Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça, com o objetivo de ajudar os antigos combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra da Guiné (1961/74). Iniciado em 23 Abr 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência desta guerra. Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, e gostamos de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
Guiné 61/74 - P21765: Historiografia da presença portuguesa em África (247): Guiné, o seu primeiro grande relato no século XIX: O Capitão-de-Fragata da Real Armada, José Joaquim Lopes de Lima (3) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Fevereiro de 2020:
Queridos amigos,
Despeço-me pesaroso de Lopes de Lima, um alto funcionário de coturno, deram-lhe a estafa de inventariar a existência nas possessões portuguesas, foram seis volumes, o primeiro dedicado a Cabo Verde e Guiné, esta então dependente daquela. É seguramente o melhor documento para esta primeira metade do século XIX, sem desprimor para esse espantoso documento político de Honório Pereira Barreto, a Memória da Senegâmbia.
Está aqui a Guiné das praças e presídios, vale a pena olhar demoradamente a carta que ele gizou sobre a Guiné, nunca aflora o interior, se ele lá não foi, se não nos deixa registo é porque a presença portuguesa, como muito bem sabe, ficava por Geba e arredores. Por ironia do destino ou acaso da História, precisámos da Conferência de Berlim, da Convenção Luso-Francesa e dos apetites das outras potências colonizadoras para nos lançarmos num processo colonizador. Portugal despertou para a Guiné depois do desastre de Bolor, que levou à desafetação da Guiné de Cabo Verde. Na I República, o Governador Carlos Pereira mandou remover as muralhas de Bissau, mas foi preciso esperar-se por Teixeira Pinto para submeter o estado de contenda e a ameaça constante das populações da Ilha de Bissau.
Um abraço do
Mário
Guiné, o seu primeiro grande relato no século XIX:
O capitão-de-fragata da Real Armada José Joaquim Lopes de Lima (3)
Mário Beja Santos
José Joaquim Lopes de Lima, 1797-1852, foi Oficial da Armada e Administrador Colonial com vasto currículo, governou a Índia e Timor e Solor, entre outras responsabilidades. Cavaleiro da Torre e Espada, membro do Conselho de Sua Majestade Fidelíssima, a Rainha D. Maria II, deram-lhe uma incumbência graúda, que ele abraçou, dando à estampa seis volumes que a pretexto da estatística das possessões portuguesas revelou-se um emérito plumitivo, um viajante curioso e documentado. O primeiro volume é dedicado a Cabo Verde e às suas dependências na Guiné Portuguesa. Tanto quanto sabemos, e independentemente de na época ser publicada a memória sobre a Senegâmbia Portuguesa, de Honório Pereira Barreto, outra joia narrativa e peça historiográfica incontornável, o relato de Lopes de Lima é o primeiro grande documento sobre a Guiné do século XIX, recorde-se que a data de publicação é 1844.
Prossegue a narrativa descrevendo o que há em Bissau e restantes Praças e Presídios, é muito sumário:
“Em Guiné, o que é já indispensável é reparar, e pôr em bom estado a Praça de Bissau; - a Casa-forte, baluartes e tabanca de Cacheu; - as Baterias de Bolor; - e as pequenas Fortificações antigas dos outros Presídios: e sobretudo ter toda a artilharia bem montada; - o que aliás não é de grande despesa em terra tão abundante de boas madeiras, se houver o cuidado de se mandarem alguns Carpinteiros para cada uma das Praças; - e para Bissau alguns Pedreiros: em Cacheu, e Bolor, e mesmo nas outras partes aonde se queira levantar algum Baluarte, ou Bateria, é preferível, atenta a falta de pedra, construí-los, bem como as casas, de tijolo, que já se faz em Cacheu muito bem feito, e muito consistente, porque o barro de Guiné é muito próprio para ele, e sendo rebocado com a cal de ostra, que ali se fabrica em grande quantidade, e mui barata, e caiado de novo todos os anos, promete uma grande duração. Se vier a formar-se povoação de gente nossa no Ilhéu do Rei, fronteiro à Praça de Bissau (o que me parece muito conveniente) é mister então fortificá-lo: o mesmo digo, e ainda com mais interesse, da Ilha de Bolama, cuja colonização reputo de muita importância: e o mesmo direi ainda da Ilha das Galinhas.
Em Guiné, mais que em qualquer outra parte da Província, carecemos de estar de contínuo precatados em acção de guerra contra as hostilidades, sempre iminentes, de povos bárbaros, e as tentativas, ilegais e perigosas, de forasteiros insolentes”.
Pelo adiante da sua narrativa, irá alongar-se em descrever a vivência dos lugares. Alerta com pormenor a situação de Bissau, é despudorada a interferência francesa, imiscui-se por todos os lugares, faz um apelo a que se reforce a posição portuguesa em Bissau, que assim descreve:
“A fortaleza dista uns cem passos da borda da praia, tendo em frente da porta principal dois grandes poilões, servem de marca aos navios. É neste espaço, o qual se estende um pouco para oeste além dos muros, mas ao alcance da artilharia, que umas duzentas choupanas, entre as quais surgem cinco ou seis cobertas de telhas, constituem a chamada povoação portuguesa, aonde residem uns poucos negociantes, comissários das casas inglesas de Gâmbia e francesas de Gorée; e tudo mais são Cristãos Negros Grumetes da Praça: esta povoação nem ao menos é, como as outras em Guiné, cercada de uma estacada: o Gentio de todas as partes entra nela armado a toda a hora do dia, introduz-se sem cerimónia pelas casas dos moradores a pedir aguardente, ou o que lhes dá na vontade.
Defronte do fundeadouro está o Ilhéu do Rei, o qual tem uma milha de comprimento, e meia milha de largura, e é todo coberto de arvoredo parrado: este Ilhéu foi comprado para a Coroa Portuguesa por Honório Pereira Barreto, em 1838, e há muito quem aconselhe o transferir-se para ali a povoação mercantil de Bissau, rodeando o ilhéu de algumas fortificações, que cruzem o seu fogo com a Praça. No ilhéu indicado há umas árvores sagradas junto às quais existe a China maior de toda a região dos Papéis, à qual estes concorrem aos milhares todos os anos no plenilúnio de Março a celebrar cerimónias”.
As observações seguintes revelam-se do maior interesse, dá nota da superfície da Ilha de Bissau com os seus diferentes regulados, as ilhas próximas, recorda a descrição do Macaréu feita por André Alvares de Almada para sublinhar os perigos existentes na navegação do Geba, e já perto do final do seu trabalho descreve com raro primor o presídio e o comércio em Geba:
“Cem milhas distantes de Bissau, Geba é a aldeia portuguesa de cristãos-pretos, poucos mulatos e cinco ou seis brancos, dos quais já teve muitos, que passaram a povoar o presídio de Farim, como atrás fica explicado: não tem estacada, nem fortificação alguma, e ali vivem os cristãos de lá, e os que vão de Bissau, em tão boa paz com os Mandingas e mesmo com os vizinhos Beafadas, que um pequeno destacamento é tão inútil como inconveniente. Por inútil tenho também o haver ali um comandante militar, que nada comanda: melhor seria a terra governada por um capitão-mor – pessoa influente no país. Geba é um grande mercado, aonde concorre muita courama, muito marfim, bastante cera, algum ouro, e todos os mais géneros deste país em abundância, os quais se resgatam a troco de sal, cola e mercadorias da Europa, levadas de Bissau àquele ponto em grandes canoas, que andam continuamente neste caminho: o grande comércio de Bissau se reduziria a bem pouco, se lhe faltasse Geba, - e bem assim o de Cacheu faltando-lhe Farim e Zinguinchor: é por isso que eu já em outra parte disse, e não me canso de o repetir, ao comércio português, que uma Companhia em Guiné, a quem se concedesse como exclusivo o comércio do interior dos rios, tiraria avultadíssimos lucros; porque não sofreria concorrência, senão na compra do arroz, que bem podia abandonar, por ser o ramo menos lucrativo: bastaria o monopólio do sal e cola de lá, e das armas, e pólvora de cá, para Geba e Farim a enriquecer uma sociedade mercantil; pois quem não levar estes quatro artigos não pode lá fazer resgate. Entre Geba e Farim há comunicação fácil, sendo a distância entre os dois presídios – dezoito léguas – de que as doze se andam em canoas pelo rio de Farim até à aldeia de Tandegú e as seis por terra de Tandegú a Geba.
Fica esta povoação de Geba na margem direita do rio assentada agradavelmente entre arvoredos: tem mais de seiscentos habitantes livres e oitocentos escravos pelo menos, tudo gente cristã; mas infelizmente está aquela Igreja órfã de Pastor há longos anos”.
Assim se põe termo ao inventário de Lopes de Lima na Senegâmbia Portuguesa. Carreia achegas preciosas, é alto funcionário experimentado, deram-lhe a faculdade de se pronunciar com sugestões, o que ele faz com fluência. Terminará dizendo que é um total desperdício e erro crasso o país não contar com as riquezas da Guiné, não criar uma aliciante companhia e sobretudo trazer gente cristã como forma de colonização. Recorde-se que são apelos constantes dirigidos a Lisboa, basta recordar o que fez André Alvares de Almada, em pleno período filipino. Apelos que não tiveram resposta.
Fortaleza de Cacheu. Imagem retirada da Revista África e Africanidades, em http://www.africaeafricanidades.com.br/documentos/0020250122017.pdf, com a devida vénia
Fortaleza São José, Amura. Imagem retirada da Revista África e Africanidades, em http://www.africaeafricanidades.com.br/documentos/0020250122017.pdf, com a devida vénia
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Nota do editor
Último poste da série de 6 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21739: Historiografia da presença portuguesa em África (246): Guiné, o seu primeiro grande relato no século XIX: O Capitão-de-Fragata da Real Armada, José Joaquim Lopes de Lima (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P21764: (De)Caras (168): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte I
Angola > 1961 > A bordo de um Nord Atlas, com tropas paraquedistas. A Maria Arminda à esquerda, a e Ivone Reis à direita (**).
Ela é, de resto, membro da nossa Tabanca Grande, com 25 referências no nosso blogue. Conheceu o TO da Guiné e ficou com uma relação muito especial com as as suas gentes!...
Depoimento de Maria Ivone Reis (2004) (Excertos)
(...) Nasci em Venda Seca, Belas, concelho de Sintra, em 1929.
Éramos quatro irmãos, sendo eu a terceira. Lembro-me do nosso Pai, doente em
casa; às vezes levava-me à rua a passear. Faleceu, tinha eu cinco anos. A nossa
Mãe era doméstica. Após a morte do Pai, fomos para casa dos nossos avós
maternos.
Dois anos depois, a Mãe faleceu, tinha eu sete anos. A
causa da morte de ambos foi tuberculose pulmonar.
Os nossos avós maternos tiveram nove filhos. Viviam da
agricultura e dos produtos lácteos dos animais. A minha Avó acolheu-nos, quatro
netos, com carinho, mas muito exigente, sobretudo comigo, a rebelde!
(…) A Avó, “analfabeta”, foi a minha grande catequista, ensinando-nos a fazer o bem e “nunca” o mal. O meu Avô nunca mandou os filhos estudarem. Logo, aos netos também não. Assim, os tios após a primária, se a fizessem ou não, trabalhavam na terra.
[Juventude: trabalhar para poder estudar]
(...) Na minha juventude, procurei trabalho, acompanhando
crianças, desde que me facilitassem o tempo para estudar. Estive em três
famílias, todas extraordinárias no
acolhimento que me deram.
A primeira família era de um diplomata americano. (…). A segunda família era muito agradável. Eram franco-belgas e tinham três filhos. Tratavam-me por “mademoiselle” (…)
Passados quatro anos, conheci outra família, próxima de amigos comuns, que me desafiou para acompanhar uma criança de dois anos. Teria assim mais tempo para estudar. (...)
[Escola de enfermagem, 1958]
(...) Assim continuei até
que, em 1958, conclui o Curso de Enfermagem Geral na Escola das Franciscanas
Missionárias de Maria.
O terminar deste curso foi para mim a realização de um sonho que desde sempre alimentei. Quando era criança tinha estado num sanatório, em Francelos, perto de Espinho, porque naquela altura havia a primo-infecção e aquelas outras doenças do foro respiratório.
Foi lá que conheci uma senhora, Guilhermina Suggia, que era violoncelista e era mundialmente conhecida, fazia concertos na Rússia e pelo mundo fora. Ela ia lá passar as férias, e contava muitas coisas das suas viagens, dos seus concertos e nós ficávamos todas espantadas… são coisas que para as crianças parecem sonhos. Pensei logo que queria ser pianista, mas foi no sanatório que percebi que queria mesmo era ser enfermeira. (…)
[Enfermeira no Hospital da CUF, 1959 e convite para enfermeira paraquedista em 1961]
(...) Comecei a trabalhar em 1959, no hospital da CUF e foi aí que fui abordada por uma colega da Escola para integrar uma equipa de enfermagem na Força Aérea, mais concretamente nos Pára-quedistas, para actuar em Angola, onde a guerra tinha estoirado, em 1961.
O convite seduziu-me de imediato, disse logo: “Olhe, conte comigo, mas eu amanhã confirmo”. Eu tinha que dar uma satisfação à família com quem vivia, mas a minha decisão estava tomada. (…)
Quando me contactaram pensei que a minha ida como enfermeira era útil, e o importante era atenuar o sofrimento daquele que não tinha culpa nenhuma e que estava na frente de guerra. Não pensei na estratégia de guerra, o porquê da guerra. Achava que aquilo seria uma situação temporária e depois voltávamos.
(...) Na verdade, nunca tinha pensado trabalhar em África. Quando as notícias da
guerra em Angola chegaram, para mim, como para muita gente, foi uma surpresa.
Tínhamos uma opinião desinformada e uma população que também não estava
esclarecida, muito menos sobre o que se passava em África.
E aceitei o desafio, embora o vencimento fosse menor do que na CUF. Na verdade, eu nem perguntei nada, não perguntei quais eram as condições (…)..
Fomos o princípio de um quadro de enfermeiras graduadas
militares na Força Aérea. A nossa missão específica era de, a bordo, assistir e
tratar os feridos ou doentes, combatentes ou população civil, e conduzi-los
para o hospital indicado.
O pára-quedismo despertou em nós a consciência do medo,
desenvolvendo, simultaneamente, a audácia de agir, com segurança, no risco e na
adversidade. Na “retaguarda” da guerra, as equipas de evacuação aérea, pilotos
e enfermeiras, estavam sempre prontas a responder à chamada, viesse ela das
zonas de combate ou dos mais “esquecidos” aquartelamentos das tropas. Era uma
vida intensa.
[Curso de enfermeira paraquedista em Tancos, junho-agosto de 1961]
(...) Mas a nossa preparação tinha sido cuidada. Quando se reuniu
o grupo de voluntárias – éramos 11, uma fracção de uma companhia – fomos
convocadas para fazer testes de adaptação e de capacidade. Naquele tempo a mulher
não estava ginasticada, não havia a prática de ginástica que temos hoje. Mas
estes testes iniciais não eram eliminatórios. No curso que se seguiu as pessoas
desenvolviam-se ou não, cumpriam as metas fixadas ou não.
Começámos onze e só ficámos seis, porque as outras não
aguentaram os treinos. A guerra tinha começado em Março e nós fomos convocadas
em fins de Maio. Fomos para Tancos fazer os testes a 25 ou 26 de Maio, e depois
fomos para lá iniciar o curso no dia 6 de Junho, que é o dia do desembarque da
Normandia, o dia mais longo, o dia D, como eu digo sempre.
Era um curso adaptado a nós, à nossa capacidade física, que
não era igual à dos homens, tínhamos que fazer tudo numa dimensão adaptada à nossa
resistência física. O primeiro salto foi a 2 de Agosto e fizemos todos os
outros saltos até 8 de Agosto, data em que fomos brevetadas.
Na Força Aérea, nos pára-quedistas, já havia mulheres,
civis, na parte administrativa. A nossa relação com os pára-quedistas era muito
cordial.
Claro que eles tinham sido advertidos das circunstâncias em que nós íamos, porque é que íamos e portanto o estatuto que nos deram – e que lhes deram a eles – também acautelou o nível de relação que se propunha que houvesse e tudo correu muito bem. . (…) No fim do curso estávamos envolvidas numa afectividade muito grande, porque realmente os pára-quedistas são excepcionais, são pessoas muito abertas, muito solidárias e amigos. E isso foi muito importante para nós vivermos a nossa missão.
