terça-feira, 4 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2612: Estórias cabralianas (33): Quatro Madrinhas de Guerra (Jorge Cabral)

A Madrinha de Guerra, a Professora e o Alferes Inconveniente



Madrinhas de Guerra? Pois também herdei uma.

Uma não, quatro. Emprestado ao Pelotão, havia um Cabo velhinho, o Carvalho, que se correspondia com catorze. A bem dizer não fazia mais nada. Logo pela manhã, montava a banca e escrevia, escrevia…

Acabada a comissão, Carvalho distribuiu as madrinhas. Das quatro que me calharam, três duraram pouco, o que não me admirou. Para cada uma, inventara uma estória, assumindo diferentes personagens e construindo cenários, nos quais a realidade da guerra surgia transmutada, mais parecendo um antigo romance de cavalaria.

Uma porém aguentou. Muito jovem, interna num Colégio alentejano, confessou que quando não percebia o que eu queria dizer, perguntava à Professora de Português.
Foi da Professora que recebi uma queixa, endereçada ao senhor Comandante, S.P.M. 5358, denunciando a falta de pudor do correspondente.

Que havia sucedido? Na altura, logo após a visita do Amoroso Bando das Quatro (1), uns violentos ardores urinários atingiram metade do Pelotão, deixando-me preocupado, até porque o médico do Batalhão, o Drácula, castigava quem se apresentasse sofrendo daqueles males.
Talvez por essa preocupação e não sei a que propósito, tinha inserido na missiva a expressão “onírica gonorreia”.

Respondi à Professora, dando-lhe toda a razão, o atrevido já fora castigado. “Calcule Senhora Professora que a dita deixou de ser onírica, e agora é bem real!”.
O certo é que deixei de ter Madrinha de Guerra!
Mas acreditem ou não, quando passo na Cidade alentejana, onde ela estudava, sinto sempre os tais ardores…
Stress literário pós- venéreo?

Jorge Cabral


(1) Já relatada no Blogue.

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(1) Vd. lista das estórias até agora publicadas

20 de Abril de 2007 > Guiné 63/7 4- P1682: Estórias cabralianas (1): A mulher do Major e o castigo do Alferes (Jorge Cabral)
Quando de Missirá me deslocava a Bambadinca, seguia sempre a mesma rotina. Primeiro visitava o Bar do Soldado, até porque aí tinha que liquidar as despesas alcoólicas efectuadas pelo meu Soldado Ocamari Nanque, que se encontrava preso. (...)

23 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1688: Estórias cabralianas (2): O rally turra (Jorge Cabral)Numa tarde de tédio convenci o motorista da viatura existente em Missirá, um humilde Unimog, a dar um passeio. Pretendia visitar o Enxalé, seguindo pela estrada de Mato Cão, pela qual não passava qualquer veículo há muito tempo. (...)

23 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1689: Estórias cabralianas (3): O básico apaixonado (Jorge Cabral)
O Pel Caç Nat 63 esteve quase sempre em Destacamentos. Comigo em Fá e Missirá. Antes no Saltinho, e depois no Mato Cão. Para os Destacamentos eram mandados os especialistas que a CCS [do Batalhão sediado em Bambadinca] não queria. Assim, tive maqueiros que não podiam ver sangue, motoristas epilépticos e até um apontador de morteiros cego de um olho. Tudo boa rapaziada, aliás! (...)

18 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLVIII: Estórias cabralianas (4): o Jagudi de Barcelos.
Dos quatro Comandantes de Bambadinca que conheci, apenas o Polidoro Monteiro me mereceu consideração. Dos outros nem vou dizer o nome, e de dois a imagem que guardo é patética . Assim, no rescaldo do ataque ao Batalhão, lembro o primeiro, à noite, de G-3 em bandoleira, pedir-nos:- Se houver ataque, acordem-me (...).

23 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXV: Estórias cabralianas (5): Numa mão a espingarda, na outra...
Penso que, já em 1971, apareceu no Batalhão [de Bambadinca], um Alferes de secretariado, corrido de Bissau, por via de uns dinheiros. Chegou acompanhado de uma dama, sobre a qual corriam os mais variados boatos. Dizia-se, calculem, que ela tinha sido uma prenda de aniversário ao Alferes, enviada pelo pai, milionário do Porto. (...)

13 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXIV: Estórias cabralianas (6): SEXA o CACO em Missirá Poucos dias faltavam para o Natal, e a tarde estava quente. Todo nu no meu abrigo, fazia a sesta, quando sou despertado por enorme algazarra misturada com os ruídos do helicóptero.-Alfero, Alfero, é Spínola! - gritam os meus soldados (...).

17 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXXIX: Estórias cabralianas (7): Alfero poi catota noba Finda a comissão, calculem (!), fui louvado. O Despacho do Exmo. Comandante do CAOP Dois referia, entre outros elogios, a minha “habilidade para lidar com a tropa africana e populações”, a qual me havia “granjeado grande prestígio”. Esquecido, porém, foi o essencial – evitei a dezenas de Bajudas o repúdio matrimonial e a consequente devolução do preço. Essa tão meritória actividade, sim, teria merecido, não um simples louvor, mas uma medalha (...).

13 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCC: Estórias cabralianas (8): Fá Mandinga no Conde Redondo ou o meu Amigo Travesti
Na década de 80, dava aulas nocturnas numa Escola na Duque de Loulé e costumava descer a Avenida para tomar o Metro. Eis que uma noite, me vejo perseguido por um Travesti que me grita:- Meu Alferes! Meu Alferes! Alferes Cabral!... Tomado de terror homofóbico parei, negando conhecer a criatura, de longas pernas e fartíssimos seios. (...)

20 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXVII: Estórias cabralianas (9): Má chegada, pior partida Com destino à Guerra, viajei no Alfredo da Silva, quase um cacilheiro, durante doze dias. Em primeira classe, sete oficiais e uma dona puta em pré-reforma habitavam um ambiente de opereta, jantando de gravata, com a estafada dama na mesa do comando. Depois havia a valsa… Cheirava a mofo, a decadência, ao fim do Império (...).

3 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P836: Estórias cabralianas (10): O soldado Nanque, meu assessor feiticeiro
Desde que cheguei, e durante o primeiro ano, o Pel Caç Nat 63, foi pluriétnico. Mandingas, Fulas, Balantas, Manjacos, Bigajós, estavam representados. Pluriétnico e plurirreligioso, com um Manjaco, Pastor Evangélico, um Marabú Mandinga Senegalês, vários adoradores de muitos Irãs, e até alguns crentes na Senhora de Fátima, vivendo todos em Paz ecuménica, sob a batuta do Alferes agnóstico com tendências panteístas, que pensava que nada o podia surpreender (...).

4 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P936: Estórias cabralianas (11): a atribulada iniciação sexual do Soldado Casto
À noite, após o jantar, nós os nove brancos do Destacamento, continuávamos à mesa, conversando. Falávamos de tudo, mas principalmente de sexo, mascarando a nossa inexperiência, com o relato de extraordinárias aventuras que assegurávamos ter vivido. O nosso motorista havia até desenhado num caderno as várias posições, indagando de cada um:- E esta, já experimentaram? (...)

20 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P974: Estórias cabralianas (12): A lavadeira, o sobretudo e uma carta de amor
No dia seguinte a ter ocupado Fá Mandinga, apresentaram-se no quartel as lavadeiras, cinco ou seis bajudas, todas alegres e simpáticas. Uma, Modji Daaba, chamou-me logo a atenção pelo seu porte e beleza. Bonita de cara e perfeita de corpo, possuía um ar nobre e altivo que me cativou. Imediatamente a contratei como minha lavadeira exclusiva, tendo acordado uma remuneração superior na esperança de algumas tarefas suplementares… (Periquito, ainda não sabia, que com as bajudas mandingas era praticamente impossível ir além de algumas carícias peitorais…). (...)

28 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1128: Estórias cabralianas (13): A Micá ou o stresse aviário (Jorge Cabral)
Terminada a especialidade de Atirador de Artilharia, permaneci como aspirante, em Vendas Novas, na respectiva Escola Prática. Aí me atribuíram variadas funções, Justiça, Acção Psicológica e Cultural, Revista Literária, etc, etc, pelo que quase nunca fiz nada. Quando me procuravam num lado, estava sempre no outro…Na Justiça, creio que apenas dei andamento a um processo, enviando uma deprecada para Angola, a perguntar se o Furriel Patacas possuía três mãos. (...).

