Mostrar mensagens com a etiqueta fauna e flora. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta fauna e flora. Mostrar todas as mensagens

domingo, 20 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24571: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (41): "Frutos do mar" de Narvik, Noruega e... bifinho de novilho de alce de Kiruna...(Mas tenho inveja das nossas muito especiais amêijoas...) (José Belo, Suécia)


Suécia > Lapónia > Agosto de 2023 > "Os alces vitelos que vêm comer maçãs junto às arrecadações nas traseiras da minha casa"

Foto (e legenda): © José Belo (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso (ou "semi-nosso"), luso-sueco,  Joseph Belo (tem mais de  250 referências no nosso blogue, é membro da Tabanca Grande desde 8 de março de 2009); foi alf mil inf da CCAÇ 2381, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; é capitão do exército português reformado; é jurista e empresário, vivendo atualmente entre a Suécia e os EUA):

Data - 20 ago 2023 2:23
Assunto . Petiscos e…inveja!... Principalmente inveja das amêijoas!



Inveja...  Principalmente inveja das amêijoas!

Tenho a cidade costeira norueguesa de Narvik a umas centenas de quilómetros da minha casa. [De Kiruna a Narvik, sáo cerca de 180 km, duas horas e meia a conduzir.]

É lá que compro bacalhau (fresco!) e marisco a preços muito baixos em relação aos portugueses actuais e, na Noruega, não são propriamente….pobrezinhos!

A lagosta, os lagostins e o camarão do Mar do Norte são fantásticos, não lhes ficando atrás o enorme mexilhão.

Tudo comprado em mercado no próprio cais.

Infelizmente fazem falta as nossas muito especiais amêijoas.

Quanto à carne fresca (!) uma imagem vale mais que mil palavras: os alces vitelos vêm comer maçãs junto às arrecadações nas traseiras da minha casa.


Um grande abraço, JBelo

2. Comentário do editor LG:

Zé, fico feliz por saber que, em matéria de comes & bebes, não te falta nada... (faltam-te as "small female Portuguese clams", mas , bolas!|, não se pode ter tudo, ou melhor, não sejas "abelhudo", não se deve ter tudo; para a próxima vens cá comè-las "chex Alice")...

Sem querer puxar a brasa à minha sardinha (a sardinha de Pemiche é pescada aqui em frente, no Mar do Cerro), temos na Lourinhã uma tradição, já antiga, de pesca, armazdenagem e distribuição de marisco ("frutos do mar)... Dizem que era negócio de judeus (leia-se: cristãos novos)... Os viveiros começaram por ser construídos nas rochas (Porto das Bracas, Porto Dinheiro, Paiomogp...).

Conheço pelo menos très grandes empresas, familiares,  que abastsecem as melhores marisqueiras do país, importam e exportam e tèm modernos "viveiros" aqui, no concelho da Lourinhá... Duas tèm inclusive restaurantes e loja de venda ao pública de marisco vivo... Passe a publicidade, aqui ficam os endereços, da mais  antiga para  a mais recente:


_______________

Nota do editor:

Guiné 61/74 - P24569: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (40): Comidinhas de verão: amêijoas, atum fresco e salada... ("E quando os coentros no Norte sabiam a "fedelho" e não iam à mesa do rei?!")



Lourinhã > "Chez Alice" >  15 de agosto de 2023 > Amêijoas com um molhinho de coentros picados, atum fresco de cebolada e salada de alface e cebola... 

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. De que é que um cristão precisa mais cá na terra, em pleno verão, no nosso outrora querido mês de agosto? Amêijoas, de entrada, atum fresco de cebolada com uma batatinha com pele, uma saladinha, um copo de branco fresco...

A sugestão é da "chef" Alice que, infelizmente, eu não apanhei na Guiné, em 1969/71, como "vagomestre". Nessa altura eu não fazia a mínima ideia onde era Candoz, onde ela nasceu, em 1945, a cerca de 320 km a norte da minha terra, Lourinhã... 

Conheci-a aqui, quando ela veio para cá trabalhar, em 1973, para a equipa da "Junta de Colonização Interna" (sic). Vinha do Parque Nacional da Peneda-Gerês que ajudou a criar...

Há encontros felizes...

Fica aqui mais a sugestão gastronómica de verão do nosso "vagomestre de serviço", mesmo que os ingredientes  estejam mais caros do que no ano passado (o atum, as amêijoas, até a batata e a cebola). Mas já que falamos de batata, tenho que deixar aqui o sítio de um homem da minha terra, o Raul Reis, do Sobral, Lourinhã,  que fala "de cátedra" sobre a(s)  batata(s) do nosso contentamento (era um luxo na Guiné, no nosso tempo).  Batata Ratte, batata olho de perdiz, batata raiz-de-cana, batata Asterix... Tudo produtos "gourmets"...

Amigos e camaradas, boa continuação do verão, bebam água, protejam-se do sol (que também faz bem aos ossos), cuidado com as insolações e o cancro de pele... e sobretudo com as minas & armadilhas espalhadas ao longo do troço da picada que nos falta palmilhar neste terço da vida.

Continuamos,  entretanto,  à espera que os outros nossos 'vagomestres' nos mandem ao menos as fotos dos seus "petiscos de verão"... Comam bem o que bem vos apetecer (e se puderem...),  mas não se esqueçam de partilhar as vossas fotos... gastronómicas (LG).

PS - Costumo contar, com algumna graça, que fui eu e Alice que introduzimos os "coentros" (e as "amêijoas") na culinária da Quinta de Candoz... No nosso casório, realizado em 7 de agosto de 1976, lá na Quinta de Candoz, levámos marisco (camarões e sapateiras), e amêijoas com fartura... Aquela gente do Norte nunca tinha cheirado nem muito menos mastigado o raio da erva da terra dos mouros (Coentro, Coriandrum sativum, do grego κορίαννον) ... 

"Sabe a fedelho, carago|!", diziam os mais novos... (A língua portuguesa é tramada.)

Primeiro estranhava-se,  cuspia-se e... despois entranhava-se como todas as novidades boas...  E os ceontros vieram para ficar, lá em Candoz... Hoje cultivam-se na quinta... E toda  gente é fã das amêijoas à Bulhão Pato. Agora temos que tentar... a sopa de beldroegas (a tal erva daninha onde os cães e os gatos mijam).

Quando eu ia ao estrangeiro, em trabalho, ou recebia colegas estrangeiros em Portugal, sempre fiz propaganda das nossas amêijoas à Bulhão Pato: "the small femnale Portuguese clams with olive oil and coriander"... No passado era comidinha dos pobres, que não ia à mesa do rei... "Coentros e rabanetes não vão à mesa do rei", diz a letra do fado de Jorge Atayde, interpretado por Rodrigo.
____________

fedelho|â|ou|ê|
(fe·de·lho)



Regionalismo |  Entomologia

Inseto hemíptero (Nezara viridula), de cor verde, que liberta um cheiro desagradável quando se sente ameaçado.

nome masculino

1. Criança que ainda cheira a cueiros.

2. Jovem muito novo.

3. Criança traquinas ou impertinente. = Badameco

4. [Regionalismo] [Entomologia] Inseto hemíptero (Nezara viridula), de cor verde, que liberta um cheiro desagradável quando se sente ameaçado. = Percevejo-do-Monte, Percevejo-Verde

"fedelho", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/fedelho.
___________

Nota do editor:

Último poste da série >: 19 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24568: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (39): Lagoa de Óbidos, Bom Sucesso: Enguias fritas no "Covão dos Musaranhos"

domingo, 16 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24480: (In)citações (256): Sigamos a andorinha de Candoz (Luís Graça)




Marco de Canaveses, Paredes de Viadores, Candoz, Quinta de Candoz >  14 de julho  de 2023  >  A alegria de voltar a ver, reconstruído, o ninho das andorinhas de Candoz... Ninho insólito, construído não num beiral mas à volta da lâmpada do hall exterior ou alpendre de uma das nossas casas, há muito desabitadas...  Há 3 meses, na altura da Páscoa, estava já a ser reconstruído...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Marco de Canaveses, Paredes de Viadores, Candoz, Quinta de Candoz >  8 de abril de  2013, fim de semana da Páscoa > O ninho das andorinhas em reconstrução...  A amarelo sinaliza-se a secção que estava já a ser reconstruida, a partir da lâmpada... Nesse dia, regressei à Lourinhã... E só voltei agora, três meses depois...

Pela entrada em "túnel" (rectàngulo a azul), parece tratar-se de um típico ninho de Andorinha-dáurica (Cecropis daurica)
 

(...) "O planar calmo da andorinha-dáurica, que contrasta com o voo mais agitado das outras andorinhas, transmite uma sensação de tranquilidade. O seu ninho, com um longo túnel de acesso, é muito diferente do das outras andorinhas." (...) "Esta andorinha identifica-se principalmente pelo tom dourado das partes inferiores e do uropígio, que contrastam com o resto da plumagem preta. A cauda é fortemente bifurcada. Distingue-se da andorinha-das-chaminés pelo uropígio dourado e pela ausência de mancha vermelha escura na garganta." (...)

(...) "O interior alentejano é, sem dúvida, a melhor região para observar esta andorinha.n(...) Entre Douro e Minho – pouco frequente nesta região, ocorre em pequenos números na serra da Peneda." (...)


Sobre o ninho das andorinhas, sabe-se que: (i) a sua construção é levada a cabo tanto pela fêmea como pelo macho; (ii) pode demorar até 10 dias a ser construído ou reconstruído ; (iii) tem a forma de uma taça fechada com uma abertura estreita no topo; (iv) é feito com pedaços de lama colados com saliva; e (iv) forrado com palha, ervas, penas ou outros materiais macios...

Na foto acima vê-se, assinalado a azul, o antigo túnel de acesso (o orifício tem de ser estreito para impedir a entrada do "ocupa" que é do pardal-telhado). (***)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






Marco de Canaveses, Paredes de Viadores, Candoz, Quinta de Candoz > 23 de Agosto de 2012 > Fotograma de vídeo > Ninho de andorinha, insólito, construído à volta da lâmpada do hall exterior ou alpendre de uma das nossas casas...


Aos 43 segundos vê-se uma andorinha entrar no ninho levando insetos para alimentar as crias, e 10 segundos depois sair para mais uma "caçada" ao redor da Quinta de Candoz, que é rica em insectos... O ninho tinha sido recentemente reconstruído. As andorinhas caçam em círculo, num raio de 500 metros do ninho.

Vídeo (1' 07''): © Luís Graça (2012). Alojado em Luís Graça : You Tube


1. Comentário de Luís Graça ao poste P24475 (*): 

Sigamos a andorinha de Candoz!... 

Hoje já ganhei o dia: ao dar o meu passeio matinal, de muletas (em alternativa ao ginásio que fica parado dez dias), pela terra de Candoz (em socalcos, sempre a subir...), tive a imensa alegria de poder confirmar que as minhas/nossas  andorinhas já têm casa nova!... 

Da última vez que cá estive, no início da Primavera, mal tinham começado a reconstruí-lo, acabadas de chegar do Norte de Africa!...

Quase todos os anos o enorme ninho tem de ser refeito: no alpendre (construído estranhamente à volta do fio, solto, da lâmpada exterior, que terá cerca de 30 cm de comprido) de uma das nossas casas (a do caseiro, sem uso há muito), elas fizeram o seu palácio e maternidade...

No último ano, as crias já crescidas caíram junto com o "soalho"... Ainda fomos a tempo de as salvar... Este ano voltaram e quiseram-nos "agradecer" desta maneira tão "linda"... Confesso que fiquei sensibilizado e "prometi-lhes" fazer um poste para o blogue... Já serão muitas as gerações de andorinhas as nascidas aqui (em mais de 2 dezenas de anos, e considerando que as andorinhas vivem em média 8 anos)...

A andorinha de Candoz é como a fénix renascida... E um exemplo singelo da natureza: nunca se pode desistir porque a vida continua, tem de continuar...

Sigamos o exemplo delas! (**)



2. Há cerca de 12 anos, em setembro de 2011, fiz (e coloquei no blogue) um pequeno vídeo (18'') com um  insólito ninho de andorinha, construído não no beiral do telhado, como era habitual nas andorinhas que conhecia,  mas no alpendre de uma das casas (desabitada há mais de 4 décadas) da nossa Quinta de Candoz....

O vídeo comprovava a existência de uma família de andorinhas que, desde há menos de uma década, vinha (pesumíamos nós) do norte de África "passar as suas férias de verão" e nidificar em Candoz, nas encostas do Douro... 

Sempre tivemos, a família de Candoz, um especial carinho por este ninho e seus habitantes... Nunca, que eu me lembre, desde 1975, nenhuma andorinha tinha nidificado na nossa terra... 

Estas, tal como eu, chegaram, gostaram e voltam sempre...  Em 9 de junho de 2012, para surpresa e desgosto meus, dei conta que a "abóboda" do engenhoso ninho tinha caído, possivelmente sob o efeito de alguma intempérie. Voltei, dois meses depois a sorrir, quando a 23 de agosto desse ano, dei conta de que o ninho tinha sido reconstruído e tinha novos inquilinos, seguramente descentes dos primitivos construtores de há meia dúzia de anos atrás...

Este ninho, que eu chamei insólito, foi pretexto na altura para um dos nossos inocentes e descontraídos passatempos de verão, no nosso blogue, ajudando-nos a cultivar a horta do nosso bom humor e sabedoria... e ao qual se juntaram, com os seus valiosíssimos e oportunos comentários, os nossos camaradas e amigos Henrique Cerqueira, José Belo, Torcato Mendonça (já faleciodo), José Manuel Cancela, Joaquim Sabido, Carlos Cordeiro (já falecido), César Dias e Filomena... (Espero não estar a esquecer ninguém!).

Moral da história, tirada na altura, em 2012 (***) e de novo confirmada: as andorinhas, mesmo aquelas que são mais "desalinhadas":

(i) mostram aos seres humanos que todos podemos ser ao mesmo tempo iguais, diferentes e únicos, e que isso só nos enriquece como espécie... 

(ii) ah, têm outras qualidades, importantes nos tempos que correm, as nossas andorinhas: são  leais, gregárias, solidárias, corajosas, persistentes, vão à luta, não desistem... 

Parafraseando o Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus (6: 26), tomemos como exemplo as andorinhas e as demais aves do céu... 
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24475: (In)citações (254): Por favor, não sigam o alce-cherne, que é animal híbrido que não existe no bestiário da minha Lapónia (José Belo)

(**) Último poste da sérioe > 16 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24479: (In)citações (255): Adenda ao texto humanitarista sobre o alce-cherne (José Belo) Adenda ao texto humanitarista sobre o alce-cherne (José Belo)

(***) Vd. poste de 26 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10300: Os nossos passatempos de verão (9): A andorinha da Tabanca de Candoz, que é leal, gregária, solidária, corajosa, persistente, vai à luta, não desiste... (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P24479: (In)citações (255): Adenda ao texto humanitarista sobre o alce-cherne (José Belo)


Imagem enviada pelo Joseph Belo. Sem legenda


 
1. Mensagem do Joseph Belo, o nosso correspondente no círculo polar ártico;

Data - quarta, 12/07/2023, 21:35

Assunto - Adenda ao texto humanitarista… Alce-Cherne (*)

Meu Caro Luís

O pseudo humor escandinavo do texto (*) surge de outras realidades, condicionadas por parâmetros muito diferentes dos nossos.

Não se deve esquecer que entre humanismos e humanitarismos há uma dicotomia ética.

Um dos nossos mais profundos observadores, Fernando Pessoa, escreveu:

“Há sempre uma relação sistematizada entre o humanitarismo e a aguardente de bagaço “

O humanitarismo do texto "Alce-Cherne" poderá acarretar a pergunta muito americana:

- Where’s the beef?

A única resposta que me surge é... I don’t give a ***Duck ***!

JBelo


2. Comentários  ao poste P24475 (*):

(i) José Belo:

Caro Luís: Respeitando as tuas sensibilidades cinegéticas [não publicando a foto do caçador e do alce abatido por carabina com mira telescópica, com o argumento  de ser "pornográfica"...], creio que a adenda ao texto que te enviei será necessária para se compreenderem as dicotomias éticas nele contidas.

O comentário do amigo e camarada Alberto Branquinho será um bom exemplo quanto à necessidade da…. adenda!

(ii) Alberto Brnaquinho:

Pelo que parece, e segundo o texto de José Belo, os alces-fêmeas (porque temos uma acompanhada de vitelo), são aqueles (animais) que não têm cornos.

De alces-chernes não é dada nota em imagem, mas a gente imagina. Ou não será assim?

14 de julho de 2023 às 11:58 


(iii) José Belo:

Caro amigo e aamarada Alberto Branquinho:

Colocas pergunta pertinente quanto ao “alce-cherne”.

Ao ler o meu tão escandinavo texto, muito distante das realidades lusitanas, senti de imediato a necessidade de enviar uma adenda ao mesmo. A ter sido publicada, a pergunta existencial de Alberto Branquinho não teria certamente surgido.

(O meu poeta português preferido escreveu:
"Sentir é uma maçada!"... 
A própria forma plebeia da frase lhe dá sal e pimenta)

Ao ler-se o texto,*depois da adenda não publicada*, encontra-se nas entre linhas a tal dicotomia ética entre o humanitarismo e o humanismo.

Sobre o assunto Fernando Pessoa foi ainda mais longe ao afirmar:

“Há sempre uma relação sistematizada entre o humanitarismo e a aguardente de bagaço”

Enfim, isto de textos e comentários é um pouco como… ”Ler o futuro no passado!”

14 de julho de 2023 às 17:11 


(iv) Alberto Branquinho:

JB: Atão, man! Qu'é d'adenda? Benha ela, carago!
(Pá gente poder entender a qúeston!)

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos: L.G.]

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24475: (In)citações (254): Por favor, não sigam o alce-cherne, que é animal híbrido que não existe no bestiário da minha Lapónia (José Belo)




Fotos enviadas pelo Joseph Belo (2023): os alces que rondam a minha porta...


 1. Mensagem do José Belo, o nosso correspondente no círculo polar ártico:

Data - 25/06/2023, 20:22
Assunto - O alce, o cherno... e o alce-cherno

O quadro jurídico de muitas nações e a declaração universal dos direitos humanos contempla o direito de resposta.

Com o reconhecimento deste direito é possível defender a honra, a dignidade e a integridade do indivíduo. Mais não é que um mecanismo legal para combater a difusão de informações falsas.

Com liberdades poéticas, tão suaves como martelo de pedreira, o  rei das florestas nórdicas é “amortalho” num poema sobre o Cherne (peixe simpático, mas peixe é peixe!)

A intenção do poeta seria a melhor... mas como explicar ao orgulhoso e altivo alce o sentimento poético lusitano que o põe... "já morto, a boiar ao lume de água, nos olhos rasos de água?"

Estas coisas espalham-se como a neblina nas infindáveis florestas nórdicas.

Não será por acaso que, desde a publicação do poste (P24418) o largo rio que corre a 200 metros da minha casa é diariamente visitado por alces fêmeas que, acompanhadas pelos seus vitelos, procuram observar na superfície do rio o tal "alce-cherno" a boiar.

Seria mais do que edificante esta educação compulsiva-geracional dos alces, não fora ela baseada em falsas premísseis lusitanas.

Surge ainda o agravante colateral provocado pelas contínuas visitas destas alimárias com as respectivas crias. Estão a provocar profundas depressões nervosas nos meus cães de guarda,  habituados a ganhar honestamente o seu pão diário afastando lobos e ursos e não familiares chorosos de alces-cherne. (**)

Um grande abraço do JBelo WWW

PS - Em e-mail seguem fotos comprovativas.
____________

Notas do editor;

(*) Vd. poste de 20 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24418: (In)citações (251): Sigamos o alce, que vem pachorrentamente pastar à porta do Joseph Belo, à hora do jantar...

Vd. também poste de 6 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24454: S(C)em comentários (11): "Na imensidão da Lapónia a Natureza é uma das terapias espirituais" (José Belo)

terça-feira, 20 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24418: (In)citações (251): Sigamos o alce, que vem pachorrentamente pastar à porta do Joseph Belo, à hora do jantar...





Suécia > Lapónia : s/d> O alce que vem pachorrentamente pastar à porta do Joseph Belo, à hora do jantar...

Foto (e legenda): © José Colaço (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Joseph Belo, o luso-sueco José Belo que foi alf mil inf da CCAÇ 2381, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, capitão do exército português reformado, e que, se não fora o nosso blogue, já há muito  teria cortado o "cordão umbilical" emocional que o liga à terra onde nasceu... 

Autoexilado, depois de também ter dado a sua quota-parte para o triunfo da liberdade e da democracia em Portugal, é de estranhar que ninguém se tenha lembrado dele, muito menos o Presidente da República que, sendo por inerência da sua função, o Grão-Mestre de todas as Ordens Honoríficas Portuguesas, está a distribuir por estes dias (na véspera dos 50 anos do 25 de Abril) a Ordem da Liberdade, Grande Oficial, a todos os "militares de Abril"...

Data . 12 jun 2023, 15h19

Assunto - Email desgarrados

Caro Luís:

Estou a receber E-mails de camaradas do blogue que me não são dirigidos.

Algum erro nas “computações” terá certamente surgido.

Um grande abraço, JBelo

PS - E aproveitando….aqui segue um alce a comer calmamente nas traseiras da minha casa. Na Lapónia,  o jantar vem literalmente bater à nossa porta! (*)


2. Comentário do editor LG:

Zé: foi lapso meu... Costumo dar-te conhecimento, mas em bbc ("blind carbon copy") e não em cc,  de algumas coisas que te podem interessar....I'm sorry.

Aproveitaste, e a gente agradece, para fazeres "prova de vida"...Depois da saudável "hibernação",  vem aí o solstício do verão. Dizem que o mês de Junho é a época que suecos/as atingem o pico da felicidade... 

Cada povo "adverte-se" (como diz o Zé Povinho do Norte) como pode... A gente cá na parvónia tem as festas dos santos populares, o tintol e a sardinha assada. Mas não há "almoços grátis", segundo a máxima famosa de um economista cá da praça que chegou a presidente da República. Tu, tens mais sorte, tens o jantar que te vem "literalmente bater á porta",,, Já em tempos. em plena pandemia de Covid-19, nos tinhas falado do alce, "o rei das florestas escandinavas" (**)

Na altura, escreveste, à laia de desabafo : "Cada vez menos sei se estas coisas 'exóticas' que me rodeiam, aí dizem algo que valha a pena ser lido.São realidades tão dísparas das portuguesas que muitas vezes me pergunto o que eu pensaria delas se aí tivesse continuado a viver. As análises editoriais são, quanto a mim, fundamentais quanto a este tipo de participação 'fora de contextos'...". Mas, olha, pelo tipo e número de comentários (21), o poste foi lido com muito interesse e muita gente...

Podíamos, parodiando o Alexandre O'Neil, seguir o conselho, não de seguir o "cherno" (do outro, que só queria o poder, a qualquer preço), mas o teu "alce", que vem pachorrentamenmte pastar à tua porta, à hora do jantar... O poeta, lá no Olimpo, não levará a mal esta paródia, ele que era por excelência um provocador, um iconoclasta, com a sua meia costela de irlandês...


Sigamos o alce

Sigamos o alce,minha amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos,até, do alce um beijo,
Senão já com amor, com alegria...

Em cada um de nós circula o alce,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em floresta silenciosa de passado
Circula o alce: traído
Animal recalcado...

Sigamos, pois,o alce ,antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando,mentido o alce a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa...

Poema original: 
"Sigamos o cherne", de Alexandre O'Neil (1924-1986)
In: "No Reino da Dinamarac" (1958)
(Adapt. de LG... Com a devida vénia...)

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24391: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (36): No Corubal não há ostras (... e muito menos sardinhas de Santo António), mas há coisas que também não há no céu: garoupa do rio (perca do Nilo), lagostins, mexilhão de água doce, crocodilos e hipopótamos, etc.


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > Rápidos do Saltinho > 3 de Março de 2008 > Lavadeiras do Saltinho... Doces e trágicas memórias, a deste rio... O único e verdadeiro rio da Guiné, já lá dizia o eng. agr. Amílcar Cabral, porque todos os demais são de água salgada, são rias, são braços de mar... É provavelmente o mais belo rio da Guiné, digo eu, que só conheço este, o  Geba, o Mansoa, o Cacine  e mais alguns rios mais pequenos, afluentes...


Um dia destes,  os novos senhores de África decidem construir aqui uma monstruosa barragem, hidroelétrica, à revelia dos verdadeiros interesses do povo guineense... É sonho antigo que vem da independência... E com isso destruir o recurso mais precioso que tem a Guiné-Bissau, para além do seu povo, que é a sua biodiversidade... Não sei se este projeto tem viabilidade (do ponto de vista técnico, financeiro, económico, ambiental e político)... Mas já vimos tanto coisa, em todo o lado (a começar pelo nosso país)...

Ah!, mas Bissau, continua nas "trevas", sem eletricidade, a não ser a de geradores... Hoje põe-se cada vez mas em causa o recuros às barragens hidroelétricas que tem um período de vida útil de 100 anos e um impacto ambiental produtal...

Enfim, o que eu quero sublinhar é que  sem biodiversidade não há futuro, não há desenvolvimento sustentado e partilhado, não há esperança... Oxalá que este  projeto nunca se chegue a concretizar, no Corubal... 

Para bem da Guiné-Bissau e de todos nós, incluindo o povo chinês cujo dinheiro está a ser fortemente investido em África, e não só... Porque a terra não nos pertence, é a nossa casa comum, e temos a obrigação de a deixar, melhor, mais habitável e sustentável, aos que hão-de vir depois de nós, os nossos filhos, netos e bisnetos, europeus, africanos, asiáticos, americanos, australianos...

Também me parece que há hoje  um sério risco de "pesca selvagem" no Rio Corubal, a avaliar pelas fotos de alguns "sites" de caça e pesca, internacionais, que promovem, descaradamente, quase pornograficamente, o saque dos recursos piscícolas do Rio Corubal...

O mar da minha terra também era rico de vida marinha, lançavam-se cem covos, apanhavam-se cem lagostas. E pescador que não apanhasse à linha uma garoupa do seu tamanho era uma merda de pescador... Estou a falar de há 60/70 anos atrás... Hoje até a sardinha foge de nós... En Peniche o número de traineiras deve ter sido reduzido na ordem das 80 para 10... O atum desapareceu do mediterrâneo. E, claro, do Algarve. E as ostras estão a regrssar, lentamente, depois da poluição dos estuários dos nossos rios, o Tejo, o Sado,a ria de Aveiro...

No passado, nunca aprendemos com os erros uns dos outros... Tem sido a ganância de uns poucos que nos empobrece e mata  a todos... Aqui, e em toda a parte... Infelizmente a Guiné-Bissau é um dos países mais ameaçados do mundo, em consequência das alterações climáticas... Não sei se os nossos bisnetos poderão chegar a  conhecer o Rio Corubal, os rápidos do Saltinho e de Cusselinta (e não "Cussilinta", como já tenho visto grafado...) ou o arquipélago dos Bijagós...  

Todavia, a consciência ecológica está a chegar também à Guiné-Bissau: o povo bijagó, por exemplo, está-se a mobilizar para defender e proteger os seus recursos marinhos e florestais, sem os quais corre o risco de perder o seu modo de vida e a sua forte identidade cultural... E são as mulheres que lideram essa luta... Vejam aqui o sítio da ONGD, de base comunitária, Tiniguena. (LG)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Patrício Ribeiro (nosso correspondente em Bissau, colaborador permanente da Tabanca Grande para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau, onde vive desde 1984, e onde é empresário, fundador e diretor técnico da Impar Lda; tem mais de 130 referências no blogue: autor da série, entre outras, "Bom dia desde Bssau".

1. Pois é, no Corubal não há ostras, dizem camaradas que conhecem bem o sítio, o Saltinho, Cusselinta,  o Corubal, a Guiné-Bissau, do Paulo Santiago ao Zé Teixeira (*)... E agora o Patricio Ribeiro vem dar a confirmação definitiva. Vamos publicar na sua série "Bom dia, desde Bissau" (**).

Mail de hoje, 12 de maio de 2023, às 11:07.

Bom dia, amigos.

Não há ostras no Corubal.

Faço caça submarina no Corubal, desde há mais de 30 anos.

Hoje há ostras que são levadas para todos os locais da Guiné, são arrancadas do tarrafe ou das rochas, mas sempre na água salgada.

Pode-se comer as que são apanhadas no rio de Susana e levadas para o Saltinho. Este ano, comi algumas vezes em Varela, as que são apanhadas em Catão ou Iale.

No rio, há diversos peixes, o mais interessante é a garoupa do rio (perca do Nilo) que chegam algumas aos 10 kg.

Há lagostins, mexilhão de água doce, crocodilos e hipopótamos, etc.

Infelizmente a praia de Cusselinta, um dos paraísos da Guiné, está cheia de redes de pesca. São instaladas todo o ano, sem as levantar, apanham tudo, inclusivamente a mim ... não era habitual, dizem que são de estrangeiros.

Passei muitos fins de semana em Coli (no projeto de investigação de árvores de fruto), a 12 km de Aldeia Formosa, também a trabalhar.

Dali muitas vezes saíamos para uma ilha no meio do rio, que está registada em nome da nossa amiga Isabel Levy, local em que o nosso amigo Pepito tinha o prazer de levar os amigos, subíamos o rio 30 minutos de barco e ali acampávamos numa praia de areia, no meio da floresta, com todo o tipo de animais.

Só que os tempos mudam, agora há na zona, além de pedreiras de pedras duralite, a desmatação de milhares de hectares para a plantação de frutos tropicais !!!

Para os amigos, informo que cheguei agora para comer as sardinhas de Sto. António e só depois vou para o leitão. (**)

Abraço

Patricio Ribeiro | impar_bissau@hotmail.com
___________

Notas do editor:


Vd. também 3 de julho de  2015 > Guiné 63/74 - P14829: Memória dos lugares (301): Rio Corubal: Já o atravessei a nado, duas vezes, com óculos e barbatanas, vasculhando o fundo, junto à jangada do Ché Ché, de tão má memória... (Patrício Ribeiro, Bissau)

domingo, 23 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24242: (In)citações (239): O nosso blogue faz hoje 19 anos, sabiam?!... Não é uma eternidade, é uma enormidade... de tempo, equivalente a 10 comissões no CTIG...

Foto nº  2 > Tabanca de Candoz > 20 de abril de 2023 > O melro-preto (Turdus merula) alimentando os três rebentos... Não é a mãe, é pai (plumagem preta e bivo amarelo)... Fotograma de vídeo feito por Américo Vieira, "Meco" (para a família e amigos) (Vd. o vídeo aqui, na página do Facebook Fotos de Américo Vieira). Comentei eu:

"Parabéns, Meco, no dia 8 deste mês ainda o melro estava chocar os ovos... E não era mãe, era o pai...Três, de casca verde-azulada que eu fotografei. Mãe imprevidente (é ela que faz o ninho, o pai pode transportar os materiais...), foi construir o ninho num arbusto de alecrim, junto a uma carreiro, na nossa Quinta de Candoz... a menos de um metro, metro e meio,  do solo, num sítio por ondem passam predadores, incluindo o "bicho homem"... Agora é preciso evitar que cães e gatos deem com o ninho até os melrinhos aprenderem a voar... E boa sorte para eles... E, tu,  continua ser o "olheiro" da bicharada de Candoz e arredores... O mesmo é dizer: o seu "guardião"... Se me permites, venho cá, de vez em quando, "roubar-te" umas fotos... És um fotógrafo com grande sensibilidade ambiental e qualidade estética... Luís Graça."

Foto (e legenda): © Américo Vieira (2023). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 1 > Tabanca de Candoz > 8 de abril de 2023 > Os ovos de melro no ninho construído num arbusto de alecrim,

Foto (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Hoje o nosso blogue faz 19 anos. O poste n.º 1 foi publicado justamente em 23 de abril de 2004...(E este é já o P24242.) Para uma pessoa física, não é nada, ou melhor, são apenas 19 aninhos, cheios de vida, de sangue na guelra, de vontade de lutar e viver... 

Para um blogue, 19 anos é tempo de mais... Na Internet, na Web,  é  quase uma eternidade... Pensando bem, é uma enormidade, para os antigos combatentes, é o dobro do tempo que durou aquela maldita guerra (que, em boa verdade, arrastou-se por menos  de 11 anos, de princípios de 1963 a  meados de 1974, se descontarmos os "incidentes", nos dois anos antecedentes, 1961 e 1962)... 

Não estamos à espera de soprar a vela e, muito menos, que nos cantem os parabéns a você... Não temos bolo, nem velas, e já lá vai o tempo em que a gente achava piada a essas coisas, na Guiné: estávamos vivos e queríamos continuar a estar vivos... Celebrávamos os 22, 23, 24 anos... pagando uma rodada (ou mais) de cerveja ou de uísque pelos camaradas mais próximos. 

Não sei se algum de nós se lembraria um dia de recitar o poema do Álvaro de Campos, "Aniversário"... O Fernando Pessoa não estava ainda na moda... Lembram-se?

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.

Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida. (...)

O resto podem ler aqui (é lindo, lúcido,  irónico,  deprimente):

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
15-10-1929
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). - 284.


2.  Ninguém hoje faz anos, a não ser o blogue... O blogue somos todos nós e não é ninguém, em particular... Começou por ser (ou queria ser) uma tertúlia... É pelo menos uma comunidade virtual que reúne vivos e mortos: hoje formalmente somos já 874...  os que aceitaram reunir-se à sombra do simbólico, fraterno,  sagrado poilão.

A propósito ou a despropósito desta pequena (e discreta)  efeméride, os nossos leitores poderão escrever qualquer coisinha, a título de comentário, crítica, sugestão... Sobre o passado, o presente ou o futuro (de todos nós, "amigos e camradas da Guiné")...

Com alguma ingenuidade nossa ainda queremos chegar aos 900 membros da Tabanca Grande até final deste ano... É uma meta difícil, mas também só vale a pena chegar aos 900, se  os "novos" (os "periquitos")  trouxerem algum "sangue novo"... 

Em suma, precisamos de "caras novas", precisamos de renovar a "hemoglobina" e as "plaquetas" do blogue... Precisamos de "transfusões de sangue"... Todos temos a sensaçáo de que o nosso baú da(s) memória(s) já está muito rapado... Mas mesmo assim, o blogue continua vivo... como os melros da Tabanca de  Candoz. 

Obrigado a todos os que ainda mantêm vivo o blogue mais antigo dos antigos combatentes da guerra colonial da Guiné... Não queremos que nos deem os parabéns, ou melhor, queremos apenas que continuem a ler-nos, a comentar, a mandar textos e fotos,  é disso que o blogue vive... Tem que ser alimentado como os melrinhos da Tabanca de  Candoz... E quem conseguir "pòr ovos", ainda melhor!... Até ao viségimo aniversário, e cuidado com as minas e armadilhas espalhadas pela picada fora...LG
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 8 de abril de 2023 Guiné 61/74 - P24231: (In)citações (238): Da contestação da Guerra, à mobilização e regresso da Guiné, o operário de Sines e a evolução das costelas (Victor Costa, ex-Fur Mil At Inf)

terça-feira, 14 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24143: Ser solidário (254): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (3) (Renato Brito)



1.
Mensagem enviada ao nosso Blogue, em 8 de Março de 2023, por Renato Brito, voluntário na Guiné-Bissau, que integra um projecto de construção de uma escola na aldeia de Sincha Alfa:

Bom dia Carlos Vinhal,

Partilho mais um bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau.
Está agendado para o dia 30 de março um mercado de venda de objectos em segunda-mão em Merano – Itália. Os objectos foram em parte doados por meninos de uma escola primária onde apresentei as fotografias da Guiné-Bissau.

Outros foram oferecidos por amigos e conhecidos.

Sempre com a ideia de divulgar simultaneamente aspectos relevantes do país, desta vez um pouco da gastronomia. Pesquisando descobri que o embondeiro para além de ser uma árvore imponente produz um fruto que é também um super alimento. A sua polpa contém duas vezes mais cálcio que o leite e seis vezes mais vitamina C do que uma laranja.

Encontra-se uma descrição desta árvore na página 33 desta publicação com um curioso título “Plantas usadas por chimpanzés e humanos no Cantanhez, Guiné-Bissau”.
Publicado pelo Repositório da Universidade de Lisboa, está disponível para consulta e download neste endereço internet: https://repositorio.ul.pt/handle/10451/45219
Encontrei também este simpático livro, publicado pela Fundação Slow Food, com receitas tradicionais da Guiné-Bissau onde vem descrito como fazer o sumo de cabaceira.
Disponível para consulta e download aqui: https://www.fondazioneslowfood.com/wp-content/uploads/2015/04/ricette_guinea_bissau_POR.pdf

Envio-lhe também a imagem que deu origem ao desenho no bilhete-postal.
Este embondeiro existe em Cabuca e deve ter assistido à chegada dos portugueses.

Cumprimentos,
Renato Brito

____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24054: Ser solidário (253): A ONGD "Na Rota dos Povos", com sede em Gondomar, na sua segunda viagem, por via terrestre, levando mais uma carrinha adaptada para pessoas com mobilidade reduzida, até Catió (Joaquim Costa)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24043: Fauna & flora (22): Algumas boas notícias para os mais de 700 chimpanzés (ou "daris") do Boé, graças ao fantástico trabalho de conservação da Chimbo Fundation&Daridibo, com sede em Béli


Um pequeno documentário baseado em vários vídeos, obtidos por câmaras de vigilância,  de chimpanzés no Boé, Guiné-Bissau.  Narração, em fula, por Bacari Camará, que vive em Béli, e é gestor de projeto. Legendas em inglês.

Vídeo (12' 30''), da Foundation Chimbo, alojado no You Tube.  Aqui reproduzido com a devida vénia.


1. Temos dado aqui  alguma atenção à fauna & flora" da Guiné-Bissau, e em particular aos chimpanzés do Boé e do Cantanhez (temos 11 referências ao nosso "dari"),  

No tempo da guerra, entre 1961 e 1974, provavelmente nenhum de nós, antigos combatentes portugueses, deve ter visto um chimpanzé, a não ser infelizmente em cativeiro. São animais, primatas como nós, territoriais e sociais (e os mais próximos de nós, em termos genéticos e evolutivos) mas de difícil observação na natureza...

Oxalá o visionamento deste vídeo (falado em fula, com legendas em inglês) contribua também para sensibilizar os nossos leitores para a problemática da proteção do chimpanzé e da preservação do seu habitat. O chimpanzé da África Ocide
ntal (Pan troglodytes)  é considerada uma espécie ameaçada, "criticamente em perigo".

Como diz um provérbio fula, uma única árvore não poder fazer uma floresta... Daí ser fundamental trabalhar em rede, envolver outras organizações, regiões, a sociedade civil e  o Estado da Guiné-Bissau, bem como empresas mineiras, parcerias (caso da ASI - Aluminium Stewardship Initiative) e países vizinhos, mas sobretudo a população local, que, no caso do Boé, é maioritariamente fula. A caça ilegal, a pressão demográfica humana, a construção de estradas e os projetos de mineração são alguns dos factores de risco para a preservação desta espécie.

Felizmente, ao que parece, têm  sido bem sucedidos os projetos da Chimbo Foundation and Daridibo no domínio da conservação desta e doutras espécies animais, emblemáticas da Guiné-Bissau, como por exemplo o leopardo (predador do chimpanzé).

Na primavera de 2022, 178 locais sagrados do Boé, que já estavam registados como ICCA (Áreas Indígenas e Comunitárias Conservadas), foram aceites como áreas protegidas de categoria III da IUCN (International Union for Conservation of Nature / União Internacional para a Conservação da Natureza) na WDPA (World Database on Protected Areas / Base de Dados Mundial sobre as Áreas Protegidas) (Ler mais sobre isto, no boletim informativo da Fundação, de maio de 2022.)

Mais de 50 estudantes e cientistas da Holanda, Alemanha, França, Bélgica, Índia, Brasil, Itália, Suíça, Portugal, Espanha, Senegal, Guiné-Bissau e Canadá, já realizaram pesquisas que contribuíram para a conservação do Boé.  


Doações são bem vindas:

Conta bancária

Stichting Chimbo

IBAN: NL05INGB0002734651

BIC: INGBNL2A

Contactos:

Telef +31-6-17280797 (The Netherlands)
E-mail: info@chimbo.org


2. Reprodução de uma notícia da Lusa / Porto Canal, 2/1/2015 (com a devida vénia...)

Câmaras revelam um dos últimos recantos de chimpanzés 
em terras lusófonas

Béli, Guiné-Bissau, 02 dez (Lusa) - Chimpanzés a tomar banho num lago, a encestar pedras como num "afundanço" de basquete entre ramos de uma árvore ou simplesmente em passeio.

São animais em vias de extinção a nível global, mas há horas e horas de vídeo a mostrar a intimidade destes primatas que habitam nas florestas do Boé, sudeste da Guiné-Bissau.

Nestes filmes há também leopardos a desfilar como numa passarela, imagens de búfalos, gazelas, javalis e o que parece ser a cauda de um leão - do qual já foram encontradas pegadas.

Os membros da fundação Chimbo ficam ansiosos de cada vez que penetram na densa vegetação para ler os cartões de memória das câmaras de vigilância: sabe-se lá que animais vão ver.

Alguns, como o leão, eram dados como extintos na Guiné-Bissau desde a guerra pela independência, na década de 60 e até 1974.

Há que aguçar os sentidos: "os chimpanzés gritam quando se deitam e quanto se levantam", explica Piet Wit, ecologista, especialista em Agronomia e Gestão de Recursos Naturais, um dos responsáveis pela Chimbo.

Assim, quando a noite cai é possível saber aproximadamente em que árvores fazem os ninhos para dormir, para de manhã a busca avançar até perto desses locais e esperar que acordem.

A sede da Chimbo está montada na aldeia de Béli e dali parte a maioria das saídas de campo, mas é difícil deitar olho aos chimpanzés.

"Aqui no Boé, por cada cinco saídas, há talvez duas em que os consigo observar. E por vezes só ao longe", descreve Piet.

Daí a extrema utilidade da rede de câmaras de vigilância. A rede foi montada há cinco anos, primeiro em dez locais, hoje abrange 25 e com outras tantas câmaras prontas a entrar em ação, se necessário.

"Não as usamos todas em simultâneo porque não teríamos capacidade para as gerir", explica. Só com o conjunto que está ativo "já há muitas centenas de horas de vídeos acumuladas para ver".

Esta história de observação e preservação da natureza começa com um momento trágico na vida de Piet e da esposa, Annemarie Goedmakers.

David, filho do casal holandês, faleceu inesperadamente em 2006, aos 18 anos, devido a um problema vascular na aorta. Juntos já tinham passado férias na Guiné-Bissau. Annemarie, presidente da Chimbo, bioquímica e ecologista, ainda hoje mostra a foto de David a dormir num ninho de chimpanzé quando tinha 10 anos.

"Já tínhamos a ideia de fazer algo pelo Boé, mas depois de ele morrer, isso ganhou outra força".

Um dos primeiros trabalhos da Chimbo, com financiamento da MAVA -- Fundação para a Natureza, e outros doadores, consistiu num levantamento que permitiu chegar à estimativa de que haja cerca de 700 chimpanzés no Boé.

Nos últimos dois anos, o trabalho tem sido financiado por um dos institutos Max Planck, no caso, o Instituto Para a Matemática nas Ciências, com sede em Leipzig, Alemanha.

A Chimbo está incluída no grupo de pesquisa dedicado exclusivamente aos chimpanzés. "O nosso foco é o chimpanzé. Vemo-lo como uma espécie que é o símbolo de todo um meio-ambiente importante e com benefícios para as pessoas que aqui vivem", conclui Piet.

LFO // EL
Lusa/fim

[ Seleção / revisão e fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação neste blogue: LG]
__________

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23775: Fauna e flora (21): "Ó Falcão, o Jagudi não vai ao fanado, mas olha que não é parvo de todo!"... Uma "fabulosa fábula" guineense sobre o último dos últimos, o que ri melhor...


Portal dos animais > Abutres 
(com a devida vénia...)

1.  A propósito dos pobres dos  jagudis, aqui lembrados pelo nosso JBelo (*), sacrificados no altar da estupidez e da cupidez de algns dos piores exemplares desse bicho que se chama "Homo sapiens sapiens", não resistimos à tentação de reproduzir um dos primeiros postes do nosso blogue, o nº 52, de 8 de junho de 2005 (**).

É uma fabulosa fábula (passe o pleonasmo) guineense que merece ser objecto de leitura, de reflexão e de divulgação. É uma joia da sabedoria humana, com uma mensagem universal, que cala fundo. Podia ser o décimo quinto conto dos "Bichos" (1940), do português e transmontano Miguel Torga, se em Trás-os-Montes houvesse jagudis.  Não havia o jagudi mas havia o primo, o abutre-preto (Aegypius monachus), agora em recuperação na Pemínsula Ibérica. O abutre-preto é a maior ave de rapina da Europa, mas também do grupo dos abutres do velho mundo e da família Accipitridae, atingindo os 98–120 cm de comprimento e uma impressionante envergadura de asas de 268–310 cm. Os maiores indivíduos podem atingir os 13,5 kg de peso.

Como todas as estórias de animais, encerra uma lição, neste caso uma grande lição (filosófica, política e ética) em relação ao exercício do poder, aos detentores do poder, aos que são arrogantes e aos que não têm pejo em oprimir, desprezar ou marginalizar os mais fracos, os mais pequenos, os socialmente menos qualificados... A História, passada e recente, está cheia deles, das suas histórias pérfidas, malvadas, cruéis...

O jagudi (abutre-de-capuz, nome científico Necrosyrtes monachus) nã
o é ágil, elegante, superior, altivo, nobre, aristocrático e guerreiro como o falcão, mas nem por isso deixa de ter o seu lugar na criação e de desempenhar o seu papel na natureza. É certo que ele é pouco considerado tanto pelos humanos como pelos outros animais. É feio, é repelente, é necrófago...

Que o diga, aliás, o provérbio crioulo-guineense

(i) Kal dia ku sancu fala jugude manteña si ka pa rispitu di kacur;

 ou, noutra variante:

(ii) Kal dia ku sancu fala sakala manteña si i ka na disgustu di kacur 

Entenda-se: o macaco só conhece ou cumprimenta o jagudi no velório do cão.

Mas também há um outro provérbio que, de certo modo, vem em defesa do jagudi: 

(iii) Jugude ka bai fanadu, ma i kunsi uju... Leia-se: o jagudi não foi à circuncisão, não passou pelo ritual do fanado, mas consegue ver as coisas, ou seja, não é parvo de todo, não o tomem como tolo...

Em suma, uma estória que vem a propósito da História (com H grande) dos nossos dois países, Portugal e a sua ex-colónia da Guiné que,  quase meio século depois da independência (política), ainda está longe de ter encontrado os caminhos seguros da paz, da construção da unidade nacional, da liberdade, da democracia, da tolerância, da justiça, da equidade e do desenvolvimento sustentado. Coisas, de resto, que nunca estão asseguradas de uma vez por todas, mesmo no melhor dos mundos (dos EUA à Suécia)...

Que a elite dirigente da Guiné-Bissau (mas também as elites dos outros países como a Rússia ou  Ucrânia, dois "irmãos" eslavos hoje em guerra fratricida....) saiba, com humildade e inteligência, ouvir, aprender e aplicar a grande sabedoria do  povo guineense ... 

O falcão desta história é muito provavelmente o alfaneque (nome científico, Falco biarmicus). Mas também podia ser  o falcão-peregrino ou falcão-real (Falco peregrinus), que existe em todos os continentes, exceto na Antártida. Não nidifica na América do Sul.  De qualquer modo, não consta do Guia das aves comuns da Guiné Bissau (2017). 

O falcão-peregrino é uma ave de médio porte, corpo compacto, pescoço curto e cabeça arredondada com grandes olhos negros. Na Península Ibérica, o seu comprimento varia entre os 40 e os 50 cm, com um peso médio de 600 gramas (para o macho adulto) e de  900 gramas, aproximadamente, para a fêmea. Laragura das asas (ou envergadura): 74 - 120 cm. 

Sobre os falcões, em geral,  diz a Wikipédia:

(...) Falcão é o nome genérico dado a várias aves da família Falconidae, mais estritamente aos animais classificados dentro do género Falco. Os falcões são as menores aves de rapina medindo cerca de 15 a 60 cm de comprimento. São também muito leves pesando entre 35 g a 1,7 kg. 

O que diferencia os falcões das demais aves de rapina é o fato de terem evoluído no sentido de uma especialização no voo em velocidade (em oposição ao voo planado das águias e abutres e ao voo acrobático dos gaviões), facilitado pelas asas pontiagudas e finas, favorecendo a caça em espaços abertos — daí o fato dos falcões não serem aves de ambientes florestais, preferindo montanhas e penhascos, pradarias, estepes e desertos.

Os falcões podem ser identificados pelo fato de não planarem em correntes termais, como outras aves de rapina. O falcão-peregrino, especializado na caça de aves médias e grandes em voo, pode atingir 430 km/h em voo picado e é o animal mais rápido da terra. Diferentemente das águias e gaviões, que matam suas presas com os pés, os falcões utilizam as garras apenas para apreenderem a presa, matando-a depois com o bico por desconjuntamento das vértebras, para o que possuem um rebordo em forma de dente na mandíbula superior.

Na Idade Média, os falcões eram apreciados como animais de caça acessíveis apenas à elite (reis e nobreza). (...)

Fonte: Guia das aves comuns da Guiné Bissau / Miguel Lecoq... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, ACE ; Guiné-Bissau : Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau, 2017, p. 43. Ilustração de PF - Pedro Fernandes) (Com a devida vénia...)

Acrescente-se que este é um notável trabalho, financiada pela União Europeia e pelo Camões, Instituto da Cooperação e da Língua através do projecto Gestão Sustentável dos Recursos Florestais no Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu.
 

2. A fábula do Jagudi e do Falcão

por Álvaro Nóbrega


À sombra duma árvore, um alto poilão secular, descansa tranquilo um jagudi (abutre-de-capuz). No mesmo ramo em que ele se empoleira, caiado de branco devido aos dejectos de tantos outros jagudis que por ali passaram, veio pousar um altivo falcão.

Depois de trocarem um breve e seco cumprimento, o falcão, sempre palrador, fanfarrão e irrequieto, começou a insultar o jagudi, chamando-o de desprezível, de cobarde, de preguiçoso, de oportunista e de muitos outros termos insultuosos e pejorativos que lhe vieram à cabeça, à sua cabeça, tonta e leviana. Acusou-o, repetidamente, de ser a mais miserável e feia das criaturas de Deus.

O jagudi ouviu tudo, sem nunca ter tido o mais pequenino gesto de impaciência, protesto ou de indignacão. Nisto, passa entre os dois, a grande velocidade, uma linda ave, de penas multicores.

Logo o falcão se lançou em perseguição da pobre vítima. Mas fê-lo de maneira tão desenfreada que por azar foi bater, em cheio, com o peito, de encontro a um tronco robusto de uma árvore da floresta que se lhe atravessara no caminho. Louco, cheio de dor, lançando pios lancinantes, caiu ao chão, mortalmente ferido, sobre o tapete de folhas secas que cobria o trilho da mata.

Nesse preciso momento, o jagudi levanta voo, com o seu ar pesado e pachorrento, e toma o seu lugar, imperturbável, à cabeceira do moribundo. O falcão, no estertor da agonia, ainda teve tempo de descortinar, horrorizado, a silhueta tenebrosa e agoirenta do jagudi, o seu bico afiado como aço e o seu pescoço descarnado.. E, trémulo, perguntou-lhe:

— Que vens aqui fazer, jagudi?

Ao que este respondeu, impávido e sereno:

— Aguardo o teu fim, meu amigo.

Fonte: Adapt. de Nóbrega, Álvaro (2003) - A luta pelo poder na Guiné-Bissau. Lisboa: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCPS). Universidade Técnica de Lisboa (UTL). 2003.23.


[ Revisão / fixação de textos  / negritos, para efeitos de publicação deste poste: