segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12670: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (8): Gadamael em julho de 1967 e em outubro de 1968



Guiné >  Região de Tombali > Gadamael Porto > CART 1659 (1967/68) > Cartão de boas festas relativo ao novo ano de 1968

Foto: © Mário Gaspar (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Mário Gaspar [, foto à esquerda], com data de 26 de janeiro último:

Caros Camaradas e Amigos

Envio para o Blogue uma foto inédita, eu possuía uma maior mas desapareceu, que mostra Gadamael em 1967. Deve ter sido tirada em Julho/Agosto de 1967.

A outra que enviei e está no Blogue, foi tirada mais ou menos do mesmo local, e com a mesma máquina - curiosamente comprada no destacamento de Ganturé - a um Alferes Miliciano que,  como era de rendição individual, ficou com a CART 1659 em Ganturé - e com quem muito falei. Foi ele que nos orientou. Um camarada de Gadamael da CCAÇ 798 informou-me que o nome do Alferes Miliciano é Santarém e não Coimbra,  como eu julgava.

Um abraço, Mário Vitorino Gaspar

2. Recordações de um "Zorba" > Gadamael Porto em em meados de 1967

Eu, Mário Vitorino Gaspar, ex Furriel Miliciano de Artilharia n.º 03163264, com a Especialidade de Explosivos de Minas e Armadilhas e também artista em fornilhos, da CART 1659 em Gadamael Porto e Ganturé, envio esta foto muito danificada, encontrada entre os destroços e tirada por mim, que serviu para que muitos “Zorbas” enviassem as “Boas Festas e Ano Novo Muito Feliz” em 1967.



Guiné >  Região de Tombali > Gadamael Porto > Aquartelamento e tabanca em meados de 1967,  à chegada da CART 1659

Foto: © Mário Gaspar (2013). Todos os direitos reservados.


Observando a foto com mais atenção:

(i)  Mesmo do lado direito está um casarão de antigos colonos, onde funcionava a Secretaria, a Messe de Sargentos e onde dormiam alguns Sargentos;

(ii) À esquerda do mesmo está aquilo que denominávamos a Oficina Auto, onde muita viatura na sucata foi recuperada, tirando peças de umas para outras;

(iii) Também no lado esquerdo, parecendo branco, funcionava aquilo a que chamávamos de Cantina;

(iv) Logo a seguir, do mesmo lado esquerdo está o barracão onde funcionava o “Refeitório” (?);

(v) No limite do canto superior esquerdo vê-se,  mal, um outro casarão dos colonos onde funcionava o Comando da Companhia;

(vi) Do lado direito ao fundo avistam-se as moranças.

Tudo foi melhorado pela CART 1659, e pode-se ver através de uma foto que está no Blogue que eu enviei.
            
Fico bastante admirado com Gadamael Porto posteriormente a Outubro de 1968.



Guiné > Região de Tombali > Gadamael Porto > CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68) > Aquartelamento e tabanca no final da comissão, em 1968

Foto: © Mário Gaspar (2013). Todos os direitos reservados.


3. Mensagem de Mário Gaspar, enviada a 10 de janeiro último ao Manuel Vaz, com conhecimento aos editores do blogue:


Amigo Manuel Vaz e Luís Graça;

Eu, ex Furriel Miliciano de Artilharia n.º 03163264, que cumpri a Comissão de Serviço em Ganturé (de Janeiro a Julho de 67) e depois em Gadamael Porto até Outubro de 1968, estou imensamente interessado em conhecer o que foi Gadamael Porto depois desta data, até à Independência da Guiné.  Com certeza, esperando pelo "trabalho de pesquisa sobre os Pelotões Independentes (Pel Rec, Pel Art e Pel Can s/r) que passaram por Gadamael", que o camarada Manuel Vaz está a fazer.

Tenho muitas dificuldades em entender o que se passou depois dos finais de 68.

Eu não me encontro adormecido, estou muito interessado em conhecer a História de Gadamael Porto. Falei inclusive com alguns amigos que pisaram aqueles terrenos depois da comissão da CART 1659. Podes ver a foto de Gadamael que enviei para o blogue em 68 - tirada por mim - e fico pasmado com as fotos de Gadamael posteriores.

Decerto que muitas família da ex-República da Guiné Francesa se refugiaram naquele espaço. Gadamael parece quase uma cidade. E os abrigos? O arame farpado? A paliçada? Voltaram as valas, que a minha Companhia nem sequer conheceu? O terreno estava armadilhado?

São poucas, das muitas questões que eu gostava conhecer sobre Gadamael Porto.

Manuel Vaz, ficas com o meu gmail.  Um abraço para os camaradas da Tabanca Grande Manuel Vaz e Luís Graça.

Do camarada Mário Vitorino Gaspar

Nota: Com conhecimento ao camarada da Tabanca Grande Luís Graça

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12579: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (7): Adenda á minha história de "morto-vivo"

Guiné 63/74 - P12669: Notas de leitura (559): "Guerra Colonial - Uma História por contar", edição da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Externato Infante D. Henrique (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Agosto de 2013:

Queridos amigos,
É de todos sabido que o silêncio ou indiferença perante uma patranha de contornos revoltantes é manifestação de cobardia ou de espírito acomodatício a quem conhece o fundo e a forma da realidade infamada.
O assunto que vos ponho à reflexão é de como agir e denunciar uma declaração ignóbil, daquelas que serve de rastilho para olhar com preconceito o que foi a vida de um combatente em África.
A indignação, por si só, não leva a ponto nenhum. O que talvez fosse útil debater é como agir perante uma barbaridade como aquela que aqui vos conto.

Um abraço do
Mário


Guerra colonial: dissociar o fidedigno da patranha

Beja Santos

A Biblioteca da Liga dos Combatentes e a sua entusiasta responsável, a Teresa Almeida, é um local de grandes surpresas. Como esta publicação editada, em 1992, pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.

Na época, uma das linhas de modernidade da reforma educativa passava pelos projetos didático-pedagógicos que contribuíssem para cimentar uma relação mais estreita entre a escola e a comunidade.
Como se pode ler na apresentação do Presidente da Câmara:
“A memória de uma comunidade não pode ser apagada. Tem de ser permanentemente redescoberta para que o futuro do progresso e bem-estar que desejamos esteja isento de traumas, dramas… e tragédias”.
O trabalho foi desenvolvido por alunos de Antropologia Cultural do Externato Infante D. Henrique.
O professor diretamente envolvido esclarece:
“Muitos dos alunos são filhos de ex-combatentes que viveram e conheceram situações particulares de verdadeiro drama, são descortinarem com clareza as razões deste corredor cinzento da nossa História (…) Este trabalho traduz uma perspetiva vivida pelos protagonistas e figurantes de um acontecimento que marcou a nossa memória coletiva recente”.

Foram inquiridos ex-combatentes, entregaram aos alunos fotografias das suas vivências e comentaram-nas. Escolhi exclusivamente as três imagens que se referem explicitamente à Guiné.

A primeira tem a ver com a ida de um contingente que ia construir um novo quartel em S. João, em frente a Bolama. No decurso de uma flagelação, um soldado deixou cair o capacete, na ânsia do apanhar desceu da viatura e uma granada de mão feriu-o gravemente da cintura para baixo.


A segunda refere o ataque de 17 de Outubro de 1968 à base de Bissalanca. O inquirido refere que se encontrava no centro de mensagens do quartel-general. Chegara uma mensagem zulu da região de Bafatá, estava ali a decorrer um grande ataque inimigo, foi necessário ir à base de Bissalanca. Quando aqui se dirigiu, assistiu ao forte ataque à base aérea. Refere que houve sete vítimas mortais, do nosso lado, que houve feridos graves.



A terceira imagem reproduz-se na íntegra, tal é o desconchavo do que ali se diz. O inquirido refere que atacaram uma base inimiga junto ao Senegal e que despacharam milhares de inimigos. Como é evidente, num trabalho desta natureza um professor não pode confrontar a verdade das afirmações, se se ia fazer um quartel em S. João, se houve um ataque à base aérea de Bissalanca. Mas, creio eu, não pode ficar insensível à afirmação de “despachámos milhares de inimigos”, coisa que nunca aconteceu em nenhum teatro de operações nem podia acontecer, atendendo à natureza daquela guerra. Vamos supor que ninguém deu pela barbaridade ou aceitou a informação como plausível. É de questionar como tal declaração é percecionada pela opinião pública e os preconceitos que pode suscitar a patranha ou farronca de quem, entrevistado por gente inocente, se julga à vontade para proferir pesporrência. Vamos admitir que se trata de um caso isolado. Mas ninguém leu esta brochura que foi distribuída por uma autarquia, ninguém reagiu, ninguém se consternou com a gravidade da declaração ofensiva?



Assunto que nos devia fazer pensar, tanto quanto me parece.
A quem de direito.
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12659: Notas de leitura (558): "Ideia Geral do Valor Estratégico do Conjunto Guiné-Cabo Verde e da Ilha de São Tomé", por Luís Maria da Câmara Pina (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12668: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (31): Natália Correia e os filhos dos retornados (vingativos)

1. Mais um apontamento do caderno de notas do nosso mais velho, António Rosinha [,  foto à esquerda; fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer com sentido de humor, colon, em Angola, de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de  1979 a 1993; membro da nossa Tabanca Grande desde 29 de novembro de 2006]:


Penso que Natália teve um raciocínio correcto, mas que se pode aplicar menos em Portugal mas mais à França (pied-noir). (Paris de vez em quando já arde).

A insularidade (de Natália) pode levar a sentimentos de isolamento e claustrofobia, mas também a sentimentos de sossego, tranquilidade e comodidade e segurança- Mas também a insularidade pode levar a capacidades de auto-suficiência, de capacidade de sacrifícios e correr riscos e “fugir dalí para fora" e enfrentar todos os perigos.

Os insulares pensam mais e agem diferente de um continental.

Aqui em Portugal continental também somos muito pen-insulares, mas não dá para raciocinar como Natália Correia.

Os açoreanos têm muitos escritores, jornalistas e políticos que sempre sobressaíram, talvez por serem insulares. Exemplos como os primeiros presidentes da República e muitos deputados, e escritores como Vitorino Nemésio, Antero de Quental e Natália Correia.

Depois de 800 anos de monarquia só um insular podia imaginar-se presidente de uma República, da noite para o dia com o mesmo à vontade comque Natália se expunha na Assembleia da República, que pouco antes era só de homens. (Não digo que ilheus sejam loucos…mas).

Habituei-me a ouvir açoreanos, caboverdeanos e madeirenses, só não ouvi bijagós porque não falavam nem crioulo nem português nem eu bijagó.

Dizia no 26 de Abril um madeirense em Angola: é melhor fazermos as malas porque a partir de agora a guerra de Angola deixa de ser nossa, e já não temos Salazar.

Embora esse mesmo madeirense possa aventurar-se a permanecer, mas o raciocínio foi imediato. (Eu aproveitei o conselho do madeirense)

E nós portugueses quando nos metemos em assuntos da Europa, cada ministro devia ter um conselheiro ilhéu mesmo que fosse inglês, também ilheus.

Digo isto tudo porque Natália Correia, que era muito lida no tempo colonial em Angola, na revista “ Notícia”, escreveu sobre os filhos dos retornados algo que dificilmente um continental escreveria.

Quem tem divulgado muito as curiosidades de Natália Correia é um filho de retornado, Fernando Dacosta, no livro “Botequim da Liberdade”, e circula pela internet.

Também “filho de retornado” foram pessoas como oficiais do MFA (Otelo),  generais como o falecido Soares Carneiro, candidato a Presidente, do amigo de Natália, Sá Carneiro, do futebol Carlos Queiroz, e tudo o que se diz Peyroteo, dos jornais e televisão é melhor nem enumerar tal a quantidade de filhos e até netos de retornados.

Será que os filhos e netos de retornados podem vir a ser aquilo que diz Natália? Ela diz isto:

"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder.Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"

Pois bem, há filhos de retornados totalmente revoltados que circulam entre nós, que se negam a considerar-se igual a um qualquer “indígena” beirão, minhoto ou transmontano ou açoreano.

Muitos filhos e netos adultos, de retornados, no 25 de Abril nem todos se fixaram em Portugal, os mais preparados circularam como “cooperantes” pelas colónias e emigraram para o Brasil, Austrália, Canadá e mesmo para a Europa.

Em geral só se houve falar em gente dessa com sucesso na vida.

Só na Guiné Bissau eram retornados ou filhos deles, quase todos os engenheiros, mecânicos etc. que fizeram as obras maiores de Luís Cabral: na Tecnil, Soares da Costa, Somec, Visabeira etc.

Foram para o Brasil, filhos de retornados, para quem “ser português” nem querem que alguém pense tal coisa deles.

Este blog é para contar o que se viu e viveu, e como parte da minha vida foi trabalhar com retornados, filhos e netos dos mesmos, no Brasil, na Guiné, na Madeira, na Expô 98, dou muito sentido ao que diz Natália Correia. Só me pergunto onde é que ela se foi informar tanto.

Será que foi em viagens à França? É que em Portugal foi uma minoria que os nossos «pieds-noirs» [, pés negros, termo depreciativo, uasado em França, para os 'retornados da Argélia, L.G.] que ficaram por cá pois a maioria dispersou-se, ao passo que a França recolheu tudo e todos, e já se viu o efeito da transfiguração e africanização e islamização da França.

Só amenizo as afirmações de Natália, na medida em que nós próprios já em maioria somos bisnetos de retornados do Brasil, Angola, India, só que agora foi um retorno um pouco mais intenso, mas mesmo assim, reduzido.

Mas como há filhos de retornados que nos consideram “muito pequeninos”, para não dizer nomes que tive que ouvir, há muitos que estão integrados e nem ligam para «estas coisas» da Natália Correia.

Antº Rosinha

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Nota do editor:

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12667: Em busca de... (236): Pessoal da madeirense CCAÇ 4945/73, mobilizada no BII 19 do Funchal (Bernardino Laureano)

1. Mensagem do nosso camarada Bernardino Laureano, TCor Ref, que integrou a CCS/BCAV 3846, Ingoré, 1971/73, actualmente Presidente da Direcção do Núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes, com data de 1 de Fevereiro de 2014:

Meu Caro Amigo e Sr. Luís Graça e claro Amigos Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro
Bom Dia e votos de saúde e de Bom Ano para Todos e Suas Exmas. Famílias.

Sou o Ten Cor Bernardino Laureano que em tempo já trocámos mensagens sobre a n/estadia na Guiné, aquela Guiné que ainda hoje temos bem gravada nos nossos pensamentos, por tudo o que lá passámos e pelas recordações que guardamos, algumas que nos deixam saudades, principalmente das gentes que estiveram sempre a nosso lado.

Integrei o BCav 3846 que esteve na Guiné desde Abril de 1971 e saiamos em Março de 1973. Pertenci à CCS e cumpri a minha Comissão no Ingoré, já que o Sector do Batalhão começava em Varela e se estendia a norte do Rio Cacheu até Barro.

Sou actualmente o Presidente da Direcção do Núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes, funções que me ligam a um número muito grande de Camaradas que serviram as FA nos ex-Territórios Ultramarinos. Por outro lado, dadas as minhas funções tento apoiar todos os nossos Amigos que me solicitam ajuda, como é o caso que me leva até junto de vós e que passo a expor desde já:
Preciso de saber se a CCaç 4945/73 e o Comando de Agrupamento 6009, a primeira que esteve na Guiné desde Setembro de 1973 e regressou ao Continente em 9 de Setembro de l974, enquanto que o Cmd Agr 6009 chegou a Moçambique em Dezembro de 1973 e regressou no final de 1974, se costumam reunir em convívios e quais os contactos possíveis.

Em relação à Guiné creio que o meu pedido pode ser mais fácil na medida em que no vosso Blog de 22 de Janeiro de 2012, faz referência a Fernando Gomes Pinto da CCAÇ 4945/73 (Guiné, 1973/74), Alferes Mil Cmdt do 2.º Pelotão.

Esta minha solicitação insere-se no pedido de um ex-combatente de nome Sebastião da Silva de Freitas, pertencente ao 1.º Pelotão que tinha como seu Cmdt o Alferes Mil Valente.

Este Camarada quer reunir-com os seus antigos Companheiros ou no saber notícias deles.

Agradeço antecipadamente qualquer notícia possível e envio para Todos Vós um grande abraço de amizade, estima e consideração
Laureano


2. Comentário do Editor:

Caro TCor Bernardino Laureano, muito obrigado pelo seu contacto.

Em relação ao pedido que nos faz, a não ser publicá-lo aqui, esperando que alguém nos possa dar uma ajuda, nada mais podemos fazer uma vez que não há ninguém na tertúlia que tivesse integrado a CCAÇ 4945/73. Tentei encontrar nos nossos arquivos o endereço do camarada Fernando Gomes Pinto, que em tempo nos contactou, mas também não tive êxito.

