segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2467: Tabanca Grande (54): Luís Jales de Oliveira, ex-Fur Mil Trms (Agr Trms Bissau e CCAÇ 20, Gadamael Porto, 1973/74)

Luís Jales
ex-Fur Mil Trms Inf
Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20
Bissau e Gadamael Porto
1972/74


1. Mensagem do nosso camarada Luís Jales, em 17 de Janeiro de 2008:


Ex.ºs Senhores :
Luís Graça
Carlos Vinhal
Virgínio Briote

Caros amigos : (Permitam que assim os trate)

Chamo-me Luis Jales [de Oliveira], tenho 57 anos, sou casado, tenho duas filhas, moro em Mondim de Basto, Trás-os-Montes e exerço funções de Adjunto do Presidente na Câmara Municipal.

Prestei serviço militar na Guiné de 1972 a 1974, como Furriel Miliciano de Transmissões de Infantaria.

Mobilizado em rendição individual para uma Companhia de Comandos, fui colocado, por insondáveis desígnios do destino, no Agrupamento de Transmissões de Bissau, na Secretaria Geral, até 1973 e depois despachado para a CCAÇ 20, do CTIG, que se formou em Bolama e que partiu para Gadamael Porto onde permaneci até ao fim da Comissão (12 de Maio de 1974).

Sou, portanto, daqueles que, respondendo ao apelo da Pátria herdada, do Estado imposto e do Governo não votado, partiram, um dia, por essas estradas, com os olhos coalhados de Tâmega e suplicantemente ajoelhados aos pés de Nossa Senhora da Graça.

Daqueles que foram arrancados violentamente do colo materno, do aconchego do lar e das telúricas fragas do Marão sagrado, para partirem, de madrugada, deixando a cama desfeita e, quantas vezes, uma vida a germinar na barriga das companheiras.

De todos aqueles que voaram sobre os continentes, navegaram sobre os oceanos e desembarcaram, de peito feito, nas praias escaldantes duma África que os enfeitiçou.

De todos aqueles que durante dois estáticos e intermináveis anos comeram o pão que o diabo amassou, comungaram dos horrores da guerra revelada e beberam do cálice que transbordava de sangue, que transbordava de suor e que transbordava com as lágrimas derramadas. O amargo cálice das saudades, o amargo cálice da fome, da sede, do calor, da ansiedade e do desespero, das febres e das viroses, da distância e da loucura, do pasmo e do horror, do silencio e do sofrimento. Do cálice da dor, do cálice do martírio, mas também do cálice da redenção.

De todos aqueles que por obras valorosas da lei da morte se foram libertando, partidos pelas rajadas, estilhaçados pelos morteiros, rachados a foguetão e nas minas crucificados. De todos aqueles a quem a alma foi arrancada, a quem a alegria foi interrompida e a quem a esperança foi degolada,

De todos aqueles de quem o Estado cobardemente se esqueceu e de todos aqueles a quem a sociedade, estupidamente, apontou o dedo castigador.

De todos aqueles que foram ultrajados e sobre quem pesa o estigma condenatório.

Mas também de todos aqueles que vão saldando, aos poucos, as contas com os processos pendentes dum passado que não passou e que continua e há-de continuar excessivamente presente até ao fim.

Porque os nossos corpos ainda tresandam a África e as nossas noites continuam povoadas de fantasmas, bombardeadas de sobressaltos e minadas de pesadelos.

Sou, portanto daqueles que voaram sobre o maciço do Futa-Jalon, contemplando entre o Cabo Roxo, a Norte, e a Ponta do Café, a Sul, os palmares, os mangais e as lalas, a floresta e a savana, as terras vermelhas e os baga-baga, as queimadas e as culturas de rotação, o tarrafe e as bolanhas, o lençol omnipresente que penetrava apaixonadamente aquela mulher negra e sensual que um dia foi baptizada com o nome de Guiné.

E que viram, no ventre daquela mulher africana, pulular búfalos, hienas e leopardos, macacos do tarrafe, cachoros de mango, ratos voadores, gazelas de lala, porcos pretos, irãs cegos, jibóias e cobras cuspideiras, lagartos e ratos das palmeiras, macacos-cão, pelicanos, abutres, garças, gaivotas e maçaricos, rolas, perdizes e pombos torcaz, cachos calderon, colibris, galinhas do mato e íbis sagradas.

E que viram , nas suas veias, nadar peixes-sereia, bicas, bicudas e cações, candambas, safias e bentanas, jotós, peixes saié e tubarões.

De todos aqueles que voaram nas asas dum passarinho parecendo escutar o mavioso som dos violinos Fulas, que Djagras de barbas brancas acariciavam debaixo dos venerandos Bissilon, nas margens da lagoa de Cufade, onde os nenúfares explodiam em luxúria multicolor.

Eu sou daqueles em quem permanecem, gravadas a fogo, as imorredouras imagens em que se agigantam, como emblemáticas, a dança dos flamingos cor de rosa nas margens silenciosas dos rios de maré e o recorte das bajudas semi-nuas balançando, com graça e altivez, os chalavares dos camarões, nos indescritíveis poentes rubros das bolanhas do chão sagrado.

Eu sou daqueles onde permanecem, também, sacramentados, o cheiro seco do mato após as queimadas, o odor desagradável dos pântanos e das bolanhas, a dor dos olhos cansados pelo sol do meio dia, o buque-buque enigmático dos tantãs guerreiros durante a noite, o ondular das lalas verdejantes, a arte dos Nalus, o brio das mancanhas e o porte dos homens grandes ornados com a dignidade dos barfacon.

Eu sou, portanto daqueles que dormiram, primeiro, nas valas e nos abrigos e depois numa tabanca, deitados numa maca de campanha inglesa, com um cantil a servir de travesseira e que perderam a conta, por não terem máquina calculadora, ao número das morteiradas 120, das canhoadas sem recuo supersónico, e dos foguetões Strella, ou SAM 3 com seis buracos de propulsão, que sobrevoaram aquele chão com o nosso nome etiquetado como destino.

E eu que sou da Tabanca de Gadamael e que servi às ordens de Tomás Camará e de Adriano Sisseco, venho bater, agora, à porta da Tabanca Grande da camaradagem, ansiando por um abrigo e para que possam partir comigo a castanha de cola de tantas e tão marcantes recordações.

Um grande abraço.
Luís Jales

Morada : Rua Comendador Alfredo Alvares de Carvalho
4880 Mondim de Basto

Telm : 966495651
Tel. Casa : 255.382011
Tel. Serviço : 255.389300 – 255.389304
luisoliveira@cm-mondimdebasto.pt
luis.jales.oliveira@gmail.com


2. Comentário de CV

Caro Luís Jales

Bem-vindo à nossa Tabanca Grande, onde não é preciso pedir licença para entrar.

A porta está sempre aberta para algum camarada que se nos queira juntar ou amigo da Guiné-Bissau, que por gostar, de algum modo, da terra onde passámos dois dos mais árduos anos da nossa vida, é também nosso amigo.

Por muito que tenhamos sofrido, aquela terra marcou-nos definitivamente, para o bem e para o mal, e com isso viveremos até ao fim dos nossos dias.

Fica combinado que a partir de hoje deixarás essa coisa horrível, entre camaradas, que é o excelentíssimos disto e daquilo. Os verdadeiros camaradas, independentemente dos postos que tiveram, tratam-se por tu.

Acomoda-te, prepara as tuas estórias e as tuas fotografias e conta-nos aquilo que tens guardado em papel ou na memória do tempo, para aumentares o nosso espólio.

A nós, Tertulianos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, não vão acusar de deixar esquecer o passado duma geração que viveu uma guerra esforçada. Aos nossos filhos e netos deixaremos um legado histórico contado pelos intervenientes.

Na nossa página, do lado esquerdo, poderás consultar as nossas dez normas de conduta, que são afinal, preceitos de gente civilizada que se respeita e tolera ideias diferentes.

Deixo-te um abraço de boas vindas em nome de toda a Tabanca.

CV

Guiné 63/74 - P2466: Ser Solidário (1): Pe. Almiro Mendes, Pároco da freguesia de Ramalde, Porto, partiu hoje de jipe, para a Guiné-Bissau

O Pe. Almiro Mendes, pároco de Ramalde, Porto (à direita), acompanhado do nosso camarada Xico Allen (à esquerda), junto ao jipe que seguiu para a Guiné-Bissau, pela rota do Dacar (ligando Portugal, Espanha, Gibraltar, Marrocos, Mauritânia, Senegal, Gâmia e Guiné-Bissau), numa missão de solidariedade. Ao todo será uma viagem de 3.352 quilómetros, do Porto a Bissau.

Foto retirada da página da Agência Ecclesia, com a devida vénia

1. Padre Almiro Mendes, um amigo da Guiné-Bissau

Em 20 de Outubro de 2007, foi feito o lançamento, na Igreja Nova de Ramalde, freguesia do Porto, do livro «Sinfonia das Palavras Íntimas», da autoria do pároco de Ramalde, Pe. Almiro Mendes (ordenado sacerdote há 18 anos).

Trata-se de um livro, constituído por um conjunto de 264 textos e fotografias que retratam a sua experiência como missionário na Guiné-Bissau, entre os meses de Setembro de 2005 e Setembro de 2006.

Além de querer partilhar a sua vivência na Guiné-Bissau como homem e como missionário, Almiro Mendes teve como principal objectivo angariar de fundos para a compra de uma viatura que pretende oferecer aos Missionários que trabalham na Guiné-Bissau. A venda dos quatro mil exemplares do livro vão também permitir, além da compra do jipe, financiar a abertura de poços de água potável e apoiar a educação e alimentação de algumas crianças órfãs, segundo o Padre Almiro Mendes referiu à Agência Lusa.

A viagem do referido carro ficou marcada para o dia 21 de Janeiro de 2008. E, como planeado, o Padre Almiro Mendes lá seguiu hoje, no jipe, por via terrestre, com mais acompanhantes - entre eles duas enfermeiras - a caminho da Guiné-Bissau, que espera atinguir dentro de oito a dez dias. O acontecimento teve honras de telejornal (RTP1, 13h).

Ainda segundo a Lusa, na bagagem, o pároco de Ramalde leva também material informático, um computador, uma fotocopiadora, medicamentos material escolar e um gerador. O sacerdote é acompanhado por mais seis pessoas, quatro do Porto e duas (enfermeiras) que partem de Lisboa, noutro jipe... Todos os participantes têm experiência de missões em África.

