domingo, 14 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4520: História do BCAÇ 4612/72 (6): Missão, Dispositivo e Actividades (Enviado pelo Jorge Canhão)


MISSÃO atribuída ao BCAÇ. 4612/72 pela directiva operacional “ÁGUIA JUDICIOSA”

a) Garante prioritariamente a segurança imediata, próxima e afastada dos trabalhos de construção da estrada JUGUDUL/BAMBADINCA, dentro da sua ZA, e assegura a perfeita integração do desenvolvimento desses trabalhos com as referidas medidas de segurança em ordem a que os mesmos não sofram qualquer quebra de rendimento.

b) Garante as condições de segurança necessárias à execução de movimentos nos itinerários NHACRA-MANSOA-MANSABÁ-FARIM e MANSOA-BISSORÃ, dentro da sua ZA.

c) Acaba com O IN na sua ZA, aniquilando-o, capturando-o ou, no mínimo, expulsando-o da sua ZA.

d) Intercepta os eixos:

.....................................MAMBONCÓ - SUARECUNDA
.................MORÉS <..................................................> SARA
....................................SANTAMBATO - MANDINGARÃ

IONFARIM - BIRONQUE - CÃ - QUEBO - MORÉS

FARADINTO - TENTO - UÁLIA
.......................................> GUSSARÁ - MANTIDA - SARA
............CAMBAJU - GENDO

Dificultando ao IN a sua utilização.

e) Assegura a defesa eficiente dos aglomerados populacionais ocupados pelas NT e o socorro em tempo oportuno dos destacamentos de menor efectivo.

f) Reconhece com frequência a faixa marginal do RGEBA de forma a detectar novos locais de cambança e linhas de infiltração IN, tendo em vista o oportuno desenvolvimento de acções de contra - penetração.

g) Exerce o esforço de Acções Psicológica sobre as populações controladas em especial as das regiões de MANSABÁ, BINDORO, BISSÁ, INFANDRE e BRAIA, com vistas à consolidação da sua adesão à causa nacional, fundamentalmente através de uma participação mais efectiva e esclarecida dos seus elementos na resolução dos problemas da Província, de forma a conseguir:

- a mobilização psicológica, à luz da actual política do Governo, em ordem ao seu enquadramento na manobra socioeconómica em curso integrada no movimento de “Uma Guiné Melhor”;

- a participação voluntária na defesa do seu chão.

h) Actua psicologicamente sobre as populações sob controlo IN, em especial as do regulado de CUBONGE, de forma a colocá-las na situação de duplo controlo, através:

- de um tratamento profundamente humano e de uma anulação de propaganda IN, constatação de factos incontestáveis, junto dos elementos que, por iniciativa própria, estabelecem contactos com as NT.

- de contactos a realizar pelas NT, ou por elementos apresentados e recuperados em operações para o efeito especificamente orientadas.

- Actua psicologicamente sobre o inimigo, de forma a conseguir:

- a dissociação do binário dirigentes/combatentes;

através:

- De uma propaganda e contra-propaganda, pelos factos, utilizando indirectamente as populações com que normalmente contacta;

- Da recuperação psicológica dos combatentes inimigos apresentados ou capturados, de molde a que se tornem testemunhas evidentes da validade da nossa politica.

j) Exerce o esforço de Acção Psicológica sobre as NT de forma a conseguir:

- A sua comparticipação consciente na manobra socioeconómica em curso;

- A dignificação e promoção do nativo, através das relações normais com a população.

l) Garante o funcionamento dos Postos Escolares Militares já existentes na sua Zona de Acção e dos que venham a ser criados face às normas em vigor.

m) Estabelece as necessárias medidas de segurança e de controlo das populações em ordem a evitar acções de terrorismo selectivo OU de sabotagem nos principais centros populacionais, em especial MANSOA e MANSABÁ.

n) Apoia os serviços Civis no quadro da manobra socioeconómica, nomeadamente no que se refere:

- À assistência sanitária às populações;

- À estruturação e accionamento do sistema de controlo da população, nos termos da legislação em vigor.


o) Conforme as instruções especiais e ordens particulares emanadas sobre o assunto:

- Executa e/ou impulsiona e melhora os reordenamentos e benefícios colectivos isolados à responsabilidade das autoridades militares, na sua ZA.

