que morreu no dia dos meus vinte anos era de Bissau, e de certa forma isso tranquiliza-me, porque não está, afinal, tão longe de casa- como se isso tivesse alguma importância depois de se estar morto, como se me tivesse contagiado essa lista de terras inscrita sobre a pedra, ou outras, sobre outras pedras encontradas ao longo da viagem, onde outros soldados, cabos, furriéis, escreveram como se a naturalidade fosse a sua primeira identificação e a mais forte, o nome da terra natal, primeiro, e só depois o posto, o nome, a data em que escreviam, por vezes uma frase de desesperança, algo como "até quando Deus quiser" — como que temendo que esse "até" fosse curtíssimo, coisa de poucas horas, minutos, talvez, e houvesse que inscrever urgentemente, sobre esses caminhos, placas, pontes, esse sinal de vida e de memória. (...)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5757: O Nosso Livro de Visitas (82): "Projecto de Documentário sobre Bafatá" (Silas Tiny)




1. Mais um dos nossos Amigos, de nome Silas Tiny, jovem realizador, se nos dirige, solicitando a colaboração à tertúlia do nosso blogue, para a colaboração na realização de um documentário sobre Bafatá.

Bafatá, 1962 a 2010



Amigos,

O meu nome é Silas Tiny e sou um jovem realizador, que neste momento está a desenvolver um documentário sobre a cidade de Bafatá, versando o período da Guerra Colonial e o tempo actual.

Neste momento preciso de entrar em contacto com portugueses, que lá tenham vivido e servido militarmente.

Queria saber se é possível colocarem um poste com a seguinte informação:

"Projecto de Documentário sobre Bafatá"

Aos camaradas da Guiné, Amigos e participantes no blogue, o meu nome é Silas Tiny e sou um jovem realizador que vive em Portugal.

Neste momento estou a desenvolver um projecto de Documentário sobre a cidade de Bafatá. Começo por explicar melhor o projecto. Este meu projecto surgiu quando li uma reportagem no blogue do Sr. Jorge Rosmaninho, que fala de um operador de cinema que viveu na cidade de Bafatá e que, ainda hoje, continua a fazer a sua rotina diária como trabalhador do Sporting Clube de Bafatá, como se ainda aquele cinema estivesse a funcionar.
Se quiserem até podem consultar mais pormenorizadamente a história clicando no link: http://opatifundio.com/site/?p=9.

Gostei tanto desta história, que pensei logo em fazer um documentário que abrangesse este homem, a cidade de Bafatá e o cinema do Sporting Clube desta localidade.

Quero fazer um apelo a todos os camaradas, seus familiares, amigos (ex-militares e civis), que tenham mantido alguma actividade nesta cidade, ou que saibam de histórias interessantes e importantes, ou que conheçam pessoas ligadas a estes temas, para entrarem em contacto comigo, mandando-me um pequeno e-mail descritivo, para o meu endereço de correio electrónico [...] ou através dos números de telemóvel [...] ou telefone [...].

Por favor, não hesitem.

Podem também consultar o site da produtora que está associada ao desenvolvimento deste projecto: http://www.realficcao.com

P.S. - A informação é esta. Peço-vos isto porque o vosso blogue tem tantos camaradas e porque vindo do blogue eles podem ficar mais entusiasmados a colaborar coisa que eu não tenho conseguido com muito sucesso até ao momento. Em anexo tem uma foto minha caso queira colocar.

Abraços e cumprimentos a todos,

Silas Tiny

___________


Nota de M.R.:

Vd. também os postes relacionados:

16 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5658: O Nosso Livro de Visitas (81): António Marquês, ex-Fur Mil da CCAÇ 4810 (Moçambique), comenta o nosso Blogue e dá-nos conta dos seus contactos com pessoas ligadas à Guiné-Bissau

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5110: Agenda Cultural (33): Doclisboa 2009: Hoje, 23h, Cinema Londres2: Dundo, memória colonial, de Diana Andringa

Primeira página do sítio oficial do doclisboa 2009, festival do cinema documental, a decorrer em Lisboa em várias salas de cinema (Culturgest, São Jorge e Londres) desde hoje, até 25 de Outubro de 2009.


Destaques de Luís Graça:

(i) Homenagem a Jonas Mekas, "uma lenda viva do cinema vanguardista norte-americano", e que será "o convidado de honra do doclisboa 2009". Segundo os organizadores do festival, "aos 86 anos, Jonas Mekas continua a produzir obras de referência em campos artísticos totalmente distintos".

(ii) Love stories:

"As grandes histórias de amor sempre marcaram a história do cinema. Mas sobretudo no domínio da ficção. Esta programação do doclisboa destina-se a revelar histórias de amor únicas, registadas especialmente no campo do documentário".

(iii) Balcãs em Foco, retrospectiva sobre o documentário da ex-Jugoslávia:

Winston Churchill (de cujas citações se usa e abusa...) "terá dito que os Balcãs produzem mais história do que aquela que têm capacidade para consumir. Cinismo à parte, talvez esta afirmação se aplique de uma forma consistente aos trágicos acontecimentos que tiveram lugar no território da ex-Jugoslávia, depois da sua desintegração em 1991" (...).

(...) "A zona do mundo em cuja cinematografia mergulhamos este ano é particularmente explosiva. A Jugoslávia, que até 1992 era um único país, está hoje dividida em 7 estados independentes: Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Croácia, Eslovénia, Montenegro, Kosovo e Macedónia.

"A mostra Balcãs em Foco pretende simultaneamente dar a conhecer a extraordinária cinematografia dessa região (onde as escolas e a tradição de documentário foram excepcionais ao longo do século XX) e permitir-nos compreender melhor o que se passou e o que se passa naquele território, habitado por povos e religiões em conflito, mas com tanto em comum. Como são vistas as guerras fratricidas pelos vários participantes? O que é que sobrevive e passa ao lado das guerras? Como é a vida do dia-a-dia?"