24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1313: Estórias cabralianas (14): Missirá: o apanhado do alferes que deitou fogo ao quartel (Jorge Cabral)
Julgo que aconteceu em Março [de 1971]. O dia decorrera em Alegria. Chegara a Missirá uma arca frigorífica a petróleo, oferta do Movimento Nacional Feminino, e cedo começaram as libações.Seriam três ou quatro da manhã, sou abruptamente despertado. Tiros (?). Rebentamentos (?). Fogo! Saio do abrigo nu, e deparo com meio quartel a arder.Ataque nunca podia ser! O Tigre [Beja Santos] já estava na Metrópole, Missirá era agora um oásis de paz, vigorando um tácito pacto de não-agressão (...).

14 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1344: Estórias cabralianas (15): Hortelão e talhante: a frustração do Amaral (Jorge Cabral)
Chamavam-lhe, os africanos, o furriel Barril, não sei se pela sua compleição física, se por via da fama e do proveito que ganhara como bebedor quotidiano e calmo. Estou a vê-lo ao serão, bebendo à colher, com paciência e estilo, enquanto o alferes declamava, e o maqueiro Alpiarça escrevia a uma das dezenas das madrinhas de guerra. (...)

14 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1369: Estórias cabralianas (16): As bagas afrodisíacas do Sambaro e o estoicismo do Sousa
Aos Domingos vestíamo-nos à paisana e dávamos longos passeios à volta da parada, imaginando praças, avenidas, ruas, adros de igreja e até estações de comboio. Depois entrávamos na Cantina e invariavelmente pedíamos 'Um fino e tremoços' (...).

10 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1419: Estórias cabralianas (17): Tirem-me daqui, quero andar de comboio (Jorge Cabral)
Creio que foi em Fevereiro de 1971, que em Missirá, recebi a ordem de Bissau – um dos furriéis passava a ser Professor, com dispensa de toda e qualquer actividade operacional. Ponderada a situação, optei pelo Amaral , cujo porte rechonchudo e as maçãs do rosto vermelhuscas, lhe davam um ar prazenteiro e bonacheirão, nada condizente com as funções de comandante de secção combatente (...).

26 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1463: Estórias cabralianas (18): O Dia de São Mamadu (Jorge Cabral)
Entre os dez militares metropolitanos do Destacamento de Missirá, apenas o Alferes era do Sul e de Lisboa – um rapaz de Alvalade, passeante da Praça de Londres e frequentador do Vává. Todos os outros, furriéis, cabos, e adidos especialistas, vinham do Norte ou das Beiras. (...).

18 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1534: Estórias cabralianas (19): O Zé Maria, o Filho, Madina/Belel e um tal Alferes Fanfarrão (Jorge Cabral)
Bambadinca era então para o Alferes, feito nharro de Tabanca, a Cidade. Para lá ir, fazia a barba, aprumava o seu único camuflado apresentável, munia-se de alguns pesos e, acima de tudo, preparava o relim verbal sobre ficcionadas aventuras operacionais, que iriam impressionar o Comandante. Antes de entrar no Quartel, habituara-se a abancar no Gambrinus local, o tasco do Zé Maria, bebendo, petiscando e conversando. Um dia encontrou o Senhor Zé Maria, muito preocupado. O filho adolescente que estudava em Lisboa, ia chumbar. (...)

20 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1679: Estórias cabralianas (20): Banquetes de Missirá: Porco turra e Vaca náufraga (Jorge Cabral)
Em Missirá comíamos, praticamente todos os dias, arroz acompanhado ora de pé de porco, ora de atum ou cavala, com muito pão e sempre altas doses do insípido vinho quarteleiro, o qual, segundo se dizia, era cortado com cânfora, para diminuir os ímpetos...

24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1696: Estórias cabralianas (21): O Amoroso Bando das Quatro em Missirá (Jorge Cabral)
Nos Destacamentos em que vivi, todos eram bem recebidos, à boa maneira da gente da Guiné, cuja cativante hospitalidade foi muitas vezes confundida com subserviência ou portuguesismo. Djilas, batoteiros profissionais, artesãos, doentes, feiticeiros, alcoviteiros, parentes dos soldados, visitavam o aquartelamento e às vezes ali permaneciam, fazendo negócios, combinando casamentos, tratando-se ou tratando, ou simplesmente descansando. Desconfio mesmo que alguns guerrilheiros terão passado férias em Missirá (...)

12 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1752: Estórias cabralianas (22): Alfa, o fula alfacinha (Jorge Cabral)
No final do ano de 1970, apresentou-se em Missirá um soldado fula – chamemos-lhe Alfa – vindo da prisão de Bissau, onde cumprira pesada pena. Razão da punição – ausência ilegítima durante cento e oitenta dias, quando após intervenção cirúrgica no Hospital Militar Principal, desaparecera em Lisboa. Impecavelmente fardado, com blusão e tudo, usava uma vistosa popa e farfalhudas patilhas, conservando sempre um palito dependurado ao canto da boca. Falava um calão lisboeta e aparentava ser um verdadeiro rufia alfacinha.(...)


5 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1816: Estórias cabralianas (23): Areia fina ou as conversas de Missirá (Jorge Cabral)
Conheci muito bem o Alferes que esteve em Missirá nos anos de 1970 e 1971. Diziam que estava apanhado, mas penso que não. Era mesmo assim. Quem com ele privou em Mafra e Vendas Novas certamente o recorda, declamando na Tapada: No alto da Vela / Fui Sentinela / de coisa nenhuma / Quem hei-de guardar / Quem irei matar… (...).

19 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1857: Estórias cabralianas (24): O meu momento de glória (Jorge Cabral)
Manga de ronco, Pessoal! Spínola veio a Fá, visitar os Comandos Africanos e praticamente toda a população das Tabancas vizinhas compareceu. Homens e Mulheres Grandes, belas Bajudas, e muitas, muitas crianças. A Pátria, pois então… E uma Guiné melhor. O Caco entusiasmou-se. Tanto, que optou por ir de viatura para Bambadinca. E lá partiu em coluna, comandada pelo Capitão João Bacar Djaló (...).

29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1900: Estórias cabralianas (25): Dois amores de guerra e uma declaração: Não sou pai dos 'piquinos Alferos Cabral' (Jorge Cabral)
E o Amor, existiu? Não falo de mulheres grandes a partir catota, nem de bajudas a partir punho, e muito menos das rápidas e alcoolizadas visitas às casas de prazer, para... mudar o óleo. Amor mesmo, paixão, dele para ela, dela para ele. Difícil, raro, mas aconteceu. Contaram-me que uma bajuda que tivera um filho do Furriel X, o seguiu até Bissau, e na hora da partida do navio entrou na água com o bebé, tendo morrido ambos…

27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2135: Estórias cabralianas (26): Guerra escatológica: o turra Boris Vian (Jorge Cabral)
Fá Mandinga fora sede de Batalhão e de Companhia, possuindo muitas e boas instalações. Chegados em Julho de 1969, optámos por ocupar apenas dois edifícios. Quanto aos restantes, convenci o Pelotão, que o respectivo acesso estava minado, razão porque só eu lá poderia entrar. É que vislumbrara duas belas e isoladas vivendas, as quais intimamente destinara a uso próprio. Uma serviria para encontros amorosos. Na outra, utilizaria a casa de banho, lendo e meditando... E assim se passou (...).

22 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2204: Estórias cabralianas (27): Turra desenfiado encontra Alferes entornado (Jorge Cabral)
Já é noite cerrada e o Alferes de Missirá continua em Bambadinca. Numa mão o copo, na outra, o pingalim, encostado ao balcão do Bar, declama. Trata-se do longo poema de Jacques Prévert, “L’orgue de Barbarie” (2). É interrompido, engana-se, esquece-se, volta atrás, mas não desiste. Moi je joue du piano / Disait un / Moi je joue du violon / Disait l’autre (...).

14 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2350: Estórias cabralianas (28): O Hipopótamo, as Formigas e o Prisioneiro (Jorge Cabral)
Nem me lembro qual o Periquito que se apresentou naquele dia em Fá. Mas sei que ao anoitecer, saiu, equipado e armado, cumprindo a minha ordem. Objectivo: caçar um hipopótamo (...).

16 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2354: Estórias cabralianas (29): A Festa do Corpinho ou... feliz o tuga entre as bajudas, mandingas e balantas (Jorge Cabral)
Porque estamos no Natal, recordas o teu de 1969 e um ataque a Bissaque. Eu passei o meu em Fá, e dias antes, noite dentro, quando já o comemorava por antecipação, acorri a defender a Tabanca de Bissaque, guiado pelo Marinho.Este era um velho, seco e pequenino, guardião das instalações de Fá, desde os anos 50(...).