Lamentando não podermos ajudar, ficamos contudo à sua disposição.

Receba os nossos cumprimentos
Carlos Vinhal

Sobre a CCAÇ 4945/73

Reprodução da página 429 do 7.º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12636: Em busca de... (235): Nelson Silva, natural de Oliveira do Hospital, o qual terá pertencido a uma Companhia de Comandos, e que terá desertado (Rui Poeira)... Resposta do nosso colaborador José Martins

Guiné 63/74 - P12666: Fragmentos de Memórias (Veríssimo Ferreira) (12): Era uma vez...

1. Em mensagem do dia 31 de Janeiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos este comentário para integrar a sua série Fragmentos de Memórias.


FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS

12 - ERA UMA VEZ...

Decidira ontem, não voltar a explorar a minha memória e até porque julgava eu que nada mais haveria para lembrar, só que hoje no post 12640, publicado na nossa Bíblia "Luís Graça & Camaradas das Guiné" li: "Eu Queria pra Brancos Voltar Governar Guiné de Novo".

Revolveu-se tudo cá dentro e então, cá venho incomodar-vos o intelecto.

E a esse propósito:
Vou-me encontrando de quando em vez, em convívios da Tabanca da Linha, com a rapaziada que esteve na Guiné e como não poderia deixar de ser a guerra vem sempre à baila, embora na maioria das vezes, relembrando locais por onde passámos.

Eu que vagar tenho, vou-me esforçando por entender o porquê daquele horror, que tantos mazelas custou a esta juventude, que nos anos 60 e 70 do Séc. XX teve de ir combater.
Refiro-me a mim próprio e aos bravos companheiros que partilhamos a mesa nos tais convívios atrás referidos e claro que a todos os que como nós estiveram depois, usufruindo daquelas férias em terras africanas.

Acontece que fui investigar e lá me apareceu um "austrolopithecus africanus", coisa assim mais macacal, do que dizem terem sido os nossos antepassados. Curiosamente os primeiros conhecidos teriam sido descobertos na África do Sul, afinal ali bem perto da nossa Guiné, (aqui no meu mapa está a 10 centímetros).
Posteriores estudos descobriram que na mesma época já existia uma raça melhor desenvolvida, inteligente e explorada, que ficou conhecida pelos "alentejanuspithecus", que personalizo e qu'até já utilizavam instrumentos para cavar a terra, tais como a enxada e o arado, coisas que permaneceram milhares d'anos, para proveito dos pobres patrões fascisantes. Entrementes agora, que estou a acender mais um cigarro cuido-me a ler: "Fumar pode reduzir o fluxo de sangue e provoca impotência".

Ora porra... e eu a julgar que era da idade, afinal parece que se deve ao facto de há 57 anos fumar.

Sim... porque comecei aos 14 com os "Provisórios", passando depois a meio do mês para os "mata ratos" e já mais no final do dito mês, até as barbas de milho ou folhas de balsa, devidamente moídas, serviam.

Mais tarde, (na minha Guiné) e somente a título informativo, passei para o "Paris"... "Três Vintes", logo após o que e considerando o invento dos filtros apensos à chucha, para o "SG Gigante" qu'era maior.

Nunca me deu muito jeito, confesso, foi o ter de embrulhar o conteúdo das onças de tabaco "francês" ou "superior", no papel "galo" ou "zig-zag" que no final, haveria de se lamber a mortalha e como uma vez cortei o lábio desisti dessa coisa do meter a língua de fora.

Bom... acho que me estou a afastar do tema.
Vamos lá regressar ao dito:
A afirmação desejo, que considero arrojada, dum jovem que poderá vir a ser alguém (assim o espero) não é inédita e outros já o tinham dito antes. Verdadeiramente e como disse um camarada combatente "ela já se deu... os brancos da droga já lá mandam".
De qualquer forma atrevo-me a propor que se consulte o seu povo através desta coisa nova a que chamam Referendo.
Tal já foi feito em países civilizados como na Austrália onde se perguntou se queriam ser independentes ou continuar ligados aos cinco tostões Britânicos. Preferiram a Coroa, por muito estranho que pareça e até mesmo ali em Gibraltar, local duma pedra grande, a população quis também ficar como nos antigamente.
Por isso digo: referendem e caso necessário, a gente volta sim senhor.

O IN sempre se fortaleceu com os nossos medos, só que agora o IN seríamos nós, eu pelo menos tenho-lhes umas ganas!!! Não para os combater, ou fazer qualquer mal, mas apenas para tentar educá-los, civilizacioná-los, ajudá-los enfim.

Em boa verdade, o que se está a passar lá, onde deixámos muito sangue suor e lágrimas e deste há muitos anos, ronda a bestialidade.
Bestialidade que usaram contra nós, só que a continuaram contra eles próprios, desde que lhes demos de mão beijada a independência. E não me venham com a história de que eles venceram, porque na verdade tal não aconteceu. Nós é que desistimos... nós oferecemos.

Nem vale a pena tentar tapar o sol c'a peneira pois que a verdade é só uma não duas ou três, como já tenho visto teóricos defenderem (sempre os mesmos que se escondiam debaixo dos GMC's e no ar condicionado).

(continua)

PS: - Continuarei a "estudar o porquê daquele horror... etc, etc, etc", prometendo-vos que de tal vos darei conhecimento.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12638: Fragmentos de Memórias (Veríssimo Ferreira) (11): Março de 1967, aproximava-se o fim da comissão de serviço

Guiné 63/74 - P12665: Parabéns a você (686): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12651: Parabéns a você (685): Luís Graça (Henriques), ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e fundador e Editor principal deste Blogue

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12664: História de vida (37): O AVC é uma doença subtil que chega sem avisar (José Saúde)

JOSÉ SAÚDE NO PROGRAMA "CONSIGO" DA RTP2

Exemplo de vida de um velho combatente da Guiné

Fui, sou e serei sempre a mesma pessoa

A propósito da sua aparição, hoje, no programa "Consigo" da RTP2, recebemos esta mensagem do no nosso camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp da CCS do BART 6523, Nova Lamego, 1973/74:

Camaradas
Recuso, tal como sempre recusei, hastear uma bandeira que tentou limitar-me a liberdade.
Uma liberdade que muito prezo e que me faz reviver tempos áureos onde a minha força moral e anímica me catapultaram para espaços quiçá impensáveis.

Assumo:
Fui Ranger e antigo combatente na nossa Guiné.
O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, abriu-me uma janela que, na minha conceção, projetaram as minhas narrativas para um plano que hoje considero francamente divinal.

A madrugada do famigerado dia 26 de julho de 2006, carimbou-me com a chancela de acidentado, mais um, de AVC.
Recusei caminhar na fatídica viagem daqueles que nesse ano fizeram parte da estatística que partiram para a eternidade.
Segundo os dados oportunamente recolhidos junto a fontes fidedignas, 50 por cento morreram e os outros 50 por cento ficaram neste cosmos terrestre para contarem essa horrenda aventura.


"AVC NA PRIMEIRA PESSOA" foi uma obra por mim lançada a público e que refere na realidade um exemplo de vida deste velho combatente na sempre nossa Guiné.

Um exemplo que ficou explícito numa reportagem no Canal 2 da RTP, programa consigo, no pretérito sábado, 1 de fevereiro, e que mostrou à sociedade esta enorme força que existe no interior do meu ego.

Com a devida vénia ao Programa "Consigo" da RTP2 e um obrigado ao nosso camarada António da Rocha e Costa que partilhou este vídeo no seu facebook. Para ver clicar aqui

Este vídeo da reportagem enviado pelo meu/nosso camarada e amigo Carlos Vinhal, é, no fundo, também uma mensagem que deixo aos camaradas que cruzaram, tal como eu, transversalmente o território da Guiné, alertando-vos que o AVC é uma doença subtil e que chega inesperadamente sem avisar.

Vejam que o vosso camarada Zé Saúde, não obstante a sua debilidade física, é e será eternamente um amigo e com a minha mente sã.