Título: MGM Sarajevo: Man, God, Monster
Realização: Colectivo SAGA (Ismet Arnautalic, Mirsad Idrizovic, Ademir Kenovic, Pjer Žalica)
Produção: Bósnia-Herzegovina, 1994
Duracção: 45’

Realizado pelo Grupo SAGA, colectivo de autores criado durante o cerco de Sarajevo, este documentário capta extraordinários relatos de guerra ocorridos durante o conflito. Cruzam-se elementos díspares como o testemunho perturbador de um jovem degolador, condenado à morte, com a visita da escritora Susan Sontag ao palco da peça 'À Espera de Godot'.

(iv) Investigações:

A secção competitiva que "reúne filmes que procuram dar a conhecer situações críticas do presente e do passado. Por revelarem algo de novo, por se posicionarem perante a realidade, estes filmes podem interferir sobre a própria realidade ou enriquecer a nossa visão da história"


Título: Indochine
Realizadores: Stewart Binns, Adrian Wood
Produção: Reino Unido, 2009
Duração: 91’

Construído a partir de fabulosas imagens de arquivo a cores, Indochine conta a história trágica e corajosa dos povos da Indochina (Vietname, Laos, Camboja), que viveram uma sucessão de guerras ao longo de quatro décadas. A história do colonialismo francês e da opressão, da brava resistência travada contra o Japão, da sangrenta intervenção Norte-Americana em plena Guerra Fria e das sucessivas guerras.

(v) Filmes de realização e/ou produção portuguesa (ou em língua portuguesa)

Sou fã do Doclisboa, já hoje considerado um dos melhores do mundo, no âmbito do cinema documental. A minha primeira selecção, au vol d'oiseau (dos mais de 180 filmes em exibição, legendados em português), vai para alguns portugueses (ou em língua portuguesa), de temática africana, colonial e pós-colonial, com referência especial às nossas antigas colónias de África... (Infelizmente não encontrei nada sobre a nossa querida Guiné-Bissau).

Hoje, na sessão das 23h, no Cinema Londres-2, a nossa amiga Diana Andringa, nascida em Angola, em 1947, no Lundo (o menos é dizer, a província onde operava a toda poderosa Diamang), co-autora, com o guineense Flora Gomes, As duas Faces da Guerra, 2007, e membro do nosso blogue) aprensenta o seu filme de 60 minutos Dundo, memória colonial. Já comprei bilhete (3 euros e meio) (Pode-se também comprar um voucher, com 10 bilhetes, por 25 euros).



Titulo: Dundo, Memória ColonialRealizadora: Diana Andringa
Pordução: Portugal, 2009
Duração: 60’

A realizadora Diana Andringa nasceu em 1947 no Dundo, centro de uma das mais importantes companhias coloniais de Angola, a Diamang. Ali foi feliz. Ali aprendeu o racismo e o colonialismo. Agora volta, porque o Dundo é a sua única pátria, a mais antiga das suas memórias.



Título: Com Que VozRealizador: Nicholas Oulman
Produção: Portugal, 2009
Duração: 108’

Alain Oulman nasceu em Lisboa, no seio de uma família conservadora. Era um homem apaixonado por livros, por música e por Amália, com quem colaborou de forma muito próxima. Perseguido pelo regime de Salazar e mais tarde exilado em França, Alain Oulman parece ter vivido várias existências – todas elas brilhantes– que este filme nos permite finalmente conhecer.



Título: Luanda, Fábrica da Música
Realizadores: Inês Gonçalves, Kiluanje Liberdade.
Produção: Portugal, 2009
Duração: 56’

Num musseque de Luanda vivem os miúdos poetas. Todos querem gravar na máquina de sons de DJ Buda, que dá vida a ritmos electrizantes – essencialmente kuduro. Todos gritam poemas para o velho microfone. Algo nunca ouvido. Luanda, Fábrica da Música é um hino à criatividade dos angolanos.



Título: Escrever, Escrever, Viver
Realizadora: Solveig Nordlund
Produção: Portugal, 2009
Duração: 53’

António Lobo Antunes, no auge da sua carreira, recebe o grande prémio de literatura da Feira Internacional do Livro em Guadalajara, México. A entrega do prémio é o ponto de partida para uma passagem em revista da sua vida e obra. A infância, a psiquiatria, a guerra colonial, o 25 de Abril, os livros, o cancro que em 2006 lhe foi diagnosticado e as marcas que deixou.



Título: Mãe Fátima
Realizadora: Christine Reeh
Produção: Portugal, 2009
Duração: 80’

Fátima, uma enfermeira angolana de 70 anos, decidiu, após décadas de trabalho em Portugal, regressar ao seu país de origem e dar início a uma missão de saúde humanitária, numa das regiões mais afectadas pela guerra civil. Em Menongue,é necessário recuperar o hospital local, sem água corrente nem oxigénio. O cheiro a lixo e a morte infiltra-se na alma e na pele das pessoas. É preciso acreditar em algo para enfrentar o dia seguinte.



Título: Acácio
Realizadora: Marília Rocha
Produção: Brasil, 2009
Duração: 88’

Acácio e a mulher são um invulgar casal de transmontanos. Dentro do total anonimato, representam uma certa história portuguesa. As memórias pessoais e os magníficos arquivos de imagem de Acácio permitem-nos reviver uma vida entre o Portugal rural dos anos 50, a miragem do sonho colonial em Angola (nas minas do Dundo, onde Acácio era fotógrafo), o traumático regresso a Portugal, onde não se adapta, e um novo refazer de vida em Minas Gerais (Brasil).


Fonte: Imagens e legendas: doclisboa 2009 > Filmes de A-Z.

domingo, 4 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2238: O portal russo Pravda.ru fala do filme As Duas Faces da Guerra e cita o nosso blogue






1. Pela mão do A. Marques Lopes, chegou-nos ao conhecimento o texto As duas caras da guerra, publicado em 2 de Novembro último, pelo portal russo Pravda.ru (1). É um recensão crítica do filme de Diana Andringa e de Flora Gomes, As Duas Faces da Guerra. Faz uma simpática referência ao nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Com a devida vénia, transcrevemos aqui o texto, do jornalista Alex Tarradellas.

