Mostrar mensagens com a etiqueta vinho. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta vinho. Mostrar todas as mensagens

domingo, 8 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18825: (Ex)citações (341): Cânfora no vinho para tirar a "tusa"?... É um mito, diz o "intendente" João Lourenço, ex-alf mil, cmdt, PINT 9288 (Cufar, 1973/74)


Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > Novembro de 1968 > O alf mil SAM Virgílio Teixeira (o segundo a contar da esquerda), a ajudar a descarregar garrafões de vinho, alguns dos quais têm o rótulo do Cartaxo (presumivelmente, da Adega Cooperativa do Cartaxo).

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018) / Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados

1. Pedimos aos nossos camaradas do Batalhão de Intendência ( BINT), o Fernando Franco, o António Baia, o João Lourenço, para esclarecer esta "momentosa" questão do vinho e da cânfora... E já agora acrescentei questões que estavam associadas ao vinho:

(i) qual era a ração diária de um soldado na Guiné? Um decilitro, um copo, ou dois, à refeição? (Dois decilitros por dia dava, a multiplicar por 160 homens=1 companhia,  dava 32 litros por companhia, ou sejam, 6 garrafões de vinho de 5 litros... Ao fim do mês eram 180 garrafões, o que obrigava a uma logística complicada... transporte, armazenamento...

(ii) como é que o vinho era transportado desde Bissau? Em garrafões, de 5 litros, 20 litros? Em meias pipas? Ou outro vasilhame?

(iii) o vinho levava aditivos? Cânfora, por exemplo? Era batizado, com "água do Geba"?

(iv) lembram-se de alguma marca de vinhos, como por exemplo, o "Cartaxo"?

Obrigado, em nome da Tabanca Grande e em honra da memória dos nossos valorosos "intendentes". LG


2. Primeirsa resposta de um "intendente", a do João Lourenço, que foi alf mil int, cmdt do trágico PINT 9288, Cufar, 1973/74 (*):

Bom dia, Luís .

A cânfora é, quanto a mim, e fui responsável pelo tacho, fui comandante de um PINT, um mito.

O vinho era fornecido pela MM [Manutenção Militar] em bidões de 215 lts, salvo erro, e usado assim mesmo, devido ao calor havia por vezes o hábito de usar um bidão sem a tampa onde eram colocadas barras de gelo feitas com água tratada e potável claro, o que dava sobras....

Havia algum controle para evitar grandes "bubas". Em especial em Bissau, no mato... dependia.
Um alfa bravo  (**)

João Lourenço
_____________


(...) Meu caro Luís,


"Tropecei" no teu blogue e gostava não só de me encontrar com o pessoal das nossas "férias tropicais" como de pertencer ao grupo e ir ao almoço de dia 20.

Fui o 1º Comandante do PINT 9288, estive lá em Cufar até ao terrível dia da morte do meu Furriel Pita e do Jeová no mesmo Jipe que eu próprio tinha conduzido na estrada para o porto interior nesse dia de manhã cedo, antes de ir em serviço a Bissau chamado pelo Cap Manuel Duran Clemente, meu 2º Comandante.

Estive no Hospital com o Pita o pouco tempo em que o coração dele resistiu ao destino que era inevitável. Hoje resta apenas a memória gravada no monumento em Belém de homenagem a todos os que deram a vida. Tal como a maioria, nunca soube o nome do Jeová, penso que estará homenageado no mesmo monumento.

Convivi com a CCaç 4740, o CAOP 1, ainda me lembro de alguns, poucos, bons momentos, como a célebre recepção aos piras em que lhes demos arroz com marmelada..., antes de vir a nossa janta reforçada, etc.

Lembro-me bem do Baía e de mais alguns, havia o Furriel Cardoso, um moço do Norte que era Bate-chapas... um 1º Cabo que ficou no BINT de Bissau, que era aqui da Figueira onde habito agora e que gostava de voltar a encontrar,etc." (...)

sábado, 7 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18820: Fotos à procura de... uma legenda (106): O milagre do vinho, ontem, do Cartaxo (que chegava ao Cacheu...), hoje de... Pias, que entope as prateleiras das nossas superfícies comerciais, em caixas de cartão... (Virgílio Teixeira / Luís Graça)


Foto nº 60 >

Foto nº 60A


Foto nº 60 B

Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > Novembro de 1968 > O alf mil SAM Virgílio Teixeira (o segundo a contar da esquerda), a ajudar a descarregar garrafões de vinho, alguns dos quais têm o rótulo do Cartaxo (presumivelmente, da Adega Cooperativa do Cartaxo).

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018) / Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados


1. Mensagem. de 3 do corrente, enviada pelo nosso grã-tabanqueiro Virgílio Teixeira , ex-alf mil,  SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) [natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue]:

Assunto - Os vinhos a martelo para as tropas da Guiné

Luís no seguimento dos assuntos vinícolas (*), que são da tua nova especialidade, aqui vai uma foto na luta da "trasfega" dos garrafões de 10 [ ou 5 ?] litros do barco para os camiões com destino ao armazém geral.

Consigo ler 'Cartaxo' e outro parece dizer 'Paladar' mas este último não me recorda de ver ou se existe. Podes dar uma ajuda?

Os vinhos Cartaxo não são lá da tua região de nascença? E o Paladar?

Foto recolhida no cais de S. Domingos em Novembro de 68. Está nos Postes de São Domingos.

Um abraço,
Virgílio


2. Comentário de LG:

Virgílio, mais uma foto do teu álbum, que é uma caixinha de surpresas... E esta vale ouro...  O Cartaxo, na época, e durante muitos anos, era a terra do milagre do vinho.  Tinha muita parra e muita uva... De resto, o Ribatejo e a Estremadura produziam grandes quantidades de vinho, sem se olhar à qualidade... Não havia piquenique, nos anos 60, onde não pontificasse o "tintol" do Cartaxo... Era a época em que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses...

