domingo, 9 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2621: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (3): Pequeno-almoço no Saltinho, a caminho do Cantanhez




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 1 de Março de 2008. Saltinho, na Estrada Bissau - Mansoa - Bambadinca-Saltinho - Quebo - Gandembel - Guileje. Paragem no Saltinho, no Clube de Caça, para tomar um segundo pequeno-almoço reforçado. Que a viagem é longa até ao Guileje (chegada prevista às 12h30), no âmbito do programa social do Simpósio Internacional Guiledje Na Rota da Independência da Guiné-Bissau (1) Enquanto se come, pode-se ouvir em silêncio, na margem direita do Rio Corubal, a água que corre nos rápidos do Saltinho. Na volta, quero ver os rápidos de Cusselinta.



Guiné-Bissau > Bissau > 1 de Março de 2008 > Concentração da caravana automóvel por volta das 7h00. A caminho do sul do país. Esperamos chegar a Guileje daqui por 5 horas e meia, com quatro paragens (Saltinho, ponte Balana, Gandembel, Corredor de Guileje).

O Rio Coruabl no Saltinho continua a ser, quarenta anos depois, um deslumbramento. Mesmo na época seca. Vim aqui apenas um ou duas meses, integrado em colunas logísticas que partiam de Bambadinca (Sector L1 / Zona Leste) e traziam os abastecimentos indispensáveis aos nossas tropas e populações estacionadas em Mansambo, Xitole e Saltinho. Em geral, íamos até ao Xitole que depois fazioa chegar os respectivos abastecimentos aos seus vizinhos do Saltinho (que pertenciam já a outro sector, o L5, sediado em Galomaro.


Mercado local, improvisado, antes da Ponte do Saltinho. As populações locais são céleres a reagir às notícias de chegada de turitas... Notícias que agoram chegam num instante, através do telemóvel bem como das rádios e televisões comunitárias....



Paragem no Saltinho às 9h30 para um segundo pequeno reforçado...





O Paulo Santiago, que esteve aqui a comandar o Pel Caç Nat 53, conversa com um diplomata português, o nº 2 da Embaixada de Portugal em Bissau.... Em segundo plano, o o Julião Soares e o Pepito.

Os três Gringos de Guileje nunca tinham andado por aqui, segundo creio...

Estamos no chão fula... Vê-se elas tabancas e as cabeças de gado que agora pastam nas bolanhas... Não há fula que não tenha uma história de colaboração com as autoridades coloniais portuguesas: como polícias administrativos, como milícias, como militares...

Uma imagem pouco usual no meu tempo: uma mulher com dois gémeos... Não sei qual é hoje a prevalência do infanticídio...


A Francisca Quessangue, esposa do Roberto, presidente da Assembleia Geral da AD, é uma doçura de pessoa. E, no entanto, tinha todas as razões para ter ódio no seu coração: o pai foi morto, com três tiros, friamente, por tropas africanas, por se recusar a denunciar os camaradas da guerrilha do PAIGC... Uma tia dela que estava grávida e que assistiu, aterrorizada, a esta cena, escondida por detrás de uma árvore, teve um aborto espontâneo. O pai da Francisca era papel, da região de Bissau. Viveu no mato, onde ela cresceu. Tinha responsabiliddaes políticas, não era combatente. A Francisca estudou enfermagem na ex-União Soviética. Estava num hospital de rectaguarda, na fronteira, aquando do ataque a Guileje. Hoje é enfermeira no Hospital Regional do Gabu. É uma das oradoras do Simpósio. Vai fazer uma comunicação sobre "os aspectos sanitário-logísticos do PAIGC no assalto ao quartel de Guiledje", dia 6 de Março. Ostenta uma T-shirt com uma campanha da Unicef Semana Nacional de Amamentação. Hoje na Guiné-Bissau as jovens mães já não querem dar de mamar aos seus filhos, por razões estéticas...



À entrada do Clube de Caça: A Isabel e a Alice... Em segundo plano, uma jovem cooperante portuguesa, licenciada em Relações Internacionais, conversa com um africano... Adora a Guiné e o seu povo. É natural do concelho de Seixal. Não fixei o seu nome.


O Patrick Chabal foi dar uma volta para ver mais de perto o Corubal, o único verdadeiro rio da Guiné, como defendia o seu biografado, o Amílcar Cabral.

O Coronel Art Ref Nuno Rubim conversa com um antigo milícia ou militar de uma companhia de caçadores, africana... Se bem me lembro, era no Quebo. Talvez a CCAÇ 18.

O António Camilo, algarvio de Lagoa, é com o o Xico Allen um dos campeões das viagens à Guiné. Gosta tanto deste país que cá já construiu uma morança, no Clube de Caça do Saltinho, mesmo em cima do Corubal. Ei-lo aqui à porta de casa. Com o seu amigo Carlos Silva (em primeiro plano).

O Pepito está atento à caravana que vai retomar a marcha... Por detrás da realização do Simpósio Internacional de Guileje há uma logística impressionante, de que os participantes a pouco e pouco se vão dando conta...



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Fevereiro de 2005 > Memorial da CCAÇ 2406 (Os Tigres do Saltinho, 1968/70) (à direita, numa foto do Paulo Santiago) (2); o mesmo memorial, à esquerda, muito mais degradado, em 1 de Março de 2008...

Fotos, vídeo, legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. No percurso entre Bissau e Saltinho, não tomei grandes notas. Nem tirei fiotos. A caravana seguia a boa velocidade. Fui em estrada alcatroada, ao longo do Geba, por sítios que não conhecia, com belíssimas bolanhas, sobretudo na região de Mansoa. No meu tempo, esta estrada, a norte do Geba, estava interdita. Para a Zona Leste ia-se de barco, até ao Xime, até Bambadinca, até mesmo a Bafatá...