2. Pravda.ru > 2.11.2007 > As duas caras da guerra (*)
por Alex Tarradellas (**)


A jornalista portuguesa Diana Andringa e um dos cineastas mais reconhecidos da Guiné-Bissau, Flora Gomes, decidiram fazer um documentário a quatro mãos e a duas vozes, que abordasse as duas caras da guerra colonial que confrontou o PAIGC (Partido Africano para a Independência da nGuiné-Bissau e Cabo Verde) com as tropas portuguesas, entre 1963 e 1974.

Diana Andringa apresentou o documentário durante o Festival Internacional de Cine Documental de Lisboa, lamentando a ausência de Flora Gomes, e enfatizando a necessidade de rever e recordar o cenário da guerra por muito que isso pese aos portugueses.

"As duas faces da guerra" (2) foi rodado durante seis semanas, nas quais os realizadores percorreram as regiões guineenses de Bissau, Mansoa, Geba, Bafatá e Guileje. Também viajaram para Cabo Verde e Lisboa. Tudo isso para recolher diversos testemunhos daqueles que viveram a guerra colonial, tanto militares portugueses, como militantes do PAIGC, ou simples moradores das povoações visitadas.

O facto de que cada realizador [puxar] a corda para um lado resulta no mais interessante da abordagem de um dos conflitos armados mais sangrentos, sofridos durante o colonialismo português. Prova disso é que o documentário está dedicado a Amílcar Cabral e a alguns soldados portugueses mortos em solo africano, cujos nomes Diana Andringa encontrou gravados numa pedra destruída, quando, em 1995, se deslocou à cidade de Geba como repórter de Público. De facto, esse achado foi o ponto de partida do trabalho.

A homenagem à figura de Amílcar Cabral é palpável ao longo do documentário. Longe de querer idolatrá-lo, os depoimentos definem a grande dimensão humana do revolucionário do PAIGC. Um guerrilheiro que, apesar de se encontrar no meio a um cruel conflito armado com tudo o que este acarreta, dizia sentir o povo português como algo de seu. É que, mais além da guerra, existia uma certa cumplicidade entre os dois lados.

Amílcar Cabral declarou, no início do conflito: "Não fazemos a guerra contra o povo português, mas sim contra o colonialismo". Essa ideia é chave para entender como muitos dos portugueses recrutados nas colónias estavam solidários com os movimentos revolucionários pela independência [o PAIGC, no caso de Guiné-Bissau e Cabo Verde, o MPLA (Movimento de Libertação de Angola) e a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique)].

Também não é uma casualidade o facto de que os militares que se levantaram contra o regime salazarista durante a revolução de 25 de Abril, conhecida como a Revolução dos Cravos, fossem soldados combatentes na Guiné-Bissau, cansados de receber da metrópole ordens alheias à realidade na qual se encontravam imersos. Por isso, as imagens que aparecem no documentário não nos deviam surpreender, como as de um militante do PAIGC [, Manecas dos Santos,] que, com a euforia do 25 de Abril, grita para uma massa exaltada: "Viva o PAIGC! Viva o 25 de Abril! Viva Portugal!".

A meio do filme, a esposa de Amílcar Cabral faz uma declaração que é importante para entender os propósitos do guerrilheiro. Ela declara que, se fosse possível, Amílcar teria trocado as armas pelos livros para fazer a revolução. Era um homem extraordinariamente culto, com um grande poder de convicção nas suas palavras. Um dos principais objectivos do revolucionário era formar a cultura dos guineenses e cabo-verdianos desde a raiz, com uma educação baseada na história, na geografia e nas tradições dessas nacionalidades, e não nas impostas por Portugal.

E resulta irónico e é arrepiante escutarmos as palavras de um militante do PAIGC [, em Guileje,] acerca do fim da guerra. O homem conta-nos, com toda a naturalidade, como, uma vez terminada a guerra, todos voltam a ser amigos, esquecendo-se das antigas desavenças. Como se a guerra fosse um simples jogo de xadrez, em que as peças não se podem mover sem a mão dos jogadores, mas em que os jogadores dispõem de suas peças sempre que querem e podem.

A 20 de Janeiro de 1973, Amílcar Cabral foi assassinado em Conakry. Alguns meses depois, a 24 de Setembro do mesmo ano, foi declarada a independência da Guiné-Bissau, embora não fosse reconhecida internacionalmente até a Revolução dos Cravos. Se Amílcar não tivesse sido assassinado e hoje se encontrasse no mundo dos vivos, talvez não estivesse tão orgulhoso do panorama em que se encontra mergulhado seu país.

Segundo dados da Understanding Children Work (UCW), no ano 2000, 54% das crianças menores de 14 anos trabalharam um mínimo de 28 horas na Guiné-Bissau. A taxa de alfabetização era próxima de 44,8% em 2005. Isso deve-se aos contínuos golpes de estado provocados (e as consequentes guerras civis) contra governos frágeis que, muitas vezes, se assemelham àquelas peças de xadrez, as quais, sem a presença dos jogadores, não se podem movimentar.

Enfim, esse documentário contribuirá para que os portugueses e guineenses revejam uma parte fragmentada de sua história. E, por muito que doam, talvez os debates ajudem a banalizar a guerra até o ponto de lhe retirar o sentido. Talvez sirvam para que, no futuro, as únicas minas semeadas nos campos, nas florestas e nos caminhos sejam os livros, a melhor arma para ganhar uma guerra.

"A destruição do fascismo em Portugal deverá ser obra do próprio povo português; a destruição do colonialismo português será obra de nossos próprios povos."

"As massas populares são portadoras de cultura, elas são a fonte da cultura e, ao mesmo tempo, a única entidade verdadeiramente capaz de preservar e de criar a cultura, de fazer história." Amílcar Cabral (3).

Para mais informações, ver o interessantíssimo blogue realizado por
portugueses, ex-combatentes na Guiné-Bissau:
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

© 1999-2006. «PRAVDA.Ru».
__________

(*) Tradução do espanhol para o português de Brasil de Omar L. de
Barros Filho (omar@viapolitica.com.br), editor de ViaPolítica e membro de
Tlaxcala, e revista para o português de Portugal por Rita Custódio.