Segundo informação do A. Marques Lopes, o nosso querido amigo e camarada Xico Allen (vd. foto acima) também teria seguido nesta caravana, devendo voltar de novo à Guiné-Bissau no dia 24 de Fevereiro a tempo de participar no Simpósio Internacional sobre Guileje. A todos os nossos amigos e camaradas que participam nesta caravana de amizade e solidariedade - a começar pelo Padre Almiro Mendes - desejamos que bons ventos os levem e que bons ventos os tragam. E que a sua missão seja coroada de êxito e decorra em segurança. O nosso coração vai com eles.

Os editores, LG/VB/CV


2. Do Padre Almiro Mendes publica-se, a seguir, um belíssimo texto, que merece honras de antologia. É um hino de amor à Guiné e ao seu povo. (Bold, da responsabilidade dos editores)


Ecos de uma experiência Missionária na Guiné,
por Almiro Mendes

Quando foi acordada com os Espiritanos e com o meu Bispo a minha ida para a Guiné, não sabia que partir era tão difícil!

Partir obriga a sufocar aquela voz que teima em gritar dentro de nós o imperativo fica;

Partir implica soltar amarras do porto das nossas seguranças e fazer-se ao mar do desconhecido em barco de insuficiências adivinhando tempestades sem que para elas se esteja totalmente preparado;

Partir é partirmo-nos por dentro e darmos a Deus os bocados da fragmentação;

Partir é vencer a indecisão com a decisão e ganhar a batalha travada com o velho do Restelo expulsando-o da nossa pátria interior desfraldando a bandeira da nossa liberdade;

Partir é, como Maria, ouvir o Anjo interior, dizer-lhe SIM sem entender o mistério todo e pôr-se a caminho para levar aos outros o Amor de que estamos fecundados;

Partir não é fácil e obriga a pôr um pescoço de aço para evitar que a cabeça rode e olhe para trás.
Partir para a Missão na Guiné não foi uma canção de embalar, mas uma descolagem mais dolorosa do que aquilo que eu pensava, que veio a revelar-se um dom ainda mais extraordinário do que aquilo que eu tinha imaginado e que só agora vou compreendendo e agradecendo a Deus.

Se partir foi difícil, chegar e ficar não o foi menos. As saudades, o calor, que na Guiné é insuportável, os mosquitos que são um verdadeiro tormento, o receio de ficar doente, o volume das ocupações e preocupações, a avalancha dos violentos assaltos às missões, o falecimento da minha irmã e logo a seguir a morte do meu pai, fizeram com que os primeiros tempos na Guiné implicassem uma dose acrescida de fé e de força interior.

Mas, de tudo, o que mais me custou foi ver o sofrimento dos guineenses. Na Guiné não há, como em Portugal, rendimento mínimo. Podia haver, ao menos, sofrimento mínimo. Mas não. Na Guiné só existe sofrimento máximo e moderado. Depende da sorte. E ambos estão garantidos para os próximos tempos, pois não consta, para já, a falência do sistema político que apouca aquela gente e tolhe aquele povo.

Falo das dificuldades apenas para ser fiel à história dos meus dias passados na Guiné, mas é-me particularmente feliz referenciar as vantagens, as alegrias e as graças vividas.

Este tempo em África foi o mais incrível e talvez o mais extraordinário da minha vida de sacerdote. Foi, verdadeiramente, um dom de Deus, uma graça que muito agradeço.

Estar na Guiné possibilitou-me ser fiel testemunha de que os Missionários, com parcos recursos mas grande criatividade e sobretudo infinita generosidade, contribuem, em grande parte, para as soluções necessárias ao desenvolvimento daquele país, para a felicidade daquelas gentes e para a dilatação da fé e consistência da Igreja;

Estar na Guiné levou-me a constatar que nunca ninguém fez tanto com tão parcos recursos como os Missionários. Eles são estafetas olímpicos a transportar mais além o facho da beleza da vida, da fé e da esperança;

Estar na Guiné fez-me perceber que a maior parte dos políticos (os de lá como os de cá), com os seus desvarios, vestem de pobreza os corpos frágeis das pessoas e desnudam, sem pudor na consciência, a alma nobre de um povo;

Estar na Guiné e conviver com dois bispos simples mas extraordinários, fez-me concluir que embora muito possa significar a pompa na Igreja, para pouco presta ou para nada vale;

Estar na Guiné ajudou-me a descobrir que as várias Missões dos Espiritanos e das Espiritanas são Oásis num deserto de soluções e possibilidades;

Estar na Guiné deu-me a certeza de que a nossa compaixão pelos que sofrem, mesmo se demasiada, é sempre pouca, pois a dor dos que padecem, mesmo que pequena, é sempre mais do que aquilo que merecem. Na Guiné não é possível divorciarmo-nos da compaixão. Lá, onde a gente se fere não é nos nossos problemas e nas nossas dores, mas nas dores alheias. Lá habita-nos a angústia que a dor de tantos desafortunados nos provoca;

Estar na Guiné possibilitou-me a experiência feliz de acolher os que sofrem, ajudá-los, amá-los e vê-los partir aliviados ficando eu a gemer por dentro;

Estar na Guiné fez-me entender melhor a idiossincrasia da Igreja;

Na Guiné tive a possibilidade de rezar mais e fazer silêncio. O silêncio é um nada que em mim é um quase tudo. Faz parte da essência da minha alma que fica à deriva quando o não tem como hóspede.

Estar na Guiné deu-me, enfim, novas prospectivas e abriu-me novos horizontes…

Estar na Guiné, julgo poder dizê-lo, tornou-me mais humano, talvez mais espiritual, pelo menos fez-me ficar um padre diferente.

Se o partir de Portugal não foi uma canção de embalar e se o chegar e ficar na Guiné não foi fácil pelas circunstâncias já descritas, embora se tenha revelado a experiência mais incrível da minha vida, o regressar a Portugal foi ainda mais difícil:

Vim, mas deixei-me lá.

Vim, mas trouxe as tatuagens de sofrimento daquela gente.

Estou aqui na civilização e nas seguranças que a Europa e Portugal me dão, mas desejava estar lá nas dificuldades daquele país e nos perigos daquela terra.

O adeus que disse à Guiné foi embrulhado num vendaval de emoções. Foi um adeus escrito com letras dolorosas e que me deixou os olhos marejados de saudade. Foi um adeus comovido. Sinto que amo para sempre a Guiné que agora me foge.

Quem chega à Guiné atraca num cais de mistérios, mergulha numa beleza rara e indizível, veste-se de paisagens ímpares e irretratáveis, mas também se vê envolvido numa noite de dramas e sofrimentos incomensuráveis. Depois, quando temos de soltar amarras e de lá partir, vestimo-nos como que de uma paixão secreta e levamos os olhos impregnados de memórias e significações que pintarão com as cores da saudade a tela dos nosso dias futuros. E, como que assolapada, teima em vir connosco a vontade de um dia lá voltar.

Esta minha aventura missionária na Guiné teve contornos que a memória apanhou e eternizou e provocou emoções que a recordação chora com saudosas lágrimas douradas.

Agradeço a Cristo, o Missionário do Pai, este dom tão inolvidável que me concedeu e rogo a Maria, Rainha das Missões, a Sua bênção de Mãe para o querido povo da Guiné.

Padre Almiro Mendes, Diocese do Porto, 05/09/2006

Agência Ecclesia

Guiné 63/74 - P2465: Aires Tinoco, um dos primeiros alentejanos a ver terras da Guiné (Virgínio Briote)


Aires Tinoco, natural de Olivença, ao embarcar na caravela de Nuno Tristão, foi seguramente um dos primeiros alentejanos a ver as terras da Guiné.

O Comandante e quase toda a tripulação acabaram dizimados com setas envenenadas pelas populações nativas. Tinoco, que tinha partido como escrivão de bordo, fez-se ao mar e conseguiu atingir a costa portuguesa quase ao fim de dois meses sem avistar terra, pela rota que ficou a ser conhecida pela “Volta da Guiné”, a volta pelo largo ou, posteriormente, navegação pelo largo.

Era a quarta viagem que Nuno Tristão fazia, a mando do Infante D. Henrique, aventurando-se pela faixa costeira entre o Cabo Branco, que ele próprio descobrira em 1441, e o rio Geba.
À frente de uma caravela com cerca de trinta homens a bordo, Tristão passou ao largo de Cabo Verde, que Dinis Dias tinha descoberto em 1444 e, navegando para sul, achou a embocadura de um rio que se julga ter sido o Gâmbia.

Fundearam a caravela e, em dois batéis, subiram o rio. O batel de Nuno Tristão foi logo atacado pela população ribeirinha, que matou toda a tripulação com setas envenenadas.

Os outros tentaram refugiar-se na caravela, acabando por salvarem-se apenas cinco homens, “um grumete, assaz pouco avisado na arte de marear e um moço da câmara do infante, que se chamava Aires Tinoco, que ia por escrivão, e um moço guinéu que fora filhado com primeiros que filharam em aquela terra, e outros dous moços assaz pequenos que viviam com alguns daqueles escudeiros que ali faleceram” (Gomes Eanes de Azurara, cronista).

Aires Tinoco, com os escassos conhecimentos de navegação que possuía, conseguiu fazer-se ao mar, tentando atingir a costa portuguesa, o que conseguiu ao fim de quase dois meses, sem nunca avistar terra.

Diz Eanes de Azurara, na “Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné”:

“Ó grande e supremo socorro de todos os desamparados (…), onde bem mostraste que ouvias suas preces quando em tão breve lhe enviaste tua celestial ajuda, dando esforço e engenho a um tão pequeno moço, nado e criado em Olivença, que é uma vila do sertão mui afastada do mar, o qual, avisado por graça divinal, encaminhou o navio, mandando ao grumete que directamente seguisse para o norte (…), por que ali entendia ele jazia o Reino de Portugal (…).
(…) Este moço que disse era aquele Aires Tinoco (…), no qual Deus pôs tanta graça que por dois meses continuados encaminhou a viagem daquele navio (…); ao fim dos quais cobraram vista de uma fusta *(…), sobreveio em eles uma nova ledice, e muito mais quando lhes foi dito que estavam na costa de Portugal, a través de um lugar do Mestrado de Santiago, que se chama Sines. E assim chegaram a Lagos, donde se foram ao contar-lhe o forte acontecimento da sua viagem, apresentando-lhe a multidão de flechas com que seus parceiros morreram (…).


Os alíseos e a corrente das Canárias não permitiam, no retorno a Portugal, a navegação junto à costa.
"A volta da Guiné ou da Mina, afastando-se da costa, entrando bem pelo mar Atlântico, passou a ser comum, levando os marinheiros de então a escalar os Açores".

"Pelo feito, Aires Tinoco foi agraciado com terras em Elvas, na sua Olivença natal, onde lhe foi atribuído o Monte do Barroco (Velho), junto à aldeia de S. Jorge de Alôr, e ainda em Estremoz, onde, além do almoxarifado, recebeu casas e terras.
Aires Tinoco foi ainda escrivão do Infante D. Henrique. Em 1475 ainda vivia, ao que se julga em Extremoz".
(Maria Antónia Goes).

Segundo Francisco Contente Domingues, Professor de História na Faculdade de Letras na Universidade de Lisboa,
“ (…) os navegadores portugueses viram-se obrigados a fazer a chamada ‘volta pelo largo’, ou seja, a internarem-se no mar alto para contornar os ventos que sopravam constantemente no sentido aproximado Norte-Sul, junto à costa africana. Essa manobra só podia ser feita recorrendo ao cálculo de, pelo menos, uma coordenada, a latitude, para o que se impunha a observação comparada das alturas dos astros. A novidade não consistiu nesta observação, conhecida e praticada havia muito, mas no facto de ter sido feita a bordo e dela se obter a posição do navio no alto mar, deixando o cálculo da longitude à perícia dos pilotos, já que só a puderam determinar com rigor quando o quarto protótipo do cronómetro de John Harrison provou a sua suficiência, no decurso do terceiro quartel do século XVIII”.
__________

*embarcação comprida de fundo chato, de vela e remo.

Recolha e selecção de texto: vb

Com a vénia e os agradecimentos devidos a Maria Antónia Goes, à revista Alentejo, Terra Mãe e ao Professor Doutor Francisco Contente Rodrigues (Univ. Lisboa).

“A Nossa História”, Maria Antónia Goes. Publicado na revista Alentejo, Terra Mãe. Revista gratuita > Nº 10 > 1º Trimestre de 2008 > http://www.alentejo-terramae.pt/

Imagens extraídas da revista.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva)


O justo reparo do Carlos Silva, ex-Furr Mil do BCAÇ 2879

Amigo Briote

(...)

Hoje tive uma reunião na Associação de Comandos e ofereceram-me a Revista onde vem publicado o teu artigo, o qual não li.


Querem que eu escreva um artigo sobre os nossos militares africanos abandonados.

Vi a publicação do 1º post, mas cortaste a história do brasão da cobra (*), bem como não publicaste o mesmo e a foto do nosso camarada Carlos Fragoso que o concebeu e desenhou.




É como se fosse uma perna amputada, porque não se dá a conhecer o brasão, que deu o nome do Batalhão dos Cobras. Talvez falta de espaço. Não sei se no futuro é possível dar retoques ou não, isto é depois de inserido o trabalho.

Segue em anexo o 2º Post, o embarque e desfile do Batalhão e aspectos da viagem no navio Uige e irão seguindo sucessivamente. Agradeço-te que me avises da publicação.

Eu continuo a insistir na dificuldade da pesquisa, mas a pouco e pouco vou descobrindo com algum trabalho aquilo que quero, pois vou procurar também aos sacos escondidos e não identificados. Vou abrindo o que me chama a atenção.

Já estou a fazer uma espécie de índice onde as coisas se encontram, que junto anexo, para ver se um dia é possível aglutinar.

Tenho muitas ideias que gostaria de desenvolver. Quero enviar para aí um inédito sobre o início da Guerra, isto é, sobre o ataque a Tite em 23-01-1963. Já vi algures no blogue o tipo do 1º tiro, vou ver se o encontro e se encontro algo mais sobre o assunto, para depois carregar o pessoal com metralha. Se souberes alguma coisa sobre este tema diz-me.

Há muito para dizer e para enviar. Vamos com calma, para ver se conseguimos fazer alguma coisa de jeito.

Informa-me se recebeste os anexos em condições, pois seguem várias fotos inseridas no meu trabalho de forma cronológica.

Recebe um abraço.

__________

Resposta de vb:

Carlos,

Tenho ainda várias fotos tuas para inserir em posts futuros. Como pensei que o brazão da cobra tivesse sido desenvolvido já na Guiné, não o inseri por uma questão cronológica.

Trata-se do 1º capítulo, a mobilização e os preparativos, agora segue-se a formação da unidade e o embarque. Espero que me arranjes fotos do embarque. Como cada fotografia é História, agradeço que as legendes.

Grato pela tua excelente colaboração. E as desculpas pelo lapso.

vb
__________

De Abrantes a Farim, o Batalhão de Caçadores 2879 e a sua história. Ou, melhor dizendo, o BCAÇ 2879 e a nossa História (**).

Texto e imagens da responsabilidade de Carlos Silva.


19-07-1969 – Sábado - Dia do embarque do BCAÇ nº 2879 no Navio “Uíge”



A Conde de Óbidos, que quase todos nós vimos, muitos pela primeira vez, e alguns pela última.




19-07-1969 – Dia do embarque do Batalhão – A difícil despedida dos nossos familiares.



19-07-1969 – Desfile do Batalhão – CCaç. 2548 - Em primeiro plano, o Cap Sobral, o Casanova e o Marques.



19-07-1969 – Desfile do Batalhão – Foi a vez da CCAÇ 2549 aparecer na fotografia.


O Uíge de muitos

20-07-1969 – Domingo



Almoço a bordo. Furriéis da CCAÇ 2548 . O Galo, o Serrenho, o Barroso e o Leça.




Almoço a bordo. Furriéis da CCAÇ 2549. Vaz

21-07-1969 – Segunda-feira




Confraternização a bordo do Uíge. De pé: Alf. Sampaio, Cap Vasco Lourenço, Alf Carmo Ferreira e Cap Covas de Lima. De cócoras, os Alferes Casanova, André, Baptista e Rebelo.




Confraternização a bordo do Navio Uíge dos Furriéis da CCAÇ 2548 De pé: Serrenho, Lopes, Galo, Vasques, Barroso, Godinho, Vitorino e Nascimento. De cócoras: Leça, Évora, Tavares, Pontes e Coelho


25-07-1969 – Sexta-feira - Chegada à Guiné e desembarque em Bissau

O Comando do Batalhão com as CCAÇ 2548 e CCAÇ 2549 foram alojados nas futuras instalações do Batalhão de Serviço de Material em Brá e ficaram a depender do Depósito de Adidos.
Dois barracões, uma manta, mosquitos e nada mais.

Para os militares que já tinham várias comissões e para os que vinham pela primeira vez, embora por razões diferentes, o choque foi grande.

A CCAÇ 2547 ficou instalada na Amura em razoáveis condições.

28-07-69 – Segunda-feira

O Comando do Batalhão, a CCAÇ 2549 e 50 elementos da CCS, embarcaram em Bissau na LDG “Alfange” com destino ao Sector 02 onde iriam ficar instalados.

Em 29-07-69 desembarca-se em Farim.

30-07-69 – Quarta-feira

A CCAÇ 2549, em coluna auto, desloca-se para Cuntima, localidade situada nas proximidades da fronteira norte com a República do Senegal, assumido mais tarde a responsabilidade do subsector.

No mesmo dia marcham de Bissau para a Ponte de S. Vicente, em coluna auto, a CCAÇ 2548 e mais 50 elementos da CCS. Naquela localidade, embarcam na LDG “Alfange”, subindo o rio Cacheu e desembarcam ao fim da tarde em Farim.

01-08-69 – Sexta-feira

Finalmente, neste dia seguem de Bissau para a Ponte de S. Vicente, em coluna auto, a CCaç. 2547 e os restantes elementos da CCS.
Naquela localidade, embarcam na LDG “Alfange”, subindo o rio Cacheu e desembarcam ao fim da tarde em Farim.

Nesta data, portanto, todo o BCAÇ 2879 encontrava-se no Sector 02 que lhe foi atribuído.

__________

Fixação do texto: vb

(*) Um outro símbolo do Batalhão foi adoptado, embora não saiba por alma de quem surgiu a ideia, o qual nada tem a haver com a heráldica militar, conforme o desenho constante do crachat.
Passados alguns anos após o regresso do Batalhão da Guiné e num dos almoços de confraternização, segundo me contou o Ten Cor Vasco Lourenço, ao qual perguntei para satisfazer a minha curiosidade se sabia como surgiu a ideia de adoptar tal símbolo, este disse-me que a ideia surgiu espontaneamente de entre um grupo de oficiais do Batalhão que entenderam adoptar um símbolo que chamasse à atenção e deixasse uma marca para sempre.

Também, muitos anos mais tarde após o regresso do Ultramar, segundo me contou o nosso camarada então Cabo Mil Carlos Fragoso da CCAÇ 2549, obtido o acordo no dito conclave, foi chamado pelo então Cap Vasco Lourenço, na medida em que tinha um curso de artes, para conceber e desenhar um emblema apelativo do Batalhão, que se relacionasse com algo que rastejasse (até parece que o quotidiano da Guiné seria o rastejar).

Daí, o Fragoso colocar o seu cérebro a funcionar e conceber a ideia da cobra, porque se trata de um réptil rastejante, surgindo assim, o emblema conhecido por todos nós.

Deste modo, o nosso glorioso Batalhão passou a ser conhecido pelo Batalhão dos Cobras”.

Carlos Silva

(**) A odisseia ultramarina aproximava-se do fim. Um dos maiores protagonistas, que a nossa História recente registou, embarcava no Uíge, comandando uma das Companhias do Batalhão dos Cobras, que se iria fixar em Cuntima (Colina do Norte) junto à fronteira com o Senegal.

vd post:

Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim: O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P2463: Vídeos da Guerra (7): Madina do Boé - A Retirada (José Martins)

José Martins
ex-Fur Mil Trms
CCAÇ 5
Canjadude
1968/70


1. Do nosso camarada José Martins, recebemos em 17 de Janeiro de 2008, a seguinte mensagem

Bom dia
Saudações amigas
Informação geral:

No site ultramar.terraweb.biz, pode ver-se um documentário, já transmitido na TV e publicado em cassete vídeo VHS.

O documentário, com cerca de 50 minutos, versa a retirada das NT do aquartelamento de Madina do Bué.

É oportuna esta inclusão, já que no próximo dia 6 de Fevereiro passam 39 anos sobre o acontecimento.

Aquele abraço
José Martins
________________

Nota dos editores

Vd. postes anteriores sobre a retirada de Madina do Boé:

18 de Novembro de 2006> Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)

15 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

21 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)

Guiné 63/74 - P2462: Convívios (38): Minitertúlia da Intendência / Administração Militar, Belém, Lisboa, 18 de Janeiro de 2008 (Fernando Franco)

Lisboa > 18 de Janeiro de 2008 > Minitertúlia da Intendência reunida em Belém. Da esquerda para a direita, Isildo Dias, Baia, Franco e Martins (dono do restaurante).

Foto: © Fernando Franco (2008). Direitos reservados.



1. Mensagem do nosso camarada Fernando Franco:

Amigo Carlos:

Não pretendo de alguma forma fazer-vos inveja, pois nem tem comparação com aquele jantar que fizeram no Norte (1), mas a pouco e pouco vamos conseguindo juntar alguns camaradas da Intendência.

Fomos só quatro, mas parece que temos caminho aberto para se arranjar contactos de mais uns quantos. De qualquer forma um sentimento ficou neste almoço, fomos poucos mas muito unidos.

Este almoço decorreu em Belém, no Restaurante de um dos nossos. Da esquerda para a direita, Isildo Dias, Baia, Franco e Martins, este o dono do mesmo.

Queria agradecer ao Blogue, na pessoa do Luís Graça, e aos seus colaboradores, o facto de terem publicado um artigo meu e do Baia (2), pois através dele os da Administração Militar (AM), mais precisamente da Intendência, ao consultar o Blogue constatam que existe rapaziada da mesma arma, AM, e a pouco e pouco vamos conseguindo arranjar alguns contactos.

Um forte abraço
Fernando Franco
Venda Nova - Amadora
Telem. 968074921

2. Comentário de CV:

Caro Franco:

Em primeiro lugar, nem tu nem ninguém tem que agradecer por se publicar o que nos enviam. Têm é que nos chamar a atenção para algo que corra menos bem. O trabalho é muito e por vezes há assuntos que escapam ou perdem actualidade. As críticas dos leitores, e principalmente as dos tertulianos, serão sempre levadas em conta.

Em segundo lugar, aqueles a que chamas colaboradores do Luís, não colaboram com ele exclusivamente, mas sim com todos vós, os não-editores. Afinal, eu, o Briote e mais alguém, trabalhamos para manter as nossas páginas vivas e actualizadas.

Aquele jantar no Norte, que referes, foi uma iniciativa da muito activa Minitertúlia de Matosinhos que poderá ser um exemplo para outras minitertúlias que se venham a formar em qualquer ponto do país.

No nosso jantar tivemos a presença de camaradas de Espinho, Gaia e Águeda, porque como nos almoços das quartas-feiras pode participar quem aparecer, pois acima de tudo o que está em causa é o convívio entre camaradas.

De facto a minitertúlia de Matosinhos é um caso sério que começou com uns poucos e já começa a criar problemas logísticos, pois há dias em que a casa Teresa fica a rebentar pelas costuras.
_______________

Notas dos editores:

(1) Vd. Mensagem de 31 de Dezembro de 2007> Guiné 63/74 - P2395: Tertúlia de Matosinhos: Jantar de Natal, 27 de Dezembro de 2007 (Luís Graça / Zé Teixeira)


(2) Vd. posts de:

16 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1284: A Intendência também foi à guerra (Fernando Franco / António Baia)

16 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1283: Os nossos intendentes, os homens da bianda (Fernando Franco / António Baia)

(3) Vd. poste de 3 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2402: Matosinhos, Leça do Balio, Vilas, 27 de Dezembro de 2007: Silêncio, canta-se o Hino de Gandembel (Hugo Costa / Albano Costa)

Guiné 63/74 - P2461: Pensar em Voz Alta (Torcato Mendonça (7): Dois heróis, dois homens com valores, Domingos Ramos e Mário Dias

Guiné-Bissau > Nota de cem pesos, já fora de circulação, com a efígie de Domingos Ramos, herói nacional, e amigo do nosso Mário Dias. Em primeiro plano, a imagem também de uma moeda, com a efígie do Domingos Ramos (1).

Foto: © Torcato Mendonça (2008) . Direitos reservados.


1. Mensagem do nosso amigo, camarada e habitual colaborador Torcato Mendonça (Fundão):

Caro Editor e Co-Editores:

Podia não escrever; podia anexar só a foto com um abraço; podia ficar mudo e quedo, como o fiz após a leitura do Post – 2435, de 12 de Janeiro último (Série PAIGC - Quem foi Quem), sobre Pansau Na Isna, herói da Guiné e cujo teor, em parte discordo, noutra interrogo-me e, noutra ainda, prefiro nada mais dizer.

Questionei-me só no seguinte: quantos portugueses, tão letrados como o tal guineense, sabem quem foi D. João I, II, IV ou VI, ou o Aristides Sousa Mendes, o General Sousa Dias, ou citar o posto e o nome de 6 (seis), 5 (cinco) ou 4 (quatro) Capitães de Abril… Podem começar, como geralmente começam: Senhor Coronel…

Outras Vidas de Tantas Vidas… só queria mandar a foto… Haverá heróis portugueses da dita guerra do ultramar, colonial ou de libertação!?

Há um, perdão dois Homens, que são a principal razão do escrito: um o que tem o seu rosto na moeda e na nota, e o outro o nosso Camarada Mário Dias. Dois Homens com uma História fabulosa e digna de figurar como Símbolo da Grandeza de Homens que foram Combatentes.

Foi, curiosamente, um ex-comando (6ª, 7ª Companhia de Comandos, Angola e Moçambique?) meu velho amigo, proprietário de uma lojita de antiguidades e afins que, sabendo-me coleccionador numismático, ajuntador de eteceteras e ex – combatente da Guiné me mostrou hoje, entre outras, estas duas peças. De pronto as agarrei e fiz agora a foto.

Quem for a Guileje deve, com facilidade, encontrar estes espécimes mas, encontrem ou não, envio a foto em humilde e singela Homenagem a dois Homens, Amigos/Irmãos, a servirem de exemplo a todos os ex-combatentes, num Mundo tão carenciado de certos valores…

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Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 12 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2343: PAIGC - Quem foi quem (5): Domingos Ramos (Mário Dias / Luís Graça)

(2) Vd. postes de:

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando

Guiné 63/74 - P2460: Convívios (37): BCAÇ 2885, Restaurante O Eucalipto, EN 1, 8 de Março de 2008 (Luís Nabais)


Almoço/convívio do pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71)

O nosso camarada Luís Nabais deu-nos conta do almoço/convívio dos ex-militares do BCAÇ 2885.

Dia 8 de Março de 2008

Restaurante O Eucalipto

Localizado na Estrada Nacional n.º 1, entre Pombal e Redinha

Informações mais detalhadas com o camarada Ventura

Contacto: telemóvel 967 964 368
_______

CV

Guiné 63/74 - P2459: O Nosso Livro de Visitas (6): Eduardo Santos, ex-1.º Cabo Cripto, CCS/BCAV 1915 (Nova Lamego e Bula, 1967/69)

1. Mensagem do nosso camarada Eduardo Santos

Caros amigos:
Nas minhas deambulações pela net encontrei o vosso blog, parece-me que em boa hora.

Sou mais um daqueles que partiu voluntário para a Guiné então dita Portuguesa.

Embarquei no Uige em Abril de 1967 e regressei em Março de 1969, tendo cumprido a minha obrigação para com a Nação.

1.º Cabo com a Especialidade de Cripto, CCS/BCAV 1915.

A permanência na Guiné durante esses cerca de 23 meses permitiram-me conhecer uma realidade diferente.

Nova Lamego e Bula foram os locais de que guardo recordações até ao fim da minha vida. De uma forma especial, Nova Lamego, talvez porque as condições eram diferentes.

Não tenho muitas histórias, mas ficaram gravadas aquelas que vivi. A seu tempo, talvez possa contar alguma.

Hoje resido em Fátima, exerço o jornalismo no sector desportivo e é com prazer que entro em contacto com o blog e simultâneamente com tantos camaradas que ainda vivem para o contar.

Estou em http://jotaedu.blogspot.com/, que é o meu blog principal onde, se o desejarem, terei o maior gosto em receber todos aqueles que me visitarem.

Espero voltar noutra ocasião, por ora deixo um abraço amigo.
Eduardo Santos

2. Comentário de CV

Caro Eduardo
A nossa Tabanca Grande está sempre ao dispôr de quem quiser participar nesta cruzada de levar a todos os nossos leitores um pouco da história da nossa geração, enquanto combatentes de uma guerra que não queríamos, pelos motivos por demais discutidos.

Se e quando quiseres podes participar, lendo e criticando ou, melhor ainda, como participante activo.

Recebe aquele abraço da equipa editora e dos tertulianos do nosso Blogue.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2458: Os sulcos... e as estrias da G3 (Mário Dias / Virgínio Briote)



Em S. Vicente, no regresso a Bissau, depois da Op Atraca, no corredor de Canja. Setembro de 1966. Ou como não se devia transportar a G3, como ensinou vezes sem conta, o nosso Furriel Mário Dias.

Foto: Virgínio Briote (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do Mário Dias sobre a G3, a propósito dos sulcos que eu, quarenta anos depois e ainda instruendo, confundi com as estrias. Assim se vai fazendo a história dos aprendizes (*). Claro que pensei duas vezes, antes de perguntar ao Mário se ele estava a falar das estrias da G3. Tal como o conheci, fiel a ele próprio, minucioso e delicado como naqueles tempos, o Mário passa por cima. Grato, meu Furriel, por mais esta lição.

Caro Briote

Obrigado pelo reparo que fizeste sobre as estrias da G3 que são realmente 4, helicoidais, e enrolam no sentido dextorsum. (Ainda me recordo deste palavrão).

Mas, no meu texto, não me refiro às estrias propriamente ditas que se situam no cano. Falo de uns sulcos em linha recta, longitudinais, existentes na câmara da arma e que se destinam a fazer com que o cartucho não fique totalmente "colado" às paredes da dita câmara.

Esses sulcos, ao receberem os gases da explosão, permitem que o invólucro do cartucho seja extraído com maior facilidade. Se esses sulcos ou ranhuras estiverem obstruidos com qualquer sujidade a extracção pode não se realizar. Deves estar recordado que era um dos pontos que nós fazíamos questão de inspeccionar introduzindo o dedo mínimo na dita câmra para ver se o retiravámos limpo ou sujo. Alguns, eu por exemplo, até brincavamos com isso dizendo que era uma operação semelhante à que se faz para ver se as galinhas estão ou não prestes a pôr um ovo. Continuo com a dúvida se esses sulcos ou ranhuras era ou não 6. Creio que eram. No entanto, peço ajuda aos camaradas da Tabanca com a memória mais fresca que esclareçam esta dúvida.

Um grande abraço para toda a Tabanca, especialmente aos editores.

Mário Dias


__________

Nota de vb:

(*) O cano da minha G3

"As reclamações do costume, uma das mulheres do Tomás Camará à porta de armas, que marido, não dava dinheiro há que tempos, tinha que pagar arroz, ele não dá dinheiro, nosso alfero!



Tomás Camará. Na estrada Ingoré-Barro em Set 1966.

E porque vens falar comigo, eu não sou teu marido, fala com o Camará! Mas, nosso alfero, ele não vai a casa, meninos não têm que comer, eu não tem que dar! Como te chamas, qual é teu nome? Binta? Nome lindo, quantos pesos bó precisa?

Um dia igual a tantos outros. Aplicação militar de manhã, banho, carreira de tiro, almoço, uma sorna a seguir. Lá para as quatro, frente a Brá, exercícios com as equipas, progressão das parelhas por lances, projécteis nos troncos das palmeiras quando mostravam o quico, eles outra vez aos ziguezagues, granadas para cima, reunir as equipas para o regresso. No caminho em direcção ao aquartelamento, alguns mais descontraídos, já relaxados, a conversa a alargar-se, uma granada ofensiva para cima, para lhes lembrar que nas guerras não há descansos. E nove deles para o hospital, dar trabalho ao pessoal de enfermagem, como se eles já não tivessem que chegasse, para retirar-lhe um a um, os pequenos estilhaços que lhes tinham calhado na brincadeira.

À noite, cross até à entrada de Bissau, pelas margens da estrada, a cantarem, eu vi a BB na avenida marginal, a andar de lambreta, mas que lasca bestial…toda nua, nua, nua, toda nua…volta à rotunda, para trás até Brá. Para o quarto de banho, para o chuveiro, para onde há-de ser? E depois, tens alguma ideia? Ideias, não me fales em ideias, Vilaça, às vezes são tantas que até atrapalham.

Um dia, curso terminado nem há uma semana, tinha tido uma que, passados meses, ainda o moía. Fora até uma carreira de tiro que tinham improvisado, dois ou três kms para lá da base aérea. Pegara na G3, um cunhete ainda fechado, jeep na esgalha, como de costume. Mirara os alvos, garrafas de cerveja, de uísque, latas e mais latas, umas pelo chão, outras penduradas nos arames, umas atrás das outras. Do cunhete sobrara a caixa de madeira, pisava cápsulas, pelo chão mais de cinco mil de certeza, as que tinha gasto mais as que por lá tinham ficado de sessões anteriores. Depois, mais calmo, com o final da tarde a aproximar-se, sentara-se no jeep, arma com o cano a deitar fumo no banco de trás, ouvidos a zunirem, de regresso a Brá, uma brisa a dar-lhes.

Arma no quarteleiro, para limpeza completa. No dia seguinte, acordara com a voz esganiçada do Sany, nosso alfero, capitão Saraiva quer falar com o senhor.

Encontrou o capitão no gabinete às voltas com um relatório. Os bons dias amigáveis que dera não tiveram resposta, se calhar não ouviu, embrulhado com a papelada, nada que fosse da especialidade do Sariava.


Cap Maurício Saraiva, idolatrado e odiado. Um mal amado em Brá.1965

Viu-o levantar-se, o olhar de poucos amigos, e o que ele tinha para lhe dizer. Uma G3 na mão, o capitão disparou, quem foi o asno que fez esta merda?

Olhei para a arma, era a minha. Um pequeno lanho na ponta do cano, sem tapa chamas. Não foi um asno, fui eu, a arma é a minha, não, não há dúvida, é mesmo a minha, admitiu depois de ter passado os dedos pela racha.

Ora bem, os olhos do cap dentro dos óculos, como é que o alferes quer resolver isto?

Vou pagar, tem que ser, olhos nos óculos. Pagar vai, isso está fora de dúvidas, agora vamos ver como quer pagar, não é? Claro que há, aqui há sempre alternativas, responde o capitão.

A expulsão ou um par de chapadas, a escolha é sua!

Chapadas, expulsão?"



Guiné > Brá > 1965 > Os 4 Grupos de Comandos, sob o comando do Cap Nuno Rubim.

A expulsão é pública, sabia-o bem, já a fizera a um cabo. Os grupos formados em sentido, o clarim, o cabo em frente a tremer todo, escolta ao lado, a nota de expulsão em voz alta, o chefe de equipa a arrancar-lhe o crachá, os distintivos, o lenço, a entrega da guia de marcha para o QG, a escolta a conduzi-lo à porta de armas, esta a fechar-se, tudo seguido.
O par de chapadas devia ser em privado, mas mesmo assim, chapadas? Na cara?

Não sabia o que fazer, as alternativas não eram fantásticas. Vou pensar, meu capitão. Boa ideia, mas aqui e agora, alferes. Ficamos aqui os dois, até se decidir.

Ao lembrar-se como tudo terminara saiu-lhe uma gargalhada. O nariz a ferver, um abraço e o convite para jantar no Grande Hotel." (...)


Texto e fotos: Tantas Vidas, Blogue de Virgínio Briote, Lisboa

Guiné 63/74 - P2457: O Nosso Livro de Visitas (5): Carlos Mendes, ex-Fur Mil Art, 24.º PELART (Guidaje e Bissau, 1970/72)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Mendes:

Amigo Luís Graça:

Escrevo ao fim de alguns meses de consultas quase diárias ao nosso blogue.

Estive na Guiné em 1970/72 como Fur Mil Art no 24.º PELART adido à CCAÇ 3 em Guidaje e posteriormente no GA7 em Bissau.

Enviarei fotos logo que possível.
Um abraço.

PS: Gostaria de enviar um abraço ao amigo e colega de profissão Luís Candeias.

Subscrevo-me:
Carlos A. M. Mendes
greyeagle316@hotmail.com

2. Comentário de CV

Caro Carlos Mendes:

Podes considerar-te desde já Tertuliano de pleno direito na nossa Tabanca Grande.

Instala-te na Caserna onde te der mais jeito. Tens de cumprir unicamente as nossas dez normas de conduta já que o RDM aqui não é lei.

Como somos todos camaradas, pisámos o chão da Guiné e deixámos para segundo plano os Postos que tivemos na tropa, tratamo-nos por tu.

Esperamos as tuas fotos e algumas estórias da tua actividade como artilheiro.

Recebe um abraço de boas vindas dos editores e dos tertulianos em geral

Guiné 63/74 - P2456: Em busca de... (17): Informações sobre a CCAÇ 1587 (Joel Pinto / Carlos Silva / Benito Neves)

Cachil> Ilha do Como> 1966> Um abrigo

Cachil> 1966> Interior do Aquartelamento

Fotos: © Benito Neves (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem de Joel Pinto, filho do nosso camarada António Patrício Pinto

Bom dia Ex.mo. Sr. Luis Graça:

Venho por este meio tentar pedir uma ajuda sobre o que procuro. Meu nome é Joel Pinto, tenho 24 anos e sou filho de António Patrício Pinto, ex-combatente da CCAÇ 1587, Guiné 1966-1968.

Eu pretendia o seguinte, todos os anos a CCAÇ 1587 realiza o almoço de convívio, este ano de 2008 calhou ao sr. meu pai organizar o convívio que será dia 3 de Maio, em Vila Nova de Gaia. Solicitou a minha ajuda para lhe ser mais fácil, o que aceitei de imediato e com enorme prazer.

Então, vim logo pesquisar sobre a CCAÇ 1587, Guiné 1966-1968, encontrei de imediato o endereço da sua web page. Contém imensa informação e em muitos aspectos, porém, não encontrei nada sobre a Companhia onde batalhou o sr. meu pai. Supondo que o sr. Luís Graça tenha acesso as muitas dessas informações que estou a tentar procurar, peço se não for muito incómodo uma pequena ajuda para eu tentar recolher o máximo de informação sobre a Companhia, brasão, biografias, ou mesmo uma pequena história.

Mostrei fotografias que estão no site de alguns dos locais onde eles permaneceram e logo relembraram esses momentos que só eles/vocês sabem e sentem o que passaram.

A finalidade do meu pedido será conseguir algo para mostrar aos ex-combatentes no próximo convívio, fazendo relembrar-lhes alguns desses mesmos momentos, além de, possivelmente, aumentar também a sua base de dados uma vez que não se encontra nada sobre esta Companhia.

Peço desculpa pelo seu tempo e obrigado pela sua atenção.

Admirando o seu trabalho e sem mais a comunicar, com os melhores cumprimentos,
Joel Pinto


2. Mensagem com a resposta do Blogue para o Joel Pinto:

Caro Joel Pinto:

Em relação ao pedido que nos faz, pouco ou nada podemos fazer, porque entre o pessoal da nossa Tertúlia (ou Tabanca Grande, como também lhe chamamos) não há ninguém da CCAÇ 1587.

Pesquisei a página http://guerracolonial.home.sapo.pt/, do nosso camarada Jorge Santos, na expectativa de encontrar o emblema da Companhia ou algum pedido de contacto de ex-combatentes, mas não encontrei nada.

Assim, vou lançar um mail geral pela nossa Tertúlia, no sentido de encontrar alguém que conheça outro alguém pertencente à Companhia do seu pai.

Por outro lado, se já houve encontros anteriores de ex-combatentes da CCAÇ 1587, melhor que ninguém, eles próprios poderão fornecer os elementos que procura.

Se entretanto chegar até nós alguma notícia da Companhia de seu pai, pode estar certo que a faremos chegar até si.

No nosso blogue, P2360, há uma ligeira referência à CCAÇ 1587, mas nada de relevante: "A rendição no Cachil da CCAV 1484 pela CCAÇ 1587 foi feita por fases, Gr Comb a Gr Comb, iniciada em 07/07/66" (É uma informação do nosso camarada Benito Neves, de Abrantes, que foi Fur Mil da CCAV 1484).

Apresente ao nosso camarada, seu pai, António Pinto, os nossos melhores cumprimentos.

Um abraço de
Carlos Vinhal


3. Mail de Luís Graça para Joel Pinto

Caro amigo: Estamos a pedir informação aos nossos camaradas.

Diga-nos quando é o convívio, o local, os contactos, etc., que a gente divulga.
Luís Graça

4. Mail do nosso camarada Carlos Silva com elementos muito importantes da História da CCAÇ 1587, reenviada a Joel Pinto:

Carlos:

Aqui vai o meu contributo, para esse jovem Joel.

(i) A CCAÇ 1587 teve como Unidade Mobilizadora o RI 2, por sinal, também a minha Unidade Mobilizadora;

(ii) O Comandante foi o Cap Mil Inf Pedro Eurico Galvão dos Reis Borges;

(iii) Embarcou em 30 de Junho de 1966 e regressou em 9 de Maio de 1968;

(iv) Síntese da Actividade Operacional:

Em 6 de Agosto de 1966, foi colocada em Cachil, a fim de efectuar uma Instrução de Adaptação Operacional com a CCAV 1484 e seguidamente efectuar a rotação com esta subunidade.

Em 8 de Setambro de 1966, assumiu a responsabilidade do referido subsector de Cachil, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1860.

Em 20 de Novembro de 1966, por troca com a CCAÇ 1423, iniciada a 21 de Novembro de 1966, assumiu a responsabilidade do subsector de Empada, com um pelotão destacado em Ualada, no sector do mesmo Batalhão e depois do BART 1914.

A partir de 29 de Novembro de 1967, tomou parte na Operação Quebra Vento, com vista à construção do destacamento de Gubia, guarnecido por um dos seus pelotões, a partir de 24 de Dezembro de 1967.

Em 24 de Janeiro de 1968, foi rendida no subsector de Empada pela CCAÇ 1787, tendo seguido, temporariamente, para Bolama, a fim de efectuar a segurança e protecção da visita presidencial.

Em 13 de Fevereiro de 1968 foi colocada em Bissau, na dependência do BCAÇ 2384, onde substituiu a CCAÇ 2313 na segurança e protecção das instalações e das populações.

De 8 a 15 de Maio de 1968, após chegada parcelar da CCAV 1615, foi rendida sucessivamente por esses efectivos, recolhendo então a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Obs.
Tem História da Unidade [Caixa nº. 70 – 2.ª Div/4.ª Sec. do Arquivo Histórico Militar, Santa Apolónia – Lisboa]

Este resumo consta do Livro do Estado-Maior do Exército – Comissão para o Estudo das Campanhas de África 1961-1974, Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, 7.º Volume, Tomo II Guiné, pág. 358

Para mais desenvolvimentos o Joel pode consultar a História da Unidade, no AHM e pode ir a Abrantes e pedir para tirar uma foto ao guião da Companhia.

Fotos e outras histórias só os camaradas do pai as podem contar.

Recebe um abraço
Carlos Silva

5. Mensagem do nosso camarada Benito Neves, com mais elementos históricos da CCAÇ 1587, endereçados ao nosso amigo Joel Pinto:

Os meus melhores cumprimentos ao Carlos Vinhal e uma saudação muito especial ao Joel.

Por vezes, quando ouvimos certos números, há algo que, como uma campainha, nos alerta e nos põe de sobreaviso.

Foi exactamente o que aconteceu quando li o número 1587 que, de imediato, me fez mergulhar nos meus apontamentos e é com o maior prazer que vou dar uma ajuda ao Joel.

A CCAÇ 1587, em 7 de Agosto de 1966, a nível de 1 grupo de combate, começou a render no Cachil - Ilha do Como, a CCAV 1484 que ali se encontrava transitoriamente desde meados de Julho de 1966, por ter rendido a CCAÇ 726.

Os restantes Grupos de Combate da CCAÇ 1587 permaneceram em Catió até mais tarde e participaram conjuntamente com a CCAV 1484 (que era a Companhia de Intervenção ao Sector) em diversas operações, a saber:

em 11 de Agosto de 1966, Operação "Placagem"; em 15 de Agosto de 1966, Operação "Palpite I"; Operação "Palpite II" em 27 de Agosto de 1966; Operação "Palpite III" em 04 de Setembro de 1966; Operação "Patada" em 19 de Setembro de 1966; Operação "Pileca" em 29 de Setembro de 1966; Operação "Paloma" em 13 de Outubro de 1966; na "Pórtico" em 20 de Outubro de 1966 e na operação "Pincho" em 09 de Novembro de 1966.

Nestas operações participou a Companhia de Milícias 13 que era comandada pelo então tenente João Bacar Jaló e, em algumas delas, também a CCCAÇ 763 (Mário Fitas) que se encontrava aquartelada em Cufar.

Não sei quanto tempo esta CCAÇ 1587 terá ficado no Cachil, mas aqui talvez o Victor Condeço possa dar uma ajudinha.

Tenho os relatórios oficiais das operações acima referidas. Se o Joel Pinto tiver neles algum interesse, não tenho problema em facultar-lhos. Ele que me contacte para benito.neves@pluricanal.net

Anexo 2 fotos do quartel do Cachil.

Um abraço, com amizade.
Benito Neves
ex-Fur Mil
CCAV 1484

6. Mensagem do nosso camarada Victor Condeço sobre o mesmo assunto

Meus caros camaradas:

Depois de consultar a História do BART 1913, em data alguma é referida a CCAÇ 1587.

Pelas informações do Benito Neves, ela esteve no Cachil, mas quando da sua rendição deve ter saído do sector S3 (Catió).

Presumo que terá sido rendida pela CCAÇ 1423/BCAÇ 1858 no Cachil, mas para onde foi não sei.

Sei que a CCAÇ 1423 foi rendida pela CART 1687/BART 1913 em 02 de Maio de 1967.

Com os melhores cumprimentos
Victor Condeço
Ex-FurMil
CCS/BART 1913
1967/69

Guiné 63/74 - P2455: Diorama de Guileje (4): A cozinha e o depósito de géneros alimentícios (Nuno Rubim)

Diorama de Guiledje > 2008 > A cozinha do aquartelamento, miniatura, da autoria de Nuno Rubim.


Foto: © Nuno Rubim (2008). Direitos reservados


1. Mensagem de Nuno Rubim, já enternato divulgada internamente na nossa Tabanca Grande:


Caro Luís

Agora é que me parece que serão os últimos pedidos que faço aos camaradas do blogue, que me têm e muito, ajudado na obtenção de fotografias com detalhes para a feitura do diorama de Guileje.

Desta feita preciso de fotografias onde se possam ver caixas e latões, latas e outro tipo de embalagens/recipientes, de géneros alimentícios, em madeira, metálicos ou sacas. Eram iguais para todas as unidades.

Bem sei que não será fácil, o pessoal ( incluo-me a mim próprio ) não estava p'ra aí virado, mas pode ser que tenha alguma sorte ... As miniaturas deste tipo, que eventualmente venham a ser feitas, são para colocar junto ao edifício do depósito de géneros. E como com estes se destinavam à alimentação do pessoal, já está acabada a maqueta o edifício da cozinha / refeitório de praças, de que junto uma fotografia.

Repararão num cartaz ali afixado. Foi o cozinheiro da CCAÇ 726 que o colocou, num desabafo... Tem a ver com uns tais Pastéis de Basooka (sic) cuja estória está ainda por contar ...

Quem fôr ao Simpósio vai ter oportunidade de obter uma explicação complementar sobre este assunto ... E o Pepito ( Carlos Schwarz ) diz-me que já obteve a receita ! Duvido muito, mas vamos lá ver ...

As fotos da cozinha e do cartaz foram-me fornecidas pelo camarada ex-Furriel Alberto Pires (Teco), dessa Companhia.

Um abraço

Nuno Rubim

2. Comentário de L.G.:

Nuno: O teu pedido é irrecusável e estou convicto de que a nossa malta não te/nos vai desiludir, a começar pelos nossos Intendentes que devem, por certo, ter fotos com caixas, latões e embalagens de géneros alimentícios... O teu diorama é já um sucesso e eu estou a imaginar o ronco que ele vai fazer em Guileje no próximo mês de Março...

Em troca da nossa empenhada colaboração, tu vais prometer-nos enviar uma reportagem (fotográfica) completíssima da tua obra de arte... Como é um exemplar único, vamos perdê-la... Ou melhor, os guineenses vão ganhá-la e nós vamos ter que ir ao sul da Guiné-Bissau, ao futuro núcleo museológico de Guileje, para a ver ao perto... É claro, vamos ficar todos muito orgulhosos do teu/nosso diorama... Vou já começar a fazer circular o teu pedido pela nossa rede tertuliana. Mais logo publico um poste no blogue, com foto da cozinha que está um mimo. Palmas também para o Teco, da CCAÇ 726, e, já agora, para o anónimo pasteleiro... Um abraço do Luís

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Nota de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores desta série (ou com ela relacionados):

31 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2394: Quem se lembra das cores dos bidões de combustíveis e lubrificantes ? (Nuno Rubim)

5 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2408: Sistema de cores dos bidões de Combustíveis & Lubrificantes, usados pelas NT no CTIG (Victor Condeço)

11 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2432: Diorama de Guileje (1): Geradores: Grupos Diesel Lister ou Frapil: fotos ou manuais, precisa-se (Nuno Rubim / Victor Condeço)

13 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2436: Diorama de Guileje (2): a casota do gerador Lister... Agora só faltam os torpedos bengalórios (Nuno Rubim)

15 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2441: Diorama de Guiledje (3): Torpedos bengalórios (Idálio Reis /Nuno Rubim)

Guiné 63/74 - P2454: PAIGC - Instrução, táctica e logística (8): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VIII Parte): Minas III (A. Marques Lopes)

Publica-se hoje a terceira e última parte relativa ao capítulo sobre minas e outros engenhos explosivos utilizados pela guerrilha, no CTIG. Extractos de Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado, de que nos foi enviada uma cópia, em 14 de Setembro de 2007 pelo nosso camarada A. Marques Lopes:

PAIGC - Instrução, táctica e logística (8): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VII) > UTILIZAÇÃO DE ENGENHOS (III Parte)


Revisão e fixação de texto: L.G. (As imagens digitalizadas pelo AML, a partir de um exemplar do original, têm fraca qualidade; optou-se, mesmo assim, por inseri-las, na maior parte dos casos (1).

6. Técnicas de implantação [de engenhos explosivos] detectadas na Província da Guiné


(i) Em 1 de Dezembro de 1966, o IN implantou um engenho explosivo A/C no itinerário Xime-Bambadinca, procedendo da seguinte forma:

O itinerário encontrava-se bastante danificado, principalmente na bolanha do Rio Canhala, junto ao Xime. As NT, a fim de possibilitar a passagem das viaturas e, na falta de cascalho e pedra para tapar os inúmeros buracos, obstruíram alguns com cibes. O IN, aproveitando-se dessa circunstância, colocou debaixo de um desses cibes um engenho explosivo A/C, sem possibilidades de detecção por picagem.

(ii) Em 5 de Agosto de 1968, pelas 10h07, em [?] 1615 1220 A0-74, foi levantada uma mina A/C TMD, reforçada com 2 granadas P27, uma de cada lado. As duas espoletas MUV foram escorvadas em 2 petardos de 20 gramas de trotil e colocadas ao alto, indo o armador apoiar-se directamente na cauda do percutor, estando a mina montada para ser accionada por pressão.

Em lugar da cavilha normal metálica da espoleta MUV encontrou-se uma cavilha calibrada, de madeira. O peso de qualquer indivíduo era suficiente para partir tal cavilha e accionar a espoleta, pelo que a mina assim montada funciona como anti-carro e anti-pessoal.




(iii) Em 20 de Junho de 1968, forças do BCAV 1905 verificaram que o IN, na estrada Sare Banda - Banjara [ Zona Leste] implantou 1 engenho explosivo do seguinte modo (2):



- no trilho do rodado implantou uma mina A/P e acoplada com esta uma mina A/C no centro das estrada;

- atravessados na estrada encontravam-se troncos de árvore, colocados por cima da mina A/C que aos serem pisados pelos rodados das viaturas accionariam esta mina.


(iv) Em 4 de Julho de 1969, foi levantado o engenho explosivo abaixo descrito no itinerário Madina do Boé - Cheche [, no sudeste da Guiné]:



Era constituído por uma mina A/P PMD-6 associada a uma mina A/C TMD reforçada com 2 petardos de 200 gramas de TNT. A ligação entre ambas era feita por cordão detonante. Em ambas as minas existia 1 detonador (na extremidade do cordão detonante) ligado aos invólucros das minas por uma substância deformável de cor negra. A mina A/P (que fazia actuar o conjunto) estava colocada numa das margens da estrada e a A/C no eixo da mesma. O engenho poderia, portanto, ser accionado por elementos apeados ou por viaturas.

(v) Em 19 de Dezembro de 1969, no itinerário Guidaje-Cufeu, foi accionada uma mina A/C por uma viatura após a picagem das NT.

Um elemento das NT, que seguia próximo da viatura, ao ouvir o rebentamento, lançou-se para a berma da estrada, para se instalar, fazendo accionar uma mina A/P.

Na berma da estrada, escondidas no capim, foram detectadas e levantadas 8 minas A/P.

As NT verificaram criteriosamente o local e encontraram pequenos bocados de trapo desfeitos, pelo que se supõe que a mina A/C estivesse coberta com trapos e papéis para abafar o som característico das minas na picagem para não serem detectadas.


(vi) Em 8 de Março de 1970, o BCAÇ 2893 refere que foram detectadas e levantadas no itinerário Ieromaro Delta – Madina Mandinga [, região de Gabu,] 9 minas, 1 A/C e 8 A/P, com a seguinte disposição:



A mina A/C encontrava-se implantada no rodado das viaturas e junto a uma árvore, e uns metros mais afastados estavam implantadas as minas A/P, estas fora do itinerário e em locais que têm logicamente de ser utilizados pelas NT ao saltarem das viaturas para socorrerem os feridos, no caso de ser accionada a mina A/C.

(vii) No relatório da Acção Querubim realizada em 6 de Novembro de 1970 consta terem sido detectados alguns túneis abertos sob o itinerário Nova Sintra - S. João, provavelmente para colocação de minas.

O leito do itinerário, debaixo do qual se encontram aqueles túneis, é bastante duro, o que impossibilita a detecção das minas aí colocadas pelo sistema de picagem.

É de presumir que as minas assim colocadas sejam comandadas, pois será difícil o seu accionamento por pressão.


(viii) Em 17 de Dezembro de 1970 a CCAÇ 2700 detectou 6 minas A/P em Padada 201-42 colocadas segundo o esquema que a seguir se apresenta (3):



(ix) Do relatório da Acção Salpicos realizada em 13 de Novembro de 1970 extraíu-se a seguinte técnica de implantação de engenhos explosivos pelo IN:

Durante o regresso ao aquartelamento, quando a força que havia executado a acção se deslocava por uma picada que não transitava há muito tempo e que se encontrava cheia de capim com excepção de um trilho que corria a meio dela, foi detectada e levantada uma mina A/P PMD-6, sob a qual havia uma mina A/C TM46 que, na abertura para o detonador, tinha um petardo de 100 grs. O conjunto estava reforçado com vários petardos observando-se ainda 2 tampões da mina A/C, os quais produziriam estilhaços.

Feita picagem na área, foram detectados mais dois conjuntos em todo semelhantes ao anterior, estes reforçados com uma granada de RPG2 e uma granada de mão defensiva F1, respectivamente, distanciados de cerca de 50 metros e sempre junto de árvores de grande porte, distantes de todas as outras para fácil referenciação.

A colocação dos engenhos não foi feita sobre os trilhos mas sim imediatamente ao lado.


(x) Em 13 de Janeiro de 1971, viaturas das NT accionaram 2 minas A/C no itinerário Bambadinca – Nhabijões, implantadas segundo o esquema que a seguir se refere (4):



Dos ensinamentos colhidos realça-se que o IN colocou uma mina no leito da estrada e outra na berma a uma distância que calculou ser suficientemente longe para não ser abrangida pela habitual pesquisa em redor dos engenhos explosivos detonados mas suficientemente perto para ser accionada na inversão de marcha das viaturas de socorro.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores:

4 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2327: PAIGC - Instrução, táctica e logística (6): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VI Parte): Minas I (A. Marques Lopes)

17 de Janeiro de 2008 > Guine 63/74 - P2446: PAIGC - Instrução, táctica e logística (7): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VII Parte): Minas II (A. Marques Lopes)


(2) Sobre o temível itinerário Sare Banda - Banjara que pertencia ao sector de Geba (Sector L2, Zona Leste), há vários postes do A. Marques Lopes (que foi Alf Mil da CART 1690, Geba, 197/68): vd. por exemplo:

25 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXIV: O ataque ao destacamento de Banjara (1968) (1) (A. Marques Lopes)

30 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXXIII: A morte no caminho para Banjara (A. Marques Lopes)

5 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLVI: Em memória dos bravos de Geba... (A. Marques Lopes)
10 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1745: Eu e o meu capitão e amigo Guimarães, morto aos 29 anos, na estrada de Geba para Banjara (A. Marques Lopes, CART 1690)

10 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2424: Álbum das Glórias (37): Os alferes da CART 1690 ou uma estória de amizade e camaradagem a toda a prova (A. Marques Lopes)

(3) Vd. 15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial

(4) Vd. postes de:
23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971) (Luís Graça)


(...) "O dia 13 seria uma data fatídica para as NT, e em especial para a CCAÇ 12 cujos quadros metropolitanos estavam prestes a terminar a sua comissão de serviço em terras da Guiné. Eis o filme dos acontecimentos:

"(i) Às 5.45h o 1º Gr Comb detectou, durante a batida à região de Ponta Coli, vestígios dum grupo IN de 20 elementos, vindos em acção de reconhecimento aos trabalhos da TECNIL na estrada Bambadinca-Xime e locais de instalação das NT.

"(ii) Às 11.25h, na estrada de Nhabijões-Bambadinca, uma viatura tipo Unimog 411, conduzida pelo Sold Soares (CCAÇ 12) que ia buscar [a Bambadinca] a 2ª refeição para o pessoal daquele destacamento, accionou uma mina A/C.

"0 condutor teve morte instantânea. Ficaram gravemente feridos 1 Oficial (CCS / BART 2917)[Alf Mil Moreira] , 1 Sargento (Fur Mil Fernandes/CCAÇ 12) e 1 Praça (CCS / BART 2917).

"(iii) Imediatamente alertadas as NT em Bambadinca, o Gr Comb de intervenção (4º, CCAÇ 12) recebeu a missão de seguir para o local a fim de fazer o reconhecimento da zona, enquanto outras forças acorriam a socorrer os sinistrados.

"Ao chegar junto da viatura minada, o Cmdt do 4° Gr Comb [Alf Mil Rodrigues] (b) deixou duas praças a fazer a pesquisa, na estrada e imediações, de outros possíveis engenhos explosivos, no que foram apoiados por alguns elementos do destacamento, seguindo depois uma pista de peugadas recentes, detectadas nas proximidades, e que se dirigiam para a orla da mata.

"Aqui, a 50 metros da estrada, atrás duma árvore incrustada num baga-baga, encontraram-se vestígios muito recentes. Seguindo os rastos através da mata, foi dar-se à antiga tabanca de Imbumbe [um dos cinco núcleos populacionais de Nhabijões, agora transferidos para o reordenamento], mas nas proximidades do reordenamento (Bolubate) aqueles passaram a confundir-se com os do pessoal que trabalha na bolanha.

"(iv) Regressado ao local das viaturas, o Gr Comb pelas 13.30h recebeu ordens para recolher, tendo o pessoal tomado lugar no Unimog e na GMC em que tinha vindo. Esta última [onde vinham as secções, comandadas pelos Fur Mil Marques e Henriques] , entretanto, ao fazer inversão de marcha, e tendo saído fora da estrada com o rodado trazeiro, accionaria uma outra mina A/C colocada na berma, a 10 metros da anterior, e que não havia sido detectada pelos picadores.

"Em resultado de terem sido projectados, ficaram gravemente feridos o Fur Mil Marques e os Sold Quecuta, Sherifo, Tenen e Ussumane. Sofreram escoriações e traumatismos de menor grau o Alf Mil Rodrigues, o Sold Trms Pereira e os Sold Cherno e Samba" (...).


2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXIX: E de súbito uma explosão (Luís Graça)

(...) "E de súbito uma explosão. O sol dos trópicos desintegra-se. O céu torna-se bronze incandescente. O mamute de três toneladas dá um urro de morte ao ser projectado sob a lava do vulcão. E depois, silêncio... Era uma hora e meia da tarde quando o meu relógio parou, na estrada de Nhabijões-Bambadinca" (...).

Guiné 63/74 - P2453: O que fazia um militar da ferrugem como eu ? (Victor Condeço, ex- Fur Mil Mec Armamento, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69)

Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART 1687 (1967/1969) > 21 de Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 10 > "O Fur Mil Victor Condeço numa das suas inspecções ao armamento, verificando uma G3 no aquartelamento de Cufar em Setembro de 1967, veja-se a improvisação da mesa com o tampo feito de um cunhete de munições 7,62 e os pés feitos de aduelas de barril".


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/ BART Álbum fotográfico de Victor Condeço > F05 > 1 de Agosto de 1967 > GMC reconstruída em Catió a partir de duas outras que estavam na sucata e abatidas. Repare-se na falta da matrícula que oficialmente e por motivos óbvios não podia existir.

Com tanto pessoal civil e militar na pista, algo de importante se deveria passar... não recordo o quê. Recordo no entanto alguns dos aqui presentes, em cima da esquerda para a direita o Fur Mil Arménio, ?, o Sold Poupinha, o Fur Mil Pires; ao volante o madeirense Fur Mil Freitas, a seu lado o condutor auto ?, e em baixo o Fur Mil Cabrita.

Fotos e legendas: © Victor Condeço (2008). Direitos reservados.

1. Texto do Victor Condeço (1), com data de 13 de Janeiro

Meu caro Luis,

Saúde e boa disposição.

Não querendo tomar muito do teu precioso tempo, venho apenas dizer-te que li o post P2431, fiquei admirado pela publicação do mesmo, pois que não era esse o propósito ao tentar dar uma ajuda ao Nuno Rubim.

Gentileza tua aproveitar uma coisa sem importância, mas já que entendeste assim, obrigado pelo que escreveste, gostei da tua prosa sobre o pessoal da ferrugem.

É verdade! O pessoal do Serviço de Material era tido como uns sortudos e olhados com algum sobranceirismo, por estarem dispensados de actividades operacionais e até fora de algumas escalas de serviços, por isso também ouvíamos umas bocas.

Mas havia excepções, dependendo dos comandantes das unidades onde estávamos inseridos, isso motivou a Nota-Circular 10347/A de 16JUN67 da 1º REP do QG do CTIG, com recomendações para o escrupuloso cumprimento das disposições constantes de O.E. nº 6, 3ª Série de 28FEV58 e da Circular nº7994 de 14ABR65 da Rep. Of. /DSP.

No meu caso particular, fiz de tudo um pouco, só nunca alinhei no mato.

O tempo que me sobrava não era muito, pois tínhamos por todo o sector mais de um milhar de armas ligeiras e pesadas para dar assistência.

Só em Catió chegámos a ter além da CCS, duas Companhias de Intervenção, uma Companhia e mais dois Pelotões de Milícia e ainda 4 pelotões (Morteiros, Canhões S/R, Rec Daimler e Artilharia).

No sector existiam ainda mais 4 Companhias, em Cachil, Cufar, Bedanda e Cabedu, respectivamente, com uns quantos pelotões de Milícia, Morteiros e Canhões S/R...

Para além das funções próprias da especialidade e em que era coadjuvado pelos 1º Cabos Neves e Camarinha, fui encarregado de tratar de toda a papelada relacionada com o armamento da CCS, folhas de carga, notas e requisições, autos de ruína prematura, de extravio e de incapacidade.

Como se isso não fosse suficiente fui nomeado escrivão da Secção de Justiça e mais tarde por falta de pessoal fui integrado na secção de Reabastecimentos e Pessoal, cujo chefe era também um homem da ferrugem, o Alferes Garcia do Pelotão de Manutenção do S.M., onde fiquei com a missão de elaborar os SITMUN, os SITARM, etc. e receber os meios aéreos na pista de aviação.

Para culminar acabei por ser integrado na escala de Sarg Dia.

Valeram-me as normas que acima citei, para nunca ter participado em acções operacionais, embora vontade não faltasse ao Capitão Botelho, que era dos tais comandantes que achavam que os especialistas do S.M. deviam estar disponíveis para tudo.

Aqui para nós acho que até estávamos, pelo menos aqueles com quem convivi naqueles quase 22 meses de comissão.

Embora estivesse instituído um horário de trabalho para as diversas secções, era comum encontrar pessoas a trabalhar noite adentro: no meu caso ultimando papelada que deveria seguir no avião da manhã seguinte, o Pires, Fur Mil Radiomontador, que na sua tabanca com o seu adjunto labutava de volta dos rádios que deveriam estar operacionais para a próxima saída, que poderia ser nessa madrugada.

Também o Sargento Dias Mecânico Auto e o seu pessoal merecem aqui ser referidos, pois apesar de todas a dificuldades na obtenção de sobressalentes para as viaturas, conseguiram com arte, engenho e dedicação, recuperar e manter operacional um parque de viaturas que estavam inoperacionais aquando da nossa chegada, a maioria já abatidas e consideradas sucata.

Naquela guerra todos demos o nosso contributo, uns lutando de arma na mão e arriscando a vida no mato, outros nos quartéis cuidando dos meios e das condições para que aquela luta fosse menos arriscada e bem sucedida para todos nós.

Acabei por me alongar, mas como diz o provérbio “no comer e no falar a demora é no começar”, desculpa.

Luís, um dia chegará que nos havemos de conhecer pessoalmente e dar um abraço de quebra costelas...

Enquanto esse dia não chega, vai mais um abraço virtual muito forte.

Victor Condeço
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Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)

Guiné 63/74 - P2452: Tabanca Grande (53): Luís Candeias, Ex-Fur Mil Inf (BII 18 e BII 19, Açores e Madeira, 1973/74



Luís António Ricardo Candeias, ex-Fur Mil Inf (BII 18 e BII 19, Ponta Delgada e Funchal, 1973/74)




1. Mensagem de Luís Candeias, da Ilha de Santa Maria, Região Autónoma dos Açores, onde é controlador de tráfego aéreo, enviada em 7 de Janeiro de 2008:

Sou um visitante assíduo deste Blogue. O meu nome é Luis António Ricardo Candeias.

Sou natural e residente na Ilha de Santa Maria, nos Açores, onde exerço a actividade de Controlador de Tráfego Aéreo.

Sou conterrâneo e amigo do Arsénio Chaves Puim, (aqui mencionado nalguns textos por ter sido capelão militar na Guiné) e afastado pelas suas ideias e coerência (1).

Visito este blogue em busca de notícias de companheiros e amigos desses terríveis tempos da Guerra do Ultramar.

Tenho hesitado em contactar-vos porque, não tendo sido mobilizado para a guerra, não me sinto no direito de me intrometer nas histórias e sofrimento que apenas conheci no conforto do B.I.19 (Funchal), destacamento militar do Porto Santo, no e B.I.18, Ponta Delgada. [...]

2. Mensagem do co-editor CV no dia 18 de Janeiro 2008 para Luís Candeias

Caro Luís Candeias

Incumbiu-me o Luís Graça de te comunicar a nossa decisão de te considerar como nosso tertuliano, não na qualidade de ex-combatente da Guiné, mas como amigo e colaborador do nosso (já teu) Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

A tua acção, em tão pouco espaço de tempo, deu mais frutos do que diversas tentativas, feitas ao longo dos últimos tempos, para trazer até nós o ex-capelão da BART 2917, Arsénio Puim.

Cada amigo que conseguimos, é uma mais valia para o nosso Blogue e a certeza de que o trabalho gigantesco do Luís não é em vão. Temos a certeza de que, à nossa maneira e com as nossas limitações, estamos a fazer história, não deixando caír no esquecimento o esforço colectivo da nossa geração e das nossas famílias que, na retaguarda, sentiram também o efeito da guerra.

Muito obrigado por nos leres e por colaborares nesta tarefa que, afinal, não compete só aos ex-combatentes.

Em nome do Luís Graça, do Virgínio Briote e de mim, recebe um abraço.

Carlos Vinhal
Leça da Palmeira


3. Mensagem de Luís Candeias, também do dia 18 de Janeiro:

Caro Carlos

Como te deve ter comunicado o Luís Graça, eu tenho muito gosto em colaborar convosco mas sinto-me um intrometido, porque não sofri os amargos da Guerra Colonial a não ser na angústia da espera pela mobilização, ao contrário do que aconteceu convosco.

Encontrei o Vosso blogue na ânsia de ler alguma coisa que me pudesse levar aos meus companheiros que foram parar a Jemberém.

Para minha surpresa vi os relatos e a história da vossa relação com o meu amigo e ex-capelão Arsénio Puim, cuja história eu também já conhecia. Isso permitiu pôr-me em contacto com o Arsénio e com a Leonor, o que já não acontecia há algum tempo por termos residência fixa em Ilhas diferentes.

Agradeço a vossa abertura em relação à minha intromissão na vossa conversa e estarei sempre ao vosso dispôr para tudo aquilo que acharem que pode ajudar este vosso muito meritoso trabalho.

Pode ser que um dia destes nos possamos encontrar uma vez que Leça da Palmeira e a Ramada Alta não ficam muito distanciadas e tenho aí um apartamento.

Um abraço açoreano

Luis Candeias
Ex-Furriel Mil Inf
(1973/74)

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Nota de CV:

(1) Vd. postes anteriores:

8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2421: Em busca de... (15): Pessoal da companhia madeirense que esteve em Jemberem (1973/74) (Luís Candeia, amigo do Arsénio Puim)

12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2433: Em busca de ... (16): Pessoal da CCAÇ 4946/73, madeirense + Arsénio Puim, ex-capelão, açoriano, BART 2917 (Luís Candeias)

16 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2444: Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão, CCS/BART 2917, hoje enfermeiro reformado e um grande mariense (Luís Candeias)