Abraço, camaradas
Zé Saúde
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE SETEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10382: História de vida (36): Nha mininu Zé Manel - uma visita à escola do padrinho (Manuel Joaquim)

Guiné 63/74 - P12663: Agenda cultural (301): Tertúlia Fim do Império, dias 13 de Fevereiro, 13 de Março, 10 de Abril e 8 de Maio de 2014, às 15h00, na Messe de Oficiais, Praça da Batalha, Porto

1. Mensagem do Coronel Ref Manuel Barão da Cunha que foi CMDT da CCAV 704/BCAV 705, Guiné, 1964/66:

Caríssimos camaradas e amigos,
Anexo convite para 11.º ciclo da tertúlia «Fim do Império» no Porto, na Messe de Oficiais da Batalha, a iniciar já no dia 13, 15h00, sendo o livro apresentado pelo general Sousa Pinto, natural do Porto, com comissão na Guiné e presidente da Comissão Portuguesa de História Militar, esperando-se que também participe o co-editor dr António Carlos Azeredo.

Fiquem bem,
MBC

C O N V I T E

TERTÚLIA FIM DO IMPÉRIO

MESSE DE OFICIAIS - PRAÇA DA BATALHA - PORTO

DATAS: 13 DE FEVEREIRO, 13 DE MARÇO, 10 DE ABRIL E 8 DE MAIO DE 2014


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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12641: Agenda cultural (300): Noite Temática Guineense, dia 1 de Fevereiro de 2014, no Centro InterculturaCidade, a partir das 20,00 horas

Guiné 63/74 - P12662: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (15): Mafra, Tavira, Caldas, Santarém, Vendas Novas..., nos tornaram vítimas e agentes (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 19 de Janeiro de 2014:

Caríssimo Luís, Como costumas dizer: ...as palavras são como as cerejas...
Aí já fui falando demais, e me comprometi com algo, que para tanto não tenho "nem engenho nem arte".

Quarenta anos depois, tentar falar do "choque", - sim como se fosse elétrico - da disciplina de Mafra, sobre a nossa inocente geração, é muita ousadia.

Na já remota década de 60, éramos uma ilha desinformada, apesar de muitos de nós se julgarem seres politizados. Muitos de nós tínhamos acabado de sair das "asas" paternas, e de sua extensão que era o Colégio local.

Lembra que naqueles tempos não tinha uma Universidade em cada esquina, ainda não tínhamos sido inundados por Escolas com cursos que para nada serviam senão como fábricas de Professores que ficariam necessariamente desempregados, somente Coimbra, Porto e Lisboa tinham Universidade.

E lá íamos nós, em busca de independência e informação, alguns de nós criavam a ilusão de serem bem informados só porque escutavam a BBC, a Rádio Argel ou a Rádio Moscovo, alguns outros de famílias de "Viúvas da Outra Senhora", diga-se República Velha, mais por crença e interesse do que por qualquer motivo mais nobre, formavam o dito na altura "Reviralho", mais à esquerda outros militantes alguns profissionais.

A já longa guerra nas, à altura ditas, Províncias Ultramarinas, as notícias do Maio de 68 em França, e da reação da juventude da classe média Americana à guerra do Vietnam, somaram-se para ajudar a criar um clima de agitação nas Escolas Portuguesas; eu, na altura estava em Coimbra, a Diretoria Eleita da Associação Académica já tinha sido compulsoriamente afastada, o clima era de agitação.

A nossa agitação era fruto de um caldo cultural diferente dos países ditos democráticos que tinham sofrido profundas mudanças estruturais e superestruturais como consequência direta da Segunda Grande Guerra; lembra que o Senhor António tinha livrado nossos pais desse horror! Muitos de nós se julgavam em processo de ruptura com ordem estabelecida, alguns libertários outros mais comedidos, quase todos "freudianamente" prontos para metafóricamente matar o Pai lá de Santa Comba.

Mas éramos todos muito inocentes, aí com facilidade o sistema nos enquadrava com um Tenente e dois Cabos Milicianos e às vezes, poucas, um Sargento.

Poucos dias depois receosos de perder o fim de semana, íamos-nos tornando instrumentos de um sistema que durante tantos anos (63 a 74), enquadrou uma geração de pouca sorte.


"Máfrica" - Vista aérea do Palácio de Mafra - Com a devida vénia a Google Earth


O processo começava aí: "Máfrica", Vendas Novas, Tavira, Caldas da Rainha...
E lá íamos nós, mais ou menos convencidos e eficientes agentes, enquadrar outros mais, pelos quartéis de Portugal e de África. Mafra e Tavira, eram o início de um processo de inserção no sistema de muitos milhares, que a propaganda chegou a fazer pensar, que estavam "dilatando a Fé e o Império". 

Mafra, Tavira, Caldas, Santarém, Vendas Novas..., nos tornaram vítimas e agentes.
Estão abertas as "hostilidades"...  Quanto aos números, "passo a bola" ao Camarada José Martins.

Forte abraço a todos
Vasco Pires
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12649: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (14): As localidades por onde passei, sofri e amei - Conclusão (Veríssimo Ferreira)

Guiné 63/74 - P12661: Os nossos seres, saberes e lazeres (65): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (9) (Tony Borié)

1. Em mensagem do dia 26 de Janeiro de 2014, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos o 9.º episódio da narrativa da sua viagem/aventura de férias, num percurso de 7000 milhas (sensivelmente 11.265 quilómetros) através dos Estados Unidos da América, na companhia de sua esposa.




7000 MILHAS ATRAVÉS DOS USA - 9

Companheiros, cá vai a continuação da viagem, alguns de vós vão dizer que é mais longa que “a espada de D. Afonso Henriques”, outros até com toda a certeza dirão, “olha, mais americanisses” e, alguns até vão mais longe e dizem, “só dá Umbigo!

Bem, vamos continuar, os companheiros que gostarem, divirtam-se, os outros, tenham um pouco de paciência, passem à frente e, “suportem lá”, pois a intenção é só única e simplesmente, partilhar com todos vocês, informar-vos o que existe neste continente, como eu gostaria de saber o que vai pelas cidades, vilas ou aldeias do nosso Portugal, até do resto da Europa, da África ou da Austrália.    
Já chega de “blá, blá, blá”, cá vai.


Quase dormimos no hotel em Austinburg, no estado de Ohio, pois talvez alta madrugada, um camionista mais atrevido buzinou, talvez para acordar algum condutor que ia na sua frente devagar, ou qualquer outro motivo, e claro, acordou-me e, por mais voltas que desse “não preguei mais olho”, como é costume dizer-se, pois o barulho na estrada e na estação de serviço da área, mais o cheiro a “tabaco antigo”, que havia em todo a área dos aposentos, manteve-me “alerta”.
Vai daí acordo a minha companheira e esposa, dizendo-lhe que são horas de começar viajem, ela, um pouco aborrecida, lá se levantou, preparamos tudo e tomámos um café, tomando o rumo do leste na estrada número 90.

Um pouco de música, mas verdadeiramente só acordamos quando amanheceu, já íamos próximo da cidade de Erie, no estado de Pennsylvania, dizem que o nome foi dado a esta cidade por causa do grande lago com o mesmo nome, onde está localizada e, por uma tribo de nativos americanos, que por aqui viviam ao longo deste mesmo lago, até dizem que derivado à sua localização geográfica, é a quarta cidade maior do estado Pennsylvania, depois de Philadelphia, Pittsburgh e Allentown.

Milhares e milhares de pessoas visitam a cidade de Erie, para se divertirem e não só, no “Presque Isle State Park”, com atrações de casino e corrida de cavalos.


Aqui parámos, tomando alguma fruta e água, que sempre vai na caixa refrigeradora, continuando a nossa rota rumo ao Atlântico, entrando no estado de Nova Iorque.

O estado de Nova Iorque, não deve ser confundido com a cidade com o mesmo nome, localizada ao sul do estado, pois a cidade de Nova Iorque, além de ser a maior cidade do estado, com os seus 8,5 milhões de habitantes é também a cidade mais populosa dos Estados unidos. O cognome de Nova Iorque, é “Empire State”, e muita gente acredita que este apelido vêm de um comentário feito por George Washington, que uma vez disse, que Nova Iorque, era o “Centro do Império”.

Historiando um pouco, Nova Iorque, foi originalmente colonizada por holandeses, que logo chamaram à região, “Novos Países Baixos”, e também fundaram um assentamento na ilha de Manhattan, chamando Nova Amesterdã, mas quando a Inglaterra capturou o estado aos neerlandeses, deram o nome, tanto ao estado como à cidade, localizada em Manhattan, de Nova Yorque.


Continuando na rota rumo ao Atlântico, ao longo da estrada número 90, onde se paga portagem, havia alguma cultura de milho, videiras, algumas com uvas, ainda verdes, claro, passando pela cidade de Buffalo, era a vinte e poucas milhas de Niagara Falls, mas ainda era manhã cedo. Como já tínhamos visitado as “cataratas” algum tempo atrás, resolvemos andar em frente, já havia montanhas que se subiam e desciam, e como viajávamos em direcção ao leste, o sol que estava a começar a “despertar”, fazia desenhos no horizonte em cima de algumas cordilheiras de montanhas, um espectáculo único, que só se admira talvez uma vez na vida, fazendo-me a mim e à minha companheira e esposa, pensar que somos uns privilegiados, que o “Criador” às vezes contempla as pessoas. E, se pensarmos um pouco, verificamos que na nossa idade, pois já não somos “crianças”, não é preciso ter-se uma boa situação financeira para se viver neste mundo, basta controlar os fracos proventos angariados numa vida honesta, de trabalho, depois de algum sacrifício, preparando a educação dos filhos, para seguirem com as suas vidas, neste mundo de hoje, um pouco ingrato para alguns. Isto é verdade, mas seguindo um provérbio dos índios “Sioux”, que diz, “nascemos nus e nus havemos ir, só por cá passamos”, é preciso sim, ir tendo alguma saúde, irmo-nos alimentando, tanto física como espiritualmente, ter-se uma consciência limpa, andar de bem consigo mesmo, não fazer a alguém, aquilo que não queremos que nos façam a nós próprios, e admirar a natureza que esse tal “Criador” colocou ao dispor de todos nós.

Continuando, passamos pela cidade de Rochester, Syracuse, Utica, pois o nosso destino era a casa de um familiar nas montanhas do norte do estado de Nova Iorque, que era a aldeia de Northville, onde chegamos já passava do meio dia.


A aldeia de Northville foi fundada por volta de 1786, mas as áreas ao sul da aldeia foram ocupadas por volta de 1762. Todo este aglomerado de casas estava situado em terreno alto, na vertente da montanha, naquele vale, onde passava o rio Sacandaga. Quando o reservatório do Sacandaga foi inundado em 1930, o vale tornou-se num braço do “Grande Sacandaga Lake”, pois a Barragem Conklingville, que terminou em 1929, trouxe a expansão do Grande Lago Sacandaga para a borda da aldeia, onde hoje é o “paraíso” de centenas de pessoas que fazem de Northville a sua estância de férias na montanha.


E não fica muito longe da civilização, é mais ou menos a quatro horas de carro de Manhattan, que é o mais antigo e mais densamente povoado dos cinco bairros, freguesias ou distritos, depende de como lhe queiram chamar, que formam a cidade de Nova Iorque, e que fica na foz do rio Hudson.

Os familiares eram a nossa filha e o marido, onde passamos dois dias, viajando pelo lago, entre montanhas, onde ainda se pode beber água pura, nos riachos que correm do cimo.
Fizemos pequenas viagens pelos arredores, vimos alguns animais selvagens, como por exemplo ursos. Também visitamos a cidade de Saratoga, onde existe as famosas corridas de cavalos, e as pessoas, pelo menos foi o que nos deu a parecer, fazem uma vida muito estranha ao normal dos comuns. Aí passamos dois dias maravilhosos.

Este foi o resumo dos dias 9 e 10.
Tony Borie,
Agosto de 2013
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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12598: Os nossos seres, saberes e lazeres (64): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (8) (Tony Borié)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12660: História da CCAÇ 2679 (66): "O Jagudi", o jornal de Bajocunda (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 29 de Janeiro de 2014:

Viva Carlos!
Hoje vou dar notícia do aparecimento de um jornal em Bajocunda.
Não farei a transcrição na íntegra, por motivos óbvios, talvez com excepção de uma ou outra peça, mas darei luz a assuntos ali tratados.

Um grande abraço que inclua o resto do tabancal
JD


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679

Aperitivo para o que inspira o texto:

A Era do Abutre (1)
(Filii Negrantum Infernaliium)

A era do abutre abre os seus portões
De gelo, tormenta, trovão... Eu chamo a noite, sombras... mil sombras violam
A puta virgem... A execução em gargalhadas de aço e
Sangue, abraça a noite negra
Opressão, Tirania... Triunfará o mais forte
E nós, demónios, chupamos sangue, Fome de carne, fome de dor! E feiticeiras em escarlate
Coroam-me senhor (princípio da dor) infernal
O mal avança, chicote do espírito
Matéria, carne, monarca
Tiamat: Faz tremer o todo, Marte... Deus da guerra total (sempre imperial), 
O voo do abutre

(1) - Retirado da Wikipédia, autor não identificado

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66 - "O JAGUDI"

O abutre (Jagudi, sinónimo guineense), é uma ave de rapina necrófaga, voraz, pesada, de asas compridas, que se alimenta de restos de quaisquer animais mortos (o político abutre nunca se contenta com os ganhos).
Pode dizer-se que tem a função ecológica de limpar os locais onde existam cadáveres, ou moribundos. É frequente no continente africano, mas também aparece em Portugal, nas regiões fronteiriças do leste, desde Trás-os-Montes, até ao Algarve, com predominância nas regiões Marvão a Mértola.
Parece, mas não é o grifo. Trata-se do abutre-preto, ou abutre-egípcio, a maior ave planadora dos nossos céus, que chega a ter a envergadura três metros.

Em Junho de 1971, na localidade de Bajocunda, que fica no nordeste da Guiné, então província ultramarina portuguesa, soprada pelas brisas quentes oriundas do deserto, nasceu, novinho, esperançoso e prometedor, um orgão da comunicação social baptizado de "O JAGUDI, Jornal da C.Caç.2679".


Magnifico pela satisfação que transmitia depois de produzido no stencil e de agrafado num corpo mais ou menos coerente, que lhe conferia o pretensioso epíteto de jornal, com tiragens que se prometiam regulares, posso dizer que se tornou um elo de ligação entre a juventude que agregada sob aquela unidade militar, costumava deambular naquela terra, e uma vez por mês tinha acesso às fresquinhas ali publicadas.
Mesmo que não o lessem, era o jornal dos madeirenses.

Não era rigoroso, nem coerente, nem de combate, mas era conforme as ocasiões, naif e experimental, chegou a merecer especial atenção de S. Ex.ª o Comandante-Chefe, bem como do Jornal do Exército que destacou, publicando um artigo de opinião sobre a emigração e a relação com as sociedades que se desenvolviam na África portuguesa; para além da simpática leitura no Pifas de alguns dos textos publicados.

Não era, ao contrário do que pode inferir-se da nota aperitiva, um jornal inspirador de guerras e guerreiros, com carnes a sangrar alarvemente em festas inspiradas por Ares, Marte e Odin, tal como as mitologias grega, romana e nórdica, visíveis com luzes arrelampadas, que projectavam sombras em festins bárbaros, com música de rajadas em substituição das tubas.
Pelo contrário, era o panegírico da "amizade e expressão de camaradagem", e "um mensageiro da Paz", que o editorial do primeiro número garantia transmitir "a certeza de que a integridade da Nação é um facto irrefutável", conforme o atestava o Comandante da Companhia, sem qualquer pressão ou inibição da liberdade de expressão - que eu saiba.

O JAGUDI não nasceu em maternidade, mas carecia dos meios que só a Companhia podia garantir, a utilização do stencil e o uso de químicos e papel, do resto eu prestava-me a fazer, num esforço para aprender a escrever à máquina com dois dedos, muito mais fantástico do que os dactilógrafos profissionais, que o faziam com os cinco dedos de cada mão. Essa ocasião foi aproveitada pelos xicos, que pensaram tirar o melhor partido da iniciativa, tanto que o 1.º sargento, em carta aberta, fazia votos para que não fosse de "carácter puramente belicoso, mas que se torne motivo de distração e humorista". "Fartos de guerra andamos nós", perorava em tom de aviso, e imaginava-se o homem do lápis azul, enquanto prosseguia com determinação "procuraremos imprimir ao nosso jornal aquilo que já dissemos, sem descurar um instante o porquê da nossa estadia aqui".

E passava pelo lombo o discurso da admiração em termos de falsa admiração: "Pais, regozijai-vos... Podeis estar certos que eles perpetuarão... este Portugal quase milenar", cimentados em "laços de sangue ideológico".

E depois de se dirigir às mães e aos pais, não se esqueceu das noivas, e prognosticou que os desejados laços se fundirão para sempre perante Deus e a sua Igreja. Finalmente, dirigiu-se às esposas, garantindo que os pais dos filhos bem merecem "este encargo", para além "da sua integridade e fidelidade conjugais".