(**) Alex Tarradellas é membro de Rebelión, Cubadebate e Tlaxcala, a
rede de tradutores pela diversidade linguística. E-mail:
Alex_tarradellas_gordo@hotmail.com

___________

Notas dos editores:

(1) Sobre o portal Pravda.ru:

“Pravda.ru é uma grande empresa de notícias e opinião, na Internet (...) Pravda.ru foi a primeira empresa na Runet (Internet russa) a editar notícias. Este trabalho começou em Outubro de 2000, em versão inglesa, e é actualmente a edição online mais popular, no que toca à frequência de citações e de renovação da informação. Tem versão em português e existem planos para publicar versões em chinês e árabe. A Pravda.ru tem uma reputação estável e sólida e mantém-se num ranking muito alto.

"É visitada mensalmente por 4 milhões de internautas e o número diário de pageviews é de 250 mil. A Pravda.ru compreende as seguintes edições: Pravda.ru - notícias e análise em russo; English.pravda.ru – em inglês; Port.pravda.ru- em português; Italian.pravda.ru – em italiano; Electorat.info – edição dedicada aos eleitores e às eleições a todos os níveis . Yoki.ru - edição especial de informação para jovens; Pravda.ru/foto/- uma fotogaleria exclusiva; Farc.ru - portal recreativo e informático; e Escover.ru - edição informática e analítica dedicada à ecologia.”

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Telefone > +7 495 564 80 22

(2) Vd. post de 20 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2197: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (4): Encontro tertuliano no hall da Culturgest na estreia do filme (Luís Graça)

(3) Vd. post de 30 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2142: PAIGC - Quem foi quem (1): Amílcar Cabral (1924-1973)

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2230: Questões politicamente (in)correctas (36): RTP: Homens como o Paulo Raposo e o Victor Junqueira não foram ouvidos (Rui Felício)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Fiofioli > Março de 1969 > Operação Lança Afiada. O Alf Mil Paulo Raposo, da CCAÇ 2405, junto a um dos helicópteros.



Foto: © Paulo Raposo (2006). Direitos reservados




1. Mensagem , de 25 de Outubro, do Rui Felício que, juntamente com o Paulo Raposo, o Victor David e o Jorge Rijo, faz(ia) parte dos famosos baixinhos de Dulombi, os quatro alferes milicianos da CCAÇ 2405 (1)

Lisboa, 25 de Outubro de 2007

Meu Caro Luis Graça,


PREÂMBULO


Como sabes, de cada vez que te escrevo, conto pequenos episódios que se passaram durante a minha passagem pela Guiné, procurando fazê-lo numa linguagem e estilo despretenciosos, leves e o mais possível acessíveis à imediata compreensão (2).

Salvo uma ou outra excepção, tenho escolhido o lado picaresco e às vezes cómico dessas situações e não me canso de te agradecer a honra de publicação que lhe tens concedido. Porventura imerecidamente...mas que me desvanece.

Tal não significa que não esteja atento ao lado sério da guerra que levou a nossa geração a África e que indelevelmente a marcou até ao fim das nossas existências.

Mas tenho preferido não entrar no debate, às vezes polémico, que num ou noutro caso se acende em torno dos mais diversos temas relacionados com a origem, condução e termo dessa guerra.

O espaço do teu blogue, tão participado, activo e bem documentado, tem qualidades que não encontro noutros, de similares objectivos, e esse mérito a ti pertence, pelo sacrifício, trabalho e competência que com a sua organização e condução tens tido.


O PROGRAMA PRÓS E CONTRAS E O PAULO RAPOSO


Vem isto a propósito de, hoje, infringindo essa regra que a mim próprio me impus, te vir falar de assunto mais sério.

Tem a ver com a série do Joaquim Furtado e do Programa Prós e Contras que antecedeu a passagem na RTP do 1º episódio dessa série de documentários [A Guerra, argumento e realização de Joauqim Furtado].

Li nos dias seguintes alguns mails que o Paulo Raposo te enviou (2) e de que me deu conhecimento, tecendo comentários acerca do referido programa televisivo.

Julgo conhecer bem o Paulo Raposo a quem reconheço e garanto, entre muitas outras, duas excelentes qualidades que o caracterizam e se destacam na sua personalidade:

- Uma extrema simpatia e educação, com que fácil e rapidamente estabelece laços de amizade com quem se relaciona;

- Um conhecimento da história contemporânea e uma cultura geral acima da média, predicados que se preocupa em não exibir, o que bem demonstra o seu carácter. Só as pessoas que estão seguras do seu conhecimento resistem à tentação de, por mero exibicionismo, o evidenciarem...

Tenho procurado, sem êxito, no teu blogue, alguma referência a esses mails do Raposo.

Bem sei que os critérios de edição dos textos são da tua exclusiva competência. Nem de outro modo deveria ser.

Mas esperava vê-los divulgados porque as teses do Paulo Raposo neles defendidas revelam uma perspectiva diferente e interessante quanto às causas remotas da guerra e aos motivos e estranhas coincidências que aparentemente, e quem sabe propositadamente, terão originado o seu arrastamento durante vários anos, mantendo uma situação que desaguou na revolução de Abril de 1974.


UMA PERPSECTIVA DIFERENTE DA GUERRA

Foi nessa altura do 25 de Abril que os seus autores definiram e estabeleceram os argumentos “politicamente correctos” que ainda hoje, como no citado programa Prós e Contras, são defendidos a outrance exactamente por muitos daqueles que, por força da sua natureza de militares profissionais, maiores responsabilidades tiveram nesse arrastamento da guerra e na forma ignominiosa como lhe foi posto fim.

Que não se veja neste meu reparo qualquer intransigência na defesa de qualquer tese específica sobre a guerra de África, mas o que me custa aceitar é que nunca seja feito o confronto e o contraponto às teses correntes que é comum ouvir naquele tipo de programas.