- Apoia as autoridades administrativas no melhoramento dos reordenamentos que lhe estejam cometidos.


DISPOSITIVO

O dispositivo iniciado em 280001NOV72, data-hora em que o BCAÇ assumiu a responsabilidade do Sector04, era:

(1) CCS.........................................................................MANSOA
(2) 1ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72 (-)..............................................PORTO GOLE
.... 01 PEL CAÇ (+)............................................................BISSÁ
(3) 2ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72 (-)...............................................JUGUDUL
.... 01 PEL CAÇ (-).............................................................ROSSUM
.... 01 PEL CAÇ (-).............................................................UAQUE
.... 01 PEL CAÇ ( + )...........................................................BINDORO
(4) 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72 (-)...............................................MANSOA
.... 01 PEL CAÇ.................................................................INFANDRE
.... 01 PEL CAÇ.................................................................BRAIA
.... 01 PEL CAÇ.................................................................PISTA E MANCALÃ
(5) CCAÇ 15.....................................................................MANSOA
(6) CART 3567..................................................................MANSABA
(7) PEL CAÇ NAT 57............................................................CUTIA
(8) PEL CAÇ NAT 58 (-).........................................................INFANDRE
.... 01 SEC CAÇ.................................................................BRAIA
(9) PEL CAÇ NAT 61............................................................CUTIA
(10) PEL REC DAIMLER 3088...................................................MANSOA
(11) PEL MORT 3030............................................................MANSOA
.... 01 ESQ MORT...............................................................MANSABA
.... 01 ESQ, MORT..............................................................PORTO GOLE
.... 01 HOMENS..................................................................INFANDRE
.... 02 HOMENS..................................................................BRAIA
.... 02 HOMENS..................................................................ROSSUM
.... 04 HOMENS..................................................................UAQUE
.... 02 HOMENS..................................................................BINDORO
.... 02 HOMENS..................................................................JUGUDUL
.... 02 HOMENS..................................................................BISSÁ
(12) 13º PEL ART (14)...........................................................MANSOA
(13) 01 SEC ART (8,8;/GA7.....................................................MANSABÁ
(14) CMIL/MANSOA..............................................................CUSSANA
.... PMIL 250.....................................................................CUSSANA
.... PMIL 251.....................................................................CUSSANA
.... PMIL 252.....................................................................CUSSANA
(15) PMIL 253....................................................................MANSABA
(16) PMIL 302....................................................................INFANDRE
(17) PMIL 303....................................................................BISSÁ



ACÇÕES ( TOTAL 49)

RESUMO DA ACTIVIDADE OPERACIONAL (NO PERÍODO)

FURÃO I a FURÃO XXVIII........................................Seg trabalhos estrada
FABAGELA........................................................Patr Comb Embc Noct
FABELA...........................................................Escolta
FABIANO..........................................................Patr Comb Embc
FABIFORME.......................................................Patr Comb Embc Noct
FABRICA..........................................................Patr Seg Descontinua
FALANGE.........................................................Patr Comb Embc Noct
FABULA...........................................................Patr Comb Embc Noct
FALCÃO...........................................................Patr Comb Embc Noct
FAÍSCA............................................................Patr Comb
FALCOADA........................................................Patr Comb Embc Noct e Batida
FACADA...........................................................Escoltas
FADIGA............................................................Embc Noct Seg
FAGULHA..........................................................Patr Comb Embc Noct
FACUNDOS.........................................................Escolta
FALANGETA........................................................Patr Comb Embc
FAGOTE............................................................Patr Comb Embc Noct
FAISÃO.............................................................Patr Comb Embc Noct
FAIANÇA............................................................Patr Comb Embc Noct
FAJARDO............................................................Patr Comb Embc Noct
FACETA..............................................................Patr Comb Embc Noct


Outras actividades operacionais:

Emboscadas diurnas.........................................51
Emboscadas nocturnas.....................................103
Emboscadas diurnas/nocturnas............................12
Patrulhas de reconhecimento................................2
Patrulhas de combate......................................139
Patrulhas fluviais..............................................5
Patrulhas auto.................................................3
Seg. trabalhos Pop...........................................31
Seg. trabalhos de capinação................................20
Seg. recolha gravilha........................................19
Escoltas........................................................41
Pic e armadilhamentos......................................30
Colunas auto para reabastecimento.......................24
Patr. Comb. e batidas........................................2
Patr. Comb. c/picagem de estrada.........................2


ACTIVIDADES


Em 280001NOV72 o BCAÇ assumiu a responsabilidade do Sector 04.

Em 282155NOV72, um GR IN não estimado, flagelou simultaneamente durante cerca de 10 minutos com CAN S/R, Mort 82, RPG-7, RPG-2 e AAUTM a tabanca e aquartelamento de JUGUDUL bem, como o aquartelamento de MANSOA, tendo ainda efectuado 04 tiros de CAN S/R sobre a estrada do CUSSANÁ com bases de fogos localizadas na região de CUSSANJA e MANSOA 7A 0.49. s/consequências para as NT. Pop raptada 28 (11h,16m, 01c) casas incendiadas 44. O IN teve várias baixas a avaliar pelo material abandonado.

Em 3009001NOV12, levantadas pelo Pel. Sap. 03 MAPES PMD-6 região CUSSANJA (MANSOA 7E3-59).

Em 01 DEZ inicia-se a acção FABAGELA em que é patrulhada a região MANSABÁ - CODUCO - DUTATO - BIRONQUE - MANSABÁ.

No mesmo dia realiza-se a acção FAVELA para escoltar a coluna de reabastecimento do OLOSSATO.

Ainda em 01DEZ são patrulhadas as regiões CRUZAMENTO INFANDRE, NHAE NAMEDÃO, UANQUELIM e INQUIDA durante a acção FABIANO.

Em 03DEZ realizou-se a acção FABIFORME em que 02 GRCOMB/CCAÇ 15 patrulham com embc noct a região de SANSANTO, QUESSAQUE, SABA, SANSANTO e CAUR.

Notícia de 04DEZ72 refere que através elementos da população de INFANDRE e BRAIA que se deslocaram ao CUBONGE, o IN tem procurado saber qual o número de efectivos que ficaram em INFANDRE, depois da rendição do BCAÇ 3832 e se os dispositivos de segurança se mantém, bem como o número de armas pesadas.

Em 06 DEZ a acção FÁBRICA destinou-se a proteger a coluna JUGUDUL BINDORO JUGUDUL.

Em 07 DEZ durante a acção FALANGE é patrulhada a região de MANTEFA.

Em 09 DEZ realizou-se a acção FÁBULA com patrulhamento de regiões entre BRAIA e INFANDRE.

Em 102245DEZ72, um GR IN não estimado, flagelou simultaneamente o destacamento de BRAIA e reordenamento, durante cerca de 17 minutos com Mort 82, RPG-7, RPG-2 e AATUM, tendo bases de fogos localizadas em MANSOA 5H6.38 e ainda do lado esquerdo da estrada paralelamente ao reordenamento. As NT sofreram 03 feridos graves e 03 feridos ligeiros. POP sofreu 03 mortos (02H;01C) IN teve várias baixas a avaliar pelos rastos de sangue deixados no local. Ao mesmo tempo MANSOA foi flagelada com CAN S/R da região de MANTEFA s/consequências.

As forças que acorreram em auxilio do destacamento sofreram uma emboscada região de MANSOA 8A3.28, com fogo proveniente da região de MANTEFA tendo as NT sofrido 02 feridos ligeiros.

No mesmo dia às 2240, um GR IN não estimado flagelou c/03 GR Mort 82 o destacamento de INFANDRE sem consequências. Base de fogos na região de MANSOA 5D2.44».

Em 11DEZ o Capelão deslocou-se a BAFATA a fim de assistir a uma reunião de todos os capelões da Província.

Em 12DEZ visita MANSOA S. Ex.ª BISPO DE MADRESUMA.

Em 13DEZ realizou-se a acção FAÍSCA na qual é patrulhada a região de MANSANSUNTO e MAMBONCO.

Em 131830 GR IN não estimado flagelou CUSSANÁ com 09 GR CAN S/R s/ consequências. Base de fogos em região ANHA FUTA-FULA.

Em 181045, accionada 01 MAPES PMD-6 estrada JUGUDUL BAMBADINCA (MANSOA 7C9.40) s/consequências.

Em 182225 GR IN não estimado flagelou cerca de 05 minutos com RPG e AAUT. destacamento de ROSSUM s/consequências para NT. Rou¬bou 0 3 vacas à Pop. Base fogos em MANSOA 4A3.25 e MANSOA 4B0.18.

Em 182225 GR IN não estimado flagelou com 07 GR Mort. 82 Destaca¬mento de BINDORO s/consequências. Base fogos reg. DATE.

- Em 201320 GRCOMB/lNFANDRE embc em MANSOA 5C5 abriu fogo sobre GR IN não estimado que retirou direcção QUERE. Resultados desconhecidos.


Em 21 DEZ 03 GRCOMB realizaram a acção FAGUNDES que consiste na es¬colta a coluna de reabastecimento a BISSORÃ.


Neste mesmo dia realizou-se a acção FAGOTE com emboscada nocturna na região de SINCHÃ BESSUNHA. Terminou s/contacto.

Em 22DEZ SUA Ex.ª GENERAL Comandante-chefe visitou o destacamento de BISSÁ.

Em 231920 GR IN não estimado flagelou cerca de 05 minutos com Mort 82 CUSSANÁ s/consequências. Base de fogos reg. LOCHER.


Em 23DEZ realizou-se uma patrulha de combate durante a acção FAISÃO em que 02 GRCOMB da 1ª CCAÇ emboscaram de noite em CACUMA. Terminou s/contacto.

Neste mesmo dia apresentaram-se 22 homens do BINDORO para trabalhar na desmatação da estrada JUGUDUL/BAMBADINCA.


- Em 242200 GR IN não estimado flagelou com 02 GR Mort 82 destacamento de BRAIA s/consequências. Base de fogos reg. BENIFO.

Em 25DEZ na acção FAIANÇA 02 GRCOMB da 1ª CCAÇ realizaram uma patrulha de combate com emboscada na região de DEMBEL. Terminou s/contacto.

Em 28DEZ no reordenamento de INFANDRE cerca das 0800 uma mulher, acidentalmente, pegou fogo a sua casa o qual devido ao vento, se propagou instantaneamente tendo originado o incêndio de 34 casas.

Em 30DEZ Sua Ex.ª GENERAL Comandante-chefe visitou MANSABÁ, CUTIA, BRAIA e INFANDRE.


No mesmo dia realiza-se a acção "FACETA" com patrulhamento em região a norte de MAMBONCO, emboscada em FARIM 1I6 terminou s/contacto.

Em 300825 accionada 02 M a/p PMD-6 pela segurança afastada estrada JUGUDUL /BAMBADINCA (MANSOA 7E3) causando 02 feridos graves às NT.


Em 300940 GR IN não estimado flagelou com 02 GR Mort 82 segurança afastada estrada JUGUDUL /BAMBADINCA s/consequências. Base fogos reg. LOCHER.

(Enviado por Jorge Canhão – Ex-Fur. Milº da 3ª Cia do BCAÇ 4612/72)

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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:


Fotos: © Alf. Milº Fraga & Jorge Canhão (2009). Direitos reservados.

Foto 1 - O pessoal da 3ª Cia., em Mansoa, num período de descanso a jogar às cartas
Foto 2 - Saída da 3ª Cia. de Bula para a zona do Choquemone depois de ter caído numa emboscada no mato
Foto 3 – No regresso de mais uma operação
Foto 4 - Uma tabanca do PAIGC assaltada pela 3ª Cia. e depois queimámos (ao fundo podem ver-se mais algumas cabanas)
Foto 5 – Material de guerra capturadas ao PAIGC (granadas de RPG)
Foto 6 - Uma evacuação por helicóptero de feridos (eu não estive neste embate, estava cá de férias, mas estou à espera que me façam a história dessa emboscada. Na história do batalhão fala em 10 minutos de combates, mas os meus camaradas, que lá estiveram, falam que os combates duraram cerca de duas horas)

Guiné 63/74 - P4518: Controvérsias (23): Sob a evacuação das NT de Madina do Boé (Armandino Alves)


1. O Armandino Alves foi 1º Cabo Enfº da CCAÇ. 1589 (1966/68), em Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, enviou-nos mais uma mensagem, em 12 de Junho:


Camaradas,

Estive a ler o testemunho do falecido Coronel Hélio Felgas, sobre os motivos que levaram à evacuação de Madina do Boé.

Uma das coisas que diz é que a sua companhia não estava lá a defender população, pois não havia nenhuma.

Basta ir ao Poste 1292 e logo na primeira foto que se lá vê (uma vista aérea de Madina do Boé), é bem patente a existência de várias tabancas. Ou será que aquelas “coisinhas” em forma de cogumelos, que se vêem terão sido lá “plantadas” pelo fotógrafo?

Não é verdade! Madina do Boé tinha a sua população, embora não fosse uma Nova Lamego ou uma Bafatá. Porque não perguntou ele ao nosso Comandante da Companhia o que foi feito dessa população?

Talvez os Altos Comandos não estivessem interessados em saber a verdade. Não sei se foi por sugestão do Cmdt dessa Cia. que as populações abandonaram Madina do Boé, se foi por verem que nem eles próprios se sabiam defender.

O IN só tinha um sítio de onde podia atacar com eficácia, que era o aquartelamento situado no cimo de uma colina, local este que a minha Companhia tinha sob mira do nosso canhão e dos morteiros 81.

Por esse motivo, se eles atacassem, só tinham tempo de disparar uma vez. Claro está, esta hipótese apenas teria lugar no caso de não serem detectados de imediato.

Essa Companhia, no 1º ataque que teve esbanjou todas as munições que lá lhe deixámos, mais as que tinham transportado e armazenado quando para lá foram, tendo que ser, posteriormente, reabastecidos pela FAP.

Isto soube-se em Bissau, ainda eu lá estava, pois só vim para a Metrópole em Setembro.

Mesmo assim apelidaram-nos, a eles, de Bravos de Madina. E as outras Companhias que lá estiveram o que foram? Turistas a passar férias?

Dá a ideia que nós tínhamos umas sardinhadas com o IN às segundas, quartas e sextas, e às terças, quintas e sábados, éramos convidados deles. Aos Domingos descansávamos todos juntos.

Mesmo os mortos que tiveram no CheChe, por todas as leituras que fiz da “coisa”, foram provocadas por uma ordem errada.

O que acho graça no meio disto tudo, é que numa situação idêntica, que todos bem conhecemos, um Homem foi punido por salvar a sua Companhia e a população civil sob a sua protecção evitando um massacre e, neste caso com mortos à mistura, não se procurou um qualquer responsável.

