domingo, 25 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22138: Blogpoesia (731): Neste dia 25 de Abril, as inquietações de sempre, "Esquecimento", poema de Juvenal Amado (Ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)


1. Em mensagem do dia 16 de Abril de 2021, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), enviou-nos este poema alusivo ao dia que hoje se comemora:


ESQUECIMENTO

Olho para este cravo rubro
Imagino o sangue derramado
O som de pés descalços
O trabalho infantil
As Lágrimas das despedidas
O luto
O som do silêncio.
Não aceito o esquecimento
Nele ainda vejo a oportunidade
Pra mudança necessária.
A liberdade não tem preço
Somos devedores dos ignorados
Mergulhados na noite sem fim
Fomos salvos do pesadelo por um clarão.
Ainda sonho com a madrugada libertadora
Sem revolta não há transformação
Sem desobediência não há mudança
Nem há esperança que se renove.


Juvenal Amado
25 de Abril 2021

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22133: Blogpoesia (730): "Os ex-Combatentes são fixes" de Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70)

Guiné 61/74 - P22137: Tabancas da Tabanca Grande (2): Tabanca do Atira-te ao Mar - Parte II: Quem canta (e toca) seu mal espanta (ou troca...)

 


Vídeo (1' 56'') > Alojado em Luís Graça / You Tube

Lourinhã, Porto das Barcas, Tabanca do Atira-te ao Mar  > Abril de 2021

Interpretação: Jaime Silva (voz e cavaquinho) e Joaquim Pinto Carvalho (voz e viola)  (Ensaio)


Oh rama, oh que linda rama 

(Música tradicional portuguesa) 
Letra:

Oh rama, oh que linda rama,
Oh rama da oliveira!
O meu par é o mais lindo
Que anda aqui na roda inteira.

Que anda aqui na roda inteira,
Aqui e em qualquer lugar.
Oh rama, oh que linda rama,
Oh rama do olival! 

Eu gosto muito de ouvir
Cantar a quem aprendeu.
Se houvera quem m'ensinara,
Quem aprendia era eu!

Não m'invejo de quem tem
Parelhas, éguas e montes;
Só m'invejo de quem bebe
A água em todas as fontes.

Fui à fonte beber água,
Encontrei um ramo verde;
Quem o perdeu tinha amores,
Quem o achou tinha sede.

Debaixo da oliveira
Não se pode namorar;
A folha é miudinha,
Deixa passar o luar.



Vídeo  (2' 47'') > Alojado em Luís Graça / You Tube


Lourinhã, Porto das Barcas, Tabanca do Atira-te Ao Mar > Abril de 2021

Interpretação: Jaime Silva (voz e cavaquinho) e Joaquim Pinto Carvalho (voz e bandolim) (Ensaio) 

Maria, teu lindo nome 
(Canção tradicional de Coimbra)


Letra: 

Maria, teu lindo nome, 
Ai, para as bocas sequiosas! 
Maria, teu lindo nome, 
Ai, para as bocas sequiosas! 

Maria, disse e ficou-me 
A boca a saber a rosas, 
Maria, disse e ficou-me 
A boca a saber a rosas. 

Maria, quero-te tanto, 
Ai, que só te peço que um dia, 
Maria, quero-te tanto, 
Ai, que só te peço que um dia 

Quando tu souberes o quanto 
Me queiras tanto, Maria. 
Quando tu souberes o quanto 
Me queiras tanto, Maria.


1. Na "jovem" Tabanca do Atira-te Ao Mar (...e Não Tenhas Medo!) (*), também se canta e toca... E quem canta e toca, seu mal espanta e troca... 

Os artistas, numa sessão de ensaio, deixaram-me gravar estas duas musiquinhas... que divulgamos só para partilhar a sua (deles) e nossa alegria por estarmos vivos (... e já vacinados contra a Covid-19, 1º dose...) e a esperança de que em breve todas as tabancas da Tabanca Grande possam abrir as portas, de par em par, para recebecer todos os amigos e camaradas da Guiné (e não só)...

Para já o grupo de músicos da Tabanca do Atira-te ao Mar é restrito (é apenas um duo... ), devido às circunstâncias atuais. Mas, recorde-se, que os dois fazem parte também da Tabanca Grande e da Tabanca da Linha...E o Joaquim Pinto Carvalho também já tem ido ao convívio da Tabanca do Centro... Portanto, senhores régulos, é convidá-los para uma próxima... quando a gente sair desta "anormalidade" (e já vamos no segundo ano da comissão de serviço na guerra contra a Covid-19). (LG)

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22136: Tabancas da Tabanca Grande (1): Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Lourinhã - Parte I: Nascida em plena pandemia de Covid-19...

 





 Lourinhã > Porto das Barcas > Tabanca do Atira-te ao Mar > 17 de abril de 2021 >  Peças de cerâmica da Maria do Céu Pinteus, a mulher grande da Tabanca, que faz anos a 12 de dezembro, e que ainda é do clube dos Sexas.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Foi, a partir de março de 2020, com a eclosão da pandemia de Covid-19 e o primeiro confinamento, que a Tabanca do Atira-te ao Mar se tornou numa espécie de "porto de abrigo" para alguns amigos e camaradas da Guiné, da região da Estremadura, Oeste, Lourinhã... Dentro das regras sanitárias impostas pela Direcção Geral de Saúde, obviamente.

A Tabanca do Atira-te Ao Mar fica em Porto das Barcas, Lourinhã... Tem o Mar do Cerro em frente. A logística é fornecida pelos "Duques do Cadaval, Maria do Céu Pinteus e Joaquim Pinto Carvalho (, advogado, músico e poeta, natural do Cadaval, membro da Tabanca Grande desde 7/12/2013, ex-alf mil da CCAÇ 3398 (Buba) e da CCAÇ 6 (Bedanda), 1971/73).  (A casa, de férias, agora residência permanente do casal,  tem 3 pisos com 3 frentes de mar,  os de baixo é para os "tabanqueiros".)

Tem sido um bom sítio para, em pleno confinamento imposto pela pandemia de Covid-19, revermos, ao ralenti, os fotogramas dos filmes que de vez em quando passam (e repassam) na tela da nossa memória, ajudando porventura a exorcizar os nossos fantasmas da guerra... 

Convirá dizer que é, por enquanto, uma minitabanca, com lotação máxima de seis lugares  (de acordo com as normas da DGS),  sentados à mesa comprimida, perpendicular ao oceano Atlântico. Está assente na falésia jurássica, a menos de 100 metros da linha de água...

A Tabanca do Atira-te Ao Mar já tinha, até esta data, 7 referências no nosso blogue. Como já  explicámos em postes anteriores (*), esta nova Tabanca  tem desempenhado um papel importante na quarentena e no confinamento, resultantes da pandemia de Covid-19, passando a ser um digno sucedâneo da Tabanca de Porto Dinheiro, e  mantendo a "chama viva" das nossas melhores memórias e vivências e da esperança e melhores dias. 

Recorde-se que, com a morte do Eduardo Jorge Ferreira ( 1952-2019). a Tabanca de Porto Dinheiro ficou órfã do seu insubstituível e carismático régulo. 

Dos membros da Tabanca Grande, tem aparecido por lá, com maior ou menor regularidade,  o Jaime Bonifácio Marques da Silva (, ou simplesmente Jaime Silva, também conhecido  como "marquês do Seixal"), natural de (e agora residente em) Seixal, Lourinhã, ex-alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72, e ex-autarca em Fafe, bem como o nosso editor, Luis Graça e a Alice Carneiro (, residentes na Lourinhã).  

Estávamos à espera do João Crisóstomo e da Vilma, vindos de Nova Iorque, mas a festa da família Crisóstomo & Crispim, marcada para o Varatojo (a par da homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira, em Ribamar, em outubro de 2020) teve de ser cancelada pelas razões imperiosas que todos nós conhecemos.

Tanto o Jaime Silva como o Pinto Carvalho têm queda para a música, e tocam alguns instrumentos (cavaquinho, o Jaime,  bandolim, viola e cavaquinho, o Joaquim), além de fazerem (ou terem feito) parte de coros ou grupos musicais, Os convívios na Tabanca do Atira-te Ao Mar metem sempre umas musiquinhas e às vezes poesia. (Em próximos postes, divulgaremos algumas dessas atuações que, no fundo, não passam de "ensaios"...)

À volta de um comprimida mesa, que pode meter à vontade mais de uma dúzia de convivas, no 1º piso (, agora com lotação máxima de  seis), temos usufruído também de magníficas refeições (, em geral a cargo das "chefs" Alice Carneiro e Maria do Céu Pintéus, mas também do régulo Pinto de Carvalho, mestre do grelhador) e dos mais belos espectáculos de pôr-do-sol (*).



Lourinhã > Porto das Barcas > Tabanca do Atira-te ao Mar > 8 de maio de 2020 >  2º piso:  vista privilegiada sobre o mar do Cerro.

Foto: © Alice Carneiro (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Lourinhã > Porto das Barcas > Tabanca do Atira-te Ao Mar > 2 de junho de 2020 > 1º piso: a magia do pôr-do-sol sobre o mar do Cerro.



Lourinhã > Porto das Barcas >  Atira-te ao Mar e... Não Tenhas Medo > 1º piso > 4 de outubro de 2020 > Os donos,  Maria do Céu Pinteus e Joaquim Pinto de Carvalho (que  antes da pandemia viviam habitualmente em Carnaxide, Oeiras).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. No princípio de outubro do "annus horribilis" de  2020, despedimo-nos do verão do nosso descontentamento, com um poema do Luís Graça que dizia:

(...) À volta de um prato de sardinhas
e de um pedaço de pão de trigo barbela,
com o azeite puro da nossa oliveira,
despedimo-nos do verão,
mas não da vida, ou do que resta dela,
do puro prazer de estar vivo, e de pé,
de dedilhar uma viola,
de beber um copo em grupo,
ou de lembrar os tempos de Guiné, (...)

E em dezembro cantámos  os parabéns à dona da casa e mulher grande da Tabanca, que é também ela uma artista plástica e sobretudo ceramista talentosa como se pode ver das fotos que acima publicamos. Na ocasião ela recebeu o seguinte soneto de parabéns:

Para a Maria do Céu Pinteus,
A nossa Duquesa do Cadaval,
No dia dos anos que ela nunca mais esquecerá!

No seu palácio do Atira-te ao Mar,
Ela é hoje, e por um dia, Rainha,
Mimos deem-lhe, mas não a tratem por Céusinha,
Nem como Santa, muda e quieta, no altar.

Faz aninhos, a Duquesa do Cadaval,
Mulher d’armas que “en su situ” tem Pinteus,
Capaz de, daqui da terra, bradar aos céus
P’ra que Deus ponha à Covid ponto final.

Nove meses, confinada, tantos castigos,
Tem à frente o mar e atrás o Montejunto,
O que lhe vale é o Duque e os seus amigos.

Bem queria dar uma festa d’ aniversário,
Mesa farta, lagosta, champanhe, presunto!...
Mas, olhem, tem de ficar para o… centenário!



Lourinhã, 12 de dezembro de 2020,
2* vaga da pandemia de Covid-19…

Muita saúde e longa vida,
Que tu mereces tudo!...
Dos bons amigos, também confinados,
Companheiros de mesa do teu Atira-te ao Mar
E espetadores dos mais belos pôr do sol de 2020,

Os Viscondes da Lourinhã,
Alice & Luís

PS - Hoje, dia 25 de Abril de 2021, os tabanqueiros Joaquim, Luís e Jaime homenageiam também as suas companheiras de uma vida, e mães dos seus filhos, a Céu, a Alice e a Dina (, esta, infelizmente, já internada num lar, com incapacidade permanente; pertencia também à Tabanca de Porto Dinheiro)... 

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Nota do editor:

(*) Vd. entre outros os postes:

5 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21418: Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Lourinhã (2): A despedida do verão ou a vida que segue dentro de momentos (texto e fotos: Luís Graça)

3 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21037: Manuscrito(s) (Luís Graça) (184): a magia do pôr do sol no Mar do Cerro, Porto das Barcas, Lourinhã, na casa "Atira-te ao Mar!", dos "Duques do Cadaval"

sábado, 24 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22135: 17.º aniversário do nosso blogue (3): Para muitos, e já lá vão décadas, [este Blogue] tornou-se um indispensável ponto de encontro (José Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2391, Ingoré, Buba. Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70))


1. Mensagem do nosso camarada José Belo, luso-sueco, cidadão-do-mundo, membro da Tabanca Grande, nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, e que na Guiné foi Alf Mil Inf na CCAÇ 2391, "Os Maiorais" (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos, hoje mesmo, esta mensagem alusiva ao 17º aniversário do nosso Blogue:

Sendo uma obra de humanismos vários feita, haverá limitações que possa ter tido, tem ou terá.
É humano.

Para muitos, e já lá vão décadas, tornou-se um indispensável ponto de encontro.
De ante-mão, quem o lê identifica, e se identifica, com o seu tema base... a Guiné.
Uma Guiné que, infelizmente, a maioria veio a encontrar em dramáticas situações de guerra.
Tão longe de uma Guiné em paz e prosperidade que certamente em nada se assemelharia.

Aquelas gentes, mesmo nas situações mais extremas, deixaram em muitos de nós (e quase me atrevo a escrever... na maioria de nós) um estranho e melancólico sentimento de saudade.
Certamente acentuado por (então!) ainda olharmos o mundo através dos jovens olhos de pouco mais de vinte anos.

Talvez.

O Blogue veio preencher perfeitamente os sentimentos acima referidos, somados à amargura por tudo o que de muito duro por lá se enfrentou. De um modo ou de outro todos fomos afectados.
Mantivemos estes gritos da alma reprimidos muitos anos. Demasiados.

Afectou-nos talvez mais do que muitos se atrevem a reconhecer perante eles mesmos.

Surge o Blogue. As suas histórias que em conjunto formam a História, não só a nossa mas de Portugal.

Parabéns ao Blogue, aos seus Editores.

Parabéns às amizades sinceras que através dele se vieram a formar. 
Amizades entre Camaradas que de outro modo nunca se teriam reencontrado... ou mesmo,... “encontrado” pela primeira vez!

Guiné 61/74 - P22134: Manuscrito(s) (Luís Graça) (201): Soneto em louvor do galo do IPO - Lisboa



Lisboa > IPO - Instituto Português de Oncologia Dr. Francisco Gentil > 23 de abril de 2021 > Galináceos à solta...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Não é de todo insólito o doente do IPO-Lisboa tropeçar de manhã, quando vai a correr para o seu tratamento, com um pequeno bando de galináceos (galos, galinhas, frangos, pintos, à mistura com pombos e melros...) a cirandar à volta dos diversos pavilhões, nos espaços verdes...

As aves são residentes do Instituto, que vai fazer 100 anos em 2023. Não sei se há aqui capoeiras, vejo, quando por lá passo, que a bicharada  tem "livre trânsito", e prioridade sobre tudo e todos, incluindo as ambulâncias que chegam, às dezens, da área metropolitana de Lisboa e de todo o sul do país... (Imagino o sofrimento de que vem às 5 da manhá, do Alentejo profundo, partilhando a ambulância com mais mais um ou dois doentes, para estar aqui a horas para a sua quimieo ou a sua radioterapia.)

Vários galos, com voz operática, dominam os seus haréns e parece que, à noite, perturbam o sono dos vizinhos da rua Prof Lima Bastos... Mais importante que tudo, o galinheiro do IPO dá um nota de ruralidade e humanidade àquela antiga quinta da Casa de Cadaval, de sete hectares, onde hoje trabalham 1900 profissionais e se tratam, anualmente,  57 mil doentes... e onde às 8h15 da manhã já não há lugar de estacionamento...

Gosto da divisa do Instituto: "Quando só se vê cancro, nós vemos as pessoas"... É inspirador e dá-nos confiança. E o simples ouvir do cantar dos galos e do cacarejar das galinhas dá-me paz interior quando caminho para o pavilhão de radioterapia nestes últimos dois meses, em plena pandemia de Covid-19... É o princípio da alegria contra a dor, da vida contra a doença e a morte.... Pequenos detalhes que fazem diferença no dia-a-dia do doente oncológico. LG

O galo do IPO


Cocorococó!... O galo do IPO

Deixa uma nota de alvoroço matinal

Para quem está aqui a tratar-se do seu mal,

E que vem de longe, está triste e sente-se só!

 

Não é o galo cata-vento, fanfarrão,

Todo empertigado lá na torre sineira,

Mas o pica-no-chão, fora da capoeira,

Cujo cantar nos alegra o coração.

 

Contra o cancro, o galinheiro da Palhavã

Também faz figas connosco, é solidário,

Bela trupe de aves canoras, logo p'la manhã!

 

E a gente lembra-se da aldeia natal,

E da igrejinha com o seu campanário,

E da bicharada toda... lá p’lo quintal.


Lisboa, IPO, Serviço de Radioterapia, Unidade 3,

23 de abril de 2021

Luís Graça



2. A propósito do galinheiro de Palhavã, fui encontra no Portal da Queixa, a seguinte reclamação de um morador, vizinho do IPO-Lisboa, António, de seu nome, com data de 9 de abril 2021

Galos a vaguear no IPO

Moro na rua Prof. Lima Basto, mesmo em frente ao IPO de Lisboa. 

O que no inicio achei engraçado, ver um galo a vaguear dentro do recinto do IPO, está se a tornar um inferno. Passou de um galo para cerca de uma dezena de galos dentro do recinto da instalação, se já é mau ouvir durante todo o dia uma dezena de galos a cacarejar,  pior é quando, quase todas as noites, somos acordados por lutas entre eles ou outro tipo de barulhos ensurdecedores que emitem.

Na noite passada,  durou mais de uma hora começando por volta das 2h da manhã, com os barulhos infernais acima descritos.É impossível descansar de dia bem como dormir de noite.

Sendo este um ambiente hospitalar, porquê a utilização destes animais a vaguear pelo recinto? Para nós, moradores, está se a tornar impossível conviver com esta situação, sendo privados de descanso e sono. Solicitamos fim a este inferno.
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Guiné 61/74 - P22133: Blogpoesia (730): "Os ex-Combatentes são fixes" de Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70)


1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 23 de Fevereiro de 2021:

Bom dia Carlos Vinhal
Pelo facto de ter andado bastante ocupado, pouco tempo tenho tido para te enviar alguns dos meus trabalhos, sempre dedicados à malta e à Tabanca Grande.
Desta vez, o que escrevi é; PARA TI CAMARADA.

Um grande abraço para todos os Tertulianos e em especial para os Chefes de Tabanca.
Albino Silva



OS EX-COMBATENTES SÃO FIXES

Eu era o 01100467
Sou o autor desta escrita
Esperando agora passar
Sempre que haja revista.


Não precisas de formatura
Para estas coisas ler
Podes ler desde manhã
Até ao toque de recolher.


Tudo o que aqui escrevo
Bem à tropa me refiro
Pois podes ler descansado
Pois não darei mais um tiro.


Ao escrever tudo isto
Não pude fazer mais nada
Eu não gastei munições
Nem descavilhei a granada.


Com muito mais para dizer
Tenho mais para contar
Mas com o carregador vazio
A G3 não vai mais disparar.


Não falei de muitas coisas
O que fiz foi às ajudas
Sem guerra não disparo mais
Nem ataco mais bajudas.


Camaradas meu amigos
Se disparei eu sei bem
Mas aqui no que escrevo
Não foi para atingir ninguém.


Os Ex-Combatentes são fixes
Pois de mal não tem nada
Por isso eu não disparei
Nem sequer uma rajada.


Não se espantem com a escrita
Nem de coisas como esta
Pois o Bino não é escritor
E muito menos poeta.


Eu não sou bom a escrever
E qualquer erro que passe
Não se espantei por favor
Pois só tenho a quarta classe.


Gosto de escrever em versos
E tenho mais para escrever
Com a certeza porém
Que serei o primeiro a ler.


Por vezes vou escrevendo
Para depois tudo guardar
São livros que vou escrevendo
Mas sem nenhum editar.


Agora vou sim disparar
E deste fogo não foges não
Para todos um bom abraço
Disparado do coração.


É assim que eu disparo
E sem querer ferir alguém
Já entreguei minha G3
Não disparo a mais ninguém.