Hoje o milagre chama-se "Pias", uma terrinha, uma freguesia,  que fica lá para o Alentejoo profundo, concelho de Serpa, na margem esquerda do Guadiana... E que eu saiba só tem dois produtores e engarrafadores de vinho, mas há mais de um dúzia de marcas de vinho (em embalagem de cartão...) que começam por Pias. e que são tudo menos vinho regional alentejano. O seu sucesso é tal que inundas as grandes superfícies... Ora trata-se de vinhos provenientes da UE (União Europeu), o que não é "ilegal", mas é "eticamente" reprovável do ponto de vista comercial... É que vinho alentejano é que não deve ser, e muito menos de Pias... E os armazéns são aqui da grande Lisboa e região centro: Pias é uma "mina"...

Não direi que são "vinho a martelo" (, a expressão é forte, e tecnicamente incorreta...)  mas a verdade é que o uso e abuso do topónimo Pias engana muito consumidor desprevenido, que não lê os rótulos... Pode ser vinho (e é, já o provei, a contra-gosto...). Não, não é "vinho regional do Alentejo", mesmo que tenha 13º...  Hoje bebe-se "Pias" como no passado se bebia "Cartaxo"... Só que na época não havia a famosa "bag in box" (caixa de cartão) que, como se sabe, não deixa o vinho oxidar (ou "azedar"):  a torneirinha, de plástico, é um vedante, deixa sair o precioso líquido, mas impede a entrada de ar, evitando por isso o nosso conhecido fenómeno da  "oxidação"...

Diz o "Jornal dos Sabores", em edição digital de 6 de julho de 2017: 

(...) “Leva este que é alentejano, é de Pias” sugeria o acompanhante de um cliente de uma grande superfície, indicando um vinho, em bag in box, que ostentava na marca a palavra ‘Pias’. A avaliar pelo número de marcas que fazem parte da atual oferta, a localidade de Pias está ‘em alta’ na cotação vinícola. Numa pesquisa (pouco aprofundada), identificámos 12 marcas de vinho acondicionado em bag in box em que é usada a palavra que pretende «identificar» aquela freguesia alentejana do concelho de Serpa. Mas é provável que existam mais algumas."...

O jornal identificou pelo menos uma dúzia de "marcas" de pretensos vinhos de Pias: Arca de Pias; Amigos de Pias; Anta de Pias; Alma de Pias; Castelo de Pias; Chão de Pias; Ermida de Pias; Lagar de Pias; Ouro de Pias; Porta de Pias; Só Pias; Vinhos de Pias... Mas parece haver mais...

Ora, e tanto quanto eu sei, só há dois produtores de Pias, de resto, com excelentes vinhos, honra seja feita àquela terra... Um deles é Sociedade Agrícola de Pias, que produz e comercializa os vinhos Margaça. Depois há outra marca, que é o Encostas de Pias.

Virgílio, eu sou da Estremadura, o Cartaxo, perto de Santarém,  fica no Ribatejo, a uma horita de caminho (c. 60 km), no sentido nordeste.  Hoje felizmente fazem-se belíssimos vinhos nas duas regiões... E o Cartaxo puxa pelos seus pergaminhos históricos  quer voltar a ser a "capital do vinho", enquanto  a minha terra, Lourinhã (, no passado também com má fama de "marteleira", mas que sempre produziu vinhos desde há pelo menos 800 anos...)  é hoje a capital dos dinossauros e... da aguardente DOC Lourinhã... (Coisa que muita gente não sabe: só há três regiões DOC de aguardente vínica no mundo: Cognac, Armagnac e... Lourinhã!)...

Mas as regiões vitívinícolas em Portugal são apenas as seguintes: Vinhos Verdes, Trás-os-Montes, Douro, Bairrada, Dão, Beira Interior, Távora-Varosa e Lafões, Lisboa, Ribatejo, Península de Setúbal, Alentejo, Algarve, Madeira, Açores...

Conselho ao consumidor: quando comprar (e/ou beber) vinho,  leia por favor os rótulos das garrafas...

Virgílio, o outro vinho , marca "Paladar", nunca ouvi falar... Fica o desafio aos nossos leitores: estes fotos merecem uma boa legenda (**)...
_____________

Notas do editor

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16373: Os nossos seres, saberes e lazeres (167): Rapazes (e raparigas), bebam vinho português, comam pêra rocha portugesa e cantem o fado português, porque no céu... não há disto!













33º Festival do Vinho Português e 23º Feira Nacional da Pêra Rocha > Bombarral, 2 a 7 de agosto de 2016 >  4º de agosto > 22h00 > Espetáculo com a fadista Carminho, um grande presença, corpo, alma e voz em palco... E boa continuação das férias para os felizardos que podem dar-se ao luxo de ter férias... (As imagens dos "outdoors" foram tiradas no recinto do festival e da feira, na magnífica mata municipal do Bombarral).


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados . [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

_________________

sexta-feira, 11 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15843: Inquérito 'on line' (41): "Nunca apanhei um pifo de caixão à cova na tropa ou no TO da Guiné"... (Comentários de Rui Santos, Manuel Luís Sousa, Orlando Pinela, Mário Gaspar)


As últimas garrafas de uísque
da Guiné (**)...Foto de Manuel
Traquina (2015)
1. Alguns comentários de grã-tabanqueiros, chegados à nossa caixa de correio, sobre o tema (candente) do álcool & seus derivados, consumidos no TO da Guiné, desde pelo menos 1961 até 1974... (*)

Tudo se bebia no TO da Guiné, mas o rei parece que era o destilado na Escócia, a 38º graus... E havia "scotch" para todas os gostos e até bolsas... entre os 50 pesos e os 150... (O de Sacavém ainda não se exportava para a Guiné, que eu me lembre... Era a bebida preferida dos "patos bravos" que proliferavam em Lisboa e arredores com o "boom" da construção)...

Havia quem preferisse o "gin" tónico, dizia-se que era o melhor "profilático" contra o paludismo... Mas que dava cabo da figadeira... em tempo recorde. Outros, seguramente a maioria, alinhava na cerveja... À hora da refeição (, quando não era "ração de combate"...) servia-se o  mais fraquinho, "martelado" ou "batizado", o da Intendência, também conhecido por  "água de Lisboa"...

