da Areosa, Rio Tinto.
Foto (e legenda): © Manuel Ribeiro (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
CART 6552/72 (Cameconde e Cabedú, 1972/74).
Vive hoje em Fânzeres, Gondomar. Em fevereiro de 2019 o Manuel Ribeiro
visitou-o pela última vez, estava com graves problemas de saúde.
Foto: Cortesia do blogue Estrelas do FCP, do Paulo Moreira (Gondomar)
Date: quarta, 21/07/2021 à(s) 16:58
Subject: História do Lemos
Boa tarde, Luís
Vou tentar contar um pouco da história do Lemos na Cart 6552 (*).
O Lemos foi colocado na Cart 6552 no fim de 1972 ou princípio de 1973 com a especialidade de transmissões, quando foi colocado na Cart 6552, encontrava-se detido no RI 6 no Porto, sendo eu encarregue de comandar uma força para o vir buscar sob detenção e transportá-lo para o RAL 5 em Penafiel.
Quando o sargento da guarda me fez a entrega do Lemos, a grande preocupação dele, Lemos, era o carro (Ford Capri de cor amarela), que se encontrava estacionado à porta do quartel e se era possível ser ele a conduzi-lo para Penafiel. Claro que de imediato lhe comuniquei que não, pois se acontecesse alguma coisa quem sofria as consequências era eu, mas em conversa com o Lemos logo ali se encontrou uma solução para o problema.
Quando cheguei a Penafiel com o Lemos, já o carro se encontrava estacionado no Largo da Feira e o Lemos tinha à espera dele o António Oliveira, também jogador do F. C. Porto (nascido em 1952, em Penafiel). Enquanto esteve detido, ele sempre teve refeições servidas pelo restaurante Roseirinha, em Penafiel, que era propriedade da família Oliveira.
Durante o tempo que permanecemos em Penafiel e depois de cumprido o tempo de detenção, o Lemos foi um militar como os outros, tendo de executar os serviços para os quais estava escalado.
Em Março de de 1973 fomos deslocados para a carreira de tiro em Silvalde, Espinho, para aí fazermos o IAO pois o nosso destino era S. Tomé e Príncipe e não Cabo Verde e muito menos a Guiné, mas quis o destino que fôssemos mesmo para a Guiné, hoje sabemos quais as razões.
O Lemos sempre nos acompanhou até ser transferido para o UDIB em Bissau, não tenho ideia quanto tempo esteve no mato (Cameconde), mas foi mais de três meses, alinhou como todos nós no mato.
Tenho uma história caricata com ele no regresso de uma operação: quando estávamos a acabar de atravessar uma bolanha, o Lemos de repente diz-me, "Furriel acabei de perder uma bota, ficou presa na lama"... Eu só lhe disse: "Vê se a encontras pois terás que ir descalço e ainda faltam uns quilómetros"... Foi ver o Lemos com o Racal às costas, enterrado na lama até encontrar a bota e não foi nada fácil.
Como podes verificar, o Lemos enquanto esteve na Cart 6552 foi um militar com um tratamento igual a todos os colegas e não tinha que ser diferente e ele também não agia como tal, sendo sempre um excelente camarada, nunca exibindo a imagem de figura pública, antes pelo contrário.
Quando foi para Bissau teve os seus problemas, mas era a sua maneira de ser. No dia em que o Pavão morreu (, em 16 de dezembro de 1973), encontrava-me eu em Bissau com o Lemos e aí me confessou que, ao sair da companhia, se tinha sentido órfão, pois mais uma vez a família tinha ficado para trás.
A última vez que estive e falei com o Lemos foi em Fevereiro de 2019, em casa dele, em Fânzeres, Gondomar. Na altura encontrava-se muito debilitado e com graves problemas de saúde, não voltei a contactá-lo por não me ser possível.
Esta é a minha história sobre o Lemos na Cart 6552 e, como podes verificar, o Lemos não teve qualquer tratamento VIP (**) e de certeza que alguém que tenha pertencido à Cart 6552 terá algo mais para contar.
Mas só quero mais uma vez dizer que fomos mobilizados para S. Tomé e Príncipe, que não fomos desviados a meio da viagem, que quando saímos da carreira de tiro em Silvalde, Espinho já praticamente todos sabíamos que o nosso destino era a Guiné.
Aproveito para dizer que sou da Areosa, Rio Tinto, para quem não sabe fica localizada mesmo no fim da Av Fernão de Magalhães, junto às Antas e, como tal, sou Andrade desde que nasci, doença de família.
Um forte abraço
Manuel Ribeiro
___________
Notas do editor:
(*) Últmo poste da série > 21 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22393: As (des)venturas da CART 6552/72, desviada para o sul da Guiné, em maio de 1973 - Parte I: Entrei no avião, em Figo Maduro, a chorar de revolta (Manuel Domingos Ribeiro, ex-fur mil, grã-tabanqueiro nº 844)
Aproveito para dizer que sou da Areosa, Rio Tinto, para quem não sabe fica localizada mesmo no fim da Av Fernão de Magalhães, junto às Antas e, como tal, sou Andrade desde que nasci, doença de família.
Um forte abraço
Manuel Ribeiro
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Notas do editor:
(*) Últmo poste da série > 21 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22393: As (des)venturas da CART 6552/72, desviada para o sul da Guiné, em maio de 1973 - Parte I: Entrei no avião, em Figo Maduro, a chorar de revolta (Manuel Domingos Ribeiro, ex-fur mil, grã-tabanqueiro nº 844)