Até no filme, sob este assunto, conseguiram branquear as culpas dos seus intervenientes.

É este o infeliz país que temos e, creio eu, nada o mudará!

Armandino Alves
Ex 1º Cabo Enfº CCAÇ. 1589
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

sábado, 13 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4517: Controvérsias (22): O outro lado da guerra, os desertores (António G. Matos)

1. Mensagem de António G. Matos, ex-Alf Mil MA da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, com data de 7 de Junho de 2009:

A panóplia de reflexões que se consubstanciam em posts, comentários e (in)confidências que temos com o nosso travesseiro, têm, de algum modo, contribuído indelevelmente para uma melhor percepção da guerra que travámos no ultramar e muito especialmente na Guiné.

Temos relembrado ocasiões que nos marcaram o corpo e o espírito e temo-las transposto para os dias de hoje com um restyling desenvolvido em ateliers mentais, nos quais vamos misturando as cores da nossa vida, retocando aqui ou ali uma imagem que se começou a desbotar, mas que insistimos em preservar.

Relembramos camaradas desaparecidos na voragem da luta e debatemo-nos em perceber os deuses que os não protegeram.

Trazemos à memória os inimigos da altura.

Assina-se uma paz e decreta-se uma vivência irmanada.

Posteriormente percebe-se que a vida não se decreta!

Vamo-nos reunindo para expelirmos algumas confissões inconfessáveis enquanto viverem os protagonistas.
Mas temo-nos esquecido de estudar com profundidade e saber sociológico, uma peça importante na compreensão da complexidade da guerra: o porquê, o como, a corda-bamba das suas vidas, os entretantos, as saudades, os medos, a clandestinidade, os outros que fizeram o quotidiano dos desertores.

Não se tirem conclusões precipitadas a esta minha reflexão!
Tenho amigos que foram desertores e eu próprio fui altamente assediado a fazê-lo.
Não vou explanar sobre o meu caso (já o abordei em antigo post) pois interessa-me saber dos que o consumaram e não dos outros.

Considero que, para uma boa compreensão dos contextos social, político, económico, das relações de causalidade da acção aos resultados, e das novas maneiras de ver estas problemáticas, os então desertores poderão contribuir para o enriquecimento cultural deste blog.

Dentro dos voyeurs desta tabanca haverá, com certeza, quem tenha optado por essa via e, aceitando-lhes a liberdade de o terem feito, desafio-os a tornarem claros os conceitos atrás mencionados.

Aguardemos as contribuições.
António Matos
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4513: Comentários que merecem ser postes (7): Encontros imprevistos... na latrina (António G. Matos)

Vd. último poste da série de 13 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4515: Controvérsias (17): A César o que é de César! (Mário Fitas)

Guiné 63/74 - P4516: A Tabanca Grande no 10 de Junho (12): As minhas reflexões pessoais sobre esta efeméride (Virgínio Briote)


1. Mensagem do nosso camarada e amigo, co-editor Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando, Brá, 1965/67 (foto, à esquerda):

As minhas reflexões sobre o dia 10 de Junho (actualmente designado por dia de Portugal, de Camões e das Comunidades),

Desde os meus 18 ou 19 anos nunca vi bem a data. Não a considerava como uma comemoração verdadeiramente nacional, que respeitasse uma genuína comemoração popular, sentida pelo melhor do nosso passado e dos valores da lusitanidade. Achava-a e considerei-a durante muitos anos como uma manifestação apenas política, que pretendia, mais que tudo, justificar opções de um grupo.

Por motivos de ordem exclusivamente pessoal, não política, nunca me senti verdadeiramente motivado nessas cerimónias. Obviamente compareci, como era meu dever militar e, como cadete, participei nos dez de Junho de 1963 e 1964, no Terreiro do Paço, respeitei os toques a mortos (de forma diferente da que vi num jovem agente da PSP, a fumar e outro ao telemóvel), e desfilei, a olhar à direita para os altos dignitários do Estado Português de então.