Recorde-se que esta pitoresco designação era dada,   pelos nossos amigos guineenses,  ao "vinho"... Em dia de festa, abria-se uma garrafa de "verde", Três Marias, Gazela, Lagosta... Era caro, quase ao preço do "uísque"... E mauzinho, tipo pirolito, gaseificado... Vinho branco leve da Estremadur, levado para o norte, misturado com algum verde genuínio, "martelado", engarrafado e exportado para a tropa, que tinha algum poder de comora...  E foi lá, nos trópicos, que o português do sul, o alfacinha,  começou a apreciar os nossos verdes, que estão hoje na moda em todo o mundo, com o rei "Alvarinho" a dar cartas... O "tinto verde", o carrascão do Norte, esse não chegava lá... Dizia-se que dava-se mal com a passagem pelos trópicos... De resto, não se engarrafava!...

A "água de Lisboa", por sua vez, e antes de atravessar de trópico de Câncer, e ser descarregado em Bissau, chegava em pipas e toneis, através das fragatas de vela erguida, vinda "diretamente do produtor ao consumidor", ali aos cais ribeirinhos, do Tejo, no Poço do Bispo e no Beato, onde havia os grandes armazéns... E os maiores eram de um grande senhor, empresário, vitivinicultor, e armazenista vínicola, que   em 1910  havia mandado construir em Marvila o famoso edifício, conhecido como a "catedral do vinho"...

Referimo-nos, naturalmente, ao Abel Pereira da Fonseca, de quem se contava, certamente como anedota, as últimas palavras que terá proferido na derradeira hora da sua morte aos seus descendentes:  "Lembrem-se, meus filhos, que até da água se faz vinho" ou, noutra versão, não menos popular e jocosa, "lembrem-se, meus filhos, que enquanto houver água no Tejo, nunca deverá faltar vinho a Lisboa"... Não sei se os filhos ou os netos do Abel Pereira da Fonseca fizeram a tropa e foram parar à Intendência... A verdade é que havia sempre piadas ao "vinho" da Intendência. metendo esta história do Abel Pereira da Fonseca... Mas, não sejamos injustos para com os nossos bons camaradas da Intendência que, por certo, deram o seu melhor e alguns a vida, no TO da Guiné... E sobretudo não nos deixaram morrer de sede nos bu...rakos para onde nos mandaram!

Mas não é da "água de Lisboa", e do seu abastecimento, que queríamos falar... Mas, sim, das "bezanas"  ou "narsas" que a malta apanhou, algumas de caixão à cova, por muitas e variadas razões...  (Alguns, mais poetas, dizem que "melhor que as bajudas, eram o 'scotch' que fazia esqucer as bajudas", as de cá e as de lá)...

Das razões, algumas eram fáceis de explicar: misturas mal feitas, de "coisas" que não combinavam e continuam a não combinar bem,  por exemplo,  vinho + cerveja + uísque + licor de uísque ou edronho ou poncha... A primeira coisa que se aprendia, quando se era "periquito" (na Guiné e na ciência do álcool & seus derivados)  era ter cuidado com estas "misturas"... explosivas... Hoje os putos aprendem isso logo aos 15 anos... (Será ? Eles agora chamam "shots" a essas misturas; no nosso tempo só conhecíamos os "cocktails Molotov")...

Oiçamos, entretanto,  mais alguns camaradas que têm pequenas histórias para nos contar... Os outros façam o favor de ir respondendo ao nosso inquérito "on line", no canto superior esquerdo do blogue... Até 3ª feira, dia 15, às 18h04... Nesta matéria, toda a gente tem opinião, mesmo que nunca tenha apanhado nenhuma "cardina",,, LG
______________

(i) Rui Santos [ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, 
Bedanda e Bolama, 1963/65]


Apenas me lembro de uma [, "piela de caixão à cova"], pois a guerra, a vigilância interminável e o comando do pelotão destacado davam-me muita responsabilidade acrescida...

Uma tarde o sargento do destacamento dos armazéns de víveres foi lá abaixo ao meu aquartelamento, aboletado na povoação de Bedanda, encontrámo-nos na casa comercial do Sr. Abel, pessoa muito afável e bastante amigo meu, abriu uma garrafa de Vat 69 e, com Perrier, bebêmo-la os três em menos de 15 minutos...

É claro que a tal velocidade o álcool subiu de imediato, fui guiando o meu jeep até o destacamento do sargento, e saltou-me à vista (bem nublada) uma pele de cobra pregada numa tábua a secar ... Ele convidou-me para comer uma "canjinha" mas quando vi os pedaços de cobra, que pareciam filetes de linguado, recusei.

E aqui segue a História das duas bebedeiras que apanhei ... a 1ª e a última ...

(ii) Manuel Luís Sousa (#)

O meu testemunho sobre este tema, está em linha com os demais camaradas. Gostei imenso do produto escocês e,  num dos testes, foi uma de " Johnnie Walker",  simples e sem gelo, durante 1/2 hora para esquecer uma má situação. 

O que me safou foi o enf  Paulino,  hoje doutor no hospital do Funchal. E continuo adepto desse "digestivo".

(#) Um deles que desempate, temos dúvidas sobre o autor: Manuel Luís Nogueira de Sousa (ex-Fur Mil At Art da 1ª CART do BART 6520/73, Bolama, Cadique, Jemberém, 1974) ou Manuel Luís R. Sousa, Sargento-Ajudante Reformado da GNR (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74) ?...


(iii) Orlando Pinela [ex-1º Cabo Reab Mat da 
CART 1614/BART 1896, Cabedú, 1966/68]


Enquanto estive na Guiné não apanhei nenhuma piela a sério, ficava alegre e nada mais, isto é,  à base de bazucas.

Quanto a esquentamentos,  fui sempre cuidadoso, também nada.

Um abraço para a Direcção da Tabanca.




Sobre a bebida há muito que contar. Pergunto se vale a pena destilar uma Piscina Olímpica de 100 metros. Deve ter sido o que bebi. 

Cerveja nunca faltou. Faltou tudo, mas cerveja,  que me lembre, não, em Guileje após  emboscada no meu "corredor" favorito.

Luís e Carlos, valerá a pena perder o meu latim, se toda a Tabanca se cala?


________________

domingo, 7 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14709: Os nossos seres, saberes e lazeres (98): A Ana Luísa Valente mais o José Manuel Lopes, a Quinta Senhora da Graça e o Pedro Milanos à vossa espera hoje, das 17h às 22h, nos jardins setecentista do Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras, no Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo


Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > Aspeto parcial do recinto... Confesso que já não ia lá, ao palácio do marquês de Pombal, desde os tempos do INA - Instituto Nacional de Administração (que tinha aqui a sua sede, até â sua lamentável extinção; passou agora a ser uma obscura direção geral da qualificação dos trabalhadores da função pública; em contrapartida, o munícípio de oeiras ficou a ganhar a com o negócio; o palácio e os jardiins são visitáveis)...


Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > A Luísa e a Alice


Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > O produtor e nosso camarada, grã-tabanqueiro, José Manuel Lopes



Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 >  As marcas expostas


Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > O Pedro Milanos Douro Doc Reserva, tinto 2011  (1)



 Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > O Pedro Milanos Douro Doc Reserva, tinto 2011 (2)



Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > Atuação do Rancho Folclórico Lavadeiras da Ribeira da Lage, Oeiras (1)



Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > Atuação do Rancho Folclórico Lavadeiras da Ribeira da Lage, Oeiras (2) > Vídeo (2' 37''): o fandango... Santa ignorância minha, não sabia que também era dançado pelas mulheres, fora taberna... O fandango é uma dança, aos pares, que existe na península ibérica desde o séc. XVIII...Portanto, não é uma dança exclusiva dos homens nem sequer do Ribatejo...


Fotos (e vídeo): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados


1. Foram três dias dedicados ao deus Baco, ao senhor Vinho. Havia teoricamente a possibilidde de provar mais de mil vinhos, previamente selecionados e classificados por um conjunto de 70 jurados. A gastronomia (desde o choco frito ao leitão e à chanfana) também marcou presença, a par da farta e variada animação musical... O festival, que termina hoje,  tem entrada gratuita.

A abertura oficial deste Festival teve lugar no dia 5 de junho, às 18h00, nos Jardins stecentistas do Palácio do Marquês de Pombal, numa cerimónia em que foram divulgados os vinhos premiados no XIV Concurso Internacional “La Selezione del Sindaco” (a escolha do Presidente) - que se realizou em Oeiras nos últimos dias de Maio (29, 30 e 31) - e foi feita feita uma prova de vinhos das grandes medalhas.

 Para além dos vinhos do concurso, os visitantes puderam (e podem ainda, até ao fim deste domingo)  provar vinhos e produtos regionais apresentados por uma dezena e meia de municípios presentes na vertente enoturismo. Regiões  portuguesas presentes: Arcos de Valdevez; Cartaxo; Coruche; Lagoa; Mértola; Nelas; Oeiras; Ponte da Barca; Ponte de Lima; Reguengos de Monsaraz «Cidade Europeia do Vinho 2015»; Santa Marta Penaguião; Seia; Viana do Castelo; Vidigueira e as Rotas de Vinho de Bucelas, Carcavelos e Colares e da Península de Setúbal  .

A organização do evento foi da AMPV- Associação de Municípios Portugueses do Vinho e da Confraria dos Enófilos do Vinho de Carcavelos, com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras e da ERT – Lisboa, Casa Ermelinda Freitas, Água do Luso, Delta Cafés e CP.

Ontem, o festival esteve animado com diversos grupos de música tradicional portuguesa.


2. Eu e a Alice fomos lá de propósito para dar um abraço à Luísa e ao José Manuel Lopes, o nosso camarada e poeta Josema.  A Quinta Senhora da Graça lá estava bem representava, no pavilhão do município de Santa Marta de Penaguião.

Claro que tivemos a oportunidade de, além do abraço e de dois dedos de conversa, beber um copo do último "Pedro Milanos Douro Doc,  reserva, tinto 2011" (enólogo: Vasco Lopes). É uma "grande pomada", com 14,5º!... Aquece o corpo, conforta a alma!

"Pedro Milanos"  é o anagrama de Armindo Lopes, pai (já falec ido) do nosso Zé Manel. Na sua pequena herdade de 3 hectares com vista largas, para o Marão e o Douro, o nosso camarada produz cerca de 11250 litros de vinho / 15 mil garrafas.  Principais castas do "Pedro Milanos": Touriga Nacional,  Touriga Franca,  Tinta Roriz,  Tinta Barroca, Malvasia Fina, Códego e Rabigato.  

Aqui fica o contacto da Quinta Senhora da Graça: telef 254 811 609 | telem 91665 1639 ou 91 335 1640.  No dia 10 de junho va receber um grupo de 17 (, camaradas nossos e acompanhantes). Há página no Facebook.

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14694: Os nossos seres, saberes e lazeres (97): Tomar à la minuta (2) (Mário Beja Santos)


segunda-feira, 11 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14598: A bianda nossa de cada dia (5): Se a vida era boa em Lisboa, em Bissau nem tudo era mau... Do arroz de todas cores ao vinho verde alvarinho "Palácio da Brejoeira"... (Hélder Sousa)



Guiné > Bissau > c. 1970/72 > O Hélder de Sousa, na avenida marginal, junto ao cais.

Foto do álbum de Hélder de Sousa, ex-fur mil de trms TSF (Piche e Bissau, 1970/72), ribatejano, engenheiro técnico, residente em Setúbal, membro da Tabanca Grande desde abril de 2007 e nosso colaborador permanente.

Foto: © Hélder de Sousa (2007). Todos os direitos reservados




Guiné > Zona leste >  Piche  > março de  1971 >>  Da esquerda para a direita, Centeno, Hélder e Herlander

Foto: © Hélder de Sousa (2012). Todos os direitos reservados

1. Texto de Hélder Sousa, recuoerado a partir de comentários ao poste P14574 (*)

Caros camaradas

Isto das comidas e bebidas tem que se lhe diga!

No que diz respeito à bebida e relativamente ao vinho, tenho pouca recordação. Lembro-me que durante o CSM [, Curso de Sargentos Milicianos,] em Santarém o que se bebia era pouco menos que intragável, eu que até sou de uma região, Cartaxo, onde o vinho sabia a vinho, pelo menos o que chegava à mesa de casa e aquando dos petiscos com os amigos.

Não sei se era por saber mesmo ou por sugestão do que se dizia, lá no Destacamento da EPC {[, Escola Prática de Cavalaria,] aquela zurrapa sabia a cânfora...

Na Guiné, devo dividir a 'coisa' em três partes: (i) nas refeições na Messe de Sargentos do QG [, Quartel General,]; (ii) durante a permanência em Piche;  e (iii) em Bissau, nos estabelecimentos civis.
Da primeira parte não guardo memória.
Ródulo do Alvarimho Palácio
da Brejoeira. Cortesia do sítio
Garrafeira Nacional
De Piche, em termos de Messe também não me lembro como era. Sei que cá fora, no Tufico, bebia cerveja. Mas no Quartel lembro-me bem de "estrear" Alvarinho "Palácio da Brejoeira". Nunca tinha bebido (para mim 'vinho verde' era Casal Garcia e similares) e isso foi possível porque um dos Capitães era uma pessoa de gostos refinados (até mandou vir, a suas custas, um aparelho de ar condicionado que mandou montar no quarto) fez com que fossem fornecidas algumas caixas e como uma delas de "partiu" lá tivemos a sorte (eu, o vaguemestre cúmplice e mais uns dois ou três esforçados companheiros) de experimentar esse vinho. E gostei!

Já nos diversos estabelecimentos civis, para além da cerveja, em termos de vinho a diversificação foi a característica principal: no "Solar do 10", quando jantava do lado mais requintado e maioritariamente ocupado pelos senhores Oficiais da Marinha, para acompanhar o "steak" à inglesa ia uma garrafa de "FR" velho, se a refeição era do lado da esplanada interior, a acompanhar a "Açorda à Santa Teresinha" ia um "Dão" (não dava nada, tinha que pagar!).

No restaurante do Pelicano optava mais geralmente por "Grão Vasco".

Quando ficava pelo "Oásis" e me deliciava com umas excelentes alheiras, 'bati' todas as 'monocastas' brancas que por lá havia até as esgotar: "Fernão Pires", "Tália", "Boal", "Trincadeira", etc... 

Portanto, em termos de bebida, melhor dizendo, em termos de vinho.... não me queixei!

O Hélder Sousa em Piche...
Quanto à comida.....

Em termos de Guiné, também divido isso em partes: (i) a comida na Messe de Sargentos do QG; (ii) os tempos de Piche; e (iii) as refeições nos espaços civis, podendo-se acrescentar as 'petiscadas'.

Da Messe confesso que algumas vezes não me pareceu mal de todo mas o que mais 'retive para memória' foi os diferentes tipos de arroz: o "vermelho" quando pretendia ser de tomate, o "verde" quando misturado com verduras, o "alaranjado" quando de cenoura, o "amarelo", quando de açafrão ou caril e ainda havia o "branco". O que o acompanhava era irrelevante.

Em Piche, fazia-se o que se podia, em função dos fornecimentos. Não posso dizer que desgostei. Comi razoavelmente bem, tendo em conta as circunstâncias.

E ainda houve tempo para se experimentar pratos novos, como por exemplo as "almôndegas de mancarra ao suor", as quais eram uma espécie de carne picada mas que não sendo muita era enrolada e recheada com pedaços de mancarra e que antes de irem para a confecção eram passados pelo suor do corpo do cozinheiro negro. Muito bom!

Petiscos eram bastantes e em função do que os fornecimentos proporcionavam. Comi um leitão (já um bocadinho crescido...) com arroz no bucho, em casa do Chefe de Posto e arranjado pelo homem da Casa Gouveia que "soube pela vida". Coisas proporcionadas pelo meu amigo vaguemestre Herlander, que tinha estado comigo em Santarém.

Na 'vida civil' de Bissau e arredores, enquanto havia 'patacão', não falando em ostras e camarões ou iscas às tirinhas no Zé D'Amura, fui variando e experimentando diversos locais e pratos, lembrando-me agora assim de repente, para além dos já citados "Solar do 10", "Pelicano" e "Oásis", também a "Meta", o "Sporting de Bissau", umas duas vezes o "Grande Hotel", etc.

Em resumo, dum modo geral, tendo em atenção o tipo de funções e ocupações funcionais que me tocaram, não tenho grandes razões de queixa quanto à alimentação, pois sempre que não era boa foi-se arranjando alternativas.

Hélder S.
_______________

Notas do editor:

Vd. postes da série:

11 de maio de  2015 > Guiné 63/74 - P14595: A bianda nossa de cada dia (4): Os nossos "chefs gourmet", lá no mato.. A fome aguçava o engenho... (Jorge Rosales / Manuel Serôdio / Vasco Pires)

9 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14589: A bianda nossa de cada dia (3): o melhor casqueiro da zona leste, amassado e cozido em forno a lenha pelo Jacinto Cristina e pelo Manuel Sobral, no destacamento da ponte Caium... Mas nem só de pão viviam os homens do 3º Gr Comb, os "fantasmas do leste", da CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74)

7 de maio de 2015 >  Guiné 63/74 - P14584: A bianda nossa de cada dia (2): homenagem ao nosso cozinheiro Manuel, hoje empresário de restauração (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)

5 de maio de 2015 Guiné 63/74 - P14574: A bianda nossa de cada dia (1): histórias do pão e do vinho... precisam-se!

terça-feira, 5 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14574: A bianda nossa de cada dia (1): histórias do pão e do vinho... precisam-se!



Guiné > Região de Quínara > Gampará > CCAÇ 4142 (1972/74) > O sold cozinheiro Soviano Teixeira, com mais dois camaradas (ajudantes), à volta do tacho...

Foto: © Joviano Teixeira (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1. Camaradas:

Acaba de entrar para a Tabanca Grande um camarada cozinheiro... Não é um acontecimento vulgar...Por isso o Joviano Teixeirra merece as nossas palmas. E para mais é o primeiro representante da CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74).

Recorde-se que na tropa (e na guerra) também havia o "front office" e o "back office", como se diz hoje nas empresas (banca, seguros, saúde...). Havia os operacionais e os serviços de apoio... Temos falado pouco dos que trabalhavam para alimentar o "ventre da guerra" (intendência, reabastecimentos, vaguemestria, cozinha...). Temos falado pouco dos nossos cozinheiros que trabalhavam em duras condições físicas, em cozinhas (?) improvisadas ou atamancadas, e a quem era pedido que fizessem milagres todos os dias... Em suma, temos falado pouco da "bianda nossa de cada dia"...

Dar de comer, no TO da Guiné, todos os dias, a 150/200 homens, numa unidade de quadrícula, isolada no mato, com problemas sérios de reabastecimento... era obra! Em geral, havia dois cozinheiros (um 1º cabo e um soldado) e dois auxiliares de cozinheiro (soldados).

Temos falado aqui dos nossos crónicos problemas de alimentação mas não tanto dos nossos camaradas que trabalhavam nas cozinhas... Ora, eles bem merecem uma palavra de apreço!... Eles também eram filhos de Deus, de Alá e dos bons irãs!

Fotos e histórias à volta da nossa bianda de cada dia, precisam-se!... E quanto ao Joviano, já lhe dei as boas vindas. Um alfabarvo para todos/as...


2. Por outro lado, o nosso camarada António José Pereira da Costa também nos acaba de contar hoje uma história que eu achei deliciosa, à volta do vinho que bebíamos e que dá pano para mangas (**)... Estou interessado em desenvolver este outro tema no nosso blogue... De resto, relacionado com a bianda... O casqueiro e o tintol, a par do correio, eram elementos importantes para manter o moral da tropa...

A questão que se pode pôr é a seguinte: Afinal, o vinho que nos chegava à mesa, no mato, era ou não uma variante do "vinho pró preto" ?...

O mercado ultramarino teve um papel importante no escoamento da nossa produção vinícola... Recorde-se que havia, ao tempo da guerra colonial, um problema de excesso de produção e falta de qualidade...

Dizia-se que Salazar dizia que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses... O que em parte era verdade: antes do êxodo rural nos anos 60, a vitivinicultura dava trabalho a um exército de mão de obra barata nas aldeias...  Em 1940, a vinha ocupava mais de 320 mil hectares e havia cerca de 337 mil produtores!... (Em termos de exportação de produtos agrícolas, só a cortiça ultrapava o vinho).

De facto, o trabalho na vinha ocupava muitos trabalhadores ao longo do ano... Recordo-me quando era puto, em meados dos anos 50,  de assistir à vinda de enormes ranchos de trabalhadores sazonais, homens e mulheres, para a minha zona (Lourinhã, Estremadura), na altura das vindimas... Eram os "ratinhos", vinham da Beira!... Tempos de miséria!...

Em resumo, seria interessante saber mais sobre o vinho que a metrópole (Lisboa() nos mandava dava... A tropa era um segmento de mercado precioso... O que é que a malta  sabe mais sobre isto ?

Em boa verdade,  a generalidade dos nossos camaradas, no TO da Guiné, não se podia dar ao luxo de dizer o provérbio popular: "pão que sobre, carne que baste e vinho que farte"... Muitas vezes, faltava o pão, a carne e o vinho... Em quantidade e qualidade... Mas também se diz que "a fome é a melhor cozinheira"...

PS - Que fique claro: não estão aqui em causa os nossos camaradas da Intendência que deram o seu melhor (e alguns morreram) no cumprimento da missão que lhes cabia no TO da Guiné...

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14568: Tabanca Grande (463): Joviano Teixeira, grã-tabanqueiro nº 687... É natural de Tavira, e pertenceu à CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)

(**) Vd. poste de 5 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14572: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (13): Uma da nossa Intendência

Guiné 63/74 - P14572: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (13): Uma da nossa Intendência

 1. Em mensagem do dia 28 de Abril de 2015, o nosso camarada António José Pereira da Costa (Coronel de Art.ª Ref, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), enviou-nos mais um texto para publicarmos na sua série "A minha guerra a petróleo:



A MINHA GUERRA A PETRÓLEO

13 - Uma da Nossa Intendência

Vou contar esta história tal como me foi contada no longínquo ano de 1968. Não tive possibilidade de verificar se foi assim que tudo se passou, embora tivesse sido contemporâneo, em Cacine, da CART 1659. Por isso corro o risco de exagerar um ou outro pormenor ou, talvez pelo contrário, de deixar para trás algo que foi importante.

A CArt ocupava Gadamael e era comandada pelo Cap. Mil.º Art.ª Mansilha, advogado de profissão, mas que, pelas vicissitudes a tantos outros sucedidas, ali fora parar. Nesse tempo a Intendência fornecia vinho às unidades em dois tipos de embalagens: barris de 50 litros ou garrafões de vidro – transparentes, para o branco, e verdes-escuros, para o tinto – com 10 litros de capacidade, rolhados com uma tampa de plástico, e protegidos por uma espécie de grandes aparas de madeira muito fina e ligadas por arames. Depois de vazios, estes invólucros não eram devolvidos e, por isso, eram frequentemente usados em funções decorativas. Os barris, desmontados e devidamente serradas as suas aduelas, serviam para a construção de pequenas mesas, cadeiras (por vezes de braços), bancos e outros “móveis” que embelezavam e tornavam mais cómodas as “salas de convívio”, “quartos”, “refeitórios”, etc.. Aos garrafões estava consignado um papel mais decorativo, especialmente aos transparentes que, depois de pintados por dentro, serviam de jarrões com pinturas “modernistas”. Quer uns, quer outros, podiam depois receber na estreita boca, folhas de palmeira ou outros arranjos de flores secas e constituir motivos de decoração. A técnica de pintura era, como é de calcular improvisadamente engenhosa. As tintas eram cuidadosamente introduzidas na boca do garrafão e ficavam a escorrer lentamente na parede interior deste e, consoante a posição em que o garrafão fosse posto, surgia uma decoração a várias cores e com formatos que o “pintor” não controlava, mas que lhe permitia obter um efeito muito original.

Ao que parece o vinho de garrafão era debitado a um preço mais elevado que o do barril, mas tenho para mim que a qualidade de ambos os produtos se equivalia e não era possível detectar pelo paladar a embalagem de origem do néctar em apreço.
Por razões que não consegui determinar a CArt 1659 não consumia vinho de barril.

Era frequente surgirem pequenas falcatruas com o vinho durante o transporte, muitas vezes só detectáveis já no momento da distribuição. Quem observasse o interior de um pipo podia, às vezes encontrar pequenos pauzitos, espécie de palitos, cravados em locais “estratégicos” entre as aduelas dos barris que tinham permitido a saída de algum líquido para uma ou outra garganta mais sequiosa.

A violação dos garrafões era mais difícil. Só pela cápsula de plástico que cobria a rolha e uma boa parte do gargalo. Era, porém possível abri-lo, consumi-lo na totalidade e voltar a rolhá-lo com engenho e entregá-lo como genuíno chá de parreira. Era uma técnica mais difícil de aplicar e daí talvez a opção de fornecimento da unidade de Gadamael/Ganturé.

Porém, um dia aconteceu o impensável. Alguns garrafões apareceram rigorosamente atestados… de água. Que fazer neste caso? Havia a possibilidade de se realizar um auto que já não seria de recepção e que, portanto, a Intendência dificilmente aprovaria. No fundo, era a palavra da Unidade contra a do Órgão Logístico distribuidor, cuja palavra, à partida, faria fé.

Mas a CArt não terá seguido apenas esse caminho.
O capitão Mansilha ordenou o envio dos garrafões com a água para a delegação do Laboratório Militar, em Bissau, pedindo uma análise ao respectivo conteúdo. O laboratório, não sabendo a origem do produto remetido, deverá ter pensado que se tratava de água proveniente de alguma fonte ou poço situado na zona de acção da companhia e, pouco tempo depois, respondeu que se tratava de água imprópria para consumo e com matérias orgânicas pútridas em suspensão.

O capitão Mansilha escrevia bem, ou não fosse advogado, e redigiu uma nota a reclamar junto da Intendência contra o fornecimento que esta fizera, nomeadamente informando que o estômago do seu pessoal não era propriamente um tubo de ensaio.
Claro que a “insolência” teve resposta através da ameaça de que, se se voltasse a repetir uma situação idêntica, seria dado conhecimento superior, para o correspondente procedimento disciplinar.

De novo a clarividência e a argúcia do advogado brilhou com uma resposta que, em linhas gerais, podemos sintetizar assim:
- Não há necessidade de incómodo para apresentação do assunto a instâncias superiores pois, da próxima vez – se tal se verificar – será a própria companhia que o fará.

Volto a dizer que não tenho qualquer elemento que me prove que as coisas se passaram exactamente assim. Todavia, algo de parecido terá sucedido, uma vez que o “Jornal da Caserna” publicação satírica que se publica em todas as guerras e mais ainda nas “guerras a petróleo”, registou o evento, o que dá um certo fundamento à notícia que nunca terá chegado a ser uma informação de boa classificação.

Mem-Martins 28 de Abril de 2015
JAPC
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13493: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (12): Como vejo o 10 de Agosto de 1972

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7489: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (12): O vinho e a poesia da Quinta de Senhora da Graça à nossa mesa










O José Manuel Lopes e a Maria Luisa Valente,  promovendo os seus vinhos na Porto & Douro Winhe Show 2010, que decorreu no Convento do Beato, em Lisboa, de 27 a 28 de Novembro de 2010. 


No Wine Master Challenge 2009 / XI Word Wine Contest, que decorreu de 26 a 29 de Março de 2010, os seus dois grandes vinhos tintos, criação do enólogo Vasco Lopes, filho de ambos, o Penedo do Barco 2005 e o Pedro Mil Anos 2006 ganharam a medalha de prata e de bronze, respectivamente....Não é a primeira vez, nem será a última, que têm uma distinção que é motivo de orgulho para qualquer vitinicultor, e para mais pequeno,  de 3 hectares... Eles (falamos de um equipa!), pelo seu trabalho, dedicação, competência,  paixão e amor ao seu Douro, Património Mundial da Humanidade, bem merecem esta distinção (e esta humildade nota no nosso blogue, mesmo correndo o risco de o editor ser mal interpretado).


Parabéns, Zé Manel, Luísa, Vasco!  A nossa Tabanca Grande fica orgulhosa de vocês. O meu jantar de Natal, na Madalena, Vila Nova de Gaia (se a crise da ciática me deixar fazer a viagem de Lisboa até lá...) vai ser regada com os vossos néctares mas, para que ninguém pense que o editor do blogue anda a fazer publicidade descarada ou encapotada a um produto comercial camarigo, ele faz questão de aqui dizer, alto e bom som, que os vinhinhos da Quinta da Sra da Graça (*)  foram, são e serão sempre pagos com o seu (dele) patacão !... (Além disso, não estão no mercado, só podendo ser adquiridos em venda directa, o que faz este poste com seja mais confortável, para mim, podendo fazer deles sem quebrar as nossas regras de ética!).


Porque o vinho é cultura (e dupla!!!), e já que estamos na quadra natalícia eu fui repescar ao poemário do nosso José Manuel, o nosso Josema,  dois ou três poemas já publicados em tempos no blogue (lembram-se ? daqueles que foram salvos da fúria autodestruidora do poeta...) mas para se (re)ler agora, OBRIGATORIAMENTE, EM VOZ ALTA (!),  nesta noite de consoada.... COM EMOÇÃO, COM ENTOAÇÃO, para os netos, os filhos, os amigos (**):


(i)  Enviado em 8 de Março de 2008:

O calor húmido nos envolve,
abraça-nos a escuridão
e a noite se faz dia,
c'o  ribombar do trovão
cai a água em catadupa,
numa suave carícia
fecho os olhos,
que delícia,
até sinto um arrepio,
sinto-me bem afinal,
até chego a sentir frio
e penso que é Natal...

Guiné 1972
josema
(ii) Enviado em 8 de Abril de 2008

Até ao nosso regresso...

Porque choram as mães,
mártires,  de coração partido,
desta guerra sem sentido,
porque choram elas?

heroínas anónimas,
sem louvores
nem medalhas,
eternamente esquecidas,
choram porque sofrem,
choram porque temem
as notícias do correio de amanhã,
choram enquanto aguardam
o regresso desejado.

Mampatá
Natal de 1972

josema



(iii)  enviado a 22 de Março de 2008

Calor, cansaço, suor,
saudades de tudo
e de um rio...
mas podia ser pior
pois há ali o Corubal
com sombras e água boa;
nem tudo é mau afinal,
não é o Douro, eu sei,
nem o Tejo de Lisboa,
são outros os horizontes,
falta o xisto e o granito,
as encostas e os montes,
mas diga-se na verdade
há o Carvalho, há o Rosa,
há um hino à amizade,
há o Gomes e o Vieira
a sonhar com a Madeira,
há o Farinha e o Polónia,
gestos e solidariedade,
há o Esteves e o Pinheiro,
amigos e sinceridade,
há o Nina e até amor,
também sofrimento e dor,
há o desejo de voltar
e um apelo à liberdade.

Josema
Mampatá 1974



[ Revisão / fixação de texto / pontuação: L.G.]

Poemas e fotos:  © José Manuel Lopes (2008). / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados 

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3468: Poemário do José Manuel (24): Sabes o que é morrer... ?


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Material de guerra capturado ao IN: uma mina anti carro e uma antipessoal ainda por armar, um morteiro com prato e as respectivas granadas, e duas armas ligeiras nas mãos do Pinheiro"... De óculos escuros, o Fur Mil José Manuel Lopes.

O Pinheiro era 1º cabo de transmissões, um homem por quem o José Manuel nutria muito respeito e admiração pela sua coragem física. Este material foi apanhado ao PAIGC quando um grupo tentava pôr minas na estrada em construção, já para lá de Nhacobá... "Nessa altura já tínhamos um destacamento em Nhacobá"... As minas nem sequer chegaram a ser enterradas. Mas o pessoal de minas e armadilhas contou outra história, a do bandido, no relatório enviado ao comando, já que mina anticarro levantada pelas NT valia mil pesos (uma antipessoal, 500$00)... Nesta estrada em construção (Mampatá, Cumbijã, Nhacobá, Salancaur...) ou nas suas imediações foram montadas centenas de minas, de parte a parte... O pessoal de minas e armadilhas da CART 6250 ganhou rios de dinheiro com minas levantadas... que depois era esbanjado em Bissau, no Pilão... (Inconfidèncias de um "unido de Mampatá").

Fotos, legendas e poema © José Manuel (2008). Direitos reservados.

1. Mais um dos poemas (sobreviventes...) do poemário do josema (*)


Sabes o que é morrer
com a vida por viver?
sabes o que é sentir
toda uma vida a fugir?
ter de cerrar os olhos
para voltar a sorrir?
eu fecho-os
para ver as vinhas e os montes
eu fecho-os
para ver o Douro correr
eu fecho-os
para ver uma mulher
eu fecho-os
para não pensar
nem me lembrar
que também posso morrer.

Mampatá 1973
josema
___________

Notas de L.G.:

(*) Sobre o Poemário do José Manuel, vd. os postes já publicados:

9 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3289: Poemário do José Manuel (23): Naquela mata o silêncio magoa...

23 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3145: Poemário do José Manuel (22): (...) Como os dias passam devagar / Contados a riscar um calendário...

22 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3084: Poemário do José Manuel (21): O recordar dos sentidos: como é bom ver, sentir, ouvir, cheirar, saborear, falar...

9 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3039: Poemário do José Manuel (20): Mãe, se eu não regressar, lembra-te do meu sorriso...

1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3010: Poemário do José Manuel (19): Aqueles assobios por cima das nossas cabeças...

22 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2973: Poemário do José Manuel (18): Não se morre só uma vez...

15 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2946: Poemário do José Manuel (17): A Companhia dos Unidos

2 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2911: Poemário do José Manuel (16): Saudades do Douro e do Marão...

25 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2884: Poemário do José Manuel (15): Dois anos e alguns meses

17 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...

9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...

2 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata

24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973

19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2757: Poemário do José Manuel (8): Nhacobá, 1973: Naquela picada havia a morte

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...

5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...(...)

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...


Sobre o nosso camarada José Manuel Lopes, vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

O José Manuel Lopes foi Fur Mil Inf Armas Pesadas, na CART 6250 (Mampatá, 1972/74). Natural da Régua, é um conceituado vitivinicultor, explorando a Quinta da Senhora da Graça, com sede em Senhora da Graça, 5030-429 S. João de Lobrigos, concelho de Santa Marta de Penaguião, distrito de Vila Real, Telef. 254 811 609 (Email: quinta.graca@mail.pt ).

Tem vinhos premiados e partilha os seus néctares com os amigos e os clientes. Destaque para dois vinhos de classe, que orgulham a produção nacional:

(i) Pedro Milanos 2005, Douro DOC: Tinto, 13,7º: Castas: Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca: medalha de prata no Wine Masters Challenge 2008; seleccionado em 2006 e 2007 pela Néctar entre os melhores vinhos do ano; está no Top 100 da Blue Wine, em 2008; (preço por garrafa: 6 pesos...). Enólogo: Vasco Valente Lopes.

(ii) Penedo do Barco 2005, Douro Doc: Tinto, 14,2º; castas: Touriga Nacional (40%), Touriga Franca (20%), Tinta Roriz (20%), Tinta Barroca (0%) e Tinta Amarela (10%). (preço por garrafa: 10 pesos...). Enólogo: Vasco Valente Lopes.

O nosso camarada tem uma equipa de cinco estrelas: a esposa, Maria Luísa Valente Lopes, e uma filha, ainda estudante, e um filho, o Vasco Valente Lopes, promissor énologo, com prémios já ganhos e estágio na Austrália. O nosso camarada faz também turismo rural. É membro da nossa Tabanca Grande desde finais de Fevereiro de 2008 e frequenta, religiosamente, às 4ªs feiras, a Tabanca de Matosinhos.

Vai estar este fim de semana em Lisboa, na 3ª edição do Porto e Douro Wineshow, num ambiente místico e sofisticado, o Convento do Beato, em 22 e 23 de Novembro de 2008, das 15h às 22h.

Recebi hoje, pelo correio, seis convites, cada um válido para duas pessoas... Já fiz contactos com a malta da Tabanca Grande. Ainda tenho dois convites disponíveis (4 pessoas) para quem me telefonar (21 471 0736 / 931 415 277).

Neste próximo fim de semana, mais exactamente, no domingo à tarde, espero poder encontrá-lo, dar dois dedos de conversa, partilhar com ele a sua paixão pelo Douro, e provar os seus vinhos... Se aparecer mais alguém da Tabanca Grande (Virgínio Briote, Humberto Reis, e outros), muito melhor.


Vd. ainda o poste de 3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3165: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (6): Com o José Manuel, in su situ, um pé no Douro e uma mão no Marão (Luís Graça)