Albino Silva
01100467
CCS/BCAÇ 2845 - Teixeira Pinto
Guiné - 1968/70

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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22113: Blogpoesia (729): "Arroz doce"; O brilho dos brasões"; "Gradeadas as portas e janelas" e "Bom rasto", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P22132: Os nossos seres, saberes e lazeres (449): Quando vi nascer a Avenida de Roma (5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Março de 2021:

Queridos amigos,
Não só de ver nascer a Avenida de Roma vive aquele criançola que frequenta a Escola Primária N.º 151, que colabora nos abastecimentos calcorreando a Rua de Entrecampos, que visita todo o Bairro Social de Alvalade; joga-se à bola com os meninos de Telheiras ali bem perto onde houve um campo pelado do Sporting, e não muito longe onde nasceu o primeiro Estádio do Benfica, o Campo Grande presta-se a belos passeios, tem arvoredo majestoso, canteiros floridos, esculturas, dois lagos, além de ser flanqueado por uma arquitetura já decrépita, que os moços vão bisbilhotar nos seus passeios em torno do jardim: do lado esquerdo a Fábrica de Massas Itali, ao lado de prédios que já viveram melhores tempos, muito mais tarde serão terraplanados que deram origem àquele espaço onde posicionaram um edifício da Câmara Municipal de Lisboa e outros de habitação, a puxar para o chique, segue-se a Biblioteca Nacional, era um semi-descampado, depois os restos de casario oitocentista, ainda lá está um prédio do Colégio Moderno, segue-se uma vivenda Arte Nova, passava-se a Estrada de Malpique, as livrarias, depois da Avenida Alferes Malheiro mais moradias e casas apalaçadas, numa delas até se filmou Maria Papoila, o velho edifício da Junta de Freguesia do Campo Grande adossado ao Palácio Pimenta, corríamos até ao interior do Campo Grande e mirava-se com imenso prazer aquele lago que já vinha do passado. Pois muito do passado estava extinto, só restava um retiro, o Quebra-bilhas, já não havia a feira, já era raro passar gado para o Mercado Geral de Gados, que caminhava para a extinção, ninguém referia quermesses, batalhas de flores nem paradas militares, o Jóquei Club era para nós longe e desinteressante.
A idade contada, a proximidade também, só raramente se passeava até ao Campo Pequeno ou se subia a Avenida das Forças Armadas ou se descia a 5 de Outubro. A alteração de fundo é mesmo o alcatroamento da Avenida dos Estados Unidos da América e o fim da Quinta do Visconde de Alvalade. As classes médias vão ter mais espaço para desfrutar, começa a saga.

Um abraço do
Mário Beja Santos


Quando vi nascer a Avenida de Roma (5)

Mário Beja Santos

Enquanto a Avenida de Roma vai nascendo prodigiosamente em direção à linha do comboio, fora das horas passadas na Escola Primária N.º 151, e das muitas brincadeiras na Quinta e Olival do Sr. Visconde de Alvalade, pelas múltiplas deambulações entre os quintais do bairro, jogos de caricas, peão e berlinde, há o conhecimento fascinante do Jardim do Campo Grande. O meu guia e comentador é a minha mãe. O ponto de partida dos passeios é mesmo junto à Estátua dos Heróis da Guerra Peninsular, os talhões estão bem cultivados com belas flores, ela vai comentando as esculturas que vemos na passagem, caso do busto do ator António Pedro. A minha mãe conta que por ali D. Sebastião passou revista às tropas que depois largaram do Tejo a caminho de Alcácer Quibir, passamos o primeiro lago, os cisnes percorrem as águas em majestade, atravessamos a Avenida Alferes Malheiro a caminho do segundo lago, há sempre comentários para os edifícios plantados nas margens do jardim, há casas apalaçadas, os comentários na viagem para lá são habitualmente sobre o que se apresenta do lado esquerdo, ainda não se erigiu a Biblioteca Nacional, passamos ao lado da Estrada de Malpique, maravilho-me com as montras das livrarias, nem me passa pela cabeça que serão santuários da minha adolescência, percorre-se o lago do Campo Grande, é domingo, enorme a vozearia da mocidade nos botes, o restaurante lá em cima, ainda não apareceu o Caleidoscópio, há avenida das palmeiras, a minha mãe aponta ao fundo e diz tratar-se da Alameda das Linhas de Torres, mais casas apalaçadas, sobressai uma em tristonho abandono, a minha mãe fala-me no Palácio Pimenta, passamos agora para outro lado, e com surpresa minha vamos entrar numa vivenda, é um museu, tem ao lado o Asilo D. Pedro V, obra devotada de proteção à infância desvalida, pode ter sido a ideia inicial, mas recordo perfeitamente de ter visto velhinhos, mas também estou confuso, também passei por ali e ouvi o gralhar de crianças uniformizadas de bibe. E continuamos a subir, já conheço, é ali que eu frequento a catequese, a Igreja dos Santos Reis Magos. Lerei um dia uma publicação chamada “Guia de Portugal Artístico, Lisboa, Jardins, Parques e Tapadas”, a sua autora era Maria Rio de Carvalho, e retenho uma frase bombástica: “O Campo Grande, na beleza apoteótica das suas áleas, tantas vezes perfumadas do aroma subtil ou penetrante das mais lindas flores, perdura ainda a miragem evocativa do árido Campo de Alvalade, restando a sua corpulência gigante à surpresa maravilhada das renovações!”.

Lá para cima, há outro mundo em fermentação, a Cidade Universitária e o Hospital de Santa Maria, caminhamos agora em direção a casa, passamos pela Pastelaria Nova Iorque, tenho direito a um lanche, jamais esqueci o nome do cabeleireiro por cima da pastelaria, Instituto de Beleza Cleópatra, do outro lado ainda resta uma vivenda pombalina, será derribada, terá depois outra pastelaria, a Granfina, muito frequentada por namorados, fazendo esquina com a já bem alardeada Rua de Entrecampos. E voltamos pelo lado do Campo Grande. Agora tudo mudou de rosto, adeus padaria, adeus esquadra da polícia encostada à Rua Aboim Ascensão, há muito que desapareceu a linha do elétrico, o quarteirão seguinte parece que foi engolido por um tremor de terra, nada sobreviveu. Muitas mudanças houve nesta cintura protetora do Bairro Social de Alvalade, ele permanece incólume, a despeito de muitos proprietários envidraçarem as varandas, há muitas obras, pena é termos jardins tão maltratados, melhores dias virão.
Agora sim, vamos até à Avenida de Roma, há muito recreio à nossa espera.
Museu Rafael Bordalo Pinheiro, no fim do Campo Grande, uma posição quase frontal com o Museu de Lisboa – Palácio Pimenta
Duas peças de cerâmica inesquecíveis, explico porquê. A raposa e a cegonha esteve durante muitos anos à entrada do Museu, que se fazia então pela porta principal, a peça estava exposta no jardim, depois foi retirada para restauro e está hoje no interior. Não sei como nem porquê, a minha mãe adquiriu uma cópia deste bule da cerâmica caldense, é bonito que se farta, mesmo com algumas falhas gosto de o ver em exposição
Campo Grande, a sempiterna avenida das palmeiras, imagem de tempo recente
O Palácio Pimenta, conheci-o fechado, esteve abandonado até 1962, a Câmara de Lisboa adquiriu-o nessa altura e transformou-o em Museu da Cidade
Igreja dos Santos Reis Magos, Campo Grande, imagem muito antiga, não conheci o lugar deste modo, o muro foi derribado e destruídos todos os prédios à volta, as árvores sim, permanecem.
Igreja dos Santos Reis Magos na atualidade

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22110: Os nossos seres, saberes e lazeres (448): Quando vi nascer a Avenida de Roma (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22131: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte VI: O baptismo de fogo no Xime (17/8/1965, e a Op Avante, ao Buruntoni (em 29-30/8/1965) com os primeiros mortos



Guiné > Região de Bafatá > Sector de Bambadinca (L1) > Xime > Carta do Xime (1961) > Escala 1/ 50 mil > Posição relativa de Enxalé, Xime, Madina Colhido, Gundagué Beafada, Darsalame (Baio) e Buruntoni, a sula da antiga estrada Xime-Ponta do Inglês (na Foz do rio Corubal).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)




Guiné > Região de Bafatá > Xime > CCAÇ 1439 (1965/67) > 30 de agosto de 1965 > O Armando Assunção Coutinho ("Penalti"), soldado do BCAÇ 697, ferido no decurso da Op Avante. Foto: fonte desconhecida.