Portanto, e para que conste, não houve cenas voluptuosas durante a nossa permanência em Bajocunda, e quando ao fim da tarde, com o cigarro pendurado ao canto da boca, e umas coisitas debaixo do braço, o 1.º Sargento rumava à tabanca, infere-se que lá ia imbuído de espírito religioso apenas para ajudar a minorar a pobreza local.

Sob a designação de "Tema" também foi publicado um texto do Furmil Dinis, que equacionava a continuidade do jornalinho, dependendo do interesse dos leitores, quanto mais não fosse, "para um dia mais tarde ir ao fundo da arca buscar uns papéis amarelos, que de algum modo nos façam pensar no que somos, no que seremos (tínhamos 20 aninhos) e no correr do tempo e da vida", e adiantava que "F. não é mais diferente daquele outro, e através de uma página do jornal está a querer conversar com todos, a expor as suas convicções ou o que aprendeu, está a ser um amigo", no que parecia um convite à participação.

Além disto só houve lugar a distracções e uma página com publicidade, mediante um contrato firmado com a principal empresa de águas naquele território.

O jornal foi enviado para o ComChefe e para o Pifas que desde então passou a ler extractos da publicação.

Voltarei para dar notícia do n.º 2.

O abutre rima com Futre, nutre-se de cadáveres, tira proveito da desgraça alheia, mas o JAGUDI, sem conseguir evitar a lei dos abutres, tinha propósitos mais generosos, que porventura não terá atingido, em virtude da ambição condicionada.

JMMD
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12448: História da CCAÇ 2679 (65): Dia da Raça (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P12659: Notas de leitura (558): "Ideia Geral do Valor Estratégico do Conjunto Guiné-Cabo Verde e da Ilha de São Tomé", por Luís Maria da Câmara Pina (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Agosto de 2013:

Queridos amigos,
Não era sem tempo que se pegasse numa questão ideológica muito cara ao Estado Novo, no aceso da guerra colonial: a luta de Portugal em África era a luta do Ocidente contra a intromissão de Moscovo e companhia.
Esta lição do general Câmara Pina a que aqui se faz referência é um exemplo acabado de uma composição mitológica de que as rotas do Atlântico, vitais para a NATO, tornavam imprescindível o reconhecimento e o apoio declarado do Ocidente ao combate português pelas Áfricas.
A distância das décadas torna claro que qualquer propaganda, por muito bem oleada que seja, é tão precária quanto a consistência ideológica que lhe está por detrás.

Um abraço do
Mário


O valor estratégico do conjunto Guiné-Cabo Verde:
A argumentação do Estado Novo para cativar apoios no Ocidente

Beja Santos

Ninguém ignora que o regime de Salazar e Caetano usaram todos os meios suasórios nos canais da diplomacia para convencer os países ocidentais de que a defesa do Império português era, em primeira instância, a defesa do Ocidente, era um poderoso esteio contra o comunismo e que a independência das parcelas do Império, saldar-se-ia, inexoravelmente, no triunfo do comunismo em África. Além dos canais diplomáticos, procurou sugestionar as elites apoiantes e naturalmente os futuros quadros do regime.

Assim se poderá compreender na íntegra a substância da lição proferida pelo general Câmara Pina no curso de extensão universitária sobre Cabo Verde, Guiné e São Tomé e Príncipe, organizado pelo ISCSPU no ano letivo 1965-1966. Na lógica do oficial general, fazia-se avultar a questão geopolítica para assim se entender uma das leis da expansão dos Estados: todas as vezes que um poder forte consegue instalar-se num território, em posição central, é imperativo para a sua consolidação e segurança que rapidamente conquiste a liberdade da ação na periferia. Dito entre linhas, não bastaria a Moscovo dominar o centro do continente Africano, faltaria ganhar a batalha pelas saídas para o mar, pelos acessos, pelas posições periféricas. E o orador recordou a Conferência de Berlim de 1885, a questão do Congo: quem passasse a dominar o Congo iria dominar a África Negra. Só que, continuou o orador, o acordo a que se chegou na Conferência foi até certo ponto negativo: aceitou-se que um pequeno país, apenas nascido para a independência em 1831, a Bélgica, continuasse com a responsabilidade da administração do Congo, assegurando-se todavia a todas as potências, em igualdade, a liberdade de comércio, a utilização do rio Zaire e outras facilidades de trânsito. Veio à baila a Conferência de Berlim e o Congo para confirmar que a geopolítica é doutrina que rege a expansão de um Estado em confronto com outros Estados. Chegara a hora de entrar na propaganda a sério.

E daqui passou para Cabo Verde, Guiné e São Tomé. Não seria de excluir a hipótese de um ataque ao continente africano a partir de Cabo Verde, Guiné e São Tomé e teceu uma consideração catastrófica: se estas regiões se tornarem bases do inimigo, o Ocidente ameaçado terá que montar uma operação de reconquista ou criar condições para uma defensiva sem espírito de recuo. E para que a assistência ganhasse a perceção desse cenário de desastre, alertou que do Sal a Conacri eram três horas e meia de voo e de Bissau a Dakar uma hora, isto falando de tempos de voo calculados para o avião DC6. O auditório deverá ter ficado paralisado quando o orador prosseguiu com a necessidade de meios aéreos e navais poderosos para combater a virulência de uma intromissão de Moscovo e aliados:
“A hipótese de defesa implicará o apoio logístico e tático das forças terrestres empenhadas na Guiné e a neutralização ou flagelação de objetivos a norte e a sul da província, alguns dos quais são muito mais vulneráveis do que as bases de onde normalmente o adversário atuará.
Cabo Verde e a Guiné apoiam-se mutuamente e poderão conjugar ações. São Tomé integra-se com maior rendimento no sistema angolano e só excecionalmente terá possibilidade de cooperar com Cabo Verde ou Guiné: efetivamente, dista do Sal 9:30h em DC6 e 5:00h em jato, de Bissau 7:00h em DC6 e 3:45h em jato.
É sempre arriscado em questões de estratégia idealizar no espaço conceções vagas e definir abstratamente intenções e missões: de facto, não se prepara a guerra, prepara-se uma guerra. numa dada região, numa dada época, num dado enquadramento.
Mas é legítimo, didaticamente, avançar uma previsão.
A Guiné, além de manter em condições de funcionamento o porto de Bissau e o aeroporto de Bissalanca, terá a preocupação de unir todas as populações que a habitam na reação contra o presumível invasor e aproveitar as diferenças de religião, de costumes, de língua, das suas etnias para defender a manter a integridade do território.
Cabo Verde terá múltiplas missões à sua responsabilidade. As instalações portuárias de que dispõe, o seu magnífico aeroporto, os recursos das diversas ilhas, certa invulnerabilidade, permitem a maior flexibilidade dos meios navais, aéreos e terrestres. Constituirá a principal base de operações para o bloqueio ou para a reconquista de posições do litoral africano”.

É surpreendente como se pretende cativar o auditório iludindo, de facto, a natureza da guerra que se estava a travar na Guiné, não há uma menção sequer ao posicionamento já instalado do PAIGC, evidentemente com o suporte de Conacri e ainda tímido, à data, por parte de Dakar. O discurso é todo ele centrado em repelir um invasor instalado no continente. Mas a argumentação prossegue, insinua-se que as bases das Canárias são fundamentais para a operacionalidade da NATO, entre Cabo Verde e a Madeira, e atira-se para a assistência o valor estratégico da região que o PAIGC pretende libertar:
“A nossa linha de comunicações interessa muito vivamente a aliança militar do mundo ocidental. Na hipótese de ser fechado o canal de Suez, por acidente ou por acinte, ela constitui a única possibilidade de apoiar com eficácia a navegação para o Índico e para o extremo Oriente. Na roda de África, a estratégia do Ocidente só pode confiar nas bases portuguesas”. E para que não houvesse ilusões quanto ao malabarismo propagandístico, o orador questionou:
“Em face dos ataques terroristas contra os territórios portugueses tão consentidos por parte da opinião pública ocidental e até por vezes apoiados por algumas das suas poderosas organizações: estas bases tão importantes no futuro para a aliança militar do Ocidente – estarão elas mais seguras em outras mãos que não a dos portugueses?”.