21 de Dezembro de 2007 >. Guiné 63/74 - P2369: Estórias cabralianas (30): Um Natal em Novembro (Jorge Cabral)
Amanheceu igual, só mais um dia em Missirá. Para o Mato Cão, vai o Alferes, uma secção, e o maqueiro Alpiarça. É lá chegar, esperar, ver o barco e voltar. Não há tempo para o sonho – do outro lado nem Gaia, nem Almada…Já estamos de regresso, ouvimos restolhar. Vem aí gente. Neste lugar só podem ser os turras. Claro que, como sempre, o Alferes empunha apenas o seu pingalim e, em vez do camuflado, enverga camisa branca e calções de banho (...).

28 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2386: Estórias cabralianas (31): As milagrosas termas de Missirá (Jorge Cabral)
A fim de prevenir abusos, a segurança à Fonte, no banho das bajudas, pertencia em exclusivo ao Alferes, o qual nos primeiros tempos guardou uma prudente distância, depois foi-se aproximando e acabou no meio delas, esfregador e esfregado com sabão vegetal, após o que branqueava os dentes com areia. Diziam que aquela água possuía propriedades terapêuticas, curando todos os males de pele, não havendo lica que lhe resistisse (...).

10 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2426: Estórias cabralianas (32): Nanque, o investigador (Jorge Cabral)
O Alferes era calmo. Afável, prazenteiro, nunca se irritava. Naquela tarde porém explodiu. É que constatou que as valas estavam a ser utilizadas como retretes.

(2) Vd. postes de:


9 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1161: O nosso Major Eléctrico, 2º comandante do BCAÇ 2852 (Beja Santos)

15 de Setembro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1076: O álbum das glórias (Beja Santos) (4): eu e o coronel Cunha Ribeiro, o nosso 'major eléctrico'

Nota de L.G.: (...) "Major do BCAÇ 2852 [Bambadinca, 1968/70]. Substituiu em Setembro de 1969 o major Viriato Amílcar Pires da Silva, transferido por motivos disciplinares. Foi vítima de acidente grave com um jipe. Era mais conhecido, na caserna - e nomeadamente pela malta da CCAÇ 12 - como o 'major eléctrico', devido à sua energia" (...).
É hoje Coronel, na reforma. Seu nome completo, Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro. Já compareceu a alguns convívios do pessoal do BCAÇ 2852.

Guiné 63/74 - P2611: Bibliografia (22): O Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos, na Imprensa. (Virgínio Briote)


O Lançamento do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos na Comunicação Social

O nosso Camarada Mário Beja Santos tem recebido ao longo destes dias vários convites para falar do seu livro, Diário da Guiné.

Assim, entre outras entrevistas, vai estar na Antena 1 e na Antena 2 (RDP), com emissão a partir do noticiário das 8 horas de amanhã e a ser repetida ao longo do dia.

E, amanhã ainda na Antena 1, Francisco José Viegas vai ter o Mário em estúdio.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2610: Bibliografia (21): Lançamento do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos (Virgínio Briote)

Lançamento do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos

6 de Março, 5ª Feira, na Sociedade de Geografia de Lisboa


Da revista do Círculo de Leitores. Enviado por Abreu dos Santos.

Almoço: Presenças confirmadas

1. Henrique Matos
2. A. Marques Lopes
3. António Graça de Abreu
4/5. António Santos e Esposa
6. Delfim Rodrigues
7. Mário Fitas
8. Rui A. Ferreira
9. Raul Albino
10/11. Carlos Vinhal e Esposa
12/13. Albano Costa e Esposa
14/15. Carlos Marques dos Santos e Mulher Teresa M. Santos
16. Hélder Pereira
17. Júlio Pinto
18. José Monteiro
19. José Manuel Bastos
20. Filipe Ribeiro
21. Mário Beja Santos
22. Fernando Chapouto
23. Manuel Chamusca
24. José Aurélio Martins
25. Carlos Murta
26. Manuel Paes (?) e Sousa
27. Carronda Rodrigues
28. Marinho
29. Heitor Gouveia
30. V. Briote
31. Custódio Castro
32. Carlos Santos
33. João Parreira
34. Diamantino Gertrudes da Silva
35. Alfredo Carvalho Rodrigues
36. Fernando Franco
37. Jorge Cabral
38. Carlos Américo Cardoso
39. José Manuel Lopes
40. José Pedro Rosa
41. José Manuel Viegas
42. J. Mexia Alves
43. António Ferronha
44. Mamadú Alfa Baldé
45. Maria Irene F. Briote
Programa:

13h00: Almoço na Casa do Alentejo

14h30: Visita guiada à Sociedade de Geografia de Lisboa

16h00: Reunião dos Camaradas presentes na Sociedade de Geografia

18h00: Espectáculo de korá, por Braima Galissa

18h30: Apresentação do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos: Preside à sessão o Senhor Embaixador da República da Guine-Bissau, Dr. Constantino Lopes da Costa. Intervenções de Mário Beja Santos, Mário de Carvalho e General Lemos Pires.
__________

Guiné 63/74 - P2609: Convívios (41): 2º Pelotão da 3ª Companhia do COM, 1º turno, Jan 66: Mafra, EPI, 27 de Abril de 2008 (A. Marques Lopes)

1. Mensagem do nosso Camarada A. Marques Lopes:

Caros camaradas:

Agradeço que publiquem este apelo que, creio, não está desfasado do blogue. Penso que muitos da lista abaixo o consultarão. E é o seguinte:


No dia 27 de Abril próximo o 2° Pelotão da 3.ª Companhia do Curso de Oficiais Milicianos do 1.º turno/Janeiro de 1966 vai juntar-se em Mafra na EPI - Escola Prática de Infantaria. São eles:

-Adolfo de Jesus Rodrigues Bexiga
-Alfredo Manuel Ribeiro Parreira
-Aníbal António Dias Tapadinhas
-Augusto Jorge de Melo Felix
-António Alves Pereira
-Anfômo Manuel M. Cardoso
-António Manuel Marques Lopes
-Armando Simões Ferreira
-Carlos Alberto da Costa Fonseca de Sousa
-Eduardo Cristóvão Gil de Oliveira
-João Filipe Pilar Baptista
-Joaquim Benevenuto Carreiras
-Jorge Emídio G. Raposo Magalhães
-José Augusto de Azevedo e Silva
-José Francisco Rosa
-José Henrique de Carvalho Gonçalves
-José Joaquim Relvas Realinho
-José Manuel da Conceição Lopes Azevedo
-José Nuno Firmo Botelho de Andrade
-Manuel Arnaldo dos Santos Silva
-Mariano João Alves Pimenta
-Mário Ferreira Lopes Pereira
-Miguel Leitão Xavier Chagas
-Nelson Jorge Santos Godinho Parreira
-Orlando de Melo Cardoso Rodrigues
-Pedro José de Gusmão Calheiros
-Pedro Melo Santos Lima
-Rui António dos Santos Silva e Cunha
-Rui Manuel Duarte Baptista
-Fernando Mário Pereira Rodrigues Pais

Notas:

- Falta o Herculano de Carvalho, que foi comando na Guiné, infelizmente já falecido.
- Estará presente o nosso instrutor, o Ten Chung-Su-Sing, agora Coronel Comando na reserva.

Vão os nomes dos elementos porque não há contacto de todos e, como disse, creio que muitos consultarão este blogue. Será um domingo todo preenchido, entre as 10 e as 17 horas, com visitas à EPI, e descerramento de uma lápide alusiva ao acontecimento, visita ao Palácio Nacional de Mafra, seguido de almoço na Tapada Real (pratos de caça), culminando com visita à respectiva fauna/flora, em comboio apropriado para o efeito.

Os contactos podem ser feitos para:

- José Manuel Lopes Azevedo (965009913)
- A. Marques Lopes (938013725)

Abraço,
A. Marques Lopes
__________

Fixação de texto: vb

Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...

1. Nova série onde serão publicados, com regularidade, os poemas do José Manuel (ou José Manuel Lopes), ex-Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74 (1). Poema sem título, enviado em 29 de Fevereiro de 2008.

Pior
que o inimigo
é a rotina
quando os olhos já não vêem
quando o corpo já não sente
quando já se não recorda
o nosso último abraço
e a arma se tornou
um apêndice do braço
pior
é quando nos esquecemos
dos afagos e carícias
que uma mão pode fazer
da mensagem e melodia
que uma canção pode conter
pior
que as chagas nas virilhas
ou o aço a entrar no corpo
são os delírios sem sentido
e o procurar esquecer
as pessoas mais queridas
pior
é o despertar
do mal que há em nós
e é preciso pensar
e é preciso parar
e é preciso sentir
que ainda estamos a tempo

josema
Salancaur
Março 1973
______________

Nota de L.G.:

(1) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

Guiné 63/74 - P2607: In Memoriam (3): Camacho Costa morreu há cinco anos (Torcato Mendonça)

1. Mensagem do Torcato Mendonça (ex-Alf Mil, CART 2339, Mambambo, 1968/69):

Meus Caros Editores

Ontem foi homenageado um Amigo meu. Foi combatente na Guiné. Faleceu, vítima de cancro do pulmão, há cinco anos. Parece ontem e estes óculos são uma… ou eu envelheço rapidamente. Melhor…o oxigénio repara os óculos…não queria chatear mas um dia falaram aqui em homens que combateram ou se piraram da Guiné. Este não foi guerreiro e certamente não desejava isso. Mas certamente foi útil naquele País…

Recuperei parte de um escrito antigo.

Um abraço,

Torcato Mendonça
__________
2. Combatente na Guiné
por Torcato Mendonça
Serviu aquela Terra, as suas Gentes e, principalmente, as Nossas Tropas mais pela palavra, pelo acto cultural do que pela arma. Provavelmente, mesmo sendo militar, nunca deu um tiro. Mas foi um Combatente, mais um que serviu a Pátria na Província da Guiné.

Conto, voltando à infância longínqua de dois sexagenários. Recordemos então:

Era um miúdo franzino, cabelo liso, despenteado, esvoaçando ao vento e de pele morena. Aparecia sempre pelas férias escolares. Não sei ao certo quando nos conhecemos ou nos vimos pela primeira vez. De muito tenra idade certamente, numas férias escolares, mesmo antes de termos entrado nessas lides. A sua mãe era professora, leccionava na zona de Lisboa mas voltava sempre, nas férias, à sua terra natal, também a dele e a minha por adopção.

Brincávamos com os outros miúdos da nossa idade, aos ninhos e à passarada, no rio em fuga aos progenitores e a vários jogos, apelidados hoje de tradicionais. Crescemos cimentando a amizade que só os miúdos, com a sua sã convivência, conseguem. Fomos para a escola e mais tarde para o colégio, mantendo o grupo unido.


Ele, lá longe, fazia o mesmo percurso, escola, talvez o liceu, o colégio e, se bem me lembro, como os estudos não tinham os resultados desejados pelos pais, foi até Tomar – colégio mais apertado…. As férias continuavam a ser tempo de união, de brincadeiras, de conversas, de outras vivências e convivências, próprias de jovens que, sem darem por isso, foram crescendo.

Ele era diferente. Não só pelo cabelo liso, despenteado e desalinhado. Ele também o era. Mais sensível, mais dado a leituras, escrita, música, poesia e já o teatro. Alegre, de sorriso e piada fácil, preocupava-se mais com o seu sonho, o seu modo de estar e amar a vida do que com os estudos impostos. Conversávamos longamente.
– Lê isto que eu escrevi ou escuta este poema.


Um dia apareceu com uma máquina de filmar… outro sonho. Começamos a contactar menos devido áà roda da vida. Eu num lado, ele no mundo do espectáculo ou da escrita. Teatro, jornalismo e outras deambulações. Víamo-nos, de quando em vez por Lisboa… que saudade e que recordações…

Chegou o dia, aquele dia, a que aos homens da minha geração era posto ponto e vírgula, senão mesmo ponto final. Tempos de humilhação, de desrespeito pela nossa cidadania.
Fui cumprir o serviço militar. Ele foi depois.

Um dia o encontro dramático, ainda hoje arrepiante. Ambos tínhamos ido para a Guiné.
Regressávamos de uma operação, cansados, fartos e com o Geba ali perto. Como vinha á frente informaram-me:
- Cuidado, pois há periquitos a fazer segurança.


Passa palavra, olhos mais abertos. Mais á frente faz-se o encontro. Não pára, só olha e descomprime um pouco.

Vindo do mato a voz de alguém a dizer o meu nome. Olho nessa direcção. Direito a mim, corre um militar com um banana na mão. Olho e não acredito. Estupidamente pergunto:
- Zé, que fazes aqui?


Ele abraça-me, olha-me com as lágrimas a escorrerem-lhe pela face magra. Aperto-o pelos ombros. Não sei se disse algo a tentar reconfortar.

Não era lugar para o Zé Manuel. Combinamos encontrarmo-nos em Bambadinca. Assim o fizemos e o Zé Manel contou-me a sua vida no Xitole ou Saltinho (2406?, não sei).
Mostrou-me as mãos com calos e sinais de bolhas. Aquilo não era para ele nem para nenhum de nós. Só que eu e outros fazíamos a nossa guerra e já tínhamos muito tempo de mato.

Falei com o Capitão dele. A resposta foi, se bem me lembro, esse poltrão nem cavar sabe, isto não é o teatro.

- Nem eu sei cavar,  meu Capitão.

Curiosamente, em futuros encontros, o meu relacionamento com este Capitão foi bom. Compreendi-o. Não gostava de Teatro… Abreviemos.

Pouco tempo depois o Zé estava em Bissau. Perdeu-se, um soldado ou cabo atirador ou telegrafista mas a Rádio em Bissau [, o PFA - Programa das Forças Armadas, ] ganhou um radialista. E não só. E não só.

Eu há cinco anos, como passa depressa o tempo, perdi mais um amigo de infância.

Foi ontem homenageado, pela estação de televisão onde mais trabalhava. Assisti. Ouvi as palavras habituais mas ainda bem que o recordaram. Merecia. Hoje alinhei estas palavras pela saudade que sinto, dele e de outros desse tempo que, desta vida, partiram.
Descansa em Paz, meu querido José Manuel Camacho Costa.


__________
José Camacho Costa (n. Odemira, 8 de Junho de 1946 - m. Lisboa, 1 de Março de 2003), actor português.

(i) Era licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; 


(ii) Foi crítico de cinema entre 1973 e 1978;

(iii) Mas foi ao teatro, principalmente à comédia portuguesa que mais se dedicou: entre 1976 e 2000 participou em mais de vinte produções dos teatros do Parque Mayer;

(iv) Trabalhou também com os Artistas Unidos onde foi dirigido por Jorge Silva Melo;


(v) Com mais de dez participações no cinema, em filmes como Manhã Submersa de Lauro António, Saudades para Dona Genciana de Eduardo Geada, O Testamento do senhor Napumoceno da Silva Araújo de Francisco Manso ou Ilhéu da Contenda de Leão Lopes;

(vi) Popularizou-se com a sua presença regular nas principais séries televisivas de humor portuguesas, como Os Malucos do Riso de Marecos Duarte (SIC);

(vii) O papel mais conhecido e mais cómico foi o Lelo cuja etnia era cigana, também o mestre André, mendigo, alentejano entre outras personagens;

(viii) Morreu a 1 de Março de 2003, vítima de um cancro pulmonar.

Foi sem dúvida uma grande perda para o humor nacional e sempre sera recordado por todos nós.Não há nimguém como ele.


em Wikipedia
(com a devida vénia)...
__________

Fixação de texto: vb

Vd. postes anteriores desta série, In Memoriam:

31 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1805: In memoriam (1): Adeus, Zé Neto (1929-2007) (José Martins, Humberto Reis, Luís Graça, Virgínio Briote e outros)

6 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2033: In Memoriam (2): O saudoso Amaral da horta e dos presuntos de Missirá (Jorge Cabral / António Branquinho)

Guiné 63/74 - P2606: Estórias de Juvenal Amado (5): Uma estória de amor



Juvenal Amado
Ex-1.º Cabo Condutor
CCS/BCAÇ 3872
Galomaro
1972/74



1. Mensagem de Juvenal Amado de 22 de Fevereiro de 2008

Caros camaradas
Esta é uma pequena estória passada numa das minhas permanências no destacamento do Saltinho.
Penso estar recordado do mais importante. Em todo o caso os camaradas do Saltinho que se lembrem deste episódio, peço, enviem-me o parecer.

Um abraço
Juvenal Amado



Guiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > 1972 > Vista aérea do Rio Corubal, da ponte e do aquartelamento do Saltinho

Foto: © Álvaro Basto (2007). Direitos reservados


2. O Homem Grande, a Bajuda e o Fuzileiro
Uma estória de amor

O Saltinho ficava isolado na época das chuvas, chegando a haver rotura nos mantimentos alimentares.

Quando se chegava à situação de nem haver arroz, era grave.
Esta, era uma dessas ocasiões e a única solução era a Aldeia Formosa nos dispensar alguns géneros.
Assim, deslocámo-nos alguns quilómetros para uma zona onde o Rio Corubal podia ser atravessado por canoas.

Chegámos à beira do rio, montou-se segurança e aguardámos que a travessia se concretizasse.

Lá vinham os barcos com a nossa bianda, mas também vinham a bordo várias mulheres.

A travessia não estava a ser pacífica. Entre as mulheres notava-se alguma agitação. Com o aproximar dos barcos, também vozes e choro se começou a tornar audível.
As canoas encostaram à margem, descarregou-se os sacos de bianda ao som de choro de uma jovem, talvez com quinze ou dezasseis anos. As mulheres mais velhas, talvez umas quatro, ralhavam e seguravam a bajuda, que de forma alguma queria desembarcar e muito menos subir para a minha Berliet.

Nós, os soldados, assistíamos sem podermos intervir, pois aquele caso era quase assunto de Estado.
A bajuda vinha para casar, com o Homem Grande da Tabanca de Campala. Homem muito importante das relações (quando tinha que ser) do General Spínola.

Quando os soldados souberam o que se passava, logo ficaram do lado da jovem - O filho da p. do velho!

Chegados ao destacamento, logo a jovem foi empurrada para a tabanca e para o seu destino, em que se tornaria a décima mulher do Homem Grande.
Tinha deixado o grande amor da vida dela, um jovem fuzileiro nativo, em Aldeia Formosa. Estava inconsolável.

A noite chega rápido naquelas paragens.
Ao amanhecer, com a chegada de helicóptero que foi directo à aldeia, viemos a saber do sucedido.
O noivo, na noite de núpcias, entendeu mesmo contra vontade da noiva, exercer os seus direitos de macho. A noiva após ter esgotado por todas as formas, evitar que ele lhe tocasse, resolveu o assunto, pegando no pau do pilão e partindo uma perna ao marido.

O desditoso foi evacuado mais rápido, do que se fosse um soldado ferido em combate.
A acção psicológica assim mandava.

A jovem foi presa debaixo de uma árvore, com as mãos e pernas presas. Ia ser vergastada e ficaria presa mais de trinta dias.

Logo começou uma romaria de soldados que lhe levavam toda a espécie de guloseimas. Fantas, latas de conserva, doce e pão.
Enfim, gerou-se uma onda de solidariedade, que levou a que a pena não fosse cumprida.

Os pais da noiva terão devolvido o dote que o Homem Grande tinha pago por ela.

Ela voltou para Aldeia Formosa, com o coração a sair-lhe do peito. Lá estava um certo fuzileiro, que de certo não esperaria um final tão feliz.

Não fosse a coragem dela...

Juvenal Amado
_____________

Nota dos editores

(1) Vd. último post da série de 23 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2575: Estórias do Juvenal Amado (4): A pequena e adorável Mariama que eu conheci no reordenamento de Bengacia (Juvenal Amado)

domingo, 2 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2605: Blogues da nossa Guerra (II). (Virgínio Briote)

Para conhecimento da Tertúlia

1. Mensagem do FÓRUM IGNARA#GUERRA COLONIAL:

Caro Virgínio Briote

(...)
É nossa intenção divulgar, o mais possível, este projecto.
Se tiver conhecimento de outros blogs onde possamos constar, muito lhe agradeço que nos informe.
Se locais houver onde acha que seria interessante apresentar os nossos espectáculos, também lhe agradeço que nos dê nota.
Convido-o, desde já, para estar presente nas apresentações já agendadas. A saber:

Estreia:

Dia 12 de Abril, no Núcleo de Sintra da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, às 21h30.

Outras Apresentações:

Dia 21 de Abril, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, às 18h.
Dia 28 de Abril, na Universidade Nova de Lisboa, às 18h30.
Dia 10 de Maio, no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra.

Remeto, em anexo, os nossos objectivos gerais (*). Gostaria de ouvir o seu comentário.
Mais gostaria de incluir o seu nome como um dos participantes do Fórum. Que lhe parece?
Sem mais, subscrevo-me atenciosamente

Paulo Campos dos Reis

PS.- Procuramos, com alguma urgência, para as apresentações, slides ou filmagens em Super 8 acerca do tema. Conhece alguém que nos possa valer?

__________



logo do teatromosca

Companhia de teatro profissional sedeada no concelho de Sintra, fundada em 1999.
http://teatromosca.com.sapo.pt/

(*) Objectivos gerais de IGNARA#GUERRA COLONIAL

A Guerra Colonial portuguesa é, hoje, 34 anos depois da Revolução de Abril que lhe pôs termo, um tema enguiçado.
Historiadores, sociólogos, ensaístas, professores universitários, jornalistas, ex-combatentes, filhos de ex-combatentes são unânimes em considerar que, por diversos factores - entre os quais a paupérrima edição de estudos de história colonial portuguesa, a insipiência dos programas curriculares escolares, ou a simples ausência de mediatização do tema (salvo raríssimas excepções) -, a memória colectiva desse conflito dissolveu-se, depois de Abril, nas brumas de um esquecimento inadmissível.

Dissipar esse nevoeiro, que vem impedindo os portugueses de se conhecerem a si próprios (a sua história familiar, a do seu País) e aos africanos (que, definitivamente, precisamos "estranhar menos"), eis o fito de IGNARA# GUERRA COLONIAL.

Através de um "teatro documental" (não exclusivamente subsidiário, mas que procura filiação nos laboratórios de Erwin Piscator - e o "Teatro Político" -, Bertolt Brech - e o "Verfremdungseffekt"-, ou, mais recentemente, de Moisés Kaufman - e sua teoria da "cópula entre forma e conteúdo"), o teatromosca (cujos elementos constituintes são, justamente, filhos de ex-combatentes) procura, colocando-se numa posição absolutamente apartidária (não apolítica, todavia), apresentar este delicado e controverso "trabalho de casa".

Acompanha e enforma este projecto aquilo a que designamos como FÓRUM IGNARA#GUERRA COLONIAL, que compreende o encontro de diversos parceiros/indivíduos, comprometidos com a pesquisa, análise, discussão, criação e apresentação de conteúdos artísticos afins ao tema aduzido (com edição de resultados on-line, já a funcionar no endereço electrónico
http://projectoignara.blogspot.com/).

Se houvesse que estabelecer aquilo a que genericamente se designa "público alvo" com relação às diversas apresentações de IGNARA#GUERRA COLONIAL, seria fácil fazê-lo: todos os portugueses - e serão quase todos - que, ainda hoje, possuem uma ligação vivida e ignara com a guerra colonial.

Traduz-se num ciclo de quatro espectáculos - três "leituras preparatórias" e um "espectáculo final"- que o teatromosca produzirá, no triénio 2007/8/9.

IGNARA#GUERRA COLONIAL por fases:

FAZER O TRABALHO DE CASA

A primeira apresentação pública de IGNARA respiga material de compêndios de história, documentos, ensaios, textos literários, notícias, entrevistas, material fotográfico, compondo uma espécie de antologia (necessariamente subjectiva) daquilo que consideramos "temas básicos e incontornáveis" sobre a guerra colonial, vista numa perspectiva de pós-memória, ou seja, o que, para nós, hoje, deve ser falado quando falamos de guerra colonial. A "desmemória", o (in)voluntário silêncio dos ex-combatentes, ou o caso do mediático massacre de Wiriyamu serão alguns dos temas em apreço.

O lado Africano

Revisitam-se os três países africanos- Angola, Guiné e Moçambique- onde eclodiram os diversos movimentos independentistas que se sublevaram contra o Estado Novo de Salazar e Caetano. Esta segunda apresentação pretende apresentar um retrato mais fiel dos africanos (e suas razões) que o regime fazia passar, muitas vezes (não ingenuamente), por singelos "terroristas". Recorre-se, novamente, à selecção de material de procedências diversas, nomeadamente a alguns títulos ou autores (sob a forma de entrevistas) da também escassa historiografia contemporânea das ex-colónias.
(em locais e datas a anunciar)

Conclusão

Do cruzamento do resultado destas duas apresentações (e discussão – em sede de Fórum de IGNARA#GUERRA COLONIAL - daí decorrente) resultará uma conclusão acerca das razões por que somos ignaros da guerra colonial (talvez que, mercê dessa socrática assunção, possa surgir o princípio do seu oposto: sermos cidadãos mais esclarecidos de um País reconciliado com o seu passado).

Esta terceira e última apresentação consistirá na leitura de uma comunicação do Fórum de IGNARA# GUERRA COLONIAL.
(em locais e datas a anunciar)

Participantes no Fórum de IGNARA#GUERRA COLONIAL:

Núcleo de Sintra da ADFA (Associação dos Deficientes das Forças Armadas)
Fernando Sousa (jornalista e dramaturgo)
Daniel Alves (historiador)
Filipe Araújo (actor)
Susana Gaspar (actriz)
Paulo Campos dos Reis (actor e encenador)
Mário Trigo (actor e encenador
__________

1 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2602: Blogues da nossa Guerra. (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P2604: Estórias do Zé Teixeira (27): Mama firme (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)


José Teixeira,
ex-1.º Cabo Enfermeiro
CCAÇ 2381
Buba, Quebo, Mampatá e Empada ,
(1968/70)

1. Nesta estória, o nosso camarada José Teixeira conta como um jovem Enfermeiro Militar se deixou encantar por um escultural par de maminhas de uma mulher grande que mais parecia pertencer a uma bajuda.

Qual de nós não se entusiasmou a apreciar uma bajuda com mama firme ou desviou o olhar pudicamente, quando uma mulher grande que, não tendo o encanto da mocidade, impunha um natural pudor.
C.V.


2. Mama Firme

Por José Teixeira

Na chegada à Guiné, de imediato entrava no nosso vocabulário corrente algumas palavras e frases em crioulo, que creio jamais as esqueceremos. Bajuda, mama firma, mulher grande, parte catota, cá miste, gosse, gosse, kunversa giro, vianda, etc.
Depois em função do local onde nos instalávamos, outras surgiam, como djarama nani, oh curá-me, na pinda, etc.

Mama firme, saltava pela boca fora enquanto os olhos, comiam, se possível, os belos e carnudos seios que as bajudas naturalmente nos presenteavam.

Tão natural como a sede que sentíamos, elas andavam despidas da cinta para cima. Esta naturalidade sadia, que para quem estava habituado na cultura ocidental, a imaginá-los dentro de um saquinho, intocáveis, protegidos dos olhares curiosos por uma blusa ou camisola, tornava-se uma novidade gratificante ao olhar e aos sentidos mais profundos de um sensualismo contido por uma educação marcadamente religiosa.

Naturalmente, éramos impelidos a fazer o correspondente teste ou apalpação, ao qual as bajudas nem sempre se prestavam.

Eu não fugi à regra. Tinha uma vantagem acrescida em relação à maioria dos magalas. Eram elas que me procuravam na Enfermaria, à procura de mesinho para as suas maleitas: Fermero, cabeça ê na dê, parte quinino; bariga suma tambô, parte mesinho; minino ê na turse; a mim na tem doenza, etc, etc.

Para quem passou pela Guiné, não é necessário relembrar o quanto eram (e continuam a ser) belas, muitas das bajudas e até mulheres grandes, que connosco se cruzaram nos caminhos que em conjunto palmilhámos.

Logo nos primeiros dias de estadia em Ingoré, manhã cedo, fazia o rastreio do tipo di doenza dos nativos que se encontravam na fila à espera da sua vez para serem atendidos.

Deparo com uma jovem alta e esbelta bajuda, redondinha de cara, com uma expressão muito alegre, que cativava mesmo.
Estava despida da cinta para cima, como era uso e costume. Os seios avantajados completavam uma fisionomia, que atraía todos os olhares machos.

Como um bebé que acaba de descobrir a palavra mamã e não se cansa de repetir, eu balbuciei: - mama firme - e preparava-me para fazer o teste da apalpação para alimentar os meus instintos sensuais.

Levo um rápido - nega mesmo, a mim mudjer garandi - enquanto cruzava os braços sobre os seios e expressava um belo sorriso.

Pode lá ser! Uma bajuda tão bonita, já sem cabaço, pensei eu. E, insisti novamente animado pelo sorriso cativante. Obtenho a mesma resposta, mas não desarmo.

Então ela, aproveitando um momento em que aproximei a minha face, comprimiu um dos seios, esparranhando-me a cara com o seu leite, branco, cremoso e quente, que guardava para o seu bebé, para gáudio do mulherio presente que expressou uma sonora gargalhada colectiva.

Eu, de rabinho entre as pernas, retirei-me para dentro da enfermaria e fui limpar a cara a uma compressa.

Zé Teixeira
___________

Nota dos editores:

(1) Vd último post da série de 10 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2518: Estórias do Zé Teixeira (25): Estranho convite (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P2603: Em busca de... (22): Companheiros da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887 (Guiné 1966/68) (François de Sousa)

1. Em 29 de Fevereiro de 2008, recebíamos a seguinte mensagem de François de Sousa

Boa noite
O meu pai não tem internet, por isso falo por ele.
Em 1966 esteve na Guiné-Bissau no pelotão (*) 1887 e na companhia (**) 1546.
Ele gostaria muito ter notícias dos companheiros que estiveram com ele.

Obrigada

2. Em 2 de Março de 2008 foi-lhe enviada a seguinte resposta

Caro François
Infelizmente na nossa Tertúlia não há nenhum companheiro do seu pai.
Na página do nosso camarada Jorge Santos em http://guerracolonial.home.sapo.pt, Convívios, Ponto de Encontro, também não há ninguém da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, unidade a que o seu pai pertencia, a pedir contactos.

Encontrei sim, pedidos de contactos de três ex-militares das CCAÇ 1549; 1550 e 1551, que pertenceram ao BCAÇ 1888, juntamente formado e embarcado para a Guiné com o Batalhão do seu pai.

Pode contactá-los na esperança de que algum deles conheça alguém de uma das Companhias do Batalhão 1887 onde o seu pai esteve integrado.
Eis os nomes e os respectivos contactos.

Da CCAÇ 1549 - Joaquim Peixeira - telefone fixo 219 832 478, telemóvel 962 930 530
Da CCAÇ 1550 - António Azevedo - Telemóvel 917 841 676
Da CCAÇ 1551 - Serafim - Telemóvel 918 936 842

Entretanto vou lançar um pedido pela nossa tertúlia, no sentido de encontrar alguém que os possa ajudar.

Um especial abraço para o seu pai, nosso camarada e para si os nossos melhores cumprimentos.

Carlos Vinhal
co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

3. E no mesmo dia foi lançado o apelo da ordem à Tertúlia

Caros camaradas e amigos
O nosso Livro de Visitas registou mais um pedido de um ex-camarada, que andando na diáspora perdeu o contacto com os seus ex-companheiros e agora quer reatá-lo.

Como se têm resolvido casos semelhantes, não há por aí alguém que possa dar uma ajuda a este amigo?

Ele pertenceu à CCAÇ 1546/BCAÇ 1887 que formou Batalhão no RI 1 e foi para a Guiné em 1966.

Um abraço para todos
Carlos Vinhal

4. Comentário de C.V.

Este apelo é extensivo a qualquer um dos nossos leitores, que são muitos, dizêmo-lo com alguma vaidade, que possam ter uma pista para ajudar este nosso camarada.

Quem puder e quiser ajudar, pode contactar directamente o François, deixar um comentário no post ou contactar-nos directamente.
______________

Notas de C.V.

(*) BCAÇ 1887

(**) CCAÇ 1546

sábado, 1 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2602: Blogues da nossa Guerra (I) (Virgínio Briote)

Ideias Soltas

Surpreendi-me, desde início, com a quantidade de material (sobre a Guerra Colonial) já existente e com a imensidão de temas por desbravar; infelizmente, eu serei uma prova viva de como a segunda geração, a dos filhos dos ex-combatentes, sabem muito pouco sobre o que aconteceu verdadeiramente – muito por culpa da pouca transmissão de informação desses acontecimentos no espaço escolar. (...) Talvez seja mesmo necessária e espontânea esta urgência inconsciente de exorcização enquanto exorcizar fará algum sentido.Creio que qualquer um de nós se apercebe das mudanças sociais ocorridas; não creio, no entanto, que seja necessário batalhar no quanto o mundo está mudado. É de uma ironia imensa o facto de três décadas serem mais do que suficientes para o esquecimento da história recente. A memória passa a existir apenas para quem a viveu, com a ameaça de cada um ficar isolado na história. E as memórias de quem viveu a nossa guerra colonial estão ainda tão, tão vivas que não creio que seja justo deixá-las cair no isolamento.
Susana GASPAR, actriz e directora do projecto IGNARA


Blogues que falam de nós.

Falam de nós, alguns dos nossos filhos. Cresceram com a Guerra, não porque os pais falassem dela. Alguns, certamente falaram, e muitos deles falaram alto. Outros, calados com eles próprios, não deixaram também de falar.

Neste projecto podemos ver a edição da Câmara Clara, o programa da RTP2, da Paula Moura Pinheiro, a quem agradecemos as referências à nossa Tabanca Grande. Uma oportunidade para quem não conseguiu ver na altura em que passou.

aqui em http://projectoignara.blogspot.com/ .

Com a devida vénia ao Filipe ARAÚJO, à Susana GASPAR e ao Paulo Campos dos REIS, actores e directores do projecto IGNARA.
__________

IGNARA é um projecto teatral, produzido pelo teatromosca, subordinado ao tema GUERRA COLONIAL... Este blog é uma plataforma de partilha de informações relativas ao projecto e ao tema abordado... Se desejar, poderá participar...

Guiné 63/74 - P2601: Convívios (40): Encontro anual do BCAV 3846, na Casa Pia, Lisboa, no dia 16 de Março de 2008 (Delfim Rodrigues)

Brazão do BCAV 3846, composto pelas CCAV 3364 (Ingoré), CCAV 3365 (S.Domingos) e CCAV 3366 (Suzana)

1. Mensagem do nosso camarada Delfim Rodrigues de 29 de Fevereiro de 2008

Agradecia o favor de dar publicidade no blogue ao convívio do BCAV 3846
(Ingoré, São Domingos, Suzana, Antotinha e Varela)
a comemorar os 35 anos do regresso a casa.

Um abraço
Delfim Rodrigues

OBS: Anexo o programa do encontro

2. Programa do Encontro

Guiné 1971/1973
Batalhão Cavalaria 3846
Companhia Independente
22 de Fevereiro de 2008


Caros amigos,
É com grande satisfação e alegria que vimos anunciar mais um Encontro Anual para celebrar o Aniversário do Regresso de Terras da Guiné.

De acordo com o já discutido e entre todos acordado, iremos uma vez mais reunir todo o nosso Batalhão de Cavalaria 3846.

Este ano, o local que nos irá a acolher será essa mesma cidade que há 35 anos atrás assistia ao nosso feliz regresso de terras longínquas.

Será então aí precisamente que teremos a oportunidade para reforçar a ligação à qual demos já início no ano passado.
Porque agora não são tempos de discórdias devemos consolidar este novo velho grupo unido pelas mesmas referências e de uma forma orgulhosa abraçarmos um festejo que a todos diz respeito.

Assim, no próximo dia 16 de Março será realizado um Almoço nas instalações da Casa Pia – na Rua dos Jerónimos, nº 9, em Lisboa – e o mesmo será servido por esse Restaurante bem conhecido de seu nome “O Furo”.

Os preços praticados serão os seguintes:
Crianças até aos 4 anos de idade: não pagam
Crianças entre os 4 e os 10 anos de idade: 12,50 €
Para todos os restantes: 25€

Pedimos a todos para estarem presentes no local pelas 12h00 pois antes do Almoço será realizada como habitualmente uma missa celebrada pelo nosso muito querido Capelão.

Para qualquer dúvida ou esclarecimento necessário poderão contactar

Alberto Toscano - 912381293 - albertotoscano@sapo.pt

Carlos Conceição (Xina) - 919489378 - carlos_m_novoa@hotmail.com

T.Col. Bernardino Laureano - 966452001 - laureano@netmadeira.com

A confirmação de presença deverá ser feita até 9 de Março

Esperamos poder contar com a presença de todos vós neste dia e até ao nosso encontro, resta-nos desejar uma boa viagem até Lisboa.

Um forte abraço,
Toscano, Xina, Laureano, Capelão

Guiné 63/74 - P2600: Os Mortos de Guidaje nas Notícias Lusófonas (Rui Fernandes)

Mensagem do Rui Fernandes:

Caro Virgínio Briote

Em anexo segue uma notícia do Notícias Lusófonas publicada em 29-2-2008.
Com os meus cumprimentos,


Rui Fernandes

__________


Transcrição da notícia. Sublinhados da responsabilidade de vb.
Corpos de soldados portugueses mortos em Guidaje vão ser exumados

A Liga dos Combatentes de Portugal vai, após sucessivos adiamentos, proceder à exumação dos corpos de dez militares portugueses sepultados em 1973 em Guidaje, norte da Guiné-Bissau, disse hoje à Agência Lusa o vice-presidente daquela associação.

Segundo o general Lopes Camilo, a operação, prevista para o primeiro trimestre do ano passado, decorrerá de 07 a 21 de Março próximo e envolverá uma dezena de elementos, entre militares, antropólogos, arqueólogos e geofísicos.

Uma primeira missão militar, composta por três oficiais e um sargento, parte a 07 de Março para o terreno, seguida, uma semana mais tarde, pela delegação técnica, que integra quatro antropólogos, uma arqueóloga e um operador de radar (geofísico), indicou Lopes Camilo.





Mapa (ver legenda abaixo) do cemítério militar de Guidaje, fornecido pelo Estado Maior da Força Aérea. A imagem foi-nos gentilmente cedida pelo nosso camarada Manuel Rebocho.


Foto: © Manuel Rebocho (2006)

Os corpos, incluindo os de três pára-quedistas, estão sepultados num "cemitério militar provisório" próximo de um antigo aquartelamento português em Guidaje, no norte da Guiné-Bissau e já próximo da fronteira com o Senegal.

O vice-presidente da Liga adiantou que os restos mortais dos dez militares portugueses, mortos em combate durante a guerra colonial na Guiné-Bissau (1963/74), serão transportados para um local "mais digno" em Bissau, no quadro dos projectos que a associação criou no país.

Os corpos dos sete militares (*), entre elementos do Exército e "comandos africanos", serão transferidos para um cemitério em Bissau e os dos três pára-quedistas serão, posteriormente, trasladados para Portugal, numa missão desenhada por familiares e financiada pela União dos Pára-Quedistas Portugueses (UPP).

O plano tem já luz verde dos ministérios da Defesa dos dois países, sendo, porém, um projecto pensado inicialmente pela família de um dos soldados, que deveria ter partido para o terreno a 16 de Fevereiro de 2007.


O projecto remonta a Setembro de 2005, quando um antigo Sargento-Mor dos Pára-quedistas portugueses, Manuel Rebocho (ver nota, em adenda), que combateu também na então província da Guiné, apresentou a tese de doutoramento intitulada "Sociologia da Paz e dos Conflitos", na Universidade de Évora.





Foi, então, montada uma missão civil para resgatar os três corpos, delegação liderada pelo próprio Manuel Rebocho e que envolvia mais oito pessoas, algumas delas familiares, entre elas a irmã do soldado António Neves Vitoriano, natural de Castro Verde, falecido no teatro de operações em Maio de 1973.

Em declarações hoje à Lusa, Conceição Vitoriano Maia, irmã de Vitoriano, arqueóloga, residente em Évora e que integra a missão civil que se desloca à Guiné-Bissau, disse estar satisfeita por a operação, em preparação há quase dois anos, ir agora por diante.

Além de Vitoriano, que faleceu aos 21 anos, dois outros soldados da Companhia de Caçadores Pára-Quedistas 121 (CCP-121) acabaram por ser enterrados em Guidaje: Manuel da Silva Peixoto, 22 anos e natural de Vila do Conde, e José Jesus Lourenço, 19 anos, de Cantanhede.

Dado que a área envolvente às sepulturas dos três pára-quedistas contém os restos mortais de pelo menos sete militares do exército português, a Liga dos Combatentes acabou por os incluir (*) no projecto.

Fora do território português existem registos de 6.000 militares naquelas circunstâncias, 4.000 deles nos três principais teatros de guerra em África, Angola, Guiné e Moçambique.

No caso da Guiné, há a localização teórica de locais onde estarão enterrados cerca de 750 militares portugueses, no eixo Bissau/Bambadinca/Bafatá/Gabu, que se juntam aos pouco menos de 1.500 detectados quer em Angola quer em Moçambique, sublinhou.

Nesse sentido, os projectos de cooperação da Liga, disse Lopes Camilo à Lusa, incidem muito especialmente em quatro acções: localizar, identificar, concentrar e dignificar.
Na prática, acrescentou, o objectivo é localizar os corpos entre os mais de uma centena de locais onde se crê que estejam sepultados, identificá-los - nem todos estão identificados -, concentrá-los em quatro ou cinco lugares e dignificá-los com uma campa.

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Nota de vb:

1. Agradecemos ao Rui Fernandes o envio da mensagem com esta importante comunicação.

2. (*) Através desta comunicação das Notícias Lusófonas (que transcrevemos com a devida vénia) ficamos a ter conhecimento que os corpos dos Camaradas do Exército vão ser trasladados por arrasto.

3. ver artigos de :

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

21 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1540: Os paraquedistas também choram: Operação Pato Azul ou a tragédia de Gamparà (Victor Tavares, CCP 121)

19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista

29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)

27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1891: O Cantanhez (Cadique, Caboxanque, Cafine...) e os paraquedistas do BCP 12 (1972/74) (Victor Tavares, CCP 121)

9 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2038: Os pára-quedistas no mítico Cantanhez: Operação Tigre Poderoso (I parte) (Victor Tavares, CCP 121 / BCP 12)

31 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2014: O Idálio Reis, a CCAÇ 2317, Gandembel e os pára-quedistas do BCP 12 (Victor Tavares)

15 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2051: Os pára-quedistas no mítico Cantanhez: Operação Tigre Poderoso (II parte) (Victor Tavares, CCP 121 / BCP 12)

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Legenda do mapa (Manuel Rebocho):

Campa 1 > Manuel Maria Rodrigues Geraldes, Sold. n.º 06471572, da 2.ª CC/BC 4512/72. Filho de António Emílio Geraldes e de Ascensão dos Santos Rodrigues. Natural da freguesia de Vale de Algoso, Concelho de Vimioso.
Campa 2 > Bacote Tanga, Soldado nativo, da 3.ª Companhia de Comandos Africanos.
Campa 3 > António das Neves Vitoriano, Soldado Pára-Quedista n.º 528/72, da CCP 121.
Campa 4 > José de Jesus Lourenço, Soldado Pára-Quedista n.º 544/72, da CCP 121.
Campa 5 > Manuel da Silva Peixoto, Soldado Pára-Quedista n.º 1176/70, da CCP 121.
Campa 6 > Talibú Baió, Soldado nativo, da C C n.º 19.
Campa 1-A > José Carlos Moreira Machado, Furriel Miliciano n.º 02893771, da CC 3518. Filho de Manuel Machado e de Delta de Jesus Moreira. Natural do lugar de Sá, freguesia de Ervões, Concelho de Valpaços.
Campa 2-A: João Nunes Ferreira, Soldado n.º 09477371, da CC 3518. Filho de Luís Ferreira e de Maria Martinha. Natural da freguesia de Câmara de Lobos, Concelho de Câmara de Lobos – Madeira.
Campa 3-A > Gabriel Ferreira Telo, 1.º Cabo n.º 03117871, da CC 3518. Filho de João de Jesus Telo e de Maria Filomena Ferreira Telo. Natural da freguesia de Paul do Mar, Concelho de Calheta – Madeira.
Campa 4-A > António Santos Jerónimo Fernandes, Fur. Miliciano n.º 09486271, da CC nº. 19. Filho de Domingos António Jerónimo Fernandes e de Maria da Glória Fernandes Jerónimo. Natural da freguesia de Garção, concelho de Vimioso.
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Mensagem do Manuel Rebocho, a propósito desta comunicação das Notícias Lusófonas:
(...) Não tenho mais nada a acrescentar. Apenas dizer que fico muito satisfeito por se ir efectuar o que devia ter sido efectuado logo em 1973, e que foi mantido em segredo durante 30 anos.
(...) mas sinto um enorme prazer e uma imensa satisfação ao verificar que, passados mais de 34 anos o Sargento-Mor Rebocho ainda "obriga" os Oficiais a fazer o que não querem.
(...) Se eu lá estivesse, naquele momento, os Pára-Quedistas não teriam lá sido enterrados, isto para não dizer que não teriam lá morrido, mas isso já é outra história.
Um grande abraço.
Manuel Rebocho

Guiné 63/74 - P2599: Recortes de imprensa (2): O Simpósio de Guileje visto hoje pelo Diário de Notícias (Virgínio Briote)



Recortes de imprensa > (*)

O Simpósio de Guileje (ou Guiledje), hoje no DN

No caderno Gente, do DN de hoje, 1 de Março de 2008, fala-se do diálogo com o "Inimigo" em Bissau. Uma Reunião inédita na história das guerras. Texto de Leonor Figueiredo. Grande destaque. Três páginas.

Não há na história, tanto quanto se saiba, um encontro deste género. Reunir num dos mais sangrentos lugares da Guerra da Guiné combatentes dos dois lados, hoje irmanados no mesmo espírito: celebrar a Paz e fazer História.

Guileje é descrito como sempre o conhecemos: o corredor da morte e um aquartelamento impossível, ali ao lado.

Fazem declarações a propósito da reunião, o Pepito (Carlos Schwartz, a grande alma do Simpósio) que sonha em cativar ex-combatentes para o que designa como o Turismo da Saudade, e o Coronel Nuno Rubim (das dificuldades na montagem do diorama e do reencontro com os guerrilheiros que faziam as noites brilhantes de luz e os dias negros de pólvora e fumo à CCaç 726). É também entrevistado o Coronel Coutinho e Lima que deu a ordem de abandonar Guileje, em 22 de Maio de 1973. O antigo comdante do COP 5, na altura major, diz que está a acabar um livro sobre a história de Guileje, que ainda suscita mal-entendidos



Fotos do nosso blogue surgem aqui e ali, enquadrando declarações e pequenas entrevistas. O editor do blogue, Luís Graça, autorizou a jornalista Leonor Figueiredo a utilizar materiais do nosso blogue. Como,por exemplo, as declarações de Watna Na Lai, hoje Major-General do Exército da República da Guiné-Bissau, e naqueles tempos comandante do PAIGC.

(...) Para mim (este encontro) tem grande significado, porque durante a luta Amílcar Cabral insistiu em dizer que a guerra não era contra o povo português, mas contra o regime de Salazar. O 25 de Abril veio mostrar que o povo português também estava contra a guerra. Éramos e somos irmãos.




A Tertúlia da Guiné não podia deixar de estar presente na notícia. Luís Graça fala do aparecimento, a princípio tímido, do nosso blogue, e que é hoje considerado o maior blogue colectivo em língua portuguesa sobre a experiência das guerras do Ultramar, colonial, e de libertação, segundo a expressão do próprio jornalista.

O blogue também inclui testemunhos de ex-guerrilheiros do PAIGC, como o coronel Paulo Maló, das Forças Armadas da Guiné, que comandou várias emboscadas.

Da sua participação no encontro em Bissau, Luís Graça - que diz nunca ter usado a sua G-3, nem mesmo debaixo de fogo - espera trazer novos contributos.


(..) "Há cinco anos, o professor da Escola Nacional de Saúde Pública de Lisboa e ex-furriel miliciano na guerra da Guiné-Bissau entre Maio de 1969 e Março de 1971 decidiu, como tantos outros, partilhar a sua experiência de guerra e criou um blogue pessoal.

"A primeira reacção não se fez esperar. 'O primeiro que me apareceu foi um operário do estaleiro de Viana do Castelo. Ficou o número dois da tertúlia. Não eram só ex- -militares, mas também familiares, a viúva, a ex- -namorada... depois a tertúlia virou um pequeno rio', pormenoriza Luís Graça ao DN gente.

(...) "O 'rio' que cresceu deu origem a um blogue que teve mais de 400 mil visionamentos, até Setembro passado, além das 200 pessoas que ali partilham regularmente a sua experiência.

"O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné tem mais de mil visitas diárias e já deu origem ao livro de um ex-militar da Guiné, Beja Santos.

Neste meio de comunicação juntam-se homens de muitas profissões, além de médicos e alguns oficiais superiores.

"No entanto, 'a maior parte são milicianos, soldados e alguns têm o handicap de não lidarem facilmente com a Internet. De resto, não fazemos juízos de valor. Falamos do que vimos e testemunhamos, mas não entramos em políticas nem da guerra nem da descolonização', sublinha Luís Graça".(...)


Referindo-se ao programa do Simpósio Internacional de Guiledje, diz a jornalista:

(...) "Todo o encontro fará referências ao quartel de Guiledje, abandonado em 1973 pelo então major Coutinho e Lima para salvar 600 pessoas. O chamado 'corredor de Guiledje' era fundamental porque por ali se abastecia o PAIGC de armas e mantimentos. Três dias depois do abandono, o PAIGC toma o quartel, acto fundamental para a proclamação da independência da Guiné-Bissau a 24 de Setembro desse ano.

"Muitas centenas de guineenses e portugueses passaram por Guiledje, cuja referência não aparece nos mapas vulgares, anos inesquecíveis das suas vidas. 'Hoje existe respeito mútuo dos dois lados e vontade de recordar as histórias. Até porque faltam peças do lado do PAIGC', sublinha o ex-combatente Luís Graça, que no blogue de partilha com os camaradas da Guiné vai registando as memórias. O mesmo não acontecendo da parte dos ex-combatentes guineenses, muitos dos quais já morreram ou estão velhos, já que a esperança de vida é menor, sem o hábito de registar pela escrita episódios numa sociedade que vive muito da tradição oral.

"Hoje, os participantes vão visitar o que resta do quartel de Guiledje, estando o encontro com os ex-combatentes guineenses marcado para amanhã. Visitarão depois os media locais, centro materno-infantil e um antigo acampamento do PAIGC. Os trabalhos iniciam-se depois de amanhã na Assembleia Nacional Popular, em Bisau, com a presença de individualidades dos dois países. Historiadores, sociólogos e agrónomos, portugueses, guineenses e espanhóis, diplomatas cubanos, ex-militares do PAIGC guineenses e cabo-verdianos falam sobre diversos aspectos da guerra, e ouvir-se-ão testemunhos da população, ex-milícias e régulos" (...).

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Nota de vb:

(*) O primeiro post desta série foi publicado em 15 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1663: Recortes de imprensa (1): As nossas mulheres e o stresse pós-traumático de guerra (Zé Teixeira)