[Partida para Angola, em 23 de agosto de 1961, com a Maria Arminda]
A 23 de Agosto fomos duas enfermeiras para Angola, como teste. Estávamos ainda a fazer fardas em Lisboa, quando foi anunciado que ia haver uma operação especial dos pára-quedistas no norte de Angola, na Serra da Canda e eles gostavam da nossa presença.
Era tudo à experiência: ver como é que nós nos dávamos, ver
como é que os pára-quedistas reagiam à nossa presença. Mas não foi nada de especial
porque aqueles pára-quedistas que nós fomos encontrar no avião para a Serra da
Canda, tinham estado em Tancos em Junho,quando nós tínhamos ido para lá. Eles
tinham embarcado para Angola em Julho. (…)
Em Luanda onde inicialmente aterrámos e onde ficávamos –
tínhamos a messe e os alojamentos lá – vimos que as pessoas, os africanos e os
europeus que estavam lá radicados tinham uma relação humana boa. Eram pessoas
muito abertas a uma relação e, mesmo com a população local, não há dúvida
nenhuma de que havia uma relação rica de sensibilidade e de vivência.
É claro que a situação de guerra veio alterar as coisas em todos os sentidos. E nós, a nossa presença militar também alterava tudo, mas nunca senti fricções. (...)
(Continua)
[Seleção / subtítulos / revisão e fixação de texto, para efeitos de publicação neste blogue: LG]
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de13 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21763: Parabéns a você (1922): Major Enfermeira Paraquedista Reformada Maria Ivone Reis (FAP, 1961/74)(**) 13 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9348: Parabéns a você (367): Maria Ivone Reis, 83 anos: enfermeiras, paraquedistas, amigas, companheiras de aventura e camaradas para sempre! (Maria Arminda)
(***) Último poste da série > 28 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21702: (De)Caras (133): o ten inf Esteves Pinto (1934-2020), que foi instrutor de alguns de nós no CISMI, em Tavira, e que morreu no passado dia 18, com o posto de cor inf ref
Guiné 61/74 - P21763: Parabéns a você (1922): Major Enfermeira Paraquedista Reformada Maria Ivone Reis (FAP, 1961/74)
Nota do editor
Último pste da série de 8 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21745: Parabéns a você (1921): António Murta, ex-Alf Mil Inf MA da 2.ª Comp/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)
terça-feira, 12 de janeiro de 2021
Guiné 61/74 - P21762: Projecto de livro autobiográfico, de António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74) (1): Contra os canhões marchar, marchar...
De um projecto de livro autobiográfico que pretendo editar e publicar na íntegra, um dia destes, destaquei este trecho para, caso mereça algum interesse, ser publicado na nossa Tabanca Grande.
Aproveito para cumprimentar os editores e desejar-lhes saúde e felicidade.
Carvalho de Mampatá
1 - CONTRA OS CANHÕES MARCHAR, MARCHAR…
Naquela noite fria de 10 de janeiro de 1971, por amabilidade do meu saudoso amigo José Augusto Baptista Oliveira, seguíamos ambos no carro de seu avô que nos conduzia à estação de Campanhã onde, pela meia noite, tomaríamos o comboio que nos levaria até ao Regimento de Infantaria das Caldas da Rainha, com transbordo em Alfarelos de permeio.
Mas, na verdade, não era fácil escolher o caminho da deserção que implicava, naquele tempo, um adeus à família para sempre ou por muito tempo. O regime, depois da morte de Salazar, em 27 de julho de 1970, tinha dado alguns sinais de abertura, mas muito ténues e, nas questões essenciais, como era a guerra do ultramar, nada havia mudado, mantendo-se a aposta na defesa intransigente dos territórios ultramarinos onde os insurgentes lutavam pela independência de Angola desde 1961, da Guiné desde 1963 e de Moçambique, na costa do Índico, desde 1965.
Havia já o registo de muitas deserções, sobretudo nas camadas mais instruídas, mas nada que fizesse perigar o prosseguimento daquela guerra sem sentido e sem fim à vista. O período dos primeiros três meses de instrução básica, comummente designado por recruta, passei-o ali, em sessões diárias de exercícios de ordem unida, ginástica, marchas e corridas fora do perímetro das instalações militares, formação sobre manuseamento e funcionamento da arma, instrução de tiro, teoria sobre guerra de guerrilha e ação psicológica.
Estava assim transcorrido o meu primeiro ano de serviço militar. Antes da minha mobilização para a Guiné havia ainda de prestar serviço no Regimento de Cavalaria n.º 4, em Santa Margarida, durante cinco meses.
A alimentação era entre o aceitável e o péssimo. Passei por quartéis onde havia alguma qualidade na alimentação e até no asseio das instalações e outros onde a comida era imprópria para pessoas. Sendo que todos os quarteis recebiam o mesmo abono em dinheiro por cada militar só posso concluir que nuns regimentos se roubava muito e noutros pouco ou nada.
A disciplina militar, pela sua rigidez, constitui um obstáculo à análise crítica e ao escrutínio do funcionamento da instituição castrense, permitindo assim, mais facilmente, atitudes abusivas quer no que diz respeito à instrução ministrada quer no que se refere à gestão dos seus próprios recursos, nomeadamente a aquisição de materiais, equipamentos e produtos alimentares. E se a corrupção era evidente nesse período de antes do 25 de Abril, ela permanece nas instituições militares atualmente, como no correr dos dias vamos lendo nos órgãos de comunicação. (...)
____________
Guiné 63/74 – P21761: Estórias avulsas (100): Como substitui o comandante de operações de patrulhamento em Jumbembem (Fernando C. G. Araújo, ex-Fur Mil OpEsp 2ª CCAÇ/BCAÇ 4512)
Em 24-07-1973, no “Teatro de Operações da Guiné,” tive o ensejo e a honra, como “Furriel”, de ter comandado numa operação de patrulhamento, os oficiais e furriéis que integravam os dois grupos de combate: 1º e 2º pelotão.
Um motivo de grande orgulho
para mim, ao guiar todos estes homens (+/- 40
a 50) e pela confiança depositada pelo Capitão, comandante de companhia .
Cuntima --------------- E
JBB -------------------- D
Curva da areia --------- C
Norobanta -------------- B
Entrada ------------------ A
Em 07-08-1973, comandei dois grupos de combate, mas faltam as convenções. Em 09-08-1973, tive novamente o ensejo, como “Furriel”, de ter comandado noutra operação com maior risco, os oficiais e furriéis que integravam os três grupos de combate: 1º; 2º e 4º pelotão.
Um orgulho ainda maior, pela confiança que o comandante da companhia mais uma vez depositava nas minhas mãos, (+/- 70 a 80 homens). Convenções assinadas pelo (Capitão) comandante da 2ª Compª.Bat.4512.
Convenções:
JBB ----------------------- C
Farim --------------------- A
Estrada Fambanta ------- D
Alto Lamel --------------- F
Lamel --------------------- R
Entrada -------------------- E
Isto traduz bem o que
representa um militar de Operações Especiais e da segurança e força anímica que
consegue transmitir a terceiros. Desde o primeiro dia, após a minha integração
no 2º pelotão da 2ª Companhia do BCAÇ 4512, que os homens ficaram mais
motivados no teatro de operações quando comigo começaram a actuar. A
disciplina, o rigor a lealdade e a dignidade com que sempre os tratei e habituei,
fizeram com que o sacrifício por eles dispendido fosse atenuado com uma firme
vontade de vencer, porque sabiam por quem estavam a ser guiados e sentiam-se mais
confiantes.
Um
abraço,
Fernando Araújo
Fur Mil OpEsp/RANGER da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512
Fotos: © Fernando Araújo (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
Vd.
último poste desta série em:
SÁBADO, 25 DE JULHO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21198: Estórias
avulsas (99): Achado misterioso (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR)
Guiné 61/74 - P21760: Álbum fotográfico de António Marreiros, ex-alf mil, CCaç 3544, "Os Roncos", Buruntuma, 1972, e CCaç 3, Bigene e Guidage, 1973/74 - Parte II: A festa do fanado
Data - domingo, 3/01&2021, 20:59
Assunto - Ritual de iniciação
Não estão tão nítidas, as fotos que mando em anexo, mas é uma janela no passado...
___________
3 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21729: Memória dos lugares (416): Um casamento em Bigene (António Marreiros, ex-alf mil, CCAÇ 3544, Buruntuma, 1972, e CCAÇ 3, Bigene, 1973/74)
segunda-feira, 11 de janeiro de 2021
Guiné 61/74 - P21759: Consultório militar do José Martins (58): O Estatuto e a Insígnia do Antigo Combatente (José Martins / António José Pereira da Costa)
Publicamos hoje mais um trabalho do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), desta vez sobre o Estatuto dos (Antigos) Combatentes e a polémica Insígnia do Antigo Combatente.
____________
2. Ainda a propósito da Insígnia do Antigo Combatente, aqui fica a opinião do nosso camarada António José Pereira da Costa, enviada ao Blogue em mensagem de 7 de Janeiro de 2021:
Boa tarde Camaradas
Não sei muito de heráldica, mas há uma coisa que sei de fonte limpa: nos brasões não se escreve. É assim nos das U/E/O das FA e até nos emblemas dos clubes. Ninguém viu que o emblema do Bunfas ou do Fê-Cê-Pê tivesse escrito por baixo "Sócio do..."
Estes distintivos, como os brazões, falam e não necessitam de esclarecimentos para serem entendidos.
No nosso caso, não. Ao símbolo - miniatura do monumento do Bom Sucesso - acrescentaram (soto puseram) "Antigos Combatentes".
Pergunto se também os haverá modernos e ancestrais ou até futuros?
O símbolo adoptado pode ser discutível, mas isso é outra questão.
Mas escrever por baixo do símbolo...
O que é que temiam? Que alguém o confundisse com um clube de campismo?
Não sei quem foi o autor do projecto. Para mim, é a assinatura de quem o aprova que conta.
Claro que agora nada há a fazer, a menos que o bom senso impere rapidamente, digo eu...
Um abraço para todos e desculpas àqueles a quem não boafestei na devida altura
António José Pereira da Costa
Cor. Art.ª (Ref.) AM 64/67
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Nota do editor
Vd. postes de:
27 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21299: Consultório militar do José Martins (51): O Estatuto do Antigo Combatente (1)
e
28 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21301: Consultório militar do José Martins (52): O Estatuto do Antigo Combatente (2)
Último poste da série de 31 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21716: Consultório militar do José Martins (57): Reduto de Monte Cintra
Guiné 61/74 - P21758: Notas de leitura (1333): “De Lisboa a La Lys, O Corpo Expedicionário Português na Primeira Guerra Mundial”, por Filipe Ribeiro de Meneses, Publicações Dom Quixote, 2018 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Maio de 2018:
Queridos amigos,
A investigação deste conceituado historiador que em 2010 publicou a incontornável biografia política de Salazar, é muitíssimo incómoda para todos aqueles que têm procurado tecer hagiografia sobre um dos maiores desastres militares portugueses. Em síntese, a linha democrata do regime republicano, com Afonso Costa na proa, investiu fortemente para a criação do Corpo Expedicionário Português, após a declaração de guerra à Alemanha, tínhamos que nos provar briosos nas trincheiras da Flandres.
O historiador narra as intrigas, as tensões nos Altos Comandos, o diálogo penoso entre estes e a hierarquia militar britânica, o estranhíssimo comportamento de uma maioria dos oficiais do CEP, mal relacionados com os seus subordinados e chegamos àquele 9 de abril que começou com uma tempestade de fogo sobre as linhas do CEP e uma demandada em catástrofe, sobre a mesma há narrativas desencontradas.
Este livro é porventura a investigação mais rigorosa e atual sobre estes acontecimentos fatídicos que irão preludiar a queda do regime republicano.
Um abraço do
Mário
De Lisboa a La Lys: A tragédia de 9 de abril de 1918
Beja Santos
“De Lisboa a La Lys, O Corpo Expedicionário Português na Primeira Guerra Mundial”, por Filipe Ribeiro de Meneses, Publicações Dom Quixote, 2018, é mais uma investigação de gabarito de um historiador que se consagrou com a obra Salazar: Uma Biografia Política. La Lys, como o autor observa, foi um dos dias mais mortíferos da história militar de Portugal. Numa só manhã, perto de 400 portugueses morreram, muitos mais foram feridos e o número de prisioneiros rondou os 6600. O Corpo Expedicionário Português (CEP), símbolo máximo do esforço de guerra nacional durante a I Guerra Mundial, desapareceu dos campos de batalha franceses enquanto unidade organizada. O regime republicano apostara forte neste Corpo Expedicionário, tudo fez para o enviar com celeridade para a Frente Ocidental, o descalabro de La Lys iria pôr o regime em xeque e o seu militar mais prestigiado, Gomes da Costa, aparecerá à frente do 28 de maio de 1926.
O que Filipe Ribeiro de Meneses investiga e dá à estampa é muito incómodo para os nossos brios e compromete em grande parte a hagiografia que se tem pretendido montar sobre os lances de heroísmo e a bravura do militar português nas trincheiras da Flandres. A história bem comportada do CEP, como Ribeiro de Meneses ilustra, é um conto de fadas, baseia-se em inúmeros testemunhos que servem para comprometer o manto diáfano da fantasia.
O historiador enceta o seu trabalho falando de seu avô Mário Ribeiro de Meneses, capturado em La Lys e levado para território alemão, daqui travará correspondência com a família e nos aperceberemos das peripécias do que foi o seu regresso e de outros milhares de militares. Mas peripécias, jogos políticos e um impressionante desfasamento entre oficiais, sargentos e praças, é o que não falta neste documento rigoroso, e com um novo olhar historiográfico.
Chegado o CEP a França, logo começaram as dificuldades, assinaladas as péssimas relações, que atravessaram todo o contingente. Chegaram a Brest e pouco antes tinha havido em Lisboa o golpe de Estado de Machado Santos, com revoltosos detidos, que depois embarcariam para França. O general Tamagnini irá queixar-se permanentemente que estava sob vigilância ideológica do partido de Afonso Costa, através de um major. Eram difíceis as relações com os aliados britânicos, estes cedo se aperceberam que havia que dar mais instrução para a guerra que o contingente português iria enfrentar (o que tinham aprendido em Tancos estava bem distante do que iam experimentar nas trincheiras), Afonso Costa negociara com Londres a contribuição portuguesa para o esforço de guerra: o Exército Português teria o seu setor próprio a defender, com o seu comando próprio, com a sua completa autonomia. A prática ensinou que não podia ser assim. O autor recorda que 1917 foi um ano cruel para os Aliados, a Batalha de Passchendaele que resultou num massacre de enormes proporções, aspirava-se à chegada de contingentes que renovassem os corpos de Exército completamente estafados pela vida das trincheiras e por desaires sucessivos frente aos alemães.
A logística também cedo se revelou difícil, desde o transporte marítimo à distribuição de peças de artilharia e armamento ligeiro; para além do frio, ia muita gente doente e doenças venéreas não faltavam. Ao mais alto nível, discutia-se a preparação e a ida para as trincheiras.
O historiador, mais do que altamente documentado, cruzando agilmente a documentação britânica e portuguesa, revela o vai e vem das decisões, mostra a correspondência intercetada pela censura, veja-se este trecho de um soldado: “Aqui não se fazem avanços. Os que os tentam fazer perdem toda a sua gente com as minas que o inimigo faz explodir, em vista de nós termos minas por baixo das trincheiras deles e eles debaixo das nossas. A guerra das trincheiras é isto só: ataques de artilharia, gases, de noite cortarem arames uns aos outros, metralhadores a fazer constantemente fogo, para não deixar avançar o inimigo, morteiros que enterram um homem vivo e de vez em quando lá morrem meia dúzia, e assim passamos estes dias até nos chegar também a vez”.
Se a falta de coesão no CEP era indisfarçável, o golpe de Estado sidonista e o afastamento dos políticos que tudo tinham feito para que Portugal entrasse na guerra introduziu novos embaraços, acrescidos das dificuldades manifestadas pelos britânicos no transporte regular de tropas portuguesas para a guerra. De janeiro para fevereiro de 1918, o CEP aparecia constituído em corpo de exército mas pouco apto para empreender raides contra posições alemãs. Não obstante, as forças portuguesas passaram a penetrar nas linhas inimigas. O estado de saúde dos militares portugueses não era abonatório, como escreveu nessa altura Jaime Cortesão: “Pálidos, magros, exaustos, os pulmões roídos dos gases, os pés triturados das marchas, sem esperança nem apoio moral, arrastam-se, sob o imenso fogo que tomba do céu, por essas estradas, como uma legião miserável de abandonados”. E assim chegamos ao cenário da ofensiva alemã de 9 de abril, o historiador colige o que há de mais expressivo nas narrativas contraditórias, pois as versões documentais estão longe de coincidir. Os relatos ingleses evidenciam que se susteve a gigantesca ofensiva alemã, a barragem de fogo foi infernal e desfez aquela linha da frente, pôs a generalidade das nossas forças numa retirada caótica, a infantaria alemã não teve dificuldade naquele número elevado de capturas. Iniciaram-se novas discussões, os britânicos entendiam que os portugueses não deveriam regressar como força independente às primeiras linhas e é nesse período transtornado que a Alemanha, exausta e à beira da guerra civil, capitulou. As consequências para Portugal foram igualmente dramáticas: “Em La Lys findou o sonho de uma República capaz de transformar os destinos de Portugal, do seu domínio colonial e dos Portugueses de todo o mundo, mobilizando todas essas forças em torno do sacrifício dos soldados nas várias frentes de combate e da valorização, pelo mundo fora, do bom nome português”.
De leitura obrigatória.
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Nota do editor
Último poste da série de 4 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21734: Notas de leitura (1332): Espaço social e movimentos políticos na Guiné-Bissau (1910-1994), por Philip Havik, na Revista Internacional de Estudos Africanos, n.º 18-22, 1995-1999 (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P21757: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (81): o monumento ao capitão Teixeira Pinto, em Bissau, inauguraddo em 1929 (Carlos Silva, ex-fur mil arm pes Inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71; régulo da Tabanca dos Melros; dirigente da ONGD Ajuda Amiga)
Data - sexta, 8/01, 20:03
Luís
No seguimento da minha promessa em comentário ao post 21741, aqui vão as cópias que retirei do Blogue, e não como eu tinha pensado que tivesse digitalizado, que confirmam o que referi no mencionado comentário.
Nas fotos estão indicados os postes
Podes reencaminhar para a Ana Paula e publicar. (****)
Abraço
Carlos Silva
(*) Vd. poste de 26 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20686: Historiografia da presença portuguesa em África (201): "A Guiné Através da História", pelo Coronel Leite de Magalhães; Cadernos Coloniais, Editorial Cosmos (1) (Mário Beja Santos)
(***) Vd. poste de 29 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17523: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (1): Até à pág. 14 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)
domingo, 10 de janeiro de 2021
Guiné 61/74 - P21756: (In)citações (176): Nós, os "dinossauros" do blogue e o novo "annus horribilis" de 2021: queremos continuar a ser um blogue de partilha de memórias e de afectos, no fundo um "grupo de ajuda mútua"... Afinal, os velhos combatentes podem ser destruídos, mas nunca derrotados, parafraseando o protagonista de "O Velho e o Mar" (José Belo / Luís Graça)
Fotos (e legenda): © José Belo (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
Date: terça, 5/01/2021 à(s) 11:15
Subject: Perguntas de subjetividades feitas
Blogoterapia... A palavra ainda não foi grafada nos nossos dicionários. Mas tem já cerca de 270 referências no nosso blogue... Se calhar devia ter mais: afinal o que fazemos aqui todos os dias é isso mesmo, é blogoterapia, é partilharmos memórias (e emoções) através do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...
Sem querer fazer concorrência (desleal) aos "psis" (psiquiatras, psicólogos, psicoterapeutas, e eu até tenho três na família...), diria que o nosso blogue é também um "grupo de ajuda mútua" (em inglês, "mutual aid group")... É um grupo de partilha de informação, conhecimento, vivências, histórias de vida, memórias, emoções, cores, sons, sabores... e saudade!
(*) Vd. também postes de:
seis anos
5 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21735: O nosso blogue em números (67): no "annus horribilis" de 2020, o número de visualizações de páginas foi de cerca de 800 mil, tendo atingido um total de 12,4 milhões
7 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21744: O nosso blogue em números (69): No mundo globalizado, fomos vistos em muitos países, com natural destaque para Portugal (41%), EUA (25%) e Brasil (6%)...Cabo Verde e a Guiné-Bissau, infelizmente, ainda não aparecem no Top 20... São dois pequenos países, de resto com taxas de penetração da Internet desiguais: 63,3% e 12,7%, respetivamente
10 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21754: O nosso blogue em números (70): em 2019 e 2020, entraram 40 novos membros para a Tabanca Grande: somos agora um total de 824 (dos quais 10% já faleceram)
(***) Último poste da série > 9 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21752: (In)citações (175): Saudade (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)
Guiné 61/74 - P21755: Blogpoesia (713): "Viver a negativos", "Dar prendas", "Sem asas" e "As cores da paciência", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
Viver a negativos
Há quem sobreviva a negativos.
Os esquimós.
E há os que vivem sempre a negativos.
Nas contas à ordem.
E há os que nunca sairam e também vivem.
Como se vê é uma questão de perspectiva.
Os esquimós podem ter sempre saldos positivos nas suas contas.
E, até, serem ricos.
Vivem da caça e esta abunda.
É positiva a falta de ar.
Faz-nos lutar por ele.
O sangue, para correr nas veias,
Tem de ter energia.
E, sem trabalho, não há energia.
Como se vê, esta é a nossa condição de vida.
É a lei natural que subjaz a tudo.
Vem isto a propósito do teorema de Pitágoras.
Que explica como tudo funciona na Natureza.
Só um bocadinho.
O nosso filho mais novo descobriu um pouco.
Uma revista científica da área, publicou o seu trabalho e classificou-o como inovador.
O resto, apareça quem o descubra!...
Berlim, 4 de Janeiro de 2021
11h49m
Jlmg
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Dar prendas
Dar e receber prendas é uma festa que se faz e se recebe.
Mostra que, afinal, somos importantes para alguém.
Uma vez que seja, de quando em quando.
Ser padrinho ou madrinha cria laços
Que apertam nossas vidas.
Pela Páscoa e pelo Natal.
Aquela regueifa fofa.
Aquelas peúgas a cheirar a novo.
A bênção que lhes pedíamos.
Traziam paz e confiança.
Não estávamos sós nos nossos passos.
Uns segundos pais a nos darem as suas mãos.
Dá saudade relembrá-los agora que somos maduros.
Tudo riquezas dos velhos tempos
Que a modernidade desconhece.
Recuou-se muito nesse sentido.
Está-se mais pobre em humanidade.
Berlim, 5 de Janeiro de 2021,
20h3m
Jlmg
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Sem asas
Meus pés, atolados ao chão,
Lamentam a sorte que a natureza lhes deu.
Preferiam ter asas
Para poderem voar.
Mal as batessem,
Subiriam ao céu.
Ao mundo dos sonhos.
Esqueceriam as bolhas
Que as botas lhes fazem.
Se livrariam das pedras
E das topadas que dão,
Com sangue a correr.
Mas perderiam o convívio da gente
E do bem que ele faz.
Berlim, 8 de Janeiro de 2021
16h30m
Jlmg
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As cores da paciência
Manto leve e transparente
Que cobre de cores nossa vida.
Arrefece a dor.
Sara as mágoas.
Finge ser o que nem sempre é assim.
Acalma os nervos.
Trespassa paredes de ingratidão e de abandono.
Derrete as agruras do dia-a-dia.
Faz renascer a paz e a esperança em melhores dias.
É dos humildes e dos pacientes chegar de pé ao fim,
Sem desistir.
Berlim, 9 de Janeiro de 2021
20h35m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 3 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21730: Blogpoesia (712): "Nunca esperei...", "Vultos na noite" e "Folhas caídas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
Guiné 61/74 - P21754: O nosso blogue em números (70): em 2019 e 2020, entraram 40 novos membros para a Tabanca Grande: somos agora um total de 824 (dos quais 10% já faleceram)
Entretanto, mais do que triplicámos em pouco mais do que três anos e meio (de junho de 2006 a dezembro de 2009), passando a ser 390 os membros da Tabanca Grande. (crescimento médio mensal = 6,5.)
De 2009 (n=390) a 2012 (n=595), o crescimento médio mensal continuou alto (5,7). De então para cá, esse indicador tem vindo a diminuir: 1,7 em 2016; 2,8, em 2017; 1,5 em 2018; 1,7 em 2019 e 2020... Média dos últimos cinco anos: 1,55.
Em 200 meses, ou seja, em quase 17 anos da nossa história (que vamos comemorar em abril de 2021), tivemos, em média, 4,12 novos membros por mês, o que não deixa de ser notável. (**=)
2. Nos anos de 2019 e 2020 tivemos 14 "baixas" (por falecimento).
Domingos Fernandes (1946-2020)
Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)
Fernando Franco (1951-2020)
José Barreto Pires (1945-2020)
José Maria da Silva Valente (1946-2020)
Mário Gualter Pinto (1945-2019)
Raul Albino (1945-2020)
São agora já 85 os camaradas e amigos já falecidos nestes 16 anos e 8 meses de existência do nosso blogue. Mas podem eventualmente ser mais. Há membros da nossa Tabanca Grande que não têm feito a "prova de vida" nos últimos anos, contactando-nos, escrevendo-nos, telefonando-nos, aparecendo nos convívios das diversas tabancas, etc.
De qualquer modo, connosco ninguém fica na "vala comum do esquecimento"... É esse um dos objetivos deste blogue, que é, ao fim de16 anos, a maior rede social de ex-combatentes da Guiné (1961-74).
3. Não confundir, no entanto, membros da Tabanca Grande, formalmente registados (n=824), com amigos do Facebook, da nossa página Tabanca Grande Luís Graça.
O processo de adesão de uns e outros é diferente: o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné acolhe essencialmente ex-combatentes que estiveram no TO da Guiné, entre 1961 e 1974, e que querem partilhar memórias do tempo da sua comissão de serviço (fotos, histórias, depoimentos, etc.).
Por outro lado, o blogue tem um conjunto regras editoriais que os membros da Tabanca Grande têm de respeitar. No entanto, há uma série de "amigos do Facebook", ex-camaradas da Guiné, que bem poderiam integrar o nosso blogue...
Os amigos inscritos na nossa página do Facebook, Tabanca Grande Luís Graça, são 3184. Eram 2813, no final de 2018.
Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
5 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19366: O nosso blogue em números (57): de 2012 a 2018, entraram em média, por ano, cerca de 27 novos membros para a Tabanca Grande: somos agora 783, dos quais 70 já faleceram.
(**) Último poste da série > 7 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21744: O nosso blogue em números (69): No mundo globalizado, fomos vistos em muitos países, com natural destaque para Portugal (41%), EUA (25%) e Brasil (6%)...Cabo Verde e a Guiné-Bissau, infelizmente, ainda não aparecem no Top 20... São dois pequenos países, de resto com taxas de penetração da Internet desiguais: 63,3% e 12,7%, respetivamente