Começa a angustiar que os intervenientes nestes debates sejam sempre os mesmos e conhecidos militares que a todo o preço pretendem convencer-nos da sua heroicidade, do seu profissionalismo ( ... foi ali dito por um militar de Abril: “ nós não perdemos a guerra”... ) da sua resistência política ao anterior regime, como se alguma má consciência os obrigue a constantemente se autoelogiarem.

Por tudo isto, considero que as teses explanadas pelo Paulo Raposo deveriam ser debatidas. Daí, certamente muita da luz que tem estado oculta pudesse vir iluminar as consciências...ou pelo menos dar-lhes uma perspectiva diferente e, quiçá, mais verdadeira das razões da guerra.

Não esquecerei nunca o que ouvi da boca do nosso camarada Junqueira que, no almoço da herdade da Ameira, afirmou com orgulho e sem qualquer preconceito aquilo que não se ouve nunca nestes debates televisivos.

Se bem te lembras, ele estava emigrado em França e de motu proprio regressou a Portugal para ser mobilizado para a guerra de África, porque esse era o seu dever (4)...

Bem poderia ele ter ficado em França e ter escapado a esse sacrifício, à semelhança de tantos que a ela fugiram e que agora têm o desplante de se considerarem heróis por terem tido essa coragem de fugir...

Mas o Junqueira era um homem de carácter.. E essa é a diferença... E quantos “Junqueiras” não haverá ?

No Prós e Contras não me lembro de ter sido convidado nenhum . Ou se o foi, não foi ouvido...

Desculpa a crescente azia que a minha escrita revela, mas fi-lo ao sabor do sentimento, sem reconsiderar nas palavras que fui deixando deslizar...

Um abraço do teu camarada e amigo

Rui Felício

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 8 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1352: Estórias de Dulombi (7): Perigos vários, a divisa dos Baixinhos de Dulombi (Rui Felício)

(2) As deliciosas e picarescas Estórias de Dulombi > vd. posts de:

30 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2073: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (8): O Fula, a galinha e o vestido

8 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1352: Estórias de Dulombi (7): Perigos vários, a divisa dos Baixinhos de Dulombi (Rui Felício)

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1217: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (6): Sinchã Lomá, o Spínola e o alferes que não era parvo de todo

18 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1085: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (5): O improvisado fato de banho do Alferes Parrot na piscina do QG

5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço

19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (3): O dia em que o homem foi à lua

14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVII: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (2): O voo incandescente do Jagudi sobre Madina Xaquili

9 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXIX: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (1): O nosso vagomestre Cabral

(3) Vd. post de 28 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2227: Questões politicamente (in)correctas (34): RTP: Guerra Colonial, do Ultramar, de Libertação ou de África ? (Paulo Raposo)


(4) Vd. post de 31 de Outubro de 2006> Guiné 63/74 - P1224: Blogue: não ao politicamente correcto (Vitor Junqueira)

domingo, 28 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2227: Questões politicamente (in)correctas (34): RTP: Guerra Colonial, do Ultramar, de Libertação ou de África ? (Paulo Raposo)

1. Mensagem do Paulo Raposo (1), com data de 19 de Outubro:

Olá, Luís.

Há muito que tenho estado afastado destas lides. Depois de ver o programa [da RTP1, Prós e Contras,] (2), estou a enviar os meus comentários ao que lá foi dito.

Guerra Colonial, do Ultramar ou de Libertação: Foram as opções que nos deram, mas o nome tem de ser consensual e nacional. Uma coisas são os regimes, outra é a Pátria.

Realmente a nossa Guerra em África teve o seu começo na II Guerra Mundial. Se esta foi um grande terramoto, a nossa foi a sua réplica.

Assim, comecemos. A Alemanha teve sempre na mira duas coisas, as suas grandes aspirações:

1 - A Gross Deutschland, ou seja, crescer a Alemanha para leste: para isso lançaram colonatos pela Rússia dentro e ao longo do rio Volga.

2 - Ter um porto de mar de águas quentes que estivesse fora do alcance dos ingleses. O único porto, antes dos Pirinéus, com essas características, é o porto de Bordéus.

Hitler foi tão popular, porque prometeu ao povo alemão estes dois objectivos e conseguiu.

Agora vejamos a vaga de fundo que isto causou. Para o exército alemão entrar na Rússia, o Estado Maior forjou umas cartas trocados com o Estado Maior do exército vermelho, dando a impressão que este facilitaria a entrada dos alemães por território russo com última intenção de derrubar o comunismo.

Arranjaram maneira de que estas cartas chegassem às mãos de Estaline por mero descuido. Estaline acreditou e em consequência decapitou os seus oficias superiores, ou seja, decapitou o seu exército.

A entrada dos alemães pela Rússia foi pão com manteiga até... O General Von Paulus chegou a S. Petersburgo e cercou a cidade a sul, e a norte foi cercada pelos finlandeses. Esperavam que a cidade se rendesse pela fome.

Acontece que os russos conseguiram, apenas por um fio, continuar a alimentar a cidade que resistiu comandada por Kruschef às ordens de Estaline. Neste premeio os alemães convidaram Costa Gomes e Spínola a visitar esta frente e possivelmente entraram em contacto com Van Paulus.

E aqui, em S. Petersburgo, levantou-se uma vaga de fundo que arrastou os alemães até ao Rio Elba. Parou aqui porque estavam as tropas inglesas e americanas, senão só teriam parado em Bordéus.

Foi no levantar nesta vaga de fundo que apareceu pela primeira vez a palavra Descolonização. Pois à medida que os russos avançavam iam descolonizando ou limpando os colonatos alemães a leste.

Diz-se também que, quando Von Paulus se rendeu, ele e o seu Estado Maior começaram a trabalhar para os russos ocupando o lugar dos oficias superiores russos executados.

Portanto a palavra colonato ou descolonização está carregada de ódio entre russos e alemães.

Não nos diz respeito, aqueles são potências continentais e nós estivemos sempre ligados às potências marítimas. É outro campeonato.

Portanto, recuso Guerra Colonial. Pode ser Guerra do Ultramar, está mais correcta mas não é consensual. Guerra da Libertação, muito menos. O nosso inimigo da altura chamava-lhe luta da libertação, não guerra.