A oração de sapiência caminhava para o fim, faltava ainda dizer que o limite da área da NATO devia ser repensado contando com as bases portuguesas, fundamentais para as missões de vigilância no Atlântico Sul e de proteção à navegação Europa-África que, asseverou o orador, passa em grande parte entre a Guiné e Cabo Verde. Acresce que a unidade nacional da Guiné era dada pelo português. Acontecia haver nativos que por pré-disposição racial ou por demonstração de virilidade eram atraídos por engajadores e conduzidos para campos de instrução estrangeiros. A batalha de terrorismo só poderia ser ganha, por um lado, pela ação militar, mas o resultado fundamental era a disseminação da língua portuguesa. Felizmente que os EUA já falavam na segurança global, havia de ter esperança que a análise estratégica de Cabo Verde, Guiné e São Tomé, no quadro de uma guerra Leste-Oeste só teria verdadeiramente sentido se fosse integrada no conceito geral da estratégia e da geopolítica da Nação Portuguesa. A panaceia estava à vista, como rematou o general Câmara Pina: “Os Açores e a Madeira aparecem-nos como sentinelas atlânticas avançadas, a metrópole, juntamente com uma Espanha amiga, a estabelecer a ligação dos aliados na América com os aliados na Europa e a colaborar na vigilâncias nas saídas do mediterrâneo e o rosário completo das bases portuguesas a rodear a África, com uma ponta atirada para a Oceânia, para a China e, querendo Deus, para Goa”.

Os ventos da História foram totalmente insensíveis ao chamamento estratégico do Estado Novo, Salazar também não tinha ilusões, por último ainda se agarrou à quimera de que o Império subsistiria depois da guerra entre os EUA e a URSS, que ele dava como praticamente certa, em data próxima
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12644: Notas de leitura (557): "Rosas da Liberdade", por Manuel da Costa (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12658: Tabanca Grande (423): Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), natural da Lourinhã, a viver em Fafe, grã-tabanqueiro nº 643



O alf mil paraquedista, do BCP 21 (1970/72), em 1970, no leste de Angola, a norte do Rio Cassai

Fotos: © Jaime Silva (2014). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Jaime Bonifácio Marques da Silva, com data de 26 do corrente:


Caro Luís

Acabei de escrever a história do A... Vou enviar-te 3 mensagens:

1.º Jaime 1 - 2 Fotos minhas para o Blogue;
2.º Jaime 2 - Com as duas histórias – Castro e A...
3.º Jaime 3 - Com as fotos do Castro.

Confirma, por favor, a receção.

Mais tarde entrego-te os quase 40 painéis da exposição de Seixal numa pen (tenho que fazer , ainda, algumas, correções) .
Abraço, Jaime

2. I parte do texto,  que vai ser publicado na Série "Filhos do Vento"

Assunto - Curso Livre de História Local > O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961 – 1974) > Fu rriel Enfermeiro Castro – Combatente Fafe

 Caro Luís:

Como é do teu conhecimento, o Núcleo de Artes e Letras de Fafe, com o apoio da Câmara Municipal de Fafe realizou de 24 de outubro a 21 de novembro de 2013 no auditório da biblioteca Municipal às 5.ªs feiras das 18.30 às 20 horas o Curso Livre de História Local, cujo tema lecionado neste II Curso foi: O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961 – 1974)

Pediram-me que orientasse a sessão de 31 de outubro onde abordei o tema:

“A PARTICIPAÇÃO DOS MILITARES DE FAFE NO ULTRAMAR:  CONTRIBUTO PARA A EXPLICAÇÃO DA HISTÓRIA DA GUERRA  UMA VISÃO PESSOAL"

Depois de enquadrar o tema, referi que a minha intervenção se limitaria aos acontecimentos ocorridos durante a Guerra, após a decisão política de Salazar quando ordenou: “Para Angola e em força” e, relativa, só, aos elementos que tenho disponíveis sobre à participação dos militares de Fafe em África.

Comecei por analisar a lista e a identidade da grande maioria dos mortos em cada teatro de operações, levantando, depois, algumas questões para debate, nomeadamente, quantos: (i) prestaram serviço em cada um dos Ramos das Forças Armadas (Marinha, Força Aérea, Exército),  (ii) pertenceram a especialidades que os livraram das operações do mato,  (iii) foram colocados nas grandes cidades, etc.;  (iv) Quem efetivamente participou em operações com emboscadas, mortos, feridos, minas, acidentes, etc.

Entretanto, deixei para o final algumas questões, de acordo com a minha experiência e vivência em Angola durante a Comissão e relacionadas com a nossa aproximação e relacionamento com as populações nativas. 

Entre outras questões, levantei duas que te quero falar com autorização dos dois ex-combatentes da Guiné, meus amigos:

a) Uma das questões foi: “Quem, nas horas vagas, decidiu oferecer-se como professor” ou ajudar de outra forma as populações?
  
Um deles, participante no curso, foi o Furriel Alves que esteve na Guiné na CART 1742, (hoje, professor reformado) e, cujos elementos, enviar-te-ei logo que ele me dê duas fotos que lhe pedi.[ A CART 1742 - "Os Panteras", esteve em Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69. LG].

Eu, no leste de angola (Léua) dei explicações de Geografia a um africano que queria fazer o 5.º ano e ensinava-lhe o que vinha no manual. Por exemplo, onde nascia o Rio Minho, etc. !

b) Outra questão que levantei foi: “ Quantos de nós deixou por lá os, hoje, designados 'filhos do vento' e não assumiu?

- Eu assumi, interveio o Furriel Castro.

Luís,  esta história merece ser conhecida e divulgada.  Falei com o ex-combatente Furriel Manuel Barros Castro, natural de Fafe e que me deu autorização para falar contigo no sentido de poderes divulgar a história no teu Blogue.

O texto já foi lido e corrigido por ele [... E vai ser publicado proximamente, na série "Filhos do Vento", LG]

3. Comentário de L. G.:

Jaime, o teu nome já anda associado ao nosso blogue desde, pelo menos, 24/5/2005, quando demos a notícia da inauguração, na nossa terra,  do monumento aos mortos da guerra do ultramar, de cuja comissão organizadora fizeste parte.

Depois disso,  interessaste-te pela história do malogrado José Henriques Mateus, desaparecido na Guiné, e teu vizinho da Areia Branca. Em 2009 empenhaste-te,  de alma e coração,  na conceção e organização da  exposição evocativa da participação dos jovens do Seixal, Lourinhã, na guerra colonial, uma iniciativa inédita em Portugal, tanto quanto eu sei.

Enfim, em 2013 deste força à viúva do malogrado cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate em 4 de junho de 1967, para o evocar no nosso blogue...

Enfim, acho que não precisaríamos de mais boas ações tuas para te meter no quadro de honra do blogue se por acaso a gente tivesse um quadro de honra... Não o tendo, só nos resta sentar-te sob o poilão da nossa Tabanca Grande e atribuir-te o lugar nº 643 (**). Não estivestes na Guiné mas já mostraste que és um dos nossos. Ficas em boa companhia.   Conheces as nossas regras do jogo. Resta-me desejar que te dês bem por cá e que nos ajudes também a desatar os nós da memória e a partilhar afetos. Um fraterno alfabravo do teu amigo e camarada Luís Graça.

________________

Notas do editor:

(*) Postes de (ou com referência a) o nosso novo grã-tabanqueiro Jaime Bonifácio Marques da Silva:

22 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12190: Agenda cultural (289): Programa do Curso livre de história local: "O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961-1974)", a realizar-se às quintas feiras, das 18h30 às 20h30, de 24 de outubro a 21 de novembro de 2013 (Jaime Silva)

18 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12056: (In)citações (54): O significado histórico e pedagógico do Monumento aos Combatentes da Lourinhã, inaugurado em 26/6/2005: Discurso de Jaime Bonifácio Marques da Silva, Lourinhã, AVECO, 25/8/2013

27 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11987: Efemérides (139): 8º aniversário do monumento aos combatentes da Lourinhã, 25/8/2013 (Parte III)

27 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11986: Efemérides (138): 8º aniversário do monumento aos combatentes da Lourinhã, 25/8/2013 (Parte II)


12 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11932: Convívios (524): 5.º Encontro dos Ex-Combatentes do Seixal, Lourinhã, participantes na Guerra Colonial: 18 de agosto de 2013 > Programa e convite

10 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11688: In Memoriam (152): Cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate há 46 anos, em 4 de junho de 1967; natural de Arraiolos, os seus restos mortais repousam em Elvas; nunca foi condecorado (Claudina Cravidão / Jaime B. Marques da Silva)


21 de maio de  2013 > Guiné 63/74 - P11606: Agenda cultural (274): Fafe e a guerra colonial: exposição "Guerra colonial, uma história por contar", que decorreu de 5 a 19 de abril de 2013 - Parte II (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

21 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11605: Agenda cultural (273): Fafe e a guerra colonial: exposição "Guerra colonial, uma história por contar", que decorreu de 5 a 19 de abril de 2013 - Parte I (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

22 de agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8694: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (45): O António Teixeira (ex-Alf Mil, CCAÇ 6, Bedanda, 1972/73) por terras da Lourinhã...