Depois veio o vinte e cinco de Abril. O Povo dividiu-se, as posições extremaram-se e a partir dessa data, passei a ver o Dez de Junho como a manifestação de um grupo, que pretendia a continuação da situação política anterior. Achava que era uma tentativa para extremar posições, que levariam inevitavelmente à divisão do País. Nunca participei nessas cerimónias, nem noutras, aliás.
Acreditei no 25 de Abril e na possibilidade de nos reconciliarmos. E, na altura, fiquei muito orgulhoso de ter sido Camarada de muitos daqueles militares que conseguiram levar a efeito o golpe sem derramamento de sangue.

Depois foi o que se viu. Alguns dos meus Camaradas foram enredados em interesses de grupos. Não largaram as armas, pelo contrário, puseram-nas à disposição de interesses de partidos. Podia ter sido diferente? Podia. Teria sido possível fazer de outro modo? Não sei. Nem tem grande interesse discutir isso agora.

Foi assim.

As comemorações do dez de Junho continuaram anos e anos. Uma parte do país via-as como uma manifestação de saudosismo, a outra como a consagração dos valores de Portugal.

Muitos anos volvidos, reconciliei-me comigo próprio ou estou em fase de o fazer.

Estar presente no Dez de Junho de 2009, foi a alegria de reencontrar Camaradas pelos quais tenho muito mais que apreço e foi também a possibilidade de me manifestar Português, com tudo o que de bom ou de menos bom esse sentir possa ter.

Uma observação apenas em relação à cerimónia do presente ano, 2009.

Compreendo a necessidade das medidas de segurança a individualidades que hoje desempenham altas funções no Estado.

Não compreendo que a maior parte delas se sinta bem em estar resguardada do Sol ou da chuva. Muitas dessas personalidades foram soldados (capitão, cabo, sargento ou alferes são soldados em guerra) que partilharam com dignidade a inclemência dos tempos africanos. Para mim, este simples formalismo desvirtua a comemoração.

(Virgínio Briote)

Fotos: © Virgíno Briote (2009). Direitos reservados.

Foto 1 – Amadora, 1963, corpo de Alunos da Academia Militar.

Foto 2 – Lisboa, Terreiro do Paço, 10 de Junho de 1963 [evento este que, considerando a (então) recente torna-viagem dos primeiros contingentes mobilizados para o norte de Angola, constituiu o primeiro cerimonial público do "10 de Junho" organizado pelo Estado Novo]. Reconhecem-se, da esquerda para a direita, o então Coronel de Engenharia, Joaquim da Luz Cunha (Ministro do Exército 04Dez62-07Ago68), o Ministro [Adjunto do PM (22Jun61-19Mar65) e ministro da Economia (19Mar65-27Mar69), José Gonçalo da Cunha Sottomayor] Correia de Oliveira, o Presidente da Câmara Corporativa [28Nov57-25Abr74, Clotário Luís] Supico [Ribeiro] Pinto [cuja esposa, Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho (Supico Pinto), era co-fundadora e presidente do MNF], [o PM (13Abr33-27Set68) António de Oliveira] Salazar, [o PR 09Ago58-25Abr74, Américo [de Deus Rodrigues] Thomaz, ... General [Manuel] Gomes de Araújo (Ministro da Defesa Nacional 04Dez62-27Set68) ...

Foto 3 – Lisboa, Terreiro do Paço, cadetes da Academia Militar, 10 de Junho de 1963.

Foto 4 – Lisboa, Terreiro do Paço, desfile de cadetes da Academia Militar. À frente, do lado esquerdo, o então Tenente Vasco Villas Boas. 10 de Junho de 1964.

Foto 5 - Porto, 1º Maio de 1974 (Foto de autor desconhecido).

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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em: