Guiné > Região Leste > Bambadinca > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 > O "régulo" Jorge Cabral, sempre benditas entre as mulheres, aqui entre as suas queridas bajudas mandingas...
Foto: © Jorge Cabral (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O "alfero Cabral" – e não "alfero" Cuca Cabral e muito menos "alfero" CuCabral... (*) – escreveu e publicou no nosso blogue dezenas e dezenas de "estórias cabralianas", deliciosas, de um humor, às vezes brejeiro, outras vezes negro, corrosivo, que nos fazia bem à alma...
A maior parte são de antologia. É do melhor humor de caserna que temos publicado, e que é conseguido sem o recurso (fácil) ao palavrão. Não me lembro de ler um palavrão nas "estórias cabralianas". E engane-se quem pensar, sem o conhecer, que ele era um refinado tuga colonialista, machista, racista e misógino...
Em boa verdade, ele era um menino de coro, talvez mais perfeito e altruista que o outro menino de coro homónino. Havia até uma certa rivalidade entre os dois, ao ponto do "alfero Cabral" mandar recados à "Maria Turra" e à rapaziada lá das bases do Morés, a dizer que "Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum"... O que é facto é que ele nunca sofreu retaliações por parte do outro, que estava (às vezes) em Conacri... (Dizem, mas não sei se é mentira ou verdade, que passava a vida a viajar, a pedir à porta das igrejas de todo o o mundo, de Estocolmo a Moscovo, de Roma a Pequim, para angariar fundos para os seus "combatentes da liberdade da Pátria" e as suas criancinhas).
Tenho pena que a sua (dele, "alfero Cabral") musa inspiradora tenha emigrado agora para o Facebook...Concorrência desleal, camaradas e amigos...
Já não sei quando é que publicámos a sua última "estória"... Sei que ele anda a preparar um livro, que "está quase pronto"... há anos. Mas falta o "imprimatur" das suas... fãs. Enfim, temos que pô-las a mexer...
Fomos, entretanto - para matar saudades, e para conhecimento dos "periquitos" da Tabanca Grande -, repescar esta "estória", que já tem barbas: 13 anos!... Foi assim anunciada em 4/7/2006:
(...) "Mais um 'short story' do meu amigo e camarada Jorge Cabral, hoje advogado e professor universitário, mas que conheci em Bambadinca, como Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 63 (Fá Madinga e Missirá, 1969/71)"..
Esta "estória cabraliana" passa-se em Missirá, no regulado do Cuor, a norte do Rio Geba Estreito, no setor L1 (Bambadinca). Foi outro dos "bu...rakos" onde vivemos... (**)
- E esta, já experimentaram?
Sobre o assunto, mantinha-se sempre calado um soldado do Pelotão de Morteiros, recém-chegado, o qual havíamos apelidado de Casto.
Natural de uma aldeia perdida na Serra da Estrela, foi ele que, apresentado em Missirá, me pediu para ir ver, na Televisão, o jogo do Sporting nessa noite, à tasca da Muda, ali à esquina...
Filho do Sacristão, ou talvez do Padre, o Casto era virgem, e de uma inocência absoluta...
Temendo ser gozado pelos outros camaradas, expôs-me as suas dúvidas em privado. Lá lhe expliquei a mecânica da função e a anatomia genital feminina, preparando-o para a grande ocasião, que havia de chegar, quando fosse possível uma escapadela a Bafatá, o que veio a acontecer, na semana seguinte.
Abancados no [café do]Teófilo, apesar dos meus avisos, para ganhar coragem, bebeu três ou quatro whiskys, razão porque quando o depositei nos braços da Sulimato, fiquei desconfiado que não cumpriria... E assim sucedeu. Quase em lágrimas no regresso, confidenciou-me o falhanço.
Após tão frustrante incidente, caiu em desespero, convencendo-se que era, segundo dizia, calisto.
Como comandante do Destacamento, competia-me resolver o problema e foi o que tentei fazer.
Fui buscar a Sulimato, ofereci a minha própria cama, e preparei uma cerimónia que assinalasse condignamente a virilidade do Casto.
Assim que ele conseguisse, devíamos dar três morteiradas...
Ainda nem dez minutos haviam decorrido, porém, apareceu-me esbaforido.
– Que aconteceu ? – perguntei.
- Oh, meu Alferes, nada feito, a gaja tem que ir à Administração.
- À Administração?... Estás maluco!
Fui ter com ela, para saber o que se havia passado.
- Alfero, m´ ca tá podi, sta cu mostração - informou Sulimato.
Em 1998, fui a Paris, a um Congresso. Numa tarde, apanho um táxi. Logo que entro, o motorista olha para mim... e grita:
- Alferes Cabral, Alferes Cabral!... Eu sou o Casto!
Saímos do carro, abraçamo-nos, engarrafando o trânsito. Fui jantar a casa dele, serviu-me whisky com Perrier para recordar. Conheci a mulher e os dois filhos adolescentes que, segundo a mãe, saíram ao Pai, pois andavam atrás das pretas... Claro, confirmei que na Guiné não lhe escapou nenhuma.