19 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4836: Agenda cultural (23): Exposição evocativa da participação dos jovens do Seixal, Lourinhã, na guerra colonial (Luís Graça)

22 de abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1685: O mistério da morte do soldado José Henriques Mateus, natural da Lourinhã (Benito Neves / Luís Graça / Jaime B. M. Silva)

24 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXV: Homenagem aos mortos da minha terra (Lourinhã, 2005)

(**) Último poste da série > 28 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12646: Tabanca Grande (422): Mamadu Baio, nosso grã-tabanqueiro nº 642, músico de Tabatô, fundador dos Super Camarimba, casado com uma portuguesa... Vai estar amanhã, às 18h30, em concerto a solo, na Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella, Estrada de Benfica, Lisboa... Entrada livre.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12657: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (79): Notícias do nosso primeiro Silvério Dias e da "nossa tenente", rostos do Programa das Forças Armadas (ou PIFAS)

Silvério Dias
1. O nosso leitor Poeta Todos os Dias deixou, hoje, um comentário ao poste P10366  (*):

Olá amigos!
Que comoção! 
Ao fim de quase meio século, poder escrever:
"sempre ao vosso lado", 
quando "lá"
o dizia de viva e sentida voz.

Sou o "velho" 1º Sarg Silvério Dias,
vivo na Graça de Deus 
e tendo a meu lado a "senhora tenente" 
que me acompanha em 53 anos de matrimónio.

O que tenho para recordar? 
Um rol infinito de que procurarei ir dando conta. 
Para já, o reencontro!




Página principal do bogue do Silvério Dias, "Poeta Todos os Dias"... e onde se lê: "Sou beirão; ex-militar; Índia, Moçambique e Guiné. Na velhice, o vício da poesia, e o amor que me une às boas tradições beirãs"...


2. Comentário de L. G.:

Camarada, em nome da Tabanca Grande, os amigos e
camaradas da Guiné que já são mais do que um batalhão, damos as boas vindas ao nosso primeiro Dias e à "nossa tenente!" [, foto à direita,] que, durante alguns anos  foram o rosto do Programa das Forças Armadas (PFA), na Guiiné..

É caso para dizer, depois deste nosso reencontro, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... É Grande, no sentido de nela caberam sempre... mais dois!... Ficamos à espera de novas. O mail é o seguinte: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

Descobrimos que o camarada Silvério Dias criou, em 2011, e mantém até agora um bogue que dá pelo nome de Poeta Todos os Dias... Já tem mais de 26 mil visualizações. Aqui, para ilustração, um poema que ele publicou em 30 de dezembro de 2011:

Heróis do meu País

São dez mil, identificados,
Na pedra fria do Bom Sucesso!
Todos eles foram chorados,
A quando da ida, sem regresso.

São os mártires do meu país,
Vítimas do chamado Ultramar.
Por lá andei e Deus quis
Conceder-me a Graça de voltar.

Perdi amigos; chorei a perda;
Hoje, quando a dúvida se instala,
Mando, mentalmente, "à merda",
"Ilustres" a quem "bati a pala".

Onde mora o brio, o amor à farda?
O juramento feito à Bandeira?
Será que uma geração bastarda
Se rendeu, à bandalheira?


3. Já agora, aqui vão, ao sabor dos (a)casos da Guiné, mais alguns versos, com a devida vénia a autor [, Silvério Dias,. foto à esquerda,] e reforçando o convite para se juntar à nossa Tabanca Grande:

Silvério,  "O nascido na selva"

Significado bem original
Do nome que me foi dado.
Corrijo, algo errado.
Foi na serra que fui gerado!
13/1/2014






P.F.A. Noturno

"2001 Uma Odisseia no Espaço"
É referência que agora faço.
Abertura, "Programa das Forças Armadas"
Que na Guiné de então,
Unia todos os camaradas
Em "encontros" ao serão.

...no espaço do tempo, já lá vai meio século!


Testemunho Público

Também eu, estive lá!...

O MEU TESTEMUNHO
Ao Ilustre, António Ramalho Eanes

Do Presidente e General, falará a História.
Daquele Capitão que "promovi" a Major, *
No meu raro momento de glória,
Me pronuncio eu, em tom maior!

Servi-lo, uma honra na circunstância.
Foi fácil obedecer, vindo o exemplo
De quem, esquecendo a importância,
Desceu até nós, face ao momento.

Momentos que na Guiné partilhámos,
Sabendo ambos qual era o Dever.
Cada um por si, bem o prestámos,
À Causa que se viria a perder.

Ficou o elo, bem firme em mim,
Da admiração pelo Homem-Militar
Para prosseguir, agora e sem fim,
Até que esta minha vida durar.

Na mente, guardo o conceito,
Reservado às figuras duma existência.
A saber: Deus, meu pai e "Este Eleito",
Pelos exemplos, associados à evidência.

* Na cerimónia, impôs que fosse eu, a
colocar um dos galões.
Era, ao tempo, 2º Sarg.do Exército.

25/11/2013


Ao Soldado Desconhecido

Da CART 1802, "Pioneiros da Nova Sintra"

O Alentejo os viu nascer.
Do mesmo, um dia partiram
Para certo destino, a saber,
Sem saberem, ao que iam...

Defender a Pátria, a mensagem.
E com espingardas vos armaram.
Bilhete, só de ida na bagagem,
Pois quantos foram e não voltaram!...

Teu número de condenado, 1802-
Como "fato de riscas", o camuflado-
Trabalhos forçados, te deram depois,
Desde esse dia, malfadado.

Do mesmo lugar de antanho,
Donde partiram as caravelas,
Eis que partem, sem arreganho.
No coração, mil mazelas.

Falar da viagem, a odisseia,
É o dizer, de agonia prolongada,
Feita de enjoos, à mão cheia,
Da novidade não programada.

A chegada a lugar estranho,
De calor tórrido, pegajoso,
Terra à vista, de mau amanho,
Sem vestígios de algo vistoso.

Nova viagem, novo atropelo,
Na barca cinza, de nome lancha.
Todos ao monte, como em novelo
Que desordenado se desmancha.

Pé firme em terras de Farim.
Aqui ficarás, nobre Zé soldado,
Até que um toque de clarim,
Te remeta, a qualquer outro lado.

E foste, como "um pau mandado"
Tropeçando aqui, levantado além,
Por vezes mal comandado,
Tu cumpriste, forte e bem!

Comendo o pão do diabo,
Por ele amassado e com teu suor,
"Temperaste"o que te era negado,
Por falhas, de vulgar superior.

Soubeste traduzir, "bolanha",
Num momento, todo ele sacrificado,
Quando em prova de esforço, tamanha,
Tiveste de passar, p'ró outro lado.

E foste, de novo "baptizado"
Na pia baptismal da picada.
Causou danos, mas bafejado,
Subtraíste o corpo à rajada.

Alguém ficou. Por ti chorado
Em dia fatídico de má desdita,
Sem honras devidas a um finado
Que, longe dos seus, já não palpita.

Quantas palpitações, tantos medos,
Sofridos, em constante desalento...
E os dias parecendo quedos,
Pois decorriam, de modo lento...

Do teu Mundo do Alentejo,
À terra que te viu nascer,
Juntaste nomes de sobejo
Que te obrigaram a conhecer:

Fulacunda, Jabadá, S.João...
São hoje recordações a rever.
Lá deixaste parte do coração,
Não por amor, mas p'lo sofrer.

Construíste, um lugar novo.
Nova Sintra, assim registado.
E, por seres homem do povo,
Como "pioneiro" serás recordado!

O regresso. Missão cumprida.
Dela esquece, a má memória.
Ao longo da tua vida,
Constarás, da nossa História,

Lembrando o Homem-soldado
Que obrigaram a lutar,
Por um ideal mal contado
Que o futuro veio revogar.

Porque tens a alma pura,
Perdoa a quem te fez mal.
Acabada a ditadura,
Temos um novo Portugal.

Embora, com outras sequelas.
Pois parece ser nosso Destino,
Viver sempre em más novelas,
Quando se é pequenino!

"Pioneiros de Nova Sintra"
Em comissão na Guiné, de 1967-69.