quinta-feira, 5 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10121: Agenda Cultural (210): “Não sabes com vais morrer” um livro do nosso Camarada Jaime de Jesus Froufe Andrade – Moçambique -, 1968-70 (José Martins)





1. O nosso Camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos a troca de e-mails entre ele próprio, o nosso Camarada Juvenal Amado e o autor do livro “Não sabes como vais morrer”, que contem, segundo as suas palavras, “… histórias que 'apenas diferem' nas longitudes ou latitudes, porque guerra é sempre guerra".



O autor é Jaime de Jesus Froufe Andrade, pertenceu ao Batalhão de Caçadores 2842 e fez parte da Companhia 2358, Maio de 68 a Maio de 1970, "sempre na província de Tete e a minha companhia esteve no Bene, Tembué e Vila Coutinho, tendo o meu pelotão estado nesses sítios e ainda nos destacamentos do Tsangano e Cantina do Freitas. A companhia esteve também em Tete na chamada intervenção".


2. Sobre o livro pronunciou-se assim a Agência Lusa:


Trata-se de um conjunto de oito histórias da guerra colonial que o autor viveu em primeira pessoa durante a sua comissão de serviço em Moçambique, como alferes miliciano de Operações Especiais ("rangers"), entre 1968 e 1970. São outros tantos retratos da vida que centenas de milhar de jovens portugueses viveram, nos anos da guerra colonial, no meio do "mato", em Moçambique, Angola ou na Guiné-Bissau.


As histórias são escritas com dramatismo, em que cabem momentos de humor, perplexidade, angústia e ansiedade, mas também a profundidade psicológica, que faltam a muitos relatos de guerra.

As pelo menos duas gerações de portugueses que viveram a guerra em África reconhecer-se-ão facilmente nestas linhas escritas por Froufe Andrade.

Noutro capítulo, o autor narra o regresso atribulado de Moçambique a Portugal, a bordo do navio Vera Cruz, sobrelotado com três mil militares.

Quando navegava perto do Cabo da Boa Esperança (o mítico Cabo das Tormentas de Camões), na África do Sul, o enorme navio foi atingido, na sequência do efeito conjunto de duas ondas sísmicas e de uma tempestade, por gigantescas vagas, sofrendo graves avarias e tendo estado a ponto de soçobrar.

As circunstâncias desta viagem são narradas em primeira pessoa por Froufe Andrade e ainda por um conjunto de 12 depoimentos por ele próprio recolhidos junto de outros militares, oficiais, sargentos e praças, que consigo viajaram. O autor entrevistou ainda o oficial-piloto que estava de turno na ponte de comando do navio e pesquisou ainda o diário de bordo do navio, no Arquivo Central da Marinha, onde recolheu elementos dos dois comandantes que seguiam a bordo, o comandante do navio e o comandante dos militares a bordo.

Jaime Froufe Andrade nasceu em 1945, no Porto. É jornalista profissional, trabalhou durante muitos anos do Jornal de Notícias e integra actualmente os quadros da revista Notícias Magazine, distribuída semanalmente com o aquele jornal portuense e com o lisboeta Diário de Notícias.



Livros: Froufe Andrade publica histórias da guerra colonial na primeira pessoa Porto, 19 Nov (Lusa) - A Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) lançou "Não sabes como vais morrer", de Jaime Froufe Andrade, um novo título da Colecção Memória Perecível, anunciou hoje fonte da AJHLP.

Notas:

- na imagem Froufe Andrade num Aloette III, pronto para mais uma operação.
- o livro está à venda nos escaparates das livrarias Bertrand e FNAC, pelo preço de 7 € (Sete Euros).

3. A divulgação do livro pelo pessoal do blogue iniciou-se com o seguinte e-mail do nosso camarada Juvenal Amado:

Caros camaradas

Há dias recebi esta mensagem que com a devida autorização divulgo.

"Começo por lhe pedir desculpa por este meu atrevimento, que espero releve sem grandes dificuldades, em nome daquilo que penso ajuizará de mim.

Acaba de sair a segunda edição de um pequeno livro que escrevi sobre a minha experiência de guerra durante a minha comissão em Moçambique como alferes miliciano. Confesso que fiquei com o ego em alta por esta aposta da editora numa segunda edição.

Infelizmente não tenho posses para poder oferecer um exemplar, como tanto gostaria, a cada amigo. Resta-me propor que me "comprem" esta obra-prima com o sombrio nome "Não sabes como vais morrer"...

Outra boa novidade para mim é a prerrogativa que desta vez terei de comprar livros à editora a preço de custo ou seja a 2.80 Euros, quantia que decidi arredondar para os 3 (três) Euros por causa dos portes do correio.

Gosto grande para mim seria tê-lo como leitor. Se estiver nisso interessado só terá de me dar a sua morada (não esquecer o código postal) para eu lhe enviar o livro pelo correio.

A quitação seria pela forma mais prática: uma passagem pelo multibanco e transferência dos ditos três Euros para o NIB 0035 0651 0031 2990 2003 4. 


Pedidos:
froufe.andrade@yahoo.com
Telemóvel:939 320 807 

Que me diz? Confio na qualidade da sua resposta, vá ela em que sentido for.

Abraço
Jaime Froufe Andrade"


4. O Juvenal Amado, recebeu do Froufe Andrade a seguinte resposta:

Caro ex-Combatente Juvenal Amado!

Esta minha "campanha" (venda a preço de custo) é para manter enquanto houver livros. Optei por uma maior divulgação do meu trabalho em detrimento do lucro. É aquela velha realidade: nunca se pode ter tudo...

Segunda-feira de manhã irei ao correio expedir vários livros e aproveitarei para enviar já os vossos. Normalmente o correio demora entre dois a quatro dias a fazer a entrega. Peço-te por favor que mal os dois livros cheguem à tua posse que me avises para eu ficar tranquilo. Sobre esse ponto começo a ficar convencido de que os correios portugueses são muito fiáveis.

Um bom fim-de-semana e até breve. Um abraço.



5. No mesmo dia, 27 de Junho, o Juvenal recebeu esta mensagem: 



Hoje de manhã expedi o teu livro e o do Dinis. Amanhã seguirá o do Manuel Reis. Estou-te muito grato por esta tua acção de divulgação. A editora irá colocar o livro nas livrarias a Sete Euros. No entanto, eu vou tentar ir comprando o mais possível à editora livros a preço de custo (2,80 €) para os passar para as mãos de ex-Combatentes interessados a três euros por causa dos vinte e tal cêntimos de portes).

É verdade que em cada livro expedido perco dois cêntimos, mas vou buscar esse prejuízo nos livros que chegam ao destino sem ser pelo correio. No fim, julgo que "fico em casa" ou seja nem ganho nem perco. 

A minha opção é de facto a da divulgação em desfavor do lucro à custa dos ex-Combatentes. Estás a ver o ponto. O meu objectivo é legar este testemunho vivencial ao maior número de pessoas incluindo pessoas de gerações posteriores à guerra e que também merecem ser esclarecidas através de testemunhos deste tipo de como as coisas se passavam connosco em África. 

Se esta perspectiva te fizer sentido, não te canses de fornecer o meu contacto a eventuais interessados pela temática. Como te disse já, avisa-me por favor quando os livros chegarem para eu poder ficar tranquilo, embora a minha confiança nos correios seja grande. Quem estiver interessado pode enviar o respectivo pedido para:
NIB 0035 0651 0031 2990 2003 4. 


6. Com esta informação enviei ao Froufe Andrade o seguinte e-mail:

A notícia chegou-me através do nosso amigo Juvenal Amado.

Segue, de acordo com mail recebido, as indicações necessárias;

José Marcelino Martins
Rua Dr. Sidónio Pais, 14-1º dtº
12675.503 Odivelas

Agradeço dedicatória do autor no livro pois, como diz um amigo meu, só não tenho "Os Lusíadas" autografado. Mas ainda não perdi a esperança pois, sendo contemporâneo de D. Sebastião, numa manhã de nevoeiro aparecerão os dois.
Um abraço
José Martins
Guiné 1968/70


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Nota de M.R.:

4 DE JULHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10115: Agenda Cultural (211): Lançamento dos livros "Filhos da Terra - A Comunidade Macaense Ontem e Hoje" e "O Livro de Receitas da Minha Tia/Mãe Albertina", Instituto Internacional de Macau, Lisboa, 11 de julho, 4ª feira, 18h.

Guiné 63/74 - P10120: Os nossos seres, saberes e lazeres (47): Festa do pão do moinho, 1 de julho de 2012, Atalaia, Lourinhã (Parte I): O som inconfundível do vento a soprar nas velas, nos mastros, nas cordas e nos búzios dos moinhos da minha terra, acompanhou-me desde sempre, desde a minha infância até Bambadinca..., tal como o cheiro, o sabor, a cor e a textura do pão, feito com a farinha do moleiro... Desculpem-me a fra(n)queza!... (Luís Graça)



Lourinhã, Atalaia, 1 de julho de 2012. Festa do pão do moínho.  Um dos moinhos da Atalaia, construído em 1928, que ainda continua em atividade. Um regalo para os cinco sentidos... e para o estômago, porque graças a ele e ao moleiro (sem esquecer o burro do moleiro) faz-se o melhor pão do mundo, o da nossa infância no oeste estremenho, onde chegou haver mais de 10 mil moinhos de vento, soberba herança da civilização árabe (os árabes, ou melhor, os mouros do norte de África, comandados por uma aristocracia árabe, invadiram a península ibérica em 711 e por cá ficaram até 1492)... O som inconfundível do vento a soprar nas velas, nos mastros, nas cordas e nos búzios dos moinhos da minha terra, acompanhou-me desde sempre, desde a minha infância até à Guiné. Tal como o cheiro, o sabor, a cor e a textura do pão, feito na casa das minhas tias do Nadrupe, com a farinha do moleiro... Desculpem-me a fra(n)queza!... (LG)


Vídeo (1' 44''):  Luís Graça (2012). Alojado em You Tube > Nhabijoes



1. Lourinhã, Atalaia, 1 de julho de 2012. Festa do pão do moínho, 2ª edição.  [, Imagem do cartaz publicitário, à esquerda].


A iniciativa foi  da Associação Musical da Atalaia (AMA) e tinha como objetivo a angariação de fundos para o acabamento das obras da sua sede.  Tal como no passado, a festa realizou-se junto aos moinhos da povoação, que é vila e sede de freguesia.

Com entrada livre, houve lugar ao lazer, ao convívio, a 
visitas aos moinhos em atividade, à visita, 'in loco', do fabrico de pão à moda antiga, à exposição e venda de produtos hortícolas e artesanato, à uma exposição molinológica, a um esmerado serviço de bar, à animação  musical (a cargo da banda da AMA), à exibição de um rancho folclórico, e, por fim e não menos importante, à venda e degustação  das mais variadas formas de pão, de trigo, de centeio, de milho, com azeitonas, com chouriço, com passas, com figos, com sardinhas, etc.





Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 > Festa do pão do moinho > Os sabores da infância ao alcance de um euro e meio... Que os eventuais lucros destinam-se ao financiamento do acabamento das obras da AMA.






Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 > Festa do pão do moinho > O pão com sardinhas... com que os pobres matavam a fome nos anos 50 do século passado...



Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 >  Festa do pão do moínho> Exposição molinológica (pormenor)




Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 >  Festa do pão do moínho > Travessa dos Moinhos... Uma imagem de moinhos espelhada numa vidraça...






Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 > Festa do pão do moínho > Exposição molinológica (pormenor) > O diretor da AMA, o dr. Manuel José Vitorino, técnico superior de turismo na Câmara Municipal da Lourinhã, tem-se dedicado à molinologia, se bem que da perspectiva da tríade turismo, desenvolvimento sustentado e património cultural. Julgo que estes dados são da sua tese de dissertação de mestrado, recentemente defendida em provas públicas, no Instituto Politécnico de Leiria, polo de Peniche. Segundo o levantamento que ele fez, haveria cerca de um centena de moinhos no concelho da Lourinhã.Apenas 1 em cada 10 está atuamente em atividade.




Lourinhã > Atalaia > Travessa dos Moinhos > Um dos belos mais exemplares de moínhos de vento do concelho da Lourinhã. Foi construído em 1928, e o dono é um orgulhoso moleiro da Atalaia...


(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10095: Os nossos seres, saberes e lazeres (46): Não trocaria por nada aquele tempo de comissão na Guiné (António Melo)

Guiné 63/74 - P10119: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493) (3): Crianças de Mansambo, jamais vos esquecerei!

Crianças de Mansambo, ao tempo da CART 2339 (1968/69)
Foto ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados




1. Em mensagem de 2 de Julho de 2012, o nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74), enviou-nos este texto,  lembrando as crianças de Mansambo do seu tempo.



PEDAÇOS DE UM TEMPO

3 - AS CRIANÇAS DE MANSAMBO

Crianças de Mansambo,  que será feito de vós? O Cherifo foi o nosso primeiro faxina, de olhar atento e profundo, por vezes sem nada dizer, ele dizia não. Um dia os condutores chatearam-se com ele, (não sei porquê, eu tinha vindo de férias à Metrópole), foi embora. Veio o António, bonacheirão e descontraído, para ele tudo estava bem, um dia abalou, os outros meninos diziam que tinha ido para o fanado e por essa razão deu lugar ao pequeno e frágil Demba, (era muito novo) pouco esforço podia fazer, foi faxina até à nossa ida para Cobumba.

Uma das coisas que mais gostavam de fazer era jogar futebol, alguns até já falavam no nome do Eusébio e do Cubillas, influências de Benfiquistas e Portistas, o calçado é que não ajudava, mas eram ágeis a correr. Quando o tropa jogava, eles esperavam e jogavam depois. Uns descalços, outros com trinta e oito de pé e botas rotas quarenta e dois.
Também a Califa que foi minha lavadeira, menina e mulher ao mesmo tempo, sem ter sido criança. Outros havia, por não terem sido faxinas dos condutores nunca soube o seu nome.

Que será feito de vós, meninos daquele tempo? Espero que para vocês a mudança tenha trazido um tempo novo, diferente e melhor, o que parece não ter acontecido a alguns dos mais velhos.
Se mais não tiveram, espero que tenham podido esquecer a palavra guerra e conhecer o que para vocês era desconhecido, viver em paz.
Fiquei feliz por saber que passaram a poder tomar banho na fonte sem necessitar de segurança, apanhar bananas sem medo de haver armadilhas. Poderem ir de Mansambo a Candamã ou a Afiã, sem picadores na frente.

Ao pequeno Demba a quem tinha prometido levar uns sapatos quando viesse de férias segunda vez e, que a minha ida para Cobumba não permitiu, ficaria feliz se pudesse saber que também ele passou a usar sapatos novos, como os que levei ao Cherifo e que a ele eu não pude cumprir a promessa.
Ficava magoado e triste quando alguém lhe dirigia palavras menos próprias, pensava sempre no meu filho que ainda não conhecia, também ficaria triste, muito triste, se alguém lhe dirigisse,  a ele, palavras assim! Não era com intenção de magoar, que essas palavras eram proferidas, eu sei, mas, sim, tentando descarregar a revolta que com o passar do tempo se ia acumulando. Só que, em quem não tinha culpa da situação em que nos encontrávamos… as crianças.

Há momentos na vida que nunca conseguimos esquecer, e eu jamais esquecerei aquele em que um grupo de meninos da tabanca veio até ao meu abrigo levar-me uma galinha, retribuindo e agradecendo assim os sapatos novos que eu tinha levado ao Cherifo quando fui de férias. Não pelo valor da galinha mas pela pela felicidade que todos eles deixavam transparecer naquele momento, que era contagiante.

Crianças de Mansambo, jamais vos esquecerei!
António Eduardo Ferreira (*)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2006 > Quase 40 anos depois... Meninos de Mansambo... e tugas, agora turistas de saudade, entre eles o  antigo... mansambeiro Saagum. 

Junto à fonte, a tristemente famosa fonte de Mansambo: aqui foi gravemente ferido, em emboscada montada pelos guerrilheiros do PAIGC, em 19 de Setembro de 1968, o Saagum, do 1º pelotão da CART 2339 (Mansambo, 1968/69).

Recorde-se o relato do nosso camarada Carlos Marques dos Santos, sobre os três graves incidentes ocorridos em 1968 neste lugar, enquanto o pessoal construía, de raíz, numa clareira da floresta,  o aquartelamento de Mansambo:

(...) "A 11 de Julho de 1968 o IN reteve um dos nossos elementos, na fonte, e na perseguição, em conjunto com as NT, o Cmdt do Pel Milícias 103 accionou uma mina A/P, tendo sucumbido aos ferimentos. Deste nosso camarada só houve notícias depois do 25 de Abril de 1974. Em 19 de Setembro de 1968, a CART 2339 sofre uma emboscada, vinda da copa das árvores, também na fonte, enquanto procedia ao abastecimento de água, que causou 11 feridos (5 graves) e um morto. Um dos feridos graves viria a falecer no Hospital Militar de Bissau (241) a 25 desse mês. Em 30 de Setembro nova emboscada na fonte ao Pelotão de Milícia e uma mulher da Tabanca". (...)

Na foto acima, de 2006, os tugas, da esquerda para a direita, o José Clímaco Saagum, o António Almeida, o Manuel Costa, o Aguiar e o Casimiro. Legenda de Albano Costa, foto de Hugo Costa (Guifões / Matosinhos).

Foto: © Albano Costa/ Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10043: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira) (2): Gazelas em Mansambo

Guiné 63/74 - P10118: Em busca de... (194): Camaradas do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa, 1969 1971 (Carlos Alberto Pinto)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Alberto Pinto* (ex-1.º Cabo Condutor Apontador Daimler do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa, 1969/71), com data de 2 de Julho de 2012:

Camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal;
É com muito gosto que estou de novo a contactar a Tabanca Grande e Amigos da Guiné para, e se for do agrado dos Camaradas, dar conhecimento de que já consegui contactos de alguns dos ex-Camaradas do meu Pelotão de Reconhecimento Daimler 2208, que esteve a prestar serviço em Mansabá, Mansoa e Bissau de 6/2/1970 a 18/12/1971.

A partir desta data só tinha tido o privilégio de ter contactado, via Blogue, com o meu ex-Comandante do Pelotão, o ex-Alferes Ernestino Caniço e de o poder abraçar pessoalmente no VII Encontro em Monte Real no passado dia 21/4/2012.

Assim como também tive o gosto de poder conhecer e conviver naquele belo dia na companhia de todos aqueles ex-camaradas que lá estiveram presentes, entre eles tive o gosto de também rever o ex-Capitão Jorge Picado e o ex-Alferes Vacas de Carvalho.
Já mais recente no dia 10/6/2012 tive o gosto de cumprimentar os camaradas Vacas de Carvalho e o Jorge Cabral, no recente encontro do 10 de Junho em homenagem aos Combatentes mortos no Ultramar.

Monte Real, 21 de Abril de 2012, VII Encontro da Tabanca Grande > Na foto: De costas João Paulo Dinis, à esquerda da foto, de camisa branca, Ernestino Caniço seguido de Carlos Alberto Pinto

Mas a finalidade da minha visita ao Blogue é dar a conhecer à Tabanca Grande os nomes dos meus ex-camaradas já encontrados:
António Augusto Proença (Covilhã);
Mário Augusto Alves Francisco (Cantanhede);
Fernando de Oliveira Carneiro (Lisboa);
José Ramos Romão (Alcobaça);
Firmino Manuel Rosado Correia (Budens, Vila do Bispo, Algarve);

Os Camaradas que ainda não consegui encontrar são:
Manuel Domingos Fernandes (de Olhão);
Rui José Cabrita do Nascimento (Alcantarilha, Silves);
António Francisco Rosa (da mesma zona do Rui pois são primos);
João Manuel Leirão Barco (Alentejano);
José Francisco Galrito Potra (Alentejano) é ou foi Funcionário na Segurança Social em Entrecampos Lisboa.

Saudações
Carlos Pinto
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8899: Tabanca Grande (303): Carlos Alberto de Jesus Pinto, ex-1.º Cabo Condutor Apontador Daimler do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa, 1969/71)

Vd. último poste da série de 23 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10065: Em busca de... (193): Pormenores do acidente de aviação que vitimou o Sarg. Radiotelegrafista Domingos de Oliveira Neiva em Angola no dia 10 de Novembro de 1961 (Liliana Ramos)

Guiné 63/74 - P10117: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (54): Bula - A guerra das minas (4) - Imprevistos

1. Mensagem do nosso camarada Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 1 de Julho de 2012:

Amigo Carlos Vinhal
Como deverás estar a ir de férias e para que descanses um pouco da “fazedura” das malas e te entretenhas (?!), cá vai mais um troço de “Viagem…” que mandarás para a valeta, assim o julgues.

À rapaziada que à falta de melhor faz (ia dizer goza, mas se calha era chato!!) férias… saúde, boa viagem, boa estadia, bom descanso e DIVIRTAM-SE

Abraços
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (53)

Bula - guerra das minas (4)

Imprevistos

Logo aos primeiros dias no campo minado, estou em crer não estar muito errado ao dizer terceiro, um “Eleito” não esfacela um membro mas é crivado por estilhaços na cara.

Mais BUMMM… iriam acontecer por aqueles dias de inferno e altura houve em que a incerteza e o receio provocados pelas dificuldades na detecção de muitas minas começou a fazer com que a moralização que animava(?) o grupo “mineiro” praticamente caísse por terra para muitos, acabando por acontecer um “Briefing” com o Comandante e os “Eleitos”, onde se tentou ajuizar dos porquês e procurou arranjar uma solução de modo a serem minimizados os danos. O maior problema eram as bastantes e pequenas minas plásticas italianas que estavam deslocalizadas à toa e muitas das vezes difíceis de encontrar dada a sua dimensão e só serem detectáveis pela pica ou pelo pezinho, sendo claro que neste ultima situação relativamente fácil de acontecer, perdoem a ironia, se economizava tempo e trabalho na sua neutralização !!

É bom de ver que a reunião não passou de uma sessão de “psícola” não se encontrando solução alguma ou por outra, como “perguntar não ofende (?)” ainda aventei, santa ingenuidade a minha, da possibilidade de um veículo rebenta – minas, aquele do género bulldozer com correntes rotativas que já à altura existiam, pelo menos noutros exércitos e que poderia ser usado na maior parte do campo. É claro que fui logo perguntado “você está maluco…?” para propor uma tal solução e em pensamento na certa, se era parvo ou imbecil! Para além de não ter achado graça nenhuma, fiquei foi com a impressão de que o homem me “tirou o azimute”! A ver iria.

Perante a resposta e o tom, deduzi que a nossa Engenharia não tinha essa maquinaria nem outra, que um brinquedo desses seria muito caro e como tal, havia substitutos bem mais baratos tais como a nossa cabecinha pensante, as nossas mãozinhas c’as picas e facas em conjugação c’os nossos pezinhos, à mesma eficientes na resolução do problema, mas de manutenção e eventual “oficina” talvez bem mais em conta! A relação custo – benefício era (é?) normalmente decisora da opção.

Pelo meio de BUMM… e mais BUMM, sinónimos de estropiação e mais estropiação, situações que não tenciono abordar à excepção de uma, por a meu ver ser inédita, lá fomos carpindo e digerindo muito mal os dias negros que nos iam assolando. Mais não aconteceram por, sei lá, até porque para alem das contingências “normais", imprevistos potenciadores de desastre aconteciam. Um que hoje recordo e tentarei descrever, pode talvez fazer rir ou pelo menos sorrir ao imaginar-se a cena, mas à altura… podia bem ter descambado em tragédia, bem grande se a dimensão fosse outra.

No meio do campo minado e em dia acalorado andam os “Eleitos” atarefados nas suas lides. Por lá me encontro também, armado com faca e pica e ataviado só com calção e as omnipresentes nessas situações, botas em couro de meio cano alto.

Em pé e peganhento de suor olho para o céu limpo, talvez num daqueles descansos em que era useiro para descompressão, quando dou por uma “formação” de abelhinhas logo ali, que velozmente se aproximam.

Aviso mas não sei se alguém me ouve já que de imediato a minha plena atenção se fixa na visita indesejada de todas ou pelo menos uma parte delas, que começam a passear-se umas pela cabeça e tronco a nú, outras esvoaçando e zunindo em prevenção e algumas fazendo explorações mais alongadas. Destas, uma mais militante, talvez com óculos de visão nocturna ou sensibilizada por qualquer odor atractivo (?) resolve inspeccionar mais a fundo e entra pelo parco e escuro(?) espaço entre o cano da bota e a canela.

Já tinha estado em situações idênticas, quer na minha terra como na Guiné em Capó (P-4031 de14 de Março de 2009) e conforme os ensinamentos adquiridos sabia bem que a hora era do ficar estático e “não pestanejar sequer” ou em gíria castrense “não mexe nem que um cara… lhe passe pela boca”(!) . Seria a única hipótese na tentativa de não sofrer ataque.

Concentrado ao máximo, um dos meus grandes problemas era conseguir ficar estático de modo a evitar que a “bendita que entrou pelo cano” fosse apertada e me brindasse com uma ferroada que em sequência provocasse um movimento instintivo que incitasse as outras ao ataque e aí podia estar feito, já que para alem das ferroadas, para o BUMM… era só preciso descontrolo e umas passadas ou nem tanto!

Após breve tempo que me pareceu infindo, as “queridas” deram às asas sem causar mossa, tendo a inspectora ainda ficado um pouco mais talvez a verificar algo de pormenor ou nauseada, obrigando-me a manter a postura de respeito submisso! Quanto aos “Eleitos” nada recordo mas creio que acabaram por não ser alvos e se calha ficaram a “gozar (!!) o prato”, digo eu !?

Imagine-se agora se o ataque tivesse sido em grande escala e múltiplo, como aconteceu em “Capó”, originando a debandada quase geral… podia causar um verdadeiro desastre. Felizmente assim não aconteceu e mais um dia que podia ter sido negro, foi ganho.

Luís Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10006: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (53): Bula - A guerra das minas (3) - Acontecia... Bummm!!!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10116: Inquérito online: "Um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude ?" (Parte III) (Luís Graça / Hélder Sousa / José Rocha)


Sondagem realizada, "on line", de 28 de junho a 4 de julho de 2012. Opinião dos nossos leitores (n=115) sobre o conteúdo da afirmação do historiador francês René Pélissier sobre o nosso blogue ("É um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude")...

Como se pode avaliar pelos resultados expostos acima, as opiniões estão extremadas: uma maioria relativa de 48.7 % (n=56) concorda totalmente ou em parte com a afirmação do René Pélissier; outra parte dos nossos leitores, ligeiramente mais pequena (41.8%; n=48),  discorda totalmente ou em parte ... Apenas 1 em cada 10 parece não ter opinião.

Não se tratava de opinar sobre o historiador (e a sua obra) mas apenas sobre a percepção que ele tem do nosso blogue. Alguns dos nossos leitores acabaram por centrar-se demasiado na pessoa do mensageiro, ignorando ou escamoteando a sua mensagem. Pessoalmente, também discordei frontalmente da opinião do nosso leitor René Pélissier, que me parece redutora. De qualquer modo, todos os que votaram nesta sondagem e/ou expressaram os seus pontos de vista, são credores dos nossos encómios e agradecimentos. (LG)



2. Um dos nossos leitores (camarada, amigo e colaborador permanente) que publicitou e justificou o seu voto foi o o Helder Sousa [, foto à direita]... Aqui fica a sua opinião:

(...) Caros amigos e camaradas: Também exerci a minha possibilidade de votar e votei 'discordo'. Esta questão parece-me simples e fiquei um tanto admirado com o teor de alguns comentários que fui lendo.

Vi as coisas do seguinte modo: um senhor chamado René Pelissier, tido por 'especialista' em questões africanas e em particular relacionadas com Portugal, apreciou e comentou um livro dum camarada nosso, o Fernando Gouveia, que o escreveu a partir do impulso que a sua vivência no nosso Blogue lhe incutiu.

Por via disso, o René, para além de elogiar o livro "Na Kontra Ka Kontra",  acaba também por referenciar o nosso Blogue caracterizando-o como sendo "um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude".

Também por via disso, foi colocado o inquérito para saber em que medida nos revemos nessa classificação.

Vamos por partes: temos, por um lado, uma apreciação a um trabalho de um estimado camarada e, sendo positiva (até podia não ser),  é agradável. Há depois a referência ao nosso Blogue. Não o hostiliza, não o ridiculariza, apenas o classifica segundo os seus (dele) preconceitos, segundo o que ele 'pensa' que é.

Discutir o René, é perda de tempo. Aliás, é inútil, porque o que quer que seja que se venha aqui a teorizar sobre os méritos ou deméritos do 'escritor', do 'jornalista', do 'historiador', não terão grande efeito para além da esfera da nossa audiência.

Portanto, fica a pergunta do inquérito. Não, não acho, que seja um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude. Aliás, grande parte dos comentários que se foi lendo explicam isso muito bem. Pode haver 'nostálgicos', isso sim. Nostálgicos da guerra? Alguns, sim!

Nostálgicos dos tempos da juventude? Também haverá, certamente, e como não poderia isso acontecer, se é normal que o avançar na idade faça muitas vezes recuar as lembranças? Mas não é essa a 'imagem de marca' dos milhares de textos, de poemas, de artigos, que por aqui vão passando.

É, para alguns, um acerto de contas com a 'sua' história, é 'blogoterapia', é tantas vezes o sublimar da amizade...

Ná, não é, definitivamente, "um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude". É de gente solidária, veja-se a ajuda aos vários projectos que se vão desenvolvendo na Guiné, é até de 'filhos de veteranos', portanto o meu forte 'discordo'. (...)




3. Outro camarada, o José Barros Rocha (ex-Alf Mil da CART 2410 - Os Dráculas, Guileje e Gadamael, 1968/70), também expressou um ponto de vista pessoal e original sobre o tópico em apreço:

(...) Não se trata de uma nostalgia da juventude 'lato sensu' nem de uma nostalgia limitada a um período curto - 3 anos?! - da nossa juventude, apesar de, este, ter sido vivido em intenso ambiente de guerra.

Trata-se antes - e é esse, se bem interpreto o espírito da Tabanca - da comunicação pessoal das nossas vivências de tempos tão difíceis, tempos de imprevistos, tempos de incógnitas, tempos de indefinições.

É a libertação de alguns pesadelos, uma sessão de psicanálise, uma catarse, que se manifestam quer pelas palavras e quer também pelas fotografias com todo o seu significado intrínseco e intenso.

Por tudo isto, discordo frontalmente da opinião do 'historiador'. (...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10110: Sondagem: "Um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude ?" (Parte II) (A. Graça de Abreu / António Rosinha /Armando Pires / Carlos Nabeiro / J. Pardete Ferreira / Manuel Joaquim / Manuel Maia

Guiné 63/74 - P10115: Agenda Cultural (209): Lançamento dos livros "Filhos da Terra - A Comunidade Macaense Ontem e Hoje" e "O Livro de Receitas da Minha Tia/Mãe Albertina", Instituto Internacional de Macau, Lisboa, 11 de julho, 4ª feira, 18h.



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Sítio do Observatório da China...


O Observatório da China – Associação para a Investigação Multidisciplinar em Estudos Chineses tem como finalidade principal contribuir para a divulgação do conhecimento sobre a China em Portugal, através da realização de actividades de investigação multidisciplinares, designadamente:  (i) a promoção de iniciativas que visem o desenvolvimento e divulgação de trabalhos de investigação sobre a China; (ii) a criação de uma rede nacional de investigação em Estudos Chineses; (iii) a organização de eventos descentralizados de modo a estimular a troca de experiências e debates de opinião; (iv)a cooperação com entidades públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, em várias áreas do conhecimento; (v)o acompanhamento e a produção de relatórios periódicos sobre a evolução da realidade económica, política, cultural e social da China; e ainda (vi) a edição de publicações em formato de papel e digital.


1. Mensagem recebida hoje:


Assunto - Lançamento dos livros "Filhos da Terra - A Comunidade Macaense Ontem e Hoje" e "O Livro de Receitas da Minha Tia/Mãe Albertina".


O Observatório da China tem o prazer de se associar à divulgação do seguinte evento [convite em anexo].
Cumprimentos,
Isabel Santos Nogueira,
Assistente da Administração
Observatório da China
Rua de Xabregas Lote E, 13, 1900-440 Lisboa
Portugal


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Notas do editor:





O Dr. Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau, de seu nome completo, Jorge Alberto da Conceição Hagedorn Rangel, foi capitão  mil no TO da Guiné, tendo comandado a açoriana CCAÇ 3476 (Canbamjari, 1971/73).


Docente universitário com doutoramentos honoris causa, membro do Governo de Macau durante 13 anos, membro dos Conselhos de Curadores das Fundações Casa de Macau, Jorge Álvares e do Santo Nome de Deus, Presidente do Instituto Internacional de Macau e do Elos Internacional, Vice-Presidente, Presidente e membro do Conselho Supremo, é o . Ver aqui o seu perfil completo


(...) "Nasceu em Macau, em 1943. O pai era de Xangai, 'ao tempo conhecida como a Paris do Oriente'; a avó paterna era alemã. Como quase todas as velhas famílias macaenses, tem mais sangue malaio que chinês. 'O cruzamento entre as populações portuguesa e chinesa só começou em meados do século passado.'

Formado em Letras na Universidade de Lisboa, cumpriu o serviço militar na Guiné, tendo trabalhado no estado-maior do general Spínola. À data de 25 de Abril de 1974, ainda estava em Bissau. Regressou a Macau no ano seguinte, para se envolver de imediato na política local. Nas primeiras eleições para a Assembleia Legislativa liderou uma lista independente, a GEDEC, ou Grupo de Estudos para o Desenvolvimento Comunitário de Macau, e foi eleito deputado".(...)



O livro "Filhos da terra: a comunidade macaense, ontem e hoje" foi originalmente uma tese de dissertação de mestrado. Do Repositório da Universidade de Lisboa, retirámos a seguinte informação sobre a obra:


(i) Autor: Rangel, Alexandra Sofia de Senna Fernandes Hagedorn;

(ii) Orientadora: Malafaia, Maria Teresa,1951.-

(iii) Palavras-chave: Costumes e tradições - Macau (China) / Identidade cultural - Macau (China) / Macau (China) - História;

(iv) Teses de mestrado - 2011;

(vi) Resumo:

Esta dissertação de Mestrado é sobre os macaenses, os “filhos da terra”, descendentes de várias gerações de cruzamentos de portugueses com orientais, resultando desta miscigenação uma comunidade com características próprias.

A culinária, o dialecto (patuá) e as festividades tradicionais demonstram a base cultural portuguesa e as influências recebidas dos países asiáticos vizinhos do território com mais de 400 anos de presença portuguesa, devolvido à China em Dezembro de 1999.

Actualmente, Macau é uma Região Administrativa Especial da República Popular da China regida por uma Lei Básica, elaborada em conformidade com a Declaração Conjunta Luso-Chinesa, firmada em 1987. Esta Lei garante aos residentes do território, incluindo os de ascendência portuguesa, a manutenção da sua maneira de viver e os direitos que tinham anteriormente.

É feito um enquadramento histórico, para que melhor se compreenda o nascimento e o percurso desta comunidade, e são identificados os desafios que se lhe colocam, hoje, bem como o seu singular legado cultural. (...)

Último poste da série > 2 de julho de 2012 Guiné 63/774 - P10102: Ser solidário (131): Semana Cultural Guineense. na Escola Fontes Pereira de Melo, Porto, de 2 a 7 de julho de 2012 (Sofia Santos)

Guiné 63/74 - P10114: Patronos e Padroeiros (José Martins) (32): Jozé Maria das Neves Castro - Patrono do Instituto Geográfico do Exército




1. Em mensagem do dia 30 de Junho de 2012, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos mais um trabalho para a série Patronos e Padroeiros.






Patronos e Padroeiros XXXII

Patrono do Instituto Geográfico do Exército





Jozé Maria das Neves Costa 
Brigadeiro 

Nasce a 14 de Agosto de 1774, em Carnide (Lisboa), filho de Manuel Cláudio Costa e Josefa Maria Vieira. Filho de pais não abastados, estudou no Real Colégio das Necessidades, frequentando o curso de Humanidades.

Entre 1791 e 1793 frequentou a Academia de Marinha e, entre 1793 e 1796, estudou na Academia de Fortificação de Artilharia e Desenho, tendo sido considerado um dos melhores alunos na sua época.

Foi promovido ao posto de Segundo-Tenente de Engenharia em 4 de Dezembro de 1796, desempenhando funções na secretaria do Duque de Lafões, e comissões importantes na Brigada de Engenharia até 30 de Março de 1801, altura em que é promovido a Primeiro-Tenente. Em Maio desse ano é promovido ao posto de Capitão de Infantaria e nomeado Ajudante de Campo do Marquês de Marialva.

Por Decreto do Conselho de Guerra de 20 de Julho de 1802, foi nomeado Inspector-Geral das Fronteiras e Costas Marítimas do Reino, o Oficial do Exército Real de França e ao serviço do nosso Exército, Louis-François Carlet, Marquês de la Rosière, em cujo Estado Maior foi colocado o Primeiro-Tenente Neves Costa, onde, se encontrava o Conde de Cambors, pelos quais nutria grande estima e admiração.

Em 1806, com o posto de Capitão de Engenharia a que tinha promovida a 4 de Novembro, é encarregado da reorganização do Arquivo Militar, a convite do Marquês de Marialva, até à entrada em Portugal das tropas comandadas por Junot, que deu inicio ao período das Invasões Francesas.

Durante o governo de Junot, Neves da Costa já com a patente de Major à qual foi promovido em 24 de Junho de 1807, é encarregado pelo Coronel Vicent, engenheiro francês do “Corps du Génie” que acompanhou o exército invasor, e com a supervisão do então Coronel Carlos Maia de Caula, a elaborar o levantamento topográfico das zonas a norte de Lisboa até Peniche.

No ano de 1810, sob a orientação do engenheiro inglês Flether, trabalhou na construção das fortificações que constituem as Linhas de Torres Vedras. Porém, para si, não eram estranhos os projectos adoptados uma vez que lhe é atribuída a autoria, com a indicação dos pontos nevrálgicos, para a defesa de Lisboa. No ano seguinte, 1811, dirigiu os trabalhos de fortificação da Praça de Almeida, finda a qual voltou à sua paixão principal, a topografia, fazendo o levantamento da Carta da Península de Setúbal.

É promovido, a 22 de Janeiro de 1820 ao posto de Tenente-Coronel, e a Coronel, antes do final desse ano, em 18 de Dezembro de 1820. Defensor da ideologia liberal é eleito deputado em 1822 e, por decreto de 28 de Maio de 1823, é nomeado Ministro da Guerra, cargo que não exerceu, por ter sido restaurado o poder absoluto.

Em 1826 é nomeado Governador do Forte de Lippe, também conhecido como Forte Nossa Senhora da Graça, localizado na actual freguesia de Alcáçovas. Foi nesse período que o Coronel José Maria das Neves Costa, em 29 e 30 de Abril de 1827 aquando da revolta aí acontecida, conseguiu repor a ordem, o que lhe valeu ser citado na Ordem do Exército.

Nesse ano de 1827, enquanto esteve no Forte de Lippe, escreveu uma obra acerca dos direitos e deveres dos soldados perante a sociedade civil que intitulou de “Memoria sobre a Organização e Disciplina do Exercito Portuguez, em relação ao Systema Constitucional”.

Em conjunto com o Visconde de Vilarinho de S. Romão e Manuel Gonçalves de Miranda, formaram um grupo de trabalho para participar, em 1835, na reforma do Sistema de Pesos e Medidas e introdução do Sistema Decimal.

A pedido do governo, em 1837, examina a documentação topográfica existente no Arquivo Militar, com a missão de propor a execução da documentação que fosse necessária para um plano de defesa do país, instituição que Neves da Costa bem conhecia, por ter trabalhado nessa instituição por diversas vezes. Reformado por doença, “sem o haver pedido”, e graduado no posto de Brigadeiro, escreveu as suas “Considerações militares tendentes a mostrar quais sejam no território português os terrenos cuja topografia ainda falta conhecer para servir de base a um sistema defensivo do Reino, que seja conforme com a sua natureza geográfica e com os princípios gerais da ciência da guerra” no ano de 1841.

Faleceu em 1841, em Setembro ou Outubro conforme as fontes, no dia 19, com 67 anos de idade, sem ter recebido em vida qualquer distinção, além das insígnias de Cavaleiro da Ordem Militar de S. Bento de Avis.

Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, e o elogio à sua memória foi feito pelo Tenente-Coronel Augusto Xavier Palmeirim e publicado, em 1 de Dezembro de 1841, no Diário da Republica.

Por despacho do General Chefe do Estado-Maior do Exército, de 06 de Outubro de 2005, o Brigadeiro José Maria das Neves Costa foi considerado o Patrono do IGeoE - Instituto Geográfico do Exército, tendo em conta as suas qualidades de topógrafo e cartógrafo, assim como a sua vida dedicada à cartografia e a Portugal.

José Marcelino Martins
20 de Junho de 2012
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10103: Patronos e Padroeiros (José Martins) (31): Patrono do Instituto de Odivelas - Infante D. Afonso de Bragança

Guiné 63/74 - P10113: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (1): Mandem a Marinha

1. Mensagem de Augusto Silva Santos*, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73, com data de 30 de Junho de 2012:

Olá Camarada e Amigo Carlos Vinhal,
Indo ao encontro do desafio do Luís Graça, com alguma saudade mas não de nostalgia, e muito mais com o intuito de ajudar a “alimentar” aquele que denominamos de “nosso” blogue, atrevo-me a enviar algumas fotos da minha passagem pelas terras da Guiné, mais precisamente por Jolmete no Chão Manjaco, acompanhadas de três curtas mas engraçadas histórias, pois felizmente no meio de tantas situações desagradáveis por nós vividas, sempre se registaram algumas que hoje ao recordarmos se tornam ainda mais hilariantes ou caricatas.

Não cito nomes nem datas para não ferir possíveis susceptibilidades.
Augusto Santos


ESTÓRIAS DOS FIDALGOS DE JOL (1)

Mandem também a Marinha

A primeira que vos passo a relatar, embora não tivesse estado pessoalmente presente, foi-me contada de viva voz por alguns elementos e inclusive pelo próprio protagonista, passou-se muito perto do local onde foram barbaramente assassinados os oficiais que estariam algum tempo antes a negociar a paz no Chão Manjaco, local mais ou menos assinalado de possível passagem dos guerrilheiros do PAIGC.

Sabendo o Comandante de Companhia dessa situação, era habitual mandar emboscar nas proximidades dois grupos de combate (normalmente emboscadas nocturnas), sendo que numa das ocasiões, e já de dia, se estabeleceu mesmo contacto com o inimigo.

Se não me falha a memória, nesse contacto foi mesmo feito um prisioneiro que se encontrava ferido.
Tendo as nossas tropas ficado durante algum tempo debaixo de fogo, o Alferes que na altura as comandava, apressou-se a solicitar apoio aéreo, sem que no entanto (segundo algumas opiniões) tal se justificasse, pois o contacto teria sido breve e o pequeno grupo do inimigo se dispersado rapidamente.

Ora estando o tal Alferes excitadíssimo (aos berros) a pedir o apoio em questão e, tendo o contacto já acabado, um dos Soldados que o acompanhava de perto sacou-lhe o rádio das mãos e disse alto e bom som:

- Já agora mandem a Marinha também!

Como devem calcular, este episódio foi durante algum tempo objecto de comentários mais ou menos jocosos por toda a Companhia.

Foto 1 - Jolmete, Fevereiro de 1972 > Tabanca

Foto 2 > Jolmete, Março de 1972 > Mamas de Badã

Foto 3 > Jolmete, Abril de 1972 > Matança de uma vaca

Foto 4 > Jolmete, Maio de 1972 > A vala e o aramen farpado

Foto 5 > Jolmete, Junho de 1972 > Trilhos de Pioce
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9674: Meu pai, meu velho, meu camarada (27): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto S. Santos)

Guiné 63/774 - P10112: Ser solidário (132): Fonte de água na Escola EVA de Djufunco (José Teixeira / AD)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 2 de Julho de 2012:

Caríssimos editores
No blogue da AD vem mais uma notícia sobre a ação desenvolvida pela Tabanca Pequena.
Pedia o favor de colocarem no nosso blogue.
Vem também uma noticia da ONGD Mão Amiga, que a meu ver merece ser publicitada*.

Abraço fraterno do
Zé Teixeira





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Notas de CV:

(*) Vd poste de 2 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9982: Ser solidário (128): O contentor da ONG Ajuda Amiga finalmente desalfandegado, aberto e distribuido o seu conteúdo (Carlos Silva / Carlos Fortunato)

Vd. último poste da série de 2 de Julho de 2012 > Guiné 63/774 - P10102: Ser solidário (131): Semana Cultural Guineense. na Escola Fontes Pereira de Melo, Porto, de 2 a 7 de julho de 2012 (Sofia Santos)

Guiné 63/74 - P10111: Tabanca Grande (347): António (ou Tony) Borié, ex-1º cabo cripto, Cmd Agrup nº 16, Mansoa, 1964/66, há 40 anos nos EUA... Passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 564




Estados Unidos  da América > Flórida >  2012 > O António Borié, na praia, segurando uma raia...






Guiné > Região do Oio > Mansoa > Comando de Agrupamento nº 16 (1964/66) > O 1º cabo cripto António Borié,  "perto da ponte do rio Mansoa, da parte norte, por trás do clube  Os Balantas, onde funcionava um cinema".




Guiné > Região do Oio > Mansoa > Comando de Agrupamento nº 16 (1964/66) > O 1º cabp cripto António Borié,  "dentro do aquartelamento em construção"...


Fotos (e legendas): António Borié (2012). Todos os direitos reservados


1. Mensagem de ontem do nosso camaradaAntónio Borié, a viver há cerca de 40 anos nos EUA, atualmente na Florida:

Caro Luís 

Muito obrigado pela tua pronta resposta.

Como dizes, somos camaradas, andamos na mesma guerra. E agradeço o convite e vamos tratar-nos por tu. É uma grande verdade, e já agora obrigado pelos votos de saúde, espero que sim, que seja a minha quarta juventude, e às vezes digo para mim, se em pequeno não tive oportunidade de brincar na praia e com a areia, agora sobra-me tempo para fazer isso!.

Luís, aquí mando duas fotos, uma dentro do aquartelamento em construção, e outra perto da ponte do rio mansôa, da parte norte, por trás do clube " Os Balantas", onde funcionava um cinema. que dava filmes de cowboys!. A outra fotografia é aqui na Florida.

Como dizes,  tenho muitas histórias, que já não quero que sejam mais secretas. Eu relacionava-me bem com os meus camaradas, em especial do Batalhão de [Artilharia] 645, e de um pelotão de morteiros de que não me recorda o número, mas dormia na mesma camarata deles, e vivia todas as suas peripécias. 

Esse pelotão teve três mortos,  se não me engano, e eu chorei-os como se fossem meus irmãos. Eu tinha acesso a todos os reportes de toda a movimentação de tropas que se fazia na região do Oio, e é com esses que me vou lembrando, que escrevi o meu livro.

Não menciono nomes verídicos ou lugares. Mas toda a história se passou na região do Oio, e é verídica. Houve essas mortes e houve esses ataques e houve essas minas que rebentaram, e houve esses camaradas que desapareceram para sempre, embrulhados num camuflado todo roto e ensanguentado, e alguns, com um ar de crianças no rosto.
Aqui te mando uma história que se passou com tropas do pelotão de morteiros e de uma companhia do batalhão 645, que sairam de Mansôa, para um patrulhamento. Fazem parte do meu livro, onde existem muitas mais, umas tristes, outras menos tristes. Desculpa o meu português, pois já estou aqui há quarenta anos. 

Um abraço, António.


2. Comentário de L.G.:

António (ou Tony): A falar é que a gente se entende. Aprecio a tua frontalidade. E recebo-te de abraços abertos em nome dos 563 camaradas e amigos da Guiné que estão formalmente inscritos na nossa Tabanca Grande. Tu passas a ser o grã-tabanqueiro nº 564.

Deixa-me só recordar-te  as 10 regras elementares, de convívio, que estão em vigor entre nós, e que juramos respeitar, à sombra do nosso mágico, secular, grandioso, fraterno poilão... 

Neste espaço, de informação e de conhecimento, mas também de partilha e de convívio, decidimos pautar o nosso comportamento (bloguístico) de acordo com algumas regras ou valores, sobretudo de natureza ética:

(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);

(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc.);

(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir);

(iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);

(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;

(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;

(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);

(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;

(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome;

(x) respeito pela propriedade intelectual, pelosdireitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.

Dito isto, espero que comemores os 100 anos aqui connosco, e que vás colaborando connosco na medida das tuas possibilidades, da disponibilidade de tempo, dos teus bons e maus humores, enfim, sempre que te der na tua real gana. Aqui fica a história que nos mandaste, e que é uma transcrição (legível) do teu livro (inédito) com as tuas memórias da região do Oio.
 
3. UMA ALDEIA DESTRUÍDA
por António Borié


O mês era Abril, e era a uma quinta-feira, por volta das dez horas da manhã. Seguia um grupo de militares, a pé. Este grupo, era composto, por tropas de uma companhia de intervenção e de um pelotão de morteiros. Iam com o camuflado, todo molhado e colado ao corpo. Dos joelhos para baixo, iam molhados por atravessarem pântanos, alguns com arroz, e a parte de cima do corpo, estava coberta de suor, pelo clima quente, húmido e abafado.

 Para alguns, o cantil da água era tão importante como a G-3. Bebiam, bebiam, e sempre que podiam enchiam, de novo o cantil, nos pântanos, ao de cima, com gentileza, para só entrar, no cantil, água mais ou menos limpa, sem mosquitos, ou outras espécies. Traziam uma embalagem de ração de combate, mas muitos preferiam um bocado de pão, mesmo rijo, como alguns comiam na sua aldeia, em Portugal, onde nasceram.

Tinham saído do aquartelamento, manhã cedo, ao começo da luz do dia. Saíram em viaturas auto, que os deixaram ao norte, a uns vinte quilómetros do aquartelamento, aproximadamente. Na frente iam uns tantos africanos, que faziam parte das forças armadas portuguesas, e que normalmente faziam de guias e tradutores, pois por vezes, havia contacto com as populações locais. Era uma operação de rotina, inspecionavam a zona por onde passavam, principalmente se havia vestígios do inimigo. Este grupo de militares era comandado por um alferes miliciano.

O Curvas, soldado atirador, alto e refilão, pois andava sempre contrariado, e quando recebia uma ordem, sempre tinha um argumento para refilar, gostava de mandar, devia ser general!. Ia ao lado do Trinta e Seis, soldado telegrafista. O Trinta e Seis, que não sabia quem lhe tinha posto o nome, mas todos diziam que era pela estatura do corpo, pois era baixo e forte, mesmo muito baixo e forte, e diziam que era o conjunto de números, derivado de uma dúzia. Por exemplo, o corpo inteiro eram doze, metade eram seis, um quarto eram três, e no conjunto dos números, começando por baixo, dava, três mais seis, e como ele era baixo e forte, juntaram os números três mais seis, deu no bonito nome de Trinta e Seis.

Era popular, e conhecido pelo Trinta e Seis, carregava uma aparelhagem às costas, com um telefone. Tinha posto pilhas novas antes de sairem, trabalhava perfeitamente. Ambos levavam a G-3, com carregadores à cinta, e duas granadas ofensivas, que lhe tinham sido distribuídas, pela manhã, antes de saírem. As granadas eram distribuídas, antes de qualquer operação, e eram entregues no final da mesma, se não tivesse havido contacto com o inimigo. 

Quando se procedia à distribuição das granadas, alguém ficava à espera que a caixa ficasse vazia, para com a madeira da mesma, construir uma gaiola, para o seu piriquito, um banco, ou qualquer outro utensílio, portanto, quando eram entregues as granadas, no final da operação, iam para um canto da arrecadação de material de guerra. 

Normalmente a G-3, era transportada, debaixo do braço direito, pronta a disparar, mas com o cano sempre em direcção do chão. O Curvas, que era alto e refilão, levava três granadas. Duas distribuídas pela manhã, e uma que ele nunca entregou, de operações anteriores, e dizia. a alguns que sabiam, que essa granada era dele. Portanto na sua ideia, a granada não era do exército. Era dele.

O alferes miliciano dizia constantemente, ao Trinta e Seis, para ir sempre próximo dele, pois em qualquer momento podia precisar do telefone. O Trinta e Seis não acatava a ordem, pois era amigo do Curvas, que era alto e refilão. Andavam sempre lado a lado, e protegiam-se. Saíram do pântano, e iam em terreno seco, com muita vejetação. A antena do rádio, que era mais alta do que ele, tocava em tudo, e o Trinta e Seis, furioso, dizia ao Curvas, que era alto e refilão.

- Porque carga de água é que o alferes traz o pessoal  para um local destes, com tanto arvoredo, e tão difícil de avançar no terreno!? . Se fosse da parte da tarde, dizia que andava bêbado!.

Pois o alferes tinha fama de andar sobre influência [do álcool], lá no aquartelamento, mas era uma excelente pessoa.

Passado um certo tempo, deparam com uma aldeia, com umas tantas casas, circundadas por uma vedação, com estacas e ramos de árvores. Lá na frente, os soldados africanos entram na aldeia e falam alto, numa linguagem que ninguém entende. Neste momento, diz o Curvas, alto e refilão, (que acima de tudo, era rude, e sempre usava uma linguagem reles), para o Trinta e Seis.

- O que é que estes cabrões, estão a falar?. Estão a dar as boas vindas, ou a avisar a população para fugir, que os soldados estão próximos.

Era uma incógnita, que ninguém sabia responder.

Na aldeia havia somente, uma mulher, magra, já de uma certa idade, nua da cinta para cima, com argolas em volta do pescoço, servindo de enfeite, talvez. Estava sentada, ao lado de um cesto de arroz, com casca, com as mãos ao lado da cara, falando aflita, uma linguagem incompreeensível, e de vez em quando, tirava as mãos da cara, fazia gestos para a frente, ao mesmo tempo que balançava o corpo para a frente e para trás. Na sua frente, estavam duas crianças, também magras, e nuas.

Estas três pessoas, eram no momento, os habitantes da aldeia. Os soldados africanos, chamados pelo alferes, para traduzirem as palavras da mulher, diziam.

- Ela se lastima, por os soldados lhe terem morto os seus dois filhos, e diz para se irem embora, que aqui não há mais ninguém. Também diz que tem quatro filhas, que desapareceram certo dia pela madrugada, e que a visitam de vez em quando, pois neste momento eram guerrilheiras, transportadoras de material de guerra.

O Curvas, alto e refilão, diz para o Trinta e Seis.

- Se esta gaja não se cala, meto-lhe já dois tiros nos cornos!.

O alferes repreende o Curvas, alto refilão, que continua a argumentar, dizendo.

- É uma mentirosa, filha da puta!.

Só o Trinta e Seis, é que o acalma, e manda calar.

O alferes entra em contacto com o comando, contando a situação. Recebe ordens, da captura da mulher e as duas crianças, e em seguida queimar e destruir a aldeia.

Aqui começa o saque à aldeia. Os militares encontraram algumas armas, munições, e documentos, que estavam à superfície, e os africanos encarregavam-se dos objectos com algum valor, como panelas, tachos, roupas, às vezes até encontravam dinheiro, bicicletas, enfim, tudo o que alguns, entendessem que era útil.

Depois, era só deitar o fogo a tudo, e no espaço de uma a duas horas, com fogo controlado, deixava de haver aldeia. Esta aldeia era pequena, tinha somente oito casas. Durante o fogo, ouviram-se alguns rebentamentos, sinal de que havia mais algum material explosivo, talvez enterrado.

Os prisioneiros vieram para o hospital, na capitall da província. O Curvas, alto e refilão, começou o fogo, com o lançamento da sua granada preferida, para o meio da aldeia, ao mesmo tempo que gritava em plenos pulmões.

- Filhos da puta!.

O alferes repreendeu-o. Mas isso nele não produzia qualquer efeito, era alto e refilão, não acatava ordens, e queria mandar, devia ser general!.
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10073: Tabanca Grande (346): Fernando Sucio, ex-Condutor Auto do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74)