Piscou-me o olho, o Casto, mas ninguém reparou... (***)
Jorge Cabral
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Fomos, entretanto - para matar saudades, e para conhecimento dos "periquitos" da Tabanca Grande -, repescar esta "estória", que já tem barbas: 13 anos!... Foi assim anunciada em 4/7/2006:
(...) "Mais um 'short story' do meu amigo e camarada Jorge Cabral, hoje advogado e professor universitário, mas que conheci em Bambadinca, como Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 63 (Fá Madinga e Missirá, 1969/71)"..
Esta "estória cabraliana" passa-se em Missirá, no regulado do Cuor, a norte do Rio Geba Estreito, no setor L1 (Bambadinca). Foi outro dos "bu...rakos" onde vivemos... (**)
2. A atribulada iniciação sexual do Soldado Casto
por Jorge Cabral
por Jorge Cabral
À noite, após o jantar, nós os nove brancos do Destacamento [de Missirá], continuávamos à mesa, conversando. Falávamos de tudo, mas principalmente de sexo, mascarando a nossa inexperiência, com o relato de extraordinárias aventuras que assegurávamos ter vivido. O nosso motorista havia até desenhado num caderno as várias posições, indagando de cada um:
- E esta, já experimentaram?
Sobre o assunto, mantinha-se sempre calado um soldado do Pelotão de Morteiros, recém-chegado, o qual havíamos apelidado de Casto.
Natural de uma aldeia perdida na Serra da Estrela, foi ele que, apresentado em Missirá, me pediu para ir ver, na Televisão, o jogo do Sporting nessa noite, à tasca da Muda, ali à esquina...
Filho do Sacristão, ou talvez do Padre, o Casto era virgem, e de uma inocência absoluta...
Temendo ser gozado pelos outros camaradas, expôs-me as suas dúvidas em privado. Lá lhe expliquei a mecânica da função e a anatomia genital feminina, preparando-o para a grande ocasião, que havia de chegar, quando fosse possível uma escapadela a Bafatá, o que veio a acontecer, na semana seguinte.
Abancados no [café do]Teófilo, apesar dos meus avisos, para ganhar coragem, bebeu três ou quatro whiskys, razão porque quando o depositei nos braços da Sulimato, fiquei desconfiado que não cumpriria... E assim sucedeu. Quase em lágrimas no regresso, confidenciou-me o falhanço.
Após tão frustrante incidente, caiu em desespero, convencendo-se que era, segundo dizia, calisto.
Como comandante do Destacamento, competia-me resolver o problema e foi o que tentei fazer.
Fui buscar a Sulimato, ofereci a minha própria cama, e preparei uma cerimónia que assinalasse condignamente a virilidade do Casto.
Assim que ele conseguisse, devíamos dar três morteiradas...
Ainda nem dez minutos haviam decorrido, porém, apareceu-me esbaforido.
– Que aconteceu ? – perguntei.
- Oh, meu Alferes, nada feito, a gaja tem que ir à Administração.
- À Administração?... Estás maluco!
Fui ter com ela, para saber o que se havia passado.
- Alfero, m´ ca tá podi, sta cu mostração - informou Sulimato.
Em 1998, fui a Paris, a um Congresso. Numa tarde, apanho um táxi. Logo que entro, o motorista olha para mim... e grita:
- Alferes Cabral, Alferes Cabral!... Eu sou o Casto!
Saímos do carro, abraçamo-nos, engarrafando o trânsito. Fui jantar a casa dele, serviu-me whisky com Perrier para recordar. Conheci a mulher e os dois filhos adolescentes que, segundo a mãe, saíram ao Pai, pois andavam atrás das pretas... Claro, confirmei que na Guiné não lhe escapou nenhuma.
Piscou-me o olho, o Casto, mas ninguém reparou... (***)
Jorge Cabral
Notas do editor:
(*) Vd.poste de 27 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19721: Estórias avulsas (95): Evacuado com 'um tiro no cu'... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)
(**) 4 de julho de 2006 > Guiné 63/74 - P93oria6: Estórias cabralianas (11): A atribulada iniciação sexual do Soldado Casto
(***) Último poste da série > 25 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19716: Quinze anos a blogar, desde 23/4/2004: repescando velhos postes (1): Um dos bu..rakos em que vivemos: o destacamento do Mato Cão, na margem direita do rio Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca (Joaquim Mexia Alves)
(*) Vd.poste de 27 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19721: Estórias avulsas (95): Evacuado com 'um tiro no cu'... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)
(**) 4 de julho de 2006 > Guiné 63/74 - P93oria6: Estórias cabralianas (11): A atribulada iniciação sexual do Soldado Casto
(***) Último poste da série > 25 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19716: Quinze anos a blogar, desde 23/4/2004: repescando velhos postes (1): Um dos bu..rakos em que vivemos: o destacamento do Mato Cão, na margem direita do rio Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca (Joaquim Mexia Alves)