Pois guerra implica duas forças beligerantes.De um lado estávamos nós e do outro?
Também não lhe chamaram Guerra Civil, porquê?Portanto acho para ser mais consensual será Guerra de África , ou do Ultramar, se quisermos incluir a invasão de Goa.
Vou tentar escrever sobre cada um dos assuntos que foram tratados no debate.


É a minha opinião que é tão válida como outra qualquer.

Luís, já que tens tido a paciência de nos aturar e a perseverança de manter esta chama, venho pedir um favor: Não podes lançar em CD os documentário e filmes que se produziram durante o nosso tempo de luta?

Um abraço amigo do

Paulo

Paulo Lage Raposo
Alf Mil Inf
BCAÇ 2852 / CCAÇ 2405
Guiné 68/70
Tel 266898240
Herdade da Ameira
7050 Montemor O Novo

2. Comentário de L.G.:

Paulo:

É bom saber de ti e de voltar a partilhar o teu gosto pela análise geoestratégica. Aqui fica a tua posição sobre a questão (que não é meramente semântica) do nome a dar à nossa guerra: Colonial ? Civil ? Do Ultramar ? De Libertação ? De África ? Como eu tenho aqui defendido, na nossa caserna virtual, a terminologia fica ao gosto do freguês, ou seja, de cada um... Eu não tenho qualquer direito de te impor o meu ponto de vista, e vice-versa.... Não é preciso repetir, até à exaustão, que somos uma tertúlia plural e tolerante... O que nos une não é a ideologia, mas a camaradagem...

Tenho no entanto a obrigação (editorial) de chamar a atenção por o facto (histórico) de que houve, por parte do Estado Novo, uma clara mudança de terminologia em 1951, face à percepção dos novos ventos da história: (i) recorde-se que o Acto Colonial (sic) é o primeiro documento constitucional do Estado Novo, promulgado a 8 de Julho de 1930, pelo Decreto n.º 18 570, numa altura em que Oliveira Salazar assume as funções de Ministro Interino das Colónias; (ii) o termo colónias sempre foi usado tanto pela Monarquia como pela I República; (iii) a II Guerra Mundial e as primeiras independências de antigas colónias britânicas (por exemplo, a Indía, em 1947) vão obrigar o Estado Novo a revogar o Acto Colonial, na revisão da Constituição de 1933 feita em 1951 (3).

Quanto ao teu pedido, não sei se estarei em condições de satisfazê-lo... O material audiovisual sobre a nossa guerra está disperso, o mais importante estando nas mãos da RTP e do exército... Eu acho que a nossa geração, que combateu na Guiné, em Angola e em Moçambique, tem direito a visionar esses documentários e filmes... Vamos estar atentos à série A Guerra, que começou a ser apresentada pela RTP... Quanto a nós, vamos estar atentos aos documentários que nos chegarem às mãos ou ao nosso conhecimento... Ainda há umas semanas atrás, o Carlos Marques dos Santos me mandou alguns pequenos filmes do ex-Alf Mil Cardoso, da CART 2339 (Mansambo, 1968/69)...Houve malta nossa que fez, na Guiné, pequenos filmes em 8 mm... Esse material pode ser hoje recuperado... Aqui fica, pois, o teu e o meu apelo.

Daqui vai , de Lisboa até à tua querida Ameira, aquele quebra-ossos... Para o Almansor de Montemor, com a amizade e a camaradagem do Luís.
_____________

Notas de L.G.:

(1) Paulo Raposo: ex-Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 > Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70 > Galomaro e Dulombi).

Vd. post de 10 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1060: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (19): regresso a Lisboa e à vida civil (fim)

(2) Vd. post de 17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2184: A Guerra do Ultramar no programa Prós e Contras (RTP1, 15 de Outubro de 2007): o debate dos generais (Inácio Silva)

(3) Acto colonial 1930. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2007. [Consult. 2007-10-28].Disponível em http://www.infopedia.pt/$acto-colonial-1930.

sábado, 27 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2222: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (4): Aspectos positivos e negativos (Pedro Lauret)

As nossas desculpas ao Comandante Pedro Lauret pelo atraso na publicação do comentário sobre a série A Guerra (1).

O Capitão de Mar e Guerra na Reforma Pedro Lauret.

Nos anos decisivos da Guerra (1971/73), o então Tenente serviu no NRP Orion. Percorreu os rios da Guiné em missões de patrulhamento e apoio a tropas em operações, desempenhando um papel marcante em Gadamael.


Co-editor: vb
__________


Caros Camaradas e Companheiros de Tertúlia,

Quero deixar um pequeno comentário ao documentário de Joaquim Furtado, A Guerra.

Em minha opinião entendo haver aspectos muito positivos e negativos neste documentário.

Em primeiro lugar não se pode esconder que é um trabalho que se encontra em preparação há mais de dez anos com um orçamento invejável, aguardado com enorme expectativa.

Os aspectos positivos prendem-se com enorme qualidade de realização, recuperação de imagens e ritmo. São de salientar as entrevistas aos guerrilheiros da UPA, documentos de enorme violência, porventura mais cruéis que as próprias imagens dos massacres.

Devo criticar apenas na realização o facto de não terem sido utilizados mais grafismos, nomeadamente no que se refere a números. Por exemplo, entendo que era interessante sublinhar, graficamente, que em 1961 havia um dispositivo militar de pouco mais de seis mil homens, cerca de cinco mil de incorporação local, e mostrar a sua distribuição pelo território.

O aspecto negativo prende-se, não com este episódio, que tem para mim nota muito elevada (perdoe-me a citação de MRS) mas por este conteúdo ter constituído o primeiro documentário. Exibir, como primeiro episódio da série, os massacres de Março de 1961, vem justificar que o segundo episódio, que ainda não vi (estou a escrever este comentário às 15:00 de 23 de Outubro), possa mostrar Salazar a dizer “Para Angola rapidamente e em força”, e justificadamente mostrar toda a acção militar decorrente dos acontecimentos de Março de 1961.

Penso que o processo da Guerra Colonial e da descolonização não se inicia em 1961, mas tem na sua génese todo a nova realidade saída da II Guerra Mundial – ONU, carta das ONU, movimento de descolonização das potências europeias, Bandung, crise do Suez … Esta nova realidade internacional é bem compreendida pelo Estado Novo´que depressa elimina o Acto Colonial e o integra na constituição - revisão constitucional de 1951 - e por um passo de magia transforma as antigas colónias em província ultramarinas.

Os contactos havidos pela União Indiana relativamente ao estado Português da Índia a partir de 1947, contactos havidos pelo MPLA e PAIGC, no sentido de se obterem soluções pacíficas para territórios sob administração portuguesa, são também elementos essenciais para entender o que foi a Guerra Colonial.

Em minha opinião, a série de documentários de Joaquim Furtado, deveriam iniciar-se com a contextualização histórica e politica que envolve a Guerra. Iniciar a série com actos de enorme violência, descontextualizados, faz-me lembrar os Telejornais que, em dia de notícias de importância a nível nacional ou internacional, abrem com a agressão a um idoso no interior do país, ou com um qualquer acto de violência isolado, técnica comprovadamente eficaz para fixar audiências.

Pedro Lauret

_________

Nota de vb:

Pedro Lauret vai estar amanhã, Domingo, no programa do Pedro Rolo Duarte, Antena1, entre as 11 e as 12, para falar do blog da Associação 25 de Abril.

Em mensagem que nos enviou hoje, acrescenta:

"Quando gravei o programa tive oportunidade de falar também no nosso blog. Espero ter acertado com as palavras e que de alguma forma possam contribuir para a divulgação da nossa caserna.
Em off, fiz-lhe ver que há blogs que sem preocupação de comentar a actualidade têm uma enorme importância, como é o nosso caso. Tomei a liberdade de dar o contacto do Luís."


(1) Vd.post anterior desta série RTP: A Guerra, série documental (...) > 25 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2212: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (3): Portugueses da diáspora também querem ver (João G. Bonifácio)

(2)Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2212: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (3): Portugueses da diáspora também querem ver (João G. Bonifácio)

1. Mensagem do nosso camarada João G. Bonifácio, que pertenceu à CCAÇ 2402 (1968/70) e vive hoje no Canadá (1):

Luís:

Olá! Os melhores cumprimentos. Não sei se alguém pode ajudar, mas aqui vai a minha questão. Há uns dias a RTP1 transmitiu no programa "Prós e Contras" a situação da chamada Guerra do Ultramar, para além de outros nomes que lhe chamaram.

Todos vós devem ter visto. Eu acompanhei no Canadá atraves da RTPi. No dia
16 foi iniciada a nova série, A Guerra (2), com um primeiro documentário, relacionado com o mesmo tema acima indicado.

Escrevi para a Dra Fátima e produção, com a intenção de saber se estes mesmos documentários poderiam ser mostrados, para além da RTP1 mas igualmente na RTPi. Até hoje não mereci qualquer resposta.

Lembrei-me de escrever, pois já somos muitos nesta Caserna, para saber se
alguém pode saber se estes documentarios serão passados na RTPi ou passados
a DVD. Nós, no estrangeiro, pouco ou nada merecemos.

Um abraço para todos vós e o meu obrigado.

Obrigado, Luís.

João Gomes Bonifácio
Ex-Fur Mil do SAM
CCAÇ 2402/ BCAÇ 2851
, Mansabá, Olossato
1968/70

2. Comentário de L.G.:

A estreia da série semanal A Guerra (argumento e realização de Joaquim Furtado) foi auspiciosa para a RTP. De facto, foi o programa mais visto em 16 de Outubro, batendo os programas de entretenimento que, a essa hora (21h00), pasassavam na concorrência (SIC e TVi).

O programa registou um share de 32,9 e uma audiência média de 13,6, segundo os dados divulgados pela Marktest. O que quer dizer que foi visto por cerca de 1 milhão e 300 mil portugueses. Infelizmente, não chega aos portugueses da diáspora. Esta série, que levou - ao que parece - um decénio a fazer (!), merece chegar o mais longe possível. Apelamos aos amigos e camaradas da Guiné para façam saber isso aos responsáveis da estação pública. Nós, aqui, estamos solidários com os nossos camaradas que vivem no estrangeiro. Um abraço. L.G.

___________

Nota dos editores:

(1) Vd. post de:

1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1331: Blogoterapia (9): Quando a Pátria não é Mátria para ti (João Bonifácio, Canadá, antigo vagomestre da CCAÇ 2402)

(...) Meu caro João /My dear John:

1. Fico muito sensibilizado com a tua mensagem… Eu sei que a Pátria não foi Mátria para ti, foi madrasta... E eu sou o primeiro a ser solidário contigo, eu que decidi ficar na terra que me viu nascer... Sei que isso não te vai servir de consolo, mas não imaginas o rol de reclamações que recebo neste pequeno canto da blogosfera!... Enfim, o importante é que hoje estejas bem, nesse grande país que eu admiro… Mas as tuas raízes, a tua identidade, o teu passado estão aqui, estão connosco… Nenhum de nós terá futuro, se não souber preservar e até alimentar o passado. A Guiné marcou-nos a todos, com o seu ferrete... Mas foi em português, na língua de Camões, que exprimimos os sentimentos mais nobres ou dissémos os palavrões mais horríveis. João: não adianta. Não se escolhe a Pátria, não se escolhem os pais nem os irmãos, não se escolhe a língua materna... Mas dessa ao menos eu tenho (e tu tens, nós temos) orgulho... É em português, e em bom português, que comunicamos na blogosfera, neste blogue, na nossa tertúlia, nesta caserna virtual onde todos cabemos, de Lisboa a Bissau, de Viana do Castelo a Toronto, de Coimbra a Luanda" (...)

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2200: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (7): Comentário de Inácio Silva, da CART 2732, Mansabá, 1970/72

1. Comentário do Inácio Silva (1) ao filme-documentário passado na Culturgest, em 19 de Outubro de 2007, da autoria de Diana Andringa e de Flora Gomes, “As duas faces da guerra” (2):

Diana Andringa e Flora Gomes, a par de outros jornalistas consagrados, através de provas dadas, trouxeram, esta noite, a público, a voz, o ver e o sentir dos ex-combatentes portugueses, intervenientes na Guerra decorrida na Guiné, iniciada pelo PAIGC, no ano de 1963.
Com humildade, Diana Andringa, admitiu que muito ficou por contar do que se passou nos onze anos de guerra, impossível de retratar numa película com cerca de 100 minutos.

Valeu a pena ter estado neste evento, fundamentalmente por duas razões:

(i) nos momentos que antecederam a passagem do filme, verifiquei que os sacrifícios porque passaram os ex-combatentes, quase todos com histórias comuns, sedimentaram a camaradagem, o respeito e a amizade entre todos, independentemente do seu posto ou do quartel para onde foram mobilizados;

(ii) ficar a saber aspectos e pormenores da guerra, quer do lado português mas, principalmente, do lado do PAIGC, desconhecidos da maioria dos ex-combatentes.

O documentário começa de uma forma arrepiante ao mostrar um singelo monumento, com o formato de uma pirâmide semidestruída, no qual constam, sulcados e com muito pó, os nomes de combatentes mortos em Geba [, em 1967], em simultâneo com o capim, símbolo de beleza natural, de respeito e de medo porque servia de esconderijo aos beligerantes, de onde, geralmente, surgiam as emboscadas.

Depois, são apresentados relatos de episódios, na primeira pessoa, da vivência da guerra, tanto do lado português, como do lado do PAIGC, geralmente descritos com emoção, alguns com comoção.

Facto relevante e revelador das agruras da guerra foi um excelente excerto das filmagens efectuadas por uma equipa da televisão francesa, autorizada pelo general António de Spínola, a acompanhar, numa operação, uma companhia de militares portugueses que viria a ser atacada, em emboscada [, na região de Có/Pelundo], na qual o soldado Capela perdeu a vida e outros camaradas ficaram feridos. Foi manifesto o sentimento de raiva, de tristeza e de impotência dos camaradas ao verem caído, no solo, sem vida, um seu elemento que poucos minutos atrás estava pujante de vida. Esta operação pretendia demonstrar aos jornalistas franceses que Portugal tinha o controlo da situação...

Talvez o aspecto mais revelador do documentário é a descrição, com algum pormenor, de certas tácticas de guerrilha empregues pelo PAIGC, sendo salientado o recurso frequente aos elementos infiltrados nas tropas portuguesas para obterem informações militares, para futuros ataques. Ao longo dos anos, foi notória a evolução das técnicas de guerrilha, por parte do PAIGC, que, aliadas a um cada vez melhor apetrechamento de material bélico, iam criando crescentes dificuldades às tropas portuguesas, tornando-as, dia a dia, ano a ano, mais vulneráveis.

De salientar, também, um aspecto digno de registo: os guerrilheiros do PAIGC, assumiam uma atitude disciplinar exemplar e de profundo respeito para com o seu comandante Amílcar Cabral. Esta atitude adveio dum facto importante: os guerrilheiros eram recrutados para as fileiras do PAIGC, através de convite, sem nenhuma obrigatoriedade, sendo que, se não a integrassem, teriam que manter segredo relativamente a tal convite e àquilo que lhes foi dado observar.

O documentário refere, ainda, passagens de portugueses que integraram voluntariamente as fileiras do PAIGC, bem como militares que desertaram ou foram capturados, alguns deles acabando por colaborar com a guerrilha. Embora o filme não o refira, verificou-se, igualmente, o apoio dos nativos Guineenses às tropas portuguesas, muitos deles recebendo treino militar e integrando companhias de combate.

Como corolário das enormes dificuldades criadas pelo PAIGC, os militares portugueses ocupantes do Destacamento de Guileje foram obrigados a abandoná-lo, juntamente com a população (ao todo, cerca de 600 pessoas), dirigindo-se para Gadamael, episódio que é relatado pelo último comandante do destacamento de Guileje [ou melhor do COP 5, o major Coutinho e Lima]. De nada serviram os avisos enviados ao General António de Spínola acerca das extremas dificuldades porque estava a passar toda a Companhia. O Presídio Militar foi o destino do Comandante...

Mas a principal e mais importante constatação, que nos rejubila, é a inexistência de ódio ou de ressentimento entre as partes beligerantes.

É com documentários deste tipo que ficam gravados para sempre, que são trazidos à memória dos portugueses – velhos e novos - aqueles tempos, aquele período negro da história de Portugal, vivido com ingentes sacrifícios pelos ex-combatentes. Período que os políticos no poder, depois do 25 de Abril, teimam em fazer de conta que não existiu.

Aconselho, pois, todos os ex-combatentes a publicitarem este documentário e a vê-lo, logo que possível, levando consigo familiares e amigos.

Da minha parte vai toda a minha admiração e agradecimento à equipa que deu luz a este projecto. Bem hajam.

Charneca da Caparica, 20 de Outubro de 2007.

Inácio Silva
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Notas dos editores do blogue:

(1) Sobre o Inácio Silva, autor do blogue Relembrar para Não Esquecer, ,madeirense, reformado do Metro, residente na Charneca da Caparica, ex-operacional da CART 2732 (Mansabá, 1970/72),vd. os nossos posts:

17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2184: A Guerra do Ultramar no programa Prós e Contras (RTP1, 15 de Outubro de 2007): o debate dos generais (Inácio Silva)

27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1889: Tabanca Grande (20): Inácio Silva, 1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72)

(2) Vd. posts de:

8 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2165: As Duas Faces da Guerra, filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, no DocLisboa2007 (18-28 Outubro 2007)

17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2186: Uma guerra, duas vitórias: entrevista de Diana Andringa à RTP África (Luís Graça)

19 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2194: Pensamento do dia (13): É na guerra que se revela o pior e o melhor das pessoas (Diana Andringa, Visão, nº 763, de ontem)

20 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2197: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (4): Encontro tertuliano no hall da Culturgest na estreia do filme (Luís Graça)