1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.
Memórias de um povo
Etnias na Guiné-Bissau
Aguçando as inócuas “armas ligeiras” que intencionadamente direciono para a minha simplória cândida consciência onde a saudade nos envia para imaculadas recordações, viajo pela interioridade ética de uma Guiné e revejo instantes áureos que nos remetem para a proliferação de etnias ali existentes.
A curiosidade, sendo ela vocacionada para uma eficaz aquisição de literais saberes em toda a sua amplitude, leva-me a ultrapassar barreiras, procurar fidedignas informações em ferramentas por ora facultadas pelas novas tecnologias e debitar algumas narrativas coincidentes com a razão de o ser de um povo pelo qual outrora mantive uma relação de proximidade.
Claro que os tempos eram outros e substancialmente duros de roer. A guerra impunha respeito e medo. A população civil encaminhava-se porém para um inevitável contacto com a tropa branca. Humildemente interessava-lhes, como era fácil entender. Neste contexto, foi num mesclado cenário de horrores que se consumiram as muitas comissões militares que fizeram do solo guineense um território de pavor e de fatídicas memórias.
Vamos ao tema que por ora aqui nos acompanha:
Os guineenses, na sua esmagadora composição, são de raça negra e originários de cerca de 40 etnias. Um verdadeiro mosaico de povos e culturas ancestrais. Neste argumento de lembranças sobre um território que nos foi familiar aquando da nossa presença militar naquela terra de além-mar, ouso deixar descrito nesta panóplia de pequenos textos que amiúde aqui trago à estampa, o conteúdo factual de uma população multirracial e que soube conviver entre as duas frentes de guerra.
Não me alongando no tema porque certamente haverá muito para dizer, revivamos, sim, os rigorosos agrupamentos étnicos existentes na Guiné-Bissau:
1 - Paleossudaneses e outros povos
Grupo litoral: Balantas (Balantas Manés, Cunantes e Nagas); Djolas (Baiotes e Felupes); Banhuns, Cassangas e Cobianas; Brames, Majancos e Papéis; Bijagós, Biafadas, Nalus, Bagas e Landumãs.
Grupo Interior: Pajadincas (Bajarancas) e Fandas.
2 - Neo-Sudaneses
Grupo fula: Fulas forros (fulacundas), Fulas pretos, Futajoloncas (boencas, futa-fulas e futa-fulas pretos) e Torancas (futancas ou tocurores).
Nesta amostragem exposta, observa-se que os grupos mais importantes são os Balantas (30% da população); Fulas (20%); Maníacas (14%); Mandingas (13%) e os Papéis (7%) (dados de 1996).
No litoral predominam os Balantas que cultivam arroz e gado bovino. Os Bijagós, que habitam no arquipélago com o mesmo nome e formam uma sociedade matriarcal. O Interior é ocupado pelos Fulas que são nómadas, dedicam-se à criação de gado e à agricultura itinerante.
Os cultos tradicionais são predominantes (45,2%), seguindo-se os islâmicos (39,9% e os cristãos (13,2%, sendo os católicos 11,6%, outros 3,8%, dupla filiação 2,2%). O número dos que se afirmam sem religião ou ateus é mínimo (1,6%) (dados retirados em sensos de 2000).
Neste deambular de uma indeterminada caminhada que já vai longa, é perfeitamente aceitável que entrosemos no nosso blogue uma substância adquirida pelas muitas investigações feitas a um País que tento pesquisar em todas as suas fronteiras.
Tanto mais que existem em mim reminiscências numa guerra onde fui, aliás, fomos apenas simples atores forçados.
Com a “mala de cartão” arrumada, transportarei, um dia, na irreversível viagem sem regresso um oceano de fétidas imagens que tocam no coração do mais despretensioso camarada.
Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
23 DE JULHO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18866: Memórias de Gabú (José Saúde) (69): Pássaros que esvoaçavam os céus da Guiné. Abutres. (José Saúde)