Noto que as estradas modernas, como em toda a parte, atraiem as populações... Há mais tabancas, com maior risco de acidentes, à beira do caminho. Uma das nossas viaturas passou por cima de um cabrito. Ninguém porém parou. Há um membro do governo na caravana e leva escolta policial. Há também uma deputada, antiga combatente da liberdade da pátria...


Passo pela bolanha de Finete, agora com direito a tabuleta. Passo em Mato Cão e o Rio Geba Estreito ali tão perto... Imagino um comboio de barcos da Casa Gouveia a aparecer na curva do rio... E nós ou o PAIGC, emboscados. Passo ao largo de Bambadinca, sem aparente emoção. Mas tenho um pensamento positivo ao lembrar os velhos camaradas que andaram por aqui comigo...

Cortamos para o sul, mais à frente, perto de Santa Helena, se não me engano...

Não dou conta de passar por Mansambo: do Xitole, retive apenas a fachada de uma mesquita que não existia no meu tempo... Entrevejo as ruínas do Xitole... Passo pelo Rio (seco) de Jagarajá e por Cambesse onde, em 15 de Maio de 1974, teriam morrido os últimos  portugueses em combate, segundo o José Zeferino (3)... A estrada antiga passava ao lado...

2. A viagem vale pelo Saltinho, que revisito, o Rio Corubal, as lavadeiras do Corubal... Mas já não há a tensão dramática que percorria a fiada de palmeirais ao longo do Rio, no tempo da guerra... 

Há também maior desflorestação nesta zona. Os cajueiros são uma praga, na Guiné-Bissau. As bolanhas tendem a ser abandonadas ou a transformar-se em campos de cajueiros... Uma armadilha mortal para os guineenses, para a sua economia, para o seu futuro... O arroz continua a ser a base da alimentação do guineense, de Bissau a Bafatá... Arroz que é importado, em grande parte.
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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores:
8 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2618: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (1): Regresso a Bissau, quatro décadas depois...

9 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2620: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (2): O Hino de Gandembel, recriado pelos Furkuntunda

(2) Vd. poste de 30 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P926: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (3): Saltinho e Contabane


(3) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2588: Historiografia de uma guerra (3): a última emboscada do PAIGC, na ponte do Rio Jagarajá, em 15 de Maio de 1974 (José Zeferino)

Guiné 63/74 - P2620: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (2): O Hino de Gandembel, recriado pelos Furkuntunda

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 29 de Fevereiro de 2008 > Actuação do grupo musical Furkuntunda (1) que animou a nossa primeira noite em Bissau, na sequência do cocktail oferecido a todos os inscritos no Simpósio Internacional de Guiledje pela Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria e Presidente do Comité Interministerial de Pilotagem das Comemorações do 35 Aniversário da Morte de Amílcar Cabral, Senhora Isabel Mendes Correia Buscardini. Foi a primeira de uma série de dias e noites memoráveis (2)...

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 29 de Fevereiro de 2008 > A anfitriã, dando as boas vindas a todos os convidados, e em especial aos estrangeiros, a Senhora Isabel Mendes Correia Buscardini, Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria e Presidente do Comité Interministerial de Pilotagem das Comemorações do 35 Aniversário da Morte de Amílcar Cabral... Ao longo da semana irá acompanhar uma série de actividades previstas no âmbito do Simpósio Internacional de Guileje, incluindo a visita ao sul da Guiné-Bissau, nos dias 1 e 2 de Março de 2008 (fim de semana).

O grupo musical Furkuntunda, uma das revelações do ano de 2007... É constituído por talentosos jovens do Bairro do Quelélé, de Bissau. Já aqui divulgámos, no nosso blogue, um vídeo clip do grupo (Djunta Mon, 5 m 39 ss), produzido pela TV Klele (1).

O vocalista do grupo dos Furkuntunda deitou fogo à savana e pôs os tugas a correr... Infelizmente não fixei o nome dele...

O nosso querido amigo e camarada Zé Teixeira cantando o Hino de Gandembel com o vocalista dos Furkuntunda... Uma belíssima parelha! Que pena não poderem estar o Idálio Reis e o António Almeida, da CCAÇ 2317 (Gandembel/Balana, 1968/69)...

A Senhora Isabel Miranda, presidente da Direcção da AD e coordenadora do Simpósio, dançando com o cubano Ulisses Estrada, antigo combatente nas fileiras do PAIGC, em 1966... O Ulisses era o único representante de Cuba, para além de Oscar Oramas, antigo embaixador em Conacri, ainda no tempo de Amílcar Cabral... Na foto reconhece-se ainda o Zé Teixeira, de mão dada com um antigo combatente do PAIGC, e com um Gringo de Guileje, o Sérgio Sousa... Julgo ter visto o embaixador de Cuba e a a esposa nesta simpatíquíssima festa oferecida pelos nossos amigos guineenses... Não consta que o nosso representante diplomático estivesse presente. Aliás, durante toda a semana ignorou sistematicamente os seus compatriotas que vieram participar no Simpósio e que, até pelo seu número, deram nas vistas em Bissau (ou, pelo menos, nos restaurantes de Bissau, que são os únicos sítios frequentados pelos estrangeiros)...

O António Pimentel, ao fundo, alteirão, no meio de uma juventude, bonita e divertida... O António, como os nossos restantes compatriotas, estava encantado com a recepção e com pena de ter de voltar de novo a casa, e para mais de jipe...


O vocalista dos Furkuntunda é um também uma excepcional animador: ei-lo aqui, à esquerda, arrasando a plateia e contagiando todo o mundo, incluindo os cotas que vieram de Portugal...


Fotos, vídeo, legendas e texto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça): O Hino de Gandembel ganta outra batida, na versão dos Furkuntunda


O convite, personalizado, falava em traje formal... E era feito pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Cooperação Internacional e das Comunidades... Os guineenses vinham trajados a rigor. Eles e elas. Rapidamente conclui que há bons costureiros em Bissau e sobretudo bom gosto, aliando-se o moderno ao tradicional... Os tugas e os demais estrangeiros tiveram que improvisar... Lá se compuseram com os trapinhos que traziam nas malas.

A noite era quente e convidava ao convívio, à partilha, à alegria, à dança... Eu, pelo sim pelo não, tinha levado uma gravata, que nunca cheguei a usar, mesmo quando, já no penúltimo dia, fui integrado numa comitiva de antigos combatentes portugueses a uma audiência com o senhor 1º Ministro e, logo a seguir, com o senhor Presidente da República... Como bons africanos, os guineenes gostam do ronco, mas não são formais como os angolanos.

A grande surpresa da noite foi quando os Furkuntunda (em dialecto local, Levanta Poeira) subiram ao palco e ouviram-se os primeiros acordos, de trompete, do Hino de Gandembel !... Foi a primeira grande surpresa com que o Pepito e a organização nos brindou... O vocalista do grupo musical do Bairro do Quelélé (ou Klélé) fez gato sapato da música e da letra , e deu-nos uma versão africana, guineense, fabulosa, irreverente, do Hino da CCAÇ 2317 (Gandembel/Balana, Abril de 1968/Janeiro de 1969) (3)... Não há dúvida, que o Hino ganhou outra batida, outro ritmo...

Estalou o verniz dos tugas e, a pouco e pouco, uma boa parte do pessoal - guineense, tugas e demais convidados - estava na pista de dança, a mostrar que não há fronteiras entre os homens e as mulheres de boa vontade, apesar da guerra, no passado, que os dividiu, ou das diferenças culturais e linguísticas que modelam as suas atitudes e comportamentos...

Infelizmente as condições de luz ambiental, no recinto, junto à piscina do hotel, eram muito fracas, o que retira qualidade aos microfilmes que fizemos. O que reproduzimos acima permite ter uma ideia do ambiente fantástico daquela noite, que teve que acabar relativamente cedo, antes da meia noite, já que a jornada do dia seguinte era longa e pesada (partida, às 7h00, em caravana, para uma visita ao sul da Guiné-Bissau, com regresso na segunda-feira, dia 3).

A comida e a bebida estiveram à altura do acontecimento, se bem que os tugas, tratando-se do primeiro dia na Guiné-Bissau, ainda estivessem a pensar duas vezes antes de meter qualquer coisa à boca... É o que faz ir à consulta do viajante... No dia seguinte, irão esquecer todas as recomendações sanitárias, alegando que quem não arrisca, não petisca... Deve-se dizer que, em geral, durante toda a semana não houve problemas de saúde de maior, para além de uma ou outra diarreia do viajante...

É ainda de referir a actuação do Anastácio de Djens, outra das grandes vozes (masculinas) da música de hoje. Haveremos de voltar a falar dele, da sua música e das suas letras contestárias... Anastácio é uma voz contra o cinismo do sistema, o politicamente correcto e o beco sem saída dos jovens guineenses, sobretudo a partir do Golpe de Estado de 1998. O seu tema musical N' cansa tchora Guine (Em inglês, qualquer coisa como Don't Cry, Guinea-Bissau) é fortíssimo e é mais uma das produções da TV Klele. Apoiada pela AD - Acção para o Desenvolvimento, esta televisão comunitária está a ser um alfobre de novos talentos musicais.

A Alice, a Diana e o casal Quessange: Roberto (presidente da Assembleia Geral da AD - Acção para o Desenvolvimento - e antigo Secretário de Estado dos Recursos Naturais no governo que caiu com o golpe de Estado de 1998); e Francisca (antiga enfermeira do PAIGC, actualmente enfermeira no Hospital Regional do Gabu). O Roberto Quessange tem muitos amigos em Portugal, país de que gosta muito. Foi uma presença constante ao longo da semana, ele e a esposa.

Já agora aqui ficam apresentados os Corpos Sociais da AD - Acção para o Desenvolvimento para o Biénio 2006–2008, alguns dos quais passei a conhecer pessoalmente:

Mesa da Assembleia Geral - Presidente > Roberto Quessangue; Vice Presidente > Alfredo Simão da SilvaSecretária: Eurizanda Rodrigues.

Direcção - Presidenta: Isabel Miranda; Director Executivo: Carlos Schwarz [Pepito]; Tesoureiro: Tomane Camará; Vogal para os Programas de Crédito: Maria da Conceição Vaz; Vogal para os Programas de Educação: Domingos Fonseca; Vogal para os Programas de Comunicação: Maimuna Cassamá; Vogal para os Programas de Desenvolvimento: Abubacar Serra.

Conselho Fiscal - Presidente: Nelson Dias; Secretário: Aristídes Ocante da Silva.



Não faltaram iguarias no cocktail oferecido pela Senhora Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria... (Que título tão bonito!),

O Armindo Ferreira, antigo combatente português (e hoje empresário em Moreira de Cónegos, Guimarães) e o espanhol Josep Sanchez Cervelló, um dos oradores do Simpósio. Ao fundo, o Sérgio Sousa, ex-Furriel Miliciano Atirador da CCAÇ 3477, Gringos de Guileje (1971)

Caras e vozes bonitas... Elementos (femininos) do Grupo de Teatro Os Fidalgos que irão animar o sarau cultural de 4ª feira, dia 5, no Centro Cultural Franco-Guineense... Aqui o Pepito pediu a uma das actrizes para mostrar os seus dotes vocais... Infelizmente não tomei nota do seu nome, mas o Pepito garante-me que é uma das melhores vozes (femininas) da Guiné-Bissau... Não tenho dúvidas, a avaliar só pela amostra...

Neste convívio, também estaca o Jorge Quintino Biaguê, que tive o prazer de conhecer pessoalmente, e que também faz parte da vasta equipa da AD - Acção para o Desenvolvimento: é actor de teatro e animador do Centro de Intercâmbio Teatral de Bissau (CIT) e coordenador do grupo teatral Os Fidalgos. O trabalho deste grupo de gente talentosa e generosa merece ser melhor conhecido em Portugal.

Uma noite agradável, de que todos levamos boas recordações: à esquerda, o Luís Moita e o Costa Dias; ao fundo, ao centro, o Francisco Silva (foi alferes miliciano, na CART 3492, Xitole, 19723/73 e depois na CCAÇ 51); à direita, o Paulo Santiago (ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 53, Saltinho,1970/72) e , em primeiro plano, um outro camarada, cujo nome me escapa (será o Armando Gonçalo Silva Oliveira, do BART 6520 ?).

Ao centro, um antigo guerrilheiro do PAIGC que tomou parte no cerco e assalto ao quartel de Guileje, e hoje oficial da Marinha guineense, Fefé Gomes Cofre, ladeado pelo Zé Teixeira (à esquerda) e o Coronel Coutinho e Lima (à direita), sob o olhar atento da Maria Alice. Riu-se muito quando lhe falei das suas parecenças físicas com o futebolista brasileiro Roberto Carlos, do Real Madrid...

A Maria Alice e a Isabel Levy Ribeiro, esposa do Pepito, que está a fazer um doutoramento em Espanha. Também faz parte da equipa da AD - Acção para o Desenvolvimento: "Desenvolvo actividades no domínio da educação e formação, apoiando o Centro de Animação Infantil e o Forum das Escolas Populares de Quelelé, através de concursos inter-escolas ligados a temas ambientais; no Norte trabalhando com as Escolas de Verificação Ambiental na produção dos Cadernos de Campo “Ambiente”; e nos programas de formação, de planeamento e coordenação pedagógica da EAO".

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Notas de L.G.:

(1) 26 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2482: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (12): Notas soltas a quatro mãos (Luís Graça / Pepito)

(2) Vd. poste anterior: 8 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2618: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (1): Regresso a Bissau, quatro décadas depois...

(3) Sobre o Hino de Gandembel, já publicámos diversos postes:

3 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2326: O Hino de Gandembel e a iconografia do soldado atormentado pelo desassossego (Idálio Reis)

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2319: Hino de Gandembel: interpretação de António Almeida (CCAÇ 2317, Gandembel/Balana, 1968/69)

22 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2295: Hino de Gandembel, cantado no almoço da mini-tertúlia de Matosinhos (A. Marques Lopes / Carlos Vinhal)

4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2153: Hino de Gandembel: talvez a mais popular canção entre as NT no ano de 1969 (José Teixeira)

4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2152: Hino de Gandembel, hoje um hino de alegria (Idálio Reis / Gabriel Gonçalves)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2150: O Hino de Gandembel, cantado pelo GG [Gabriel Gonçalves], o baladeiro da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2149: Hino de Gandembel: Quem foi o autor da letra ? (José Teixeira / Idálio Reis)

26 de Setembro de 2006> Guiné 63/74 - P2133: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008)(4): Hino de Gandembel, quem se lembra da música ? (Pepito / Luís Graça)

Vd. ainda:

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2321: Humor de caserna (3): Hino de Gandembel: hino de guerra ou música pimba ? (Manuel Trindade)

2 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2323: Um insulto aos heróis de Gandembel (Zé Teixeira)

2 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2324: (Ex)citações (1): Um pouco de humor de vez em quando também nos faz bem (Henrique Matos)

Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > 1 de Março de 2008 > Restos de munições (1 granada de RPG 7, do PAIGC; 2 invólucros das munições da metralhadora pesada Browning, usada pelas NT, para defesa dos aquartelamentos; 8 invólucros das munições 7,62, para a espingarda automática G-3... Visita, por volta 11h30, ao antigo aquartelamento da CCAÇ 2317 (1968/69), que foi abandonado pelas NT em finais de Janeiro de 1969, e posteriormente dinamitado pelo PAIGC.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

Guiné > Região de Tombali > 1 de Março de 2008 > O famoso poilão, num entroncamento da estrada que vem de Quebo, Mampatá, Chamarra, Gandembel e segue para Guileje (desvio à direita) e depois Gadamael... Esta árvore centenária, a que foi dado o nome de um guerrilheiro, sinaliza o coração do antigo corredor da morte (para as NT) ou corredor do povo (para o PAIGC)... Paragem da coluna que, no âmbito do Simpósio Internacional, seguia para Guileje... No tempo da guerrilha. não havia aqui nenhuma tabanca... Muita gente do PAIGC perdeu a vida nesta região por ocasião de colunas logísticas que seguiam para o sul, leste e até norte do país...

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. Mais três poemas para o poemário do nosso amigo da Quinta da Graça, o ex-Fur Mil José Manuel (Lopes), enviados em 3, 2 e 1 de Março de 2008, respectivamente. O último enviado não tem título (1):


Uma vida quanto vale?
na mira da minha arma
só há vultos
sem sentido
corpos sem alma
consciências amordaçadas
na outra mira
estou eu?
o Fernando, o António?
vá-se lá entender
porque foi ele e não eu
sob a terra que pisamos
a mina está escondida
mão de traição
a há posto
em guerra suja
de inimigo sem rosto
que passos te guiaram
Albuquerque?
que anjo me protegeu?
e o teu?
adormeceu?
são perguntas
sem respostas
e nunca ninguém
o porquê
de um corpo em postas.


O medo
ele está presente
ele intimida
proibe o desejo
até de amar
e não me deixa sonhar

josema
Guiné 1972


O nascer de um bruto

Já não sei rezar
já não acredito
já não sei amar
só sei que grito
berro alucinante
dentro do corpo
grito mudo
aflito
de eco profundo
violento
na cabeça latejando
que
só a áspera bebida
abafa
o tal grito
a vontade
a razão
o sentimento

1973 Guiné
josema (2)

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Notas de L.G.:

(1) Vd. último poste desta série: 3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...

(2) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

sábado, 8 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2618: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (1): Regresso a Bissau, quatro décadas depois...

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > O cartaz de boas-vindas... Durante uma semana seremos objecto de uma amizade e hospitalidade inexcedíveis...

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > Chegada do avião semanal da TAP, com os tugas e outros estrangeiros que vieram ao Simpósio Internacional de Guiledje (1 a 7 de Março de 2008)...
Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > O omnipresente Pepito, cérebro e coração deste Simpósio, que não precisa de se pôr em bicos de pés, sempre discreto e encantador, cultivando deliberadamente um low profile... Ele e a sua orquestra de gente magnífica, como teremos oportunidade de constatar ao longo de uma semana cheia de emoções... Do ponto de vista da organização, o simpósio esteve perfeito, considerando os mil e um constrangimentos e dificuldades existentes neste país de África que nos trata com um enorme carinho...

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > O Pepito fazendo questão de cumprimentar todos os seus convidados, oradores e demais participantes do Simpósio: neste caso, os três Gringos de Guileje, O Zé Carioca, o Abílio Delgado e o Sérgio Sousa (aqui em primeiro plano, de costas).

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > A Maria Alice...

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > Um homem com três comissões na Guiné, e que nesta semana irá experiementar momentos de grande felicidade, o hoje coronel de artilharia, na situação de reserva, Coutinho e Lima, que era em 22 de Maio de 1973 o major que comandava o COP5... Descobri que era meu vizinho: eu moro em Alfragide e ele em Benfica...

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > Sapa VIP > O major da Guarda Fiscal Sado Baldé e o seu grande amigo e membro da nossa Tabacanca Grande, o Paulo Santiago (que veio na caravana autómóvel que partir de Coimbra em 21 de Fevereiro)

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > Alguns dos amigos e camaradas que nos foram esperar ao aeroporto: Da esquerda para a direita, o Álvaro Basto, mais um amigo do Porto (cujo nome não retive, e que não fez tropa na Guiné), o Carlos Silva e o célebre Camilo (que eu conheci pessoalmente na ocasião e que vou reencontrar, no dia seguinte, no Saltinho onde tem uma morança, de fazer inveja a qualquer um de nós, no Clube de Caça, na margem direita do Rio Corubal, junto à ponte do Saltinho)

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > Quatro grandes amigos e camaradas da nossa Tabanca Grande: da esquerda para a direita, o Xico Allen, o Armindo Ferreira (que foi Fur Mil na CCAÇ 1565, Jumbembem e Canjambari, 1966/68), mais o Álvaro Basto e o Zé Teixeira...

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > O Pedro Lauret, o nosso gentleman e único representante da Armada Portuguesa... É comandante de mar e guerra na situação de reforma, além de dirigente da Associação 25 de Abril (A25A) e animador do respectivo blogue, Avenida da Liberdade...

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > Em primeiro plano, o Carlos Matos Gomes, um homem do MFA da Guiné e um celebrado autor de romances de guerra como Nó Cego, Soldadó ou Fala-me de África (sob um pseudónimo literário, Carlos Vale Ferraz).

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > O historiador Julião Soares Sousa, natural de Bula, o primeiro guineense a doutorar-se pela Universidade de Coimbra (2008)...

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > A caminho do hotel: em primeiro plano, o Luís Moita e o Josep Cervelló; em segundo plano, a Alice e o Patrick... Durante um semana, o convívio entre nós, portugueses e estrangeiros alojados no Hotel Azalai, em Santa Luzia, foi de uma grande qualidade humana... Não gosto da palavra estrangeiro: tirando os cubanos, todos nos expressávamos em português...

Guiné-Bissau > Bissau > 29 de Fevereiro de 2008 > Mercado da Chapa... Percurso entre o aeroporto, em Bissalanca, e o Hotel Azalai, o famoso QG, a antiga messe e as instalações de oficiais superiores, durante a guerra colonial...

Guiné-Bissau > Bissau > 29 de Fevereiro de 2008 > Mercada do Chapa > Estrada que vem do aeroporto para o centro de Bissau... A missão de cada guineense é sobreviver dia-a-dia... Mais de 90% dos guineenses deverão viver na economia informal (que termo tão irónico ou cínico!)...

Guiné-Bissau > Bissau > Bairro de Santa Luzia > Hotel Azalai > O Alfredo Caldeira, ladeado pela Diana Andringa, sua esposa, e dois jovens colaboradores da Fundação Mário Soares, a Catarina Santos e o Vitor Ramos, que já estavam em Bissau quando chegámos e que lá continuaram depois do nosso regresso a casa... A sua missão principal foi montar a exposição Memória da Luta de Libertação Nacional, em Bissau, e que também pode ser vista na página da Fundação Mário Soares... Um belíssimo trabalho que mereceu a unamidade dos aplausos... A Fundação Mário Soares não só participou como apoiou o Simpósio Internacional de Guiledje, tendo preparado nomeadamente um conjunto de documentos e fotografias relacionadas com Guiledje, com recurso tanto ao Arquivo Amílcar Cabral como ao nosso próprio blogue.

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 29 de Fevereiro de 2008 > Os nossos companheiros Alfredo Caldeira e Diana Andringa...

Guiné-Bissau <> Hotel Azalai > 29 de Fevereiro de 2008 > A Diana Andringa com o nosso globetrotter Xico Allen que se desloca à Guiné pela enésima vez... O Xico passou pelo nosso hotel só para perguntar se estava tudo bem... Ele, o Armindo Ferreira e mais um camarada, natural do Algarve, cujho nome não retive... Nem uma cerveja o Xico quis aceitar... É um menino de coração de ouro, mas que me pareceu cansado das duas viagens, terrestres, que fez à Guiné só durante o mês de Fevereiro...

1. Amigos e camaradas: 

Cá estamos de novo para retomar o convívio do nosso blogue. Acabamos de chegar de Bissau, ontem, por volta das 21h. Todos os participantes do Simpósio, guineenses, caboverdianos, cubanos, portugueses e outros europeus, reconheceram que se tratou de uma iniciativa histórica, que teve muito impacto a nível local. 

Durante uma semana, Guiledje esteve nas bocas de todo mundo, na pátria de Amílcar Cabral. Houve cobertura mediática do acontecimento que suscitou inclusivamente o interesse dos representantes máximos do Estado guineense: o Presidente da República, o Presidente da Assembleia Nacional e o o 1º Ministro... 

 Na quinta feira, dia 6, uma delegação de ex-combatentes portugueses (cerca de duas dezenas) foi recebida em audiência pelo 1º primeiro Martinho N'Dafa Cabi, e depois pelo Presidente da República da Guiné-Bissau, general João Nino Vieira... Ao fim da tarde, o chefe de estado guineense fez questão de se deslocar ao hotel onde decorreu o Simpósio Internacional Guiledje na Rota da Independência da Guiné-Bissau, não só para esclarecer, com o seu testemunho pessoal, alguns aspectos menos conhecidos da batalha de Guiledje, mas também para assistir à exibição do documentário, de 100 minutos, As Duas Faces da Guerra, de Diana Andringa e Flora Gomes. 

O tempo foi escasso para vos mandar estas simples notas de apontamentos, e algumas das fotos e vídeos que fiz (e que foram muitas, para aí uns cinco ou seis gigas)... Espero, de algum modo, com estas notas de reportagem compensar a minha ausência no blogue e sobretudo a pena que muitos de vocês terão tido de não poderem acompanhar-nos nesta visita memorável, que nunca mais se irá repetir... Para todos nós, e não apenas para mim, é daquelas coisas que iremos recordar com saudade e gratidão... L. G. 


  2. Uma semana inolvidável na Pátria de Cabral: 29/2 a 7/3 de 2008 (1): 6ª feira, dia 29 de Fevereiro, regresso a Bissau, quatro décadas depois… Texto e fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados

Regresso à Guiné. 37 anos depois. É duro, é uma provação. Tenho sentimentos ambivalentes. Quero e não quero ir. Há o Graça que quer ir, o fundador e o editor deste blogue; e o Henriques que não quer, o velho tuga, o furriel miliciano, apontador de armas pesadas de infantaria que esteve na CCAÇ 12, em Bambadinca, em 1969/71, e a quem deram uma G3 de atirador de infantaria… 

Durante muito tempo, todos nós quisemos esquecer a Guiné, ao mesmo que alimentámos o desejo secreto, voyeurista, de lá voltar… Eu decididamente não teria lá voltado se não tivesse surgido a oportunidade que representou, para mim e outros camaradas, a realização do Simpósio Internacional Guiledje na Rota da Independência da Guiné-Bissau, que vai começar amanhã e prolongar-se até 7 de Março de 2008. 

 Mas já houve mais resistências ou defesas, há uns tempos atrás, quando recebi o convite dos organizadores do Simpósio. Agora os dados estão lançados, é tarde demais para hesitações. Vou à Guiné, não em romagem de saudade (acho piroso o termo…), mas pura e simplesmente em trabalho. Quero convencer-me disso. É mais fácil assim. Racionalizo, logo passo o teste. Chego ao aeroporto da Portela às 8h da manhã. Por sorte o avião é só às 10.30h…. É que, com as pressas, a excitação da partida, o stresse dos preparativos da última hora, esquecemo-nos dos bilhetes em casa… 

Eu e a Alice, que é uma mulher habitualmente super-organizada, e que fez questão de me acompanhar (Acho que, da parte dela, que não conheceu o Henriques, este gesto é uma belíssima prova de amor para com o Luís Graça…). Lá se telefona ao João, que vai a caminho de casa, depois de nos deixar no aeroporto… para ir recuperar os bilhetes. Felizmente temos tempo… 

 Entretanto o primeiro camarada que encontro no aeroporto o Carlos Silva, que é do meu tempo de Guiné, mas que eu não conhecia pessoalmente, tendo estado lá para os lados de Farim… Fur Mil da CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71)... Disse-me que mora em Massamá. Tem ao lado a esposa que, ao ver a Alice, mostrou pena em não poder vir… De facto, haverá mais senhoras inscritas no Simpósio… Fazemos horas. Pergunto pelo representante do Instituto Valle Flor, o Gonçalo Marques, que ficou de nos trazer uma série de volumes (livros, DVD…), com destino à AD. Podemos levar 30 quilos de bagagem... A pouco e pouco chega o resto da maralha (um termo que ainda é do meu tempo de tropa, o que significa que há sempre uma certa regressão nestas viagens de retorno ao passado):

(i) junta-se a nós o Carlos Matos Gomes, o coronel na situação de reserva que nos Comandos passou pelas três frentes de guerra, incluindo a Guiné (em 1972/74), autor de romances de Nó Cego, Soldado e Fala-me de África ( e cujo nome, para orador no Simpósio, fui eu próprio a sugerir à organização, na impossibilidade - ou recusa, não sei ao certo – de vir o Aniceto Afonso);

(ii) o capitão de mar e guerra Pedro Lauret, membro da nossa tertúlia, dirigente da Associação 25 de Abril, e que era imediato do NRP Orion em Maio/Junho de 1973, por ocasão da ofensiva do PAIGC, contra os três G: Guidaje, a norte; Guileje e Gadamel, a sul;

(iii) o coronel Coutinho e Lima (o homem do COP 5 que entrou em rota de colisão com Spínola, ao decidir abandonar Guileje, em 22 de Maio de 1973);

(iv) o Luís Moita, professor catedrático e vice-reitor da UAL – Universidade Autónoma de Lisboa), fundador do CIDAC (uma organização não governamental portuguesa de cooperação para o desenvolvimento que dirigiu durante 15 anos, entre 1974 e 1989; é um grande amigo da Guiné-Bissau, que conhece bem);

(v) o Eduardo Costa Dias (professor de Sociologia e de Estudos Africanos, coordenador científico dos Programas de Mestrado e de Doutoramento em Estudos Africanos do ISCTE, que eu conheço dos meus tempos de estudante, e que já veio dezenas de vezes à Guiné, sendo especialista em dinâmicas sócio-religiosas e políticas na África Ocidental)… 

 Há ainda o Alfredo Caldeira (Administrador do Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares, e membro do Conselho Geral da mesma Fundação), e a esposa, Diana Andringa, membro da nossa tertúlia, jornalista e cineasta, co-autora com o guineense Flora Gomes do documentário As Duas Faces da Guerra (Portugal, 2007), para além do José Marques, jornalista do Correio da Manhã, e de dois recém-doutorados em história contemporânea, os guineenses, a viver em Portugal, Leopoldo Amado (natural do sul da Guiné, vive em Lisboa) e o Julião Soares Sousa (natural de Bula, vive em Coimbra)…. 

 Esqueci-me de dizer que, em Lisboa, há mais gente que se junta a nós, e noemadamente de língua espahola: os cubanos Óscar Oramas (antigo embaixador de Cuba na Guiné-Conacri e autor de uma biografia sobre Amílcar Cabral), bem como Ulisses Estrada (que foi um dos combatentes da 1ª leva, em 1966, e que lutou ao lado do Domingos Ramos, tendo-o visto morrer em 1966, num ataque a Madina do Boé)… 

Há ainda o catalão Josep Sánchez Cervelló, professor universitário, em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa, e o francês Patrick Chabal, profundo conhecedor da vida e obra de Amílcar Cabral… Bom, o avião vai a abarrotar… Há uma elite guineense que viaja e que é cosmopolita. Mas a maioria é gente que vive e trabalha em Portugal e noutros países, utilisando a placa giratória que é Lisboa… Sem os guineeneses da diáspora e as suas remessas em dinheiro, o povo da Guiné-Bissau morreria de fome, diz-me o Lepoldo…

 Mas a pátria de Amílcar Cabarl não tem sequer uma companhia de bandeira. Para Bissau voam apenas a TAP, à sexta, e a TACV, ao domingo… A viagem Lisboa-Bissau não é barata (eu paguei quase 1100 euros pelo bilhete de ida e volta da Alice), nomeadamente para o Francisco Mendes que vai aqui a meu lado, e volta a Cachungo (leia-se Catchungo), ao seu chão manjaco, para matar saudades, visitar os parentes, beber o seu vinho de palma… Talvez dê um salto à Gâmbia onde tem irmão… Está em Portugal há vinte e tal anos… Mora em Cacém. Tem um negócio próprio, segundo percebi pelos contactos de telemóvel que fez a meu lado, antes da partida. Deve ter trabalho uns anos na construção civil, até montar o seu próprio negócio. Gente empreendedora, os manjacos da diáspora guineense… Em suma, vou encontrando a malta que vai ao Simpósio: por exemplo, a malta dos Gringos de Guileje, a CCAÇ 3477, que emocionados com a perspectiva de voltar à Guiné: Abílio Delgado, ex-capitão da companhia (mora hoje na Ericeira); José António Carioca, ex-Fur Mil Trms (vive em Cascais); Sérgio Sousa ...

As bagagens vão marcadas com uma fila vermelha, para facilitar as operações de desembarque… O avião descola por volta das 10.30h da manhã. O ambiente é de alguma excitação, própria de um grupo em formação, e que irá passar uma semana inolvidável na Guiné-Bissau. Amanhã de manhã, partiremos de jipe a caminho do coração do Parque Nacional do Cantanhez, em Iemberém (ou Jemberém, na antiga carta de Cacine) o onde a AD tem projectos e instalações de apoio. Os tugas (termo outrora depreciativo, usado pelos guineenses como sinónimo de colonialistas portugueses) voltam à Guiné, agora em missão de paz e de amizade… 

No aeroporto temos uma recepção VIP, com a própria senhora ministra dos Antigos Combatentes da Pátria a saudar-nos, para além dos nossos amigos da AD – nomeadamente o omnipresente Pepito – e, surpresa das surpresas, os nossos camaradas da Tabanca Grande que fizeram a viagem de jipe, pela rota Porto-Coimbra-Bissau… A ocasão para dar um grande abraço de reencontro e saudação ao Xico Allen, ao Álvaro Basto, ao António Pimentel, ao Zé Teixeira, ao Paulo Santiago e demais tugas que integraram a caravana… Dizem-que a malta de Coimbra vai ficar, em Bissau, para desalfandegar o contentor de vinte e tal toneladas que traz ajuda humanitária… É gente solidária e generosa, que eu, infelizmente, não irei conhecer pessoalmente. 

 Também conheci pessoalmente o major Sado Baldé, da Guarda Fiscal, que é um grande amigo do Paulo Santiago, do Carlos Santos e do Julião. Levei-lhe medicamentos, a pedido do Paulo Satiago e do Carlos Santos, e que lhe foram entregues em mão. O Sado Baldé merece, há muito, figurar na lista dos membros da nossa Tabanca Grande. Foi através dele que chegámos ao conhecimento do paradeiro do Paulo Malú, que comandou, em 17 de Abril de 1972, a terrível emboscada do Quirafo… O filho do antigo régulo Suleimane, do Saltinho, é uma de gentileza e afabilidade inexcedíveis, que me fez logo lembrar os soldados fulas da minha companhia de caçadores, a CCAÇ 12, e os tempos de instrução que passei em Contuboel. 

 O dia de chegada do avião da TAP é de festa, em Bissalanca… Centenas de pessoas, não sei mesmo se alguns milhares, concentram-se aqui, só para ver a chegada do avião e dos seus felizes passageiros… As mesmíssimas cenas de há 39 anos quando cheguei do Niassa em Bissau (1): os meninos e as meninas que vendem mancarra, a banana, ou que te pedem o jornal e a revista que trazes do avião… Mas o país e a gente não são mais os mesmos: a Guiné-Bissau hoje faz parte do seio das Nações e quer manter vivos os sonhos que levaram Amílcar Cabral e os seus camaradas do PAIGC a lutar contra um regime político, e não contra os portugueses… Irei ouvir isto todos os dias, até 7 de Março de 2008, quando terminar o Simpósio e eu regressar a casa…

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  Nota de L.G.: 

 (1) Eu próprio já aqui evoquei, na 1ª série do nosso blogue, a minha viagem no T/T Niassa, em finais de Maio de 1969: vd post de 23 de Junho de 2005 > Guiné 63/74 - LXXVI: (i) A bordo do Niassa; (ii) Chegada a Bissau (...) Desembarcamos numa cidadezinha térrea, de casas de adobe, rachas de cibe e chapas de zinco, com quintais cheios de mangueiras, e onde em dois ou três quarteirões, feitos a régua e esquadro, se concentram a administração e o comércio. Nas ruas, sujas das primeiras enxurradas de Maio, meninos e meninas vendem mancarra (começo a aprender as minhas primeiras palavras de crioulo). Gilas, de balandrau branco, óculos de sol e transistor a tiracolo, mercadejam bugigangas de contrabando. Os sons, os sabores e as cores de África baralham-me os sentidos e as emoções. A esta hora da manhã, já as esplanadas estão cheias de tropa à civil, beberricando cerveja, enquanto no mastro da fortaleza oitocentista da Amura flutua uma descolorida bandeira verde-rubra. Indiferente aos velhos canhões de bronze, uma mulher passa com o filho às costas e um balaio à cabeça. Canoas talhadas em grossos troncos de poilão partem do mítico cais do Pijiguiti, sulcando as águas lamacentas da Ria, em busca de mafé. Ronceiros aviões levantam voo de Bissalanca e, no meio da praça do Império, em cima de um Unimog, de pé e de braços abertos, alguém de nós, exclama: - Camaradas, cinco séculos de história vos contemplam!" (...).

Guiné 63/74 - P2617: Bibliografia (25): Lançamento do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos (Virgínio Briote)

Imagens do lançamento do Diário da Guiné, do Mário Beja Santos


1. Mensagem do Albano Costa, a quem agradecemos o trabalho e a arte

Caros amigos,

Escolhi estas fotos entre algumas mais para o Briote e o Vinhal, já que o Luís ainda vem com os hábitos africanos e já não está habituado aos hábitos europeus.
As fotos que tenho para enviar para os colegas da tabanca grande vou seleccioná-las e prometo que as vou fazer chegar ao seu destino.

São (...) fotos, agora escolham ou então metam todas, o Beja Santos merece.

Um abraço,

Albano Costa

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A Tertúlia na Sociedade de Geografia de Lisboa. Em primeiro plano à direita, o Jorge Cabral, o Henrique Matos e o Mexia Alves, todos bons conhecedores das Terras dos Soncó e do Pel. Caç. Nat. 52.

O Mário cumprimenta o Embaixador da Guiné-Bissau.

O Dr. Constantino Lopes da Costa, rodeado pela Eduarda, mulher do Albano e pelo Galissá.

A mesa com o Mário Beja Santos (que não escondia estar a viver um dia muito feliz), o General Lemos Pires, o Embaixador da Guiné-Bissau, Dr. Constantino Lopes da Costa, o Mário de Carvalho e a responsável pela Editora.

A Korá nas mãos do Galissá. Na primeira fila, o Hélder de Sousa, o António Santos, o Mário, o Marques Lopes, o Carlos Cardoso, o Rui A. Ferreira e o Coronel Diamantino Gertrudes da Silva. Nas outras filas, o Fernando Franco, o Carlos Marques dos Santos, o Fernando Chapouto...A imagem é música. Pena é não a podermos levar aos Camaradas que não puderam estar presentes.


Enquanto o Galissá dava explicações de Korá, o Beja Santos dedicava o seu Diário da Guiné ao Henrique Matos, o 1º Comandante do Pel Caç Nat. 52.

Na bicha de pirilau, chegou a vez do João Parreira

Já quase no final, o reencontro do Mário Beja Santos com o Cor Cunha Ribeiro, seu antigo Comandante.

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2. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, que com a licença dele, subscrevemos.
Caro Mário Beja Santos

Foi linda a festa, pá!...

Foi lindo o convivio, (não falemos do bacalhau!), foi linda a conversa, foi lindo o riso, foi lindo a visita à Sociedade de Geografia, foram lindos os "discursos", foi lindo o som da Guiné, foi linda a tua emoção, foram lindas as cervejas que ainda bebi a matar saudades, ah, e o livro é lindo!

Não vale a pena dizer mais nada, porque não há mais palavras para dizer o que vai no coração.
Ah, e senti um grande orgulho em ter sido Comandante do 52!
(...).
Mário, mais uma vez parabéns e um grande abraço do

Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 7 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2616: O Simpósio de Guiledge na RTP África. (Virgínio Briote)

Chegam-nos notícias e imagens do Simpósio.

O agradecimento ao Rui Fernandes pelo envio da mensagem que nos dá conta que o Simpósio de Guiledge foi relatado na RTP África.

Repórter África de 2008.03.03 nesta página http://ww1.rtp.pt/multimedia/?tvprog=10184&idpod=12164 (aos 10,38')
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O regresso a Guiledge

Trinta e cinco anos depois, ex-combatentes reencontraram-se. Combateram em lados opostos num dos cenários mais violentos da Guerra na Guiné.

Tudo o que se passou faz parte do passado, mas faz parte da história, afirmou para a câmara Dauda Dabó, ex-combatente do PAIGC.

Entre muita gente, conseguimos ver o Coronel Coutinho e Lima, o José Teixeira, o Comandante Pedro Lauret e o Coronel Nuno Rubim.