sábado, 14 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5267: História de vida (25): Um homem no Cachil, Ilha do Como, CCAÇ 557, 1964 (José Augusto Rocha)







Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > 1964 > CCAÇ 557 (1963/65) > Construção, em 1964, do aquartelamento de Cachil. Fotocópias de fototografias do Dr. Rogério da Silva Leitão (*). Ficamos na expectativa de, em breve, as poder substituir por cópias dos originais.

1. Meu caro camarada e Dr. Rocha:

Foi um feliz acaso termo-nos encontrado na exibição do último filme da Diana[, no DocLisboa 2009]… Tomei boa nota dos dados que me deu a seu respeito, e nomeadamente no que concerne à experiência da guerra colonial da Guiné… A Diana teve a gentileza de me facultar o seu mail que só vou usar para este efeito. Tomei a liberdade de dar conhecimento da sua existência às pessoas que fazem e lêem o blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné (**)…

Temos, entre os membros da nossa tertúlia (ou Tabanca Grande), que já vão em cerca de 4 centenas, pelo menos dois homens da sua CCAÇ 557: José Colaço e o Francisco Santos. Por sua vez, o Jorge Cabral, que foi comandante do Pel Caç Nat 63 (Fá e Missirá, 1969/71) conhece-o de outras andanças, a advocacia (disse-me que partilharam um escritório, em 1974). Temos, de resto, mais advogados e outros juristas, no nosso blogue…

O José Colaço, que era soldado de transmissões, escreveu a seu respeito um pequeno texto de que lhe dou conhecimento, em anexo.

Acabo de ler o seu interessante depoimento, sobre os tempos difíceis, de brasa, que foram aqueles em que, expulso de Coimbra em 1962, fez a tropa e foi mobilizado, em 1963, para a Guiné (e logo para o Como)…

O público-alvo do blogue Caminhos da Memória não é exactamente o mesmo do meu/nosso blogue, mas gostaria de o ver também publicado no nosso espaço… Possivelmente vou que ter a dupla autorização do autor e dos editores (na redacção há dois membros do nosso blogue, o João Tunes e a Diana Andringa)...

Desde há cerca de 5 anos e meio que tenho tentado criar um espaço de partilha de memórias entre todos os antigos combatentes da guerra colonial na Guiné (1963/74), incluindo os antigos guerrilheiros do PAIGC (cuja esperança de vida é mais baixa do que a nossa, e cuja cultura é ainda largamente oral)... Temos uma média de 1500 páginas visitadas, mais de 5100 postes publicados, e 1,3 milhões de páginas visitadas... Na nossa Tabanca Grande há também um lugar para si (sei que não é fã destas lides bloguísticas, mas também, em relação à guerra colonial, temos todos um dever de memória…).

Um Alfa Bravo (abraço) para si. Luís Graça

2. Mensagem, de 22/10/2009, enviada por José Augusto Rocha, advogado, ex-Alf Mil, CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) (**)


Estimado Luís Graça,

Às vezes as coisas acontecem bem, e o acaso de o ter conhecido na exibição do Dundo, pela mão da Diana, foi mesmo um feliz acaso!... Neste declinar da longa estrada da vida, já não espero muito coisas boas, mas reivindico que a sorte da vida também não me traga as más… Por isso, quando as boas surgem, é sempre como se fosse uma chuva úbere que amacia a sede lancinante da terra ressequida…

Sensibiliza-me o que diz sobre o depoimento que fiz para os Caminhos da Memória, mas permita-me que lhe diga que e o seu depoimento sobre a guerra colonial é uma reflexão corajosa e muito lúcida. Se o termo não fosse controverso, acrescentaria: bela!

Bem, agora sim, estive a ler tudo o que consta do seu blogue, que se reveste de importância decisiva para a história da guerra colonial... ainda por fazer, ou não totalmente feita.


E a leitura que fiz, deu-me conhecimento de que, afinal, havia mesmo já alguém (o José Colaço)(***) que tinha escrito sobre o Como e CCaç 557, ao invés do que digo no meu depoimento… Só me admiro que ele [não] fale do engano da aviação, até porque penso que foi ele que enviou o meu pedido de socorro para o Comando de Catió!!!,

Envio-lhe a digitalização das fotografias, que são mera fotocópia do original em posse do médico da 557, Rogério Leitão, médico cardiologista em Aveiro (*) e que era um dos raros, embora moderado, apoiantes da guerra, em toda a Companhia 557. Ele tem uma boas fotografias da guerra e do Como, inclusive do engano do bombardeamento da aviação. Não sei se ainda é vivo, mas se conseguisse que lhe desse uma cópia, seria ouro sobre azul…

Segue um abraço(Alfa?)

José Augusto Rocha


Três dias antes, a 19, tinnha-me mandado o seguinte mail, de que reproduzo alguns excertos:

Estimado Luís Graça,

Obrigado pela sua mensagem e desde já refiro que tenho muito gosto em que fique com o meu mail, para eventuais outros contactos.

Sim, lembro-me bem do Jorge Cabral e do José Colaço. O Colaço é um bom amigo, talvez o companheiro de armas que mais me marcou na CÇAÇ 557. Se todos fossem como ele, não havia guerras ao cima da terra! Gostaria de ter o mail dele para o contactar. O que ele conta sobre a PIDE, é verdade, mas mais houve… e contei sempre com a solidariedade do magnífico companheiro que foi o hoje coronel, João Luis Ares.

Por mim, desde já pode dispor do meu singelo depoimento, se achar que reveste algum interesse para o seu blog.

Quanto ao seu blog, tenho as maiores dificuldades em nele colaborar. Tenho alguma radicalidade quanto a estas coisas da guerra colonial e sempre entendi que os encontros e confraternizações, a propósito dela, tendem a contar só meia memória, a memória boa, vista do lado de cá… Embora não pretenda julgar quem quer que seja, penso que compreender o passado implica um juízo de valor sobre o certo e o errado e muitas vezes nessas manifestações de convívio, não é possível esconder a nossa discordância em relação ao que se ouve e isso cria um ambiente pouco propício ao encontro. Fui duas vezes a coisas dessas e jurei não mais ir!

(...) Por estas e por outras, quanto à guerra colonial, vou ficar-me pela “curta memória da guerra colonial das Guiné”, a publicar nos Caminhos da Memória, dando, quanto a este capítulo, por encerrado o meu dever de memória…

Desejo-lhe as melhores felicidades para o seu blog.

Um abraço,

José Augusto Rocha



3. Um texto de José Augusto Rocha, devidamente autorizado autor,
originalmente publicado em
Caminhos da Memória > 19.Out.209 > Memória breve da Guerra Colonial

A 25 de Novembro de 1963, embarquei no cargueiro Ana Mafalda(1, adaptado à pressa para transportar outra e nova carga – homens soldados – rumo à guerra colonial da Guiné. A partir desta data, como que começou outro tempo na minha vida e, tantos anos passados, vem dar testemunho breve da memória daquela guerra o ex-tenente miliciano, José Augusto Rocha.

Fá-lo em condições privilegiadas de um amadurecimento de tempo passado, ou seja, potenciado por aquilo que um dia tão bem recordou Eduardo Lourenço, citando Teixeira de Pascoais: «o futuro é a aurora do passado». Na verdade, desde aquela longínqua data de 1963 até aos dias de hoje, já lá vai muito futuro, o suficiente para re-iluminar uma vivência pessoal que agora transmito pela primeira vez e que sei comporta elementos desconhecidos daquela guerra.

Nos anos sessenta, a ordem de incorporação e a ida para a guerra colonial estava indisfarçavelmente ligada à repressão política e à PIDE. Esta articulação era particularmente visível em relação ao movimento estudantil e em especial aos seus dirigentes. As medidas de repressão do aparelho do Estado, ao nível das forças armadas, eram várias e diversificadas e iam desde a incorporação em estabelecimentos militares disciplinares de correcção, como o de Penamacor, onde foi internado, por exemplo, o Hélder Costa e o João Morais, até incorporações antecipadas e transferências arbitrárias de quartéis, de acordo com estritas ordens da polícia política (PIDE).

No meu caso, libertado do Forte de Caxias, em Julho de 1963, fui incorporado logo em Setembro, para minha total surpresa, no Regimento de Lanceiros 2, conhecido como o quartel da polícia militar, unidade de confiança do regime político do Estado Novo. Vim a encontrar aí outro dirigente associativo, da Associação dos Estudantes da Faculdade de Letras, o João Paulo Monteiro, filho do exilado político
Adolfo Casais Monteiro. A surpresa de imediato foi esclarecida. O treino militar do 1º ciclo, naquele Regimento, era muito duro e de verdadeiro castigo e, logo que terminou, ambos fomos transferidos para a Escola Prática de Infantaria de Mafra, por despacho do então Ministro da Defesa Nacional, General Mário Silva.

Cumpre assinalar que ambos gozávamos de forte simpatia entre os cadetes instruendos e mesmo dos Alferes instrutores do Quadro. Fui chamado ao Comando e aí o Capitão Semedo (irmão do actor de teatro,
Artur Semedo) fez questão em dizer que a convocatória queria expressar o seu profundo desacordo pela transferência, mas que ela era exterior ao Regimento e provinda de ordens do poder político.

Terminada a instrução em Mafra, fui colocado, como Alferes Miliciano, no Quartel de Caçadores 5, em Lisboa. Esta unidade militar era a unidade da confiança política do governo e comandada pelo Major Portugal, conhecido elemento da
Legião Portuguesa. Tal como tinha acontecido no Regimento de Lanceiros 2, cedo gozei de grande simpatia junto dos Alferes Milicianos e do próprio Capitão da Companhia, Capitão Vieitas. Por força disso, fui escolhido pelos oficiais milicianos para integrar a mesa do Comando no dia oficial da Unidade e para em nome deles fazer o discurso oficial.

Não tardou que novo despacho do mesmo General Mário Silva ordenasse a minha transferência para Évora, para a Companhia de Caçadores de Infantaria 557 [ CCAÇ 557,], rumo à Guiné, sendo que a Companhia donde fui transferido embarcou para um lugar relativamente calmo, a cidade da Beira, em Moçambique.

Esta transferência foi muito controversa, com oposição, por escrito, do próprio Comandante da Companhia. Sincero ou não, por sua vez, o Major Portugal chamou-me ao Comando onde manifestou o apreço que os oficiais tinham por mim e sugeriu que apresentasse uma exposição escrita, que ele a remeteria às autoridades superiores. Recusei e lá fui para a Guiné, no Ana Mafalda.

Cheguei à Guiné em 3/12/63 e, logo em 14 de Janeiro de 64, a Companhia 557, comandada pelo Capitão João Luis Ares e de que eu era o segundo comandante, por ser o Alferes Miliciano mais classificado, foi integrada na maior operação de toda a guerra colonial, a Operação Tridente, destinada a libertar a Ilha do Como, onde o PAIGC tinha a sua bandeira hasteada, simbolizando a primeira região libertada da Guiné Bissau.

Fui, então, transitoriamente retirado da Companhia e fiquei em Bissau como elo de ligação, para o envio de alimentos e o mais necessário à sua sobrevivência.

Guiné > Bissau > O Café Bento > Maio de 1965 > O nosso editor Virgínio Briote na esplanada do Bento> Quem não conheceu a 5ª Rep ? Em Bissau todos os caminhos iam lá ter, aos mentideros da guerra... Mas também era um lugar de tertúlias...

Foto: Cortesia de Virgínio Briote > Blogue
Guiné Ir e Voltar, Tantas Vidas

Em Bissau, acabei por formar uma espécie de tertúlia no Café Bento – à data, frequentado também pelo hoje Major Tomé e pelo advogado Orlando Curto – com o cirurgião do Hospital Militar de Bissau, António Almeida Henriques, que conhecia de Viseu, donde ambos éramos naturais, e o reanimador daquela equipa cirúrgica, António Rosa Araújo, que mais tarde, muitos anos depois, viria a defender, como advogado, no conhecido processo judicial «caso dos hemofílicos», também conhecido por «processo do sangue contaminado» [, em 1995].

Estes dois oficiais médicos não escondiam a sua discordância com a guerra colonial e deles – e da guerra – vou contar duas significativas memórias, para, de seguida, passar à Operação Tridente.
Um dia, as tropas portuguesas, numa operação

não longe de Bissau, acabaram por capturar um dirigente da guerrilha que, gravemente ferido, acabou por dar entrada no hospital militar [, HM 241, foto à direita], onde foi operado pelo Almeida Henriques. A PIDE montou uma segurança especial no hospital e o Almeida Henriques e o Rosa Araújo tudo fizeram para retardar a alta do prisioneiro, que iria cair nas mãos da PIDE. Até que um dia foi marcada a sua saída para o dia seguinte. Quando na madrugada desse dia Almeida Henriques foi ver o prisioneiro, este estava cheio de sangue, com os intestinos todos fora da barriga, que ele tinha aberto com uma lâmina de barbear para, assim, evitar – o que conseguiu – os interrogatórios daquela polícia.

António Rosa Araújo – infelizmente já ceifado pela morte – era um cidadão exemplar, cheio de determinação e coragem, com quem vim a fazer uma das melhores amizades da minha vida.

O Movimento Nacional Feminino fazia umas incursões femininas à Guiné, para fazer a chamada acção psicossocial e retemperar as solidões de muitos elementos do exército… Um dia, coube a vez da própria presidente do movimento – Cecília Supico Pinto – ir a Bissau e visitar o Hospital, acompanhada pelo Comandante em Chefe, Brigadeiro Louro de Sousa. Logo que chegaram, este mandou chamar o oficial de dia, na circunstância o Rosa Araújo, que se recusou a comparecer, alegando afazeres médicos, tendo enviado, em substituição, o sargento de dia. Foi um evento considerado da maior gravidade – grande bronca! – e o Rosa Araújo foi de castigo para o mato, donde regressou passados alguns dias, por ser insubstituível no Hospital.

Um terceiro testemunho e este bem diferente, diz respeito aos primeiros sintomas de pública contestação da própria guerra. Um dia fui abordado no sentido de poder auxiliar um Capitão que se recusava a continuar a combater nas condições que existiam. Esse capitão era o Barão da Cunha, que contava com a solidariedade de um outro, o Capitão Cavaleiro. Com ele, dirigi-me ao Notário de Bissau e aí foi feita uma procuração em nome de Mário Soares e, penso, não tenho a certeza, que também de Salgado Zenha, para que o pudessem patrocinar, para a hipótese de vir a ser detido, o que logo aconteceu.

Este oficial veio preso para Lisboa e, ao que me informaram, encarcerado na Trafaria, mas nunca soube dos desenvolvimentos posteriores que este caso assumiu, mas que considero da maior importância, porque marca o início de uma contestação militar mais vasta e intensa que viria a acontecer.

Existe informação vária sobre as batalhas e forças militares que integraram a Operação Tridente, mas nenhuma sobre a CCAÇ 557, de que eu era, como referi, o segundo Comandante.

A Operação Tridente, assim chamada por integrar os três ramos das forças armadas portuguesas, implicou efectivos na ordem de 1200 homens, aviões, fragatas e lanchas de desembarque. Na rigorosa descrição feita pelo oficial do exército da república da Guiné Bissau, Queba Sambu, a ilha do Como tem uma superfície de 210 kms quadrados, 166 dos quais são lodo das marés, sendo constituída por um litoral de tarrafo, lamaçais que, na maré baixa chegam a atingir quatro kms entre a terra firme e os canais, de fluxo e refluxo marítimos. Seguindo-se ao tarrafo, estendem-se as bolanhas (arrozais) com alguns palmares, sendo o centro da ilha de matagal. Nas bolanhas, de largos canais de irrigação, o nevoeiro só permite uma visibilidade de três a cinco metros.

Foi nesta ilha que, no dia 14 de Janeiro de 1964, desembarcaram os 145 soldados e oficiais da CCAÇ 557, numa operação muito arriscada em que os soldados foram salvos de asfixia e atolamento completo no lodo, por cordas lançadas pelas lanchas de desembarque (****). O médico da Companhia, de nome Leitão – aliás um bom fotógrafo – tirou fotografias do acontecimento, mas o rolo acabaria por ser confiscado e perdeu-se esse testemunho documental.

A operação terminou de forma dramática para as populações da ilha, tendo sido destruídas e queimadas as tabancas (aldeias indígenas) aí existentes, e abatidas centena e meia de vacas e tudo o mais que constituía a forma de viver daquelas populações, como máquinas de costura, camas, roupas, etc…

As tropas regressaram a Bissau e foi deixada na mata do Cachil a CCAÇ 557, num aquartelamento feito à pressa com troncos de palmeiras na vertical e em tudo parecido a um aquartelamento índio. Sem água potável, sem alimentação e expostos à malária e a severas condições de carência e sofrimento, estes homens totalmente isolados e comendo meses a fio só rações, dependiam do mundo exterior de uma barcaça que, de vez em quando, ia ao centro de Comando situado na povoação de Catió.



Encurralados naquele curto espaço de mata, lamaçais e bolanhas, estes homens viveram uma verdadeira odisseia de isolamento e condições infra-humanas de sobrevivência, acossados por acções de ataques ao quartel e flagelações das forças do PAIGC, entretanto regressadas à Ilha, após a retirada das tropas da Operação Tridente para Bissau. [Foto à esquerda: Cachil> 1966> Interior do Aquartelamento
Foto: © Benito Neves (2008). Direitos reservados].

Embora oficialmente conste que a Operação Tridente (****) desalojou o inimigo da ilha do Como, a verdade é que a guerrilha a retomou e actuou nessa operação de acordo com a flexibilidade de ir e vir, evitando sempre o combate frontal e concretizando no terreno a subtil definição do guerrilheiro de Che Guevara, segundo a qual «o guerrilheiro é o jesuíta da guerra, quer isto dizer que os elementos essenciais da guerrilha são a surpresa, a perfídia e a acção nocturna.»(2).

Quando o capitão da Companhia foi de férias, vim de Bissau para o quartel de Cachil, para assumir as funções de comando, tomando contacto com homens destruídos psicológica e humanamente por condições tão duras de sobrevivência e onde situações de saúde física e mental se agravavam, dia a dia, à espera do dia redentor de uma substituição por outros efectivos.

Vivia-se este ambiente, quando um dia apareceram, lá no céu, dois aviões Fiat que, para surpresa nossa, começaram a picar sobre o quartel e a metralhar toda aquela zona, nomeadamente junto ao improvisado cais do rio, onde estacionava a barcaça de ligação a Catió.

Em desespero, ordenei que fossem lançados para o ar very-lights e um grupo avançasse com a bandeira nacional, para mostrar que éramos tropa amiga, ao mesmo tempo que por via rádio comunicava com o Comando de Catió, para que o engano fosse desfeito. Os aviões desapareceram no horizonte e ninguém ficou ferido. Na minha vida já tive dois acidentes graves de viação, mas aviões a jacto, a picar sobre a minha cabeça, é acontecimento digno da linguagem própria de uma crónica de Fernão Lopes, quando no cerco a Lisboa, dizia: «era coisa espantosa de ver…».


Junto ao cais, entretanto, ficaram os destroços dos garrafões de vinho, grades de cerveja e rações de combate, que tinham sido abastecidos naquele dia à companhia!!!… O médico da companhia tirou fotografias do ataque, que infelizmente não disponho para ilustrar esta minha memória.

Fui a Bissau e protestei junto do Comando e encontrei-me com os aviadores que me informaram que tinham acabado de chegar à Guiné e faziam uma operação de reconhecimento, pensando que se tratava de forças inimigas… Que eu saiba, só houve dois enganos em ataques da aviação: este e um outro sobre os fuzileiros navais, de que resultaram, tanto quanto me lembro, dois mortos.

Acabámos por ser rendidos por outra Companhia e enviados para a zona da vila de Bafatá, donde regressei a Portugal a 24 de Novembro de 1965, para terminar o curso de Direito, que a minha expulsão da Universidade de Coimbra e de todas as escolas nacionais, por dois anos, tinha impedido de concluir.

Assim, também concluo, em prosa necessariamente enxuta e breve, esta crónica da guerra da Guiné, que espero ampliar nas minhas memórias, em curso de escrita.

*************

(1) – O navio Ana Mafalda e o Ana Rita pertenciam à família dos Melos e os nomes deles correspondiam a nomes das suas netas… Estes barcos transportavam da Guiné amendoím (mancarra, em linguagem guineense) que era produzido na zona de população de etnia Fula, por isso, penso que o chamado
Óleo Fula, que anda por aí no mercado, tem a ver com esta origem do amendoím.

(2) – «Manual do Guerrilheiro», Che Guevara.

(3) – As fotografias dizem respeito à construção do quartel do Cachil e nelas se pode ver também os atolamentos de viaturas Unimog e construções em zinco dos dormitórios, bem assim os alagamentos de toda a zona do quartel.


[ Revisão / fixação de texto / título / bold a cores: L.G.]

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 13 de Novembro de 2009 >
Guiné 63/74 - P5264: Os nossos médicos (8): O Dr. Rogério da Silva Leitão, aveirense, cardiologista, CÇAÇ 557, Cachil, Como, 1963/65 (José Colaço)

(**) Vd. poste de 18 de Outubro de 2009 >
Guiné 63/74 - P5125: José Augusto Rocha: da crise estudantil de 1962 à Op Tridente, Ilha do Como, 1964 (José Colaço / Luís Graça)

(***) Vd. postes de:

2 de Junho de 2008 >
Guiné 63/74 - P2912: Tabanca Grande (73): José Botelho Colaço, ex-Soldado de Trms da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

20 de Junho de 2008 >
Guiné 63/74 - P2970: Ilha do Como, Cachil, Cassacá, 1964: O pós-Operação Tridente (José Colaço)

9 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3287: Controvérsias (2): Repor a realidade vivida, CCAÇ 557, Cachil, Como, Janeiro-Novembro de 1964 (José Colaço)

19 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3334 O meu baptismo de fogo (14): Cachil, Ilha do Como, meia-noite, 25 ou 26 de Janeiro de 1964 (José Colaço)

(****) Sobre a Op Tridente (ou Batalha do Como), vd. postes de:

28 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2892: A verdade e a ficção (2): Ilha do Como, Op Tridente: Queres vender a tua água ? Dou-te 100, dou-te 200 pesos (Anónimo)

27 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2889: A verdade e a ficção (1): Op Tridente, Ilha do Como, Jan / Mar 1964 (Mário Dias)

23 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2874: Um dia na Ilha do Como: Operação Tridente, Fevereiro de 1964 (Valentim Oliveira, CCAV 489/BCAV 490)

15 de Janeiro de 2006 >
Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)

15 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

Guiné 63/74 - P5266: Parabéns a você (41): César Vieira Dias, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71 (Editores)

1. Dia 14 de Novembro é dia de aniversário do nosso camarada César Vieira Dias, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, um batalhão que esteve em Mansoa entre Maio de 1969 a Março de 1971.

Não podia a Tabanca Grande deixar passar este dia sem vir felicitar este nosso camarigo, e desejar tantos e tão bons anos quanto possível, junto dos seus familiares e amigos, entre os quais estamos nós pela certa.



César Dias, que está connosco desde Janeiro de 2007, tem comigo, ou eu com ele, algumas afinidades. Ambos mexíamos em matérias explosivas e pertencemos, durante algum tempo, ao mesmo Batalhão. Ele como militar integrante do BCAÇ 2885 e eu (nós, CART 2732) como filhos adoptivos durante os primeiros 7 meses de comissão. Não nos lembramos um do outro, mas os nossos caminhos cruzaram-se e falámos de certeza um com o outro.

O que conta mesmo é que passados 38 anos estamos em contacto e a festejar com alegria os nossos mais de 60 anos de vida.

Quem diria, caro Dias?!

Além dos meus votos pessoais, deixo aqui os votos colectivos da tertúlia que não fica indiferente a este dia de alegria para ti.

Fica já combinado que para o próximo ano voltaremos a este assunto.

César Dias, violando as regras de tocar viola

Listagem da colaboração do César Dias no nosso Blogue que esperamos seja para continuar.

30 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1472: Sobrevivente do BCAÇ 2885 (Mansoa e Mansabá) (César Dias)

1 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1557: No regresso éramos menos 32 (César Dias, CCS do BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)

3 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1643: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, do Pel Cacç Nat 58 (3): 10 mortos em emboscada com luta corpo a corpo (César Dias)

4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1813: Os heróis desconhecidos de Cussanja, os balantas das boinas amarelas (César Dias)

12 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1840: A trágica história dos sapadores Alho e Fernandes da CCS do BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73 (César Dias / Gerrmano Santos)

14 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1951: Álbum das Glórias (17): A tabanca de Cutia (César Dias)

17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2769: Álbum das Glórias ( 43): Viaturas automóveis: O Matador (César Dias, CCS/ BCAÇ 2885, Mansoa e Mansabá, 1969/71)

23 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2878: Convívios (59): Encontro anual do BCAÇ 2885, realizado no dia 8 de Março em Pombal (César Dias)

10 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3292: Controvérsias (3): O acidente de helicóptero que vitimou Pinto Leite (J. Martins / J. Félix / C. Vinhal / C. Dias)

28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3372: Unidades que passaram por Mansoa, de Maio de 1969 a Fevereiro de 1971 (César Dias)

5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3841: Convívios (94): Pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71), no dia 7 de Março de 2009 em Arganil (César Dias)

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4095: O trauma da notícia da mobilização (5): Depoimentos (Magalhães Ribeiro/Hélder Sousa/David Guimarães/Juvenal Amado/César Dias)

10 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4168: Os Bu...rakos em que vivemos (4): Acampamentos de apoio à construção da estrada Mansabá/Farim (César Dias)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5245: Parabéns a você (40): António Garcia de Matos (ex-Alf Mil Minas e Arm da CCAÇ 2790 - Bula - 1970/72 (Editores)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5265: Controvérsias (52): Reflexões d’um ex-Combatente periquito (Manuel Marinho, 1ª CCAÇ / BCAÇ 4512)


1. Mensagem de Manuel Marinho*, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74, com data de 13 de Novembro de 2009:

Reflexões d’um ex-Combatente periquito

A propósito de temas lidos ultimamente no meu bloguineu.

Camaradas, que com os seus escritos, me deixam emocionado, comovido, nostálgico, que me fazem sorrir, dar boas gargalhadas, mas também ficar revoltado.

Hoje estou estupefacto com a notícia - poste P5261 do Eduardo Magalhães - sobre as comemorações da Liga dos Combatentes, Armistício, e fim da Guerra Colonial, que irão decorrer dia 14, em Lisboa.

É uma VERGONHA o que se passa com as ossadas dos nossos camaradas que se pretendem homenagear, ficou um em Bissau pelo facto da família não ter posses financeiras para o trazer, então e o Estado não faz a sua obrigação???

A minha expectativa reside agora no decurso da cerimónia.

Apenas quero dizer que o camarada em questão, Manuel Maria Rodrigues Geraldes, fazia parte da 2ª Companhia do meu Batalhão 4512 e foi um dos que deu a vida para segurar Guidaje, fazendo parte da 2ª coluna.

Em minha homenagem à tua memória:

Camarada Geraldes, PRESENTE!!!!

Fico incrédulo com a notícia que, a concretizar-se, eleva para níveis de escândalo o tratamento dado aos ex-combatentes. Já sabia como este País trata os seus ex-combatentes mas isto raia o absurdo, porque, se a cerimónia tem grande significado, as ossadas deste camarada teriam que estar presentes, por obrigação dos organismos competentes.

Temos obrigação de denunciar, por todos os meios ao nosso alcance, estas situações. Não deixemos morrer novamente os nossos camaradas.

Já o disse mas vou repetir, quando fui mobilizado para a Guiné, era um jovem minimamente informado, não suficientemente politizado, mas acatei o desafio e lá fui, aceitando todas as consequências da minha decisão, pois já era refractário (um mês de atraso) e já na recruta tinha o destino traçado, ia para a guerra colonial, ou fugia (hoje seria considerado um desertor com ideais libertárias).
Hoje passados todos estes anos sinto orgulho em ter estado presente, compartilhando com todos vós as estórias que espero venham a contribuir para fazer a História.

Este orgulho deve-se, em primeiro lugar, aos combatentes que lutaram, sofreram, deram o s melhores anos das suas vidas, no cumprimento de um dever que lhes foi imposto, na defesa do que achavam que era o certo, e a isso eram obrigados, depois ao Povo da Guiné, sacrificado e sofrido que eu adoptei sem reservas, ao longo de todos estes anos.

Depois porque percebi o significado de conceitos como abnegação, heroísmo, sofrimento, dor, amizade, altruísmo, fraternidade, perda e covardia.

Não quero estar sempre a repisar o tema, já seguramente estafado, de sermos os eternos sacrificados, porque a guerra na Guiné era a mais difícil, etc. etc. … Todos o sabemos e não foi por acaso que foi lá que germinou a semente do 25 de Abril, mas nem por isso deixo de prestar aqui a minha solidariedade para com os camaradas que estiveram noutras frentes de combate.

Neste blogue costumo dizer que “estou com a minha gente”.

Já que nos derrotam sistematicamente, alguns pseudo-intelectuais afirmando de fonte segura que a Guiné era um caso perdido, sem reflectirem que viemos embora tranquilamente (mas também desejosos de acabar rapidamente a comissão), depois de um cessar-fogo onde não foram acautelados os legítimos interesses dos africanos que lutaram ao nosso lado sendo posteriormente muitos deles assassinados.

Esquecem que a esmagadora maioria dos nossos soldados chegavam às frentes onde eram colocados, e acreditavam sinceramente que lutavam por uma causa justa, e muitas das vezes não tinham comando à altura, e depois da sua missão cumprida nada pediram em troca, nem responsabilizaram ninguém.

Omitem que, na euforia (legítima) do 25 de Abril, desembarcavámos dos aviões no aeroporto da Portela, íamos pelas saídas de serviço, indo directamente fazer o espólio, o mais discretamente possível, e toca a andar para casa que se faz tarde. E estes eram os primeiros sinais do desprezo a que estaríamos sujeitos ao longo dos anos. Nessa altura falar dos combatentes era politicamente associável ao salazarismo, hoje esperam que morramos todos para encerrar esse capítulo da nossa história.

Ignoram o sentir dum combatente, as suas sequelas morais, e as mazelas físicas, a todos esses que opinam sobre os combatentes, sempre na sua forma mais destrutiva, o meu completo desprezo, assim como à classe política que, sem excepção, nos tem tratado tão mal, muitos deles ainda andavam de cueiros e já nós passávamos tormentos.

Isto a propósito da intensa e justa revolta sobre o SEP, a que muitos camaradas se têm referido, o que esperamos?

E já agora, e porque estou apenas a reflectir, porque não fazermos ”uma semana de campo” em Lisboa? Já imaginaram o impacto? Ainda somos muitos, e por muito que respeite algumas fórmulas já utilizadas, não acredito em peregrinações, e para alguns peditórios já dei.

São apenas reflexões.

Um forte abraço para todos os tertulianos,
Manuel Marinho
1º Cabo, 1ª CCAÇ/BCAÇ 4512

PS - Muito deste texto já se encontrava escrito, mas esta notícia das ossadas teve que apressar estas reflexões.
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, em:

Guiné 63/74 - P5264: Os nossos médicos (8): O Dr. Rogério da Silva Leitão, aveirense, cardiologista, CÇAÇ 557, Cachil, Como, 1963/65 (José Colaço)



Ponte de Sor > 2008 > Convívio da CCAÇ 557 (Cachil e Bafatá, 1964/66) > Nas fotos, em segundo plano, o Dr. Leitão é o último, de óculos, a contar da esquerda para a direita. [ O Dr. Rogério da Silva Leitão, reformado, do Hospital Distrital de Aveiro, e antigo presidente da Assembleia Municipal de Aveiro, antigo presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, é uma figura cívica conhecida e reconhecida pelos seus concidadões, tendo recebido em 2005 a Medalha de Mérito Municipal em Prata.]

Foto: © José Colaço (2009). Direitos reservados.


1. Texto, com data de 8 de Setembro último, do José Colaço, ex-Sold Trms, CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde Junho de 2008 (*).


Assunto - Os amigos doutores das nossas companhias

Talvez devido à sua formação eles eram de um trato humano, até pareciam que desconheciam a disciplina do RDM. No meu caso, até era possivelmente diferente da maioria das companhias pois o comandante, o Capitão Ares, também ele via no homem que estava à sua frente outro homem, digno de respeito como ele, só que com uma patente militar inferior à dele.

Mas afinal de quem estou a falar?

Não pedi autorização: mas o Dr Rogério da Silva Leitão, médico da CCaç 557, vai-me perdoar esta inconfidência. (**)

Nos primeiros meses de estada no Cachil, o Dr Leitão, possivelmente devido à falta de médicos, ficou a prestar serviço no Hospital Militar 241. Foi o único elemento da companhia que ficou em Bissau.

Mas a história que vos quero contar é a seguinte: nós estávamos aquartelados na pequena mata do Cachil. Como é do conhecimento geral, não se tinha água nem hipótese de captar água naquela zona porque todas as tentativas feitas tinham resultado aquele líquido que mais parecia o tal petróle. Tónhamos que a ir buscar a Catió.

Mas no termo da grande mata do Cachil, com uma bela vista para a mata do Cassaca, havia um poço e que, segundo informações não sei de quem, teria um pouco de salubridade.

Não tardou muito que não fosse recebido, no posto de transmissões da 557, uma mensagem do comando para irmos ao tal poço tirar uma amostra da referida água para esta ser analisada e passar ser o abastecimento normal de água à companhia.

Feita a colheita, foi enviada para os serviços de análise do hospital militar de Bissau. Quem calhou de fazer a análise ? O Dr. Leitão!... e o resultado foi: "Não potável, imprópria para consumo".

E assim o nosso médico prestou este especial serviço à companhia, livrando-nos quase de certeza de algumas baixas e feridos.

Sem querer fazer comparações, era bem possível que nos tivesse acontecido uma situação parecida com a de Guileje.

O ex-tenente médico cardiologista Dr. Rogério da Silva Leitão e a sua esposa, também Drª., são presenças todos os anos no almoço da CCaç 557. A única foto que tenho do Dr., no tempo da guerra, é aquela que já teve honras do blogue P4254, como companhia indesejável no meu bu...rako.

Um abraço Colaço
São João da Talha


2. Mensagem do José Colaço, de 31/10/2009:

Luís, já consegui recuperar através de um DVD, as fotos do Dr. Leitão no almoço de 2008 em Ponte de Sôr.

Identificação das personagens vistas da esquerda para a direita:

(i) o ex-furriel Victor falecido há pouco tempo, vítima de ataque cardíaco fulminante, estava à conversa com o capitão, o agora coronel a examinarem um escrito meu;

(ii) a seguir, de bigode e óculos, o ex-alferes Goulart;

(iii) a seguir, de óculos, o Dr Leitão, de costas a esposa do Dr. e por íltimo a esposa do capitão.

A segunda foto, em anexo, o capitão a tomar notas do poste das controvérsias, o Victor, o Goulart, de costas a esposa do Victor e por último o Dr. Leitão.

É tudo, um abraço, Colaço.

PS - Luís, recebi agora notícias do nosso amigo Dr. Rogério Leitão, não são boas.
Transcrevo o mail do Dr. Rogério.

Meu caro:

Estou bastante doente e por tal motivo impossibilitado de ir à nossa reunião (***). Quanto às fotografias não prometo nada. Estou a aguardar o resultado de uma analise.

Um abraço de

Rogério

3. Correcção posterior do José Colaço:

Luís, há um erro no poste P5264 publicado hoje, se não for possível emendar tenho que o fazer a nível de comentário:

O Dr. Rogério Leitão desembarcou connosco no lodo do rio Cumbijã no dia 23/01/1964. Ondese lê: o Dr. Leitão possivelmente devido à falta de médicos ficou a prestar serviço no hospital 241, foi o único elemento da companhia que ficou em Bissau.Tem que se ler o que está no 2º mail: nos primeiros meses de estada no Cachil o Dr. Leitão possivelmente devido à falta de médicos, ele foi chamado a Bissau a prestar serviço no hospital 241 durante algum tempo.

Nota : a título de informação que creio que é do teu conhecimento o único elemento que ficou em Bissau foi o ex-alferes miliciano José Augusto Rocha.

Um abraço Colaço.
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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes relacionadas com o José Colaço e a CCAÇ 557:

2 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2912: Tabanca Grande (73): José Botelho Colaço, ex-Soldado de Trms da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

20 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2970: Ilha do Como, Cachil, Cassacá, 1964: O pós-Operação Tridente (José Colaço)

29 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3099: Os Nossos Regressos (13): Fundeámos ao largo, com as luzes de Cascais...(José Colaço, Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65))

9 de Outubro de 2008 >Guiné 63/74 - P3287: Controvérsias (2): Repor a realidade vivida, CCAÇ 557, Cachil, Como, Janeiro-Novembro de 1964 (José Colaço)

19 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3334 O meu baptismo de fogo (14): Cachil, Ilha do Como, meia-noite, 25 ou 26 de Janeiro de 1964 (José Colaço)

11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3598: O segredo de... (4): José Colaço: Carcereiro por uma noite

16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4196: Blogpoesia (39): CCAÇ 557, Missão cumprida na Guiné (José Colaço/Francisco dos Santos)

1 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4765: Convívios (153): Almoço/Convívio: CCAÇ 557, Cahcil, Bissau e Bafatá 1963/65 - (José Colaço)

18 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5125: José Augusto Rocha: da crise estudantil de 1962 à Op Tridente, Ilha do Como, 1964 (José Colaço / Luís Graça)


(**) Vd. poste da série Os Nossos Médicos:

15 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3899: Os nossos médicos (1): Alf Mil Médico José Alberto Machado (Nova Lamego)

2 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4891: Os nossos médicos (2): Tierno Bagulho e Pio de Abreu (Canchungo, 1971/73) (Luís Graça / António Graça de Abreu)

6 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4910: Os Nossos Médicos (3): Os especialistas eram poucos, e não gostavam de ir para... o mato (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)

8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4918: Os nossos médicos (4): Um grande amigo, o Dr. Fernando Enriques de Lemos (Mário Fitas, ex-Fur Mil, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)

8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4920: Os nossos médicos (5): Um grande homem, militar, clínico e matosinhense que me marcou, o Dr. Azevedo Franco (José Teixeira)

8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4923: Os nossos médicos (6): Homenagem ao Alf Mil Med Barata (Binta) e ao HM 241 (Bissau) (JERO, ex-Fur Mil Enf, CCAÇ 675, 1964/66)

23 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5143: Os nossos médicos (7): Prof Doutor José Madeira da Silva, otorrino, em busca dos ex-camaradas de Bula e Pelundo, 1973/74

(***) Vd. poste de 12 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5257: Convívios (173): Almoço da CCAÇ 557, 7 de Novembro de 2009 - Almeirim (José Colaço)

Guiné 63/74 - P5263: Em busca de... (102): Procuro qualquer informação sobre meu pai, Carlos Alberto Silva Ribeiro Soares (Maria Crespo)

1. No passado dia 10 de Novembro, o nosso Camarada Luís Graça recebeu de Maria Crespo - filha de um dos nossos Camaradas entretanto já falecido -, de nome: Carlos Alberto Silva Ribeiro Soares, a seguinte mensagem:

Olá muito boa tarde.

Encontrei este site quando procurava algo relacionado com o ex-Ultramar.

Meu pai, Carlos Alberto Silva Ribeiro Soares, esteve na Guiné a prestar serviço Militar, mas como infelizmente já faleceu eu não tenho qualquer dado que o relacione os relatos aqui descritos.

Mas tenho grande curiosidade sobre a prestação do meu pai e da participação dele em algumas histórias relatados pelos camaradas, pelo que gostava que alguém me pudesse informar se o conhecia, ou se existe alguma forma de eu saber o n.º mecanográfico do meu pai, onde esteve, se alguém neste site o conhecia.

Gostava de saber mais sobre a vida militar do meu pai. Lembro-me que ele falava que estava a fornecer armamento. Não sei se a partir daqui se consegue saber alguma coisa mais. Ah... e também era conhecido por Carlos Branco e era natural de Azambuja, nasceu a 05/09/1949 e regressou ao país em 74. Não sei desde quando lá esteve, penso que esteve lá cerca de 20 meses, mas não tenho certeza.

Sou Militar, meu nome de solteira é Maria Soares. Se me conseguirem alguma informação sobre meu pai agradecia, que enviassem para o meu e-mail: maria_crespo5@hotmail.com

Desde já agradeço a sua atenção.

Os meus mais sinceros cumprimentos e admiração.
Maria Crespo

2. No mesmo dia a pedido do Luís Graça, o nosso Camarada José Marcelino Martins, respondeu à Maria Crespo assim:

Cara Camarada Maria,

Já, por acaso, procurou no espólio de seu pai se tem lá a caderneta militar? Não sei como é agora, mas os meus filhos têm uma folha pequena que nada ou pouco diz. No nosso tempo, meu e do seu pai, era um livrinho de capa preta onde se anotavam todos os factos. Esse é, será, o ponto de partida.

Na ausência desse elemento, poderá através de algum serviço da unidade onde está colocada, e com a colaboração de quem tenha contactos no Arquivo Geral do Exército (estrada de Chelas - Lisboa), obter uma cópia da nota de assentos, que mais não é do que um registo pormenorizado da vida militar do seu pai. Aí encontraremos as unidades por onde passou, incluindo a unidade em que foi mobilizado e a unidade onde esteve na Guiné.

A partir daí utilizaremos os nossos meios de pesquisa habituais.

Saudações,
José Martins

Nota: Além do nome, data de nascimento, também facilitará aos serviços saber o local [município] em que se recenseou, caso não seja o de naturalidade.
__________
Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, em:

Guiné 63/74 - P5262: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (16): O baptismo de fogo da Regina, ou um Capitão não é um Capitão

1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 10 de Novembro de 2009:

Caro Carlos:
Mais uma estória para a série A Guerra Vista de Bafatá. Parece grande mas é por causa das fotos. Se a publicares, agradecia que mantivesses a sequência texto/fotos, pois está tudo interligado. As fotos só terão sentido dessa maneira.

Ainda outro assunto: Tenho reparado que algumas frases que tenho mandado em itálico não aparecem postadas dessa maneira. Penso que isso terá mais a ver com a NET e que não chegará aí o dito itálico. Se me pudesses dizer algo sobre isso muito agradecia, pois nesta estória a parte em itálico das legendas reporta-se à correspondente parte do texto.

Desde já agradeço.

Um abraço.
Fernando Gouveia


A GUERRA VISTA DE BAFATÁ

15 – O meu (dela) baptismo de fogo, ou um Capitão não é um Capitão

Duas notas prévias:

1 - Esta estória, como sempre autêntica, é toda da minha inteira responsabilidade, apenas coloco a narrativa na voz da minha mulher, por ter sido por ela vivida. Só lamento não ser ela própria a contá-la pois imprimir-lhe-ia uma melhor qualidade e sobretudo uma sensibilidade que eu não conseguirei exteriorizar.

2 - Os versos incluídos são de Sérgio Godinho, da faixa Fotos do Fogo do CD Tinta Permanente.



Nos anos sessenta não havia a liberdade de que agora usufruímos. Recordo, como exemplo, que quando era professora em Braga para adquirir certas revistas, consideradas de esquerda, como os Cadernos Gedoc e a Seara Nova, ia ter com um livreiro meu conhecido que mas entregava já devidamente embrulhadas e fora das vistas dos demais clientes.

Toda essa falta de liberdade trazia como consequência que as notícias relevantes, ou não chegavam a ver a luz do dia, ou eram deturpadas pelos homenzinhos do lápis azul. Quero com isto dizer, que qualquer notícia menos favorável ao regime vigente e oriunda da Guiné, e não só, vinha sempre por caminhos enviesados, logo, tanto podia ser mais ou menos verdadeira, como redondamente falsa.

Um dia, de 1969, com o meu marido na guerra, na Guiné, chegou-me aos ouvidos, por intermédio de uma amiga em quem depositava bastante confiança, que a Província tinha sido tomada pelos guerrilheiros nacionalistas. Penso que nessa altura seria o culminar de outras notícias, em surdina, referindo alguns reveses das nossas tropas (dezenas de mortos no Ché Che, etc.) em contraponto com a habitual falta de informação estatal sobre a verdadeira situação.

Coincidência das coincidências: Já há alguns dias que não recebia os habituais aerogramas do Fernando, meu marido, e cúmulo dos cúmulos, telefonando de imediato para o Comando de Agrupamento, onde ele se encontrava, uma telefonista (pois nessa altura as ligações passavam por várias), disse-me que de momento não era possível estabelecer a ligação com a Guiné pois havia um corte nas comunicações. Pânico, desespero, raiva… entorpecimento. Penso que passei por todos os estados de alma possíveis.

Com uma troca de telegramas tudo se esclareceu. Tinha havido apenas uma avaria nas comunicações.

Foi um pouco debaixo desta tensão que fui duas vezes à Guiné passar umas temporadas com o Fernando.

Da primeira, fui passar as minhas férias de Agosto e Setembro. O Fernando estava em Bissau à minha espera e acabámos por ficar instalados em casa duns amigos, a família Taveira, situada junto ao Estádio de Futebol, não longe do bairro do Pilão.

Por volta da uma da manhã estávamos já no primeiro sono quando fomos acordados, ao que pensei, por três ou quatro fortes rebentamentos ali muito perto. Sentados na cama não ouvimos mais qualquer ruído estranho e nem dentro de casa os nossos anfitriões deram sinais de si. Estranho… Ainda pensei que seria o meu baptismo de fogo, como na tropa se dizia.

Logo o Fernando me foi dizendo que deviam ser os obuses a fazer tiro para o outro lado do rio Geba, para a zona de Tite. Como já me tinha falado nos obuses de Piche que até se ouviam em Bafatá, fiquei mais calma. Soube depois que me dera aquela explicação para me acalmar pois acreditava serem rebentamentos na cidade, a primeira flagelação a Bissau. Também depois me disse que não ficou preocupado connosco pois achava que a tropa toda que estava na zona de Bissau resolveria a situação. Assim eu, na ignorância, e ele com mais de um ano de Guiné adormecemos novamente.

Na manhã do dia seguinte perguntamos ao senhor Taveira, que já tinha saído à rua, se sabia o que tinha acontecido. Resposta breve:

- Já não é a primeira vez que os Fuzileiros vêm fazer desacatos no bairro do Pilão e desta vez rebentaram lá umas granadas…

Mais tarde, em Bafatá, viemos a saber que o Geneneral Spínola mandou esses Fuzileiros para uma operação de oito dias na ilha de Como.

Destas estadias na Guiné já dei conta em estórias anteriores. Vivi lá momentos inolvidáveis. A África, sempre a África, os odores tão característicos, o vermelho da terra de tom tão singular, a pureza das gentes, o olhar e o sorriso das crianças, o colorido das vestes, o verde das matas, os pescadores nas suas canoas, o transbordar dos rios na época das chuvas, as tempestades diárias mas belas com o seu relampejar ao longe.

Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira

A guerra deu na tv
foi na retrospectiva
corpo dormente em carne viva
revi p’ra mim o cheiro aceso
dos sítios tão remotos
e de corpo ileso
vou-te mostrar as fotos
olha o meu corpo ileso

………..
………..

Foto 1 > O vermelho da terra de tom tão singular. Na tabanca da Rocha em frente à minha casa. Atrás de mim era a casa do Cap. protagonista desta estória.

Foto 2 > A pureza das gentes. Tabanca da Rocha (foi a partir deste momento que ficámos a saber, eu e o Fernando, que os bebés africanos nasciam completamente brancos e só depois iam escurecendo.

Foto 3 > O olhar e o sorriso das crianças. Na tabanca da Rocha em Bafatá.

Foto 4 > O colorido das vestes. No Mercado de Bafatá.

Foto 5 > O verde das matas. Algures entre Bafatá e Candemba Uri.

Foto 6 > Os pescadores nas suas canoas. No rio Geba em Bafatá.

Foto 7 > O transbordar dos rios na época das chuvas. Na ponte do rio Colufe com a água a chegar aos meus pés.

Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados.


…………
…………
O meu baptismo de fogo
não se vê nestas fotos
tudo tremeu e os terremotos
costumam desfocar as formas

…………
…………

Álbum das fotos fechado
volto a ser quem não era
como a memória, a primavera
rebenta em flores impensadas
num livro as amassamos
logo após cortadas
já foi há muitos anos
e ainda as mãos geladas


Na segunda ida à Guiné fui passar as férias de Natal de 1969. Mais uma vez fiz escala na ilha do Sal em Cabo Verde e mais uma vez tive aquela sensação estranha ao sair do avião: A terrível humidade, que trespassando a roupa tornava todo o corpo pegajoso. O Fernando já me tinha marcado um lugar no Dakota desse dia pelo que, e já não sendo periquita, iria sozinha ter com ele a Bafatá. Quando já estava a entrar para o avião, aparece um oficial de patente algo elevada, que em atitude nada elevada foi dizendo que eu não podia embarcar pois ele e a esposa, mesmo sem marcação, tinham que ir sem falta.

Mais tarde vim a saber que era o actual Comandante do meu marido, Coronel Neves Cardoso. Telefonei ao Fernando, tendo ele vindo nesse mesmo Dakota ter comigo. No mesmo dia fomos para Bafatá, penso que num quadrimotor Eron, civil.

Chegados lá à tarde, o Fernando foi trabalhar para o Agrupamento e eu fiquei a rever o que foi a nossa primeira casa. Parte da tarde passei-a à conversa com as crianças já minhas conhecidas, o Carlos o Adrião e a Angelina e entreguei-lhes os presentes que trouxera.

Perto da nossa casa, na tabanca da Rocha morava agora um casal, um Capitão e a esposa. Esse Capitão estava lá há pouco tempo pois em Setembro não o tinha visto por lá. Numa atitude simpática convidaram-nos para jantar com eles essa noite.

Como o Fernando trabalhava todos os dias até às oito da noite fui mais cedo para a casa do senhor Capitão.

Seriam umas sete e meia quando se começaram a ouvir rebentamentos. O Capitão foi à rua e logo tornou a entrar dizendo que pelo som das explosões e porque se viam os rastos das granadas e dos projecteis tracejantes, estariam a atacar Bafatá. Disse que se ia a apresentar no quartel e que nós as duas fechássemos tudo e nos agachássemos junto de uma parede mestra.

Ali estava eu agora, com o meu baptismo de fogo. Desta vez era a sério. Um Capitão é um Capitão. Era pois um ataque e o Fernando não estava ali. Em nossa casa ele tinha um pequeno arsenal, para uma possível defesa, ali só uma parede mestra…

Às oito aparece o Fernando, nas calmas, pois tinha trabalhado até essa hora, pôs-nos à vontade e foi-nos dizendo que não tinha sido nenhum ataque a Bafatá mas sim ao aquartelamento da tabanca de Geba, distante uns dez quilómetros. O meu marido já tinha assistido a vários.

Para a semana, por falar em Geba e outra vez na primeira pessoa, vou contar a minha ida lá, propositadamente para olhar na cara o que achava que seria um nazi fugido depois da segunda guerra mundial. Poder-me-ia ter saído muito caro….

Até para a semana camaradas.
Fernando Gouveia
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5232: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (15): Uma estória de faca e alguidar

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5261: Efemérides (35): Às custas dos seus familiares (Magalhães Ribeiro)


14 de Novembro de 2009

HOMENAGEM A 2 CAMARADAS NOSSOS MORTOS EM COMBATE NA GUINÉ

(É obrigatória a presença de quem puder comparecer)

Como já havia sido referido em anterior poste (P5240), da autoria do nosso Camarada José Martins, vão decorrer no próximo da ia 14, em frente ao Memorial aos Combatentes do Ultramar, em Belém, as cerimónias comemorativas do 91º Aniversário do Armistício, 86º Aniversário da Liga dos Combatentes e do 35.º Aniversário do fim da Guerra do Ultramar, que inclui uma justa e merecida homenagem a 2 Camaradas nossos mortos em Combate na Guiné.

Acabei de ser informado que a presença destas ossadas, dos nossos 2 Camaradas mortos em Combate no cumprimento do Dever e Honra para com a Pátria, a que então se chamava nesta nação “Serviço Militar Obrigatório”, e que foram agora trasladados da Guiné-Bissau, só vai ser possível, porque alguns dos seus familiares assumiram a totalidade das despesas envolvidas.

Estavam previstas a vinda dos restos mortais de 3 mortos na guerra.

Afinal vieram só as ossadas do Machado e do Telo,« Marados de Gadamael».

O restos do corpo do Ferreira ficaram em Bissau, porque a família, infelizmente, não tinha posses para pagar as despesas...

Onde é que está a Dignidade do nosso Estado (do governo e nosso políticos)?!

PROGRAMA DAS COMEMORAÇÕES

14H35 - Formatura pronta frente à tribuna, no local indicado para prestar continência à chegada da Alta Entidade que preside às Cerimónias;

14H45 - Chegada da Alta Entidade e Honras Militares;

14H50 - Alocuções alusivas ao acto.

15H15 - Condecorações a Membros da Liga dos Combatentes;
Descerramento de Placa;

15H20 - Evocação do Armistício e Aniversário da Liga dos Combatentes com deposição de coroas de flores no Monumento;

15H30 - Homenagem aos mortos em combate por Sua Eminência o Bispo das Forças Armadas D. Januário Torgal Mendes Ferreira.

P.S.: O Museu do Combatentes (Forte do Bom Sucesso), situado na retaguarda do mesmo espaço, tem várias exposições abertas ao público que poderão ser visitadas.
__________
Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série em:

Guiné 63/74 - P5260: Memória dos lugares (54): Uma ponte mágica, a do Saltinho, sobre o Rio Corubal (Mário Beja Santos)

Guiné > Zona Leste > Saltinho > Uma belíssima foto da antiga ponte Carveiro Lopes (não ideia se foi rebaptizada, a seguir à independência), vista da margem direita do Rio Corubal, a jusante... O Beja Santos não me disse de quem são os créditos fotográficos... Parabéns, de qualquer modo, ao artisa... (LG)

Foto: Cortesia de Beja Santos. Autor desconhecido

1. Mensagem de Beja Santos:

Malta,

Li com imensa satisfação a informação sobre as três pontes do Corubal. A ponte General Craveiro Lopes, inaugurado pelo governador Silva Tavares, era, ao tempo a maior ponte construída na Guiné.

Segundo o Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, número 51, Julho de 1958, no acto inaugural, o Eng Abel Aires referiu-se a vários aspectos da construção iniciada em Abril de 1955.

Trata-se de uma ponte constituída por quatro tramos de 35,5 metros entre eixos. Os tramos assentam sobre três pilares centrais construídos em betão ciclópico. O comprimento da ponte entre os seus eixos extremos é de 146 metros, com uma largura da faixa de rodagem de 6 metros.


Guiné-Bissau > Saltinho > Ponte General Craveiro Lopes > Lápide, em bronze, evocativa da "visita, durante a construção" (sic) do então Chefe do Estado Português, general Francisco Higino Craveiro Lopes (, acompanhado do Ministro do Ultramar, Capitão de Mar e Guerra Sarmento Rodrigues, em 8 de Maio de 1955. A ponte só iria ser inaugurada em 1958, ao tempo Governador (1957/58) Álvaro Rodrigues da Silva Tavares (n. 1915) e depois Alto Comissário e Governador de Angola (Janeiro de 1960 / Junho de 1961).

Foto: © Albano M. Costa (2006). Direitos reservados


Referia-se expressamente que a ponte, para além destas dimensões impressionantes, iria substituir satisfatoriamente a ponte Marechal Carmona (*), o administrador de Fulacunda disse expressamente no acto inaugural de 1958 que a ponte Marechal Carmona já não servia os interesses da população, não fiquei a perceber porquê.

É para mim uma ponte mágica, passei por lá sempre deslumbrado, quando ia levar abastecimentos ao Xitole, algumas vezes com o Luís Graça. (**)

Esta fotografia [inserida acima] grava-se-me pela saudade e pela elegância das linhas da construção dentro da paisagem. Faço votos para lá voltar muito em breve.
Um abraço do Mário

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

8 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5237: Memória dos lugares (53): Rio Corubal: As três pontes... (C. Silva / P. Santiago / M. Dias / Luís Graça)

7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5228: Memória dos lugares (52): Rio Corubal: afinal, havia... 3 pontes !? (C. Silva / D. Guimarães / M. Dias / Luís Graça)

7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5227: Memória dos lugares (51): Ponte Carmona sobre o Rio Corubal (Carlos Silva)

Vd. também postes de:

9 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2621: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (3): Pequeno-almoço no Saltinho, a caminho do Cantanhez

26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXVI: As pontes sobre o Rio Corubal (Mário Dias)

26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIX: As pontes sobre o Rio Corubal: rectificação (Mário Dias

(**) Vd. poste da I Série > 20 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXII: O inferno das colunas logísticas na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho).

(...) Desde Novembro de 1968 que o itinerário Mansambo-Xitole estava interdito. Nessa altura, uma coluna logística do BCAÇ 2852, no regresso a Bambadinca, sofrera duas emboscadas (uma das quais, a primeira, com mina comandada), a cerca de 2km da Ponte dos Fulas, na zona de acção da unidade de quadrícula aquartelada no Xitole (CART 2413). A coluna prosseguiu com apoio aéreo.

Nove meses depois, fez-se a abertura desse itinerário, mais exactamente a 4 de Agosto de 1969. Na Op Belo Dia, participou o 2º Gr Comb da CCAÇ 12 com forças da CART 2339 (Mansambo), formando o Destacamento A. Nessa operação, não foram encontradas minas nem abatizes mas o IN emboscou 1 Gr Com do Dest B, constituído por forças da CART 2413 do Xitole, na Ponte dos Fulas, quando as NT estavam a reabastecer-se de água.

(..) Para dar uma ideia do carácter quase pioneiro das primeiras colunas que a CCAÇ 12 efectuou na estrada Mansambo-Xitole-Saltinho, com viaturas exclusivamente militares e num itinerário em muitos troços intransitável, esburacado pelas minas e pela erosão das chuvas, invadido pelo capim e pelos arbustos, em que se tornava necessário fazer a picagem de mais de 3O Km, e sempre com o fantasma do IN a acompanhar as NT, vale a pena transcrever aqui um trecho do relatório da Op Belo Dia III, em que participaram o 2º e o 4º Gr Comb da CCAÇ 12, juntamente com forças da CART 2339 (Mansambo), formando o Dest A (A distância de Bambadinca, a Mansambo, Ponte dos Fulas, Xitole e Saltinho era, respectivamente, 18, 33, 35 e 55 quilómetros, segundo informação do Humberto Reis, que dispõe dos 73 mapas cartográficos da Guiné-Bissau à escala de 1/50000):

"A coluna de reabastecimento atingiu Mansambo, proveniente de Bambadinca, às 17.30h do dia 7 de Novembro de 1969, tendo 1 Gr Comb da CART 2339 patrulhado e picado o itinerário até ao limite N da sua ZA [Na prática, percorreu a distância de 18 km., entre Bambadinca e Mansambo à velocidade de 1 quilómetro e meio por hora].

"O Dest A [CART 2339 e CCAÇ 12] partiu de Mansambo às 5.00h do dia seguinte para cumprimento da sua missão [ou seja, prosseguir com a coluna até ao Xitole]. A escassas dezenas de metros a sul da ponte do Rio Bissari foram detectadas e levantadas 2 minas A/P [antipessoal], tendo-se verificado pela sua análise que se encontravam montadas há muito tempo (fazendo parte provavelmente do campo de minas implantadas pelo IN e detectadas no decurso da Op Nada Consta, [em 18 e 19 de Agosto]).

"Entretanto fora tentada por várias vezes a montagem de guardas de flanco, sem contudo se ter conseguido devido à densa arborização do terreno, o mesmo se verificando a partir do Rio Bissari por a natureza do terreno, bolanha com muita altura de água, capim bastante alto com densas manchas de lianas entrançadas, impossibilitar a progressão.

"Num troço de 3 Km, compreendido entre 1 Km após a ponte do Rio Bissari e 1 Km antes da ponte do Rio Jagarajá, a coluna ia sofrendo atascamentos sucessivos conjugados com avarias [mecânicas] que impossibilitavam uma progressão normal.

"Entretanto verificou-se o atascamento da 7ª viatura que ficou completamente enterrada no lodaçal do itinerário, e de mais algumas viaturas que se Ihe seguiam e que foi impossível desatascar.

"Foi decidido então fraccionar o Destacamento A [CART 2339 e CCAÇ 12] deixando 2 Gr Comb no local a tentar desatascar as viaturas e mandar prosseguir o resto da coluna até ao encontro do Dest B [CART 2413, Xitole], o que se verificou pelas 15.30h.

"Feito o transbordo, foi decidido pelo PCV [posto de comando aéreo] que o Dest B regrasse ao Xitole, vindo no dia seguinte transportar a restante carga. Entretanto deixaria um Gr Com (-) a reforçar o Dest A que pernoitou junto das viaturas, montando segurança próxima à estrada.

"Às 5 da manhã do dia 9 [dois dias depois do início da operação], iniciou-se o transbordo da carga para as viaturas que estavam à frente da viatura imobilizada e que entretanto fora desatascada, embora continuasse avariada. Pelas 8h, contactou-se com o Dest B que entretanto se aproximara, fez-se o transbordo da carga, reorganizou-se a coluna e empreendeu-se o regresso a Mansambo que foi atingido pelas 11.45, não sem ter havido mais alguns atascamentos".

(...) A próxima coluna logística realizar-se-ia a 30 de Novembro de 1969, segundo um novo conceito de execução (Op Alabarda Comprida). Foram constituídos 3 Destacamentos:

"(i) Ao Dest A (2 Gr Comb da CCAC 12) coube a missão de escoltar a coluna até ao Xitole, formando três fracções (na testa, no meio e na rectaguarda) e reagindo pelo fogo e pela manobra a toda e qualquer acção IN;

"(ii) Os Dest B e C (6 Gr Comb, das CART 2339 e 2413) constituíam uma força de segurança descontínua ao longo do itinerário Bambadinca-Mansambo-Xitole (cerca de 35 km), patrulhando e montando emboscadas nos locais de mais provável utilização pelo IN para uma eventual acção contra as NT.

"A coluna decorreu normalmente, tendo chegado ao Xitole por volta das 11h da manhã e regressado nesse mesmo dia, contrariamente ao que se estava previsto (e se temia), uma vez que o estado do itinerário era péssimo. Pelo Dest C (CART 2413, Xitole) foram detectados vestígios recentes dum grupo IN, estimado em 20/50 elementos, que teria vindo do Galo Corubal em acção de reconhecimento".

(...) A 14 de Novembro, a CCAÇ 12 efectuaria a última coluna logística para Xitole/Saltinho, integrada numa operação. Após o regresso, os Gr Com das unidades em quadrícula na área, empenhados na segurança da estrada Mansambo-Xitole, executariam um patrulhamento ofensivo entre os Rios Timinco e Buba, não tendo sido detectados quaisquer vestígios IN (Op Corça Encarnada).

A partir de então, estas colunas de reabastecimento das NT em unidades de quadrícula, aquarteladas em Mansambo, Xitole e Saltinho, tomariam um carácter de quase rotina, passando a realizar-se periodicamente (duas vezes por mês, em média), e com viaturas civis, escoltadas por forças da CCAÇ 12.

A segurança ao longo do itinerário continuava, no entanto, a movimentar seis Gr Comb das unidades em quadrícula de Mansambo, Xitole e Saltinho. Na prática, isto significava que o abastecimento das NT nestas tês unidades implicava a mobilização de forças equivalentes a um batalhão (3 companhias).

O Saltinho, embora passasse a depender operacionalmente do Sector L5 (Galomaro), a partir da data em que as NT evacuaram Quirafo, continuava no entanto ligada ao Sector L1 para efeitos logísticos, uma vez que a estrada Galomaro-Saltinho se mantinha parcialmente interdita desde o início das chuvas devido à actividade do IN na região. (...)

Guiné 63/74 - P5259: Ser solidário (45): Falando do apoio americano aos seus Veteranos de Guerra (José da Câmara)

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara*, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73, radicado nos Estados Unidos da América, com data de 12 de Novembro de 2009:

Caro Carlos,
Junto encontrarás a minha resposta ao nosso camarada Alberto Branquinho.
Foi um prazer ler aquilo que ele escreveu.
Demonstrou ser um homem atento ao que se passa na sociedade americana. Isso apraz-me registar.

Com votos de muita saúde e um abraço amigo,
José Câmara


2. Caros camaradas,
Quando escrevi o P5222*, fi-lo com a convicção de que, ao escrever sobre o que se fazia em outras paragens, isso poderia contribuir como estímulo para as lutas de direitos (quero acreditar que também de deveres) que muitos de vós se vêm envolvidos ou gostariam de verem resolvidas pelo governo português, independentemente da sua cor política

O nosso camarada Alberto Branquinho respondeu, dissertando sobre o que escrevi, como ainda pondo algumas questões bastante pertinentes. Agradeço!

O Alberto Branquinho na sua mensagem P5247** desenvolveu um episódio que teve a oportunidade de presenciar em 1984 quando, ao serviço da empresa que o empregava, visitou os EUA. O acontecimento teve lugar em Washington deduzindo, e bem, que estava na presença de uma manifestação a nível nacional.
A manifestação era protagonizada por ex-combatentes da guerra do Vietname. Aqueles, por formas várias, entregavam-se à luta reivindicativa de direitos que julgavam merecer.

Apraz-me registar a argúcia das observações feitas pelo autor não sou sobre o causa/efeito da manifestação, e também da forma de estar do povo americano Eu, vivendo neste país americano, não teria conseguido dizê-lo melhor nem tão bem.
O grande fenómeno americano assenta nestes princípios básicos: liberdade, justiça, e o direito de questionar (pedir) o congresso na resolução dos problemas inerentes ao povo.

É naqueles princípios que a família aparece como factor principal do associativismo americano. Quando essas famílias são emanadas dos mesmos desejos transformam as suas causas e as suas comunidades em factor de pressão, o tal loby, sem o qual nada ou pouco se consegue.

As associações de veteranos locais fazem parte desse associativismo que, no seu conjunto a nível nacional, têm uma força política descomunal neste grande país americano.
Stoughton, MA., é uma pequena comunidade, inserida na área metropolitana de Boston.

Câmara Municipal de Stoughton, MA

A Câmara Municipal de Stoughton é dirigida por um Administrador contratado pelos Vereadores da Vila, e sua forma de governo é o Town Meeting (Assembleia Municipal). Entre os serviços da Administração Municipal está o Departamento de Veteranos, que é dirigido por um Agente contratado pela Vereação da Câmara Municipal.

O Agente não tem que ser necessariamente um veterano, mas não magoa se o for. O importante é que o Agente seja competente no desenvolvimento do trabalho que lhe é confiado.

No momento actual o Agente é um veterano da guerra do Vietname. Os anteriores, que conheci, também eram veteranos.
O Departamento de Veteranos é um serviço público e gere fundos públicos. O Estado Federal contribui com 75% do Orçamento do Departamento, e a vila de Stoughton contribui com os restantes 25%.

Na lei não existe nada que proíba o Agente de Veteranos de angariar e dirigir fundos provenientes de empresas, serviços e particulares. Não pode é misturar os dinheiros públicos com os dinheiros privados.

Na colheita dos fundos particulares o Agente conta sempre com voluntários que o ajudam nesse processo, e não são necessariamente empregados da Câmara Municipal. Pelo contrário são pessoas que, fazendo parte de outras organizações se solidarizam com a (s) causa(s) em questão. No caso da nossa história coube às Girl Scouts (Grupo de Escuteiras) a tarefa de recolherem donativos vendendo bolachas, para ajudarem um veterano da guerra do Iraque.

A distribuição de dinheiros públicos é feita de acordo com as leis e regulamentos em vigor. Os dinheiros privados são um suplemento, e são entregues, de uma maneira geral, no fim da recolha, e vão na sua totalidade para a (s) causa (s) para que foram anunciados.

O Exército Americano é hoje, todo ele, baseado no voluntariado. Para além das suas Forças Regulares o Exército precisa, em situações de emergência, dos seus Reservistas. São estes civis que, na sua vida normal do dia a dia, contraíram obrigações de toda a espécie para o normal funcionamento das suas vidas. Muitas dessas obrigações têm que ser satisfeitas, mesmo quando os obrigatoriantes são chamados a cumprir os seus deveres com o Exército e com a nação.

Nós sabemos que o Exército paga, normalmente, menos que aquilo que esses militares auferem na sua vida particular. Perante isso a nossa ajuda para os veteranos, por pequena ou grande que seja, não é nem pode nunca ser constituída como esmola.

Para nós, cidadãos americanos (tenho dupla nacionalidade), é motivo de orgulho nacional e satisfação moral ajudar todos aqueles que, ao serviço da nação põem em risco a sua vida e o bem estar da família, para que todos nós possamos manter a nossa liberdade.

Isto é a América!
José Câmara
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5222: Efemérides (27): O Dia dos Veteranos, 11 de Novembro na Vila de Stoughton (USA) (José da Câmara)

(**) Vd. poste de 10 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5247: Ser solidário (44): A propósito do Dia dos Veteranos em Stoughton - Estados Unidos da América (Alberto Branquinho)