1. Continuação da publicação da série CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) (*)



CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque)



Parte VI - Actividade operacional 
 durante a estadia da CCaç 1439 no Xime, de 17 de agosto a 5 de setembro de 1965


(i) Baptismo de fogo: 17 de Agosto de 1965, ataque ao aquartelamento do Xime

Foi o nosso baptismo de fogo. Diziam que sempre que chegavam “periquitos",   estes se deviam preparar pois o IN vinha sempre “dar as boas vindas’ e testar.

Copio o que consta no "relatório oficial”:

"Dia 17 de Agosto de 1965, ataque IN ao aquartelamento do Xime.

O ataque desenrolou-se com bastante violência com várias granadas de morteiro 60, rajadas de PM. As NT reagiram com fogo violento, não tendo o IN causado qualquer abalo no animo das NT. A CC1439 teve o seu baptismo de fogo.

Resultados obtidos - Do rebentamento de uma granada de morteiro 60 IN, resultaram dois feridos sendo um deles de muita gravidade, posteriormente evacuado para o HMP.  Foram eles: Soldado nº 5266865, João Pestana Vieira,    e Soldado nº  7387965, João Virgílio Nunes.

Da reacção das NT desconhece-se se houve baixas nos elementos IN atacantes.

Diversos - Distinguiu-se pelo seu valor e coragem o Furriel Mil. Manuel Nunes Geraldes."



Permito-me juntar duas notas complementares a este relatório para melhor e mais completa informação:

O Furriel Mil mencionado era o enfermeiro da CCaç 1439. Não havia nenhum médico e, como se veio a confirmar várias vezes depois durante os dois anos que se seguiram, a par da sua coragem e dedicação sem limites, ele tinha uma preparação profissional extraordinária, bem mais além de simples enfermeiro. 

Nunca mais soube nada do soldado evacuado para Bissau. Mas lembro-me bem do ataque e do tiroteio cerrado, ( mesmo em comparação com muitos outros que vim a experimentar depois). Eu,   embora não sentisse medo em demasia, corria quase desvairado dum canto a outro do acampamento: era a primeira vez que "a coisa era mesmo a sério” e eu queria ter a certeza de que toda a gente estava cumprindo o que se esperava de cada um. 

Fui interpelado por alguém que me disse haver feridos; corri e, quando cheguei ao local, o nosso furriel enfermeiro Geraldes já lá estava prestando os seus serviços. Ao perguntar-lhe qual a gravidade,   respondeu-me que ia fazer o que podia, mas que era melhor chamar o helicóptero imediatamente. 

Eu pensei que o ferido talvez não aguentasse muito tempo; e lembrei-me do pedido da mãe dum soldado, não sei qual, que no Funchal no dia da partida me tinha dito: "Oh Senhor alferes, cuide do meu filho …. ele vai consigo, por amor de Deus traga-me o meu filho de volta!"…  

E ali estava eu, sem saber o que fazer, talvez este não voltasse mais. Em outras situações haveria um médico e talvez mesmo um padre para o encorajar com esperanças e apoio. E fui buscar uma imagem de Nossa Senhora de Fátima que a companhia tinha trazido: sem palavras, que nem sei se ele estava suficientemente consciente, segurei durante alguns minutos a imagem em frente dele… Queria que,  além do cuidado médico,  ele sentisse também algum apoio moral e essa foi a única maneira que eu lha podia dar.

Outra coisa que merece ser mencionada e não vem neste relatório: neste “baptismo de fogo”, vim a confirmar o que já suspeitava: o nosso capitão não era para brincadeiras; na manhã seguinte , depois de termos feito buscas e vasculhado as vizinhanças sem qualquer resultado, ele disse-nos que tinhamos de "responder imediatamente e ir à procura deles” para mostrar àqueles c...  que não nos tinham metido medo e contassem connosco… E logo mandou chamar o Adão, um caçador nativo, que, diziam, conhecia bem toda a região para saber do que se poderia fazer …


(ii) Operação Bravura: de 19 a 24 de Agosto, na zona do Xitole


Dois dias depois estávamos envolvidos na Operação Bravura , junto com outra companhia (, a quem pertencia não me lembro,   e que o relatório também não identifica, mas que depreendo, pelo que se segue,  que fazia parte do BCaç 697)-

Tratava-se de uma "operação de reconhecimento e combate” na Zona de Xitole (de 19 a 24 de Agosto).

Resumindo o que vem no relatório:

"Chegados a Corubal,  foram detectados vestígios de presença IN tendo sido enviadas pequenas colunas de reconhecimento , foram assinaladas duas sentinelas, tendo sido eliminada uma. A outra detectou as NT e deu o alarme", Depois de várias manobras,  continua o relatório, "foi feita uma batida a toda a zona; foi destruída uma tabanca com os seus haveres, bem como um extenso campo de milho. Durante a retirada as NT foram emboscadas por duas vezes"...

Resultados obtidos : "foram causados dois mortos e três feridos confirmados ao IN" e  "capturados uma metralhadora ligeira, três Mauser", bem como diversas granadas ofensivas e defensivas e outras munições . "Não houve baixas das NT".

Diversos: foi salientada a audácia e sangue frio do soldado desempanador 3225/63, Armando Assunção Coutinho, da CCS do BCaç 697, voluntário para esta operação. 

Este soldado foi louvado pelo Exmo Comdt Chefe. Bem como o caçador nativo do Xime, Adão Camala, pelo seu valor mais uma vez demostrado nas operações em frente ao IN. "Todo o pessoal constituinte da Operação revelou qualidades militares de disciplina e com vontade de vencer".

(iii) Operação Avante: 29-30 de agosto de 1965, na zona do Buruntoni


Dia 29 e 30 de Agosto de 1965, realizou-se a Operação Avante.

Esta foi, na minha memória, uma das mais “difíceis”,  talvez a mais perigosa operação em que a CCaç 1439 esteve envolvida, opinião esta que é partilhada / confirmada por outros elementos desta Companhia que nesta e outras operações estiveram envolvidos. 

O próprio relatório da CECA,Volume 7, Tomo II, Guiné (página 349),  ao falar das actividades da CCaç 1439, menciona estas duas operações, Avante e Bravura,  como as dignas de maior destaque.

Vou copiar entre  algumas partes do "relatório oficial” mas porque fiz parte "não insignificante" desta operação que me ficou bem na memória, pelo mesmo relato de outros com quem tive recentemente ocasião de reviver estes momentos, reservo-me o direito de expôr a minha/nossa memória e versão, cujos detalhes não são exactamente a versão contada /escrita neste relatório.

(...) "Em 29 saiu do Xime a CCaç 1439 a fim de realizar a operação Avante que consistia numa patrulha de reconhecimento e combate à região, margem esquerda do Rio Burontoni junto da nascente."

E a descrição que se segue no relatório parece por vezes mesmo até contraditória nos seus detalhes. Pelo que vou descrever o que eu e outros , como por exemplo o furriel Lopes , lembramos com muita nitidez e precisão:

Saimos do Xime tendo o Capitão Pires que comandava a operação decidido que fosse o meu pelotão ( o 2º pelotão) a seguir na frente da coluna . "As forças da CCaç 1439 foram reforçadas com um Grupo de Combate da CCav 676, seis caçadores nativos e um voluntário da CCS, soldado 3325/63, Armando da Anunciação Coutinho."

(...) "A força partiu do Quartel do Xime a pé, e depois de articulada (com a outra CC de reforço) progrediu ao longo do Rio Gundagué, contornou Gundagué Beafada, passou ao largo do Darsalame (Baio)  e, antes de alcançar a povoação de Burontoni, (...) atingiu umas casas de mato, situadas na margem direita do Rio Burontoni, acerca de 200 metros deste".

O relato que se segue, sem dúvida bem intencionado, é um pouco confuso. E por isso permito-me descrever por minhas palavras o que vi e vivi, sem intuitos de aumentar ou diminuir:

O IN parece ter sido avisado com antecedência e estava definitivamente à nossa espera, tendo preparado uma bem pensada emboscada: antes, mas já perto do objectivo, talvez com o intuito de nos despistarem,   simulando desconhecimento da nossa aproximação, ouvimos conversas aparentemente despreocupadas, mas de lugar bem fora das nossas vistas. 

O meu pelotão, com a secção do furriel Lopes à frente em ponta, ia na frente; e connosco nesta secção iam dois guias nativos, um deles o Adão, em cuja experiência contávamos e em quem tinhamos toda a confiança; seguiam-se os outros dois pelotões da CCaç 1439 e o grupo de reforço em último lugar. O Capitão Pires vinha um pouco mais atrás do meu pelotão, talvez porque isso lhe daria mais facilidade de controle e comando.

Caminhávamos muito lentamente e de repente rebentou um ataque infernal, sobretudo de metralhadoras e pistolas metralhadoras à nossa frente. A emboscada estava preparada para à base de fogo de metralhadora a curta distância,  nos aniquilarem antes que tivéssemos possibilidades de nos defendermos. 

 No momento em que nos atirávamos ao chão,   ainda vi o corpo cair,  já descontrolado, do guia nativo Adão e de outros dois cujos ferimentos exigiram rápida evacuação de helicóptero para Bissau. 

Felizmente que as granadas de morteiro do IN foram cair mais longe de nós. Tivesse o IN juntado granadas de mão ( como está erroneamente escrito no relatório) ao fogo de metralhadoras no ataque ao meu pelotão que ia na frente,   e teríamos tido muitas mais baixas. 

Felizmente para as forças do meu pelotão havia um pequeno desnível no terreno que nos dava alguma proteção. Mas o fogo era muito cerrado e infernal. O Capitão Pires confessou-me mais tarde,  quando chegámos ao quartel,   que naquele momento pensou que toda a 1ª secção ( na qual eu estava, junto com o furriel Lopes) e talvez a maior parte do meu pelotão, estavam perdidos e ele nada podia fazer para nos salvar. 

Um dos soldados nativos, o guarda costas do furriel Lopes, Mamadu Jaló , ao ver o fogo cerrado de que estávamos a ser alvos, atirou-se para cima dele para o proteger, pondo-se ele em risco maior de ser atingido. Mas o furriel Lopes saiu imediatamente debaixo dele para poder usar a sua arma. 

Eu vi que estávamos perdidos se continuássemos naquela posição, pois quase não podíamos usar as nossas armas; mas tínhamos de fazer algo para inutilizar aquelas metralhadoras à nossa frente. No meio daquele inferno tive uma ideia e berrei tão alto quanto pude a todos, especialmente ao furriel Lopes e ao meu guarda-costas Baptista e aos outros que estavam perto de mim: "Granadas de mão e saltar"!...E  foi a nossa salvação. 

Lançamos as nossas granadas e, ao rebentar das nossas granadas, nós saltámos. O IN esperava tudo menos ver saltar de repente uma dúzia de homens/demónios à frente deles,  vomitando fogo para cima deles; espantados, nada mais fizeram que levantar e fugir loucamente à nossa frente para o interior da mata, sem sequer levarem as armas, enquanto nós corríamos como loucos atrás deles… 

Entretanto, os outros pelotões que estavam um pouco mais atrás, fizeram o mesmo levantando-se imediatamente com o Capitão Pires à frente,  a perseguiram o IN em frente e lateralmente, numa corrida /perseguição louca. 

Ouviram-se depois muitos tiros e rebentamento de granadas ao longe que não sabemos a que atribuir, uma vez que não tivemos conhecimento de qualquer outra operação nas redondezas naquele dia.

Não encontramos IN mortos, mas enquanto esperávamos os helicópteros, tivemos tempo de ver vários rastros de sangue, do que depreendo terem sido várias as baixas no IN .

As NT sofreram três mortos: Adão Camada, caçador/guia do Xime ; soldado 1880865, José Manuel Mendonça; soldado 833 3265 Tolentino de Gouveia;  e dois feridos graves: soldado 32265/63 Armando Assunção Coutinho ("Penalti"); e caçador nativo Braima Indjai; e vários outros feridos e acidentados de menor gravidade.

O “Penalti” não era madeirense, mas estava adido à nossa companhia. Mesmo seriamente ferido no braço,  não parou de fazer fogo louco. Não me recordo disso, mas outros que estavam comigo contaram-me. (não sei quem é o autor da foto que acima se publcia, que com a devida vénia copio, pois em boa hora apareceu no nosso blogue.)

O "Penalti" era “pau para toda a obra" ou "pano para toda a manga” e onde houvesse alguma chance de haver barulho ele era voluntário. No quartel andava sempre com um macaquito às costa (o “Benfica”) de que só se desligava quando saía para o mato, deixando-o acorrentado no quartel até que ele voltasse.

Consta (não posso afirmar a veracidade do que segue; assim me contaram, e conhecendo a fonte acredito que tenha sido verdade e portanto aqui o deixo, para que não passe ao esquecimento) que, não sei como (pois o 1º  ataque a Porto Gole foi em Marco de 1966) ele estava em Portugal quando o corpo do alferes Maldonado, vítima desse ataque, foi a enterrar em Coimbra. 

Ele soube e foi ter com a família a quem disse que estava em Porto Gole neste dia fatídico; que ao ver o Alferes Maldonado ferido pegou nele para o ajudar e que ele lhe faleceu nos seus braços.  Evidentemente que a mãe do Maldonado ficou emocionada e que depois tratava o ‘Penalti” como a um filho. Que permaneceu em Coimbra uns dias e que foi visto a andar de cavalo na quinta da família do falecido Maldonado. (**)

Consta ainda (mais uma vez não sei se é verdade ou não…) que voltou para o hospital onde estava em tratamento, mas, achando-se já suficientemente curado, como não lhe “davam alta”,  ele fugiu do hospital; e não sei como, conseguiu passagem para a Guiné num navio e apresentou-se em Enxalé para continuar o seu tempo de serviço na Guiné. 

Verdade ou não, mas que ele era homem para tudo isto… isso era sem dúvida nenhuma!


(iv) O dramático regresso da Operação Avante



O regresso foi exaustante, carregando às costas os nossos falecidos. O terreno e as circunstâncias eram as piores que se podem imaginar e a cada instante esperávamos sermos emboscados. Pelo que o Cmdt Capitão Pires pediu o apoio da Força Aérea. 

Ainda hoje lembro o respirar fundo e a sensação de alívio que senti quando dois aviões bombardeiros apareceram; o trajecto de regresso foi longo e creio que os dois aviões tiveram de ser revezados por outros, mas não nos deixaram mais durante todo o trajecto até chegarmos já bem perto do Xime.

Lembro que no dia seguinte, na formatura da manhã, o nosso Capitão Pires,  falando à Companhia inteira,  enalteceu o valor e coragem que todos tinham dado provas no dia anterior. Mas que queria de um modo especial mencionar o João Crisóstomo, o furriel Lopes e todo o 2º pelotão, que num momento, que parecia ser um momento trágico para a Companhia, tinham transformado essa situação de desespero numa acção heróica pela qual toda a Companhia lhes estava agradecida.

Foram vários os condecorados em resultado desta operação : Adão Camala, João Crisóstomo, António Lopes, Nauser Sana, Brama Lai; e outros foram “louvados". 

Ainda hoje é minha opinião que bastantes outros , nomeadamente todos os membros da secção do furriel Lopes e os que nesta operação perderam a vida mereciam o mesmo reconhecimento.

(v) Dia 5 de Setembro de 1965: Operação Corça, na zona do Enxalé

Um grupo de combate da CCaç 1439 deslocou-se do Xime para o Enxalé para participar na Operação Corça, reforçando a CCaç 1556. Esta operação é mencionada no resumo da CCaç  1556.

(Continua)
 
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 12 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22098: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte V: Destino: Xime.... E um levantamento de rancho que acabou à bofetada...

(*ª)  Sobre o malogrado alferes mil at inf, António Aníbal Maia de Carvalho Maldonado, 1ª CCAÇ / BCAÇ 697 (Fá Mandinga, 1964/66), morto em combate, em Porto Gole, em 3 de março de 1966, ver aqui:

22 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19517: In Memoriam (340): Até sempre, 'comandante' Jorge Rosales (1939-2019)

Guiné > Bissau > Praça do Império > Novembro de 1965 > O Jorge Rosales mais o Maldonado, junto ao monumento "Ao Esforço da Raça" ... "O alf mil Maldonado, meu camarada desde Mafra e meu substitulo em Porto Gole, (...) faleceu em março de 1966, em consequência do rebentamento de uma morteirada IN que o atingiu em cheio, no aquartelamento de Porto Gole". De seu nome completo, António Aníbal Maia de Carvalho Maldonado, morreu no dia 4/3/1966. Natural da Sé Nova, Coimbra, foi inumado no cemitério da Conchada.

Foto (e legenda): © Jorge Rosales (2010).. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]  


(,,.) No seu tempo (Março de 1966), morreu em Porto Gole o alf mil António Maldonado, que o veio substituir. O Maldonado, de Coimbra, estava em Bolama. Era alf mil da 1ª CCAÇ / BCAÇ 697. Eram amigos, tinham estado em Mafra. Tinham combinado revezar-se ao fim de um ano. O Maldonado vinha para Porto Gole e o Jorge ia para Bolama… No meio disto, há um coronel que vem dificultar o acordo de cavalheiros. Enfim, uma história que é preciso contar com tempo e vagar.

O Maldonado é morto num ataque violentíssimo a Porto Gole, depois de as NT terem feito um ronco nas áreas controladas pelo PAIGC… Ferido, aguardou em vão o heli que só podia vir de manhã. A mãe do Jorge [Rosales]  foi ao enterro, em Coimbra. O cadáver foi rapidamente trasladado, contrariamente ao que acontecia na época. Esta morte de um camarada e amigo abalou-o. (...) 

Guiné 61/74 - P22130: Parabéns a você (1955): David Guimarães, ex-Fur Mil Art MA da CART 2716/BART 2917 (Xitole, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22121: Parabéns a você (1954): António Baltazar Dias, ex-Alf Mil Art MA da CART 1745 (Bigene, 1967/69)

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22129: 17.º aniversário do nosso blogue (2): O “nosso” Blogue faz anos! - Faz 17 anos, está quase a entrar na maioridade (Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF (Piche e Bissau, 1970/72)


1. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 23 de Abril de 2021, a propósito do aniversário do nosso Blogue que hoje se comemora:



O “nosso” Blogue faz anos!

Num comentário de hoje o “timoneiro” Luís relembra que o Blogue faz anos.
Faz 17 anos, está quase a entrar na maioridade.

Desde então já muito, muitíssimo, foi escrito, comentado, muitas fotos ilustraram as palavras, os locais e acontecimentos, muitos livros lá deram à estampa, muita poesia foi apresentada, muitas outras iniciativas foram potenciadas, publicitadas, acarinhadas, muitos estudos com maior ou menor profundidade foram apresentados, muita polémica (bastantes vezes desnecessária) foi desenvolvida.
Tudo isto foi e é a vida do Blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”.

Tem sido dito e redito que o Blogue foi “apropriado” pelos seus membros. Quase todos têm esse sentimento de que “o Blogue é nosso”. E têm razão! Se o Luís e os membros iniciais têm o mérito de o terem começado, a verdade é que fomos todos nós, os que de alguma maneira o engrossaram com as suas contribuições, o ampliámos e lhe fomos dando a alimentação e a visibilidade, que contribuíram para a sua longevidade. E isso não é de modo algum despiciendo pois como as pessoas em geral se movem por modas o que agora é mais apetecível são as frases e as ideias curtas, os “twits”, os “faces”, etc., pois os tempos são de grande frenesim e não há tempo nem paciência (nem capacidade…) para ler mais que 4 ou 5 linhas de texto. Bastam umas quantas “bocas”, umas provocações e já está.

Sobre o tema da guerra em África existem, ou existiam, muitos Blogues. Quase todos relacionados com as Unidades funcionais (do Batalhão, da Companhia, etc.) de quem promoveu esse repositório de memórias que, no geral, começaram por ser individuais ou do coletivo restrito. Ao nível do “Facebook” são os inúmeros os sites, muitos deles em “concorrência” de seguidores.
O que mais distintivo tem o nosso Blogue é o seu “livro de estilo”, as suas regras. É verdade que as regras se fizeram para serem respeitadas e se assim fosse tudo seria muito bom. Mas também há quem pense que são para serem “quebradas”, torneadas, usadas nas partes convenientes. Afinal há de tudo e o Blogue também é realmente uma boa amostra da sociedade.

Não há muito tempo esta questão, de ser ou não representativo, foi aqui colocada. É verdade que a representatividade é sempre questionável mas creio muito sinceramente que, pese embora o âmbito das questões que normalmente ocupam os conteúdos, no essencial tendo por pano de fundo a Guiné e as nossas vivências por lá, o universo dos que por aqui vão contribuindo e dos que apenas “espreitam” é bem ilustrativo da diversidade e pluralidade de opiniões, conceitos, participações. Há de tudo!

Se quisermos ser mais sentimentalistas para procurar os benefícios do Blogue, podemos lembrar quantas confissões de “blogueterapia” já foram produzidas, quantas romagens de saudade traduzidas nas visitas que já foram feitas e aqui indiretamente incentivadas, quantas iniciativas de solidariedade, quantas colaborações e contribuições para estudos mais ou menos académicos, quantas “tabancas gastronómicas” foram criadas, revelando por si mesmas a satisfação de encontrar pessoas que passaram por situações iguais ou semelhantes.

Por tudo isto só me posso sentir grato por, em boa hora, ter descoberto o Blogue e através dele ter aumentado o meu conhecimento geral e até particular em muitos aspetos da “guerra da Guiné”, por ter podido conhecer pessoas que estimo verdadeiramente, seja pela sua grandeza humana, intelectual, de solidariedade, de amizade genuína.

O Blogue deve continuar. O Blogue tem que continuar.

Hélder Sousa
Fur. Mil. Transmissões TSF

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22128: 17.º aniversário do nosso blogue (1): Meu caro Luís Graça, tu és um "querido mano" para todos os que têm o privilégio de te conhecer (João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missira, 1965/67)

Guiné 61/74 - P22128: 17.º aniversário do nosso blogue (1): Meu caro Luís Graça, tu és um "querido mano" para todos os que têm o privilégio de te conhecer (João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)


1. Mensagem do nosso camarada João Crisóstomo, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), com data de 20 de Abril de 2021:

Meu caro Luís Graça,

Tenho seguido como tantos outros camaradas o teu diário tratamento no Instituto de Oncologia. Se não te conhecesse ficaria admirado das tuas qualidades de homem completo, levado neste caso a um grau quase sublime.
Mas contigo e em ti todas as coisas extraordinárias são normais. Mais uma vez a tua vida e o teu exemplo são tremenda inspiração que para todos aqueles que tiveram/têm a data de te conhecer.

Pessoalmente, mesmo entre estes, eu me sinto um afortunado, pois quis o bom destino que além dos muitos elos que nos unem como camaradas da Guiné, se juntassem o facto de sermos vizinhos e termos como comuns amigos indivíduos também extraordinários que tanto têm enriquecido a nossa vida. Já hå muito nos tratamos como mano e irmão. Agora vejo com alegria grande que ao fim e ao cabo tu não és um mano e irmão apenas para mim e mais alguns: tu és um "querido mano" para todos os que têm o privilégio de te conhecer.

Sem intuitos de enaltecimentos ou de querer parecer bem fazendo-te elogios: Obrigado, meu querido mano, pelo que és. A tua vida a nível familiar e social é um exemplo fabuloso, uma verdadeira inspiração para todos nós. Pela tua vida, pelo teu trabalho, incluindo este blogue e tudo o que deste blogue resultou para benefício de cada um de nós, da história da Guiné, de Portugal e não só… de ti se pode com toda a verdade dizer “ porque deles é que reza a história”. Bem hajas!

Para ti e todos os teus, mas neste momento especialmente para ti, um apertado abraço, tão grande como a amizade que nos une

João, Nova Iorque


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PS: Para o caso de não teres visto, aproveito este para te mandar um artigo que acabei há momentos de ler no “Expresso curto”, escrito pela Cristina Figueiredo, editora de política da SIC, na rubrica "o que ando a ler".

Aqui está:

"Agora que se cumprem 60 anos sobre o início da longa e mortífera guerra colonial é boa altura para lembrar, sobretudo aos mais novos, o significado da palavra “Ultramar” para a geração dos seus avós.

A revista do Expresso trazia na semana passada um texto de Jorge Calado sobre as (poucas) fotografias públicas que há do conflito. Mas se faltam as fotos não faltam os livros. Um dos mais recentes é "Palco Sombrio", de Alice Caetano (Emporium Editora, setembro de 2020).
A ideia que preside à obra é original: dar um conteúdo improvável à expressão “teatro de guerra”, narrando um período do conflito nas colónias através do testemunho de um capitão miliciano que, coincidência aproveitada pela autora, também é encenador e ator.


Conheço bem o protagonista: Carlos Nery Gomes de Araújo é meu sogro (fica feita a declaração de interesses).

Foi, como tantos outros, mobilizado contra vontade para combater numa guerra em que não acreditava e de que não sabia se voltaria. Partiu para a Guiné, a bordo do Niassa, em maio de 1968, tinha 35 anos, um filho (o meu marido) com apenas um ano. Sem qualquer formação militar, a não ser o serviço militar obrigatório que cumprira 10 anos antes, foi treinado em Mafra “à pressão”, por quem pouco mais sabia do que ele. Foi no mato que aprendeu, a expensas próprias, como comandar homens, como reagir a ataques, como manter o sangue frio em situações que um técnico do Banco de Portugal, como ele, estava longe de imaginar ter de viver: “A primeira coisa que eu decidi naquela guerra é que não ia morrer ali. Decidi isto ainda antes de lá chegar e acho que foi essa decisão que me salvou. A mim e aos meus homens”.

Voltou intacto, com efeito, e sem ter perdido uma única das vidas humanas que tinha à sua responsabilidade.

Mais de meio século decorrido, uma escritora interessou-se por esta e outras histórias que compõem a sua biografia, indissociável do gosto pelo teatro, que não abandonou nem mesmo naqueles dois anos em África (terminou a sua comissão de serviço com uma encenação de “A Cantora Careca”, de Ionesco, em Bissau) e que continua a ser o seu “elixir da juventude”: aos (quase) 88 anos, é ator residente da Companhia Maior, em Lisboa, e prepara-se para subir mais uma vez ao palco (assim a pandemia o permita) no final do ano.

A sua vida, de facto, dava um livro. Alice Caetano teve essa presciência e em boa hora passou das musas… ao teatro".


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Comentário do co-editor CV:

Neste dia em que se vira mais uma página para um novo ano de existência, o 18º deste Blogue, não podemos deixar de cumprimentar, com uma vénia muito grande, o criador e mentor desta página, o nosso mano Luís Graça.
Embora ele e os seus colaboradores precisem já de uns suplementos vitamínicos, porque são já uns septuagenários cheiinhos de ferrugem, continuam animados e coesos para levar a sua missão o mais longe possível.

Ao Luís, quero desejar a melhor saúde. Presentemente está a precisar de uns retoques, mas no 18º aniversário estará já a cem por cento.

Aos nossos camaradas de armas, e aos nossos leitores em geral, desejo que continuem a acompanhar-nos nesta jornada que também inclui participação activa com o envio de textos e fotos.

Carlos Vinhal
Coeditor

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Notas do editor:

1 - Edição e inserção das imagens da responsabilidade do editor.

2 - Sobre a peça de teatro "A Cantora Careca", levada à cena em Bissau em 5 de Abril de 1970, vd. poste de:

4 DE SETEMBRO DE 2010 > Guiné 63/74 - P6935: A Cantora Careca, estreado em Bissau no dia 5 de Abril de 1970 (Carlos Nery)

3 - Neste dia de aniversário do nosso Blogue, vejam o Poste n.º 1 de:
23 de Abril de 2004 > Guiné 63/74 – P1: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça)